terça-feira, 15 de dezembro de 2009

O Lobo da Escócia - Parte 7

Tochas, tochas ao vento!
Naquela noite muitas tochas foram acessas! Um grupo de mais ou menos 50 homens se reuniu na praça central do vilarejo. Estavam determinados a caçar o lobo, custe o que custasse! Cada um trouxe sua própria arma de fogo. A maior parte dos caçadores era formada por homens experientes. Todos imigrantes alemães, homens que vieram para a Escócia com o firme propósito de recomeçar suas vidas, lutar por dias melhores. Eles conheciam bem aquela floresta escura. Muitos deles tiravam o sustento de suas família justamente daquele lugar. Ninguém estava receoso ou com medo. Ao contrário disso estavam muito motivados!

Uma exceção naquele grupo era justamente Jack. Era o único homem naquele bando que sabia o que estava acontecendo. Ele havia vendido alguns bens e conseguido forjar mais 3 balas de prata. Era agora ou nunca. Ele tinha que encontrar Mark e colocar um fim em sua vida, caso contrário tudo iria recomeçar, as mortes, a transformção de uma nova vítima, os ataques nas noites de lua cheia. Era o momento de colocar um fim em tudo aquilo. 

O grupo decidiu que os homens iriam entrar na floresta em pares. Dois homens, lado a lado, um apoiando o outro. E as duplas não poderiam ficar muito longe de si. Tinham que estar em uma distância em que um grito ou um tiro poderia ser ouvido pelos demais. Uma tática e uma estratégia de proteção. 

Quem ficou ao lado de Jack foi Ernest, um imigrante alemão na casa dos 40 anos. Homem forte, rude, bom de tiro. Eles entraram na floresta com a firme convicção de que iriam encontrar o lobo selvagem.

E para surpresa deles realmente encontraram pistas ao lado de uma carruagem com dois cavalos negros. O único ocupante, revelava as pegadas no chão, havia deixado aquele lugar há pouco tempo. O mais estranho de tudo é que as pegadas humanas eram substituídas por pegadas de um animal, de um lobo grande! Jack sabia o que isso significava. Mark estava transformado. 

Por um instante se distraiu, mas ao olhar para cima de uma pequena colina avistou o lobo!

- Ali, no alto, vamos! - Gritou Jack para seu companheiro de caçada. 

Eles correram o mais rápido que podiam. O lobo ficou parado, esperando a chegada dos homens. Os dentes rangiam, a baba branca descia por sua boca. Ele fez posição de ataque e correu em direção aos homens...

Ernst parou, fez posição de disparo e atirou... 1, 2, 3 vezes... Ele devia estar vendo coisas pois acreditava que havia acertado o lobo, mas esse não se deteve, continuou a correr em sua direção... de forma rápida e feroz... pura selvageria...

Ao chegar perto o grande lobo ficou de pé na frente de Ernst e só aí ele entendeu que não estava lidando com um animal normal...

O bicho, em pé, tinha mais de dois metros de altura. Braços muito fortes, Olhar de puro ódio insano... Então o monstro fez um gesto rápido, puxou seu braço para trás, para então desferir um golpe certeiro na cabeça de Ernst...

Ela saiu rolando pelo chão... Jack assistiu a tudo e ficou estarrecido com a visão da cabeça do homem sendo arrancada por um golpe do lobo...

Então Mark, em forma de besta, virou-se para Jack. Olhos nos olhos. Um clima de tensão no ar. Jack levantou sua arma, mirou e conseguiu perceber, mesmo nesse momento de grande tensão, que Mark mesmo transformado em fera, conseguia lhe reconhecer... talvez por essa razão não tenha pulado em seu pescoço...

Mas não havia tempo de especular... Jack imediatamente mirou e atirou... a bala prateada saiu com extrema força indo se alojar no braço da besta!

Um uivo assustador foi ouvido ao longe...

Os demais caçadores ouviram os tiros e os barulhos da luta e correram em direção àquele lugar...

Mas chegaram tarde.. pois o grande lobo havia conseguido fugir entre as árvores da floresta...

A noite o ajudou a fugir... Sombras, queridas sombras, salvando as criaturas da noite...

Mausoleum
O corpo de Mark foi encontrado alguns dias depois em um caminho para a cidade de Glasgow. Ele estava no chão, caído ao lado de sua carruagem de dois cavalos negros. O inspetor daquele lugarejo empoeirado e lamaçento havia seguido os passos de Mark nos últimos dias ao lado de dois investigadores. Trazia em mãos seu mandado de prisão. Não houve tempo de cumpri-los. As investigações revelaram que no último dia de sua vida Mark sangrou bastante em seu braço, mas conseguiu se recuperar.  

Comprou uma espingarda de caça a raposa. Depois comprou dois pacotes de munição especial. Eram balas de prata, tiradas das minas de Montana, nos Estados Unidos. Algo caro, que apenas um jovem de família rica como ele conseguiria comprar tão facilmente.

Quem o encontrou foi um senhor, um velho camponês que morava perto. E ele tinha mais a dizer. Disse aos policiais que ouviu o tiro que matou Mark, mas que não foi até o local por puro receio de também sofrer alguma violência. Havia ladrões e bandidos atuando naquela área, principalmente pelas madrugadas. No dia seguinte, ao amanhecer, foi até o caminho e encontrou Mark morto no chão. O inspetor descobriu que Mark havia se matado com um tiro na cabeça. O mais estranho em seu corpo é que um de seus braços estava absurdamente peludo para um ser humano.

A conclusão que o inspetor chegou foi algo que ele guardou apenas para si mesmo. Seria absurdo colocar isso em um relatório policial. Apenas em sua mente ele decifrou os acontecimentos. Era óbvio que Mark havia se matado durante sua jornada. Mas o que aconteceu? Para o inspetor ele começou a sofrer uma transformação. Era sexta-feira, noite de lua cheia. Sim, o inspetor, mesmo que não dissesse isso a ninguém, estava convencido que Mark estava se transformando em um lobisomem naquele momento. Desesperado, já com o braço direito em transformação, ele desceu da carruagem, pegou seu rifle, armou com duas balas de prata e atirou contra sua cabeça. Esse foi o seu fim.

Dentro da carruagem do suicida, o inspetor encontrou um livro chamado "Lendas e maldições do Lobisomem". Estava claro que Mark o estava lendo, pois havia muitas marcações em suas páginas. O inspetor pegou o exemplar e o tirou da cena do crime. Ele iria defender a tese de que Mark sim havia se matado, mas o havia feito em um surto psicótico. Ele estava sofrendo de algum distúrbio mental não diagnosticado. No auge da loucura havia decidido acabar com tudo. Esse seria o teor de seu relatório. Para poupar ainda mais a família e evitar problemas para ele, como servidor público, omitiu do relatório qualquer ligação de Mark com as mortes de mulheres. A família poderia ficar ofendida e destruir sua carreira, caso isso viesse a parar nos jornais.

Mark foi enterrado no cemitério local. Não muito longe dali, na chamada "viela dos pobres", onde pessoas mais humildes eram enterradas, havia sido enterrada sua amada Katja. Eram tão jovens... morreram tão jovens... era algo a se lamentar. A família de Mark ficou arrasada e muito consternada com sua morte. Ele foi sepultado no bonito mausoléu de seu clã. Seu caixão foi depositado ao lado do lugar onde seu avô, um dos homens mais ricos da história da Escócia, há alguns anos jazia.

Curiosamente, com o passar dos séculos, aquele mausoléu ganhou fama de amaldiçoado pelas pessoas que moravam na cidade. Dizia-se que em noites escuras de lua cheia um lobo solitário, todo branco, ai até lá e uivava para a luz do luar. A fera tinha olhos vermelhos de sangue e não parecia ser desse mundo. 

A lenda urbana iria inspirar um jovem escritor a colocar no papel toda a história que era contada nas tavernas da região. Era a história de um jovem rico, estudante de uma das principais universidades escocesas, que nas noites escuras se transformava em uma besta assassina. Quem poderia discordar de algo assim? Absolutamente ninguém... O uivo do lobo nas noites tem seus próprios segredos seculares...

Pablo Aluísio.

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