"O Código da Vinci" é certamente um dos mais curiosos produtos culturais surgidos nos últimos anos. A obra original de Dan Brown é um caldeirão de teorias da conspiração, história deturpadas, meias verdades, religião apócrifa e mil e uma coisas todas emboladas, tentando manter uma coesão mínima para que o leitor não se perca completamente. Nesse balaio de gatos são misturadas sem a menor cerimônia as biografias dos gênios Da Vinci e Newton, um suposto casamento de Jesus de Nazaré e Maria Madalena, sociedades secretas como o Priorado de Sião, Cavaleiros Templários e o diabo a quatro. Tudo isso tem um nome: pseudociência. Dan Brown na realidade não descobriu nada, não revelou nenhum segredo histórico e nem tampouco mostrou a verdadeira história de Jesus Cristo. Sua única grande habilidade é realmente dar uma falsa camada de respeitabilidade a um monte de bobagens sem nenhum fundamento. Por isso há duas formas de encarar sua obra: ou o leitor cai na lorota do escritor e acredita naquilo que lê e nesse caso estará fazendo papel de bobo ou então encara tudo como simples entretenimento escapista. Nessa última hipótese não há problema algum. É apenas uma estória divertida para passar o tempo.
O filme "O Código da Vinci" terminou não agradando nem os leitores de Dan Brown e nem os cinéfilos que nunca tinham lido uma linha escrita por ele. Foi uma produção muito criticada talvez porque se criou uma absurda expectativa sobre o filme. Como eu sempre gosto de dizer nem tudo que funciona na literatura dá certo nas telas. Algumas obras inclusive são impossíveis de adaptar com êxito. "O Código da Vinci" nesse aspecto até que não é um desafio insuperável. A adaptação é correta, burocrática certamente, mas no final não havia mais nada além do que aquilo que se vê em cena para se levar aos cinemas. A própria obra de Dan Brown é um tipo de Pulp Fiction mais sofisticado mas que nunca deixa de ser em essência uma tremenda pseudociência, bem bolada, bem arquitetada mas que não consegue ser mais do que uma grande bobagem no final das contas. O filme, como não poderia deixar de ser, teve uma bilheteria monstruosa, de quase 1 bilhão de dólares o que mostra a força do livro, um best seller. Não há nada de errado em assistir e até mesmo gostar do filme, só não se deve encarar toda aquela salada como verdade - porque definitivamente não é. O elenco é liderado por Tom Hanks, com um dos cortes de cabelo mais bizarros do cinema. Sua atuação não é grande coisa, também o personagem não abre muito espaço para isso. Já a direção de Ron Howard surge pesada, burocrática, quadrada, sem ousadia. O resultado final definitivamente não foi nada memorável.
O Código da Vinci (The Da Vinci Code, Estados Unidos, 2006) Direção: Ron Howard / Roteiro: Akiva Goldsman, baseado no livro de Dan Brown / Elenco: Tom Hanks, Ian McKellen, Alfred Molina, Jean Reno, Audrey Tautou, Paul Bettany. / Sinopse:
Robert Langdon (Tom Hanks) é um conceituado professor especializado em símbolos históricos que se vê envolvido numa intrigada rede de conspirações onde o que parece ser uma sociedade secreta faz de tudo para encobrir uma terrível verdade da história.
Pablo Aluísio.