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terça-feira, 25 de junho de 2024

Blueback: Uma Amizade Profunda

Título no Brasil: Blueback: Uma Amizade Profunda 
Título Original: Blueback
Ano de Lançamento: 2022
País: Austrália
Estúdio: Arenamedia
Direção: Robert Connolly
Roteiro: Robert Connolly, Tim Winton
Elenco: Mia Wasikowska, Ariel Donoghue, Elizabeth Alexander

Sinopse:
Abby (Mia Wasikowska) foi criada mergulhando na bela costa da Austrália. Sua mãe, uma ecologista militante, acaba desenvolvendo demência na velhice. Com isso Abby retorna para a mesma região, agora já adulta, para ajudar sua mãe e também tentar impedir que a fauna marinha local seja devastada por interesses da indústria pesqueira local. 

Comentários:
Ao longo da minha vida eu já assisti todo tipo de filme sobre pets. Aliás filmes sobre a amizade entre cães e homens formam um filão especialmente produtivo no cinema. Só que um filme sobre a amizade entre uma garota e um peixe, eu nunca tinha visto antes! Nunca havia assistido nada parecido. Até porque peixes são animais que não demonstram qualquer tipo de laço emocional com os seres humanos. E a despeito de tudo isso, esse roteiro funciona. O drama em torno do relacionamento, nem sempre pacífico, entra mãe e filha é o que move de verdade o interesse nessa narrativa. E some-se a isso as belas cenas aquáticas, de mergulho, entre os belos corais australianos. É o que eu gosto de classificar como um filme agradável, bonito de se assistir. Não apenas pela beleza natural onde ele foi filmado, na costa australiana, mas também pela boa história que conta, em duas linhas narrativas paralelas, uma no passado e outra no presente. E a atriz Mia Wasikowska justifica qualquer filme. Além de ser uma bela mulher, é uma atriz muito talentosa. 

Pablo Aluísio.

quinta-feira, 4 de outubro de 2018

Damsel

Esperava bem mais desse western moderno. Não apenas por ser um faroeste, gênero cada vez mais raro nos dias atuais, como também pelo fato de trazer a atriz Mia Wasikowska. Ela é uma das minhas preferidas. O enredo começa com um pastor surtando numa parada de diligências bem no meio do deserto. A carruagem não chega e ele vai perdendo a cabeça, até que enlouquece completamente e tira as roupas, para surpresa do outro passageiro que também está esperando por seu transporte.

A partir daí o filme volta em um longo flashback para contar parte de sua história. Uns trinta anos antes ele é contratado por um jovem pregador (interpretado pelo fraco Robert Pattinson). O objetivo é localizar sua noiva que foi raptada por um bandido do velho oeste. Pelas últimas notícias que ele teve, ela está em uma cabana bem distante da cidade mais próxima. Assim ele vai até lá, com o pastor e um pônei! (isso mesmo, um pônei que ele quer dar de presente para sua amada!).

O filme não se desenvolve muito bem. Há diversas perdas de ritmo e uma estranha pitada de humor negro, não muito em evidência, que também estraga um pouco as coisas. O maior destaque, já esperava por isso, vem da interpretação da Mia Wasikowska. Ela praticamente salva o filme do desastre total em sua parte final. No começo você fica pensando que ela vai ser mais uma personagem daquelas loirinhas bobinhas que sempre surgem nesse tipo de faroeste, mas não, numa reviravolta ficamos sabendo que ela está muito feliz e apaixonada por seu sequestrador e que mesmo sendo uma beldade sabe se defender muito bem, com arma em punho. Para terminar de destruir a imagem de mulher indefesa ela ainda fuma um nada sexy cachimbo de milho e bebe whisky na boca da garrafa! Pois é, a Mia acabou mesmo sendo a melhor coisa de um filme que no geral é bem fraco mesmo. Por ela vale o sacrifício.

Damsel (Estados Unidos, 2018) Direção: David Zellner, Nathan Zellner / Roteiro: David Zellner, Nathan Zellner / Elenco: Robert Pattinson, Mia Wasikowska, David Zellner / Sinopse: Jovem pregador vai até o oeste selvagem em busca de sua noiva, que foi sequestrada por um bandoleiro. Só que ao chegar na pequena cabana onde ela vive descobre que nada era do que ele pensava ser. Filme indicado no Berlin International Film Festival.

Pablo Aluísio.

terça-feira, 1 de maio de 2018

Uma Jornada Para Toda a Vida

Esse filme deveria ser mais comentado. Hoje em dia, com sua exaustiva exibição nos canais Telecine, ele vem sendo aos poucos mais conhecido do público em geral. Conta a história real de uma jovem australiana chamada Robyn Davidson (Mia Wasikowska) numa jornada inusitada. Ela decide atravessar o deserto da Austrália acompanhada apenas por quatro camelos e um cachorro. A aventura logo chamou a atenção da revista National Georgraphic e assim ela acabou ganhando notoriedade e também financiamento para sua viagem. Alguns anos depois (a viagem original se deu durante a década de 1970) a própria Robyn resolveu contar sua epopeia em um livro chamado "Trilhas" (Tracks em inglês). Foi justamente esse relato autobiográfico que serviu de base para o roteiro desse belo filme.

O espectador terá além de uma boa história para conhecer, a fotografia lindíssima da Austrália. Uma ilha de tamanho continental situado na distante Oceania, o lugar reserva algumas surpresas, como uma fauna toda própria e, é claro, seu imenso deserto, que lembra em muito o Oriente Médio. Outro aspecto curioso é que a atriz Mia Wasikowska surge em cena completamente despida de vaidades. Ela está bem ao natural, praticamente sem maquiagem alguma, com roupas surradas e sandálias de dedo. Nada parecida com seus outros papéis no cinema, onde geralmente aparecia em lindos vestidos e figurino luxuoso. Por isso esqueça a imagem dela que você tem em sua mente, como a de filmes como "Alice" ou "Madame Bovary". Aqui ela abraça apenas o essencial, de uma personagem mais do que cativante.

Uma Jornada Para Toda a Vida / Trilhas (Tracks, Austrália, 2013) Direção: John Curran / Roteiro: Marion Nelson, baseado no livro escrito por Robyn Davidson  / Elenco: Mia Wasikowska, Adam Driver, Lily Pearl / Sinopse: Com história baseada em fatos reais, o filme conta a jornada que a jovem Robyn decide rumar, atravessando o deserto inóspito da Austrália. Seu objetivo é cruzar a ilha de costa a costa, chegando ao final da jornada nas águas mornas do Oceano Índico, do outro lado do país. Filme vencedor do Australian Cinematographers Society na categoria de Melhor Fotografia (Mandy Walker). Indicado ao Australian Film Critics Association Awards nas categorias de Melhor Filme, Melhor Atriz (Mia Wasikowska) e Melhor Fotografia.

Pablo Aluísio.

segunda-feira, 9 de outubro de 2017

Segredos de Sangue

Não parece, mas esse é um filme sobre psicopatas, psicopatas em família. Quando começa somos apresentados a mãe e filha, ambas em luto pela morte do pai. A filha, chamada India (Mia Wasikowska), era muito próxima dele. Provavelmente era além de seu pai, seu único amigo nesse mundo. A garota não é muito comum. Vista como esquisita na escola, ela tem um jeito de ser introvertido, embora seja extremamente inteligente. Com a mãe nunca se deu muito bem, até porque ela esperava outro comportamento da filha. A mãe é interpretada por Nicole Kidman, aqui novamente esbanjando beleza, como sempre aliás. Com a morte do pai chega para os funerais seu irmão, Charles (Matthew Goode), que elas pouco conhecem e praticamente nada sabem de seu passado. Aos poucos tudo vai se revelando, inclusive um passado trágico.

A linguagem que o diretor Chan-wook Park impôs ao filme lembra bastante a própria personalidade da jovem protagonista India, ou seja, contemplativo, meio silencioso, bem esquisito. A narrativa em certos momentos lembra uma fábula absurda, com muitos toques de humor negro. Como não poderia deixar de ser, quem brilha no elenco é justamente ela, a atriz australiana Mia Wasikowska. Ela sempre me chama atenção nos filmes em que atua. O público em geral a associa ao filme "Alice" de Tim Burton, que chegou a render absurdos 1 bilhão de dólares nas bilheterias. Mia porém não se resume a Alice. Aliás esse pode ser considerado um de seus momentos mais fracos no cinema. Ela tem uma filmografia bem mais interessante, inclusive nesse "Segredos de Sangue" ela surge com os cabelos pintados de preto, para ajudar na composição de sua personagem, que tem uma simbiose natural com o sombrio e o soturno. Ficou bastante diferente, mas também sedutora, de uma maneira até bem doentia.

O grande mérito desse filme porém vem realmente de seu roteiro. Ele começa como um tipo de drama emocional (ou nada emocional se formos levar em conta o jeito de Mia). O pai está morto, a mãe não está com muita disposição de ficar em luto eterno e o tio chega na casa. Um cara bonitão, com jeito de boa praça, bem sucedido, carrão conversível. Para a bizarrice ser completa ele acaba seduzindo a viúva do irmão, pior do que isso, se insinua para a própria sobrinha! Ecos de incesto por todos os lados. O roteiro porém não cai em armadilhas e situações clichês. Ao invés disso dá uma guinada ainda mais estranha para o lado mais bizarro dessa família. Como escrevi no começo do texto, é um filme sobre psicopatas com laços familiares. Assim não espere por nada muito convencional pois definitivamente esse filme não se enquadra em algo comum, do tipo que você está acostumado a assistir.

Segredos de Sangue (Stoker, Estados Unidos, Inglaterra, 2013) Direção: Chan-wook Park / Roteiro: Wentworth Miller / Elenco: Mia Wasikowska, Nicole Kidman, Matthew Goode, Dermot Mulroney / Sinopse: Depois da morte do pai, mãe e filha, India (Mia Wasikowska) e Evelyn Stoker (Nicole Kidman) respectivamente, recebem a visita do irmão dele, o desconhecido e misterioso tio Charles (Matthew Goode). Onde ele estava durante todos esses anos? O que fez? Quais são seus segredos mais bem guardados? Filme premiado no Fangoria Chainsaw Awards e CinEuphoria Awards.

Pablo Aluísio.

terça-feira, 4 de julho de 2017

Alice Através do Espelho

Título no Brasil: Alice Através do Espelho
Título Original: Alice Through the Looking Glass
Ano de Produção: 2016
País: Estados Unidos
Estúdio: Walt Disney Pictures
Direção: James Bobin
Roteiro:  Linda Woolverton
Elenco: Mia Wasikowska, Johnny Depp, Helena Bonham Carter, Anne Hathaway, Sacha Baron Cohen, Alan Rickman

Sinopse:
Alice (Mia Wasikowska) agora é uma capitã de um grande navio que cruza os sete mares. Ela retorna a Londres e encontra problemas envolvendo sua mãe. Ela corre risco de perder sua própria casa, agora hipotecada. Ao entrar dentro de um espelho acaba sendo levada de volta ao país das maravilhas, onde reencontra seus antigos amigos e a rainha má Iracebeth (Helena Bonham Carter) que agora quer manipular o tempo em seu favor. Filme indicado ao Grammy Awards na categoria Melhor Música - trilha sonora ("Just Like Fire" de Pink).

Comentários:
Era mais do que previsível o lançamento dessa sequência de "Alice" de Tim Burton. O primeiro filme rendeu mais de um bilhão de dólares nas bilheterias, um sucesso comercial fabuloso. Assim a Disney jamais deixaria passar a oportunidade de lançar mais um filme. O roteiro adaptou outro livro de Lewis Carroll lançado em 1871 chamado "Alice Através do Espelho e o Que Ela Encontrou Por Lá". Tim Burton porém resolveu cair fora, deixando a direção, se concentrando apenas na produção. O novo diretor escolhido foi James Bobin de "Os Muppets". Feito com um orçamento de 170 milhões de dólares esse segundo filme de "Alice" acabou decepcionando nas bilheterias, para grande decepção da Disney. Esse fracasso comercial foi até merecido. Ao invés de adaptarem mais fielmente o livro de Lewis Carroll, a Disney resolveu apostar em um roteiro que para as crianças vai soar confuso demais, com viagens no tempo e conceitos que ficariam bem em um filme da série "De Volta Para o Futuro", mas não em um filme infantil como esse, com a adorável personagem Alice. Exageraram demais nas mudanças da história, nos efeitos especiais e na maquiagem. O que era simples e inteligente virou burro e exagerado. O que de certa forma funcionava bem no primeiro filme, aqui acabou soando muito desnecessário. A atriz  Mia Wasikowska continua muito carismática e simpática, mas ela não tem mais idade para a personagem. Johnny Depp está mais bizarro do que o normal, com estranhos efeitos de computação gráfica que o deixaram com olhos enormes e estranhos. A novidade em termos de elenco vem com a participação do comediante Sacha Baron como o "Tempo". Pena que no meio dessa confusão de estilos e tramas, ele não faça mesmo qualquer diferença.

Pablo Aluísio.

segunda-feira, 1 de maio de 2017

Uma Jornada Para Toda a Vida

Esse filme é baseado na história real da australiana Robyn Davidson. Na década de 1970 ela decidiu que iria atravessar o deserto da Austrália (um dos ambientes naturais mais hostis do planeta) em direção à costa banhada pelo oceano Índico (no oeste do país). Um objetivo e tanto, principalmente pelo desafio de percorrer mais de 1700 milhas sozinha, ao lado de quatro camelos e um cachorro. Ela era jovem, tinha problemas emocionais a superar e seu desafio acabou chamando a atenção da revista National Geographic.

Sua aventura deu origem a um livro chamado "Tracks" (Trilhas) onde a autora contou tudo o que passou nessa jornada. O roteiro desse filme é baseado justamente nesse livro, que se tornou best-seller na Austrália. A protagonista é interpretada pela atriz Mia Wasikowska, aqui deixando todo o glamour de lado para dar vida a uma mulher dura, de firmeza inabalável. Foi no mínimo curioso ver Mia longe do visual que ela sempre usou para outros filmes. Ao invés de belos vestidos e figurino fashion, ela surge na mais pura simplicidade. Suja de areia, com os pés enfiados numa sandália surrada e muito queimada do sol, Mia parece outra pessoa. Quem a conhece de "Alice" ou "Madame Bovary" não vai reconhecê-la.

Filmes como esse são bem instrutivos, diria até mesmo educacionais. Ao longo de sua história você vai descobrir informações sobre a Austrália que poucas pessoas conhecem. Por exemplo, você sabia que os desertos australianos possuem o maior número de camelos selvagens do planeta? Superam em número até mesmo o Oriente Médio! Esses animais não são naturais da Austrália, eles foram levados para lá no século XVII por uma expedição, depois soltos no meio ambiente. O curioso é que o animal se deu muito bem naquelas pastagens e não apenas se firmou como progrediu no meio dos desertos sem fim. Outra informação bem curiosa é saber que os cangurus são vistos pelos australianos como um apetitoso prato culinário! Os animais inclusive servem de comida para a protagonista durante sua jornada. Então é isso, um bom filme, muito bem realizado, com uma série de informações curiosas sobre as terras desertas da distante Austrália.

Uma Jornada Para Toda a Vida / Trilhas (Tracks, Austrália, 2013) Direção: John Curran / Roteiro: Marion Nelson, baseado no livro escrito por Robyn Davidson/ Elenco: Mia Wasikowska, Adam Driver, Lily Pearl / Sinopse: Jovem australiana desiludida com sua própria vida, enfrentando problemas emocionais, decide partir para uma aventura inédita: atravessar o deserto australiano em direção às belas praias da costa oeste banhada pelo Oceano Índico. Filme vencedor do Australian Cinematographers Society na categoria de Melhor Fotografia (Mandy Walker). Indicado ao Australian Film Critics Association Awards nas categorias de Melhor Filme, Melhor Atriz (Mia Wasikowska) e Melhor Fotografia.

Pablo Aluísio.

sexta-feira, 19 de agosto de 2016

Madame Bovary

Esse é um drama baseado no famoso livro escrito por Gustave Flaubert em 1857. No mundo da literatura esse romance é considerado o primeiro na nova estética realista que em pouco tempo iria dar origem a toda uma nova escola literária (até mesmo o nosso consagrado autor Machado de Assis seguiria por essa nova vertente). O romance era de fato revolucionário por trazer uma protagonista que rompia com o estereótipo da jovem apaixonada, doce e ingênua, retratada em livros românticos da época. A personagem Emma parecia ser muito mais humana do que as mocinhas idealizadas do passado. Ela tinha muitos defeitos e não se encaixava no velho padrão, o que significava realmente uma ruptura com os antigos autores.

Nesse filme o diretor Sophie Barthes procurou não adaptar todo o enredo do livro original, mas apenas parte dele, o núcleo principal de sua estória. Assim personagens secundários foram eliminados (como a sogra e a filha de Emma na literatura), se concentrando apenas na personalidade sui generis da principal personagem. Emma, aqui interpretada pela atriz Mia Wasikowska (uma de minhas atrizes preferidas dessa nova geração), tem seu passado mostrado em rápidas cenas iniciais. Ela foi órfã, criada em um convento católico. Inicialmente ela pensa se tornar freira, mas depois, com a chegada da juventude, quando atinge a idade de se casar, acaba sendo prometida em casamento a um jovem médico do interior, Charles (Henry Lloyd-Hughes).

O começo de seu casamento é até promissor. O marido é um bom homem, trabalhador e responsável. Infelizmente ele também é completamente destituído de carisma pessoal, um sujeito enfadonho e chato. No fundo Emma não o ama. O casamento foi apenas uma questão de conveniência em sua vida. O tédio que a vida de Emma vai se transformando acaba mudando até mesmo seu jeito de ser. De origem humilde, calada e tímida, ela começa a desenvolver gosto pelo luxo e pela ostentação. Começa a gastar furiosamente, comprando vestidos caros, da moda. Em pouco tempo resolve remodelar toda a sua casa, comprando móveis, tapetes e utensílios vultuosos, algo que seu marido, mesmo sendo um médico, não consegue mais pagar. Pior do que isso, ela começa a flertar com outros homens interessantes da região, como um Marquês que acaba acendendo nela finalmente a chama da paixão em seu coração.

A partir daí começa o desastre. As coisas vão perdendo o rumo e Emma vai se tornando uma pária social, por causa de seu comportamento transgressor. O filme (e obviamente o livro que lhe deu origem) procura sutilmente mostrar as mudanças de comportamento que foram surgindo ao longo do século XIX, quando as mulheres passaram a ter uma postura e uma atitude mais ativas, seguindo seus próprios instintos, não se conformando em ser apenas aquele tipo de dona de casa apagada, vivendo eternamente à sombra do marido ou de um casamento infeliz. Com ótima produção, perfeita reconstituição histórica, excelente trilha sonora incidental (toda ao piano, em peças clássicas), o filme é aquele tipo de produção que vai satisfazer até mesmo os gostos mais sofisticados e exigentes.

Madame Bovary (Madame Bovary, Estados Unidos, Bélgica, Alemanha, 2014) Direção: Sophie Barthes / Roteiro: Felipe Marino (assinando como Rose Barreneche), baseado na obra de Gustave Flaubert / Elenco: Mia Wasikowska, Henry Lloyd-Hughes, Logan Marshall-Green, Paul Giamatti, Laura Carmichael / Sinopse: Emma (Mia Wasikowska) é uma jovem órfã e pobre que após se casar com um médico do interior começa a adquirir o gosto pelo luxo - e pela luxúria, colocando em polvorosa uma pequena cidade de hábitos conservadores do século XIX.

Pablo Aluísio.

quinta-feira, 3 de dezembro de 2015

A Colina Escarlate

Em plena era vitoriana a jovem americana Edith Cushing (Mia Wasikowska) deseja se tornar escritora. Ela não quer ser apenas uma dondoca que vive às custas do dinheiro do pai, um industrial milionário. Romântica, acaba se apaixonando pelo inglês Thomas Sharpe (Tom Hiddleston) sem saber que ele é na verdade um nobre arruinado que está sempre atrás de mulheres ricas para bancar seus projetos. Entre eles o de construir uma máquina a vapor que pretenderá usar na exploração de minas que pertencem à sua família há gerações. Depois da morte nada acidental do pai, Edith finalmente se casa com Thomas e vai morar com ele na distante e fria Inglaterra. Lá acaba conhecendo a antiga mansão da família Sharp, uma velha casa assustadora que guarda muitos segredos escabrosos entre suas centenárias paredes. Esse novo terror assinado pelo diretor Guillermo del Toro é uma clara tentativa de reviver os antigos filmes de terror ingleses, aqueles passados em casas mal assombradas.

A boa notícia é que ele conseguiu realizar um bom filme. Na verdade o que temos aqui é mais um terror psicológico do que o estilo mais sanguinário e violento que impera nos dias de hoje. Edith, uma típica heroína de romances góticos vitorianos, precisará escapar da armadilha mortal em que inocentemente se encontra. Thomas tem uma irmã abominável que demonstra ter uma relação doentia e obsessiva com o irmão. Esse nada mais é do que um dândi arruinado que corre atrás de sonhos de um passado que já não existe mais. A velha mansão inglesa em ruínas assume assim quase a personalidade de um personagem próprio dentro da trama, alguém que tenta avisar Edith do perigo que corre. Os fantasmas presentes na história (sim, eles estão lá para a alegria dos fãs de velhos filmes) não são necessariamente os vilões, agindo muitas vezes por motivos altruísticos e solidários. No final o espectador é presenteado com uma bela direção, boas atuações e uma direção de arte maravilhosa, sombria e assustadora nas medidas certas. Para assistir de noite, procurando sentir todo o clima criado por Del Toro. Um bom filme de terror com o sabor nostálgico daquelas antigas fitas inglesas de assombração.

A Colina Escarlate (Crimson Peak, Estados Unidos, Canadá, 2015) Direção: Guillermo del Toro / Roteiro: Guillermo del Toro, Matthew Robbins / Elenco: Mia Wasikowska, Jessica Chastain, Tom Hiddleston / Sinopse: Jovem americana se apaixona por nobre inglês e vai morar com ele numa mansão decadente e sombria pertencente à sua família. Seu marido mora lá há anos e compartilha a velha casa ao lado de sua estranha e sinistra irmã. O que a jovem mal desconfia é que na realidade está entrando em uma armadilha mortal.

Pablo Aluísio.

sábado, 14 de novembro de 2015

A Colina Escarlate

Bom, se você gosta de filmes de terror deve saber muito bem que alguns dos melhores já feitos na história são ingleses, basicamente realizados entre as décadas de 1940 e 1960. Foi justamente pensando nesses filmes que o diretor Guillermo del Toro realizou esse "Crimson Peak". A trama é das mais interessantes. A protagonista atende pelo nome de Edith Cushing (interpretada pela bela atriz Mia Wasikowska, de "Alice no País das Maravilhas" e "Madame Bovary"). Ela é a filha única e herdeira de um rico industrial americano. Mesmo assim passa longe de ser uma dondoca. Inteligente, deseja um dia se tornar escritora. Dona de opiniões próprias acaba surpreendendo pela personalidade que rejeita até mesmo as futilidades do meio social em que vive. Um dia ela conhece um membro da baixa realeza britânica, o galante Thomas Sharpe (Tom Hiddleston) que está na América em busca de investidores para sua máquina a vapor que ele pretende usar para retirar argila vermelha de uma mina situada em sua propriedade. O pai de Edith logo antipatiza com o sujeito e fica muito preocupado em perceber que sua filha está se apaixonando por ele. Ao contratar um investigador acaba descobrindo o passado negro de Sharpe, mas antes que possa fazer alguma coisa é brutalmente assassinado. Depois de sua morte o nobre britânico vê finalmente seu caminho livre para desposar Edith e levar de bônus toda a sua fortuna. Era justamente o que pretendia. Ao lado da esposa se muda para a Inglaterra, para viver na velha mansão de sua família conhecida como Allerdale Hall. No novo "Lar" Edith finalmente irá entender que entrou em uma armadilha mortal.

O grande destaque desse terror ao velho estilo dirigido por Guillermo del Toro vem da direção de arte (ou como alguns preferem chamar atualmente, do design de produção). A velha e decadente mansão da família Sharpe acaba se tornando ela própria uma personagem da história. Construída em cima de uma antiga mina de argila, vai afundando a cada ano, parcialmente destruída pela ação do tempo. A antiga casa é aterrorizante, escura e sombria. Lembra muito as velhas casas mal assombradas dos antigos filmes ingleses. E dentro do espírito decadente dessa pequena nobreza em ruínas se esconde todos os tipos de relações incestuosas e taras inconfessáveis. O mistério vai se revelando aos poucos em um clima que me agradou bastante. O roteiro, embora seja de certa maneira previsível, tem sua dose de charme e elegância. Os fantasmas que vão surgindo se encaixam perfeitamente no enredo, revelando aos poucos a sangrenta história do lugar. Os efeitos especiais são adequados, de bom gosto e estão inseridos na proposta de se contar bem os fatos do passado da dinastia Sharpe. O enorme cenário que foi construído para a realização do filme é real, não virtual, o que acrescentou muito no resultado final. O elenco também me agradou muito, principalmente a atuação do ator Charlie Hunnam (o 'Jax' Teller de "Sons of Anarchy"). Para quem interpreta um motoqueiro na série, não ficou nada mal como um médico vitoriano com vocação a gestos heroicos. Aliás todos os personagens do filme nos remetem àquele universo vitoriano dos antigos romances ingleses. Todos de uma maneira ou outra surgem finos, educados e sofisticados na superfície, embora na realidade sejam grotescos, gananciosos, rudes e mesquinhos no interior de suas almas. Assim não deixe de conhecer. É de fato um terror muito bom, com um irresistível sabor nostálgico, tudo embalado em um visual realmente impressionante, de encher os olhos. 

A Colina Escarlate (Crimson Peak, Estados Unidos, Canadá, 2015) Direção: Guillermo del Toro / Roteiro: Guillermo del Toro, Matthew Robbins / Elenco: Mia Wasikowska, Jessica Chastain, Tom Hiddleston, Charlie Hunnam, Jim Beaver / Sinopse: Edith Cushing (Mia Wasikowska) é uma jovem herdeira americana que é seduzida pelo galante nobre inglês Thomas Sharpe (Tom Hiddleston). Membro de uma realeza arruinada financeiramente ele precisa do dinheiro de Edith para a construção de uma máquina a vapor inovadora que irá agilizar a extração de argila vermelha de uma velha e abandonada mina que pertence à sua família há gerações. Depois de se casar com Edith ele a leva para morar na vitoriana mansão de Allerdale Hall. A velha casa, decadente e destruída, esconde segredos terríveis que logo Edith irá descobrir.

Pablo Aluísio. 

Mia Wasikowska

Dessa nova geração de atrizes é bom ficar de olho em Mia Wasikowska. Embora seja nascida na Austrália, ela tem origem familiar na Polônia. Aos 26 anos ela já tem uma boa filmografia, com várias adaptações de livros famosos. Muitos a conhecem principalmente por causa do filme de Tim Burton, "Alice no País das Maravilhas", onde interpretava justamente a protagonista Alice. Esse em minha opinião é paradoxalmente o seu pior filme, apesar de ter sido o grande sucesso de bilheteria de sua carreira. Espalhafatoso, ultra kitsch e exagerado, já é um típico exemplar da pior fase do diretor, embora como seja sabido tenha realmente caído no gosto popular faturando mais de 1 bilhão de dólares mundo afora. Em minha maneira de entender nem isso salva o filme, que é realmente muito fraco. A única coisa boa é justamente a presença dela.

Tirando Alice de lado eu destacaria outros filmes dela de que gostei bastante. Entre eles o recente "A Colina Escarlate", um filme que relembra os antigos clássicos ingleses de terror. Nesse roteiro ela está particularmente bonita e atraente com um figurino belíssimo de época. Longos vestidos brancos que inclusive nos remetem ao visual fantasmagórico mais utilizado em filmes de casas mal assombradas do passado. Sua personagem Edith é uma jovem que não deseja apenas viver de sua beleza e da fortuna de seu pai, um rico industrial, mas sim vencer como escritora e jornalista. Embora o filme não explore todo o potencial dela, o fato é que o resultado se revela muito bom, seja você um romântico ou apenas um admirador de fitas de terror ao velho estilo.

É bom também que se diga que Mia Wasikowska fica excepcionalmente bem em adaptações de romances históricos como "Madame Bovary" (cuja resenha pretendo escrever em breve) e "Jane Eyre", os dois filmes que melhor exploraram sua beleza e talento até agora. "Jane Eyre" é um livro romântico muito cultuado do século XIX, escrito por Charlotte Brontë. É um clássico absoluto da literatura inglesa e já ganhou inúmeras versões cinematográficas ao longo dos anos. A estrelada por Mia foi lançada em 2011 e contou com uma produção refinada e muito luxuosa, marca registrada da BBC Films. Embora a direção seja um pouco burocrática, sem grandes ousadias narrativas, o filme acabou sendo salvo exatamente por causa de sua elegância e charme irretocáveis. É outro filme que Mia também se destaca muito por causa dos figurinos de época.

Antes deles também seria interessante destacar sua atuação em "Minhas Mães e Meu Pai" onde ela interpretou uma adolescente criada por duas lésbicas que em determinado momento de sua vida decide ir atrás do seu pai biológico. O roteiro explorou muito bem essas novas formações familiares que nasceram dentro da sociedade atual, onde o velho modelo de pai e mãe acaba sendo substituído por uma nova forma de entidade familiar, geralmente proveniente de uniões homoafetivas. Nesse filme Mia teve a oportunidade de contracenar com duas grandes atrizes, Julianne Moore e Annette Bening, que estavam perfeitas em cena. Um belo aprendizado, ainda mais para ela que ainda era bem jovem. Por falar em contracenar com veteranas talentosas, Mia tem tido muita sorte nesse quesito. Basta lembrar de seu trabalho ao lado de Glenn Close no subestimado "Albert Nobbs". O roteiro explora a curiosa história de uma mulher inglesa do século XIX que para se proteger passa a assumir o comportamento e a identidade de um homem. Outro bom filme de época que vale a pena conhecer.

Indicada a vários prêmios ao redor do mundo Mia ainda tem muito a mostrar. Esperamos que sua carreira siga nesse ritmo de bons filmes, sempre bem produzidos, com enredos edificantes. Seus próximos filmes prometem. Ela estará em "HHH", um filme ambientado na Segunda Guerra Mundial baseado no romance de Laurent Binet. Também retornará ao papel que a tornou conhecida no mundo inteiro, a da garota Alice. Em "Alice Através do Espelho" a atriz voltará para o País das Maravilhas mais uma vez. O filme é uma super produção dos estúdios Disney para 2016 dirigida por James Bobin (o mesmo cineasta do sucesso recente "Os Muppets"). A produção está sendo vista como uma das grandes apostas da companhia para o ano que vem. Então é isso, fiquem de olho em Mia. Certamente é uma das mais promissoras jovens atrizes de Hollywood.

Pablo Aluísio.

segunda-feira, 7 de outubro de 2013

Alice no País das Maravilhas

Eu gostaria de dizer algo melhor sobre "Alice" de Tim Burton, até porque o filme reúne três personalidades de que gosto bastante. A começar pelo próprio Tim Burton que com seu estilo único já deu aos cinéfilos grandes alegrias nas salas de cinema mundo afora. O ator Johnny Depp também está aqui. Acompanho Depp desde o comecinho de sua carreira quando ele ainda era um jovem interpretando um policial na série "Anjos da Lei". Sempre o achei um ator muito corajoso que recusou se tornar um ídolo adolescente para realizar uma série de filmes ousados e fora do comum. Por fim temos a obra de Lewis Carroll, um autor realmente maravilhoso que conseguiu com "Alice" algo bem raro no mundo da literatura pois uniu uma escrita elegante e sofisticada, inteligente acima de tudo, com o universo infantil. Não é por menos que seu livro se tornou um verdadeiro clássico. Infelizmente mesmo com todos os ingredientes presentes algo deu muito errado nessa mistura. O que era para ser uma fusão de pequenas pitadas de talento desandou completamente. O que sobrou foi nada mais, nada menos do que um tempero ardente, exagerado, completamente kitsch.

Claro que expor os problemas e defeitos de "Alice no País das Maravilhas" na visão de Tim Burton soa hoje como algo sem maior importância. Isso porque o filme foi um tremendo, enorme e espetacular sucesso de bilheteria em seu lançamento. A produção arrecadou mais de um bilhão de dólares! É um número realmente fantástico que muito provavelmente jamais será repetido na carreira de todos os envolvidos. É muito curioso que artistas que tinham a fama de serem tão cults como Depp e Burton tenham se tornado o símbolo máximo do cinema comercial com esse "Alice". O que antes era considerado estranho, bizarro nos filmes de Burton virou algo queridinho pelas grandes massas! É uma metamorfose complicada de explicar pois basta assistir ao filme para perceber que no fundo Tim Burton continua o mesmo esquisitão de sempre, só que agora ele virou um chiclete de consumo popular. Em minha visão o filme não é nada bom, nem como produto cinematográfico e nem muito menos como adaptação da obra de Lewis Carroll. O livro original aliás parece tão distante do que vemos na tela como os delírios da Alice do mundo real. Pouca coisa funciona, já que Johnny Depp interpreta o chapeleiro maluco e por essa razão sua participação é ampliada ao máximo no enredo, em detrimento do que tínhamos no livro original. "Alice" não convence e não agrada mas seu sucesso fora do comum certamente faz com que seus defeitos sejam certamente completamente ignorados.

Alice no País das Maravilhas (Alice in Wonderland, Estados Unidos, 2010) Direção: Tim Burton / Roteiro: Linda Woolverton, na obra de Lewis Carroll / Elenco: Mia Wasikowska, Johnny Depp, Helena Bonham Carter / Sinopse: Alice é uma garota de 19 anos que retorna para o mundo onde viveu as grandes aventuras de sua infância.

Pablo Aluísio.

quarta-feira, 6 de fevereiro de 2013

Os Infratores

Três irmãos durante a vigência da lei seca começam a fabricar, contrabandear e vender bebidas mesmo sob a proibição das autoridades. “Os Infratores” é baseado em fatos reais e tenta trazer aquele velho charme dos antigos filmes de gangster. Se nas décadas de 40 o tema era laureado com o melhor do cinema noir, agora surge com pretensões bem mais modestas. O roteiro tenta explorar esse universo, mostrando todo o contexto histórico dos chamados pequenos infratores, geralmente pessoas pobres que destilavam bebida no meio das montanhas do sul americano. Nada do glamour de um Al Capone, que vivia como um rei em Chicago, aqui o foco realmente se desvia para esses pequenos meliantes que tentavam ganhar algum trocado com a proibição da comercialização de bebidas alcoólicas. Assim vamos acompanhando a estória desses três irmãos durões que enfrentavam a tudo e a todos para vender suas bebidas caseiras (geralmente licores de maçã ou então whiskys de milho, em combinações indigestas que eram aceitas pois eram a única alternativa para os beberrões de plantão). Dentre os manos contrabandistas se destaca a figura de Jack (Shia LaBeouf), o caçula que ao mesmo tempo em que vende bebida ilegal acaba se apaixonando justamente pela filha do pastor local.  O trio é completado por Howard (Jason Clarke), um grandalhão durão e bom de punhos e Forrest (Tom Hardy) que acaba criando a fama de ser “invencível” pois mesmo após várias tentativas de assassinato nunca se dobra totalmente.

O roteiro não esconde o fato de simpatizar completamente com esses personagens criminosos. Eles são tratados com grande simpatia e mesmo quando cometem crimes (como assassinatos e mutilações) são justificados como meros justiceiros. Na verdade não existem pessoas de bem no enredo pois todos são bandidos, até mesmo os policiais, vistos apenas como corruptos e sujos. Por falar em homens da lei a melhor coisa do elenco é a atuação de Guy Pearce como um agente almofadinha que comete as maiores barbaridades sem amassar o paletó da moda! O elenco é muito bom analisando os nomes que fazem parte dele mas são praticamente todos mal aproveitados. O ótimo Gary Oldman, por exemplo, interpreta um gangster famoso mas suas cenas são poucas e esporádicas. Em suma, “Os Infratores” não é um grande filme de gangsters e para falar a verdade não chega nem perto dos grandes clássicos do gênero mas pode ser encarado como um mero entretenimento. Sua maior falha talvez seja o tom ameno e de leve farsa, suavizando a figura dos criminosos, mas isso acaba sendo de menor importância. Fora isso pode ser assistido sem maiores pretensões.

Os Infratores (Lawless, Estados Unidos, 2012) Direção: John Hillcoat / Roteiro: Nick Cave / Elenco: Tom Hardy, Guy Pearce, Gary Oldman, ShiaLaBeouf, Jessica Chastain, Mia Wasikowska, Dane DeHaan, Noah Taylor, Jason Clarke, / Sinopse: Três irmãos começam a vender bebidas ilegais durante a década de 1930 na vigência da lei seca. Pressionados a pagarem propina para as autoridades, para assim continuarem suas atividades ilegais se rebelam e enfrentam a ira dos “homens da lei”, entre eles um procurador sujo e um agente especial corrupto.

Pablo Aluísio.

sexta-feira, 28 de setembro de 2012

Minhas Mães e Meu Pai

"Minhas Mães e Meu Pai" é uma tentativa do cinema americano de entender as novas relações sociais e familiares que se disseminaram na sociedade atual. Aquela velha estrutura do pai dominador e da mãe submissa em um lar tradicional hoje em dia tem suas bases abaladas. A família monoparental, os laços homoafetivos e as diversas entidades familiares de pais divorciados que se formam novas famílias tem colocado por terra o modelo conservador de família ao qual os mais velhos se habituaram. A estória do filme reflete bem os meios alternativos de relacionamentos em que vivemos nos dias de hoje. O núcleo central do roteiro é formado por um casal de lésbicas, interpretadas com muito brilho por Julianne Moore e Annette Bening. Juntas elas tentam criar um casal de adolescentes, Joni (Mia Wasikowska) e Laser (Josh Hutcherson). O pai biológico de ambos é desconhecido e como estão prestes a entrar na universidade, o que lhes dará um novo rumo em suas vidas, decidem descobrir quem ele é, o que faz da vida, o que pensa. A procura pelo pai ausente acaba abalando a harmonia familiar de todos eles.

O curioso é que o filme não tenta criar dramalhões desnecessários em sua trama central. As mães não são retratadas como pessoas com algum tipo de problema comportamental ou algo do tipo. Pelo contrário, são mulheres normais, donas de seus destinos, produtivas em sua comunidade. Essa visão é um dos pontos mais positivos do roteiro pois mostra um casal homoafetivo sem qualquer estigma ou preconceito. Afora o fato de serem lésbicas e de seus filhos desejarem conhecer seu pai biológico que apenas doou seu material genético para o nascimento dos filhos, não há nada de anormal ou bizarro na família mostrada no filme. "Minhas Mães e Meu Pai" nasceu para um público pequeno, setorizado, mas logo chamou a atenção da crítica americana. Levado pela propaganda boca a boca a produção também foi contabilizando ótima bilheteria. O mais surpreendente é que acabou sendo indicado aos principais prêmios da Academia, entre eles Melhor Filme e Melhor Roteiro Original. A dupla central de atrizes também foi indicada aos principais prêmios, sendo que Annette Bening acabou vencendo na categoria Melhor Atriz no prestigiado Globo de Ouro. Em conclusão aqui está uma ótima produção, leve, divertida e socialmente consciente, que tenta entender os rumos que a família como entidade principal da sociedade vem tomando. Está mais do que indicado.

Minhas Mães e Meu Pai (The Kids Are All Right, Estados Unidos, 2010) Direção: Lisa Cholodenko / Roteiro: Lisa Cholodenko e Stuart Blumberg / Elenco: Julianne Moore, Annette Bening, Mark Ruffalo, Mia Wasikowska, Josh Hutcherson / Sinopse: Os dois filhos adolescentes de um casal de lésbicas decide encontrar o paradeiro de seu pai biológico antes que entrem na universidade e suas vidas tomem um novo rumo.

Pablo Aluísio.

quarta-feira, 29 de fevereiro de 2012

Albert Nobbs

Imagine ficar órfã pelas ruas de Dublin na Irlanda no século 19, exposta a todo tipo de violência, seja moral ou sexual. A situação piora e muito se for apenas uma garotinha indefesa chegando na puberdade. Por puro instinto de sobrevivência então a pequena órfã troca de nome e de identidade sexual se transformando em um personagem chamado Albert Nobbs. Passando por um garoto as chances de sofrer mais agressões automaticamente diminuem. Essa é a premissa extremamente instigante do novo filme do diretor Rodrigo Garcia, um talentoso cineasta que só agora está despontando para filmes de maior repercussão. Como todos já sabemos, pelas indicações e prêmios, o filme tem uma estrela que o domina da primeira à última cena: Glenn Close. Seu trabalho como o tímido e estranho Nobbs impressiona certamente. Na minha opinião grandes atuações são aquelas em que os intérpretes conseguem sumir dentro de seus personagens. É justamente o que ocorre aqui. Glenn Close desaparece de cena e só conseguimos visualizar o garçom Albert Nobbs. Que grande talento tem essa atriz! Infelizmente não teve o reconhecimento que merecia pois em um ano extremamente competitivo na categoria foi superada por Meryl Streep em "Dama de Ferro", um filme fraco com uma atuação monstruosa da atriz americana fazendo a primeira ministra inglesa Margareth Thatcher.

Se não fosse por essa infeliz coincidência Glenn Close certamente teria levado o prêmio da Academia. Seria mais do que merecido uma vez que o projeto da produção foi fruto de muito empenho pessoal da própria atriz. Lutando por financiamento ela foi à luta para levar esse texto para as telas. Está inclusive creditada como uma das roteiristas. Sua história com Albert Nobbs vem de longe pois há muitos anos Close interpretou o mesmo papel no teatro. Certamente pela riqueza do texto ela sabia que tinha uma potencial obra prima em mãos. Seus esforços são dignos de aplausos. Tudo é de muito bom gosto no filme - figurinos, reconstituição de época, cenários, tudo impecável. O elenco de apoio também está brilhante com destaque para Janet McTeer que também recebeu uma indicação ao Oscar de Melhor atriz coadjuvante por seu papel de Mr. Page. Em conclusão é isso, "Albert Nobbs" traz excelentes questões sobre identidade sexual, abandono, sonhos, projetos de vida, pobreza e de quebra mostra que a estratificada sociedade britânica pode ser tão cruel como a de qualquer outro país periférico do terceiro mundo. Está mais do que recomendado.

Albert Nobbs (Albert Nobbs, Reino Unido / Irlanda, 2012) Direção: Rodrigo García / Roteiro: Glenn Close, John Banville baseado no conto de George Moore / Elenco: Glenn Close, Mia Wasikowska, Aaron Johnson, Janet McTeer / Sinopse: No Século XIX Albert Nobbs (Glenn Close) é um garçom de um hotel na cidade de Dublin. Lá conhece Hubert Page (Janet McTeer), um trabalhador que eventualmente faz serviços no hotel onde trabalha. Para sua surpresa descobre que assim como si próprio o Sr. Page também tem um grande segredo a esconder.

Pablo Aluísio.

terça-feira, 12 de janeiro de 2010

Jane Eyre

Jane Eyre é um clássico da literatura inglesa então obviamente o texto do roteiro tem muito pedigree. No fundo é uma estória bem romântica com várias reviravoltas, amores impossíveis, romantismo exacerbado e heróis galantes. Aqui acompanhamos a triste saga de Jane Eyre. Bem nascida tem o azar de ver seus dois pais mortos. Nas mãos de uma parenta megera logo é internada em um colégio interno, daqueles de dar arrepios, com quartos escuros e professoras violentas. Castigo físico é rotina além de muitas horas de estudo e trabalho. Jane então se torna uma moça adulta e ao sair da escola procura um emprego como governanta numa luxuosa propriedade campestre britânica (aqueles casarões que estamos acostumados a ver em filmes e séries britânicas como Downtown Abbey). Aí nesse local ela viverá emoções, paixões e tudo o mais que não convém contar mais para não estragar.

A produção é da BBC Films, então bom gosto e classe refinados é o mínimo a se esperar. A direção é meio burocrática, sem grandes arroubos autorais o que é de se compreender pois o diretor Cary Fukunaga (que apesar do nome é americano) quis apenas contar a estória do livro sem tirar nem colocar nada. Quis ser eficiente e correto. Se não atrapalha também não emociona. Percebi que diante de tanto zelo pela obra original o filme acabou soando frio, gélido, sem grandes emoções. Até mesmo o romance central (que deveria ser um arroubo de paixões descontroladas) se torna morno. De qualquer forma ainda recomendo por causa da bonita produção, dos belos jardins e da chance de conhecer, nem que seja pela tela, a obra da escritora inglesa Charlotte Bront.

Jane Eyre (Jane Eyre, Estados Unidos, 2011) Direção: Cary Fukunaga / Roteiro: Moira Buffini / Elenco: Mia Wasikowska, Jamie Bell e Sally Hawkins / Sinopse: Jane Eyre (Mia Wasikowska) morava com sua tia, e ao ficar órfã é levada para morar em um internato. Quando adulta, ela vai trabalhar como governanta na casa de Edward Rochester (Michael Fassbender) mas em breve o destino mudará completamente sua vida.

Pablo Aluísio.