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quarta-feira, 11 de setembro de 2024

Rota Suicida

Título no Brasil: Rota Suicida
Título Original: The Gauntlet
Ano de Produção: 1977
País: Estados Unidos
Estúdio: Warner Bros
Direção: Clint Eastwood
Roteiro: Michael Butler, Dennis Shryack
Elenco: Clint Eastwood, Sondra Locke, Pat Hingle

Sinopse:
Ben Shockley (Clint Eastwood) é um policial designado a trazer de Las Vegas uma testemunha para um julgamento que muito provavelmente não vai dar em nada. Ela é Gus Mally (Sondra Locke), uma prostituta bonita e extremamente teimosa que está sendo caçada pelos bandidos que ela delatou. Mas a polícia misteriosamente começa a querer matá-los também, mostrando que a coisa não é tão simples. Shockley porém está decidido a cumprir sua missão.

Comentários:
Simples e direto. Esta é a fórmula eficaz de um bom filme de ação proporcionado pelo talento de Eastwood. Se ele ainda não tinha toda a perícia que demonstra nos filmes atuais, já provava ser capaz de conduzir perfeitamente seus filmes, valorizando um belo trabalho de ritmo e edição. Fazendo o típico policial durão que soa como uma variação de Dirty Harry, Clintão cumpre o que promete: fornecer muita adrenalina e diversão. E fora que tem aquele clima setentista, do melhor período do cinema americano. A sequência final com o ônibus virando peneira de tantas balas é memorável. Além disso, em uma época anterior ao boom dos filmes de ação, que iria acontecer nos anos 80, o ator e diretor segurava a tocha do gênero. O filme é muito eficiente, com excelentes cenas de ação e espetaculares sequências, algumas delas não envelheceram em absolutamente nada. Maior prova da competência de Eastwood não poderia existir.

Pablo Aluísio.

terça-feira, 28 de maio de 2024

Clint Eastwood e o Western - Parte 4

Clint Eastwood e o Western - Parte 4
Depois do grande sucesso de seus filmes de faroeste rodados na Itália, Clint Eastwood voltou para a Califórnia. Ele tinha alguns planos, o mais ambicioso deles era criar sua própria companhia de filmes. Conversando com um amigo mexicano ele foi aconselhado a não fazer isso. O sujeito lhe disse que ele iria à falência em pouco tempo e que iria ficar mal, cheio de dívidas. Em sua língua espanhola ele falou para Clint que aquele era um mal paso (um mal passo) que ele iria dar em sua vida. 

Clint aproveitou a situação para dar o nome para sua empresa. Como forma de piada a chamou de Malpaso Productions, usando da mesma expressão que seu "amigo" havia dito em sua conversa. Clint então alugou um pequeno escritório e contratou uma secretária que no final das contas iria trabalhar com ele por décadas e décadas. Era o ano de 1967 e Clint tinha grandes ambições pela frente. 

A ideia de Clint era relativamente simples. Usando de sua fama conquistada no cinema europeu, ele iria aos grandes estúdios de Hollywood pedir um financiamento para a produção de seus próprios filmes. Iria dirigir, escrever os roteiros e produzir seus filmes. Depois com o filme pronto ele iria dar para o estúdio distribuir nos cinemas. Depois de alcançar o custo da produção, recuperando o investimento, o estúdio iria lhe repassar o lucro do filme, dividido meio a meio. 

Naquele tempo isso parecia ser ousado demais, entretanto o tempo iria demonstrar que era uma excelente forma para Clint fazer os filmes que queria, o tornando além disso um homem muito rico, dono dos direitos autorais de seus próprios filmes, uma maneira de fazer cinema que iria acompanhar toda a sua trajetória em Hollywood. Ele obviamente ainda iria fazer muitos filmes de faroeste, mas não queria se resumir a esse gênero. Queria fazer todos os tipos de filmes. E acabou assim se tornando uma verdadeira lenda na indústria cinematográfica. 

Pablo Aluísio. 

segunda-feira, 1 de abril de 2024

Rota Suicida

Título no Brasil: Rota Suicida
Título Original: The Gauntlet
Ano de Produção: 1977
País: Estados Unidos
Estúdio: Warner Bros
Direção: Clint Eastwood
Roteiro: Michael Butler, Dennis Shryack
Elenco: Clint Eastwood, Sondra Locke, Pat Hingle, William Prince, Bill McKinney, Michael Cavanaugh

Sinopse:
Ben Shockley (Clint Eastwood) é um policial designado pelo departamento de polícia para proteger uma testemunha importante em um caso envolvendo mafiosos violentos. Sua missão será das mais perigosas.

Comentários:
Eu sempre gosto de repetir que mais vale um filme mediano com Clint Eastwood do que inúmeras superproduções que são lançadas todos os anos por aí no circuito comercial. Clint sempre manteve uma regularidade impressionante em sua filmografia. Esse filme policial dos anos 70 bem poderia ser mais um com o famoso tira Dirty Harry, mas os produtores decidiram inovar um pouco. Aqui Clint trabalha ao lado de sua esposa na época, Sondra Locke. Ela fez vários filmes ao lado dele, alguns entre os melhores já estrelados por Clint. Falecida em 2018, teve uma filmografia enriquecida pelas boas escolhas do marido. Sua personagem é a de uma garota de programa que sabe muito e que por isso vira alvo de criminosos envolvidos com a máfia italiana nos Estados Unidos. Enfim, mais um bom filme com Clint e Locke, em uma época em que eles sempre acertavam em suas escolhas cinematográficas.

Pablo Aluísio.

terça-feira, 7 de fevereiro de 2023

O Estranho que Nós Amamos

Título no Brasil: O Estranho que Nós Amamos
Título Original:  The Beguiled
Ano de Lançamento: 1971
País: Estados Unidos
Estúdio: The Malpaso Company
Direção: Don Siegel
Roteiro: Albert Maltz, Irene Kamp
Elenco: Clint Eastwood, Geraldine Page, Elizabeth Hartman, Jo Ann Harris, Darleen Carr, Melody Thomas Scott

Sinopse:
Durante a guerra civil nos Estados Unidos, um soldado do exército da União é resgatado por um grupo de mulheres que vivem isoladas, tentando sobreviver em um rancho no sul do país. O soldado, muito ferido, é levado para o local e elas começam a tratar dele. Essa situação acaba criando uma grande tensão por causa de sua presença naquele local.

Comentários:
O roteiro desse filme foi baseado no romance escrito por Thomas Cullinan. Esse foi o primeiro grande diferencial em relação a outros filmes de faroeste do ator Clint Eastwood. Isso porque a história valorizava muito mais o relacionamento humano entre os personagens, sendo a ação deixada em segundo plano. O filme investe bastante na dualidade de se ter um soldado da União sendo tratado por mulheres sulistas, ou seja, ela estavam ajudando o inimigo de guerra. Isso por si só já seria ruim o bastante, mas ainda havia a questão da tensão sexual envolvida com a presença de um homem como ele no meio de tantas mulheres solitárias e abandonadas à própria sorte. Esse filme já demonstrava que Clint Eastwood estava preocupado em investir mais no conteúdo dramático de seus filmes. Para isso, ele produziu o filme e trouxe para dirigi-lo o excelente cineasta Don Siegel. O resultado é muito bom. Um filme realmente marcante. Houve, inclusive, um remake recente, mas esqueça esse novo filme. Embora seja até bem feito, não se compara esse original dos anos 70. Clint Eastwood estava em plena forma. Esbanjando carisma e boa atuação em um filme realmente acima da média.

Pablo Aluísio.

terça-feira, 10 de janeiro de 2023

Clint Eastwood e o Western - Parte 3

Existem filmes que mudam não apenas a carreira de um ator, mas o próprio cinema. No caso do ator Clint Eastwood, foi justamente isso o que aconteceu. Sua carreira de ator vinha em um momento ruim, não estava sendo muito bem sucedida. Ele havia feito alguns filmes menores e havia participado também de duas séries de faroeste na televisão. Estou me referindo a "Maverick" e a "Rawhide". Depois disso, nada de muito interessante aconteceu, até que surgiu um convite que mudaria tudo. Ele foi convidado para atuar em um filme europeu chamado "Por um Punhado de Dólares". Este faroeste seria dirigido pelo excelente diretor Sergio Leone. Era o ano de 1964 e o mundo vivia revoluções culturais, como a Beatlemania e a Nouvelle Vague. Clint então embarcou rumo a Itália para novos desafios em sua carreira de ator.

A verdade é que o cinema italiano havia se transformado em uma verdadeira indústria cultural. Diretores italianos descobriram que conseguiam fazer filmes de faroeste tão bem sucedidos comercialmente como os originais americanos. Sua grande sacada foi apostar em um tipo de filme mais realista. Nos Estados Unidos havia uma tradição de filmes de faroeste onde os cowboys apareciam em roupas coloridas. Muitas vezes esses filmes eram destinados a um público juvenil, para serem exibidos em matinês de fim de semana. Os cineastas e roteiristas italianos olharam para aquilo e viram que não era uma verdade histórica. Os verdadeiros cowboys que viveram no velho Oeste não eram figuras pop. Eram tipos brutos, sujos e mortais. Então eles obviamente apostaram nesse tipo de personagem.

Assim nasceu o western spaghetti. Foi um grande sucesso de bilheteria no mundo inteiro. Muitos fãs de faroeste da época preferiam as produções italianas até mesmo em relação às produções americanas. A violência estilizada, as trilhas sonoras marcantes e os roteiros realistas atraíam muito mais um público de gosto bem popular. E as filmagens eram realizadas geralmente no deserto da Espanha, uma região que parecia muito com os desertos americanos. Nos cinemas os filmes rendiam milhões de dólares ao redor do mundo. E com o sucesso, veio também a fartura das produções, que poderiam até mesmo de se dar ao luxo de contratar atores americanos para estrelar esses filmes. Não eram astros de primeira grandeza do cinema americano, mas atores secundários que tinham o tipo ideal para os filmes que eram feitos agora no velho continente.

Clint Eastwood foi um dos muitos atores americanos que aceitaram trabalhar na Itália. Os cachês eram muito bons e eles tinham a chance de serem os astros principais desses faroestes. A aposta foi certeira porque, curiosamente, Clint iria se tornar um astro de cinema não em Hollywood, mas sim em Roma, em produções feitas e dirigidas por cineastas italianos. Ele havia sido escolhido pessoalmente por Sergio Leone para estrelar o seu próximo filme. "Por um Punhado de Dólares" fez muito sucesso e foi muito debatido em revistas de cinema. O próprio público americano ficou extremamente surpreso com o que assistiu. Era um novo paradigma no gênero faroeste. Clint Eastwood com cara de mau e cigarro no canto da boca, não fazia pose de mocinho. Era simplesmente um sujeito durão vivendo no velho Oeste. E o público da época queria ver justamente isso nas telas de cinema.

Pablo Aluísio.

segunda-feira, 2 de janeiro de 2023

Perversa Paixão

Esse filme marcou a estreia na direção de Clint Eastwood. Na época que foi anunciado que ele iria ser diretor de seu próximo filme, muita gente não levou fé nele. Afinal, ele era vista apenas como um ator que interpretava os tipos durões em filmes de ação, policial ou faroeste. Quando o filme surgiu nos cinemas, a crítica se surpreendeu completamente. Clint não era apenas habilidoso para fazer um bom filme, mas também conseguia manter o suspense em um nível elevado. E esse filme, de certa forma, nada tinha a ver com os filmes de seu passado. Havia nuances de um drama adulto mostrando um radialista que dava a chance de encontrar uma fã que ouvia seu programa de rádio. Esse programa era feito nas madrugadas com muita música romântica. Então, o personagem de Clint pensava que ela queria apenas um encontro de fim de noite. Para seu azar, era uma mulher obcecada que não estava interessada muito em romantismo, mas sim em satisfazer sua veia obsessiva. 

Assisti pela primeira vez há muitos anos em um Supercine, da Rede Globo, ainda nos anos 80. Assim como a crítica que havia gostado muito do filme em seu lançamento original, eu também me surpreendi com o resultado. O personagem de Clint não tem nada de heróico, nem age como um durão valentão das ruas. Ele é apenas um cara comum que se vê em uma situação muito triste, lamentável e perigosa. De certa forma, lembrava até mesmo que iria acontecer com John Lennon quando foi morto por um fã insano dos Beatles. O roteiro relembra que o termo fã vem de fanatismo, por isso não se pode brincar muito com esse tipo de relação entre ídolo e fã. Tudo pode acabar mal.

Perversa Paixão (Play Misty for Me, Estados Unidos, 1971) Direção: Clint Eastwood / Roteiro: Dean Riesner / Elenco: Clint Eastwood, Jessica Walter, Donna Mills / Sinopse: Radialista de um programa noturno de músicas românticas, se envolve em uma situação extremamente perigosa ao se encontrar com uma fã insana de seu programa de rádio.

Pablo Aluísio. 

terça-feira, 11 de outubro de 2022

10 Curiosidades - Três Homens em Conflito

10 Curiosidades sobre "Três Homens em Conflito"
1. O diretor Sergio Leone incentivou o elenco a improvisar em cena. Um dos maiores exemplos acontece na cena em que o personagem do ator Eli Wallach entra em uma loja de armas. Ali não havia nada escrito no roteiro e ele precisou improvisar praticamente toda a cena, principalmente quando manuseia os revólveres. Essa improvisão porém nem sempre deu certo. Na cena do trem o ator passou por apuros após seu cavalo se assustar com o som de um tiro dado por um dos figurantes. Com as mãos amarradas Eli Wallach passou por um aperto e tanto para controlar o animal. Curiosamente como Wallach não falava italiano e nem Leone inglês ambos decidiram se comunicar falando francês entre si.

2. O cemitério confederado chamado de Sad Hill Cemetery pelo roteiro foi totalmente construído pela equipe do filme. Não houve autorização para que Leone filmasse em um cemitério real. Assim eles resolveram recriar todo o lugar, usando como modelo uma foto antiga de um cemitério real das tropas rebeldes durante a guerra civil.

3. Embora não fosse o mesmo personagem dos dois filmes anteriores de Sergio Leone, Clint Eastwood resolveu usar praticamente o mesmo figurino que havia usado nas outras produções. O pistoleiro sem nome assim usou o mesmo ponche que havia usado em "Por um Punhado de Dólares" e "Por uns Dólares a mais". No filme o personagem de Eli Wallach o chama de "blondie", mas esse é apenas um nome genérico que significa "loiro" ou "loirinho", não sendo o verdadeiro nome do pistoleiro.

4. O filme foi um dos mais caros da carreira de Sergio Leone, realizado ao custo de mais de um milhão de dólares (uma verdadeira fortuna para a época). Na versão americana houve quatro cortes para que o filme não ficasse tão longo, o que iria prejudicar sua carreira comercial. Apenas alguns anos depois o público americano finalmente pôde assistir a versão completa que foi lançada em alguns cinemas e no mercado de vídeo.

5. Sergio Leone resolveu que não haveria nenhum diálogo nos dez primeiros minutos de filme, algo que assustou os produtores. Leone queria captar o clima do velho oeste. O estúdio só aceitou a decisão do diretor quando o ator Clint Eastwood o apoiou. Ninguém queria ter problemas com o astro e maior chamariz de bilheteria do filme.

6. Leone queria realismo total. Para isso acabou tendo problemas com o ator Lee Van Cleef. Numa das cenas ele deveria bater em uma mulher, lhe aplicando vários murros e chutes. A cena incomodou Cleef que tentou convencer o diretor a mudar de ideia. Leone porém não aceitou as sugestões de Lee Van Cleef e ordenou que tudo fosse feito como estava no roteiro. Para Lee Van Cleef a cena acabou sendo uma das mais complicadas de realizar, conforme ele diria depois em uma entrevista.

7. Apenas Clint Eastwood, Lee Van Cleef e Eli Wallach falavam inglês de forma fluente. Todos os demais atores ou só falavam italiano ou espanhol. Para resolver esse problema o diretor Sergio Leone determinou que eles falassem suas línguas naturais durante as filmagens. Apenas depois todos seriam dublados em inglês para o lançamento internacional do filme.

8. O famoso tema do filme foi composto pelo genial maestro e compositor Ennio Morricone. Anos depois ele explicaria que sua intenção na melodia foi imitar o som de um chacal no meio do deserto. Quando foi contratado por Sergio Leone ele resolveu tentar várias ideias por duas semanas antes de mostrar a música para o diretor. Só depois de gravar tudo com sua orquestra é que finalmente mostrou a Leone o resultado final. Esse tema acabou se tornando um dos mais conhecidos do gênero western em todos os tempos, chegando a ser lançado como trilha sonora não apenas no mercado europeu, mas no americano também, se tornando campeão de vendas, algo raro nesse segmento na época.

9. Orson Welles aconselhou Sergio Leone a desistir de mostrar imagens da guerra civil americana, isso porque Welles achava que filmes sobre a guerra civil estavam fora de moda e não fariam mais sucesso de bilheteria. Leone, felizmente, não seguiu seus conselhos. O filme, como se sabe, foi um grande sucesso de bilheteria.

10. Charles Bronson foi convidado duas vezes para fazer parte do elenco. Na primeira vez Sergio Leone o chamou para viver o personagem Tuco e depois para interpretar o pistoleiro vilão que acabou sendo feito por Lee Van Cleef. Embora Bronson estivesse muito interessado em trabalhar no filme não houve tempo. Ele estava trabalhando em "Os Doze Condenados" e o filme acabou atrasando seu cronograma original, levando muito tempo para ficar pronto. Assim ele teve que desistir. Já Clint Eastwood aceitou participar em troca de um cachê de 250 mil dólares, mais uma Ferrari dada pelo estúdio italiano.

Pablo Aluísio.

sexta-feira, 2 de setembro de 2022

Clint Eastwood e o Western - Parte 2

Clint Eastwood não planejou sua carreira de ator como astro de filmes de western. As coisas simplesmente foram acontecendo. Em 1958 ele conseguiu um papel em um faroeste B chamado "Emboscada em Cimarron Pass" (Ambush at Cimarron Pass). Essa é uma produção bem difícil de se achar nos dias de hoje. É um filme pouco conhecido, obscuro, que poucos colecionadores possuem. Quase ninguém assistiu. Vale sobretudo por trazer Clint Eastwood ainda bem jovem, já no papel de cowboy, o tipo que iria consagrar sua carreira. Fora isso nada de muito relevante em termos cinematográficos.

Dirigido por Jodie Copelan, com Scott Brady e Margia Dean no elenco, o roteiro baseado em um livro escrito por Robert A. Reeds, contava uma história que se passava em 1867 no velho oeste americano. Clint interpretava um sujeito chamado Keith Williams. Ele era um homem que tentava sobreviver em um território distante, uma reserva Apache em guerra, onde soldados do exército americano, da União, literalmente caçavam ex-soldados confederados que tinham se tornado bandoleiros e assassinos. Anos depois Clint Eastwood não iria ser refinado ao se lembrar desse filme, dizendo que ele era "provavelmente o pior western que já existiu!". Sua opinião não incomodaria os produtores. Depois que Clint se tornou um astro de Hollywood, o estúdio resolveu relançar o filme nos cinemas, já durante a década de 60. Era impossível perder a chance de faturar alto com seu nome, afinal de contas era um faroeste com Clint Eastwood, que mesmo sendo ruim ainda poderia gerar um bom faturamento nas bilheterias.

Depois de atuar em um filme sobre a I Guerra Mundial chamado "Lutando Só Pela Glória", Clint conseguiu uma excelente oportunidade, mas não no cinema e sim na TV.  Ele foi contratado para atuar na série de grande sucesso de audiência "Maverick". O programa estava entre os mais assistidos do país e contava com o astro James Garner como o famoso jogador de cartas que se envolvia em inúmeras aventuras durante a corrida rumo ao oeste. Atores famosos como Roger Moore (que iria se tornar o futuro James Bond no cinema) também atuavam nessa série. A chance de atuar nesse programa de TV tinha sua importância, pois serviria como vitrine de seu trabalho. Clint Eastwood acabou atuando no episódio "Duel at Sundown" onde ele interpretava um vilão. Aqui Clint repetia o mesmo tipo de personagem durão, de poucas palavras, de procedência desconhecida e futuro incerto que iria se tornar imortal. O típico pistoleiro sem nome, que ele iria eternizar em seus futuros filmes.

É curioso que Clint nem estava muito longe de seu primeiro grande filme, "Por um Punhado de Dólares", mas ao mesmo tempo parecia meio desanimado com sua carreira de ator que parecia não decolar como ele planejava. Depois de atuar em mais uma série de TV, dessa vez sob o selo do mestre do suspense Alfred Hitchcock, no programa "Alfred Hitchcock Presents", ele resolveu dar um tempo para repensar sua vida. Durante 3 anos Clint pensou seriamente em abandonar o sonho de viver como ator de cinema. Ele planejou tentar outras carreiras, outras profissões. Começou a se interessar pelo ofício de dirigir ou escrever roteiros. Mal sabia ele que em breve iria conhecer um cineasta italiano que iria mudar sua vida para sempre.

Pablo Aluísio.

Quando os Abutres têm fome

Os Abutres Têm Fome foi um faroeste lançado em 1970, contando em seu elenco principal com os astros Clint Eastwood e Shirley MacLaine. Seus personagens passavam por todas as dificuldades no deserto mexicano. Ela interpretava uma freira que tentava levar a palavra de Cristo para uma região abandonada por Deus, repleta de bandidos, bandoleiros e mal feitores de todos os tipos. Ele interpretava um mercenário, um pistoleiro, que colocava seus dotes de exímio atirador para quem pagasse mais. 

A atriz  Shirley MacLaine não se deu bem durante as filmagens com o diretor Don Siegel, com quem teve várias brigas e atritos abertamente, na frente de toda a equipe técnica. Depois que as filmagens terminaram ela afirmou que nunca mais queria trabalhar novamente com esse cineasta. Ela sempre foi considerada uma profissional temperamental para se trabalhar e quando um diretor não fazia o que pedia, as coisas poderiam ficar bem tensas nos sets de filmagens.

Poucos percebem isso nos dias de hoje, mas Shirley MacLaine interpreta a protagonista do filme e não Clint Eastwood que surge como apenas coadjuvante dentro do roteiro. Esse foi o último filme da carreira de Clint onde ele atuou como mero coadjuvante, recebendo inclusive um cachê bem menor do que sua parceira no filme. Depois dessa produção Clint Eastwood recusou todos os papíes secundários que lhe foram oferecidos, só atuando a partir daqui como o principal nome do elenco dos filmes em que trabalhou.

Nessa época, Clint tinha alguns planos. Ele queria dirigir filmes, escrever seus próprios roteiros. Além disso, ele estava decidido a fundar sua própria companhia cinematográfica. Certa vez, conversando com um amigo espanhol, ele disse que iria fundar uma empresa para produzir seus próprios filmes. O tal sujeito não ficou muito animado e quis desestimular Clint, dizendo que isso seria um mal passo para ele. Sem perder a piada, Eastwood resolveu chamar sua nova empresa de Malpaso Produtions. Essa empresa, que existe até hoje, transformou o ator e diretor em uma pessoa milionária, uma vez que ele teve todo o controle de seus filmes futuros. De uma coisa é certa, ele não deu um mal passo na carreira, pelo contrário, deu o passo mais do que certo.

Pablo Aluísio.

sexta-feira, 12 de agosto de 2022

Clint Eastwood e o Western - Parte 1

Depois de John Wayne o grande nome do western como gênero cinematográfica inegavelmente foi Clint Eastwood. Isso é curioso por vários motivos. Clint não participou da chamada era de ouro do faroeste americano, que ocorreu por volta dos anos 40 e 50. Ele só veio a surgir um pouco depois, quando o western já era considerado pelos críticos como um estilo de cinema ultrapassado, superado. Contra todas essas visões pessimistas Clint começou a estrelar seus filmes de western, na Itália e nos Estados Unidos. Com isso acabou se tornando um dos maiores astros da sétima arte.

O ator nasceu na Califórnia, em San Francisco, no ano de 1930. Sim, ele até teria idade para despontar nos anos 50, quando já tinha vinte anos, porém a carreira para Clint demorou um pouco a decolar. Hoje em dia ele é aclamado não apenas como um ator de sucesso, mas também como um cineasta extremamente talentoso, indicado várias vezes ao Oscar. E tudo começou com atuações em pequenas produções, filmes modestos, que serviram para, em um primeiro momento, apresentar Clint ao público espectador de cinema e TV.

O primeiro filme de sua carreira foi um filme de terror trash, uma produção B chamada "A Revanche do Monstro". Um daqueles filmes nada promissores que passavam em cinemas poeirentos do interior dos Estados Unidos. O curioso sobre esse comecinho de sua carreira como ator é que Clint foi pegando os trabalhos que eram oferecidos, sem se importar muito com a qualidade dos filmes. Algo comum e esperado para quem não tinha experiência e precisava essencialmente arranjar algum trabalho como ator para sobreviver.

Assim, ainda em 1955, lá estava o jovem Clint Eastwood envolvido em outro filme trash com monstros chamado "Tarântula!" Como era de praxe em filmes desse estilo na época tudo acontecia quando um inseto (uma aranha) era exposta a radiação! Depois disso ela começava a crescer sem parar, se transformando em um monstro de 9 metros de altura! Uma bobagem divertida daqueles tempos mais inocentes. A direção era do cineasta Jack Arnold, que foi o primeiro a enxergar em Clint um cowboy das telas. Conta-se que ele encarou o jovem ator durante um intervalo e disparou: "Ei, você deveria estar em um filme de western! Tem jeito para isso!". Um conselho e uma dica que Clint jamais esqueceria.

Pablo Aluísio.

terça-feira, 19 de julho de 2022

Clint Eastwood e o Faroeste

Clint Eastwood se tornou o legítimo sucessor de John Wayne dentro do western dos Estados Unidos. Isso chega a ser óbvio pelo simples fato de que nenhum outro ator apresentou nas telas e nos filmes as credenciais para se colocar em uma posição de herdeiro de John Wayne. Ao longo de todas essas décadas apenas Clint ficou à altura do veterano ator nesse aspecto. Eastwood talvez seja o último representante dos grandes mitos do faroeste, pois surgiu em uma época em que o gênero já deixava de ser o foco de interesse principal dos grandes estúdios. De certa maneira Clint Eastwood foi de fato o último grande nome do western em uma época em que ele já estava saindo de cartaz.

Com a morte de John Wayne em 1979, Clint Eastwood passou a ser o principal nome dos filmes de faroeste nos cinemas, no grande circuito comercial. Não havia nenhum outro em seu patamar. Embora Clint não tenha se dedicado exclusivamente aos filmes de cowboy ao longo de sua carreira, o fato é que ele muito  ficou associado ao gênero, a ponto de que muitos, ainda hoje, mesmo após tantos filmes em outros gêneros cinematográficos, ainda ligam automaticamente o nome de Clint Eastwood aos seus personagens nos filmes de western. O cavaleiro solitário sem nome marcou época.

Natural de São Francisco, Clint iniciou sua carreira no cinema em pequenos filmes, alguns sem qualquer expressão. Acabou se tornando conhecido apenas quando entrou para o velho oeste, principalmente com a série de televisão de faroeste "Rawhide" que foi exibida enre os anos de 1959 a 1966. Em 1964 Clint Eastwood foi convidado pelo diretor italiano Sergio Leone para fazer "Por Um Punhado de Dólares", o primeiro de três filmes rodados na Espanha, com produção italiana, que lançaram a moda do chamado spaghetti-western, o faroeste feito e produzido no velho continente, na Europa. Não deixava de ser muito esquisito o fato de que o mais americano de todos os gêneros cinematográficos passasse a ser feito por estrangeiros. De qualquer forma o público adorou e os filmes se tornaram sucessos de bilheteria, inclusive dentro dos Estados Unidos.

A parceira de Clint com Sergio Leone renderia ainda mais dois grandes sucessos de bilheteria, "Por uns Dólares a Mais" e "Três Homens em Conflito". O ator, que nunca tivera uma chance de verdade dentro do indústria americana de cinema, acabou se tornando um astro ao estrelar produções italianas de faroeste. Uma ironia do destino! Depois do sucesso e reconhecimento ele finalmente voltou para os Estados Unidos, para rodar seus próprios filmes de faroeste em seu país natal. Clint fundou sua própria companhia cinematográfica (A Malpaso Productions), se tornando assim também produtor de seus filmes. Seu primeiro filme após esse retorno foi "A Marca da Forca" em 1968.

Embora o filme tenha sido até bem recebido, Clint Eastwood começou a acertar mesmo após o lançamento de "Os Abutres Têm Fome" que pode ser considerado o seu primeiro grande filme americano de faroeste. Ao lado da atriz Shirley MacLaine, ele finalmente acertou o foco de seus personagens nesse estilo. A partir dessa produção Clint iria aprimorar o seu "pistoleiro sem nome". Um tipo caladão, com cara de poucos amigos, mas com a mira certeira. Em "O Estranho que Nós Amamos" Clint surgia com um pouco de romantismo em uma trama passada durante a sangrenta guerra civil. O próximo faroeste de sua carreira "Joe Kidd" fez sucesso novamente, fazendo com que Clint Eastwood se tornasse o ator número 1 do gênero western, ultrapassando até mesmo o veterano John Wayne, que ainda estava vivo, mas que com vários problemas de saúde não conseguia mais manter a velha força do passado.   

Porém de todos os filmes que fez nesse período, o que mais foi definitivo para a carreira de Clint Eastwood no gênero western foi sem dúvida "O Estranho sem Nome" de 1973. Nesse excelente filme ele finalmente encontrou definitivamente os contornos do personagem símbolo de sua carreira no cinema. O pistoleiro que interpretou nesse filme sequer tinha nome, sendo conhecido apenas como "The Stranger". A direção foi do próprio Clint, que aqui tomou todas as rédeas da produção, tanto no aspecto de roteiro, produção, direção e atuação. Com controle absoluto, ele criou uma obra-prima do faroeste. Em 1979 John Wayne morreu, ficando apenas Clint Eastwood para manter a chama acessa do faroeste. Finalmente ele assumia o lugar que tanto merecia.

Ao longo de décadas, Clint ainda alcançaria vários sucessos de bilheteria no gênero western, se destacando produções como "Josey Wales, o Fora da Lei" e "O Cavaleiro Solitário". Ele faria até mesmo uma homenagem aos artistas que ganhavam a vida explorando os mitos do velho oeste em circos e apresentações circenses no bom e saudoso "Bronco Billy" em 1980. Esse filme, campeão de reprises no Brasil nos bons tempos da Sessão da Tarde, se tornaria um dos mais populares em nosso país. Com ótimo roteiro e uma história comovente, era uma declaração de amor ao faroeste e seus mitos do passado.

Clint Eastwood se despediu do western em um filme magnífico de 1992. "Os Imperdoáveis" foi o grande vencedor do Oscar naquele ano, vencendo nas principais categorias, inclusive as de melhor filme, melhor direção (prêmio dado ao próprio Clint) e melhor ator coadjuvante (dado para o excepcional Gene Hackman). Quem poderia imaginar que essa longa estrada, que havia começado na década de 1960 em um programa de TV, que depois iria para a Europa com o western spaghetti, iria finalmente chegar ao seu destino naquela noite do Oscar, com a consagração final e definitiva de Clint Eastwood? Pois é, o mundo realmente dá voltas.

Pablo Aluísio.

sábado, 25 de junho de 2022

Por uns Dólares a Mais

Título no Brasil: Por uns Dólares a Mais
Título Original: Per Qualche Dollaro in Più
Ano de Produção: 1965
País: Itália, Espanha, Alemanha
Estúdio: Constantin Film Produktion, Produzioni Europee Associati
Direção: Sergio Leone
Roteiro: Sergio Leone, Fulvio Morsella
Elenco: Clint Eastwood, Lee Van Cleef, Gian Maria Volonté

Sinopse:
Monco (Clint Eastwood) e Mortimer (Lee Van Cleef) são dois caçadores de recompensas no velho oeste que acabam indo atrás do mesmo criminoso, El Indio (Gian Maria Volonté), cuja oferta por sua captura vivo ou morto é avaliada em dez mil dólares! Pistoleiro, psicopata, estuprador e muito violento, El Indio planeja ao lado de sua quadrilha um grande roubo de banco na cidade de El Paso. Ele conseguiu ter acesso a informações privilegiadas sobre o cofre da instituição e pretende roubar uma pequena fortuna de sua sede, mas antes disso terá que se livrar daqueles que querem sua cabeça em troca do valioso prêmio a ser dado como recompensa a quem conseguir lhe tirar de circulação.

Comentários:
A frase que abre o filme, "Onde a vida não tem valor, a morte, ás vezes tem seu preço. É por isso que os caçadores de recompensas apareceram", resume bem a tônica dessa produção. Considerado um dos maiores clássicos do assim chamado western spaguetti, "Por uns Dólares a Mais" surge em um momento em que o cinema italiano começa a mostrar ao mundo que também podia realizar faroestes tão bons quanto os originais americanos. A fórmula de se importar atores e profissionais americanos para trabalharem na Itália havia se mostrado madura o suficiente para assustar até mesmo os grandes estúdios de Hollywood. Para se ter uma ideia a United Artists ficou tão impressionada com a qualidade desse western que não pensou duas vezes em adquirir os direitos da obra para lançar nos cinemas americanos, no circuito interno. Isso era um feito e tanto já que até aquele momento as distribuidoras americanas esnobavam os filmes italianos de faroeste. No elenco, Clint Eastwood e Lee Van Cleef, começavam a virar astros. Ambos amargaram anos e anos de papéis coadjuvantes sem muita importância dentro da indústria americana e tiveram que cruzar o Atlântico para serem finalmente reconhecidos em casa. Por fim, e o mais importante de tudo, o filme contava com a ótima direção do mestre Sergio Leone. Cineasta singular, Leone conseguia impor um estilo próprio, autoral, em fitas que em essência eram realizadas para serem acima de tudo comercialmente bem sucedidas. Dentro do circuito mais comercial ele conseguia, com raro brilhantismo, trazer inovações e classe a gêneros ditos como extremamente popularescos. Maior prova de sua genialidade não há. Assim, caso você nunca tenha assistido esse western classe A não perca mais seu tempo, pois "Per Qualche Dollaro in Più" é de fato simplesmente indispensável e essencial para qualquer cinéfilo que se preze. Um faroeste realmente imortal.

Pablo Aluísio.

sexta-feira, 18 de fevereiro de 2022

Os Imperdoáveis

Título no Brasil: Os Imperdoáveis
Título Original: Unforgiven
Ano de Produção: 1992
País: Estados Unidos
Estúdio: Paramount Pictures
Direção: Clint Eastwood
Roteiro: David Webb Peoples
Elenco: Clint Eastwood, Gene Hackman, Morgan Freeman, Richard Harris, Jaimz Woolvett, Saul Rubinek

Sinopse:
Velho pistoleiro aposentado é contratado para um último e decisivo serviço. Vencedor dos Oscars de Melhor Filme, Edição, Direção, Ator Coadjuvante (Gene Hackman), com indicações aos Oscars de Melhor Ator (Clint Eastwood), Direção de Arte, Fotografia, Som e Roteiro Original. Vencedor do Globo de Ouro nas categorias de Melhor Direção e Melhor Ator Coadjuvante (Gene Hackman).

Comentários:
A história de "Os Imperdoáveis" (The Unforgiven -1992) é ambientada em 1880 na belíssima região do Wyoming e discorre sobre a vida de William Munny (Clint Eastwood) um ex-pistoleiro que carrega em seu macabro currículo, assassinatos de mulheres e crianças. Depois de casar-se com o seu grande amor, Claudia, Munny resolve regenerar-se: abandona a vida pistoleiro, a bebida e decide levar uma vida correta cuidando de esposa e filhos. No entanto sua esposa depois de contrair uma grave doença, não resiste e morre. Sozinho, um misantropo Munny segue sua vida de amargura, cuidando de suas terras, de seus porcos e de seus dois filhos. Tempos depois, Munny é surpreendido em sua própria fazenda pela visita de um jovem e inexperiente pistoleiro, Schofield Kid (Jaimz Woolvett). Kid, conhecendo a fama e o passado de Munny, tenta convencê-lo a partir junto com ele atrás de uma recompensa de mil dólares em troca da eliminação de dois vaqueiros que retalharam, de forma covarde, o rosto da prostituta Delilah Fitzgerald (Anna Levine) na pequena cidade de Big Whiskey. No início Munny resiste à proposta, mas seus graves problemas financeiros fazem com que o velho e amargurado pistoleiro mude de idéia. Mais velho e destreinado, Munny, depois de um pequeno treino de tiro ao alvo, descobre que não é mais aquele pistoleiro de outrora.

Com uma trêmula e péssima pontaria além de uma enorme dificuldade para subir em seu próprio cavalo, o pistoleiro, inseguro, resolve dividir a recompensa por três e convoca seu velho companheiro para ajudá-lo nessa caçada humana: Ned Logan (Morgan Freeman). No princípio, Logan, enfrentando a reprovação de sua mulher, também pensa em rejeitar a proposta, mas, precisando do dinheiro alia-se à Munny e Kid e juntos partem para a pequena Big Whiskey em busca da tão sonhada recompensa que será paga pelas próprias prostitutas. Porém, a vida da dupla não será nada fácil, pois além de lutarem contra as suas próprias dificuldades, decorrente da idade e de uma vida de aposentados, os dois terão que aturar o jovem Schofield Kid, um guri falastrão e sem experiência alguma como pistoleiro. Além disso, a polpuda recompensa atrai outros candidatos a vingadores da prostituta como o janota e posudo Bob -"o inglês"- (Richard Harris). A partir daí a pequena Big Whiskey não será mais a mesma pois os candidatos à recompensa terão que enfrentar antes a ira do xerife Little Bill Daggett (Gene Hackman) um sujeito violento, covarde e impiedoso e que não admite ninguém armado em sua pequena cidade.

O longa - eleito como um dos cem maiores filmes de todos os tempos - não tem heróis ou bandidos e nem mesmo a bela mocinha a ser beijada e conquistada. Todos são um pouco de cada coisa e parecem viver no mesmo limbo, entre a desgraça e o mínimo de decência. A ambientação lúgubre e o colorido pálido das tomadas em planos mais fechados soma-se a uma atmosfera triste e desvanecida, aumentando assim a aura de melancolia e desesperança. O viés antipoético e antifilosófico do roteiro funciona para aumentar ainda mais a tensão avassaladora da vingança funesta e inevitável. Clint Eastwood é um gênio corrosivo e implacável; e foi justamente essa verve idiossincrática do diretor que construiu William Munny: um homem de alma ácida que vive os dias soterrado pelo seu próprio passado. Uma mortalha recortada e descarnada pelas dores da lembrança de dias gloriosos como pistoleiro que ficaram para trás e também pela perda trágica do amor de sua vida. O velho pistoleiro depois de alguns goles virará um monstro travestido de drama, dores, mistério e vingança e que inexoravelmente ficará frente a frente com o xerife Litlle Bill em um dos finais mais assombrosos e espetaculares da história dos filmes de faroeste. Depois de ser recusado por vários produtores durante vinte anos, o roteiro de "Os Imperdoáveis" (Unforgiven -1992), escrito magistralmente por David Webb Peoples, acabou caindo nas mãos do alquimista Clint Eastwood que resolveu bancar o filme, escolher o elenco e de quebra assinar a direção. Trata-se de um monumento à sétima arte. Vencedor de 4 Oscars (filme, diretor, edição e ator coadjuvante para Gene Hackman) o longa é uma obra-prima do cinema e um show de interpretações magistrais - não só de Eastwood, mas também dos excepcionais Gene Hackman, Morgan Freeman e do grande e saudoso irlandês, Richard Harris.

Telmo Vilela Jr.

quinta-feira, 4 de novembro de 2021

Sobre Meninos e Lobos

Clint Eastwood é um grande cineasta. Se você ainda tem alguma dúvida sobre o grande talento dele na direção, é bom conhecer esse excelente drama, "Mystic River" (que no Brasil recebeu o curioso título de "Sobre Meninos e Lobos"). O roteiro não é definitivamente o que aparenta ser. Na superfície temos uma investigação policial envolvendo o desaparecimento de uma jovem garota, filha de Jimmy Marcus (Sean Penn). Quando seu amigo de longa data, Sean Devine (Kevin Bacon), descobre o corpo da menina em um riacho, uma avalanche de sentimentos há muito enterrados voltam à tona, revelando traumas de infância e emoções reprimidas que explodem de forma incontrolável. Clint Eastwood, aqui trabalhando apenas como diretor, conseguiu um grande feito, extraindo maravilhosas atuações, em especial do trio central formado por Penn, Bacon e Robbins, esse último em uma das melhores atuações de toda a sua carreira. A fotografia assinada por Tom Stern também impressiona por explorar visualmente o sentimento interno de cada personagem torturado.

O romance escrito pelo autor Dennis Lehane, que deu origem ao roteiro do filme, é tão rico em nuances psicológicas que apenas um cineasta talentoso como Eastwood poderia transpor algo assim para a tela. No final das contas é uma história sobre traumas, culpas e redenção pessoal. Sem sombra de dúvida uma brilhante obra cinematográfica que vai fundo na alma humana. E coroando tudo, o filme recebeu vários prêmios. Foi vencedor do Oscar nas categorias de Melhor Ator (Sean Penn) e Melhor Ator Coadjuvante (Tim Robbins). Também indicado nas categorias de Melhor Filme, Roteiro Adaptado, Direção e Atriz Coadjuvante (Marcia Gay Harden). Vencedor do Globo de Ouro nas categorias de Melhor Ator (Sean Penn) e Melhor Ator Coadjuvante (Tim Robbins). Igualmente indicado ainda nas categorias de Melhor Filme - Drama, Direção e Roteiro Adaptado.

Sobre Meninos e Lobos (Mystic River, Estados Unidos, 2003) Direção: Clint Eastwood / Roteiro: Brian Helgeland, Dennis Lehane / Elenco: Sean Penn, Tim Robbins, Kevin Bacon, Laurence Fishburne, Marcia Gay Harden / Sinopse: Traumas de um passado que parecia distante retornam quando o corpo de uma menina é encontrado. Ela foi vítima de um crime brutal.

Pablo Aluísio.

sexta-feira, 22 de outubro de 2021

Os Imperdoáveis

Esse filme é até hoje considerado o último grande western da carreira do ator e diretor Clint Eastwood. Praticamente um adeus ao gênero que o consagrou no passado. O roteiro se baseia bastante na figura do lendário pistoleiro. O tempo passa, ele decide largar o mundo do crime e se estabelece ao lado de esposa e filhos em um rancho. Só que a vida para Bill Munny (Clint Eastwood) parece sempre ter uma surpresa desagradável na curva do destino. Sua esposa falece e ele fica em sérias dificuldades financeiras. Uma oportunidade surge no horizonte, uma recompensa para caçar dois cowboys que desfiguraram uma prostituta. No começo ele fica receoso ao voltar para a velha vida, mas as circunstâncias o colocam contra a parede.

E assim o velho pistoleiro, que inclusive já perdeu a mira pelos efeitos do tempo, parte em busca da recompensa. Não vai ser fácil. Ao lado dele também parte um jovem pistoleiro, sem experiência, que fala demais. Para amenizar um pouco a situação Munny recruta um velho parceiro, interpretado pelo excelente ator Morgan Freeman. E assim eles partem para uma jornada que não sabem seu desfecho. Esse retorno de Clint Eastwood ao velho oeste foi saudado e aclamado por público e crítica. A Academia também premiou o filme merecidamente. Para alguns é uma obra-prima do estilo. De fato é inegável que "Os Imperdoáveis" se encontra na galeria dos grandes filmes de faroeste já produzidos.

Os Imperdoáveis (Unforgiven, Estados Unidos, 1992) Direção: Clint Eastwood / Roteiro: David Webb Peoples / Elenco: Clint Eastwood, Gene Hackman, Morgan Freeman / Sinopse: Um velho pistoleiro, há muito fora de ação, precisa retornar ao velho estilo de vida para ir em busca de uma recompensa. Ele precisa caçar dois homens fugitivos, mas logo percebe que as coisas não serão tão facéis como era antigamente. Filme premiado no Oscar nas categorias de melhor filme, melhor ator coadjuvante (Gene Hackman), melhor direção (Clint Eastwood) e melhor edição (Joel Cox).

Pablo Aluísio.

segunda-feira, 27 de setembro de 2021

Cry Macho

Clint Eastwood não desiste e nem pensa em aposentadoria. Aos 91 anos de idade ele surge com esse novo filme nos cinemas. Minhas impressões são de que talvez seja a hora do ator e diretor pensar em descansar mesmo. O corpo humano tem seus limites. Clint surge na tela com os sinais do tempo. Ele está encurvado, com dificuldade de falar seus diálogos. O olhar algumas vezes fica perdido. Natural para uma pessoa de sua idade. Será que não seria hora mesmo de abandonar as telas? Eu penso que sim. Afinal Clint Eastwood já escreveu seu nome na história do cinema. Não precisa provar mais nada e há muitos anos. O roteiro o coloca até mesmo em situações de luta, algo que sinceramente não cabe mais a um idoso em idade avançada como ele.

O filme "Cry Macho" também não vai acrescentar muto em sua filmografia. É um filme meramente mediano. A história é simples. Ele é um velho cowboy que atende o pedido de seu ex-patrão (ele acabou de ser demitido!). O sujeito que que o personagem de Clint viaje até o México para trazer seu filho que vive com a mãe. Não vai ser fácil. A mãe do rapaz não quer que ele cruze a fronteira rumo aos Estados Unidos. Os federais ficam no encalço de Clint nas estradas da fronteira e ele mesmo precisa se livrar de vários problemas. Acaba reencontrando o amor com uma viúva, dona de um restaurante mexicano. Uma fita rápida, direta no ponto, mas sem grande carga dramática. Clint novamente esbanja carisma, mas o peso dos anos realmente se torna bem perceptível na tela.

Cry Macho: O Caminho para Redenção (Cry Macho, Estados Unidos, 2021) Direção: Clint Eastwood / Roteiro: Nick Schenk, N. Richard Nash / Elenco: Clint Eastwood, Dwight Yoakam, Daniel V. Graulau / Sinopse:  Mike Milo (Clint Eastwood) é um velho cowboy de rodeios, viúvo, que viaja até o México para trazer aos Estados Unidos o filho de seu ex-patrão que mora com a mãe. E os problemas logo surgem nas curvas das estradas da fronteira.

Pablo Aluísio.


quinta-feira, 15 de abril de 2021

Menina de Ouro

Um ano após Charlize Theron ganhar seu Oscar de melhor atriz por "Monster" chegou a vez de Hilary Swank levantar a estatueta por esse drama "Menina de Ouro". Certamente estamos aqui na presença de um dos mais controvertidos filmes de Clint Eastwood. A trama em si e seu desenrolar não foge muito do que estamos acostumados a ver em filmes sobre boxe. A diferença central surge na conclusão do filme que deixou muitas pessoas aborrecidas pelo clímax nada feliz. Certamente "Menina de Ouro" não é uma produção de fácil digestão. Há muito que Clint Eastwood abandonou as soluções fáceis e os epílogos rotineiros. Aqui ele ousou contar uma estória nada edificante, daquelas que os espectadores saem do cinema com a alma lavada. Na verdade o público levou mesmo foi um choque de realidade cruel no desfecho do enredo. A trama para quem ainda não conhece é a seguinte: Frankie Dunn (Clint Eastwood) é um treinador veterano que aceita treinar a jovem Maggie Fitzgerald (Hilary Swank). Ela está disposta a tudo para se tornar uma lutadora de boxe profissional. Frankie, após muita insistência por parte da atleta, resolve acreditar em seu potencial. Ao lado do treinamento também acaba surgindo uma bela amizade entre ambos. Há muito que o velho treinador não vê sua filha. Extremamente fechado no modo de ser, é complicado para ele manter um bom relacionamento com sua própria filha. Assim sua aproximação com Maggie acaba criando um reflexo do tipo de envolvimento que gostaria de ter com sua distante família.

O elenco de apoio é excelente. Morgan Freeman está em cena, com toda aquela dignidade que lhe é peculiar. Hilary Swank também está muito bem mas sua atuação seria mesmo digna de um Oscar? Há uma velha máxima dentro da Academia que diz que todo ator que interprete qualquer personagem com problemas físicos ou mentais tem grande chance na disputa pelo Oscar. Não entrarei em maiores detalhes sobre o destino da personagem de Hilary Swank para não estragar o final de quem ainda não assistiu "Menina de Ouro", mas fica claro que seu papel caiu como uma luva nessa definição. Hilary Swank defende seu trabalho com unhas e dentes mas devo confessar que naquele ano minha favorita era mesmo Catalina Sandino Moreno por "Maria Cheia de Graça", um filme socialmente muito relevante, tocando em um assunto importante. Infelizmente a premiação do Oscar tem muita política envolvida e dessa forma uma atriz latina jamais tiraria o Oscar de Hilary, ainda mais porque "Menina de Ouro" acabou vencendo todos os prêmios importantes da Academia naquele ano. Em suma, temos aqui um filme corajoso realmente, com temática instigante e final surpreendente. Provavelmente muita gente vá torcer o nariz para a ética (ou falta dela) na conclusão do filme mas mesmo assim essa obra é um ótimo representante daquele tipo de produção que nos mostra que nem todos os finais são felizes.

Menina de Ouro  (Million Dollar Baby, Estados Unidos, 2004) Direção: Clint Eastwood / Roteiro: Paul Haggis / Elenco: Clint Eastwood, Hilary Swank, Morgan Freeman, Jay Baruchel, Mike Colter, Lucia Rijker / Sinopse: Jovem garota é aceita por veterano treinador de boxe. Seu sonho é se tornar uma lutadora profissional do esporte. Seu caminho até lá porém não será feito de flores. Filme vencedor dos Oscars de Melhor Filme, Direção, Melhor Atriz (Hilary Swank) e Ator Coadjuvante (Morgan Freeman).

Pablo Aluísio. 

sexta-feira, 5 de março de 2021

Cidade Ardente

Título no Brasil: Cidade Ardente
Título Original: City Heat
Ano de Produção: 1984
País: Estados Unidos
Estúdio: Warner Bros
Direção: Richard Benjamin
Roteiro: Blake Edwards
Elenco: Clint Eastwood, Burt Reynolds, Jane Alexander, Madeline Kahn, Rip Torn, Irene Cara

Sinopse:
O investigador particular Mike Murphy (Burt Reynolds) e o tenente da polícia Speer (Clint Eastwood), antes parceiros, agora inimigos ferrenhos, relutantemente se unem para investigar um assassinato. Filme indicado ao Framboesa de Ouro na categoria de pior ator (Burt Reynolds).

Comentários:
A ideia inicial era boa, realmente boa. Reunir em um mesmo filme os astros Clint Eastwood e Burt Reynolds. Tinha tudo para dar certo. Só que o estúdio escolheu o roteiro errado e o diretor errado para conduzir essa união de grandes astros de filmes de ação. O roteirista era Blake Edwards, conhecido por seus filmes ao estilo comédia pastelão. O diretor era Richard Benjamin, mais conhecido por suas comédias familiares. O que esses dois tinham a ver com Clint Eastwood? Nada, absolutamente nada. Por isso o resultado ficou fraco demais. Nunca foi a praia de Clint tentar fazer comédia. Aliás essa coisa de colocar atores conhecidos por interpretar personagens durões em filmes de ação para fazer comédia nunca deu certo em Hollywood, em época nenhuma. Sempre vira um constrangimento, uma vergonha alheia. E por essa razão esse filme afundou feito o Titanic. Foi massacrado pela crítica da época e o público ignorou completamente. Fracasso comercial, foi a primeira e única tentativa de Clint Eastwood em seguir por esse caminho. Pelo visto ele percebeu que era uma tremenda furada.

Pablo Aluísio.

sábado, 16 de janeiro de 2021

Josey Wales - O Fora da Lei

"Josey Wales - O Fora da Lei" é um clássico faroeste da carreira do ator e diretor Clint Eastwood. Na história temos o protagonista, Josey Wales (Clint Eastwood), um pequeno rancheiro que vive da terra ao lado de sua esposa e seu filho. Sua vida passa por uma tragédia pessoal quando um grupo de soldados da União entra em sua propriedade e mata sua mulher e o garoto pelo simples fato da família ser sulista do Missouri. Não contentes, ainda colocam fogo na casa do rancho. Apunhalado, Josey não consegue salvar sua amada família. Depois de recuperado, entra nas fileiras das tropas confederadas para lutar contra o exército que massacrou seus familiares. Lá cria fama de bom atirador e soldado valente. Ao final da guerra civil fica sem rumo certo. mas não entrega suas armas ao inimigo, o que faz com que seja caçado e procurado por caçadores de recompensas e oficiais do exército americano pelos lugares mais inóspitos do oeste americano."The Outlaw Josey Wales" é um ótimo western, bem acima inclusive de outros faroestes clássicos estrelados por Clint Eastwood. Seu personagem Josey Wales é muito bem escrito. Um veterano confederado que entra na guerra para se vingar das tropas federais. Se negando a se render, ele leva em frente sua própria guerra pessoal contra os soldados da União. O personagem assim funciona como um símbolo do sentimento sulista e confederado dos Estados Unidos, que com muito orgulho jamais aceitou a derrota no conflito mais sangrento da história americana.

Clint Eastwood também capricha na caracterização de seu papel, fazendo um sujeito de poucas palavras. mas rápido no gatilho que tem um hábito horrível, mas muito divertido, de sair cuspindo fumo mascado em todo lugar! Até o pobre cachorrinho que o segue pelo deserto vira alvo! Ao seu lado brilha a honesta interpretação de Chief Dan George que interpreta um velho índio, cansado de guerra, desiludido pelas mentiras contadas pelo homem branco ao longo de todas aquelas décadas. Esse foi o sexto filme dirigido por Clint Eastwood, produzido por sua própria companhia de cinema, a Malpaso Company. Impossível negar que ele já mostra uma maturidade incrível na direção, não deixando o filme cair no marasmo ou no lugar comum em nenhum momento. O roteiro escrito pelo futuro cineasta Philip Kaufman de "Os Eleitos" e "A Insustentável Leveza do Ser", entre outros, certamente ajuda muito para o belo resultado final. É um texto muito bem escrito, com ótimo desenvolvimento, sem qualquer erro em seu enredo. Mesmo cenas mais fortes como a da tentativa de estupro coletivo promovida por um grupo de comancheros em cima da personagem de Sondra Locke (que se tornaria mulher de Clint na vida real) não soam fora do contexto ou desproporcionais. Tudo está em seu devido lugar. Em suma, um grande faroeste que não pode faltar na coleção de nenhum fã do gênero. Clint Eastwood mais uma vez está perfeito no velho oeste. Não deixe de assistir.

Josey Wales - O Fora da Lei
(The Outlaw Josey Wales, Estados Unidos,  1976) Estúdio: Warner Bros, Malpaso Company / Direção: Clint Eastwood / Roteiro: Philip Kaufman, baseado no livro de Forrest Carter / Elenco: Clint Eastwood, Sondra Locke, Chief Dan George, Bill McKinney / Sinopse: Josey Wales é um homem em busca de vingança. Após a morte de sua família, de forma covarde, ele parte para se vingar de todos os que cometeram esse crime. Todos os soldados da União devem pagar. Filme indicado ao Oscar na categoria de melhor música (Jerry Fielding).

Pablo Aluísio.

quarta-feira, 21 de outubro de 2020

Os Abutres Têm Fome

Inicialmente o projeto foi desenvolvido pela Universal para ser estrelado pelo casal Richard Burton e Elizabeth Taylor. O problema é que Liz pediu um cachê considerado absurdo pelo estúdio para fazer o filme. Como a Universal não estava disposta a pagar um milhão de dólares para que a atriz interpretasse a freirinha Sara, o filme tomou novos rumos. Saiu Richard Burton e entrou Clint Eastwood, que vinha de uma série de faroestes bem sucedidos ao lado de Sergio Leone. Elizabeth Taylor também foi substituída por Shirley MacLaine, que realmente adorou o roteiro. Penso que foi a escolha ideal, pois dificilmente o público veria Elizabeth Taylor como uma missionária, uma freira, perdida no meio do deserto mexicano. A atriz Shirley MacLaine então assumiu o papel da irmã Sara, que tentando levar a palavra de Cristo aos rincões mais distantes do México acabava ficando no meio do fogo cruzado da guerra que se desenvolvia naquele país. 

De um lado o povo mexicano lutando por sua liberdade, em um movimento rebelde conhecido como "Juanistas". Do outro lado as tropas de ocupação da França, tentando transformar o país em mais uma de suas colônias. Clint Eastwood interpretou um pistoleiro chamado Hogan, que era acima de tudo um mercenário, disposto a vender sua "força de trabalho" a quem pagasse mais. Após fazer um trato com um coronel Juarista, ele entrava no conflito ao lado dos rebeldes. O grande objetivo seria tomar uma importante guarnição francesa na região, usando para isso uma passagem secreta entre um monastério católico e o forte francês. Apesar de toda a trama passada nesse contexto histórico da guerra de libertação do México, o fato é que as melhores cenas de todo o filme se desenvolvem na relação entre a doce freira católica Sara (MacLaine) e o durão e rústico Hogan (Eastwood). Um choque de personalidades diferentes que rende ótimos momentos no filme. Eles se encontram por acaso no meio do deserto e o pistoleiro, mesmo sendo um cara de poucos amigos, resolve ajudar a freirinha. Há ótimos diálogos entre eles, o que ajuda a manter o filme interessante. Como não poderia deixar de ser, há toda uma tensão sexual entre os dois embora isso seja, por causa das convicções religiosas dela, algo impossível de acontecer.

Clint Eastwood e Shirley MacLaine estão excepcionalmente bem no filme, mostrando muito entrosamento e amizade em cena. Anos depois a atriz revelaria que ficara encantada com o México (onde o filme foi rodado), pois apesar da população ser extremamente pobre, era também um povo de muita fé e esperança em um país melhor. O diretor Don Siegel, em mais uma parceria com o ator Clint Eastwood, também se revela uma ótima escolha pois conseguiu equilibrar bem um roteiro bem escrito, baseado na amizade conflituosa entre a freira e o bandoleiro, com boas cenas de ação no final do filme. Fica então mais essa dica, "Os Abutres Têm Fome", mais um bom momento de Clint Eastwood no western.

Os Abutres Têm Fome (Two Mules for Sister Sara, Estados Unidos, 1970) Direção: Don Siegel / Roteiro: Budd Boetticher, Albert Maltz / Elenco: Shirley MacLaine, Clint Eastwood, Manuel Fábregas / Sinopse: Pistoleiro e mercenário (Eastwood) encontra com uma freirinha católica (MacLaine) perdida no meio do deserto e resolve lhe ajudar, bem no meio da guerra de libertação do México da invasão colonial francesa. Filme indicado ao Laurel Awards nas categorias de melhor atriz (Shirley MacLaine) e melhor ator (Clint Eastwood).

Pablo Aluísio.