sexta-feira, 29 de abril de 2005

Elvis Presley - He Touched Me / Boson of Abraham

Outro single que promovia um álbum lançado em 1972. A diferença é que o disco "He Touched Me" apresentava repertório completamente religioso. Sim, era um álbum gospel. Que seguia a tradição dos discos anteriores nesse gênero, ganhando resenhas e críticas positivas por parte dos especialistas. Eu particularmente prefiro os dois primeiros discos de Elvis nesse estilo. "He Touched Me" nunca considerei tão bem trabalhado e gravado como os originais. A própria faixa título do disco me soa pesada demais, com excesso de arranjos vocais. A introdução, por exemplo, parece algo mais sombrio. Não sei a razão, mas definitivamente sempre tive essa impressão desde a primeira vez que ouvi essa música. Soava pesadão mesmo, mas no mal sentido da palavra.

O lado B do single apresentava a boa "Boson of Abraham". Bem mais leve, mais fluída, com ótimo ritmo, do tipo que você provavelmente baterá os pés acompanhando ao ouvi-la. Poderia ser até mesmo comparada com um rockabilly dos anos 50, veja que coisa surreal. Pois, depois ainda surgem pessoas que não conseguem entender porque o gospel foi um dos ingredientes fundamentais no surgimento do rock. Ouça essa música que provavelmente você finalmente entenderá a razão. O resto é bobagem.

Pablo Aluísio.

quinta-feira, 28 de abril de 2005

Elvis Presley - Until It's time For You To Go / We can Make The Morning

Esse foi o primeiro single de 1972. Trazia duas músicas do álbum "Elvis Now". Esse disco fez bastante sucesso no Brasil por causa da faixa "Sylvia" que inclusive ganhou um compacto especialmente produzido para o Brasil. Foi caso único no mundo. O single americano original por sua vez vinha com essas duas canções. Gosto das duas. O lado A trazia a doce melancolia de "Until It's time For You To Go". uma música romântica adulta, explorando o relacionamento de um casal que vê seu sonho de amor eterno se desfazer no ar. Elvis vinha procurando bastante material sobre relacionamento destruídos, quase como um espelho de sua própria vida pessoal. O casamento com Priscilla, não podemos nos esquecer, acabou nesse mesmo ano, 1972. Não é por outra razão que ele se identificava tanto com esse tipo de letra.

O lado B do compacto apresentava "We can Make The Morning". Essa era uma original de Elvis, sendo lançado pela primeira vez no mercado. Não fez sucesso, mas como eu gosto de dizer, tinha qualidades para ser lembrada nos anos que viriam. Essa faixa tem um arranjo vocal poderoso, além da presença marcantes de baixo e guitarra. É um country com pitadas de rock. Em alguns aspectos poderia dizer que lembrava até mesmo algumas gravações do Eagles. Pena que não caiu nas graças do grande público na época, sendo praticamente esquecida após algumas semanas de seu lançamento original.

Pablo Aluísio.

quarta-feira, 27 de abril de 2005

Elvis Presley - Merry Christmas Baby / O Come, All Faithful

Esse foi o último single de Elvis no ano de 1971. Foi lançado para aproveitar as festas de Natal. Como se sabe um dos álbuns mais vendidos da carreira de Elvis foi o "Elvis Christmas Album". Em 71 a RCA Victor quis repetir a dose, procurando pelo mesmo sucesso do LP de 57. Não aconteceu. O álbum "Elvis Sings The Wonderfull World of Christmas" vendeu pouco e foi logo esquecido. Era um disco meio fraco, devo reconhecer. Os tempos eram bem outros. A inocência dos feriados de Natal dos anos 50 não existia mais. A Guerra do Vietnã destruiu a inocência da América.

Curiosamente uma faixa se sobressaiu nesse disco, ganhando elogios da crítica. Estou me referindo ao blues "Merry Christmas Baby", excelente momento de Elvis nessa sessão de gravação que foi praticamente toda desperdiçada. Aqui Elvis, em uma verdadeira Jam Session, esbanjou carisma e talento vocal. Dizem que era a única música natalina de Elvis que tinha algum valor por essa época. Eu penso um pouco diferente, há outras faixas de que aprecio, como a própria "O Come, All Faithful" que tem seu valor, com bela harmonia e vocalização. mas enfim, realmente era um óasis de qualidade em um disco de gosto bem duvidoso. Se tiver que ter apenas uma música desse disco, corra atrás de "Merry Christmas Baby" que você certamente não se arrependerá.

Pablo Aluísio.

terça-feira, 26 de abril de 2005

Elvis Presley - It's Only Love / The Sound Of Your Cry

Outro single de Elvis que passou em brancas nuvens. Pouco vendeu, pouco chamou a atenção. Vendeu poucas cópias em seu lançamento original, por isso um exemplar da época é algo raro de encontrar. O material era pura country music, demonstrando que Elvis havia mesmo deixado o bravo rock de lado. O pop também ficou lá atrás, nas trilhas sonoras dos filmes de Hollywood, algo que Elvis sinceramente não queria nem lembrar para falar a verdade. Assim, em seus anos finais, o cantor se jogou mesmo no country. Questão de raízes musicais. Afinal Elvis, tendo crescido em Memphis, obviamente tinha grande afinidade com esse estilo musical. E não podemos nos esquecer também que seus discos eram gravados nessa época em Nashville, a capital mundial do country. Não havia mesmo como escapar desse tipo de influência.

E as faixas desse compacto, são boas? Sinceramente nenhuma delas é marcante. Não tinha nada de muito especial. Eram bem gravadas, executadas, por Elvis e banda (A TCB Band), mas nada muito além disso. Penso que eram canções esquecíveis mesmo. A RCA Victor, meio sem pensar direito, não sabia em acoplar o pequeno disquinho com algum álbum. Pensou-se no Elvis Country, mas depois desistiram. Acabou que o single trazia em sua capa uma propaganha da coletânea "The Other Sides". Nada a ver mesmo, muito erro. A foto da capa também nunca me agradou. Parece mais uma foto amadora, tirada no susto. A RCA deveria ter caprichado melhor nesse single.

Pablo Aluísio.

Elvis Presley - )I'm Leavin / Heart of Rome

Esse single não fez sucesso comercial. Nessa fase da carreira de Elvis os singles jã não vendiam muito bem, alguns eram até ignorados pelo público. Isso não significava, em hipótese alguma, que era material de qualidade ruim. Muito pelo contrário. O Lado A do compacto trazia uma linda canção chamada ")I'm Leavin". O vocal de Elvis nessa faixa era pura melancolia nervosa. A letra, como era de se esperar, falava de um amor rompido, frases não ditas, decepção amorosa cortante. O que mais me entristece quando analiso singles como esse é o fato dessas músicas não terem êxito comercial. Tenho certeza que se o público tivesse ao menos conhecido essa bela faixa as coisas teriam sido bem diferentes. Infelizmente não foi o que aconteceu.

O Lado B já era mais modesto em termos de qualidade musical. Falando a verdade eu não aprecio muito "Heart of Rome". Há um exagero aqui, tanto da letra, extremamente voltada a um amor mais piegas, como também de Elvis que parecia ter se empolgado um pouquinho demais na hora de gravar a canção. Elvis parecia empolgado um pouquinho além da conta. Ele soava melhor quando surgia mais contido, com respiração sóbria, bom controle dos vocais. Aqui a emoção falou um pouco mais alto. Coisas de Elvis Presley.

Pablo Aluísio.

segunda-feira, 25 de abril de 2005

Elvis Presley - Rags to Riches / Where did They Go, Lord

Esse single lançado em 1971 é uma raridade nos dias de hoje. Isso porque foi um compacto que vendeu relativamente pouco (alcançando apenas a trigésima terceira posição entre os mais vendidos) o que fez com que poucos colecionadores o tivessem em seu seu acervo. Quanto menos vendas, mais raro se tornavam os singles de Elvis com o passar dos anos. Efeito colateral simples de entender. Em termos de discografia sempre achei um erro a escolha dessas canções para compor um single pela RCA Victor. Certamente eram boas músicas e isso em uma fase bem country da carreira de Elvis até parecia bem adequado. Porém não tinham vocação para se tornarem hits de rádio. Nem no circuito do sul, ali entre Nashville, Memphis, desembocando no Delta do Mississippi. Tanto isso é verdade que o single acabou mesmo não fazendo sucesso nas lojas. Um aspecto curioso é que muitos anos depois Elvis se lembraria desse single ao cantar "Rags to Riches" ao vivo em um concerto realizado em Pitsburgh em dezembro de 1976. É o único registro ao vivo da música, o que a define como uma gravação realmente raríssima da carreira de Mr. Presley. Um momento de lembranças, cinco anos após seu lançamento original.

O lado B do single trazia o gospel "Where did They Go, Lord". Não era incomum esse tipo de dobradinha, trazendo no Lado A um country e no B uma música religiosa, de preferência inédita nos discos do cantor. Há quem considere a canção uma balada romântica, porém ao meu ver se trata de uma confissão, pois em primeira pessoa o autor conversa com Deus. Claro, é uma história contada de fim de relacionamento, tristeza, abandono e decepção. Porém temos que levar em conta que o tema não deixa de ser religioso pois é um homem amargurado, fazendo perguntas a Deus sobre o fim do amor, o fim da paixão, a melancolia do fim de um relacionamento que ele considerava eterno. Seria Elvis novamente se lamentando sobre Priscilla? Bom, quando a música foi gravada o casamento de Elvis ainda não havia chegado ao fim. Estava em crise, mas ainda não havia um ponto final. Parece que Elvis estava pressentindo algo ruim chegar, estava consciente que seu matrimônio estava com os dias contados. Que o amor teria terminado, para sua surpresa. Boa música, pouco conhecida, vale um resgate, principalmente para quem deseja conhecer a fundo a discografia oficial do canto

Pablo Aluísio.

domingo, 24 de abril de 2005

Elvis Presley - That's The Way It Is

Essa é a trilha sonora do filme "Elvis é Assim" da MGM. Na ocasião o estúdio ainda tinha Elvis sob contrato e com sua volta aos palcos decidiu-se filmar o cantor ao vivo em Las Vegas. Seria mais barato e bem mais interessante já que seus filmes convencionais vinham cambaleando já há um bom tempo. Hoje o fã de Elvis agradece de joelhos a decisão da Metro pois nos legou ótimas imagens dos concertos do grande astro nessa cidade em 1970. Se não fosse pelo documentário teríamos ficado privados de tantos momentos especiais. Esse disco tem algumas curiosidades. Por se tratar de um documentário de um show ao vivo era de se esperar que o material do álbum fosse retirado diretamente das apresentações mas isso não ocorre. É basicamente um disco de estúdio,gravado por Elvis em Nashville. Ao vivo mesmo apenas poucas faixas sendo as mais marcantes "I Just Cant't Help Believin'" e "You've Lost That Lovin' Feelin'". O Elvis que surge nas músicas desse trabalho passa longe do roqueiro rebelde da década de 1950. É um novo artista, com novo repertório, de músicas emocionais, baladas românticas e instrumental caprichado. O roqueiro de brilhantina cantando sobre chicletes, cachorros quentes, sapatos azuis e ursinhos de pelúcia já não fazia sentido para um homem de sua idade, com novos interesses e sentimentos.

Também esqueça a trágica imagem de seus últimos dias quando o excesso de drogas abalou o ser humano de forma cruel. Aqui Elvis ainda mantinha uma boa forma física, com apresentações viris e empolgantes que em nada ficavam a dever ao rebolativo roqueiro da década de 50. Algumas pessoas acham que ao longo dos anos Elvis ficou muito depressivo, cantando sobre o amor perdido. Pois é justamente o tema central dessa seleção de músicas. A única canção que destoa um pouco desse estilo é a agitada "Patch It Up" que injeta uma boa dose de energia no repertório contemplativo das demais gravações. Particularmente gosto muito da simplicidade emotiva de "Mary In The Morning" e do refrão kármico de "I've Lost You". Apesar da boa seleção a música que define todo o trabalho é realmente a monumental  "Bridge Over Troubled Water". A versão original era de Paul Simon mas ele, apesar de bom cantor, tinha uma voz pouco expressiva e de impacto. No vozeirão de Elvis a canção ganha adornos de suntuosidade extrema, beirando o operístico. Um registro indicado para quem ainda acredita que Elvis se resumia a sua Pelvis rebolante escandalizadora..Então fica a dica para quem quiser conhecer um Elvis Presley mais romântico, cantando o amor sem receios. Um bom álbum de um artista único.

Elvis Presley - That's The Way It Is (1970)
I Just Cant't Help Believin'
Twenty Days And Twenty Nights
How The Web Was Woven
Patch It Up
Mary In The Morning
You Don't Have To Say You Love Me
You've Lost That Lovin' Feelin'
I've Lost You
Just Pretend
Stranger In The Crowd
The Next Step Is Love
Bridge Over Troubled Water

Pablo Aluísio.

Elvis Presley - His Hand In Mine / How Great Thou Art

Em 1969 a RCA Victor soltou no mercado americano esse novo single de Elvis composto apenas por duas reprises. Na realidade os executivos da gravadora apenas escolheram as duas canções títulos dos dois únicos álbuns gospel de Elvis lançados até aquele momento e inventaram esse compacto sem muita razão de ser. Para faturar em cima do momento bom na carreira do cantor ainda aproveitaram duas boas fotos de Elvis no NBC TV Special na capa e contracapa (essa com Elvis cantando "If I Can Dream" no mesmo programa de TV). Parecia até  ser uma boa ideia para fazer sucesso nas paradas de fim de ano. Não colou! Os fãs de Elvis estavam bem ávidos em comprar material de qualidade de Mr. Presley depois de tantas canções ruins de filmes por anos, mas claro que isso não significava que iriam jogar seu dinheiro fora com material velho, já fartamente comercializado em um passado nem tão remoto assim.

O próprio Elvis ficou surpreso com o single. Embora ele fosse apaixonado por música religiosa, ele não queria que, em particular essas duas canções de que tanto amava, fossem utilizadas como meros caça-niqueis. Além disso Elvis tinha um profundo respeito por seus fãs, a ponto de confessar certa vez que ficava muito mal, fisicamente mal, quando algum lançamento com seu nome chegava ao mercado sem a devida qualidade artística. Infelizmente em seus contratos com a RCA não havia nenhuma cláusula dando a ele o controle sobre os lançamentos de sua gravadora. Tudo chegava ao mercado sem o consentimento do cantor. Não raras vezes Elvis ficava realmente aborrecido com certos compactos que eram jogados no mercado americano sem qualquer tipo de critério. Nos momentos de maior raiva chegava ao ponto até mesmo de ameaçar abandonar a gravadora, embora nunca tivesse levado essa ameaça em frente. De uma maneira ou outra, sendo até bem complacente, tenho que admitir que pelo menos em termos de direção de arte esse single era bem bonito. O contraste de sua foto em preto e branco com esse azul intenso é inegavelmente de uma beleza ímpar. Tão boa é a capa desse compacto que ficaria muito bem até mesmo em um álbum da época. Para falar a verdade a capa é bem mais bela do que a disco "Elvis NBC TV Special" que trazia uma foto esquisita e bem pouco estética do programa de TV na capa. Coisas de um tempo em que isso nem era tão relevante como pensamos ser hoje em dia.

Pablo Aluísio.

sábado, 23 de abril de 2005

Elvis Presley - If I Can Dream / Edge of Reality

Esse Single celebrou a volta de Elvis ao sucesso e principalmente ao retorno a um material mais consistente, de qualidade. Por anos o cantor se dedicou a trilhas sonoras de filmes, algumas delas francamente infantis e juvenis demais. O problema é que Elvis não era mais um artista adolescente, mas um homem com mais de 30 anos de idade. Seus fãs também tinham envelhecido e não estavam mais dispostos a consumir bobagens. Por volta de 1968 Elvis finalmente decidiu voltar aos palcos, gravar material relevante e deixar a tralha de Hollywood para trás. Ao lado de "Memories" essa canção foi a única inédita apresentada no NBC TV Special.

O curioso é que ela foi escolhida e gravada por Elvis mesmo a contragosto do Coronel Parker. O empresário queria que Elvis encerrasse o programa cantando alguma canção natalina. O produtor do especial Steve Binder achou essa realmente uma péssima ideia e acabou convencendo Elvis a gravar uma música mais de acordo com a realidade que o país atravessava. Afinal os Estados Unidos estavam atolados na Guerra do Vietnã, a questão dos direitos civis das populações negras fazia crescer uma constante tensão dentro da sociedade, inclusive eclodindo em movimentos violentos e o clima geral era de desalento entre os americanos. Nada poderia soar mais atual e antenado com os acontecimentos do que a letra dessa música. Para gravá-la Elvis entendeu que precisava de um clima adequado, bem especial. Para isso pediu que as luzes do estúdio fossem apagadas. Ele se sentou no chão - algo que nunca havia feito antes na carreira - e lá mesmo gravou o take perfeito, final, em meio a muita inspiração interior.

No lado B a RCA Victor resolveu enfiar a fraca "Edge of Reality". A canção era da trilha sonora do filme "Live a Little, Love a Little", ou seja, uma típica representante de um aspecto da carreira de Elvis que ele queria deixar para trás definitivamente. Alguns autores inclusive afirmam que Elvis Presley ficou extremamente aborrecido quando soube que ela seria encaixada como o outro lado de sua preciosa "If I Can Dream". Quando tentou reverter já era tarde demais, o single já estava confeccionado e rodando nas máquinas da empresa em Nova Iorque. Olhando para trás temos que concordar com Elvis, esse foi um Lado B realmente fraco e sem propósito. O ideal seria a dobradinha de inéditas do NBC com "If I Can Dream" no Lado A e "Memories" no Lado B. Além de ser perfeita para o consumidor, ainda poderia fazer frente aos singles dos Beatles que dominavam as paradas na época. Ao contrário da RCA o quarteto de Liverpool colocava grandes músicas em ambos os lados de seus singles, o que fazia com que os disquinhos explodissem em vendas no mercado. Quer um exemplo disso? Um mês antes de "If I Can Dream" chegar nas lojas os Beatles lançavam "Hey Jude / Revolution" no mercado. Dois clássicos absolutos, canções fortes e significativas, que entravam destruindo nas paradas. Mesmo Elvis renascendo das cinzas naquele momento era muito complicado para ele bater de frente com um lançamento desse porte! De qualquer maneira os fãs do velho Elvis  estavam contentes por ter novamente material de qualidade para comprar. O single de Presley fez sucesso e ganhou inúmeras resenhas elogiosas da crítica especializada. Era um alívio depois de tantos fracassos comerciais e matérias que destruíam seus mais recentes discos e singles.

Pablo Aluísio.

Elvis Presley - Memories / Charro

O primeiro single de 1969 na realidade trazia canções do ano anterior. O Lado A vinha com "Memories" do NBC TV Special. É curioso que apesar da importância histórica desse programa de TV, que levantou a carreira de Elvis, havia poucas canções inéditas em seu repertório. Na realidade apenas "If I Can Dream" e "Memories" eram novidade para os ouvidos dos fãs de Elvis. Todo o resto era um grande revival de sua época de ouro, muitas dos anos 1950, quando Elvis realmente revolucionou o mundo da música. Pois bem, segundo a RCA Victor o single vinha atendendo a pedidos dos fãs do cantor. Assim a gravadora resolveu apostar na faixa, mesmo que na época errada - na realidade o single com a música deveria ter sido lançada na mesma semana de exibição do especial na NBC e não  meses depois como acabou acontecendo. O fato é que quando "Memories / Charro" chegou às lojas americanas, já era fevereiro de 1969, o natal já havia passado, as lojas estavam vazias e o impacto da exibição do programa também já tinha sido exaurido. Um típico caso de erro no timing certo no lançamento do compacto. Deixando esses aspectos comerciais de lado é interessante louvar a boa gravação e a bela melodia da canção. Muitos disseram que sua letra era de certa maneira constrangedoramente nostálgica, tentando pegar um gancho com o passado de Elvis para sensibilizar seus antigos fãs dos anos 1950 que o havia abandonado. Bobagem, essa é uma visão meramente simplista da composição em si.

Já o Lado B vinha para promover o faroeste "Charro". Estrelado por um Elvis barbudo e com visual diferente a película era uma tentativa de trazer novos ares para a estagnada e saturada filmografia de Presley em Hollywood. Infelizmente o filme não trouxe nada de muito marcante para Elvis nesse sentido. Era apenas uma cópia da cópia. Explico. O chamado Western Spaguetti nada mais era do que uma cópia italiana dos filmes americanos de faroeste. "Charro" é uma produção estranha porque era um filme americano que tentava imitar os filmes italianos, ou seja, tentava copiar uma cópia! Bem irracional não é mesmo? O filme em si deixa muito a desejar, não tem boa produção - mais parecendo um telefilme da época - e roteiro mal escrito. Elvis até se esforça, mas nunca deixamos de lado a sensação de que estamos na realidade vendo Elvis vestido de Charro. Em nenhum momento ele consegue desaparecer dentro de seu personagem. Na época o estúdio vendeu o filme como uma nova forma de apresentar Elvis nos cinemas, mas a verdade é que tudo se tornou apenas mais um fracasso de bilheteria em sua carreira. Se o filme deixa muito a desejar o mesmo já não se pode falar da música. Na primeira vez que a ouvi não gostei muito, sinceramente falando. Hoje em dia já tenho uma impressão melhor. Certamente passa longe de ser um tema com a qualidade de um Ennio Morricone, porém passa longe de ser um desastre ou uma vergonha alheia. Tem lá seus méritos. De uma forma ou outra, seja porque foi lançado em uma época errada, seja porque não teve uma boa divulgação, o fato é que o single em si não foi um campeão de vendas, alcançando apenas a trigésima quinta posição entre os mais vendidos. Bem abaixo do single anterior com "If I Can Dream" que fez bonito nas paradas. O lançamento temporão e fora de época pelo menos serviu para a RCA Victor ficar mais atenta na questão temporal, no tempo certo de colocar certas músicas de Elvis no mercado.

Pablo Aluísio. 

sexta-feira, 22 de abril de 2005

Elvis Presley - Guitar Man / Hi-Heel Sneakers

Mais um exemplo do salto qualificativo que estava acontecendo gradualmente na discografia de Elvis Presley. É curioso perceber que enquanto os álbuns afundavam, tanto do ponto de vista artístico como comercial, os singles ousavam e ganhavam muito em termos de qualidade em si. Isso de certa forma demonstrava duas coisas: Primeiro, o medo que a RCA Victor tinha em lançar canções convencionais e fora dos padrões das trilhas sonoras. Segundo, que as próprias trilhas sonoras já não estavam com nada, uma fórmula que já deixava claro que não tinha mais futuro para Elvis. "Guitar Man" foi gravado nas ótimas sessões de setembro de 1967 no RCA Studio B, em Nashville, Tennessee. O produtor foi Felton Jarvis, acompanhado do engenheiro de som Jim Malloy. Foi justamente a canção que abriu os trabalhos naquela noite. Elvis tinha plena conviccão que as canções dos filmes deixavam muito a desejar e por essa razão estava com vontade de gravar material mais relevante. Acertou em cheio! Um dos destaques da gravação é seu arranjo, bem mais trabalhado e caprichado do que o que vinha sendo gravado para filmes em geral. Com uma levada country, porém com pitadas também do bom e velho rock, a canção certamente é uma das melhores gravadas por Elvis nesse período de sua carreira. Foram necessárias doze tentativas para enfim se chegar na versão master. De uma forma ou outra ela teria grande destaque posteriormente, durante o NBC TV Special, virando até mesmo tema principal do programa. Curiosamente nos anos 80 a música passaria por uma remodelagem sonora completa, com o aproveitamento apenas do vocal de Elvis, sendo substituída toda a parte de acompanhamento. Ficou diferente, menos country e de certa forma bem interessante, embora obviamente prefira a versão original.

"Hi-Heel Sneakers", por sua vez, é um blues visceral, também muito bem arranjado, contando com ótimas partes instrumentais. Foi gravada na mesma sessão de "Guitar Man", porém no dia seguinte, já na segunda-feira. A versão original foi gravada por Tommy Tucker no selo Checker em 1964. Acabou sendo seu grande sucesso indo parar no topo da parada Cash Box. Na Billboard também se destacou chegando na ótima décima primeira posição da Billboard Hot 100. É certamente uma das músicas mais regravadas da história, ganhando versões nas vozes dos Beatles, Rolling Stones, Sting, Led Zeppelin, Carl Perkins, Jerry Lee Lewis, Everly Brothers, Chuck Berry, Stevie Wonder e tantos outros. Estima-se que tenha mil versões gravadas, dentro e fora dos Estados Unidos. A de Elvis pode ser considerada, sem exageros, como uma das melhores. Voltando à sua discografia muitos anos depois, fazendo parte inclusive de uma excelente coletânea só de blues lançada nos anos 80 chamada "Reconsider Baby", um dos últimos LPs lançados de Elvis no Brasil já que o vinil estava em pleno processo de abandono por parte da indústria fonográfica. Por ter chegado nas lojas nesse momento histórico de transição foi também um dos primeiros CDs de Elvis a chegar no mercado brasileiro. Pela primeira vez o consumidor tinha o direito de escolher entre o vinil e o CD nas prateleiras dos grande magazines. Para quem tinha acompanhado a escassez de títulos em catálogo do cantor já era um avanço e tanto. Para quem estiver realmente interessado na música eu recomendo ainda os seguintes títulos: "Silver Box" e "Rare Elvis". Infelizmente poucos takes dessa música chegaram até nós. Ao que tudo indica Felton Jarvis acabou inutilizando as fitas que traziam as primeiras tentativas de Elvis em emplacar a canção dentro do estúdio. Uma pena.

Pablo Aluísio.

Elvis Presley - Stay Away Joe

Embora o filme fosse irrelevante, Elvis teve que mais uma fazer entrar em estúdio para gravar sua trilha sonora. O cantor já não tinha mais disposição para viajar até a costa oeste e por isso a RCA Victor aceitou sua sugestão de gravar as músicas do filme ali por perto de Memphis mesmo, em Nashville. Jeff Alexander foi indicado para ser o produtor das músicas. Ele já vinha trabalhando com regularidade ao lado de Presley, principalmente na gravação de músicas para filmes de Hollywood. Al Pachucki foi o engenheiro de som dos trabalhos. Assim na noite do dia 1 de outubro de 1967 Elvis chegou ao estúdio B da RCA em Nashville, Tennessee. Na pauta havia dez canções, mas Elvis não estava nada disposto a gravar tudo. Ele ouviu as demos e eliminou cinquenta por cento delas. Não gostou muito da canção título, "Stay Away, Joe", mas essa não poderia ser deixada de fora. As sessões se iniciaram com a versão que seria usada no filme. Curiosamente foram necessários mais takes do que o habitual porque Elvis não conseguia se concentrar na canção, que era mesmo muito fraca, com melodia piegas e letra boba. As coisas melhoram um pouco com "All I Needed Was the Rain" por causa de seu balanço de blues negro. Mesmo assim não chegava a ser uma obra prima. Pior veio depois quando Elvis teve que colocar sua voz na medíocre "Dominick". O roteiro previa que Elvis a cantaria para um bovino! (sim, é verdade, por mais incrível que isso possa parecer!).

Depois da gravação desse lixo a sessão foi encerrada. Elvis pensou que estava livre desse material de baixa qualidade, mas foi surpreendido pelo aviso da RCA de que ele deveria voltar ao estúdio para gravar mais versões e se possível melhorar as que já tinham sido gravadas. Assim Elvis retornou em janeiro de 1968 para mais uma sessão com esse mortificante material. Para sua surpresa não conseguiu terminar numa noite, como estava planejado, tendo que ficar três dias em Nashville tentando consertar a trilha sonora. Uma nova faixa chamada "Stay Away" foi providenciada e como havia muito tempo livre Elvis acabou gravando mais três músicas que não faziam parte da trilha. Entre elas alguns clássicos de sua carreira como "Too Much Monkey Business" de Chuck Berry, que apesar de ter sido muito bem gravada seria negligenciada de forma vergonhosa pela RCA Victor no mercado e "U.S. Male" que teria melhor destino. Essa segunda sessão contou com outro produtor, Felton Jarvis, que estava disposto a melhorar a qualidade dos discos de Elvis. Isso explica em parte a excelente gravação de "Goin' Home", sem dúvida uma das melhores faixas gravadas por Elvis nessa fase de sua carreira.

Sessão de gravação da trilha sonora Stay Away Joe
Data de gravação: 01 de outubro de 1967 - 15 a 17 de janeiro de 1968
Local de gravação: RCA Studio B, Nashville, Tennessee
Produção: Jeff Alexander, Felton Jarvis
Engenheiros de som: Al Pachucki e Bill Vandevort 
Músicos: Elvis Presley (vocais), Scotty Moore (guitarra), Jerry Reed (guitarra e violão), Chip Young (guitarra), Bob Moore (baixo),  Murrey "Buddy" Harman (bateria), D.J. Fontana (bateria), Floyd Cramer (piano), Charlie McCoy (harmonica), Peter Drake (steel guitar) e The Jordanaires (vocais).

Pablo Aluísio. 

quinta-feira, 21 de abril de 2005

Long Legged Girl / That's Someone You Never Forget

Bom, a alegria dos fãs de Elvis infelizmente não iria durar muito em 1967. É certo que nesse ano ele gravou um grande disco, "How Great Thou Art" que lhe trouxe pela primeira vez em anos muitas críticas positivas. O problema é que lá atrás Elvis havia assinado contratos de longa duração com as principais companhias cinematográficas de Hollywood e precisava cumpri-los. Como já estava muito claro nem sempre a qualidade pontuava os filmes e as trilhas sonoras desses projetos e assim o fã tinha que se contentar em ver Elvis envolvido em uma sucessão de abacaxis. Em abril de 1967 pintou nas lojas seu novo single, "Long Legged Girl / That's Someone You Never Forget". A primeira canção do lado A era de fato inédita, já o lado B trazia uma reprise antiga do álbum "Pot Luck With Elvis". Isso por si só já tirava a metade da vontade de comprar o single para o colecionador de longa data. Sobrava assim apenas a curiosidade de ouvir mais uma faixa inédita de Elvis que vinha para promover um novo filme de título esquisito "Double Trouble" (algo como "Problemas em dobro"). Ao colocar o disquinho para tocar o ouvinte logo chegava na conclusão que o título era mais do que adequado pois Elvis tinha mesmo muitos problemas em sua carreira musical, em dobro! A música era extremamente fraca, um "roquinho", vamos colocar dessa forma. Não, não se tratava de um rock digno de alguém que era chamado de Rei do Rock e passava muito longe de seus antigos clássicos imortais no gênero.

Era mais uma daquelas musiquinhas com letra adolescente que não diziam absolutamente nada. Elvis demonstrou toda a sua má vontade na gravação. Ele estava visivelmente mal, desinteressado, chegando ao ponto de conter o riso em razão da mediocridade dos arranjos, da letra e da melodia. Elvis era, gosto de sempre relembrar isso, um cantor com muita cultura musical, adquirida desde seus tempos de infância, lá em Memphis. Ouvindo apenas as rádios mais importantes, ele sabia muito bem o que tinha valor como música e o que era lixo cultural. Não era um idiota. Sob qualquer ponto de vista "Long Legged Girl" era mesmo lixo. O problema de trilhas sonoras era que o pacote chegava até Elvis fechado, completo. Ele sequer tinha direito de opinar sobre a qualidade das faixas. Por questões contratuais seu trabalho se resumia em ir até o estúdio e cantar as músicas, por piores que fossem! Um horror! E como se tudo isso não fosse ruim o bastante o fato é que a gravação em si da música deixou muito a desejar. A faixa foi gravada na correria em junho de 1966 no Radio Recorders em Hollywood. Foi a última canção gravada da trilha naquela noite, já na alta madrugada, quando nem os músicos e nem o produtor Jeff Alexander estavam mais dispostos em realizar um trabalho melhor. Todo mundo estava cansado e de saco cheio. Elvis levou apenas seis takes para chegar ao seu take definitivo, enfim, correria, falta de qualidade e desinteresse formavam em conjunto os ingredientes certeiros para compor mais um decepcionante novo single para Elvis em uma das piores fases de sua carreira.

Pablo Aluísio.

Elvis Presley - Big Boss Man / You Don't Know Me

A prova que a carreira musical de Elvis estava dividida em duas fatias bem claras. Na primeira, relacionada aos álbuns, o cantor se via preso nas trilhas sonoras dos filmes Made in Hollywood. Em relação a esses discos não havia muita saída. O pacote já chegava completo e fechado nas mãos de Elvis. Tudo o que lhe sobrava era colocar sua voz nas canções determinadas pelos estúdios de cinema e por sua gravadora, a RCA Victor. Em relação aos singles havia maior margem de liberdade, principalmente a partir de 1966, quando a RCA foi se conscientizando que as músicas de filmes estavam destruindo as possibilidades comerciais de Elvis Presley em se destacar. Assim os próprios executivos incentivavam Elvis a escolher o material que desejasse nessas sessões. Na verdade o próprio Elvis estava farto! Ele queria gravar material de qualidade, adulto, que não tivesse mais aquela pegada adolescente que ainda persistia em seus álbuns de filmes. Ele queria cantar canções relevantes, que falassem de sentimentos das pessoas de sua idade. Ficar cantando sobre praia, surfe e mariscos estava se tornando insuportável. Assim a RCA programou uma sessão em setembro de 1967 em que Elvis teria plena liberdade para escolher o material que queria gravar. Nem preciso dizer que a sessão se revelou maravilhosa em todos os aspectos. Presley sabia que muito provavelmente algumas daquelas gravações seriam desperdiçadas como bonus songs em trilhas sonoras, mas também tinha esperanças que outras pudessem chegar ao mercado para vencer por seus próprios méritos.

"Big Boss Man" foi a segunda música gravada nessas sessões, logo após outro clássico, "Guitar Man". Elvis estava determinado e procurar por novas sonoridades, outros tipos de letras mais interessantes, que fugissem um pouco do romance adolescente que imperava em suas canções para filmes. Também é importante destacar que nessa noite do dia 10 de setembro Elvis emplacou apenas duas gravações, demonstrando que tudo foi realmente gravado com capricho, calma, para acertar em cima de um arranjo muito bem elaborado e de qualidade. Já o lado B do single, "You Don't Know Me" foi gravada no dia seguinte. Elvis amava essa canção. Era uma de suas preferidas e ele vinha aborrecido há tempos porque não tinha gostado da versão que havia gravado para o filme "Clambake". Ele queria chegar em um take mais decente, em suas próprias palavras. Fã de Eddy Arnold não queria deixar uma versão de segunda categoria com seu nome na capa. Quem dirigiu os trabalhos nessas sessões foi Felton Jarvis, um produtor que se deu muito bem com Elvis dentro dos estúdios, a tal ponto que não mais se largaram após essas sessões iniciais. Felton tinha uma incrível capacidade de entender o que Elvis queria quando estava gravando. Além disso lhe proporcionava uma liberdade e um clima ameno e agradável para que ele liberasse seu talento sem pressões ou atritos. Era o produtor que ele tanto procurava após todos aqueles anos.

Pablo Aluísio.

quarta-feira, 20 de abril de 2005

Elvis Presley - FTD Easy Come, Easy Go

O lançamento desse título realmente me deixou surpreso. O material de "Easy Come, Easy Go" é tão inexpressivo dentro da carreira de Elvis Presley que pensei que jamais seria explorado pelo selo FTD. Bom, talvez para não deixar buracos o produtor Ernst Jorgensen resolveu então incluir essa trilha na coleção. Infelizmente como já foi escrito aqui no blog todo o projeto relacionado a "Easy Come, Easy Go" foi um fracasso de público e crítica. O filme foi mal nas bilheterias e o compacto duplo com a trilha lançada nos Estados Unidos foi quase que completamente ignorado nas lojas de discos. No Brasil foi bem pior porque a filial brasileira da RCA sequer teve interesse em lançar as canções em nosso país e elas, como não poderia deixar de ser, ficaram anos inéditas por aqui. Na época a RCA esclareceu que se o EP tinha fracassado dentro do mercado americano não havia qualquer razão para chegar nas lojas do Brasil pois o prejuízo comercial seria certeiro. Some-se a isso a enxurrada de críticas negativas lá fora em seu lançamento e você entenderá porque a RCA em nosso país desistiu dos discos de Elvis por volta de 1965. Eles não vendiam mais e como Elvis foi sendo deixado de lado o primeiro reflexo disso foi o não lançamento de seus últimos títulos americanos no Brasil. Só muitos anos depois foi que Marcelo Costa do fã clube SPEPS as incluiu em um disco 100% brasileiro chamado "Elvis by Request volume 2" no distante ano de 1981. As músicas de "Easy Come, Easy Go" ocuparam todo o lado B do antigo vinil. Foi uma forma dele, que foi grande fã de Elvis Presley no Brasil, em lançar em nosso mercado a inédita trilha sonora. Uma atitude que certamente merece todos os reconhecimentos e elogios.

Pois bem, tirando tudo isso de lado e ouvindo novamente as canções temos que admitir que esse material realmente não tem salvação. É ruim, bobinho, inofensivo e muito fora do contexto. Talvez essas musiquinhas ficassem bem em um astro juvenil ao estilo Fabian, mas Elvis Presley? Lamento dizer, mas realmente o conjunto da obra é muito medíocre. Como já tive a oportunidade de escrever antes por essa época havia um descompasso entre a produção musical de Elvis e os fãs que ainda persistiam em acompanhar sua carreira decadente. Elvis e seus produtores pareciam empenhados em apresentar material adolescente, bobo mesmo, para pessoas que já tinham passado de seus 30 anos de idade. O próprio Elvis já estava com 32 anos quando gravou essa trilha sonora boboca. Talvez o Coronel pensasse que os fãs de Elvis ficariam na adolescência para sempre, como um grupo coletivo de fãs de Peter Pan, mas a realidade do mundo natural é outra. O que era divertido aos 16 anos logo se torna idiota quando se fica mais velho. Elvis na verdade estava cantando para ninguém, já que os verdadeiros adolescentes tinham outros ídolos e seus fãs antigos dos anos 50 estavam casados, com filhos e muitas contas a pagar. Não iriam perder tempo ouvindo Elvis cantando bobagens como "Yoga Is As Yoga Does". O resultado de tudo isso não foi complicado de prever mesmo, desencadeando tudo em um enorme fracasso comercial.

FTD Easy Come, Easy Go
Easy Come, Easy Go
The Love Machine
Yoga Is As Yoga Does
You Gotta Stop
Sing You Children
I'll Take Love
She's A Machine
The Love Machine (Takes 1, 2, 3)
Sing You Children (Take 1)
 She's A Machine (Takes 5, 6, 7)
Easy Come, Easy Go (Take 10)
The Love Machine (Takes 4, 5, 11)
I'll Take Love (Takes 1, 2 A)
She's A Machine (Take 10)
Sing You Children (Takes 18, 19)
Yoga Is As Yoga Does (Takes 5, 6)
The Love Machine (Takes 13, 14)
She's A Machine (Take 13)
I'll Take Love (Take 2 B)
You Gotta Stop (instrumental take 1)
Leave My Woman Alone (instrumental take 5)

Pablo Aluísio.

Elvis Presley - Indescribable Blue / Folls Fall in Love

O ano de 1967 na carreira de Elvis Presley começou muito bem com o lançamento logo em janeiro daquele ano do single "Indescribable Blue / Folls Fall in Love". "Indescribable Blue" vinha com um arranjo realmente diferenciado, muito bem produzido, com belos solos de violão espanhol choroso ao fundo, tudo enriquecido com um bonito coro feminino (algo que soava naqueles anos como uma grande novidade nas gravações de Elvis). Era uma canção bem diferenciada dentro da discografia de Presley certamente. A letra evocava a saudade de um amor perdido, com o autor se sentindo "Indescritivelmente triste" com sua situação pessoal. Infelizmente a música, apesar de todos os seus inegáveis méritos em termos de qualidade, arranjo e letra, acabou sendo ignorada pelo público, fazendo com que o single não conseguisse se destacar nas paradas. Era um reflexo negativo da baixa qualidade de suas trilhas sonoras para o cinema. O público não conseguia mais distinguir o que era bom do ruim e acabava ignorando todos os lançamentos de Elvis por essa época, o que era mesmo uma grande pena!

O lado B por sua vez vinha com a alegre e divertida "Folls Fall in Love" que apesar de pregar em sua letra que "apenas os tolos se apaixonam" tinha um arranjo para cima, com Elvis visivelmente empolgado com a melodia e a letra. Obviamente não podia se comparar com a bela "Indescribable Blue" do lado A, mas certamente era salva por sua energia positiva e pelo (novamente) bem produzido arranjo, embora esse seja bem mais tradicional do que o ouvinte havia constatado no lado principal do single. Aqui se sobressaem belos solos de sax e guitarras, tudo resultando em um inspirado momento de Elvis nos estúdios. Embora fosse um cover de Presley para um velho hit R&B dos Drifters, a canção também marcava, mesmo que indiretamente, um reencontro de Elvis com a maravilhosa dupla Leiber & Stoller, que tantos sucessos tinham escrito para ele em seus melhores anos na RCA Victor. Certamente não é nenhuma obra prima, mas consegue manter o bom padrão dentro do compacto, que era de fato muito acima da média das trilhas. No geral ainda não era a mudança tão aguardada pelos fãs nos rumos da carreira do cantor, mas já soava como algo novo, diferente. Elvis só iria mudar tudo mesmo em 1968, pois em 67 os fãs ainda teriam que lidar com muitas tolices e bobagens em sua discografia. Os tempos ruins porém estavam prestes a acabar.

Pablo Aluísio.

terça-feira, 19 de abril de 2005

Elvis Presley - Milky White Way / Swing Down Sweet Chariot

Outro single lançado em 1966 foi esse compacto gospel com duas músicas extraídas do disco "His Hand in Mine". Certamente são boas canções, diria até mesmo ótimas, gravadas em um momento na carreira de Elvis, em 1960, onde tudo parecia correr muito bem, ou seja, o extremo oposto do que Presley vinha passando seis anos depois. O curioso é que por essa época o cantor começava a afundar de cabeça em suas leituras espirituais, deixando sua carreira completamente de lado. A postura de Elvis nesses tempos era pragmática: a gravadora marcava a sessão de gravação, ele ia até lá e gravava o que lhe era pedido. Simples assim, nem mais, nem menos do que isso. Se as músicas eram boas ou ruins não cabia a Elvis opinar (pelo menos em sua estreita visão do que estava acontecendo ao seu redor). Assim Elvis fazia o que a RCA lhe ordenava, recebia seu pagamento e voltava para suas leituras esotéricas. Afinal de contas ele tinha um padrão de vida excelente, não se preocuparia tanto em escolher as músicas, suas pílulas estavam sempre à mão e Priscilla o apoiava, não importando o que fizesse.

Embora procurasse sempre por um avanço espiritual o fato era que aos poucos Elvis foi novamente caindo na real. Ele havia adotado uma postura de passividade em relação ao material de seus discos desde que voltara para Hollywood, mas devagar foi percebendo que os álbuns não conseguiam mais fazer sucesso e nem se destacar nas paradas. Os Beatles estavam dominando, havia uma nova revolução no rock e ele estava por fora de tudo isso. Leitor das publicações de música Elvis havia se acostumado a ver suas trilhas sonoras sempre entre as dez mais vendidas e quando isso não mais aconteceu começou a se aborrecer de verdade. Ele sabia que as canções não prestavam, tinha plena consciência disso e começou a implodir quando viu seu nome associado a tanta coisa medíocre. Quando também tomou consciência do relançamento da RCA Victor de antigas músicas religiosas como essas, teve a (finalmente) excelente ideia de gravar um álbum novo apenas com música gospel. Afinal de contas se havia dado tão certo com "His Hand in Mine" por que não repetir a dose? Uma coisa era certa, seria um material bem mais relevante do que seu últimos discos, com todas aquelas canções Made in Hollywood sem valor artístico algum.

Pablo Aluísio.

Elvis Presley - FTD Spinout

Meu maior interesse nesse título do selo FTD era realmente ouvir as versões gravadas em estúdio na sua maneira mais crua e sem retoques. Em minha forma de ver a "maquiagem" sonora que foi usada na trilha sonora acabou estragando o resultado final. Além disso nunca perdi a opinião de que a trilha soava mal gravada mesmo nas origens. Para não ser injusto deixei sempre a porta da dúvida aberta. Teria sido mera imperícia de banda e Elvis ou era tudo resultado da péssima edição realizada na mesa de som do engenheiro da gravação da RCA? Infelizmente não há material suficientemente farto na seleção musical para se chegar numa conclusão definitiva. O produtor Ernst Jorgensen aqui trouxe apenas cinco gravações realmente inéditas dentro do mercado. O CD é composto pelas versões originais da trilha sonora (incluindo as bonus songs), seis takes alternativos que já eram conhecidos dos fãs (pois foram lançados antes nos discos "Collectors Gold", no CD "Out In Hollywood" e no box "Today, Tomorrow And Forever") e apenas poucas versões de fato inéditas das canções "Smorgasbord", "Beach Shack", "Never Say Yes", "All That I Am" e "Stop, Look And Listen" (totalizando apenas seis faixas).

Assim ao ouvir todo o CD não consegui mudar minha opinião. A trilha de "Spinout" parece mesmo ter sido gravada às pressas, sem capricho, sem cuidado. Até a voz de Elvis parece sem vida, apressada em acabar logo com aquilo. Os músicos que sempre se mostraram tão virtuosos em trabalhos anteriores de Presley também parecem convencidos que não há muito o que fazer com aquele fraco material e assim se colocaram em um terrível modo de controle remoto, executando suas notas musicais sem muito empenho ou garra. Soam tão talentosos e primorosos quanto um burocrata, um funcionário público brasileiro qualquer, batendo seu carimbo em documentos de pura burocracia. Elvis não está melhor. Embora em algumas faixas a velha chama ainda pareça acessa a maior parte do tempo Elvis parece estar passando a mensagem subliminar para seus músicos de que "vamos acabar logo com tudo para irmos para casa o mais rapidamente possível". Uma pena, a que ponto havia chegado a carreira daquele que havia sido o maior nome da música mundial.

FTD Spinout
1: Stop, Look And Listen
2: Adam And Evil
3: All That I Am
4: Never Say Yes
5: Am I Ready
6: Beach Shack
7: Spinout
8: Smorgasbord
9: I'll Be Back
10: Tomorrow Is A Long Time
11: Down In The Alley
12: I'll Remember You
13: Stop, Look And Listen (takes 1, 2, 3)
14: Am I Ready (take 1)
15: Never Say Yes (takes 1, 2)
16: Spinout (takes 1, 2)
17: All That I Am (takes 1, 2)
18: Adam And Evil (takes 1, 14, 16)
19: Smorgasbord (take 1)
20: Beach Shack (takes 1, 2, 3)
21: Never Say Yes (takes 4, 5)
22: All That I Am (take 4)
23: Stop, Look And Listen (take 6)
24: Smorgasbord (take 5)

Pablo Aluísio.

segunda-feira, 18 de abril de 2005

Elvis Presley - Spinout / All That I Am

Embora o single "Love Letters / Come What May" tenha deixado os fãs de Elvis cheios de esperanças o fato era que o cantor ainda estava preso aos inúmeros contratos que assinou no começo dos anos 60 e isso significava que pelo menos em curto prazo ele não deixaria os filmes em Hollywood. Assim não tardou a pintar nas lojas de discos o single "Spinout / All That I Am". Mais músicas de filmes. Mais um trilha sonora que estava por vir. Era algo que não estava nas expectativas de ninguém. Os fãs queriam basicamente que Elvis voltasse a gravar álbuns convencionais, realizar shows e deixar os filmes ruins feitos na costa oeste de lado. Afinal de contas depois de coisas como "Paradise Hawaiian Style" a paciência estava chegando ao fim. O curioso é que o Coronel Parker nesse mesmo tempo estava atarefado criando uma campanha para celebrar os "Dez Anos de Elvis Presley em Hollywood", sem entender que nos fãs clubes todo mundo já estava farto de trilhas sonoras e filmes ruins. Em outras palavras, Coronel estava preparando um aniversário que ninguém queria celebrar.

As duas canções já traziam uma ideia do que seria encontrado na trilha sonora. "Spinout" do Lado A seria a canção título do novo filme. Uma gravação com uma sonoridade um pouco diferente, valorizando os efeitos de percussão. A letra era novamente muito boba e não havia nenhum potencial para transformar aquela música em um hit nas paradas. Além disso ela não tinha uma boa qualidade técnica de gravação, com os vocais de Elvis muito à frente de sua banda, o que dava a impressão que tudo havia sido gravado separadamente. Na realidade era uma velha manobra de Tom Parker que tinha chegado na conclusão que os discos de Elvis estavam mal sonorizados, com os vocais de Elvis sendo abafados por seu grupo. Presley não pensava dessa forma, mas Parker passou por cima de sua opinião e resolveu mexer nas gravações por conta própria. Telefonou para a RCA e disse que os engenheiros de som fizessem a mudança. No lado B do single foi encaixada a música "All That I Am", que já soava um pouco melhor, com bonito arranjo, fruto do bom trabalho do novo produtor, Felton Jarvis. Os fãs logo notaram que havia algo de novo ali. A decisão de melhorar as gravações partiu do diretor musical George Stoll da MGM, que havia ouvido a última trilha sonora de Elvis e não gostou do que escutou. Assim ele indicou Jarvis para que esse em Nashville desse um bom "banho de loja" nas músicas para que não parecessem tão fracas. Com o tempo o próprio Jarvis iria se tornar o produtor de Elvis em estúdio. Infelizmente mesmo com as mudanças o single foi um tremendo fracasso comercial, não conseguindo se destacar nas vendas, encalhando vergonhosamente nas prateleiras das lojas nas semanas seguintes.

Pablo Aluísio.

Elvis Presley - Love Letters / Come What May

No meio de tantas trilhas sonoras e filmes ruins a carreira de Elvis começou a renascer discretamente no lançamento de singles, alguns desprezados pela própria RCA que não os divulgava adequadamente. Aqui surgia novamente o Elvis Presley puramente cantor, sem as amarras de Hollywood. Para os fãs o primeiro sinal de que algo bom ainda poderia surgir da carreira de Elvis pintou nas lojas em junho de 1966. Foi nesse mês que a RCA Victor lançou o single "Love Letters / Come What May", considerado por muitos o melhor single de Elvis naquele ano, pois contava com as duas ótimas músicas gravadas em maio de 1966. Olhando para trás fica complicado mesmo entender a falta de visão das pessoas que controlavam a carreira de Elvis. Ora, se as trilhas sonoras eram ruins e os filmes verdadeiras palhaçadas, por que insistir em algo que não estava dando certo? Por outro lado quando Elvis entrava em estúdio apenas como cantor, gravando material de qualidade, tudo acabava dando certo. Por que esse lado bom de sua carreira continuava a ser ignorado?

Em maio de 1966 Elvis entrou em estúdio e fez uma bela sessão. Seis canções convencionais e inéditas foram gravadas nessa ocasião, algumas demonstrando que o talento de Elvis ainda continuava intacto e que tudo o que ele precisava mesmo naquele momento era de material com um mínimo de qualidade. "Down In The Alley", "Tomorrow Is A Long Time" (a famosa canção de Bob Bylan), Love Letters (a versão original e não a regravação que deu origem a um disco de Elvis nos anos 70), "Beyond The Reef", "Come What May" e "Fools Fall in Love" mostravam que Elvis estava vivo e respirando, mesmo que com dificuldades. Essas seis canções, se tivessem sido lançadas em um disco normal, teriam amenizado e muito a crise musical e artística da carreira de Elvis. Mas infelizmente os executivos da RCA não souberam aproveitar. O single "Love Letters / Come What May", não contou com o mínimo de publicidade mas mesmo assim alcançou uma razoável posição entre os mais vendidos nos EUA (19º lugar) e um ótimo sexto lugar na Inglaterra! Aos poucos Elvis Presley estava finalmente renascendo das cinzas.

Pablo Aluísio. 

domingo, 17 de abril de 2005

Elvis Presley - FTD Paradise Hawaiian Style

"Feitiço Havaiano" foi um dos maiores sucessos da carreira de Elvis nos cinemas durante os anos 1960. O coronel Parker sempre achou esse filme de Elvis o "produto perfeito". Então uma seqüência (ou quase isso) seria inevitável. Assim nasceu "No Paraíso do Havaí", a tentativa de repetir todo aquele sucesso, ou seja, o coronel Parker colocou Elvis para imitar ele mesmo! A trilha, assim como o filme, é pouco animadora. Tem poucos bons momentos como "Sand Castles" (linda) e muitos péssimos como "A Dog's Life" e "House of Sand". Como o próprio material é fraco e desprovido de maior interesse a única coisa que levará o fã de Elvis a adquirir o CD é sua busca por ter uma coleção completa, já que, vamos ser bem sinceros, tudo poderia ser jogado no lixo sem maiores culpas! O interessante é que o próprio selo FTD tinha consciência que vender esse material não seria nada fácil, assim acabou lançado o CD dentro de um pequeno pacote com duas outras trilhas sonoras do mesmo período. Quem sabe dessa forma o colecionador não se animaria a comprar todos os três títulos, quem sabe...

Os takes alternativos porém trazem um pouco de interesse, pois mostra Elvis no estúdio, tendo que lidar com toda aquela porcariada, para transformar o que já era muito ruim em algo ao menos audível. E isso, meus amigos, não era algo fácil de conseguir. É nítido o desânimo de Elvis em ter que gravar essas faixas, pois além de serem havaianas eram de um má qualidade enorme. Fico imaginando o que se passava na mente dele em momentos como esse. Isso porque Elvis sempre foi o primeiro crítico de seu trabalho. Ele tinha muita cultura musical, desenvolvida desde os tempos de infância em Memphis, quando ouvia o que havia de melhor em termos de música pelo rádio. Imagine você uma pessoa como essa sendo obrigada a gravar todo esse lixo Hollywoodiano, sabendo que sua credibilidade como artista seria abalada quando esse disco chegasse no mercado. Definitivamente não foi algo fácil para uma pessoa como ele, que sabia que tudo, no final das contas, era destituído de valor cultural.

FTD Paradise, Hawaiian Style
Paradise, Hwaiian Style
Queenie Wahine's Papaya
Scratch My Back
Drums Of The Islands
Datin'
A Dog's Life
House Of Sand
Stop Where You Are
This Is My Heaven
Sand Castles
This Is My Heaven (take 4)
A Dog's Life (takes 4,5,6)
Datin' (takes 6,7,8,11,12)
This Is My Heaven (take 7)
Drums Of The Islands (takes 4,5)
Queenie Wahine's Papaya (take 5)
Stop Where You Are (take 1)
House Of Sand (take 3 plus intro)
Paradise, Hawaiian Style (takes 4,1)
Scratch My Back (take 1)
A Dog's Life (take 8)
Sand Castles (take 1)
Datin' (takes 1-4)

Pablo Aluísio.

Elvis Presley - FTD Frankie and Johnny

Assim encerrando os comentários sobre o filme "Frankie and Johnny" vamos tecer breves comentários sobre o CD do selo FTD dessa trilha sonora. Originalmente foi lançado em 2004 (lá se vão dez anos, como o tempo passa rápido!!!) e talvez por essa razão não seja dos mais simples de encontrar hoje em dia (embora no mundo da internet tudo seja possível). Por essa época a FTD estava bem concentrada nas trilhas sonoras dos anos 60. Além de "Frankie and Johnny" o selo havia lançado "Fun In Acapulco", "Girl Happy", "Harum Scarum" e "Vivas Las Vegas". Todos com encartes de bom gosto, excelente direção de arte, livretos, fotos raras e revitalização sonora. Uma beleza. Outro ponto positivo é que o título vinha com muitas gravações inéditas. Credito isso ao fato de que após seu lançamento nos anos 60 ninguém mais se interessou muito por essa trilha que ficou meio de lado, esquecida. Como não havia nenhum grande sucesso e também como não tinha sido um sucesso de vendas em seu lançamento as canções foram aos poucos sendo esquecidas. Pois bem, o colecionador teve assim em mãos a trilha sonora original e mais 13 faixas completamente inéditas que pela primeira vez chegavam aos fãs. Só isso já valeria a adição do CD na coleção, mesmo que você não simpatizasse muito com a sonoridade de metais ao estilo New Orleans.

Embora recheada de coisas inéditas o CD também apresentava algumas reprises conhecidas. Os fãs já tinha tido acesso ao take 1 de "Frankie and Johnny" no CD FTD "Out In Hollywood" e ao take 10 de "Please Don't Stop Loving Me" no box "Today, Tomorrow And Forever". Para quem viveu a época houve ainda o resgate da versão do acetato de "Frankie And Johnny" que trazia a versão do filme, levemente diferente da do álbum. Fora isso tudo inédito. Pelo relativo sucesso que fez a canção "Please Don't Stop Loving Me" ganhou certo destaque com várias versões. Acho isso até justificável. Agora, complicado mesmo é entender porque deram tanta atenção para a péssima "Petunia, The Gardeners Daughter". Ouvir essa canção uma vez já é ruim, imagine várias vezes!!! Pena que não haja takes alternativos do medley "Down By The Riverside / When The Saints Go Marching In" e nem de "Beginner's Luck". Infelizmente são coisas do destino já que muito material gravado por Elvis em estúdio acabou sendo mesmo jogado fora, seja por engano, seja porque a RCA jogava mesmo na lata de lixo takes de sessões que não mais lhe interessavam comercialmente. Tudo bem, de uma forma ou outra o que sobrou já vale bastante a pena. Resgata uma trilha que o tempo esqueceu. Só isso já justifica completamente o lançamento desses registros fonográficos.

FTD Frankie and Johnny
1. Frankie And Johnny
2. Come Along
3. Petunia, The Gardeners Daughter
4. Chesay
5. What Every Woman Lives For
6. Look Out, Broadway
7. Beginner's Luck
8. Down By The Riverside / When The Saints Go Marching In
9. Shout It Out
10. Hard Luck
11. Please Don't Stop Loving Me
12. Everybody Come Aboard
13. Frankie And Johnny (take 1)
14. Please Don't Stop Loving Me (take 10)
15. Everybody Come Aboard (takes 1, 2)
16. Chesay (take 1)
17. Petunia, The Gardeners Daughter (take 2)
18. Look Out, Broadway (takes 3, 4, 5)
19. Please Don't Stop Loving Me (takes 1, 2, 3)
20. Shout It Out (takes 1, 2, 3)
21. Everybody Come Aboard (takes 9, 10)
22. Chesay (takes 3, 6)
23. Look Out, Broadway (takes 6, 7, 8)
24. Petunia, The Gardeners Daughter (take 5)
25. Please Don't Stop Loving Me (take 7)
26. Frankie And Johnny (takes 3, 4)
27. Frankie And Johnny (Versão do filme - acetato)

Pablo Aluísio.

sábado, 16 de abril de 2005

Elvis Presley - Frankie and Johnny / Please Don't Stop Loving Me

Nos bastidores da RCA Victor houve uma certa polêmica se haveria o lançamento de algum single extraído da trilha sonora do filme "Frankie and Johnny". Na verdade se temia por um prejuízo financeiro. Afinal os últimos filmes de Elvis não tiveram singles lançados e os que chegaram no mercado ficaram pegando poeira nas prateleiras. Os péssimos números de vendas desanimavam os executivos da RCA. Era mesmo pouco provável que alguém se aventurasse a colocar no mercado algum single com o cantor. Por outro lado a RCA não tinha certeza se o resto do material iria fazer sucesso pois os arranjos de época certamente não tinham força para competir com os grupos de rock da moda. Era algo meio ao estilo Dixieland, jazz e outras sonoridades que dificilmente iriam fazer bonito nas paradas de sucesso. Os hippies não iriam se ligar naquela caretice de cornetas antigas! Talvez no sul, lá pelas bandas de New Orleans, o público se animasse a adquirir o álbum, mas em regiões mais desenvolvidas como Nova Iorque e Los Angeles isso provavelmente não iria se tornar um sucesso de vendas. Era algo até previsível. Assim na via das dúvidas, procurando faturar um pouquinho mais com essas gravações, a RCA lançou, sem divulgação nenhuma, diga-se de passagem, o single com "Frankie and Johnny / Please Don't Stop Loving Me".

As primeiras resenhas dos críticos não foram lá muito animadoras mas pelo menos não debocharam da qualidade do disco. Havia ali um produto que era nitidamente bem trabalhado, com arranjos de metais em uma clara tentativa de melhor a qualidade das gravações de Elvis que chegavam ao mercado. É claro que não iriam disputar cabeça a cabeça as primeiras posições com os grupos psicodélicos que começavam a surgir vindos da ensolarada Califórnia, mas pelo menos tinham um certo pedigree. Passava longe de ser um material de dar vergonha. Curiosamente um articulista de Londres chegou a dizer que as músicas não era puro sangue, de raça, mas pelo menos não eram pangarés como os que Elvis estava acostumado a colocar no mercado nos últimos anos. O álbum com a trilha sonora de "Frankie and Johnny" de fato vendeu bem pouco, mas esse single conseguiu chegar num bom número de cópias vendidas, chegando ao ponto de ganhar um disco de ouro, algo que vinha rareando cada vez mais na carreira de Elvis Presley. Agora o terrível mesmo é saber que Elvis só voltaria a ser premiado com um disco de ouro novamente por um single com "If I Can dream / Edge of Reality" no final de 1968, ou seja, ele ficaria amargando por longo tempo um jejum de boas vendas, colecionando vendas medíocres nos meses que viriam. A má qualidade do material gravado para as trilhas de filmes de Hollywood iria cobrar um preço bem caro - a do fracasso comercial em série de seus discos.

Pablo Aluísio.

Elvis Presley - FTD Tickle Me

Eu sinceramente cheguei a pensar que "Tickle Me" jamais seria explorado pelo selo FTD. Afinal de contas é uma trilha falsa, feita de remendos, uma colcha de retalhos sonora. Acrescente-se a isso o fato de que muitas das músicas já tinham sido utilizadas em outros títulos da própria coleção Follow That Dream. Diante disso para que lançar algo a mais sobre esse filme? Bom, isso era o que a maioria dos fãs pensavam mas eis que de repente Ernst Jorgensen vem a anuncia esse lançamento. O curioso é que não contente vai mais além e joga na seleção musical do CD um monte de músicas que não tinham nada a ver com o filme. Salada geral! Assim do ponto de vista puramente técnico esse é de fato um dos mais fracos já lançados do selo. Até a direção de arte e o encarte interno achei desprovidos de maior interesse. Em uma coleção onde tudo parece ser de tão bom gosto esse título certamente fica abaixo da média nos principais quesitos de avaliação. É aquele tipo de CD que você só vai querer comprar se for muito preciosista, aquele tipo de colecionador que não admite nenhum buraco na coleção. Fora isso - me referindo agora às pessoas "normais" (sic) - não adianta mesmo adquirir.

Além da falta de critério o CD também não traz maiores novidades em relação aos takes alternativos. Basta pesquisar um pouquinho para ver que grande parte do material já tinha sido lançada antes em CDs como "Long Lonely Highway", "Such A Night, Essential Elvis Vol. 6" e "Fame And Fortune". De inédito mesmo não há praticamente nada, a não ser que você ache que ouvir gravações masters dos LPs de vinil seja uma grande novidade! Para não dizer que não há nenhum material inédito entre as faixas gostaria de dizer que nunca tinha ouvido "Allied Artists' Radio Trailer", um material promocional usado nas rádios americanas para promover o filme nas cidades onde ele estava em cartaz. O Ernst encontrou esse raro material por acaso e resolveu incluir no CD. Tudo bem, é curioso e tudo mais, porém não compensa a compra de tudo apenas para ouvir esses poucos minutos de um material até interessante, mas nada indispensável. No fritar dos ovos "FTD Tickle Me" é tão desnecessário quanto o próprio filme e a fake trilha sonora lançada na época. Pode dispensar sem maiores problemas. 

Elvis Presley - FTD Tickle Me
1. I Feel That I've Known You Forever
2. Slowly But Surely
3. Night Rider
4. Put The Blame On Me
5. Dirty, Dirty Feeling
6. It Feels So Right
7. (Such An) Easy Question
8. Long Lonely Highway
9. I'm Yours
10. Something Blue
11. Make Me Know It
12. Just For Old Time Sake
13. Gonna Get Back Home Somehow
14. There's Always Me
15. Allied Artists' Radio Trailer (versão 1)
16. Slowly But Surely (take 1)
17. It Feels So Right (take 2)
18. I'm Yours (LP master)
19. Long Lonely Highway (LP master)
20. I Feel That I've Known You Forever (take 3)
21. Night Rider (take 5)
22. Dirty, Dirty Feeling (take 1)
23. Put The Blame On Me (takes 1, 2)
24. (Such An) Easy Question (takes 1, 2)
25. Allied Artists' Radio Trailer (versão 2)

Pablo Aluísio.

sexta-feira, 15 de abril de 2005

Elvis Presley - Tickle Me

Do ponto de vista do produto é algo bem medíocre transformar uma coletânea de músicas aleatórias em uma trilha sonora, ainda mais em se tratando de Elvis Presley nos anos 1960 quando a única coisa relevante em sua carreira parecia se resumir nas canções inéditas de seus filmes, por piores que fossem. A pilantragem que parecia comandar as carreira do astro por essa época porém parecia não ter limites. Assim ao invés de gastar na gravação de uma nova trilha para o filme B (ou seria Z?) "Tickle Me" resolveu-se simplesmente aproveitar velhas gravações que já tinham sido lançadas muitos anos antes. Para Parker isso era uma maravilha pois nenhum tostão seria gasto e sua filosofia de "vender duas vezes a mesma coisa" voltava com tudo na carreira do cambaleado Elvis Presley.

Foram atitudes como essa que foram minando Elvis ao longo dos anos 60. Ele deixou de ser um artista relevante, um cantor respeitado, um produtor de sucessos, para virar um boneco na mão de pessoas que queriam lucrar muito com sua fama. O fãs? Um mero detalhe para gente como Tom Parker. O Coronel costumava dizer que "qualquer coisa que tenha o nome Elvis vende", ou seja, indiretamente chamou todos os fãs do cantor de bobocas pois afinal de contas eles comprariam qualquer coisa, mesmo que fossem figurinhas repetidas. Para Parker o fã de Elvis era um presente, uma pessoa que se poderia tapear por anos a fio.

Assim chegou ao mercado esse EP. Supostamente trazia a "nova" trilha sonora do novo filme de Elvis Presley. A trilha porém de nova não tinha nada, era uma colcha de retalhos barata e o filme... bom, todo já sabe, "Tickle Me" era aquele tipo de produção que não iria trazer nada para a carreira dele, nem do ponto de vista da indústria fonográfica e nem muito menos em relação ao cinema em si. Por falar em Hollywood o pior para Elvis aconteceu justamente por esses tempos. Os produtores dos estúdios entenderam que o nicho "filmes trash" era uma boa opção para comercializar os filmes do cantor. Afinal de contas se até o empresário dele dizia que qualquer coisa com Elvis vendia, para que iriam se esforçar em produzir algo bom? A ideia era colocar Presley para cantar uma meia dúzia de canções, em roteiros bobocas, atrizes de segunda categoria e orçamentos mínimos. Coisas como figurinos, cenários, etc, poderiam ser aproveitados de outros filmes. Quem iria ligar?

O filme inclusive foi programado para fazer sessão dupla com outros filmes trashs da época, produções obtusas com monstros de borracha e cidades de papelão sendo destruídas. Que pena, imaginar que Elvis havia sido comparado nos anos 50 com James Dean e agora amargar um destino desses...

Não adianta muito comentar sobre cada canção em si pois eram pratos requentados. Algumas são excelentes músicas, pinceladas de álbuns clássicos como "Something For Everybody" e "Elvis is Back!" e até bonus songs de outras trilhas sonoras cujos direitos autorais eram baratinhos e que Parker resolveu enfiar aqui. Um descalabro com os admiradores de Presley. As cenas em que Elvis as apresentou no filme também passavam longe de serem relevantes. Novamente o astro aparecia com cara de entediado, sem muita empolgação, de vez em quando dando seu sorrisinho torto para disfarçar o clima de constrangimento geral. Ele nem mais se importava em fingir melhor que estava tocando seu violão e quando o fazia a coisa era desastrosa - muitas vezes o violão surgia em cena com som de guitarra elétrica!!! E lá ia o ex- Rei do Rock fugindo de sujeitos mal encarados usando máscaras de lobisomens, dessas que você encontra em qualquer parque de diversões por alguns trocados.

Agora interessante chamar a atenção para o fato de que esse compacto duplo foi um tremendo fracasso de vendas. Não vendeu nada. Na Inglaterra nem chegou a ser classificado, tamanho o fracasso comercial. Nos Estados Unidos só conseguiu chegar no máximo ao lugar de número 70 na classificação geral dos mais vendidos. Até discos com piadas sujas vendiam mais do que isso. Bandas de garagem com canções escrachadas conseguiam vender mais do que Elvis por essa época, provando que Parker estava bem equivocado ao dizer que os fãs de Elvis eram idiotas e compravam qualquer coisa - não compravam, isso é o que esses números provam! Ser fã de Elvis por essa época deve ter sido horrível... ter que engolir tanta mediocridade em nome de uma paixão, não é coisa para os fracos, definitivamente.

Tickle Me (1965)
I Feel That I've Know You Forever
Slowly But Surely
Night Rider
Put Blame On Me
Dirty, Dirty Feeling
 
Elvis Presley - Tickle Me (1965) - Elvis Presley (vocais) / The Jordanaires, Millie Kirkham (backing vocals) / Boots Randolph (sax) / Scotty Moore, Hank Garland, Harold Bradley, Grady Martin, Jerry Kennedy (guitarras) / Floyd Cramer (piano) / Bob Moore (baixo) / D. J. Fontana, Buddy Harman (bateria) / Data de Lançamento: junho de 1965.

Pablo Aluísio.

Elvis Presley - FTD Harum Scarum

Então chegamos em mais um título desse selo FTD (Follow That Dream). Como já disse várias vezes a trilha sonora dessa projeto é imensamente superior às qualidades cinematográficas do filme, que verdadeiramente é um horror (no sentido ruim da palavra mesmo). Pois bem, levando em frente o objetivo de trazer um FTD para cada álbum lançado por Elvis em sua carreira, os produtores resgataram um grande número de gravações que permaneciam inéditas nos arquivos da RCA. No total são doze registros que chegaram pela primeira vez ao mercado - um bom número se comparado com outros CDs dessa série. Como acontece com todos os FTDs de álbuns clássicos podemos separar as canções em dois lotes principais. No primeiro temos as faixas oficiais que fizeram parte do álbum original lançado na época. Em relação a essas gravações repito: não ficaram muito bem tratadas. Se o fã quiser ter acesso ao melhor tratamento sonoro desse tipo de trilha deve procurar por outra série da RCA lançada nos anos 90 chamada "Double Features". Em termos de CD não há nada melhor do que aquela sonoridade que é um primor. Não sei a razão mas as faixas das trilhas dos anos 60 que foram lançadas pelo selo FTD de uma maneira em geral (existem exceções obviamente) soam metalizadas e sem vida. Isso não acontece na linha "Double Features" onde as músicas tem mais profundidade e melhor balanceamento.

Dito isso vamos agora para a segunda parte do CD (e a mais importante). Aqui se encontram os takes alternativos, os takes da sessão que foram descartadas por um motivo ou outro, mas que felizmente sobreviveram. Duas faixas já tinham sido lançadas antes no mercado. A faixa 12, o take 7 da canção "My Desert Serenade", já fora lançada anteriormente no box "Today, Tomorrow And Forever". Essa caixa é simplesmente genial e muito diversificada, se ainda não conhece corra para adquirir. Já os dois takes (de números 1 e 2) de "Hey Little Girl" também já tinham feito parte da seleção de outro FTD, denominado "Out In Hollywood". Esse é um FTD mais genérico, com faixas de vários filmes, que merece uma audição por sua bela qualidade sonora - além de uma bonita capa, fruto de caprichada direção de arte. Pronto, a partir daí o ouvinte é presenteado aqui no FTD "Harum Scarum" apenas com gravações inéditas, algumas em excelente estado do ponto de vista sonoro e outras mais ou menos. No geral muitos desses takes foram descartados por falhas mínimas de Elvis (uma nota fora do tom aqui, outro verso cantado no momento errado acolá, etc). Elvis até se mostra mais sóbrio do que em outras gravações de trilhas sonoras o que confirma o fato dele ter levado bem à sério esse projeto (antes de cair na real durante as filmagens onde finalmente descobriu o abacaxi que o filme iria virar). A qualidade dessa segunda parte do CD é muito boa e para completar a coleção o CD se torna item essencial. Aproveite!

FTD Harum Scarum
1. Harem Holiday
2. My Desert Serenade
3. Go East Young Man
4. Mirage
5. Kismet
6. Shake That Tambourine
7. Hey Little Girl
8. Golden Coins
9. So Close, Yet So Far (From Paradise)
10. Animal Instinct
11. Wisdom Of The Ages
12. My Desert Serenade (Take 7)
13. Hey Little Girl (Takes 1, 2)
14. Shake That Tambourine (Takes 7, 8)
15. Golden Coins (Takes 3, 4)
16. Kismet (Takes 1, 2)
17. Animal Instinct (Takes 1, 3, 4)
18. So Close, Yet So Far (From Paradise) (Take 1)
19. Shake That Tambourine (Takes 10, 16)
20. Hey Little Girl (Take 3)
21. My Desert Serenade (Takes 2, 3)
22. Golden Coins (Takes 7, 8)
23. Harem Holiday (Takes 1, 2)
24. Wisdom Of The Ages (Take 3)
25. Shake That Tambourine (Takes 18, 19, 20, 21)

Pablo Aluísio.

quinta-feira, 14 de abril de 2005

Elvis Presley - FTD Girl Happy

Durante muitos anos pensou-se equivocadamente que a linha instrumental dessa trilha sonora havia sido gravada previamente, com apenas Elvis no estúdio, ouvindo tudo pelos fones e apenas colocando sua voz posteriormente. Pois bem, todos estavam errados. Como se pode perceber aqui Elvis a gravou no velho estilo, ao lado da banda em estúdio. Não que isso fosse favorecer alguma coisa na qualidade do material mas pelo menos trazia algum calor humano e artístico a um produto acético por definição. No geral as sessões sobreviveram parcialmente (não sei como) e foram lançadas aqui nesse título do selo FTD. Já conhecemos as versões oficiais então vamos partir logo para os takes alternativos. Curiosamente alguns takes que foram rejeitados por algumas pequenas falhas são melhores do que as versões originais. Um exemplo é o take 9 de "The Meanest Girl In Town", sim, cheio de falhas, mas com Elvis mais vigoroso em sua perfomance. O take 4 de "Spring Fever" também surpreende. Banda afinada em ótimo entrosamento com Elvis. Um take quase perfeito, mas que foi jogado no lixo porque Elvis passou batido na última linha, que pena! Já "Do Not Disturb" tinha uma letra tão imbecil que Elvis perdeu a paciência dentro do estúdio - ele tenta em vários takes e nada dá certo. Entre risadas de escárnio, falhas e piadinhas, a banda e Elvis tenta acertar mas a coisa simplesmente não vai em frente.

O take cru de número 6 de "Cross My Heart And Hope To Die" já era bem conhecido dos fãs pois havia sido lançado antes no FTD Out In Hollywood. Praticamente perfeito com uma maior presença dos Jordanaires no vocal de apoio. No finalzinho o grupo perde a linha e Elvis descarta a versão. Os primeiros takes de "Girl Happy" são surpreendemente diferentes da versão oficial que conhecemos. Ritmo mais lento e Elvis tentando se encontrar. No take 1 ele se perde totalmente na sincronia - chega a ser divertido. Esses takes são interessantes certamente mas não possuem pique suficiente - o que não falta na versão que foi para o disco original. Talvez por isso Elvis tenha desistido dela antes do final. O take 10 de "Puppet On A String" é ótimo. Já tinha sido lançado antes no ótimo box "Today, Tomorrow And Forever". Para quem gosta da canção é um prato cheio. "Cross My Heart And Hope To Die" ainda surge com mais três takes, sem maiores novidades. Finalmente o CD vai se encerrando com o Take 13 de "Girl Happy" que foi aproveitada em partes na master. Infelizmente nem todas as músicas da trilha tiveram takes alternativos arquivados. Algumas fitas foram simplesmente jogadas fora ou por erro ou por algum tipo de limpeza estúpida feita nos estúdios da RCA. Sinceramente, depois de ouvir tudo fiquei com pena de não haver versões alternativas de "Startin' Tonight", "Wolf Call" (queria ver a reação de Elvis ao ter que acertar essa pérola trash no estúdio!) e "Do The Clam" (outro que deve ter sido muito complicado para Presley acertar, por causa de sua falta de qualidade musical e letra estúpida). Afinal acertar a música do molusco não deve ter sido nada fácil (vamos rir para não chorar!).

FTD Girl Happy
1. Girl Happy
2. Spring Fever
3. Fort Lauderdale Chamber Of Commerce
4. Startin' Tonight
5. Wolf Call
6. Do Not Disturb
7. Cross My Heart And Hope To Die
8. The Meanest Girl In Town
9. Do The Clam
10. Puppet On A String
11. I've Got To Find My Baby
12. You'll Be Gone
13. Puppet On A String (Takes 5, 6, 7)
14. The Meanest Girl In Town (Takes 7, 8, 9)
15. Spring Fever (Take 4)
16. Do Not Disturb (Takes 24, 25, 26, 27)
17. Cross My Heart And Hope To Die (Take 6)
18. Girl Happy (Takes 1, 2, 3, 4)
19. Puppet On A String (Take 10)
20. Spring Fever (Takes 18, 19, 21)
21. The Meanest Girl In Town (Take 11)
22. Do Not Disturb (Take 35)
23. Cross My Heart And Hope To Die (Takes 9, 10, 11)
24. Girl Happy (Take 13)

Pablo Aluísio.

Elvis Presley - Crying In The Chapel / I Believe in The Man In the Sky

No meio de tantas abobrinhas que eram lançadas dentro da discografia de Elvis por essa época surgiu um single redentor (literalmente falando). Em abril de 1965 pintou nas lojas o single "Crying In The Chapel / I Believe in The Man In the Sky". No começo ninguém deu muita bola até um jornalista do New York Times escrever sobre o single em sua coluna dominical. Ele chamava a atenção para a excelente versão de Elvis para o hino gospel  "Crying In The Chapel". Os elogios eram mais do que merecidos. Com vocalização sóbria mas transportante de emoção, sentimento e fé, Elvis vinha mais uma vez provar que não importava o lixo que lhe era imposto por estúdios de cinema e gravadoras, o talento único dele ainda estava lá, vivo! Após a crítica descobrir a sua intensa qualidade musical os fãs começaram a prestigiar e assim Elvis conseguia seu primeiro sucesso nas paradas no ano.

Ele se tornou o single de Elvis de maior sucesso em 1965. Isso demonstrava a grave crise artística a que Elvis Presley passava. Foi preciso ressuscitar uma velha canção gospel gravada no começo da década para que um single dele chegasse novamente a atingir o Top 5 nos EUA e o primeiro lugar na Inglaterra. Enquanto esse single fazia sucesso, suas trilhas sonoras começavam a passar dificuldades para conseguir classificação no Top 10 da Billboard. Crying in The Chapel foi escrita por Artie Glenn em 1953 com apenas 16 anos de idade. Chegou ao primeiro lugar nas paradas R&B com o obscuro grupo Sonny Till and the Orioles. Em 1953 esta música explodiu nas paradas nas vozes de Rex Allen e June Valli. A versão de Elvis foi gravada em 1960. Não se sabe bem a razão mas a RCA Victor resolveu arquivar essa preciosidade por longos cinco anos! Vai entender a cabeça desses executivos. No lado B o single apresentava a reprise "I believe in the man in the Sky" (canção do disco "His Hand In Mine"). O resultado? Disco de ouro tanto nos EUA quanto na Inglaterra. Para quem vinha colecionado problemas em sua carreira era certamente uma excelente notícia.

Pablo Aluísio.

quarta-feira, 13 de abril de 2005

Elvis Presley - Do The Clam / You ll Be Gone

Em fevereiro de 1965 chegou nas lojas o novo single de Elvis Presley, "Do The Clam / You ll Be Gone". O lado A tentava promover inutilmente uma nova dança, "The Clam" ("O Molusco"), uma ideia sem noção de alguém na RCA que não tinha mais o que fazer. Perceba que até mesmo essa coisa de danças de modinha já estavam por fora em 1965. O Twist, a primeira de todas elas, tinha sido lançada muitos anos antes e ninguém mais estava interessado nesse tipo de bobagem. Então qual era o objetivo de colocar Elvis promovendo uma coisa boboca como essa? A gravadora investiu bastante em marketing e promoção mas foi em vão. O single vendeu poucas cópias e ficou pegando poeira nas lojas de discos, chegando no máximo a um desolador 21º lugar na parada de singles. Elvis que já não vinha conseguindo chegar no Top 10 agora tinha que lidar com mais esse vexame, ficando fora do Top 20, coisa que muitos artistas novatos conseguiam com seus primeiros singles. E ele, que havia sido o cantor número 1 dos Estados Unidos, ficava amargando posições desanimadoras nas listas dos mais vendidos. Também pudera, tentar vender uma canção convidando os ouvintes e dançarem "o Molusco" era um pouco demais não é mesmo?

Se o lado A do single era uma bobagem sem tamanho, com letra estúpida e gravação ruim, o lado B já trazia algo mais animador. "You'll Be Gone". Essa faixa não fazia parte das sessões de gravação da trilha sonora de "Girl Happy", pois tinha sido gravada em março de 1962 nas mesmas sessões que deram origem ao disco "Por Luck". Na ocasião os executivos da RCA entenderam que o álbum já tinha músicas demais então resolveram arquivar a canção para algum lançamento futuro. Três anos depois apareceu a ocasião perfeita (pelo menos na cabeça deles). A trilha de "Girl Happy" necessitava de alguma bonus song, então resolveram finalmente lançar a música, infelizmente como uma autêntica "tapa buraco" na discografia de Elvis. É uma boa canção, escrita por Elvis, Charlie Hodge e Red West, o que causa uma certa surpresa, pois o ritmo é bem ao estilo latino, com Elvis empostando a voz em grande interpretação. Apesar de sua inegável qualidade sonora foi, como todos já sabemos, desperdiçada como uma musiquinha qualquer na trilha sonora de "Girl Happy" e por isso totalmente subestimada, aliás como muitas outras músicas de Elvis que foram simplesmente jogadas em certas trilhas sem nenhum critério, ficando em pouco tempo esquecidas e perdidas dentro da bagunçada discografia do cantor nos anos 60. Uma pena.

Pablo Aluísio.