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sexta-feira, 1 de fevereiro de 2019

O Indomável

Esse é um dos últimos grandes filmes da carreira de Paul Newman. Poderíamos até dizer que foi o último em termos de grande qualidade em atuação. Ele interpreta um sujeito comum, que vive no subúrbio, que vai levando sua vida numa certa calma e tranquilidade. Quando consegue algum trabalho vai para o serviço na construção civil e quando tem algum dinheiro no bolso gasta no bar local. Na verdade seu personagem nunca quis assumir as responsabilidades da vida adulta. Tudo muda quando seu filho e seu neto chegam para uma visita. Ora, logo ele que nunca quis muita coisa com a paternidade, se ver assim logo de cara tendo que ser pai e avô ao mesmo tempo logo se torna um desafio.

É um filme importante porque mostra que Paul Newman, apesar da idade, estava em plena forma. Seu talento continuava intacto. Vale lembrar que em sua carta de despedida da profissão, quando anunciou que iria se aposentar, ele escreveu que não conseguia mais memorizar suas falhas e nem atuar bem, por causa da velhice. Uma ética de trabalho admirável. Isso porém só aconteceria alguns anos depois da realização desse filme, que repito, é um dos últimos grandes trabalhos de sua carreira memorável. Um trabalho aliás tão bom que lhe rendeu uma indicação ao Oscar! Pelo conjunto da obra deveria ter sido premiado.

O Indomável - Assim é Minha Vida (Nobody's Fool, Estados Unidos, 1994) Direção: Robert Benton / Roteiro: Robert Benton / Elenco: Paul Newman, Bruce Willis, Jessica Tandy, Melanie Griffith, Philip Seymour Hoffman, Philip Bosco / Sinopse: Baseado no romance escrito por Richard Russo, o filme conta a história de Sully (Paul Newman), um homem na terceira idade que é surpreendido com a chegada de seu filho e seu neto que deseja conhecê-lo. Agora ele terá que ser pai e avô ao mesmo tempo, algo que sempre deixou em segundo plano na sua vida. Filme indicado ao Oscar na categoria de Melhor Ator (Paul Newman) e Melhor Roteiro Adaptado (Robert Benton). Indicado ao Globo de Ouro na categoria de Melhor Ator (Paul Newman).

Pablo Aluísio.

terça-feira, 2 de janeiro de 2018

Dragão Vermelho

Resolvi rever ontem "Dragão Vermelho", o último filme da trilogia original do personagem Hannibal Lecter. Como já escrevi antes, esse ainda é o meu preferido. O interessante é que sua história é anterior a tudo o que vemos em "O Silêncio dos Inocentes". Isso fica bem claro na última cena de "Red Dragon" quando o diretor da prisão pergunta a Lecter se ele tem interesse de se encontrar com uma jovem agente do FBI. Ela mesma, a personagem de Jodie Foster. Pois bem, voltando um pouco, no começo do filme, vemos Hannibal trabalhando junto ao agente Will Graham (Edward Norton). O policial está tentando prender um assassino em série canibal (que obviamente é o próprio Hannibal!). Após descobrir sua identidade eles entram em confronto. Lecter o esfaqueia e esse consegue reagir antes de ser preso, também o atingindo.

Os anos passam e Graham se afasta do FBI, afinal ele quase foi assassinado. Tudo muda porém quando um novo assassino em série surge. Apelidado pela imprensa de "Fada dos Dentes", esse criminoso mata famílias inteiras, em chacinas terríveis. Impulsionado por sua ética profissional o agente do FBI decide voltar. Ele estuda o modos operandi desse serial killer e acaba descobrindo semelhanças com o antigo modo de agir de Lecter. Pior do que isso, ele também é um canibal que come pedaços de suas vítimas. Tentando colocar o psicopata atrás das grades o mais breve possível, antes que ele faça novas vítimas, Graham decide ir conversar novamente com Hannibal na prisão, uma reaproximação que o deixará extremamente nervoso e receoso. Assim a situação que vemos em "O Silêncio dos Inocentes" de certa forma se repete aqui. O agente do FBI e o assassino encarcerado interagindo para localizar e prender o psicótico que está solto pelas ruas.

Dentre os vários pontos positivos desse filme eu destacaria o trabalho de Ralph Fiennes. Ele interpreta o psicopata Francis Dolarhyde. Vivendo uma vida dupla, de tímido técnico que trabalha em um Zoo de dia e de matador cruel e sanguinário de noite, o sujeito vai enlouquecendo cada vez mais com o passar do enredo. Ele tem uma fixação por um desenho de Black intitulado "Dragão Vermelho e a Mulher banhada de Luz" e passa a alucinar, achando que o tal dragão da figura o está dominando, o transformando ele próprio em uma espécie de deus mitológico! Algo completamente insano. Apesar de ter tido uma classificação etária maior nos EUA, o filme não é dos mais violentos dentro dessa trilogia. Só há uma cena mais violenta quando o dragão vermelho começa a devorar vivo o jornalista Freddy Lounds (Philip Seymour Hoffman, sempre ótimo). Depois o encharca de gasolina e toca fogo! Fora isso a violência é mais intelectual, com os policiais tentando pegar o assassino, usando para isso pistas deixadas por ele mesmo nas cenas dos crimes. Somando-se o bom roteiro, a sempre interessante presença de Anthony Hopkins e o trabalho de direção de Brett Ratner, temos no final um dos melhores filmes de assassinos seriais do cinema mais recente.

Dragão Vermelho (Red Dragon, Estados Unidos, 2002) Direção: Brett Ratner / Roteiro: Ted Tally, baseado no livro escrito por Thomas Harris / Elenco: Anthony Hopkins, Edward Norton, Ralph Fiennes, Harvey Keitel, Philip Seymour Hoffman, Mary-Louise Parker / Sinopse: Após ser preso o psicopata canibal Dr. Hannibal Lecter (Anthony Hopkins) passa a ajudar o agente do FBI Will Graham (Edward Norton) em seus casos de homicídio. Há um novo serial killer agindo nas ruas de Chicago e sua captura passa a ser algo urgente, por causa dos crimes horrendos que comete. Filme premiado pelo Fangoria Chainsaw Awards na categoria de Melhor Ator Coadjuvante (Fiennes).

Pablo Aluísio.

quinta-feira, 13 de julho de 2017

O Último Concerto

Título no Brasil: O Último Concerto
Título Original: A Late Quartet
Ano de Produção: 2012
País: Estados Unidos
Estúdio: RKO Pictures
Direção: Yaron Zilberman
Roteiro: Seth Grossman (screenplay), Yaron Zilberman
Elenco: Philip Seymour Hoffman, Christopher Walken, Catherine Keener, Imogen Poots, Mark Ivanir, Liraz Charhi

Sinopse:
Um quarteto de música clássica entra em crise quando um dos membros, Peter Mitchell (Christopher Walken), é diagnosticado com Mal de Parkinson. Ele quer deixar o grupo, o que acaba levando todos a uma série de brigas, mágoas e desentendimentos que tinham ficado escondidos por anos.

Comentários:
Bom filme. O cenário é o mundo erudito da música clássica. Um quarteto de câmara vai se esfacelando após anos tocando juntos. São bem sucedidos no meio, mas os conflitos vão se mostrando cada vez mais insuperáveis. Robert (Hoffman) e Juliette (Keener) são casados. O que um dia foi paixão, se acabou. Ela não quer mais continuar com ele, que procura se consolar nos braços de uma dançarina espanhola de música flamenca. Assim que Juliette descobre a traição tudo desmorona. O pior é que eles precisam superar isso, pois trabalham juntos, no quarteto de cordas. Para piorar o clima de tensão, o veterano Daniel (Mark Ivanir), que toca o primeiro violino, se envolve com a filha deles, uma jovem estudante de violino. Claro que isso acaba criando muitas brigas, algumas inclusive violentas. E para estragar o que já anda mais do que ruim, Peter (Walken), o grande elo de ligação entre todos os músicos, acaba sendo diagnosticado com Mal de Parkinson, o que o impedirá de continuar tocando dentro de um meio tão concorrido e elitista, que não aceita falhas no palco. Esse roteiro revela que mesmo nos meios musicais mais eruditos ainda há muitos problemas de relacionamento para se manter um grupo unido, tal como se fosse uma bandinha de rock qualquer. Além da excelente trilha sonora (com destaque para as peças de Ludwig van Beethoven que ouvimos durante todo o filme) o grande destaque vai para o elenco. Todos estão maravilhosamente inspirados, com Philip Seymour Hoffman e Christopher Walken "duelando" muito bem em cena. Walken inclusive, sempre tão lembrado pelos exageros e maneirismos, finalmente se contém. É uma pena que Hoffman tenha falecido tão jovem ainda, vítima de uma overdose de drogas. Ao se assistir filmes como esse percebemos claramente como sua ausência faz muita falta no cinema de hoje em dia.

Pablo Aluísio.

sábado, 11 de junho de 2016

A Família Savage

Título no Brasil: A Família Savage
Título Original: The Savages
Ano de Produção: 2007
País: Estados Unidos
Estúdio: Fox Searchlight Pictures
Direção: Tamara Jenkins
Roteiro: Tamara Jenkins
Elenco: Laura Linney, Philip Seymour Hoffman, Philip Bosco
  
Sinopse:
Wendy (Laura Linney) e Jon (Philip Seymour Hoffman) são dois irmãos que precisam lidar com uma situação mais do que complicada. Seu velho pai está senil, praticamente demente, e eles precisam tomar uma decisão sobre interná-lo ou não em um asilo. Como era de se esperar o problema desperta velhos traumas, antigas lembranças amargas, que só faz tornar tudo ainda mais sofrido e amargo. Filme indicado ao Oscar na categoria de Melhor Atriz (Laura Linney) e Melhor Roteiro Original (Tamara Jenkins).

Comentários:
É realmente algo a se lamentar bastante a morte precoce do ator Philip Seymour Hoffman. Eu sempre o considerei um dos mais talentosos de sua geração. Ele faleceu em 2014, vítima de uma overdose de drogas. Tudo muito trágico. Uma boa oportunidade agora de rever seu trabalho vem nesse excelente drama familiar "The Savages". O roteiro com toques autobiográficos da diretora e roteirista Tamara Jenkins mostra dois irmãos precisando solucionar o terrível problema de como lidar com um pai com problemas de demência, após a morte de sua segunda esposa. Eles tiveram uma educação distante e até mesmo negligente por parte dele e agora precisam tomar a melhor decisão sobre ele, como por exemplo, o internar em um asilo de velhos. O personagem de Hoffman é a de um sujeito torturado, com seus próprios problemas pessoais, pois não consegue nunca terminar o livro que seria o mais importante de sua vida. Sua irmã Wendy não é melhor resolvida, cheia de traumas da infância e adolescência. Ao ter que lidar com seu pai tudo parece voltar, inclusive os anos de um passado bem distante. É um excelente drama, também muito triste por mostrar uma realidade que atinge muitas famílias. Assim se você se identifica de alguma forma com essa estória não deixe de assistir. Provavelmente aprenderá uma bela lição de vida.

Pablo Aluísio.

sexta-feira, 11 de dezembro de 2015

Jogos Vorazes: A Esperança - O Final

O texto contém spoiler. Assim se você ainda não assistiu ao filme aconselho que não siga lendo as linhas a seguir. Esse é o último filme da franquia "The Hunger Games" e desde já me pareceu ser também o melhor. A trama é bem mais objetiva, segue uma direção mais determinada e a conclusão de tudo me soou muito coerente. No começo "Jogos Vorazes" não me agradou. O primeiro filme é bem excessivo, kitsch e sem muita originalidade. A sorte é que esse é tipicamente o caso de franquia que vai melhorando com o passar do tempo, com o surgimento de novos filmes. O ápice dessa saga, tanto em termos de conclusão da história como em qualidade, acontece justamente aqui. Como eu escrevi a trama é simples e direta: os rebeldes finalmente chegam para conquistar a Capital Panem. Katniss Everdeen (Jennifer Lawrence) ainda é vista como um símbolo, uma imagem para inspirar as tropas rebeldes, mas ela quer mais do que ser apenas uma garota propaganda da causa. Ela quer ir para o front, enfrentar o inimigo. Contrariando ordens superiores e agindo de acordo com sua própria vontade ela segue em frente. Em pouco tempo se une às forças que vão invadir a Capital. No fundo o que ela mais deseja é encontrar o Presidente Snow (Donald Sutherland) para um acerto de contas final. Como era de se esperar as melhores cenas acontecem justamente durante essa invasão. O grupo de Everdeen precisa avançar pelas ruas da capital lidando com várias armadilhas dentro da cidade, algumas bem boladas que proporcionam ótimas sequências de efeitos especiais (a produção, como não poderia deixar de ser, é das melhores). Entre as cenas que se destacam há uma em particular que eleva bastante o nível do filme, justamente quando Katniss encontra um grupo de criaturas que os atacam no subsolo da cidade. Cheguei até mesmo a me lembrar vagamente dos monstros vampiros de "Blade".

Depois o grupo avança e finalmente chega nas portas da mansão do Presidente Snow. Os rebeldes surgem disfarçados de refugiados (embora não proposital, essa é uma interessante referência ao momento atual vivido na Europa). Uma vez lá acontece o massacre de inocentes que irá determinar todo o destino dos rebeldes e da tirania de Snow. Aqui há uma reviravolta interessante que vale pela franquia como um todo. Embora "Jogos Vorazes" seja um produto nitidamente adolescente aqui a autora Suzanne Collins teve um ótimo momento de inspiração ao colocar algo que é mais corriqueiro do que se pensa (e que, surpresa, vale como alegoria política até mesmo no que acontece em nosso país atualmente). Uma vez assumindo o poder a líder rebelde Alma Coin (Julianne Moore), portadora de tantas esperanças por mudanças por parte das populações oprimidas dos distritos, começa a agir justamente como o deposto presidente Snow. Ela ignora conselhos, promovendo execuções sumárias e propõe até mesmo a volta dos "Jogos Vorazes", um absurdo completo. A oposição ao colocar as mãos no poder muitas vezes acaba agindo mais cruelmente do que a própria tirania que ajudou a combater e derrubar! Sabendo muito bem disso o clímax acontece na praça central quando Katniss tem a oportunidade de executar o próprio presidente Snow ou até mesmo a agora empossada nova presidente Coin, que finalmente mostra a que veio, revelando suas verdadeiras intenções. Tudo se resume em escolher o alvo certo! É a melhor cena de toda a franquia e a mais representativa também. Traz uma bela lição de moral, para não esquecer. Por fim, nem a última sequência, bastante reforçada com pieguice sentimental, consegue estragar o que aconteceu momentos antes. Então é isso. O filme não foi o sucesso espetacular de bilheteria que o estúdio esperava, mas tampouco pode ser considerado como uma decepção ou algo assim. É de fato o melhor filme da franquia, fechando com chave de ouro uma série de filmes marcados pela irregularidade ao longo de todos esses anos.

Jogos Vorazes: A Esperança - O Final (The Hunger Games: Mockingjay - Part 2, Estados Unidos, 2015) Direção: Francis Lawrence / Roteiro: Peter Craig, Danny Strong, baseados na obra de Suzanne Collins / Elenco: Jennifer Lawrence, Donald Sutherland, Julianne Moore, Philip Seymour Hoffman, Woody Harrelson, Josh Hutcherson, Liam Hemsworth / Sinopse: Os rebeldes dos distritos que lutam contra a tirania do Presidente Snow (Sutherland) finalmente conseguem entrar na capital Panem. A luta promete ser rua a rua, casa a casa, pelo controle do poder. Filme indicado ao prêmio da Broadcast Film Critics Association Awards na categoria de Melhor Atriz (Lawrence).

Pablo Aluísio. 

sexta-feira, 6 de novembro de 2015

Jogos Vorazes: A Esperança - Parte 1

Como aconteceu com "Harry Potter" e "Crepúsculo" os produtores resolveram dividir em duas partes a conclusão de "Jogos Vorazes". Ora, se é possível lucrar duas vezes com uma mesma história não haveria mesmo outro caminho a seguir. Money Talks, como gostam de dizer os americanos. Então vamos lá de novo! Nesse filme a heroína Katniss Everdeen (Jennifer Lawrence) é escolhida para servir como símbolo da luta da rebelião dos distritos oprimidos contra a Capital. A situação é de guerra civil. Os distritos estão em escombros após pesados bombardeiros do poder central. No meio das ruínas Katniss é levada para estrelar uma série de vídeos com o objetivo de levantar a moral dos rebeldes. Para sua surpresa seu amado Peeta Mellark (Josh Hutcherson) começa a fazer a mesma coisa, só que do lado inimigo. A partir daí começa uma verdadeira guerra de propaganda de ambos os lados, o que acaba se revelando também uma tortura psicológica para Katniss porque afinal de contas ela nunca deixou de amar Peeta, mesmo agora, quando ele definitivamente está agindo de um modo nada normal, como se realmente estivesse abraçando a causa dos opressores. Para a líder rebelde Alma Coin (Julianne Moore) porém tudo é válido para tirar do poder o tirânico e ditador Presidente Snow (Donald Sutherland), agora mais cruel e violento do que nunca por causa das lutas envolvendo a população civil dos distritos. Mesmo que Katniss saia machucada emocionalmente de tudo o que está acontecendo, sua participação se torna vital no esforço de guerra. Enquanto um lado tenta destruir o outro, quem acaba sofrendo mesmo são as pessoas desarmadas e indefesas. Muitas delas ainda conseguem lutar  apenas com suas próprias mãos, mas isso acaba tornando tudo ainda mais sangrento e destrutivo.

Como era de esperar essa primeira parte de "Jogos Vorazes: A Esperança" é também bem inconclusiva. Praticamente nenhum evento tem um desfecho, ficando tudo para o fim da saga. Apesar disso há coisas interessantes no filme. A direção de arte, bem diferente dos exageros dos filmes anteriores, deixou tudo mais clean, resultando em um visual mais equilibrado e menos agressivo. Uma das coisas que me incomodou bastante nos dois primeiros filmes foi exatamente o exagero nos figurinos. cabelos e nos cenários. Tudo era de uma breguice futurista difícil de engolir. Agora tudo surge mais sóbrio. Os cenários mais lembram países como a Síria, onde cidades inteiras acabam se transformando em escombros e ruínas de prédios que foram ao chão por causa das bombas. A desilusão impera e não apenas nas imagens, mas também no psicológico da protagonista. Katniss está muito vulnerável, se revelando corajosa e firme praticamente apenas nos vídeos de propaganda. Por dentro ela parece desmoronar. Ainda bem que Jennifer Lawrence é uma boa atriz para transmitir esse furacão de emoções ao espectador, caso contrário tudo passaria despercebido. Infelizmente o filme também vai marcando o adeus do grande ator Philip Seymour Hoffman que morreu em 2014 vítima de uma overdose. Seu trabalho nem aparece muito dentro da trama, mas ele era tão talentoso que conseguia se sobressair até mesmo em personagens mais secundários como esse. Os produtores lhe prestaram uma pequena homenagem nos letreiros finais. Assim, no geral, o que temos aqui é mais uma produção sanduíche que apenas prepara tudo para a conclusão do filme seguinte. Por essa razão não espere por nada muito marcante. É um bom filme, bem produzido, com tudo nos lugares, porém realmente apresenta esse pequenino problema.

Jogos Vorazes: A Esperança - Parte 1 (The Hunger Games: Mockingjay - Part 1, Estados Unidos, 2014) Direção: Francis Lawrence / Roteiro:  Peter Craig, Danny Strong, baseados na obra "Mockingjay" de Suzanne Collins / Elenco: Jennifer Lawrence, Donald Sutherland, Philip Seymour Hoffman, Julianne Moore, Josh Hutcherson, Liam Hemsworth, Elizabeth Banks, Stanley Tucci / Sinopse: A jovem Katniss Everdeen (Jennifer Lawrence) se torna um símbolo da luta contra a opressão e tirania da Capital contra todos os distritos. A líder rebelde Alma Coin (Julianne Moore) resolve transformá-la numa espécie de garota propaganda da causa dos revoltosos. Filme indicado ao Globo de Ouro na categoria de Melhor Canção Original ("Yellow Flicker Beat" de Joel Little e Lorde). Vencedor do MTV Movie Awards nas categorias de Melhor sequência musical e Melhor Figurino.

Pablo Aluísio. 

quinta-feira, 6 de agosto de 2015

Cold Mountain

"Cold Moutain" narra a estória de duas mulheres que, sozinhas, terão que enfrentar o desafio de sobreviver em um dos períodos mais conturbados da história norte-americana. A Guerra Civil levou todos os homens para o campo de batalha. Para trás ficaram apenas as mulheres, crianças e idosos, tentando levar em frente suas propriedades rurais da melhor forma possível. Ada (Nicole Kidman) é uma dessas mulheres. Ao lado de Ruby (Renée Zellweger) ela tenta tocar a fazenda deixada por seu pai. Não é algo fácil ou simples. Como se não bastassem os efeitos danosos da guerra elas ainda tem que lidar com o clima hostil e a falta de uma melhor infra-estrutura na região, o que torna tudo mais complicado. Ada tem esperanças que seu namorado Inman (Jude Law) volte vivo do front mas tudo se torna incerteza e apreensão. Enquanto o país se destroça a pequena vila de Cold Mountain tenta sobreviver ao caos em volta. "Cold Mountain" é um bom filme mas há alguns aspectos importantes a se considerar. Há um certo artificialismo na condução do roteiro. As situações em cena tentam imitar os grandes épicos clássicos do passado mas o resultado pode ser definido como irregular.

O projeto original tencionava ser estrelado por Tom Cruise e Nicole Kidman. Como eles tinham muitos problemas pessoais envolvidos, Cruise desistiu do filme, ficando apenas Nicole que sinceramente acreditava no bom roteiro. Seu objetivo era voltar ao topo, quem sabe até vencer um Oscar, pois seu papel era suficientemente forte e complexo para tal. Curiosamente ela acabou sendo esnobada pela Academia que resolveu premiar Renée Zellweger com o Oscar de Melhor Atriz Coadjuvante. Uma premiação controvertida pois em nenhum momento gostei plenamente de seu trabalho. O fato é que ela definitivamente confundiu um pouco o tipo de produção que participava. Sua personagem, a irascível Ruby, caiu na caricatura. Renée Zellweger surge exagerada em cena, com muitas caras e bocas e um sotaque completamente exagerado, beirando a fanfarronice. Quando ela foi premiada não fiquei menos do que surpreso. Em minha opinião Nicole Kidman está muito melhor. Ela certamente continua com aquela classe que lhe é inerente. Enquanto sua partner exagera para aparecer ela surge com fina delicadeza. Já Jude Law é o tipo de ator que nunca me agradou completamente. No saldo final "Cold Mountain" é sim um bom filme, que diverte mas que ficou no meio do caminho para se tornar uma obra importante. Enfim, entre mortos e feridos "Cold Mountain" apesar de não ser brilhante mantém um certo status. Vale a pena conhecer.

Cold Mountain (Cold Mountain, Estados Unidos, 2003) Direção: Anthony Minghella / Roteiro: Anthony Minghella / Elenco: Nicole Kidman, Renée Zellweger, Jude Law, Natalie Portman, Philip Seymour Hoffman, Giovanni Ribisi, Ray Winstone./ Sinopse: Durante a Guerra Civil duas mulheres tentam sobreviver ao caos reinante. Tentando levar a propriedade de seu pai em frente, a bela e jovem Ada (Nicole Kidman) e sua parceira Ruby (Renée Zellwegger) enfrentarão muitos desafios juntas. Vencedor do Oscar de Melhor Atriz Coadjuvante (Renée Zellwegger, contando ainda com indicações para Melhor Ator (Jude Law), Fotografia, Edição, Trilha Sonora e Melhor Canção Original ("Scarlet Tide" por Elvis Costello e "You Will Be My Ain True Love" por Sting);

Pablo Aluísio.

sexta-feira, 7 de novembro de 2014

O Homem Mais Procurado

Título no Brasil: O Homem Mais Procurado
Título Original: A Most Wanted Man
Ano de Produção: 2014
País: Estados Unidos, Inglaterra, Alemanha
Estúdio: Ink Factory, Potboiler Productions
Direção: Anton Corbijn
Roteiro: Andrew Bovell, baseado na obra de John le Carré
Elenco: Philip Seymour Hoffman, Rachel McAdams, Willem Dafoe, Robin Wright, Daniel Brühl, Grigoriy Dobrygin 

Sinopse:
Günther Bachmann (Philip Seymour Hoffman) é um agente da inteligência alemã especializado em rastrear potenciais terroristas em seu país. Quando um checheno com ligações a grupos terroristas chega em Hamburgo ele começa a seguir todos os seus passos. Günther, ao contrário de seus superiores, deseja descobrir todas as células envolvidas com o sujeito antes de o prender e para isso arma toda uma armadilha para descobrir todos os elos que ligam esse grupo internacional islâmico.

Comentários:
Mais um brilhante trabalho de composição e interpretação do ator Philip Seymour Hoffman. Esse aliás foi seu penúltimo filme. Seu personagem é um agente que promove ações anti-terroristas em solo alemão. Ao contrário de um sofisticado e elegante James Bond, ele é praticamente um burocrata da espionagem, um sujeito estressado, acima do peso, que acende um cigarro atrás do outro, sempre nervoso e tenso. Em compensação é inteligente e muito eficaz. Nada imediatista, ele procura descobrir todas as ligações terroristas antes de promover prisões, isso o leva a estar sempre em constante tensão e atrito com seus superiores e com a CIA americana. Já Rachel McAdams interpreta uma advogada liberal que trabalha para um grupo de apoio a refugiados. Não tarda e ela acaba se envolvendo na situação, prestando assistência a Issa Karpov (Grigoriy Dobrygin), justamente o checheno que Günther Bachmann quer colocar as suas mãos. Um filme muito bom, que tem pedigree em termos de conteúdo pois a trama foi toda baseada em um livro escrito pelo genial John le Carré. Como sempre acontece nos textos desse autor o espectador já pode esperar de antemão ligações sombrias, reviravoltas e traições no submundo da espionagem, algo mais do que comum em seus famosos livros. O único porém a se relatar talvez seja a duração que ficou um pouquinha excessiva. Um corte mais enxuto cairia muito bem. Mesmo assim não se engane, pois esse é de fato um filme muito bom, bem acima de média.

Pablo Aluísio.

quarta-feira, 8 de outubro de 2014

O Mistério de God's Pocket

Título no Brasil: O Mistério de God's Pocket
Título Original: God's Pocket
Ano de Produção: 2014
País: Estados Unidos
Estúdio: Park Pictures
Direção: John Slattery
Roteiro: Peter Dexter, Alex Metcalf
Elenco: Philip Seymour Hoffman, Christina Hendricks, Richard Jenkins, John Turturro

Sinopse:
Mickey Scarpato (Philip Seymour Hoffman) vive em "God's Pocket", um bairro conhecido por ser uma comunidade de trabalhadores de baixa renda. Casado com a bela Jeanie (Christina Hendricks), ele vai levando sua vida no mercado de carnes da região e em pequenos golpes dados ao lado de seu amigo Arthur 'Bird' Capezio (John Turturro). Quando seu enteado morre em um suposto acidente no trabalho ele precisa arranjar da noite para o dia o dinheiro necessário para seu funeral, algo que não vai ser nada fácil. Filme indicado ao prêmio de Melhor Filme - Drama no Sundance Film Festival.

Comentários:
Esse foi o primeiro filme a ser lançado após a morte do ator Philip Seymour Hoffman. É uma pequena obra, muito talentosa, com ótimo argumento e personagens bem cativantes. O foco do roteiro é direcionado para a chamada classe trabalhadora, o homem comum que mora em bairros de periferia das grandes cidades. A vizinhança aqui enfocada é a de God's Pocket, onde cada um vai tentando levar sua vida em frente, dentro de suas possibilidades. O interessante é que a maioria dos personagens não são bandidos ou marginais, porém vivem numa tênue linha entre a honestidade e a criminalidade. Como se trata de uma comunidade pobre não há qualquer receio em de vez em quando se envolver em alguma atividade ilícita. Como o próprio texto informa na abertura aquele é um lugar onde algum morador, pelo menos alguma vez em sua vida, bateu em alguém, ou roubou alguma coisa pela vizinhança. Mais uma vez estamos diante de um daqueles filmes onde há um clima de melancolia e completa falta de esperança no ar. Aquelas pessoas acordam pela manhã e tentam sobreviver mais um dia, sem muitas perspectivas de que o futuro lhes reservará algo melhor. 

Há também um leve toque de humor negro, principalmente envolvendo o corpo do enteado morto de Mickey, porém não espere por aquele tipo de situação cômica que fará você rolar no chão de rir, pelo contrário, o sorriso certamente sairá bem nervoso. No elenco temos três destaques. O primeiro é obviamente a presença de Philip Seymour Hoffman que dá vida ao personagem Mickey Scarpato. Um sujeito casado com uma bela mulher, mas que leva uma vida dura, onde a sorte parece nunca lhe sorrir. Ao seu lado Christina Hendricks (de "Mad Men") interpreta uma dona de casa arrasada pela morte de seu filho, que começa a ter dúvidas sobre seu casamento e a vidinha que anda levando. Por fim completando o triângulo amoroso temos Richard Shellburn (Richard Jenkins), um decadente jornalista, que passa seus dias completamente bêbado, cuja inspiração literária há muito o abandonou. Sem grandes arroubos de inspiração acaba escrevendo sobre a vida nada extraordinária dos moradores de God's Pocket, algo que lhe custará bem caro depois. Em suma, temos aqui um pequeno grande filme sobre a vida ordinária e cotidiana desses personagens, tudo realizado com muito bom gosto e talento.

Pablo Aluísio.

quarta-feira, 1 de outubro de 2014

Sinédoque, Nova York

Título no Brasil: Sinédoque, Nova York
Título Original: Synecdoche, New York
Ano de Produção: 2008
País: Estados Unidos
Estúdio: Sony Pictures Classics
Direção: Charlie Kaufman
Roteiro: Charlie Kaufman
Elenco: Philip Seymour Hoffman, Samantha Morton, Michelle Williams

Sinopse:
Caden Cotard (Philip Seymour Hoffman) é um diretor teatral de Nova Iorque que começa a trabalhar em uma peça nova, que ele pretende ser a mais inovadora de sua carreira. O problema é que sua vida pessoal vive um período completamente caótico e não demora para que Caden comece a misturar aspectos de sua existência real com o texto de sua nova encenação. Filme indicado à Palma de Ouro em Cannes.

Comentários:
Passa longe de ser um filme de fácil assimilação. Na verdade é o extremo oposto disso. Isso porém não é complicado de entender pois basta ver o nome do cineasta Charlie Kaufman nos créditos para antecipar o que virá pela frente. Esqueça coisas como roteiro linear, enredo objetivo, com sentido e foco racional nos atos dos principais personagens. "Synecdoche, New York" passa bem à margem de tudo isso. Se fosse definir tudo diria que é uma obra sensorial e não racional, que foge dos padrões e convenções do cinemão mais comercial americano. É um cult moderno, um festival de momentos, que nem sempre se conectam entre si. Para maravilha do cinéfilo em busca de algo inovador, o elenco é liderado pelo fantástico Philip Seymour Hoffman em uma de suas atuações mais corajosas e viscerais, algo mesmo monstruoso em todos os sentidos. Ele se entrega completamente ao seu papel e mostra no final das contas porque foi de fato um dos mais talentosos atores da história do teatro e do cinema. Uma cereja de bolo recomendado apenas para pessoas inteligentes e em busca de algo diferente na sétima arte.

Pablo Aluísio.

sábado, 5 de julho de 2014

Missão Impossível 3

Título no Brasil: Missão Impossível 3
Título Original: Mission Impossible III
Ano de Produção: 2006
País: Estados Unidos
Estúdio: Paramount Pictures
Direção: J.J. Abrams
Roteiro: Alex Kurtzman, Roberto Orci,
Elenco: Tom Cruise, Philip Seymour Hoffman, Michelle Monaghan, Jonathan Rhys Meyers, Keri Russell, Laurence Fishburne, Ving Rhames

Sinopse:
O agente Ethan Hunt (Tom Cruise) decide abandonar o trabalho de campo para apenas treinar novos agentes. Nessa nova fase de sua vida conhece Julia (Michelle Monaghan) a quem pretende pedir em casamento para levar uma vida normal ao seu lado. Seus planos porém vão por água abaixo quando surge no horizonte um violento traficante de armas que está disposto a impor sua visão do crime à sociedade.

Comentários:
Esse foi o filme de rompimento de Tom Cruise com a Paramount Pictures. Desde os tempos de "Top Gun" o ator vinha mantendo uma parceria de sucesso com o estúdio. Depois de um complicado processo de divórcio ele rompeu com seu antigo empresário e após o lançamento desse "Mission Impossible III" também rompeu com a Paramount. Era o fim de uma era. O filme havia custado 150 milhões de dólares, fez boa bilheteria mas mesmo assim os executivos entenderam que o retorno financeiro foi bem abaixo das expectativas. Em minha opinião a franquia "Missão Impossível" só sobrevive por causa das espetaculares cenas de ação, cada uma tentando superar a anterior em limites de exageros. Em termos de argumento é algo muito antigo, ultrapassado, dos tempos da guerra fria e que nos dias atuais faz pouco sentido. Cruise que sempre foi fã da série original apostou forte nessa linha de filmes ainda mais depois que praticamente desistiu de sua jornada de ganhar um Oscar de Melhor Ator, prêmio que ele parece admitir jamais vencerá. Depois de ser indicado por três vezes ao Oscar (por "Magnólia", "Nascido em 4 de Julho" e "Jerry Maguire") o ator parece mesmo ter desistido. O forte dessa terceira parte da franquia é o elenco de apoio, que conta com nomes do quilate de Philip Seymour Hoffman e Jonathan Rhys Meyers. No meio de tantas explosões eles certamente mantém o interesse. Vale a pena inclusive rever o filme por causa justamente de suas participações.

Pablo Aluísio.

sábado, 15 de março de 2014

Jogos Vorazes - Em Chamas

Título no Brasil: Jogos Vorazes - Em Chamas
Título Original: The Hunger Games - Catching Fire
Ano de Produção: 2013
País: Estados Unidos
Estúdio: Lionsgate
Direção: Francis Lawrence
Roteiro: Simon Beaufoy, Michael Arndt
Elenco: Jennifer Lawrence, Philip Seymour Hoffman, Josh Hutcherson, Liam Hemsworth, Woody Harrelson, Donald Sutherland, Stanley Tucci

Sinopse:
Após os acontecimentos dos Jogos Vorazes do filme anterior a jovem Katniss Everdeen (Jennifer Lawrence) se torna um ícone dos sentimentos que norteiam os grupos que desejam uma revolução dentro dos distritos. Isso é muito preocupante para o regime que resolve levar a garota em uma turnê de propaganda pelos distritos prestes a se rebelarem. O tiro porém sai pela culatra. Desesperados para se livrarem de Katniss, o presidente Snow (Donald Sutherland) resolve reunir os campeões dos últimos Jogos Vorazes para que lutem entre si naquele que promete ser o maior programa  de sua história.

Comentários:
Para falar a verdade gostei mais dessa sequência do que do primeiro filme. Passada a necessidade de apresentar um novo universo aos cinéfilos a trama acaba fluindo muito melhor, sem aquela preocupação em explicar tudo nos mínimos detalhes para que os que não leram os livros possam entender do que se trata. Esse "Jogos Vorazes - Em Chamas" tem três aspectos que achei superiores ao primeiro filme. O primeiro deles foi a maior preocupação em mostrar os contextos políticos e sociais que rondam aquela sociedade. Há uma clara tentativa em mostrar isso em detrimento dos jogos propriamente ditos. Para se ter uma idéia em um filme que tem 140 minutos de duração, pelo menos mais da metade foi dedicada apenas ao clima de tensão e rebelião que rondam os distritos. O segundo ponto a se elogiar foi o maior equilíbrio alcançado dentro da produção. No primeiro filme tínhamos um certo exagero nos figurinos e na direção de arte, que soava muito kitsch - já aqui tudo está bem mais contido, demonstrando um melhor bom gosto nesses aspectos puramente técnicos.

Por fim, o mais importante: esse filme conta no elenco com o magistral Philip Seymour Hoffman em um de seus últimos trabalhos no cinema. Ele interpreta o personagem Plutarch Heavensbee. Dentro desse mundo de "Jogos Vorazes" todos concordam que ele é uma das peças mais importantes do quebra-cabeças que move toda a trama da série. No começo isso é bem fácil de entender. Inicialmente ele é um sujeito completamente comprometido com o sucesso dos Jogos transmitidos pela TV mas logo depois descobrimos que nem tudo é o aparenta ser. Com a trágica morte de Seymour não sei como a produtora levará seu personagem daqui em diante. A única coisa que sei é que não será nada fácil arranjar um ator à altura de Philip Seymour Hoffman que era realmente um talento fantástico, único. "Jogos Vorazes - Em Chamas" assim fica bem acima do que era esperado. Um blockbuster bem realizado que cumpre aquilo que promete muito bem: diversão pipoca sem culpas!

Pablo Aluísio.

sábado, 8 de fevereiro de 2014

A Família Savage

Título no Brasil: A Família Savage
Título Original: The Savages
Ano de Produção: 2007
País: Estados Unidos
Estúdio: Fox Searchlight Pictures
Direção: Tamara Jenkins
Roteiro: Tamara Jenkins
Elenco: Laura Linney, Philip Seymour Hoffman, Philip Bosco, Peter Friedman

Sinopse: 
Jon Savage (Philip Seymour Hoffman) e Wendy Savage (Laura Linney) são irmãos. Sua família nunca foi muito unida ou amorosa. Agora adultos cada um segue sua vida. Wendy tem uma vida amorosa complicada, morando em Nova Iorque, ela é apaixonada por um homem casado. Já Jon também tem seus próprios conflitos. Sua namorada é imigrante e está prestes a perder seu visto de permanência nos Estados Unidos. Cada vive sua vida e mal sabe o que está acontecendo com o outro mas de uma hora para outra precisam se unir novamente para decidir o destino de seu pai, idoso, que está apresentando sinais de demência. O encontro depois de tantos anos acaba em um violento acerto de contas entre todos os parentes.

Comentários:
Excelente drama familiar que expõe o talento do ator Philip Seymour Hoffman. Esse é um filme de atuações precisas, diálogos muito bem construídos, fruto do excelente texto da roteirista e diretora Tamara Jenkins que inclusive confessou em entrevistas que parte do enredo foi baseado em suas próprias experiências pessoais. No geral temos uma bela obra cinematográfica, um belo filme, feito de pequenos momentos em que cada espectador acaba se identificando de uma forma ou outra com os personagens. A velhice, as pequenas diferenças entre irmãos, que crescem com os anos e tomam proporções imensas e os problemas emocionais que vão se agravando com o passar do tempo, são temas caros a essa produção. O clima indie e ao mesmo tempo opressor do meio oeste americano completam um quadro perfeito de um filme que fica em nossa cabeça mesmo após muito tempo de termos assistido. Considero um dos melhores dramas familiares já realizados. O roteiro, muito bem escrito, que mostra irmão e uma irmã tentando reconstruir os cacos de uma história familiar muito conturbada e complicada se revela um primor. Revirando o passado eles acabam encontrando a si mesmos. Philip Seymour Hoffman está maravilhoso como o irmão que não consegue lidar muito bem com seu passado. Um filme que não teve a repercussão merecida e que precisa ser redescoberto pelos fãs desse grande ator. 

Pablo Aluísio.

segunda-feira, 3 de fevereiro de 2014

10 Filmes de Philip Seymour Hoffman que você não pode deixar de assistir!

A morte precoce do ator Philip Seymour Hoffman pegou o mundo do cinema de surpresa. Ao longo de três décadas de carreira o ator participou de 63 filmes. A lista abaixo não tem pretensão nenhuma de ser a que espelha o que de melhor foi feito por Seymour mas sim retratar aspectos diferentes de seu trabalho no cinema americano. Filmes como "Jogos Vorazes: Em Chamas" passam longe de figurar entre os melhores de sua filmografia mas foi incluído para dar uma ideia do lado mais comercial da carreira do ator. Assim vamos dar uma rápida olhada no que ele fez de mais marcante em sua trajetória artística no mundo do cinema.

1. Capote (Capote, EUA, 2005) Direção: Bennett Miller / Elenco: Philip Seymour Hoffman, Catherine Keener, Clifton Collins Jr., Chris Cooper, Bruce Greenwood / Comentários: Provavelmente o filme pelo qual Philip Seymour Hoffman será sempre lembrado. Sua interpretação é não menos do que genial, conseguindo dar vida ao personagem principal, um dos mais conhecidos escritores e jornalistas americanos, sem nunca cair na caricatura. Uma das grandes atuações do cinema dos últimos vinte anos.

2. Sinédoque, Nova York (Synecdoche, New York, EUA, 2008) Direção: Charlie Kaufman / Elenco: Philip Seymour Hoffman, Samantha Morton, Michelle Williams / Comentários: Não é uma obra fácil mas certamente é a maior declaração de amor de Philip Seymour Hoffman a uma de suas grandes paixões, o teatro. Um brilhante exercício de metalinguagem que mostra os problemas de um talentoso diretor teatral tentando montar uma peça sobre sua cidade mais amada, Nova York. Dirigido pelo talentoso Charlie Kaufman, o filme era um dos preferidos de Seymour que não cansava de elogiar a produção. Essencial para entender o lado mais artístico da carreira de Seymour nos palcos de sua mais amada cidade.

3. A Família Savage (The Savages, EUA, 2007) Direção: Tamara Jenkins / Elenco: Laura Linney, Philip Seymour Hoffman, Philip Bosco / Comentários: Um dos melhores dramas familiares já realizados. Um irmão e uma irmã tenta reconstruir os cacos de uma história familiar muito conturbada e complicada. Revirando o passado eles acabam encontrando a si mesmos. Philip Seymour Hoffman está maravilhoso como o irmão que não consegue lidar muito bem com seu passado. Um filme que não teve a repercussão merecida e que precisa ser redescoberto pelos fãs desse grande ator. 
                 
4. Dúvida (Doubt, EUA, 2008) Direção: John Patrick Shanley / Elenco: Meryl Streep, Philip Seymour Hoffman, Amy Adams / Comentários: Uma excelente visão dos bastidores internos da Igreja Católica e seus problemas. Philip Seymour Hoffman interpreta um padre modernista, com visões liberais, que bate de frente com uma madre superiora austera e conservadora interpretada pela sempre genial Meryl Streep. Para combater as ideias do novo padre a irmã acaba descobrindo problemas em seu passado envolvendo acusações de pedofilia. Verdade ou apenas rumores sem fundamento? Fique na dúvida mas não deixe de assistir a esse grande filme. Seu trabalho aqui lhe valeu mais uma indicação ao Oscar, também muito merecida.

5. Magnólia (Magnolia, EUA,1999) Direção: Paul Thomas Anderson / Elenco: Tom Cruise, Jason Robards, Julianne Moore, Philip Seymour Hoffman / Comentários: Em San Fernando Valley um grupo de moradores tenta reecontrar o caminho da felicidade e do amor enquanto acontecimentos bizarros ocorrem ao redor. Filme que marcou bastante por causa da ousada e pouco comum visão do cineasta Paul Thomas Anderson. Seymour surge na pele do personagem Phil Parma, que é secundário nessa trama que é apresentada ao espectador em estilo mosaico, mas que mesmo nesse pequeno papel consegue marcar presença e impressionar. Uma síntese dos trabalho em que o ator interpretou personagens coadjuvantes com raro talento em sua excelente filmografia.
                                     
6. Vejo Você no Próximo Verão (Jack Goes Boating, EUA, 2010) Direção: Philip Seymour Hoffman / Elenco: Philip Seymour Hoffman, Amy Ryan, John Ortiz, Daphne Rubin / Comentários: O único filme dirigido por Philip Seymour Hoffman. É um drama muito humano e sensível sobre duas pessoas que tentam se relacionar apesar de todas as dificuldades. Um retrato muito bem realizado por Seymour que conseguiu trazer muita sensibilidade para essa pequena obra de arte. O filme prova que Seymour não era apenas um ator de talento mas também um diretor de mão cheia.

7. Antes que o Diabo Saiba que Você Está Morto (Before the Devil Knows You're Dead, EUA, 2007) Direção: Sidney Lumet / Elenco: Philip Seymour Hoffman, Ethan Hawke, Albert Finney / Comentários: Outro filme muito subestimado do ator que aqui tem a oportunidade de contracenar com um ótimo elenco de apoio sob direção do grande cineasta Sidney Lumet. Teve menos repercussão do que merecia, outro que merece ser revisionado atualmente. 

8. Jogos do Poder (Charlie Wilson's War, EUA, 2007) Direção: Mike Nichols / Elenco: Tom Hanks, Julia Roberts, Philip Seymour Hoffman / Comentários: Nova Indicação ao Oscar para Philip Seymour Hoffman. Aqui temos mais uma prova do grande talento desse ator. Mesmo dividindo os holofotes com as estrelas Tom Hanks e Julia Roberts ele conseguiu chamar a atenção ao ponto de ser mais uma vez indicado ao Oscar, provando que não existe estrelismo no mundo do cinema que consiga ofuscar um grande talento.

9. O Mestre (The Master, EUA, 2012) Direção: Paul Thomas Anderson / Elenco: Joaquin Phoenix, Philip Seymour Hoffman, Amy Adams, Laura Dern, Rami Malek, Jillian Bell, Ke / Comentários: A última grande atuação do ator. O personagem interpretado por Philip Seymour Hoffman é obviamente calcado no criador e líder espiritual da tal Cientologia, L. Ron Hubbard, que acreditava haver ligação entre a humanidade e seres de outro planeta que aqui estiveram e criaram a raça humana em tempos primitivos. Sua atuação de um homem completamente lunático e com ares de megalomania lhe valeu mais uma merecida indicação ao Oscar.

10. Jogos Vorazes: Em Chamas (The Hunger Games: Catching Fire, EUA, 2013) Direção: Francis Lawrence / Elenco: Jennifer Lawrence, Philip Seymour Hoffman, Josh Hutcherson, Liam Hemsworth  / Comentários: Nem só de filmes cults e de arte vivia Seymour. Assim como havia acontecido com "Missão Impossível" o ator também flertou com o cinema mais comercial de Hollywood nessa nova franquia de sucesso, "Jogos Vorazes" que é febre entre o público mais jovem. Ele estava trabalhando na sequência desse mesmo filme quando morreu em Nova Iorque no último domingo. O estúdio ainda não se manifestou sobre os rumos do próximo filme.

Pablo Aluísio.

domingo, 2 de fevereiro de 2014

Philip Seymour Hoffman

Philip Seymour Hoffman
Passei o domingo fora e por isso não assisti a TV e nem acessei a internet durante todo o dia. Assim que cheguei em casa à noite recebi essa verdadeira bomba em meu colo. Um dos meus atores preferidos, Philip Seymour Hoffman, foi encontrado morto em seu apartamento de Nova Iorque, vítima de uma overdose de heroína. Sinceramente me faltam palavras para descrever como lamento sua morte. Quem acompanha aqui nossos blogs sabe o quanto admiro o trabalho desse ator, verdadeiramente talentoso. 

Basta uma rápida pesquisa para verificar que sempre o elogiei nos textos que escrevi sobre seus filmes. Era um daqueles profissionais que sempre entregavam uma boa atuação, não importando a produção em que atuasse. Sempre o vi como um representante da verdadeira arte de atuar, muito ligado ao mundo artístico de Nova Iorque, aos palcos e, claro, ao cinema. Sem favor nenhum, desse ator sentirei realmente falta. Talentos desse porte hoje em dia são tão raros. Em meio a tanta mediocridade é de fato uma perda enorme saber que não teremos mais as grandes atuações de Seymour. Lamento profundamente e estou bem entristecido com seu falecimento. Que Deus o ilumine em sua nova caminhada. Descanse em paz sabendo que sua arte estará preservada em celulóide para sempre! Fico muito feliz por ter desfrutado de seu talento em tantos filmes ao longo desses anos. Muito obrigado por tudo.

Philip Seymour Hoffman
(1967 - 2014)

Pablo Aluísio.

quinta-feira, 7 de novembro de 2013

Quase Famosos

Título no Brasil: Quase Famosos
Título Original: Almost Famous
Ano de Produção: 2000
País: Estados Unidos
Estúdio: Columbia Pictures, DreamWorks SKG
Direção: Cameron Crowe
Roteiro: Cameron Crowe
Elenco:  Billy Crudup, Frances McDormand, Kate Hudson, Philip Seymour Hoffman

Sinopse: Um garoto de apenas 15 anos realiza o sonho de qualquer jovem de sua idade: cobrir a excursão de uma banda de rock durante os anos 70. Contratado pela famosa revista Rolling Stone ele coloca o pé na estrada ao lado de músicos, empresários e tietes e vivencia na pele os loucos anos da história do rock americano.

Comentários:
Sim, faz bastante tempo, mas me lembro bem do lançamento desse "Almost Famous". Na época o filme foi mais do que badalado. Também pudera, o cineasta Cameron Crowe virou o queridinho da mídia e do jornalismo que se achava mais descolado. No auge do exagero chegaram a chamar Crowe de "gênio da nova geração". Como sou muito precavido desses arroubos da imprensa - sempre indo atrás da última modinha - resolvi esperar para crer. Não há como negar que " Quase Famosos" é um bom filme. O mesmo se aplica a "Jerry Maguire" e "Vida de Solteiro". O mesmo não se pode dizer porém de coisas como "Tudo Acontece em Elizabethtown" e "Compramos Um Zoológico". Trocando em miúdos: Crowe é um diretor interessante? Sim, claro. É um gênio da sétima arte? Não, faça-me o favor... Assim deixando as bobagens da mídia de lado vamos analisar o filme sem exageros. O roteiro é de fato acima da média (levemente inspirado na própria vida de Crowe) e o elenco como um todo está muito bem (com destaque para Frances McDormand, Kate Hudson e Philip Seymour Hoffman). Obviamente que quem gosta de Rock vai apreciar muito mais, afinal o filme passeia com desenvoltura dentro do cenário musical das bandas dos anos 70. Mas fora isso não há como qualificar "Quase Famosos" como excepcional ou obra prima. Assista, ignore as opiniões mais ufanistas e descabeladas e o mais importante de tudo, divirta-se sem maiores compromissos. Quer algo mais rock ´n´ roll do que isso?

Pablo Aluísio.

quinta-feira, 14 de fevereiro de 2013

Ninguém é Perfeito

Título no Brasil: Ninguém é Perfeito
Título Original: Flawless
Ano de Produção: 1999
País: Estados Unidos
Estúdio: Tribeca Productions
Direção: Joel Schumacher
Roteiro: Joel Schumacher
Elenco: Robert De Niro, Philip Seymour Hoffman, Barry Miller

Sinopse:
Walt Koontz é um policial ultra conservador que sofre um derrame. Na sua recuperação ele começa a ver o mundo de uma outra maneira, inclusive se tornando próximo e amigo de uma drag queen, Rusty (Philip Seymour Hoffman), em momento inspirador. Filme indicado ao Screen Actors Guild Awards.

Comentários:
Esse é um bonito filme, com roteiro versando sobre tolerância, recomeço, mudança de valores. Os dois personagens principais tinham tudo para se odiarem (um é conservador, o outro gay), porém o destino os aproxima. Robert De Niro, sempre um ator interessante, aqui não está tão marcante. Todos os méritos em termos de atuação vão mesmo para o talentoso Seymour Hoffman. Travestido de drag queen ele rouba todas as atenções. Embora haja algum humor o filme é realmente bem dramático, numa produção feita pela própria companhia de De Niro, a Tribeca Productions. Curiosamente a direção foi dada a  Joel Schumacher, que definitivamente nunca foi cineasta desse tipo de filme. Enfim, não deixe de conferir, um bom drama especialmente indicado para o público GLSTB.

Pablo Aluísio.

sexta-feira, 8 de fevereiro de 2013

O Mestre

Freddie (Joaquin Phoenix) é um marinheiro que durante a segunda guerra mundial participa da chamada batalha do Pacífico. De volta aos EUA tenta reconstruir sua vida, geralmente exercendo trabalhos que não exigem muita qualificação profissional. O mais relevante porém é que ao retornar à vida civil ele traz consigo um leve distúrbio mental, de personalidade, o que o faz ter acessos de fúria e raiva. Sua vida só muda completamente quando ele conhece um carismático líder de uma nova seita um tanto quanto exótica, Lancaster Dodd (Philip Seymour Hoffman). Essa nova maneira de pensar e crer se funda na idéia de que todos os seres humanos passam por diversas vidas ao longa de sua existência espiritual, evoluindo e aprendendo em cada reencarnação. Todd assim prega uma série de exercícios mentais que possibilitam descobrir inclusive as existências passadas, em uma regressão psicológica no tempo e espaço. Usando de muita sutileza e poder de sugestão ele vai criando sua fama ao desvendar para pessoas ricas e influentes as suas supostas vidas passadas. “O Mestre” é o novo filme do diretor Paul Thomas Anderson, um cineasta que evita o banal e sempre procura pelo improvável, pelo inesperado. Suas lentes agora são focadas em um tipo de religião que se tornou bastante popular no pós guerra nos EUA. Tentando conciliar crenças espirituais com ciência muitas dessas seitas prosperaram e estão até hoje por lá, sendo uma das mais conhecidas a Cientologia, que é seguida por diversas celebridades como Tom Cruise e John Travolta. O personagem interpretado por Philip Seymour Hoffman é obviamente calcado no criador e líder espiritual da tal Cientologia, L. Ron Hubbard, que acreditava haver ligação entre a humanidade e seres de outro planeta que aqui estiveram e criaram a raça humana em tempos primitivos.

O curioso no roteiro desse filme é que sem fazer um juízo de valor explícito o enredo se contenta em apenas mostrar as pessoas que giram em torno do líder Lancaster Todd. Sua esposa, por exemplo, é uma jovem convicta em suas crenças, bem ao contrário de sua filha que não pensa duas vezes antes de seduzir o marujo Freddy praticamente na frente de todos. Os tipos são pouco comuns, excêntricos e até mesmo bizarros. O filme se desenvolve de forma gradual, sem pressa. Seu grande mérito é o elenco, realmente em ótimo momento. Philip Seymour Hoffman sempre impressiona, pois é realmente um grande ator. Sua interpretação do “mestre” é marcante. Um sujeito que parece viver em seu próprio mundo, com suas próprias verdades absolutas. Dono de uma retórica rebuscada (e muitas vezes vazia de sentido e conteúdo) ele vai agrupando simpatizantes por onde passa. Philip Seymour Hoffman se saí excepcionalmente bem em sua caracterização, ora surgindo como um sujeito bonachão, de fala suave e personalidade cativante, ora tendo acessos de intolerância com quem ousa contestar suas idéias malucas. Se Philip Seymour Hoffman brilha o que podemos dizer de Joaquin Phoenix? Aqui ele realmente parece incorporar seu papel. Excessivamente magro, torto, como se transferisse toda a sua confusão mental para o seu próprio corpo, o ator realmente surge com um trabalho impressionante, o melhor de sua carreira até o momento. Seu Freddie é praticamente uma força da natureza, que não consegue chegar nem perto da sofisticação da lábia de Lancaster Todd, mas que o segue, como se ele fosse sua única tábua de salvação em sua confusa existência. Não é à toa que filme ganhou indicações para todos os principais atores em cena, sendo indicado aos Oscars de Melhor Ator (Joaquin Phoenix), Ator Coadjuvante (Philip Seymour Hoffman) e Atriz Coadjuvante (Amy Adams). Em termos de atuação o filme é realmente maravilhoso. Assim, em conclusão, podemos dizer que "O Mestre" é um belo trabalho sensorial que procura através de seus personagens diferentes desvendar o lado mais sombrio da alma humana. Consegue como poucos filmes mostrar o lado mais patético de algumas crenças religiosas e espirituais, mas tudo feito com muita elegância e estilo. É outro excelente filme com a assinatura de Paul Thomas Anderson, que consegue lidar com um tema tão complicado de forma muito talentosa.

O Mestre (The Master, Estados Unidos, 2012) Direção: Paul Thomas Anderson / Roteiro: Paul Thomas Anderson / Elenco: Joaquin Phoenix, Philip Seymour Hoffman, Amy Adams, Laura Dern, Rami Malek, Jillian Bell, Kevin J. O'Connor, W. Earl Brown / Sinopse: Durante o pós guerra um líder carismático de uma seita denominada "A Causa" consegue formar um grupo de seguidores ao seu redor. Pregando a existência de diversas vidas passadas em reencarnações, ele saiu doutrinando a todos por onde passa na América da década de 1950. Vencedor do Leão de Prata de Melhor Direção e de Melhor Ator para Joaquin Phoenix e Philip Seymour Hoffman, no Festival de Veneza.

Pablo Aluísio.

quinta-feira, 13 de dezembro de 2012

Boogie Nights

Bom filme. A estória foi levemente baseada na vida do ator pornô John Holmes. Após um breve período de fama e dinheiro ele se viu na sarjeta quando o mercado adulto americano se profissionalizou e ele passou a ser visto apenas como uma aberração de mal gosto. Sem dinheiro, acabou se envolvendo com tráfico de drogas e morreu de AIDS na década de 80. Mas não se preocupe, nada disso é mostrado no filme que se focaliza mais nos primeiros anos da carreira desse astro pornô. Além do mais "Boogie Nights" não se propõe a ser uma cinebiografia mas apenas um retrato da indústria em seus primórdios. O resultado é um filme misto, com várias licenças poéticas, sendo meio verídico e meio ficção. Para quem quiser conhecer a barra pesada nua e crua da vida de Holmes aconselho a assistir "Crimes em Wonderland" com Val Kilmer no papel principal. Voltando a "Boogie Nights" o interessante aqui é realmente conhecer, mesmo que superficialmente, o surgimento da indústria pornô nos EUA. Na década de 70 tudo ainda era bem amador,  nada profissional, grotesco e mambembe, bem diferente dos dias atuais onde existe toda uma indústria montada em cima do entretenimento adulto.

Nos primeiros anos valia muito mais a iniciativa pessoal dos produtores (retratados aqui em um único personagem, muito divertido, interpretado por Burt Reynolds). As mulheres que entravam no meio geralmente eram garotas de programa ou então meninas sem muita estrutura familiar que viam o mercado adulto como uma forma de ganhar um bom dinheiro, rápido e fácil. Algo muito distante da realidade atual onde as carreiras das estrelas são administradas por agências e corporações com grande infra estrutura empresarial. Outro diferencial era a forma como muitos desses filmes eram realizados. Geralmente tudo era feito em estúdios de fundo de quintal, sem nenhum estilo ou bom gosto. Atualmente os grandes filmes da área são produzidos em locações bonitas, de cartão postal. Outro destaque de "Boogie Nights" é seu elenco realmente ótimo onde se destacam Julianne Moore interpretando uma pornstar patinadora e Philip Seymour Hoffman como um membro da equipe técnica com certa indefinição sobre sua orientação sexual. Até Mark Whalberg, que sempre achei um ator extremamente fraco, consegue se sobressair, não comprometendo o resultado final. Assim fica a dica de "Boogie Nights" um filme que captura muito bem o nascimento da indústria adulta nos EUA.

Boogie Nights (Boogie Nights, Estados Unidos, 1997) Direção: Paul Thomas Anderson / Roteiro: Paul Thomas Anderson / Elenco: Mark Wahlberg, Burt Reynolds, Julianne Moore, Don Cheadle, Philip Seymour Hoffman, Heather Graham, William H. Macy, Luis Guzmán, Thomas Jane, John C. Reilly, Ricky Jay, Robert Ridgely, Alfred Molina, Jack Wallace./ Sinopse: Eric Adams (Mark Wahlberg) é um jovem bem dotado que vê no ramo de filmes pornôs dos EUA sua grande chance. Contratado pelo produtor picareta Jack Horner (Reynolds) ele começa sua ascensão à fama e dinheiro dentro do mercado erótico americano. "Boogie Nights" obteve 3 indicações ao Oscar:  Melhor roteiro, ator coadjuvante (Burt Reynolds) e atriz coadjuvante (Julianne Moore).

Pablo Aluísio.

terça-feira, 4 de dezembro de 2012

Dúvida

Meryl Streep tem uma filmografia muito rica e para minha surpresa a cada ano praticamente surge uma obra prima estrelada pela atriz. Sua capacidade de estar em excelentes produções é incomparável. No meio de tantas preciosidades é até comum que alguns desses filmes passem relativamente despercebidos. Um exemplo é esse "Dúvida". Baseado na peça teatral de John Patrick Shanley, que também assina o roteiro e a direção, a trama se passa em uma escola católica no ano de 1964. O mundo havia mudado, havia um ar de renovação e frescor nos costumes e na nova geração mas dentro dos muros daquela instituição de ensino ainda reinava a disciplina e a austeridade, tão inerentes à doutrina católica. Nesse ambiente de forte tradição chega para lecionar um padre jovem, cheio de novas idéias. O padre Flynn (Philip Seymour Hoffman, como sempre ótimo) tenta trazer um pouco de inovação dentro daquele ambiente mas bate de frente com a conservadora irmã Aloysius Beauvier (Meryl Streep), que deseja que tudo continue do jeito como está. Ela acredita na força da disciplina e do respeito e não parece nem um pouco disposta a abrir mão disso.

Assim a escola St. Nicholas vira palco de um luta interna pelo coração e mente de seus alunos. De um lado o pensamento mais inovador e liberal do padre Flynn, do outro a austeridade e autoridade da irmã Beauvier. Com o advento da política de direitos civis a escola acaba aceitando seu primeiro aluno negro, o rapaz Donald Miller (Joseph Foster). Sua entrada na instituição é vista como uma revolução pelo padre Flynn que se aproxima do novo aluno para lhe orientar em sua nova escola. Essa estreita amizade porém acaba criando boatos, alimentados pela jovem irmã James (Amy Adams). Era justamente isso que esperava a personagem de Meryl Streep pois o rumor se torna uma grande arma para ela em sua queda de braço com Flynn. "Dúvida" é um filme extremamente inteligente, bem escrito, que se baseia principalmente em atuações de alto nível e diálogos ricamente construídos. A presença de um trio de atores tão talentoso torna a experiência de assistir "Doubt" um enorme prazer. A guerra entre os dois personagens principais é sutil, psicológica, mas não menos cruel. De certa forma é um retrato do conflito interno vivido hoje pela Igreja Católica. Em suas entranhas também se trava uma guerra entre membros mais conservadores e outros mais liberais. A tensão é latente e o roteiro de "Dúvida" joga excepcionalmente bem com esse dualismo. Em suma, eis uma das melhores obras cinematográficas surgidas nos últimos anos. Não deixe de assistir.

Dúvida (Doubt, Estados Unidos, 2008) Direção: John Patrick Shanley / Roteiro: John Patrick Shanley / Elenco:  Meryl Streep, Philip Seymour Hoffman, Amy Adams, Viola Davis, Alice Drummond / Sinopse: Um jovem padre da linha mais liberal da Igreja Católica, Flynn (Philip Seymour Hoffman), entra em choque com a conservadora Aloysius Beauvier (Meryl Streep). Em jogo o modo de administrar a escola. A irmã acredita em disciplina, ordem e tradição. Já o padre acredita em liberdade, inovação e renovação. Está assim armado o conflito entre ambos. Vencedor do Screen Actors Guild Awards de melhor atriz para Meryl Streep.

Pablo Aluísio.