quarta-feira, 9 de dezembro de 2009

RIngo e a Montanha Dourada

Cap. I - O Sol do Deserto
Se havia algo que Ringo Sinclair odiava em sua vida de pistoleiro era cavalgar no deserto, debaixo de sol escaldante. O suor descia pela sua face, seus braços e mãos estava molhados. E seu cantil estava com um nível perigosamente baixo de água potável. Aquele deserto era realmente infernal. Passou a se sentir um pouco mal, por causa do calor excessivo. Parou seu cavalo e olhou para trás, por cima de seus ombros cansados. Avistou ao longe uma dança de abutres no céu. Cercavam a próxima carcaça que iriam devorar. Ringo sabia do que se tratava. Era o corpo do homem que havia acabado de matar.

Vida de pistoleiro tem seus dissabores. Esse homem que jazia no deserto, que começava a exalar cheiros de decomposição fétida, estava em seu encalço há dias e dias. Queria vingança. Ringo havia matado seu pai em um crime encomendado. O serviço havia sido feito, o pagamento estava em sua calça jeans. Porém, como ele já estava acostumado, todo serviço de morte encomendada trazia seus efeitos colaterais, entre eles o desejo de vingança dos parentes mortos. E para sanar esse problema Ringo tinha que matar mais de uma vez. Já havia perdido a conta de quantos parentes havia matado ao longo de sua vida. Sempre que algum desses "amadores" surgiam em sua frente, tremendo com revólver em punho, sabia que teria que matar de novo - e dessa vez sem receber nada pelo serviço. Pura legítima defesa.

Esse último que havia surgindo na frente de Ringo não passava de um "engomadinho". Ringo procurava economizar munição nessas ocasiões, afinal balas custavam caro e não deveriam ser desperdiçadas em momentos "sem lucro". Tudo deveria gerar lucro, essa era a filosofia de vida de Ringo em sua trajetória de pistoleiro. E ele colocava tudo na conta. O serviço de morte era friamente calculado por Ringo. Ele colocava na conta não apenas o preço da munição, mas também os riscos que iria correr, a quantidade de milhas que deveria cavalgar após matar, o preço dos hotéis e pousadas que iria pagar para fugir, os oficiais da lei que teria que subornar, etc.

Depois de cavalgar por várias horas, Ringo avistou ao longe uma grande construção de madeira. Na frente da porta uma grande placa, um tanto rústica, escrito "armazém". Quem recebeu Ringo na frente da construção foi uma jovem simpática chamada Kate Bender. Ela morava na estalagem ao lado de seu irmão, seu pai e sua mãe. Eram imigrantes alemães. Ringo inicialmente só queria comprar alguns mantimentos para conseguir chegar na próxima cidade, mas foi convidado por Kate para passar a noite ali, se assim desejasse.

Kate Bender ganhou a confiança de Ringo. Afinal ela era muito simpática, sempre falando, dando sorrisos, falando coisas agradáveis. Era bem falante, bem comunicativa, bem sociável. Bonita, bem penteada, vestida e com todos os dentes na boca, era bem diferente das mulheres que Ringo havia encontrado nas últimas semanas. Geralmente ele encontrava mulheres rudes, mal encaradas, forjadas no trabalho pesado dos pioneiros. Isso criava uma completa falta de feminilidade nessas jovens senhoras, que logo se tornavam idosas precoces. Com Kate nada disso acontecia. Ela era puro charme, pura beleza feminina. Encantado pela música da sereia, Ringo desceu de seu cavalo e decidiu que sim, iria passar a noite naquela estalagem. Ele estava mais interessado em Kate do que em qualquer outra coisa. 

Cap. II - Os Encantos de Kate
Ringo estava interessado nos peitos de Kate. Não adianta disfarçar ou inventar outras desculpas, era isso o que ele queria. Depois de cavalgar por vários dias pelo meio do deserto ele ansiava por uma companhia feminina. Kate Bender não parecia fazer o tipo prostituta, mas também isso não significava que Ringo não poderia tentar sua sorte. Ele olhava e olhava para Kate olhando cada detalhe de seu corpo. Ela tinha lindos olhos azuis, era loira e bronzeada, do tipo garota dourada. Sua boquinha era uma coisa, bem pequenina, com dentes delicados. O cabelo era cortado pequeno, como das jovens daquela região. O corpo era todo proporcional com ótimas coxas e pernas. A bunda era um destaque. A Única coisa que não agradou muito Ringo foram seus dedos dos pés. De certa forma entregava a origem humilde da garota.

Bom, se Kate era puro desejo sexual, nada poderia ser mais oposto do que o resto de sua família. Kate vivia com dois homens a quem ela chamava de pai e mano. Não se pareciam entre si, o que fez com que Ringo acendesse uma luz vermelha no fundo de sua mente. Havia algo errado ali. A mulher mais velha era dita como a mãe de Kate. Outro problema. Ele nunca vira mãe e filha tão diferentes como aquelas duas. O que diabos estava acontecendo ali? Nenhum dos parentes de Kate tinham a menor simpatia por ninguém. Eram sorumbáticos e respondiam a cada tentativa de conversação com grunhidos. Era gente muito esquisita.

Ringo deveria ter prestado mais atenção nos detalhes à sua volta, no que realmente estava acontecendo naquele hotel de madeira de beira de estrada. Havia um certo tom sinistro pairando no ar. Mesmo assim Ringo pagou os dois dólares pela estadia noturna. Queria passar a noite ali. Queria transar com Kate, queria pegar nos peitos dourados dela. Queria mamar a mulher. Homem nesse estado de cio não pensa direito, não presta atenção em mais nada. Eis o maior problema para Ringo. Ele estava entrando numa armadilha mortal.

Assim que entrou na estalagem Ringo ouviu ruídos vindos do porão. Como assassino profissional aquele som lhe pareceu com o som de alguém sendo amordaçado para não fazer barulho. Kate percebeu que ele percebeu. Então resolveu chamar sua atenção. Lhe convidou para ir na cozinha para comer um bom prato de sopa. E ficou fazendo gestos sensuais com a colher de pau na mão, enquanto mexia o prato na panela. Ringo lambeu os beiços, não se sabe pelo água na boca pela sopa ou pelos peitos de Kate. Ela entendeu que seus seios estavam despertando a atenção do pistoleiro e baixou ainda mais a blusinha, fazendo um infantil "ops". Pura safadeza para mostrar os bicos dos seios. Ringo ficou excitado na hora!

Ela serviu a sopa quente em um prato para Ringo, mas quem estava pegando fogo era ele mesmo! Se não houvesse outras pessoas na estalagem ele provavelmente a pegaria pelos braços, lhe daria um grande beijo na boca, abriria suas pernas e aliviaria seus desejos carnais. Mas ao invés disso Ringo viu o mundo girar! Após colocar a primeira colher na boca o mundo começou a rodar e a rodar. Ringo estava completamente tonto! Ele perdeu o equilíbrio e caiu no chão! Algo estava muito errado, ele estava perdendo o controle e essa era a pior sensação do mundo. Seus olhos giravam e giravam... era uma das piores coisas que já havia sentido na vida. Sim, ele pensou... 

- Fui envenenado! - foram suas últimas palavras antes de perder completamente os sentidos... 

Cap. III - Chamas Eternas
Quando Ringo finalmente recuperou sua consciência ele estava no porão da velha estalagem. Mesmo ainda bem tonto por causa do veneno ele ainda conseguiu deslizar sua mão em busca de seu revólver no coldre. Nada achou. A arma tinha sido retirada dele. Ringo então olhou para o lado a tempo de ver um dos supostos familiares de Kate. Um dos hóspedes estava deitado no chão, a uns cinco metros dele. Inconsciente, ele acabou sendo assassinado com uma martelada na cabeça. Uma coisa horrível. Ringo ouviu o seu crânio se rompendo com a violência da pancada.

Nesse momento Ringo percebeu que ou se levantava ou então ele seria o próximo a morrer. O pistoleiro sempre andava com uma ampola contra envenenamentos em seu bolso da calça jeans. Ringo era um assassino profissional e como tal podia ser envenenado a qualquer momento. Por isso estava sempre ao lado dessa substância. Ringo então enfiou a mão e para seu grande alívio descobriu que o antídoto ainda estava lá. Foi o que salvou sua vida. Após engolir seu conteúdo Ringo viu de forma rápida a anulação dos efeitos do veneno.

Ele assim se levantou rapidamente... O agressor percebeu e foi em sua direção com o martelo. Para sorte de Ringo ele percebeu que havia um monte feito de coisas roubadas dele e do outro hóspede, que agora jazia morto no chão de feno. Ringo então, mais rápido do que um coelho, deu um pulo em direção a essas coisas roubadas. E entre elas estava seu precioso Colt 45. O grandalhão percebeu que Ringo agora estava armado e foi em sua direção com fúria. Ringo nem contou 2 segundos, mirou na cabeça do tal sujeito e puxou o gatilho. Foi um tiro certeiro. Morte em milésimos de segundos.

Claro que o tiro alertou a todos na estalagem. Ringo olhou o tambor do Colt e percebeu que havia cinco balas... Seria o suficiente para ele matar todos aqueles desgraçados de uma só vez. Lembrou da frase "A melhor defesa é o ataque" e decidiu partir para cima. Subiu as escadas em um só fôlego. Ao entrar na parte de trás da casa foi recebido a bala. No meio do tiroteio ainda percebeu kate correndo por entre as mesas, segurando o seu rifle... Ah, aquilo sim era imperdoável. Ele agora sabia que deveria matá-la por crime de lesa majestade.

O fato é que Ringo era um pistoleiro profissional. Ele vivia disso, vivia de matar. Aquela família de Kate poderia ser criminosa, mas não tinha a habilidade no Colt de Ringo. E ele tinha cinco balas para mostrar sua perícia. A bala seguinte teve interesse certo, se alojando no coração da "Mãe" de Kate, que muito provavelmente nem era sua mãe, mas apenas mais uma bandida da quadrilha. A bala de Ringo a atravessou, no caminho explodiu os músculos do coração. Não havia como resistir. Ela caiu imediatamente no chão.

Ringo agora tinha 4 balas. Ele percebeu que "Georgie", ou seja lá qual era o seu nome, estava atrás de uma das mesas. Ringo não poderia desperdiçar balas. Ele então pegou uma garrafa de querosene, enfiou um pano, colocou fogo e jogou no seu inimigo. O estrago foi feio. "Georgie" virou uma bola de fogo. Gritando desesperado saiu em chamas pela porta principal da casa. Ringo pensou se deveria desperdiçar uma bala com ele. Na dúvida mirou e... arrancou seu cérebro pela parte de trás do crânio. Mais um tiro no alvo. Ringo não brincava em serviço.

Ringo tinha 3 balas e dois opositores. O "velho", que fazia papel de "pai" de Kate foi o próximo! Ele demonstrou ter uma mira ruim. Atirou várias vezes com seu rifle, mas não acertou nenhum tiro em Ringo. Era obviamente um amador. Ringo então se posicionou e deu um tiro em sue perna. Isso o tirou de ação. Ringo agora tinha 2 balas. Ele então rolou no chão e bum... deu um tiro certeiro entre os olhos do velho. Esse tombou imediatamente.

Ringo agora tinha só uma bala! Desesperador não é mesmo? Porém um lance de sorte aconteceu. A velha estalagem de madeira começava a arder em chamas. Kate suando e desesperada tinha que sair pela porta principal, mas se fizesse isso seria alvejada por Ringo, com absoluta certeza. Sua saia começou a pegar fogo e ela então não viu outra saída, deu um grito e saiu em direção à porta...

Ringo nem pensou duas vezes. Um tiro em suas costas, o impacto foi tão forte que Kate caiu no chão imediatamente. Uma das vigas de madeira do teto acabou caindo sobre ela, a esmagando. Era o seu fim. Kate estava morta. E foi uma morte bem horrível e sofrida mesmo. Merecia, era uma ladra e uma assassina fria que usava seus encantos para matar viajantes solitários. O lugar dela era mesmo entre chamas, mas entre as chamas do inferno. O problema é que Ringo ainda se encontrava dentro da estalagem que agora ardia completamente em chamas. Sem saída ele fez o que estava à sua mão - pulando pela janela de vidro, quebrando tudo pelo meio do caminho. Ao cair no chão Ringo percebeu que estava todo cortado, mas isso era o de menos. O importante é que ele estava... vivo!

Cap. IV - Cavalgada Noturna
Naquela mesma noite Ringo subiu em seu cavalo marrom de meias brancas e sumiu pela noite adentro. Cavalgou e cavalgou, pelo meio do deserto, até chegar numa pequena vila de mineradores. Era Silver Rock City, o primeiro ponto de partida para quem estava em plena corrida do ouro. Assim que chegou na rua única e principal de Silver, Ringo desceu de seu cavalo e foi até o saloon local. Ele estava exausto, destruído mesmo. No mínimo cavalgou por cinco horas seguidas. Cavaleiro acostumado com o desconforto de uma sela, ele poderia se auto declarar completamente dominado pela exaustão.

Tomou um rápido gole de whisky e perguntou ao barman se ele conhecia algum lugar que alugasse quartos para dormir. Foi informado que do outro lado da rua iria arranjar um bom lugar por um preço barato. Ringo nem pensou duas vezes e foi até lá. Pagou 4 dólares e ganhou o direito de finalmente dormir em uma cama quente. Ringo não dormia há mais de 48 horas, segundo seus próprios cálculos. A confusão na estalagem dos Benders havia custado muito, não apenas em material perdido, mas também do ponto de vista emocional.

Ringo tirou as botas e deitou-se. A mente corria a mil. Mentalmente ele procurou fazer um balanço do que havia perdido. Kate Bander e seus falsos irmãos tinham roubado seu dinheiro, seu rifle e alguns outros pertences. Como Ringo deixou a estalagem em chamas ao sair de lá não houve como recuperar o que havia perdido. De todas as coisas que foram perdidas a que mais deixou Ringo irritado foi a perda de rifle Winchester que não fazia muito tempo havia comprado (leia o conto "Um Winchester para Ringo" para saber mais). Ele havia também perdido o revólver de seis tiros, uma bela arma que vinha com ele há vários anos.

Sobraram o cavalo Costa, seu fiel companheiro, a sela e sua roupa do corpo. Fora isso Ringo estava a zero! Fazia muitos anos que ele não se via numa situação tão delicada. E como estava longe de seus contatos, não havia trabalho à vista e nem dinheiro para gastar. Ringo tinha que pensar e agir rápido. A solução seria ganhar alguns dólares no jogo de cartas do Saloon. Ele não havia desistido de subir a montanha em busca do ouro. Esse destino estava traçado e ele tencionava ir até o fim. Mas para continuar sua jornada teria que ter algum dinheiro no bolso. O cavalo Costa estava em uma estribaria local, sendo alimentado e cuidado. Outra despesa que Ringo teria que arcar em breve. Porém antes de tudo ele precisava se recuperar com algumas boas horas de sono. Ele havia escapado da morte, quase havia sido morto a marteladas. O momento agora era relaxar um pouco para voltar ao mundo sórdido do velho oeste que conhecia tão bem.

Cap. V - Cowboy do Oeste
Ringo muitas vezes acabava sendo presenteado com lances de sorte. No dia seguinte, ao sair do pequeno hotel onde havia se hospedado, Ringo descobriu que uma grande boiada estava sendo levada para a costa, para uma fazenda na Califórnia. E o dono do gado estava recrutando cowboys na cidade. Para ele era o ideal. A cavalgada iria para a mesma região que ele estava viajando. Se arranjasse um serviço de cowboy ainda iria receber por isso. Acabou falando com o capataz. Esse lhe perguntou se ele já tinha um cavalo. Com a resposta positiva então, Ringo estava dentro.

A boiada seria tocada por dez homens, Ringo entre eles. A viagem estava calculada para durar dez longos dias. Era um trabalho exaustivo, manter o gado em linha reta, em direção ao seu destino. No caminho eles iriam atravessar desertos, regiões habitadas por índios selvagens e terras abandonadas, onde não havia nenhuma alma viva. Eles se reuniram fora da cidade, em um curral, montaram seus cavalos e caíram em direção ao seu caminho.

Além de Ringo, estavam participando o dono do Rancho Four Stars, Cliff Edwards, que era o dono do gado, seu braço direito, o capataz Erickson e mais outros sete cowboys. Sujeitos durões, barbas por fazer, muita adrenalina e muita vontade de terminar o serviço bem feito. Alguns eram nitidamente homens da classe trabalhadora, mas Ringo também percebeu que Erickson tinha maneirismos de pistoleiro. Durante a primeira hora de jornada surgiu uma cobra cascavel no meio do caminho. Para evitar que alguma cabeça de gado fosse picada pelo perigoso animal, Erickson retirou seu rifle da parte paralela da cela e deu um tiro... um só tiro... certeiro. Era óbvio que era um ás do gatilho, provavelmente um pistoleiro com muitos anos de perícia no uso de sua arma. Ringo, que não era bobo, nem nada, ficou de olho. Sinal amarelo para aquele sujeito.

Quando chegou a noite todos pararam para comer alguma coisa, descer de seus cavalos e descansar. Ringo estava acostumado com aquela vida. Uma vida de se dormir no chão, sem travesseiro, sem nada, apenas o brilho das estrelas sobre a cabeça. Ele tomou alguns goles de água fresca, comeu alguns pedaços de carne salgada e se deitou. Dormir ao léu tinhas seus perigos. Entre eles o ataque de alguma cobra venenosa que se aproveitasse do fato de sua vítima estar dormindo. Porém mais perigoso do que isso eram os escorpiões. Eles eram enormes, do tamanho da palma da mão de um homem grande. Uma picada poderia significar a morte.

Durante a madrugada Ringo ouviu barulhos na parca e árida vegetação. Era um chacal. Um tipo de animal traiçoeiro e oportunista, acostumado a seguir caravanas no meio do deserto. Ao longo dos séculos esses animais descobriram que seguir seres humanos poderia significar comida. Comida deixada pelo caminho, comida jogada fora das carrocerias. Ringo se levantou e quando olhou o chacal nos olhos esse tombou bruscamente. Havia levado um tiro na cabeça. Um tiro que surpreendeu Ringo. Ao se virar se deparou com Erickson. Ele havia dado um tiro pelas costas de Ringo, há pelo menos cinco metros ou mais do animal. Definitivamente aquele cara sabia atirar bem. E ele fez questão de fazer isso perto de Ringo. Queria que ele soubesse que em questão de armas, havia um especialista ali. A tensão começou a se formar entre os dois.  

Cap. VI - Luar Noturno
No final do segundo dia de viagem, lá pelas nove da noite, Ringo e os demais cowboys pararam. Era hora de descansar para o dia seguinte. Antes disso porém todos se reuniram em volta da fogueira onde um velho bulê esquentava o café para todos aqueles homens. Ringo adotou uma personalidade calada, de não puxar papo com ninguém. Fazia seu trabalho direito, pouco falava e não despertava interesse. Essa era sua tática para passar despercebido, não chamar a atenção de ninguém.

Só que naquela noite o capataz Erickson sentou ao seu lado. Com um pequeno galho de soja entre os dentes sentou e esperou pelo café. E não demorou muito tempo para puxar papo com Ringo, algo que ele definitivamente não queria fazer.

- Então forasteiro... de onde você é? - Perguntou Erickson, fingindo um falso desinteresse pela resposta.

- Eu não sou de lugar nenhum... - Ringo tentou cortar a conversa mole.

No mesmo instante um sorriso surgiu na cara vermelha de sol do velho Erickson.

- Todas as pessoas são de algum lugar forasteiro... Então, diga logo de onde você é! Pare de mistérios - Disse ele rindo, enquanto enchia sua caneca de um café quente como o inferno.

- OK! Eu sou de Montana... de uma pequena cidadezinha para além das montanhas geladas, perto do Canadá. Você provavelmente nunca ouviu falar - Eram mentiras ditas por Ringo. Seu objetivo era cortar o assunto.

Erickson limpou as calças, tirou um pouco de poeira do deserto delas e se deitou sobre sua sela, que agora servia como um travesseiro improvisado.

- Olha forasteiro, possa ser que eu conheça sim sua cidadezinha. Eu já cavalguei por milhares de milhas ao longo da minha vida. Eu sou um nômade por natureza! - Ele tomou um gole do café forte e continuou - Pois então, diga o nome aí do seu vilarejo, possa ser que eu conheça...

- Ah, acho que não conhece. Não vamos perder tempo. Temos que dormir - Ringo sabia que Erickson o sondava a partir daquele momento.

- Sabe, meu caro, seu rosto me é familiar. Acho que já vi sua face em algum lugar aí pelo oeste. Isso não sai da minha cabeça.

Imediatamente a luz amarela de atenção acendeu na mente de Ringo. Será que esse sujeito teria visto algum cartaz de "Procura-se vivo ou morto" dele? Era algo a se pensar e a se preocupar. De qualquer modo Ringo virou-se de costas e não respondeu a Erickson. Apenas disse "Boa Noite!".

Erickson olho de lado, olhar de pura desconfiança. Ele sabia lidar com cowboys, pois tinha feito isso por toda a sua vida, mas aquele novo cowboy que se dizia ser de Montana não lhe convencia. Na mente de Erickson havia a forte convicção que ele conhecia Ringo, sõ não conseguia lembrar de onde e nem de quando. Será que havia trombado com ele em algum jogo de cartas? Ou será que teria trocado tiros com ele quando participou como membro de uma tropa de apoio dos Texas Rangers? Se esse fosse o caso então a resposta só poderia apontar para o fato de Ringo ser um bandido procurado.

O luar noturno porém estava lindo naquela noite. O céu cheio de estrelas. O corpo pedia por descanso, assim tanto Ringo como Erickson rapidamente adormeceram. No dia seguinte iriam finalmente cruzar a fronteira da Califórnia.

Cap. VII - Faca Afiada
Ringo sentiu as mãos de seu algoz em volta de seu pescoço. Foi pego de surpresa, na traição. Era o capataz, que tentava neutralizá-lo. A reação foi rápida, Ringo sabia que se não alcançasse seu revólver estaria morto. Só que seu inimigo também foi rápido, conseguindo chegar na arma de Ringo, a tirando do coldre e depois a jogando fora. Isso deu uma falsa sensação de segurança ao capataz e isso foi seu erro mortal...

Ringo conseguiu desvencilhar um dos braços, imediatamente foi em busca de sua bota. E dentro da bota havia uma faca afiada e muito bem preparada para situações como essa. Ringo era um assassino profissional, ele jamais poderia se confiar apenas em uma arma. Sempre haveria um plano B e seu plano B era a faca, com ela em mãos ele voltava ao jogo. Não seria asfixiado, nada disso, ele enviaria seu oponente para as portas abertas do inferno.

Com as luvas amarelas de cowboy, Ringo firmou com força a faca em sua mão esquerda e deferiu um golpe certeiro na coxa esquerda do capataz que tentava lhe sufocar. A dor foi imensa. O agressor soltou um grito surdo de dor. Ringo enfiou com força, mas não foi só isso. Ele cravou a faca na perna e depois a puxou de lado, abrindo uma fenda enorme em seu inimigo. O sangue jorrou, manchando até mesmo o rosto de Ringo. Com tamanha brutalidade seu algoz soltou seu pescoço, ele ficou se contorcendo de dor e agonia.

Livre das mãos do assassino, Ringo rolou de lado e finalmente recuperou seu Colt 45. Com ele em mãos, já de pé, recuperou completamente o controle da situação. Sua face pingava sangue. O capataz gemia no chão, em posição fetal. Ringo mirou o Colt em sua cabeça e só fez uma pergunta:

- Por quê?

- Eu vi seu rosto em um cartaz de procurado... eu queria a recom.. a recompensa... - o sangue fazia uma poça na areia do chão...

Ringo mirou o Colt e puxou o gatilho. O som do tiro ouviu-se na pradaria. As aves bateram asas e voaram para longe. O estampido da bala ecoou nas montanhas distantes... Um tiro apenas, dado na cabeça do capataz... Sem perdão, sem redenção, apenas um tiro... como era do feitio de Ringo.

Ele se levantou, bateu as calças para tirar a poeira e montou em seu cavalo Costa. Não havia mais como voltar para a caravana. Ele teria que ir embora. Fatalmente o corpo do capataz seria encontrado. Ringo não queria problemas. Ele já estava perto da fronteira. Sabia que mais alguns dias de cavalgada, estaria na Califórnia, nas montanhas douradas, onde esperava encontrar ouro e ficar rico. Ao subir em seu cavalo, Ringo saiu a galope. Nem olhou para trás. Enquanto seu cavalo suava e corria, o capataz dava seu último suspiro. O último gosto que sentiu foi o de poeira misturada com seu próprio sangue.

Estava morto em segundos. Morto... era o fim de sua existência..

Cap. VIII - A Montanha Dourada
Depois de uma longa viagem Ringo finalmente chegou na "montanha dourada", onde se dizia que havia ouro em abundância para minerar. Era, segundo a lenda, apenas uma questão de esforço mínimo. Quem estivesse disposto a subir na montanha iria encontrar ouro e a fortuna. Só que Ringo não encontrou nada disso. Ao contrário, no pé da montanha havia um acampamento horroroso, caindo aos pedaços. A fauna reinante ali era de bêbados e prostitutas. Ringo olhou tudo com um desânimo incrível. Era para aquilo que ele havia lutado tanto? Uma viagem tão longa para chegar em uma bueiro como aquele? Decepção, era a palavra recorrente passando em sua mente...

Entretanto era a tal coisa. Está no inferno? Aproveita e abraça o Diabo. Já que havia chegado ali não iria dar meia volta. Entrou com seu cavalo Costa no meio daqueles barracões. Logo percebeu que as prostitutas eram todas maltratadas, algumas com sinais claros na pele de doenças sexualmente transmissíveis. A Sífilis estava em alta. Muitas daquelas mulheres estavam obviamente contaminadas. Eram jovens, muito provavelmente vinham de famílias sem estrutura, outras eram órfãs. Sem saber ler e nem escrever só sobrava mesmo o caminho da prostituição, a chamada profissão mais antiga do mundo, muito praticada, inclusive por mulheres de fino trato que se casavam apenas por dinheiro. Era um modo de ganhar a vida.

A sociedade que imperava ali era na base de violência. Não havia leis. Todos tinham uma arma carregada na cintura. Qualquer palavra errada, qualquer provocação gratuita, era respondida com chumbo quente. Ringo sabia que a melhor maneira de sobreviver era não chamar a atenção, não criar provocação. Os homens que ali viviam eram desesperados, não tinham nada a perder. A maioria era criminosos foragidos (ora, como o próprio Ringo). Havia de tudo, ladrões, bandoleiros, mexicanos, trogloditas, insanos, pervertidos. Era uma desgraceira sem tamanho. Não havia como ter amizades naquele meio, todos, sem exceção, eram patifes desalmados.

O único grupo que parecia se diferenciar era a dos pastores. Todos bem arrumados, com ternos limpos. Nada de novo, Ringo sabia bem disso. Aquela gente não o enganava. Eram tão vigaristas como os mais vigaristas que estavam ali. Queriam o dízimo, queriam pegar o dinheiro que sobrasse, que caísse das mesas dos mineradores. Eram parasitas. O ranço de gente ruim, o cheiro de picaretas, esse Ringo conhecia muito bem. Ele sabia que aqueles pastores não tinham nada de Deus. Queriam o vil metal, o dinheiro, nada mais. Eram mercadores do templo, lobos em peles de cordeiros.

Assim Ringo, em poucos minutos, fez o diagnóstico preciso do que estava acontecendo ali no pé da montanha dourada. Ele pensou em ficar ali, por pelo menos um dia, mas depois refletiu e entendeu que o melhor era apenas pegar mantimentos, água e munição e dar uma volta pelas redondezas. Dormir ao relento era sua prática comum. Queria subir na montanha ainda naquela tarde. Viu uma garota até bonita, mas maltratada pela vida que levava. Seu nome era Feliicity. Nome falso, claro. Ela ofereceu seus serviços em troca de 4 dólares. Ringo não mostrou qualquer interesse. Comprou o que tinha que comprar. Colocou ao lado da sela de seu cavalo e saiu daquele covil de víboras. Ele iria adentrar o meio selvagem. Queria subir na montanha. Dourada ou não, ele tinha que explorar, caso contrário sua longa viagem teria sido em vão.

Capítulo Final - A verdadeira Fortuna
Ringo subiu a montanha ao lado de sua nova companheira. Ela se mostrou uma boa companhia, prestativa e cuidadosa. Algumas mulheres quando passam pela prostituição começam a entender, a enxergar a vida sob um novo ponto de vista. Elas são submetidas a uma rotina das mais perversas e são expostas a todos os tipos de sujeitos asquerosos. Acabam desenvolvendo um sexto sentido para localizar bons homens. Com ela aconteceu justamente isso. Ela viu um bom homem em Ringo. E ele, por sua vez, começou a ter uma boa sensação ao seu lado.

Ringo passava as manhãs em busca de ouro. Quando voltava para seu acampamento já era meio-dia. Hora de fazer uma refeição. Depois mais uma jornada de trabalho pela tarde. Antes de anoitecer estava de volta. E um homem e uma mulher no alto da montanha, o que você poderia imaginar que iria acontecer? Claro, não demorou muito e eles tiveram uma noite de sexo e prazer. Ringo gostou muito dela nessa questão. E ela se sentiu muito bem por não ter sido remunerada por isso. Era o sinal de que havia um relacionamento ali. Quem sabe ele chamasse ela para ficar ao seu lado. Ela toparia com certeza.

Ringo tentou por uma semana no alto da montanha. Conforme os dias iam passando ele foi tomando consciência que era tarde demais. Se aquela montanha tinha ouro - e em algum momento houve ouro ali com certeza, caso contrário não se chamaria "montanha dourada" - bom, se havia ouro, eles já tinham levado de lá. Afinal a tal febre do ouro fez com que uma multidão subisse aquelas montanhas. Ringo havia chegado tarde... Até havia pedrinhas douradas pelo caminho, mas não era ouro. Era o que os mineradores chamavam de "ouro de tolo", pois apenas um tolo não iria saber distinguir aquele metal do verdadeiro ouro.

Havia buracos por toda a parte. A mineração ali havia sido feroz, sem nenhuma preocupação com o meio ambiente. Aqueles homens eram homens desesperados. Em farrapos, procuravam pela grama que iria garantir pelo menos a refeição do dia. Não era algo bonito de se ver. Muitos eram magros, com as roupas rasgadas. Poucos tinham algum tipo de calçado. Andavam de pés descalcos, sujos, já se tornando parte da paisagem. Depois de alguns dias ali Ringo finalmente enxugou o suor de seu rosto, olhou para o horizonte e decidiu que iria seguir em frente. Iria para San Francisco, tentar vida nova. Afinal esse era o seu habitual, a história de sua vida.

Assim logo pela manhã da segunda, exatamente uma semana depois de ter chegado na montanha dourada, Ringo pegou sua sela, selou seu cavalo, ajeitou suas coisas e decidiu que era hora de ir embora. Felicity ficou olhando ele arrumar suas coisas. Será que ele iria chamá-la para ir ao seu lado? Ela ficou ansiosa, esperando pelo que iria acontecer. Então assim que ajeitou tudo, Ringo olho para ela. Olhos nos olhos. Ela estava apreensiva... Então ele estendeu sua mão e ela o abraçou de forma fervorosa. Sim, Ringo havia feito sua escolha. iria ficar com ela. Afinal, depois de tudo, ele finalmente havia encontrado a verdadeira fortuna.

Pablo Aluísio.

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