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segunda-feira, 27 de maio de 2024

As Cartas de Grace Kelly - Parte 10

As Cartas de Grace Kelly - Parte 10
Grace estava empolgada para filmar seu novo filme, a aventura "Mogambo" que seria filmado no Quênia, na África. Ela estava mais curiosa do que qualquer outra coisa. Nunca tinha ido no continente africano e achava tudo muito exótico e selvagem. Mas assim que chegou nas locações no Hell's Gate National Park percebeu que não seria algo fácil. O calor era sufocante! Os mosquitos comiam vivos os membros da equipe e elenco, inclusive ela! O diretor John Ford era um tipo durão, que falava com muita rudeza com seus atores e atrizes. A muito educada Grace Kelly não gostou do jeito dele, apesar de ser um dos grandes diretores de Hollywood. 

O filme contava ainda com Ava Gardner e Clark Gable. Grace gostou logo de cara de Ava, mas não gostou de Gable. Ele era um daqueles galãs da velha Hollywood e como tal vivia dando em cima das atrizes e qualquer mulher que se aproximasse dele. Parecia que havia uma obrigação em sua mente, de que deveria conquistar cada mulher que conhecia. Grace não gostava dele, achava o ídolo de Hollywood um grande canastrão e fazia chacota de seus avanços em relação a ela. 

Pior do que isso, Grace descobriu que o grande galã de Hollywood era banguela e que usava uma dentadura! Para ela aquele era o fim. Ela tinha má vontade até mesmo de ficar perto dele. Para complicar o que já era complicado o filme logo estourou o orçamento, as filmagens eram complicadas por causa da mudança da luz solar e do clima tropical. Foram tantos os problemas enfrentados que os estúdios de Hollywood iriam desistir de filmar no continente africano nos anos seguintes. Era mais rápido e fácil filmar tudo dentro dos grandes estúdios em Hollywood. 

Então a direção da MGM mandou a equipe voltar da África. O resto das cenas seriam filmadas nos estúdios da companhia em Los Angeles. Para Grace Kelly foi um alívio pois ela não estava mais suportando o calor, as picadas de mosquitos, os animais selvagens, etc. Assim que as filmagens terminaram ela voou para Nova Iorque e se hospedou no melhor hotel da cidade. Queria descansar no luxo! Afinal ela era uma estrela de Hollywood. Filmar na África nunca mais estaria na sua agenda de trabalho. 

Pablo Aluísio. 

segunda-feira, 30 de janeiro de 2023

Terremoto

Título no Brasil: Terremoto
Título Original: Earthquake
Ano de Lançamento: 1974
País: Estados Unidos
Estúdio: Universal Pictures
Direção: Mark Robson
Roteiro: Mario Puzo, George Fox
Elenco: Charlton Heston, Ava Gardner, George Kennedy, 
Geneviève Bujold, Victoria Principal, Walter Matthau

Sinopse:
Um grande terremoto atinge a Califórnia, em especial a cidade de Los Angeles. Enquanto a destruição se amplia e os moradores tentam sobreviver de todas as formas na grande calamidade, a maior represa da região começa a se romper. Tudo acaba se transformando em um desesperado jogo de sobrevivência.

Comentários:
Um dos filmes mais conhecidos do chamado cinema catástrofe, subgênero cinematográfico que foi muito popular na década de 1970. Aqui, o diferencial realmente é o roteiro, assinado por Mario Puzo, o mesmo autor de O Poderoso Chefão. Ele procurou desenvolver os personagens principais, mostrando seus dramas e seus problemas de relacionamento no dia a dia. Tudo com o objetivo de fazer o espectador se importar com o destino deles quando o grande terremoto começa. Outro aspecto completamente positivo do filme é o seu elenco formado por veteranos da era de ouro do cinema americano. Charlton Heston, por exemplo, é o engenheiro que tem problemas em seu casamento. Ava Gardner interpreta sua esposa, que descobre que ele tem um caso extraconjugal, ou pelo menos está prestes a ter. Já Walter Matthau tem um personagem muito engraçado, um bebum de bar que fica na mesa tomando suas doses, mesmo quando a cidade está desmoronando ao seu redor. No geral, o filme mostra que o cinema norte-americano dos anos 70 tinha classe. Mesmo em temas como esse, que são de destruição total. Tudo é muito bem desenvolvido, tem seu próprio tempo, sem pressa de acontecer. E os efeitos especiais, apesar de ter passado quase 50 anos do lançamento do filme, não se tornaram datados ou ridículos. Pelo contrário, ainda são muito eficientes.

Pablo Aluísio.

terça-feira, 24 de maio de 2022

A Bela e o Renegado

Título no Brasil: A Bela e o Renegado
Título Original: Ride, Vaquero!
Ano de Produção: 1953
País: Estados Unidos
Estúdio: Metro-Goldwyn-Mayer (MGM)
Direção: John Farrow
Roteiro: Frank Fenton
Elenco: Robert Taylor, Ava Gardner, Anthony Quinn, Howard Keel, Kurt Kasznar, Ted de Corsia

Sinopse:
José Constantino Esqueda (Anthony Quinn) é um bandoleiro e fora da lei mexicano que deseja dominar toda a região da fronteira entre Estados Unidos e México. Para isso ele começa a expulsar todos os colonos de suas terras, entre eles Rio (Robert Taylor) e Cordelia Cameron (Ava Gardner). Suas intenções de intimidar e perseguir porém serão combatidas pelo corajoso Rio que não aceitará as imposições covardes de Esqueda para com toda aquela gente.

Comentários:
Bom faroeste da MGM que contou com um elenco acima da média. O enredo se trava na luta entre os personagens de Esqueda (Anthony Quinn) e Rio (Robert Taylor). Rio é americano e Esqueda mexicano. Ambos foram criados juntos pela mãe de Esqueda que considerava Rio como seu verdadeiro filho. Quando se tornam adultos Esqueda vira um sujeito violento, rude e cruel, que ambicioso começa a perseguir os pobres colonos da fronteira. Rio não admite esse tipo de comportamento criminoso e não demora para que os irmãos de criação se tornem inimigos jurados de morte! Como já foi dito o maior mérito desse filme é o ótimo elenco que reuniu. Robert Taylor era o galã preferido da MGM na época, tendo brilhado no épico "Quo Vadis", seu filme anterior. Estava na crista da onda, desfrutando de grande popularidade. Como vilão Anthony Quinn novamente surpreende. Ele sabia interpretar sujeitos indigestos como ninguém! E como brinde final o espectador era ainda presenteado com a linda Ava Gardner, em um papel menor, é verdade, mas mesmo assim marcante. Todo filmado no deserto implacável do estado de Utah, "Ride, Vaquero!" é uma bela sugestão para os admiradores do mais americano de todos os gêneros cinematográficos. Não vá perder!

Pablo Aluísio.

segunda-feira, 18 de abril de 2022

55 Dias em Pequim

A história desse filme se passa em 1900, em Pequim, capital da China. Um grupo de nacionalistas chineses começa a atacar estrangeiros por toda a China. Diplomatas, comerciantes, ministros, turistas, ninguém está a salvo. A diplomacia dos países ocidentais tenta uma solução negociando diretamente com a imperatriz, só que um príncipe de sua corte está por trás dos atentados. Conforme a violência aumenta o exército imperial chinês começa então a lutar em favor dos nacionalistas, dando origem a uma sangrenta guerra contra as potências ocidentais que mantém inclusive tropas em Pequim.

Temos aqui uma grande produção do cinema americano. São várias as cenas de batalhas com milhares de figurantes, etc. Tudo muito bem produzido e realizado. O elenco tem três grandes destaques. David Niven interpreta um diplomata britânico que tudo faz para evitar uma guerra generalizada. Sua educação e modos refinados se tornam um grande contraste com a brutalidade da região. E sua própria família é atingida por essa violência insana que explode na capital do império chinês. Charlton Heston interpreta um oficial do exército americano. Um tipo de militar pragmático que luta com as armas que possui. Há boas cenas no filme para Heston, com destaque para a explosão do depósito de armas e munição do exército imperial da China. Por fim a atriz Ava Gardner interpreta uma baronesa russa arruinada que só quer ir embora daquele lugar. Enquanto tenta fugir também ajuda como enfermeira em um hospital local.

O filme é muito bom, com longa duração. Se há alguma coisa a se criticar certamente vem da mentalidade colonialista de seu argumento, de seu roteiro. Os estrangeiros são os mocinhos da história. Só que a China é dos chineses. A nação a eles pertence. Não pertence à Inglaterra, nem aos Estados Unidos. Então aqueles exércitos estrangeiros lutando em solo chinês no fundo não possuem qualquer razão justificável para estarem ali. É tudo colonialismo puro, nada mais. De qualquer modo, deixando essa observação política de lado temos aqui sem dúvida um bom clássico do cinema da época.

55 Dias em Pequim (55 Days at Peking, Estados Unidos, 1963) Direção: Nicholas Ray / Roteiro: Robert Hamer, Bernard Gordon / Elenco: Charlton Heston, David Niven, Ava Gardner, Flora Robson, John Ireland, Leo Genn / Sinopse: Grupo de diplomatas e militares de países ocidentais como Inglaterra, Estados Unidos e França, tentam sobreviver a uma rebelião de nacionalistas chineses em Pequim. Eles lutam pela expulsão de todos os estrangeiros de sua nação.

Pablo Aluísio.

segunda-feira, 24 de maio de 2021

Pandora

O filme narra uma história contemporânea sobre a lenda de Hendrik van der Zee (James Mason), um marinheiro que teria sido amaldiçoado por Deus a navegar até o fim dos dias. Quando ele chega em um novo porto espanhol  acaba virando alvo da paixão de Pandora (Ava Gardner), uma linda mulher, desejada por todos, mas que jamais havia nutrido uma verdadeira paixão por quem quer que seja. Será que ela poderia romper a suposta maldição em nome do amor que sente por Hendrik? Um filme de complicada definição pois apesar de ser um romance ao velho estilo também lida com temas fantásticos, como a lenda do Flying Dutchman, um tema recorrente em livros de história sobre um navegador holandês do século XVII que teria que navegar por séculos e séculos após ser amaldiçoado por seus atos bárbaros nos mares. Logo de primeira mão, temos que chamar a atenção ao fato de que apenas aqueles que conhecem melhor a lenda conseguirão gostar plenamente do enredo, pois muitas nuances são criadas em cima desse verdadeiro realismo mágico. 

Para os fãs da sétima arte temos a presença ilustre de James Mason em atuação sofisticada, elegante. Ao seu lado surge a bela Ava Gardner, descrita por muitos como a mais bonita e sensual atriz de cinema de todos os tempos. No papel de Pandora ela se mostra muito adequada, sempre surgindo em cena com toda a sua beleza estética, além de uma clara sensação de erotismo em cada momento. Imagine o impacto que isso deve ter tido em plenos anos 1950 na puritana sociedade americana de então. Dessa maneira "Pandora and the Flying Dutchman" se torna uma ótima opção para entender a diversidade e a riqueza de temas que o cinema americano em sua época de ouro conseguiu atingir em pleno auge criativo.

Pandora (Pandora and the Flying Dutchman, Estados Unidos, 1951) Estúdio: Metro-Goldwyn-Mayer (MGM) / Direção: Albert Lewin / Roteiro: Albert Lewin / Elenco: James Mason, Ava Gardner, Nigel Patrick / Sinopse: Clássico romântico que narra a história de um amor cheio de reviravoltas do destino. Esses amantes poderão superar todos os seus problemas ou jamais viverão felizes para sempre?

Pablo Aluísio.

quinta-feira, 21 de janeiro de 2021

A Noite do Iguana

Mais um excelente filme assinado pelo mestre John Huston. O projeto foi inicialmente desenvolvido para ser estrelado por Marlon Brando, mas esse desistiu de assumir o personagem do reverendo perturbado por estar envolvido em muitos problemas pessoais na época. Uma pena pois o filme parecia muito adequado a ele já que o roteiro era baseado em mais uma peça do genial Tennessee Williams. Como se sabe esse grande autor da dramaturgia americana gostava de colocar todos os seus personagens em situações quase banais, mas que seduzia o espectador basicamente pela grande força de seus diálogos inteligentes e instigantes, discutindo as grandes questões universais. A fórmula havia dado tão certo em outros grandes textos de Williams e voltava a funcionar maravilhosamente bem aqui, tudo abrilhantado pelas ótimas atuações de Richard Burton (em grande forma profissional) e Ava Gardner (praticamente uma força da natureza). Dois grandes astros do cinema americano, bem populares, que a despeito da fama aceitaram interpretar esses personagens um tanto marginais no meu ponto de vista. Não era algo fácil de se fazer, ainda mais partindo de atores que tinham que manter uma certa imagem limpa para a sociedade. Atravessar a linha oposta poderia significar muito em termos de bilheteria. Eles porém foram em frente.

A trama se passa em uma pousada decadente localizada em um distante vilarejo. É lá que vai parar o Reverendo Shannon (Richard Burton). Em crise de fé, ele acaba tendo que lidar com as três fortes mulheres que convivem no local. A primeira é Maxine (Ava Gardner). Independente, liberada sexualmente, não consegue transpor esse espírito livre para sua personalidade emocional que muitas vezes se revela sem força. Sue Lyon (a atriz que ficou famosa internacionalmente em “Lolita”) interpreta Charlotte Goodall, uma jovem sexualmente atraente que não se importa muito com as consequências de suas atitudes irresponsáveis. Por fim há Hannah Jelkes (Deborah Kerr), uma artista que deseja viver de sua arte, misturando geralmente sua obra com sua própria vida pessoal. “A Noite do Iguana” não nega sua origem teatral em nenhum momento. A força do filme vem justamente dos diálogos que vão dissecando as pequenas e grandes hipocrisias da sociedade como um todo. Um filme belamente bem escrito que merece ser redescoberto pelos amantes da sétima arte.

A Noite do Iguana (The Night of the Iguana, Estados Unidos, 1964) Direção: John Huston / Roteiro: Anthony Veiller, baseado na peça escrita por Tennessee Williams / Elenco: Richard Burton, Ava Gardner, Deborah Kerr, Sue Lyon, Grayson Hall / Sinopse: Em uma pousada decadente de um balneário isolado quatro personagens se enfrentam entre si, discutindo sobre as pequenas e grandes questões da existência humana. Filme vencedor do Oscar na categoria de Melhor Figurino. Também indicado nas categorias de Melhor Direção de Arte, Melhor Fotografia e Melhor Atriz Coadjuvante (Grayson Hall).

Pablo Aluísio.

segunda-feira, 23 de novembro de 2020

Os Cavaleiros da Távola Redonda

Título no Brasil: Os Cavaleiros da Távola Redonda
Título Original: Knights of the Round Table
Ano de Produção: 1953
País: Estados Unidos
Estúdio: Metro-Goldwyn-Mayer (MGM)
Direção: Richard Thorpe
Roteiro: Talbot Jennings, Jan Lustig
Elenco: Robert Taylor, Ava Gardner, Mel Ferrer, Anne Crawford, Stanley Baker, Felix Aylmer

Sinopse:
Na idade Média o jovem plebeu Arthur consegue retirar a espada Excalibur de uma rocha. Assim se torna o Rei da Inglaterra. Ao lado de Merlin ele começa a reinar. Forma um grupo de valentes cavaleiros e entrenta os desafios de ser o monarca de um dos reinos mais importantes da Europa. Filme indicado ao Oscar nas categorias de melhor direção de arte e melhor som.

Comentários:
Produção luxuosa da Metro que se propõe a contar a lendária história do Rei Arthur. O estúdio não mediu esforços e realmente disponibilizou uma produção digna dessa figura mitológica da cultura britânica. Dessa forma o filme apresenta bem elaborados cenários, figurino luxuoso e bastente colorido e cenas de excelente nível técnico. O interessante é que o filme acabou sendo "roubado" pela atuação da atriz Ava Gardner. Ela interpreta Guinevere e rouba a cena com uma sensualidade à flora da pele. Coloca Arthur como coadjuvante e torna seu romance com o cavaleiro Lancelot, o grande interesse do filme como um todo. Definitivamente Robert Taylor não está à altura de sua partner em cena. Hoje em dia o filme surpreende por ser ultra colorido. Não apenas na direção de fotografia, mas também nas roupas dos atores. E o mais curioso de tudo é que isso é exatamente o que faziam os nobres na Idade Média. Quanto mais colorida fosse sua roupa, mas ele esbanjava sinais de poder e riqueza. Dessa maneira, por uma dessas ironias do destino, o filme que hoje pode ser encarado até mesmo como algo meio exagerado, na realidade apenas mostra como as pessoas da época se vestiam de fato. No mais a impressão que fica é a de que assistimos a um filme que é, acima de tudo, bonito de se ver.

Pablo Aluísio.

quinta-feira, 4 de junho de 2020

A Hora Final

Título no Brasil: A Hora Final
Título Original: On The Beach
Ano de Produção: 1959
País: Estados Unidos
Estúdio: United Artists
Direção: Stanley Kramer
Roteiro: John Paxton, Nevil Shute
Elenco: Gregory Peck, Ava Gardner, Anthony Perkins, Fred Astaire, Donna Anderson, Harp McGuire

Sinopse:
Após uma guerra nuclear global, os residentes da Austrália devem aceitar o fato de que toda a vida será destruída em questão de meses. Nesse pouco tempo que resta um capitão da marinha dos Estados Unidos tenta reconstruir seus relacionamentos. Filme indicado ao Oscar nas categorias de melhor som e melhor trilha sonora incidental.

Comentários:
Esse filme tem uma proposta bem diferente, eu diria até mesmo estranha. Imagine o mundo após uma guerra nuclear entre Estados Unidos e União Soviética. A guerra que era fria se torna absolutamente devastadora. O comandante de submarino, o capitão Dwight Lionel Towers (Gregory Peck) sobrevive por estar em alto-mar. Ele então faz com que o submarino que comanda seja direcionado para a Austrália, um dos poucos lugares do mundo que conseguiu se manter intacto, porém por poucos meses, pois a radiação no planeta se tornou mortal para todos os seres vivos. Pois é, o roteiro foge completamente do padrão. Apenas um estúdio como a United Artists bancaria um projeto cinematográfico como esse. Afinal a companhia havia sido fundada por artistas que queriam justamente fugir do controle dos grandes estúdios de cinema de Hollywood. O resultado dessa ousadia assinada pelo cineasta Stanley Kramer ficou excepcionalmente interessante. A história do filme vai se desenrolando aos poucos, fazendo com que o espectador pense que está vendo um filme normal, até ser completamente surpreendido em seus momentos finais. Uma apoteose digna das grandes reviravoltas da história do cinema.

Pablo Aluísio.

domingo, 22 de março de 2020

Os Cavaleiros da Távola Redonda

Ótima produção da  Metro-Goldwyn-Mayer que não poupou esforços em realizar um belo filme para contar a também bela lenda do Rei Arthur e os Cavaleiros da Távola Redonda. O roteiro, muito bem escrito por sinal, mostra desde o surgimento de Arthur como aspirante ao trono até sua subida ao poder, suas lutas, guerras, glórias e queda do lendário monarca. O enredo começa logo após a saída do Império Romano da Bretanha. Seu vácuo de poder leva a ilha a uma encruzilhada de guerras sem fim. Vários senhores feudais brigando juntos pela posse do maior território possível. Para parar a anarquia reinante era necessária a centralização do poder na figura de um único soberano inglês.

É justamente aí que entra a figura de Arthur (Mel Ferrer). O mago Merlin (Felix Aylmer) avisa aos nobres que a lenda afirma que apenas o futuro rei da Inglaterra poderia retirar a espada Excalibur do metal de uma bigorna. Após vários candidatos tentarem - e falharem - resta ao desacreditado Arthur (considerado um filho bastardo, sem nobreza) retirar a mágica espada para se tornar o soberano absoluto de todos os senhores feudais britânicos. Isso daria origem ao seu famoso reinado, ao lado de seus cavaleiros como Lancelot (Robert Taylor) e Percival (Gabriel Woolf), o cavaleiro em busca do cálice sagrado. Além deles temos ainda todos os demais personagens cativantes que tanto conhecemos dessa mitologia.

"Os Cavaleiros da Távola Redonda" realmente é uma produção de encher os olhos. Figurino, cenários (a produção foi rodada na Inglaterra) e os diálogos são todos muito bem trabalhados, diria até refinados, dando aquele ar de produção classe A que só os antigos épicos possuíam. Claro que o argumento não tira maiores liberdades com a estória de Arthur, procurando de forma às vezes quase didática, seguir a versão oficial que chegou até nós através da música, dos poemas e das cantigas dos antigos menestréis e trovadores. No auge da popularidade do cinema em cores e da tecnologia do Technicolor, o que vemos é uma infinidade de figurinos coloridos, vibrantes, como convém ao vestuário típico da Idade Média daquele período. É um filme bonito de se ver.

Em termos de elenco o destaque é a atriz Ava Gardner  como a rainha adúltera Guinevere. Ela está belíssima em cena. Nem um pouco deslocada com o material medieval, ela surge maravilhosa, mostrando aquela estampa de fina postura que só as antigas estrelas do cinema tinham. Aliás o texto fica bastante focado na complicada relação da rainha com o cavaleiro Lancelot (na pele de um afetado Robert Taylor). Arthur, o mago Merlin e os demais membros da Távola Redonda, ficam assim até mesmo parecendo meros coadjuvantes diante da tensão sexual entre Gardner e Taylor. Afinal de contas a lenda do Rei Arthur não se resume apenas a um retrato de um rei mitológico, mas também ao complicado caso de um amor impossível entre Lancelot e Guinevere. Pelo visto nem mesmo Camelot escapou da infidelidade conjugal. Assim deixo a dica desse ótimo épico medieval com ares de romance e duelos entre nobres cavaleiros. Sem dúvida um belo filme.

Os Cavaleiros da Távola Redonda (Knights of the Round Table, Estados Unidos, 1953) Direção: Richard Thorpe / Roteiro: Talbot Jennings, Jan Lustig / Elenco: Robert Taylor, Ava Gardner, Mel Ferrer, Stanley Baker, Anne Crawford, Felix Aylmer, Gabriel Woolf / Sinopse: O filme narra as mitológicas aventuras do Rei Arthur e seus Cavaleiros da Távola Redonda. Ao levantar a espada Excalibur ele se torna um dos mais celebrados Reis da história da Inglaterra.

Pablo Aluísio.

quinta-feira, 13 de fevereiro de 2020

O Show Não Pode Parar

Título no Brasil: O Show Não Pode Parar
Título Original: The Kid Stays in the Picture
Ano de Produção: 2002
País: Estados Unidos
Estúdio: Highway Films
Direção: Nanette Burstein, Brett Morgen
Roteiro: Brett Morgen
Elenco: Robert Evans, William Castle, Francis Ford Coppola, Catherine Deneuve, Ava Gardner, Ernest Hemingway

Sinopse:
Esse é um documentário sobre a vida do produtor Robert Evans, um dos mais poderosos e criativos executivos da história do cinema americano, tendo trabalhado como chefe dos estúdios Paramount durante os anos de 1966 a 1974. 

Comentários:
Para quem gosta da história do cinema americano, esse documentário é um item essencial. Ele conta a vida de Robert Evans. E quem foi ele? Começou como ator, mas já aos 34 anos de idade enveredou para a produção, onde se deu muito bem. Acabou como chefe de produçao da Paramount Pictures, reinando na companhia durante anos. Foi dele a ideia de levar para as telas o livro "O Poderoso Chefão", além de ser o homem por trás de filmes como "Chinatown", "O Bebê de Rosemary" e diversos outros clássicos da época. Chegou a ser chamado de o "Golden Boy" da indústria cinematográfica americana, mas viu seu brilho ir embora por causa de problemas com drogas pesadas, inclusive cocaína. Depois enfrentou muitos problemas legais após seu divórcio e foi vendo sua estrela parar de brilhar aos poucos. Esse documentário mostra tudo, desde a sua ascensão, até sua queda. O melhor para quem é cinéfilo é descobrir os bastidores de alguns dos grandes filmes da história, com Evans tendo que lidar com atores problemáticos e diretores egocêntricos. Um bom retrato de uma época do cinema que infelizmente não existe mais.

Pablo Aluísio.

sábado, 14 de dezembro de 2019

Mayerling

Um filme extremamente interessante, cujo roteiro foi baseado em fatos históricos reais. O protagonista é um príncipe da Casa de Habsburgo chamado Rudolf (Omar Sharif). Filho do imperador Francisco José I da Áustria (James Mason) ele está na linha de sucessão para subir ao trono. Só que a jovem alteza foge dos padrões que se esperaria dele, de sua posição dentro da monarquia. Muito ligado em ideais liberais, ele chega ao ponto de se encontrar com membros da resistência húngara, que deseja a independência de sua nação, algo que vai contra os interesses diretos de seu pai. Assim o relacionamento entre pai e filho é marcado por conflitos políticos e também pessoais.

O príncipe acaba se apaixonando por uma jovem, filha de um diplomata. Rudolf conhece Maria Vetsera (Catherine Deneuve) durante a apresentação de um balé e fica louco por ela. E qual seria o problema político envolvido nessa paixão? Muito simples, o príncipe já era casado, pai de uma filha. Um relacionamento extraconjugal seria um escândalo dentro da corte austríaca, muito católica e conservadora. Diante de mais esse deslize do filho, o imperador fica furioso e começa a fazer de tudo para que o romance chegue ao seu fim. O desfecho de toda essa novela acabaria resultando numa grande tragédia.

A morte precoce de Rudolf iria desencadear uma série de problemas históricos. Ele era o único na linha de sucessão ao trono. Sua morte até hoje é cercada de mistérios (que o filme não desenvolve, pois abraça a versão oficial) e iria ser o começo de uma série de problemas políticos que iriam eclodir na explosão da I |Guerra Mundial. O roteiro do filme porém não vai tão longe, preferindo contar a história de amor entre o príncipe e sua amante. Um detalhe curioso é que ele era o filho da imperatriz Sissi, tão conhecida dos cinéfilos por uma série de filmes clássicos. Quem a interpreta nesse filme é a diva Ava Gardner. Assim se você gosta dos filmes sobre Sissi não deixe de assistir também a essa excelente produção histórica. Afinal é um complemento aos outros filmes, mostrando Sissi numa fase mais madura de sua vida. Envelhecida e desiludida, ela é apenas um sombra da imperatriz que um dia foi. Em suma, esse é um ótimo filme histórico que explora muito bem o momento em que as velhas monarquias chegavam ao seu fim.

Mayerling (Inglaterra, França, 1968) Direção: Terence Young / Roteiro: Terence Young, baseado no romance escrito por Claude Anet e Michel Arnold / Elenco: Omar Sharif, Catherine Deneuve, Ava Gardner, James Mason / Sinopse: O imperador Francisco José I (James Mason) precisa lidar com um filho nada convencional, o príncipe Rudolf (Omar Sharif). Agora as coisas pioram pois ele se declara apaixonado pela jovem Maria Vetsera (Catherine Deneuve), mesmo sendo um homem casado e sucessor ao trono real. Filme indicado ao Globo de Ouro na categoria de Melhor Filme Estrangeiro em língua inglesa.

Pablo Aluísio.

sexta-feira, 29 de novembro de 2019

Mogambo

Esse é um clássico do gênero "Aventura na África". Uma produção com um elenco estelar da era de ouro do cinema clássico de Hollywood. No enredo um caçador americano no continente africano, Victor Marswell (Clark Gable), é contratado pelo pesquisador Donald Nordley (Donald Sinden) para comandar um safári nas montanhas remotas onde vivem gorilas selvagens. Donald quer registrar o comportamento desses animais em seu habitat natural, os filmando na natureza. Victor inicialmente não acha uma boa ideia pois poucos homens estiverem naquele lugar distante, porém acaba aceitando a generosa oferta. O que o cientista Donald nem desconfia é que sua própria esposa, Linda Nordley (Grace Kelly), está se apaixonado cada vez mais por Victor. Para concretizar seu romance porém ela terá que passar por cima de Eloise Y. Kelly (Ava Gardner), uma dançarina de night club, que também está perdidamente apaixonada por Victor.

John Ford deu um tempo em seus clássicos de western para se arriscar no gênero aventura nessa produção. O resultado foi esse "Mogambo", certamente um bom filme, mas que jamais pode ser comparado com obras primas como "Rastros de Ódio" ou "Rio Bravo". O enredo se passa numa África ainda colonial e praticamente inexplorada. É lá que vive o personagem de Clark Gable, um veterano caçador branco que captura animais exóticos para vendê-los a circos e zoológicos de todo o mundo. Sua rotina de trabalho acaba mudando completamente com a chegada de uma dançarina americana chamada Eloise (Ava Gardner) que realizou uma longa viagem dos Estados Unidos até a África pensando que iria encontrar um milionário indiano, mas acaba se dando mal ao saber que ele foi embora uma semana antes de sua chegada.

Imediatamente Eloise se apaixona por Victor, porém as coisas não saem como ela queria. Victor torce o nariz ao saber que ela era uma dançarina de boates. Pior do que isso, começa a tratar a garota com um certo desdém (a ponto de dizer a um de seus amigos que ela na verdade seria uma "mulher de todos os homens!"). Nada aliás poderia sair mais diferente de Eloise do que a também recém chegada Linda (Grace Kelly). Loira, linda, recatada e educada, com extrema finesse, ela sim se mostra a mulher que Victor gostaria de ter ao seu lado. Infelizmente para o velho caçador há um problema: Linda já é casada, justamente com o homem que o contratou para um safári rumo às montanhas, em busca de gorilas selvagens.

É verdade que o roteiro acaba se rendendo ao moralismo da época em seus momentos finais, mas nem isso estraga "Mogambo". Ford já havia demonstrado em seus faroestes que ele conseguia com muito brilho tanto dirigir um bom filme de entretenimento como também desenvolver psicologicamente bem todos os seus personagens. Não havia espaço para papéis rasos e sem sentido em seus filmes. Não é à toa que até hoje ele é considerado um mestre, um verdadeiro gênio da sétima arte. "Mogambo" tem um elenco maravilhoso, com três grandes estrelas da época, e um roteiro extremamente bem escrito. Dito isso também temos que reconhecer que o tempo também cobrou seu preço. O tempo, como diria o provérbio, é o senhor da razão. O que era normal há 60 anos hoje já não soa tão comum.

O filme mistura cenas rodadas em estúdio com filmagens reais realizadas por Ford e sua equipe de segunda unidade no continente africano. Não poucas vezes as duas filmagens são mescladas em edição. Nem sempre isso funciona. As imagens capturadas na África não possuem, por exemplo, a mesma qualidade das cenas que foram realizadas em estúdio com os atores. Por isso a diferença de uma para outra se torna muito perceptível ao espectador. Tecnicamente o filme envelheceu mal. Pode parecer que algo assim seria um excesso de zelo, porém é um fator que envelheceu dramaticamente, tornando o filme de Ford menor do que ele realmente era. De qualquer forma o que temos aqui é certamente um clássico do gênero aventura nas selvas. Com a genialidade de John Ford não era de se esperar nada muito diferente disso.

Mogambo (Mogambo, Estados Unidos, 1953) Estúdio: Metro-Goldwyn-Mayer (MGM) / Direção: John Ford / Roteiro: John Lee Mahin, Wilson Collison / Elenco: Clark Gable, Grace Kelly, Ava Gardner, Donald Sinden / Sinopse: Pesquisador da vida selvagem contrata um caçador para levá-lo a uma montanha onde vivem gorilas selvagens. No meio da expedição sua esposa acaba se apaixonando pelo caçador. Filme indicado ao Oscar nas categorias de Melhor Atriz (Ava Gardner) e Melhor Atriz Coadjuvante (Grace Kelly). Vencedor do Globo de Ouro na categoria de Melhor Atriz (Grace Kelly).

Pablo Aluísio.

quarta-feira, 26 de dezembro de 2018

Mayerling

Um filme extremamente interessante, cujo roteiro foi baseado em fatos históricos reais. O protagonista é um príncipe da Casa de Habsburgo chamado Rudolf (Omar Sharif). Filho do imperador Francisco José I da Áustria (James Mason) ele está na linha de sucessão para subir ao trono. Só que a jovem alteza foge dos padrões que se esperaria dele, de sua posição dentro da monarquia. Muito ligado em ideais liberais, ele chega ao ponto de se encontrar com membros da resistência húngara, que deseja a independência de sua nação, algo que vai contra os interesses diretos de seu pai. Assim o relacionamento entre pai e filho é marcado por conflitos políticos e também pessoais.

O príncipe acaba se apaixonando por uma jovem, filha de um diplomata. Rudolf conhece Maria Vetsera (Catherine Deneuve) durante a apresentação de um balé e fica louco por ela. E qual seria o problema político envolvido nessa paixão? Muito simples, o príncipe já era casado, pai de uma filha. Um relacionamento extraconjugal seria um escândalo dentro da corte austríaca, muito católica e conservadora. Diante de mais esse deslize do filho, o imperador fica furioso e começa a fazer de tudo para que o romance chegue ao seu fim. O desfecho de toda essa novela acabaria resultando numa grande tragédia.

A morte precoce de Rudolf iria desencadear uma série de problemas históricos. Ele era o único na linha de sucessão ao trono. Sua morte até hoje é cercada de mistérios (que o filme não desenvolve, pois abraça a versão oficial) e iria ser o começo de uma série de problemas políticos que iriam eclodir na explosão da I |Guerra Mundial. O roteiro do filme porém não vai tão longe, preferindo contar a história de amor entre o príncipe e sua amante. Um detalhe curioso é que ele era o filho da imperatriz Sissi, tão conhecida dos cinéfilos por uma série de filmes clássicos. Quem a interpreta nesse filme é a diva Ava Gardner. Assim se você gosta dos filmes sobre Sissi não deixe de assistir também a essa excelente produção histórica. Afinal é um complemento aos outros filmes, mostrando Sissi numa fase mais madura de sua vida. Envelhecida e desiludida, ela é apenas um sombra da imperatriz que um dia foi. Em suma, esse é um ótimo filme histórico que explora muito bem o momento em que as velhas monarquias chegavam ao seu fim.

Mayerling (Inglaterra, França, 1968) Direção: Terence Young / Roteiro: Terence Young, baseado no romance escrito por Claude Anet e Michel Arnold / Elenco: Omar Sharif, Catherine Deneuve, Ava Gardner, James Mason / Sinopse: O imperador Francisco José I (James Mason) precisa lidar com um filho nada convencional, o príncipe Rudolf (Omar Sharif). Agora as coisas pioram pois ele se declara apaixonado pela jovem Maria Vetsera (Catherine Deneuve), mesmo sendo um homem casado e sucessor ao trono real. Filme indicado ao Globo de Ouro na categoria de Melhor Filme Estrangeiro em língua inglesa.

Pablo Aluísio.

sábado, 25 de agosto de 2018

E Agora Brilha o Sol

Título no Brasil: E Agora Brilha o Sol
Título Original: The Sun Also Rises
Ano de Produção: 1957
País: Estados Unidos
Estúdio: Twentieth Century Fox
Direção: Henry King
Roteiro: Peter Viertel, baseado na obra de Ernest Hemingway
Elenco: Tyrone Power, Ava Gardner, Errol Flynn, Mel Ferrer, Robert Evans
 
Sinopse:
Paris, 1920. O jornalista americano Jake Barnes (Tyrone Power) vive em Paris, aproveitando o belo cenário cultural da cidade. Sua vida tranquila acaba sendo abalada quando encontra casualmente pela noite com a bela Brett Ashley (Ava Gardner). É uma antiga paixão de Barnes. Ele a conheceu em um hospital para soldados feridos na Espanha. A reaproximação acaba revivendo antigos sentimentos em Barnes que há anos estavam adormecidos.

Comentários:
Temos aqui um bonito clássico romântico do cinema americano baseado na obra de Ernest Hemingway. Quem assistiu a outras adaptações de livros desse autor para o cinema perceberá uma incrível semelhança de enredo com outros filmes dessa mesma linha. Só para citar um exemplo, também temos aqui um jovem soldado ferido que acaba se apaixonando pela enfermeira que o tratou após retornar destroçado, física e emocionalmente, do front de batalha. É um tema recorrente nos escritos de Hemingway, simplesmente porque há claros toques autobiográficos em seus romances. Pois bem, embora isso não seja oficialmente reconhecido pelos especialistas em seus livros, o fato é que a estória e a trama desse romance parece seguir os passos de "Adeus às Armas", uma das grandes obras do escritor. É uma espécia de continuação daquilo que assistimos no filme  homônimo (que foi estrelado por Rock Hudson e que já comentamos aqui em nosso blog). O grande diferencial é que deixa claro desde o começo as tristes consequências dos ferimentos no personagem principal Jake Barnes (interpretado com elegância por Tyrone Power), que agora sabemos teve uma sequela terrível dos danos sofridos no campo de batalha, pois se tornou impotente. Essa condição o destrói emocionalmente pois ele fica numa posição de nunca consumar seu relacionamento com o amor de sua vida, Brett Ashley, na pele de Ava Gardner, incrivelmente bela em cena. 

Ela também o ama e diante de sua resistência começa a seduzir outros homens em sua presença, o colocando em situações constrangedoras e delicadas. Infelizmente o próprio autor não levou esse drama pessoal até o limite, preferindo em determinado momento de sua estória apostar em um incômodo deslumbramento com as touradas espanholas, algo que me deixou um pouco desconfortável pois considero uma tradição bem estúpida, que promove abusos contra os direitos dos animais.  Essa consciência porém ainda não existia na época e Ernest Hemingway parece completamente absorvido pelo clima em torno do tal "esporte". Isso acaba desviando o foco principal do que vemos e o filme assim vai se diluindo cada vez mais, até virar uma mera peça publicitária de turismo para as tradições e esportes tipicamente ibéricos. A impressão que passa é que Ernest Hemingway pisou no freio, como se tivesse desistido de aprofundar mais esse drama na vida do personagem principal! De qualquer maneira é preciso deixar claro que isso não é culpa nem da direção e nem da produção do filme - que é de fato classe A, realmente excelente. A culpa deve recair sobre o próprio Ernest Hemingway que parecia esgotado e sem ideias novas quando escreveu esse romance. Do ponto de vista cinematografico porém o filme vale sua indicação por causa da bela fotografia e da direção de arte bem caprichada. No fundo um belo e bem produzido romance passado numa Espanha linda e convidativa - com direito até mesmo a uma Paris maravilhosa e deslumbrante ao amanhecer, como mero pano de fundo.

Pablo Aluísio.

sexta-feira, 25 de novembro de 2016

As Neves do Kilimanjaro

Título no Brasil: As Neves do Kilimanjaro
Título Original: The Snows of Kilimanjaro
Ano de Produção: 1952
País: Estados Unidos
Estúdio: Twentieth Century Fox
Direção: Henry King
Roteiro: Casey Robinson, baseado na obra de Ernest Hemingway
Elenco: Gregory Peck, Susan Hayward, Ava Gardner, Hildegard Knef
  
Sinopse:
Durante um safári na África, um escritor americano, Harry Street (Gregory Peck), acaba se ferindo na perna numa caçada. Levado de volta ao acampamento o ferimento se agrava, se tornando infeccioso. Enquanto aguarda socorro ele começa a recordar de seu passado, dos amores e das oportunidades perdidas em sua vida. Em pouco tempo começa também a delirar, misturando recordações com lamúrias pois começa a perceber que não sairá vivo dessa situação. Apenas sua esposa Helen (Susan Hayward) tenta de todas as formas mantê-lo vivo. Filme indicado ao Oscar nas categorias de Melhor Fotografia (Leon Shamroy) e Melhor Direção de Arte (Lyle R. Wheeler e John DeCuir).

Comentários:
Nem sempre a adaptação de livros para o cinema consegue resultar em filmes irrepreensíveis. A transposição é sempre complicada. Veja o caso dessa produção. Em 1936 o escritor Ernest Hemingway publicou o conto "The Snows of Kilimanjaro" na revista Esquire. Nele um caçador branco de origem americana agonizava na África, à beira da morte, enquanto fazia um verdadeiro balanço de sua vida. Em 1952 Hollywood comprou os direitos da obra e o transformou nesse filme. Como havia lacunas na trama o roteirista Casey Robinson usou de farto uso de flashbacks para voltar ao passado, mostrando a vida de Harry Street, o protagonista, em sua busca pelo sucesso no trabalho e no amor, mesmo que ele acabasse achando que no final tudo foi em vão. É interessante notar que em praticamente todos os romances e livros que escreveu Hemingway usava sempre de aspectos biográficos de sua vida pessoal em seus personagens. Um exemplo pode ser encontrado aqui. O escritor interpretado por Gregory Peck era na verdade o próprio Ernest Hemingway. Ele vai para a África em busca de emoções, depois participa da guerra civil espanhola e se apaixona por uma linda enfermeira. Ora, basta lembrar de outros filmes baseados na obra desse autor para perceber que todos esses elementos se repetem em livros (e filmes) como "Adeus às Armas" e "Por Quem os Sinos Dobram". No fundo ele sempre escrevia sobre si mesmo, sua visão de mundo e suas experiências pessoais. 

"As Neves do Kilimanjaro" tem como característica maior o fato de que há uma clara tentativa em se unir os elementos de filmes de aventura com uma abordagem mais intelectual, mais reflexiva. Por essa razão o filme foi considerado um pouco lento em seu lançamento, fruto provavelmente do estilo mais pesado do diretor Henry King. Mesmo com esse pequeno problema de ritmo (que é inegável) o filme se destaca mesmo por seu elenco. Além de Gregory Peck como o personagem principal brilham ainda a maravilhosa Ava Gardner como Cynthia Green, o grande amor do passado do escritor, e Susan Hayward, como a dedicada e paciente esposa dele. Gardner, um dos símbolos sexuais mais famosos da época, esbanja sensualidade ao mesmo tempo em que dá um aspecto transtornado para sua personagem. Ela não consegue lidar muito bem com suas emoções, ao mesmo tempo em que tem uma postura inconsequente e impulsiva com seus amores. Com boas tomadas da linda região onde fica a montanha do Kilimanjaro (a mais alta do continente africano, sempre com neves eternas em seu pico) o filme consegue ao mesmo tempo servir como diversão e retrato de um dos mais consagrados escritores americanos de todos os tempos. Algo que convenhamos não é pouco coisa. Assim deixo a recomendação para os admiradores de Ernest Hemingway e dos filmes de aventura do cinema clássico americano. É certamente uma boa pedida.

Pablo Aluísio.


domingo, 8 de maio de 2016

As Neves do Kilimanjaro

Ontem assisti ao clássico "As Neves do Kilimanjaro" (The Snows of Kilimanjaro, EUA, 1952). O filme é uma adaptação para o cinema de um conto escrito por Ernest Hemingway em 1936. Em seus escritos Hemingway quase sempre falava sobre si mesmo. Embora seus livros fossem romances, com personagens de ficção, todos eles traziam um pouco do próprio escritor em suas personalidades. Aqui não foi diferente. O protagonista interpretado por  Gregory Peck também é um escritor. Alguém que almeja viver de seus livros. Ele se vê numa situação limite após ter sua perna infeccionada em pleno safári na África. Em cima desse momento decisivo se desenvolve toda a trama do filme.

Enquanto fica prostrado numa maca, vendo a morte de perto, cercado por animais selvagens como hienas e abutres esperando por sua carcaça, ele começa a fazer um balanço de sua vida. Embora tenha tido relativo sucesso com seus romances isso passa longe de ser considerado um alívio para ele. Muito autocrítico considera-se um fracassado que levou toda a sua vida em vão. O único pensamento que lhe consola é um velho amor do passado, a exuberante Cynthia (Ava Gardner). Eles tiveram um belo romance no passado que resultou inclusive em uma gravidez. Street (Peck) porém não soube dar o devido valor ao que acontecia em sua vida naquele momento. Mais preocupado em fazer sucesso como escritor acabou negligenciando aquela que seria o grande amor de sua vida. Agora, à beira da morte, ele relembra e lamenta. O sucesso com os livros nada significou pois o fracasso na vida pessoal é o que mais pesa nesse momento final.

O roteiro assim se desdobra em duas linhas narrativas básicas. Uma no presente, onde o personagem de Gregory Peck agoniza em um acampamento aos pés da montanha do Kilimanjaro (a mais alta da África) e outra em diferentes passagens de seu passado, focando principalmente em amores que não deram certo. O uso de flashback situa assim o espectador sobre tudo o que aconteceu nos anos anteriores da vida do protagonista. Além de Cynthia (Gardner), o grande amor de sua vida, ainda há lembranças referentes à Condessa Liz (Hildegard Knef), uma bonita, mas frívola, nobre europeia com quem ele passou bons momentos no começo de sua carreira. É justamente o tio de Liz que resolve deixar uma fortuna para Street com um enigma para decifrar referente inclusive ao Kilimanjaro.

O elenco tem três grandes estrelas. Gregory Peck interpreta o personagem principal. É curioso ver esse trabalho do ator porque ele era muito diferente de Ernest Hemingway (cuja personalidade foi transportada para as páginas da literatura em seu personagem). Enquanto o escritor era uma explosão de sentimentos, fúria e vontade de experimentar todos os aspectos da vida, Peck sempre se caracterizou como um homem fino e elegante, bastante discreto. Mesmo assim ele conseguiu convencer plenamente em cena. Já Ava Gardner era pura sensualidade. Aqui ela curiosamente apresenta um aspecto mais vulnerável, o que a diferencia bem de outros trabalhos no cinema. Por fim há a presença de Susan Hayward como a esposa de Peck. Uma mulher paciente e muito dedicada ao marido, ainda mais agora que ele passa por uma situação extrema no coração do continente africano. Enfim, um belo filme que resgata a obra de Ernest Hemingway, especialmente indicado para neófitos em sua literatura.

Pablo Aluísio. 

sexta-feira, 22 de abril de 2016

Mogambo

Aproveitei a noite de ontem para conferir mais um clássico. O filme em questão foi Mogambo, produção de 1953 dirigida pelo mestre John Ford. Conhecido e consagrado pelos filmes de western que realizou ao lado de John Wayne, Ford aqui mudou de ares, trocando o deserto do velho oeste pelas planícies sem fim da África selvagem. O grande atrativo para o cinéfilo nem vem tanto dessa diversidade, mas sim do maravilhoso elenco que Ford conseguiu reunir. Ele teve sob sua direção três grandes estrelas de Hollywood: Clark Gable, Grace Kelly e Ava Gardner! Poucos filmes da época conseguiram reunir uma constelação como essa.

O galã Gable interpreta um grande caçador branco chamado Victor Marswell; Ele tem um posto avançado no continente africano. Ao lado de sua equipe ele caça animais raros (como uma pantera negra) para vender para circos e zoológicos ao redor do mundo. O negócio prosperou tanto que Vic resolve em determinado momento também alugar sua experiência para safáris pela selva adentro. O pesquisador de grandes primatas Donald Nordley (Donald Sinden) resolve então contratar seus serviços. Donald quer que Victor comande uma expedição rumo às montanhas dos gorilas onde pretende recolher dados sobre o habitat onde vivem esses animais. O problema é que Donald também está acompanhado de sua bela esposa, a educada e delicada Linda (Grace Kelly). Talvez por estar com o casamento em crise ou por pura atração o fato é que Linda acaba se apaixonando por Victor, bem no meio do safári e bem debaixo do nariz do próprio marido!

Para completar o triângulo amoroso improvável ainda há a presença de Eloise Y. Kelly (Ava Gardner). Ela é uma dançarina americana de night clubs em Nova Iorque que foi até a África encontrar um sultão rico. O problema é que o tal milionário foi embora antes da hora e Kelly ficou a ver navios. Sem ter para onde ir ela acaba indo parar na propriedade de Victor que resolve lhe acolher enquanto o próximo barco em direção à civilização não chega. Pronto, fica assim armado todo o drama romântico do filme. Kelly ama Victor que por sua vez se sente atraído por Linda, mesmo sendo ela casada. John Ford teve habilidade suficiente para desenvolver todos esses romances ao mesmo tempo em que desenvolve uma boa aventura. Há muitas cenas reais das paisagens e animais africanos, mas a grande maioria delas foram realizadas por uma segunda unidade, sem a presença do elenco. Os atores geralmente surgem em estúdio, como se estivessem na África. Ford, sempre perfeccionista, coordenou todas as filmagens no Congo, na Tanzânia e no Quênia. Isso trouxe um visual extremamente rico para o filme.

Com tantas qualidades quem acaba roubando o filme em meu ponto de vista é a atriz Grande Kelly. Há um contraponto entre sua elegância, finesse e educação com os modos mais rudes da personagem de Ava Gardner (que de cabelos curtos também está muito sensual). Grace está maravilhosa em seu papel, que combinava perfeitamente com sua imagem pública. O curioso é que nos bastidores ela acabou tendo um caso passageiro com Gable, provando que por baixo de toda aquela imagem de mulher fria e nobre havia um vulcão adormecido. Enquanto Ava, que tinha uma postura mais sensual em cena, se comportava adequadamente no set de filmagem, sua parceira levava o astro principal do filme para debaixo de seus lençóis. O extremo oposto das personagens que interpretavam no filme. De uma forma ou outra tanto Grace como Ava foram agraciadas com indicações ao Oscar, muito embora elas não tenham levado o grande prêmio da sétima arte para casa.

Mogambo (Mogambo, EUA, 1953) Direção: John Ford / Roteiro: John Lee Mahin, Wilson Collison / Elenco: Clark Gable, Grace Kelly, Ava Gardner / Sinopse: Victor Marswell (Clark Gable) é um caçador americano na África que precisa decidir entre o amor de duas belas mulheres, a dançariana Eloise Y. Kelly (Ava Gardner) e a doce e tímida Linda Nordley (Grace Kelly), cujo o marido o contratou para levá-lo até as montanhas dos gorilas selvagens.

Pablo Aluísio.

domingo, 6 de maio de 2012

Os Assassinos

Há muito tempo eu percebi que os filmes da década de 40 são bem mais realistas do que os que foram realizados nos anos 50. Na década de 50 os personagens são muito mais definidos (os mocinhos são verdadeiros poços de virtude e os bandidos são malvadões sem coração). Nos anos 40 isso não era bem assim. Veja o caso desse "Os Assassinos". Os tipos que desfilam pela tela possuem dubiedade moral, não se sabendo ao certo se na realidade são vilões ou mocinhos. Na realidade eles passeiam em um campo cinzento, sem se posicionar completamente em um lado ou outro, igual à vida real.

Na trama alguns personagens são centrais. O "Sueco", vivido por Burt Lancaster, é um boxeador fracassado que após o fim de sua carreira vive de pequenos golpes até que se une ao bando de Big Jim. De todos os envolvidos a que mais destaca essa dubiedade moral dos anos 40 é a personagem Kitty, interpretada por Ava Gardner (no auge da juventude e beleza). Femme Fatale por excelência ela será o centro de toda a trama passada no filme. "Os Assassinos" é um ótimo exemplo do cinema maduro e cínico da década de 40. Não existem propriamente bandidos ou mocinhos e seu roteiro estruturado em vários flashbacks acentua ainda mais isso. Um belo exemplar noir que deve ser conhecido pela geração cinéfila mais jovem. Filme indicado a quatro categorias no Oscar: Melhor direção, roteiro, edição e música.

Os Assassinos (The Killers, Estados Unidos, 1948) Direção: Robert Siodmak / Roteiro: Anthony Veiller, Elwood Bredell, Ernest Hemingway, John Huston, Richard Brooks / Elenco: Burt Lancaster, Ava Gardner, Edmond O'Brien, Albert Dekker / Sinopse: Através de flashbacks o filme narra a intrigante estória do "Sueco" (Burt Lancaster), um sujeito de passado nebuloso envolvido com o submundo do crime.

Pablo Aluísio.

terça-feira, 24 de janeiro de 2012

A Hora Final

Filme estranhíssimo da carreira de Gregory Peck. Quem pensa que vai assistir um filme convencional de submarinos vai ter uma surpresa e tanto! Para começo de conversa a estória se passa após uma guerra nuclear entre Estados Unidos e União Soviética! Isso mesmo, você não leu errado! Peck é tudo o que sobrou da outrora gloriosa marinha americana e só escapou do hecatombe nuclear justamente porque estava dentro de um submarino! O interessante é que esse cenário pós apocalipse só vai sendo informado ao espectador aos poucos, enquanto se vai acompanhando o estranho flerte entre o Peck e Ava Gardner. Aliás uma das coisas que mais chamam atenção aqui é o elenco. Formado por jovens atores que iriam despontar para o estrelado nos anos seguintes (como o estranho Anthony Perkins de Psicose) e veteranos das telas (como Fred Astaire em um papel particularmente melancólico).

Mas o principal mérito de “A Hora Final” é realmente a ousadia da proposta do argumento do filme. Claro que em plena guerra fria, onde a paranóia na sociedade americana estava a mil, o filme fazia mais sentido. Hoje em dia se torna muito anacrônico e estranho. O diretor também foca muito em cima das relações pessoais dos personagens que mesmo sabendo que vão morrer em breve tentam seguir com suas vidas, namorando, passeando à beira mar, etc. Confesso que esse clima surreal é uma das coisas mais surpreendentes que já vi, ainda mais em filmes antigos. “A Hora Final” tem pinta e jeito de filme de guerra mas não é. É uma ficção apocalíptica que pode ser considerado o “avô” das produções pós apocalipse como “O Dia Seguinte”. Assista e se surpreenda.

A Hora Final (On The Beach, Estados Unidos, 1959) Direção de Stanley Kramer / Roteiro de John Paxton e Nevil Shute / Elenco: Gregory Peck, Ava Gardner, Anthony Perkins e Fred Astaire / Sinopse: Capitão da Marinha americana (Peck) chega na Austrália para uma missão secreta com um submarino nuclear australiano.

Pablo Aluísio.