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segunda-feira, 4 de março de 2024

Os Desaparecidos

Título no Brasil: Os Desaparecidos
Título Original: Bureau of Missing Persons
Ano de Lançamento: 1933
País: Estados Unidos
Estúdio: Warner Bros
Direção: Roy Del Ruth
Roteiro: Robert Presnell Sr, John H. Ayers
Elenco: Bette Davis, Lewis Stone, Pat O'Brien

Sinopse:
Uma jovem e bonita loira vai até o departamento de polícia para denunciar o desaparecimento do próprio marido. Assim que os detetives entram no caso descobrem que há coisas bem esquisitas acontecendo. O homem desaparecido não era casado e aquela jovem parece ser a principal suspeita do crime. 

Comentários:
Um filme policial B da Warner Bros, produzido na década de 1930 e estrelado pela grande atriz Bette Davis. Ela estava bem jovem quando fez esse filme e procurava seguir os passos, pelo menos no visual, da moda da época, com os cabelos platinados, bem marcantes. Um fato curioso é que Davis sempre teve muita personalidade, mesmo quando jovem. Assim que ela entra na delegacia você já percebe que a metadr das coisas que diz são pura mentira, e a outra não é nada confiável. Suas tentativas de parecer tolinha e bobinha, inocente de tudo, não enganam ninguém e esse é apenas um dos charmes desse bom filme policial. Destaque para a cena no necrotério, que é de um humor negro muito refinado realmente. Para quem pensa que o cinema antigo era tolinho... Era nada, pelo contrário, tinha ótimas sacadas de roteiro. 

Pablo Aluísio.

segunda-feira, 6 de fevereiro de 2023

A Malvada

Título no Brasil: A Malvada
Título Original: All About Eve
Ano de Lançamento: 1950
País: Estados Unidos
Estúdio: Twentieth Century Fox
Direção: Joseph L. Mankiewicz
Roteiro: Joseph L. Mankiewicz
Elenco: Bette Davis, Anne Baxter, Marilyn Monroe, George Sanders, Celeste Holm, Hugh Marlowe

Sinopse:
Margo (Bette Davis), uma veterana atriz de teatro, com a chegada da idade, começa a se sentir prejudicada. Além disso, ela precisa enfrentar a acirrada concorrência de atrizes mais jovens, entre elas um ambiciosa mulher que trabalha como sua assistente pessoal. Filme vencedor de 6 Oscars entre eles o de melhor filme, melhor direção e melhor roteiro.

Comentários:
Esse filme é considerado o melhor da carreira de Bette Davis por muitos críticos de cinema. Ela fez tantos filmes maravilhosos que, em minha opinião, é complicado afirmar qual seria realmente o seu melhor filme. Mas de qualquer modo, esse é seguramente um dos mais consagradores de sua atuação. Essa foi uma atriz realmente diferenciada, que enchia os olhos do público com seu talento espetacular. O roteiro do filme trata de questões extremamente relevantes, como o ressentimento, a ambição, a ganância e até mesmo a inveja que impera nos meios artisticos. A personagem Eve surge extremamente complexa no roteiro. Ela age como cortadinha, uma mulher boazinha, mas que no fundo esconde a alma de uma mulher ambiciosa que apenas quer subir na vida de qualquer jeito. Ótima interpretação da atriz Anne Baxter. 

Em termos de elenco, outro destaque vem com a presença de uma jovem Marilyn Monroe, interpretando uma bela loira platinada que serve de troféu para um figurão do meio teatral durante uma festa. Ela tem apenas duas cenas no filme, mas chama bastante atenção por causa de seu figurino elegante e de sua exuberante beleza. Eu considero esse um roteiro tecnicamente perfeito, sem nuances negativas. Entretanto, é bom chamar a atenção para um certo moralismo que não tem mais sentido nos dias de hoje. Em determinado momento, a personagem Eve é condenada por relacionamentos de seu passado, por ter se relacionado com um homem casado. Isso não seria um crime. De qualquer forma o filme é excelente, acima de qualquer crítica mais mordaz. Merece nota máxima em termos de sétima arte!

Pablo Aluísio.

segunda-feira, 24 de outubro de 2022

As Vidas de Marilyn Monroe - Parte 28

Recentemente a atriz Jennifer Lawrence reclamou publicamente da diferença salarial entre as atrizes e atores em Hollywood. Alguém deveria informar a ela que essa é uma luta muito antiga na indústria cinematográfica americana. Desde a velha Hollywood essa é uma realidade injusta que se recusa a mudar, mesmo com o passar dos anos. Uma das primeiras atrizes a levantar essa bandeira da igualdade salarial foi Bette Davis, ainda na década de 1930. Naqueles tempos distantes ela se indignou ao descobrir que a maioria dos atores masculinos que trabalhavam em seus filmes ganhavam muito mais do que ela, que em última análise estrelava seus dramas no cinema. Ao perguntar a um produtor da Warner Bros porque seu ator coadjuvante ganhava mais do que ela, acabou ouvindo uma resposta que a deixou chocada. O produtor lhe disse: "Ele ganha mais do que você porque você é uma mulher!!!".

Bette Davis então começou uma ampla campanha em prol da igualdade salarial, mas as demais atrizes da época, receosas em abraçar sua causa, a deixaram praticamente sozinha nessa luta. Muitas apenas queriam ter uma chance e não seria bom comprar uma briga com os estúdios em pleno auge do Star System, onde os estúdios fabricavam astros e estrelas em ritmo de produção industrial. Caso alguma delas lhe trouxessem problemas eram simplesmente substituídas por outras, geralmente mais jovens e mais belas. Mesmo sabendo disso Bette, no alto de uma grande coragem pessoal, resolveu comprar a briga. Claro que em pouco tempo ela começou a sofrer represálias, filmes estrelados por ela foram cancelados e os grandes estúdios de Hollywood não queriam nem ouvir falar de seu nome. Tudo chegou a um ponto tão crítico que Bette aceitou papéis secundários e chegou inclusive ao cúmulo de colocar um anúncio no setor de empregos nos classificados de Hollywood em busca de emprego.

Depois de Bette Davis a luta por melhores salários em Hollywood esfriou. A atriz Vivien Leigh foi uma das que se sentiu injustiçada. Seu trabalho no clássico "E O Vento Levou" é até hoje elogiado, uma atuação magistral. Ela também foi o grande destaque do filme, uma opinião que parece unânime entre público e crítica. Mesmo assim ela ganhou quase quatro vezes menos do que seu partner, o astro Clark Gable. Tão desiludida ficou que em pouco tempo deixou o cinema americano, voltando para a Inglaterra para atuar em filmes menores e mais artísticos. Mesmo com toda a situação realmente ultrajante que sofreu ela preferiu a discrição, não indo para a briga com a MGM que produziu a superprodução. Provavelmente Vivien teve receio de sofrer um boicote como havia acontecido com Bette Davis.

Esses salários ruins pagos pelas grandes empresas de cinema de Hollywood causavam situações constrangedoras, complicadas de explicar. Marilyn Monroe já era uma estrela da Fox, seus filmes rendiam milhões de dólares, mas ela continuava a levar uma vida de dura na Sunset Boulevard, morando em um pequeno apartamento praticamente sem móveis. Marilyn chegou ao ponto de ser processada várias vezes por aluguéis atrasados e contas de telefone que ela não pagava. De fato, a atriz vivia de malas prontas, sempre pronta a ser despejada dos pequenos apartamentos em que havia morado praticamente a vida inteira. A situação ficou tão ruim que Marilyn precisou fundar sua própria produtora para negociar com a Fox como pessoa jurídica. A solução, sugerida por seu advogado, acabou aumentando os rendimentos de Marilyn que depois de muitos anos de cachês baixos finalmente conseguiu comprar uma casa própria em Los Angeles.

Essa situação só viria mesmo a mudar quando Elizabeth Taylor resolveu colocar a própria Fox contra a parede. O estúdio queria muito que ela estrelasse o épico Cleópatra. Liz não tinha muito interesse e por isso chocou a imprensa quando pediu um milhão de dólares de cachê. Jamais uma atriz havia ganhado uma quantia dessas em Hollywood desde a sua fundação. Após muitas negociações e brigas a Fox finalmente se curvou ao seu pedido e assim Elizabeth Taylor se tornou a primeira mulher da história do cinema mundial a receber um salário milionário por seu trabalho. Um feito quase único e inédito, que só seria repetido anos depois com Audrey Hepburn que em 1964 pediu (e levou) seu milhão de dólares por sua atuação em "My Fair Lady".

Infelizmente apesar de tantas lutas e conquistas a média salarial das mulheres em Hollywood jamais se igualou ao dos homens, em época nenhuma. A desigualdade continuou e foi piorando ao longo dos anos, principalmente depois do auge dos filmes de ação. Bette Davis costumava dizer que além de não pagar o mesmo cachê que os homens a velha Hollywood também não abria espaço para mulheres mais velhas e que não se enquadrassem nos padrões de beleza da indústria. Bom, por tudo o que ela disse podemos dizer que as coisas realmente não mudaram muito na cidade dos sonhos desde aqueles distantes anos.

Pablo Aluísio.

quinta-feira, 21 de janeiro de 2021

Nas Garras do Ódio

Título no Brasil: Nas Garras do Ódio
Título Original: The Nanny
Ano de Produção: 1965
País: Inglaterra
Estúdio: Hammer Films
Direção: Seth Holt
Roteiro: Jimmy Sangster
Elenco: Bette Davis, Wendy Craig, Jill Bennett, James Villiers, William Dix, Pamela Franklin

Sinopse:
Baseado na novela de suspense escrita por Marryam Modell, o filme conta a história de antipatia que um garotinho nutre pela mulher que foi babá de sua mãe e que continuou a morar com a família, mesmo após muitos anos. O menino é problemático e acusa a babá de ter matado sua irmã.

Comentários:
Um combinação interessante. A Hammer Films, produtora especializada em filmes de terror como Drácula, etc, contratou a atriz  Bette Davis nos anos 1960 para atuar nessa produção de suspense. O roteiro mostra uma família bem disfuncional. A mãe sofre de depressão e não consegue lidar com os problemas do dia a dia. O marido é um sujeito distante que não aguenta passar muito tempo naquela casa e o filho, bem, o filho é o mais problemático de todos. Rebelde, mimado, ofensivo, ele odeia a babá da sua mãe (interpretada por Davis) que continuou morando com ela, mesmo já adulta e casada. O menino afirma que ela matou sua irmã em circunstâncias mal esclarecidas. Assim o roteiro deixa tudo no ar: o garoto seria apenas um moleque mal criado, mentiroso e infernal ou estaria mesmo dizendo a verdade? Bette Davis, já na velhice, como sempre, tem muita dignidade em cena. Com uma maquiagem que lhe deu grossas sobrancelhas ela parece sempre calma, paciente e gentil, mas essa seria sua personalidade verdadeira ou apenas uma máscara para esconder os mais inconfessáveis desejos de cometer crimes? Assista ao filme para descobrir.

Pablo Aluísio.

terça-feira, 24 de novembro de 2020

Lágrimas Amargas

Clássico do cinema, produzido na década de 1950 e estrelado pela atriz Bette Davis. A história é bem interessante. Um drama com toques autobiográficos, o filme "Lágrimas Amargas" narra a vida de Margie (Bette Davis), uma atriz que foi estrela no passado, mas que agora enfrenta muitos problemas em sua vida pessoal e profissional. Os estúdios já não mais a procuram para participar do elenco de seus filmes. Ela se torna uma profissional do passado que ninguém mais quer contratar. Os trabalhos que aparecem são indignos e sem dinheiro ela acaba indo morar em um pequeno apartamento muito simples, nada adequado com sua vida de luxo do passado. Para piorar, Margie procura afogar suas decepções com a bebida e acaba indo presa. Sua filha Gretchen (Wood) também não tem como lhe ajudar pois é uma jovem que já tem seus próprios problemas pessoais. De volta à liberdade, Margie decide que é hora de mudar sua vida de uma vez por todas.

Bette Davis foi uma das grandes personalidades da história do cinema americano. Ela ousou romper com o chamado Star System e procurou construir uma carreira independente e corajosa. Por ser uma mulher de atitude, enfrentou vários problemas, inclusive a falta de convites para fazer mais filmes, talvez por essa razão esse "Lágrimas Amargas" seja tão essencial para os cinéfilos entenderem quem realmente foi Bette Davis. Ela própria passaria por situações semelhantes em sua vida profissional. Vencedora do Oscar, não se importou em publicar nos classificados de um jornal de Los Angeles um anúncio em busca de trabalho. O Oscar que ela venceu inclusive é usado numa das cenas desse filme.

Não conheço nenhum outro filme da filmografia de Davis que seja tão simbólico como esse. É praticamente uma biografia da mulher corajosa e valente que ela foi em vida. Já para os que são fãs da eterna Natalie Wood, a produção tem um brinde a mais, sua participação no elenco como a filha de Bette Davis. Segundo consta, ela teria sofrido um pequeno acidente nas filmagens que quase lhe causou seu afogamento. Isso criou um trauma que lhe seguiu pelo resto da vida. Tragicamente ela morreria afogada décadas depois após um acidente até hoje mal explicado em um barco, durante suas férias ao lado do marido Robert Wagner. Fica então nossa dica de filme clássico do dia, o edificante "Lágrimas Amargas". Não deixe de assistir.

Lágrimas Amargas (The Star, Estados Unidos, 1952) Estúdio: 20th Century Fox / Direção: Stuart Heisler / Roteiro: Dale Eunson, Katherine Albert / Elenco: Bette Davis, Sterling Hayden, Natalie Wood, Warner Anderson / Sinopse: Margaret Elliot (Davis) é uma atriz que no passado foi uma estrela em Hollywood. Agora, mais velha e com problemas envolvendo alcoolismo, ela amarga um injusto ostracismo em sua vida. Filme indicado ao Oscar na categoria de melhor atriz (Bette Davis).

Pablo Aluísio.

sexta-feira, 22 de maio de 2020

Baleias de Agosto

Título no Brasil: Baleias de Agosto
Título Original: The Whales of August
Ano de Produção: 1987
País: Estados Unidos
Estúdio: Nelson Entertainment
Direção: Lindsay Anderson
Roteiro: David Berry
Elenco: Bette Davis, Lillian Gish, Vincent Price, Mary Steenburgen, Ann Sothern, Harry Carey Jr

Sinopse:
Baseado na peça teatral escrita por David Berry, o filme conta a história de duas irmãs idosas, chamadas Libby Strong (Bette Davis) e Sarah Webber (Lillian Gish), que moram na Filadélfia, mas que no verão ficam juntas na cabana da família em uma ilha na costa do Maine. Filme indicado ao Oscar na categoria de melhor atriz coadjuvante (Ann Sothern).

Comentários:
Filme maravilhoso, contando com duas grandes veteranas da história do cinema, Bette Davis e Lillian Gish. A história do filme é basicamente uma alegoria que poderia ser relacionada à vida das próprias atrizes, aqui no crepúsculo de suas vidas. Inclusive foi o penúltimo filme de Davis, que viria a falecer dois anos depois. E como ela está grandiosa nesse filme, mesmo interpretando uma mulher que está chegando ao fim de sua vida. O roteiro valoriza bastante a diferença de personalidades das duas irmãs. Uma tenta ainda manter uma vida com energia, otimismo. Ela tem planos e adora a vida. A outra sente o peso da velhice. Está praticamente cega, tem uma personalidade mais introvertida e percebe que o fim está próximo. Mesmo assim elas procuram uma ligação emocional, não apenas com o lugar, que fez parte da história familiar delas, como também com conhecidos e vizinhos. Um filme belo, com um roteiro que traz muitas lições de vida. A chegada da idade também é a chegada da sabedoria e da plenitude para muitos.

Pablo Aluísio.

quarta-feira, 25 de março de 2020

O Que Terá Acontecido a Baby Jane?

O que se pode dizer ainda desse clássico absoluto? É um dos filmes mais importantes da carreira de Bette Davis. O fato é que o filme recebeu esse título de obra prima merecidamente. A dupla central de atrizes literalmente forma a espinha dorsal do filme. Embora Joan Crawford esteja muito bem, principalmente nas cenas em que relembra seu passado glorioso há muito perdido, é Bette Davis quem brilha. Levando sua atuação a um novo patamar, Bette Davis encarna a estranha personagem Baby Jane Hudson, uma antiga atriz, que foi muito popular quando criança, mas que depois que cresceu viu sua carreira fracassar. Ela é corroída pela inveja de sua irmã Blanche. Interessante notar que vem de longe a tragédia que envolve astros mirins como vemos no argumento desse filme.

O interessante desse filme é que Bette Davis e Joan Crawford realmente se odiavam na vida real. Elas competiam em Hollywood há décadas. O clima de rivalidade acabou dando origem a uma inimizade profunda entre elas. Não se suportavam. Nem a presença da colega era suportada. Isso obviamente ajudou no filme, já que suas personagens também não conseguem conviver em paz. Outro ponto digno de nota é que na vida real a pessoa mais perversa entre elas não era Bette Davis, mas sim Joan Crawford, dito por muitas pessoas dentro da indústria cinematográfica como completamente desequilibrada.

Em ternos de elenco de apoio quem está muito bem é o ator Victor Buono. Fazendo o papel de um adulto com mentalidade de criança, que ainda mora com a mãe, o obeso personagem dá um toque a mais de melancolia a um argumento já bem servido disso. Por fim a direção de Robert Aldrich é de excelente nível técnico, pois ele nem transforma o filme em um teatro filmado e nem tampouco deixa toda a situação cair na monotonia. Isso fica bem claro pois embora seja um pouco acima da média em sua duração, o filme não se torna cansativo, deixando o espectador sempre interessado no desenlace das situações. Enfim, um belo clássico que merece sempre ser revisto.

O Que Terá Acontecido a Baby Jane? (What Ever Happened to Baby Jane?, Estados Unidos, 1962) Direção: Robert Aldrich / Elenco: Bette Davis, Joan Crawford, Victor Buono, Maidie Norman / Sinopse: Baby Jane Hudson (Bette Davis) era uma criança prodígio que fazia o maior sucesso cantando e dançando, mas que ao crescer, foi esquecida pelo público. Sua irmã Blanche (Joan Crawford) por outro lado se tornou mais famosa do que ela. Contudo, Blanche sofre um acidente , fica paraplégica e vai morar com a irmã que cuidará dela, mas sem deixar de lado uma nada sutil tortura psicológica com ela. Filme premiado com o Oscar de Melhor Figurino (Norma Koch). Também indicado nas categorias de Melhor Atriz (Bette Davis), Melhor Ator Coadjuvante (Victor Buono), Melhor Direção de Fotografia (Ernest Haller) e Melhor Som (Joseph D. Kelly).

Pablo Aluísio.

segunda-feira, 20 de janeiro de 2020

Jezebel

A atriz Bette Davis costumava dizer que o diretor William Wyler era um verdadeiro tirano durante as filmagens e que paradoxalmente a isso ele havia conseguido lhe tirar as melhores interpretações de sua carreira. O filme "Jezebel" vem justamente para confirmar as afirmações de Davis. Aqui ela interpreta Julie Marsden, uma jovem dama sulista na New Orleans do século XIX. Mimada, geniosa e dada a ataques de capricho, ela coloca seu romance com o banqueiro Preston Dillard (Henry Fonda) em risco, justamente por causa de sua personalidade. Preston gosta dela, é verdadeiramente apaixonado, porém a paciência vai se acabando. Durante um tradicional baile sulista, onde as jovens solteiras sempre vão com lindos vestidos brancos, numa tradição muito valorizada no sul, Julie decide aparecer com um vestido todo vermelho, bem berrante, para escândalo da sociedade local. Essa "vergonha" começa a minar o romance dela com o jovem banqueiro, que afinal de contas é muito suscetível a qualquer problema dentro das regras daquela sociedade, uma vez que é um banqueiro que precisa preservar sua imagem perante seus clientes.

Dois aspectos históricos bem interessantes acompanham o enredo de "Jezebel". O primeiro é o fato da história se passar apenas poucos anos antes do começo da guerra civil americana. Já naquela época os ânimos surgem bem aflorados, dominando as conversas dos sulistas pelos salões das cidades. Outro é o surgimento da febre amarela no sul, levando morte e destruição em uma escala jamais vista. Essa doença que se dissemina com extrema rapidez vai ser essencial no desenrolar da história, culminando numa forte cena final que certamente marcou época e é o grande momento de todo o filme.

"Jezebel" foi baseado numa peça escrita por Owen Davis. De certa forma foi uma produção que antecipou em um ano o impacto do clássico "E o Vento Levou". As duas histórias dos filmes são bem parecidas, com enredos se passando no sul escravocrata, nos tempos da guerra civil. As duas protagonistas também são bem semelhantes. Até mesmo em termos de premiação da academia temos semelhanças pois Bette Davis foi merecidamente premiada com a estatueta de melhor atriz do ano com essa interpretação. Ela era ainda bem jovem, mas já imprimia a marca de sua forte personalidade em sua personagem. Décadas mais tarde, após o falecimento de Bette Davis, o diretor Steven Spielberg compraria o Oscar que ela havia sido premiada por esse filme e que estava à venda em um leilão em Londres. Ele comprou a estatueta e a devolveu para o museu da academia em Hollywood. Um gesto de preservação da história do cinema. Em suma, esse é de fato um dos melhores filmes históricos desse momento crucial na história dos Estados Unidos. Um clássico absoluto do cinema americano em sua era de ouro.

Jezebel (Jezebel, Estados Unidos,1938) Direção: William Wyler / Roteiro: Clements Ripley, Abem Finkel / Elenco: Bette Davis, Henry Fonda, George Brent / Sinopse: Julie (Bette Davis) é uma jovem mimada e de personalidade forte. Ela tem um romance com um jovem banqueiro chamado Preston (Fonda), mas esse vai aos poucos perdendo a paciência com seus inúmeros caprichos. Quando a febre amarela assola a região o casal se colocará a prova, principalmente quando Julie descobrir que o grande amor de sua vida se casou com uma jovem do norte após o rompimento de seu conturbado namoro. Filme indicado ao Oscar nas categorias de Melhor Filme, Melhor Fotografia (Ernest Haller) e Melhor Música (Max Steiner). Vencedor do Oscar nas categorias de Melhor Atriz (Bette Davis) e Melhor Atriz Coadjuvante (Fay Bainter).

Pablo Aluísio. 

quinta-feira, 16 de janeiro de 2020

A Rainha Tirana

Inglaterra, 1580. A rainha Elizabeth I (Bette Davis) governa de forma absoluta em seu reino. Filha de Henrique VIII, ela dá sequência nos reinados da dinastia Tudor. Governante inteligente e sagaz, passa por um momento delicado em sua vida pessoal. Mesmo chegando numa idade mais avançada ela ainda não escolheu um marido para dar continuidade a sua linhagem. Um herdeiro traria estabilidade para os anos que viriam e por essa razão um casamento real logo se torna um importante assunto de Estado. A rainha da França, Catarina de Médici, logo sugere que ela se case com um nobre importante de sua própria corte, mas Elizabeth não parece muito interessada. Ao invés disso começa a ter sentimentos por um soldado plebeu inglês chamado Walter Raleigh (Richard Todd), que mesmo sem qualquer título de nobreza acaba conquistando o coração da rainha absolutista britânica.

Elizabeth I (1533 - 1603) passou para a história como a "Rainha Virgem". Esse nome foi dado por seus próprios súditos pois Elizabeth (Isabel I, no Brasil) não parecia empenhada em se casar para ter filhos. Durante muitos anos os historiadores se perguntaram se ela foi lésbica ou simplesmente era frígida demais para se interessar por assuntos matrimoniais. De qualquer forma sua relutância em se casar e ter filhos acabou marcando sua biografia. Nessa produção da Fox temos uma parte de sua história, justamente em um momento em que ela passou a se interessar por um plebeu, Walter Raleigh. Ele era um veterano de guerra contra a Irlanda e desejava construir uma frota para ir até o novo mundo (a América) para fazer fortuna. Para isso eram necessários navios e apenas a rainha poderia lhe conceder tamanho privilégio. Ao adentrar a corte de Elizabeth, levado por um nobre que havia sido amigo de seu pai no passado, Raleigh começou a entender que a forma mais fácil de chegar em seus sonhos era mesmo conquistar o coração da solitária monarca.

O problema é que Elizabeth I não era uma mulher fácil de lidar. Sujeita a explosões de raiva e ira, que atingia a todos ao seu redor, ela costumava tratar seu pretendentes de forma humilhante. Não era raro dispensar a eles um tratamento digno de um cão de estimação, fazendo questão de criar intrigas e fofocas na corte sobre sua nova aquisição ou como ela costumava dizer seu novo "pet". Raleigh, um homem de convicção e temperamento duro e forte, logo enfrentou Elizabeth sobre isso e muito provavelmente por causa dessa sua personalidade independente a rainha acabou caindo de amores por ele. Um romance que não interessava a outros nobres e que tampouco era bem visto dentro da corte. O filme captura o momento histórico do auge do absolutismo inglês, com a Casa Tudor em seu apogeu de glória e poder.

Essa mesma soberana seria retratada em dois filmes mais recentes muito bons chamados "Elizabeth" e  "Elizabeth: A Era de Ouro" com Cate Blanchett no papel central. Embora sejam produções excelentes, com maravilhosa produção, o fato é que a presença da clássica atriz Bette Davis faz toda a diferença do mundo se formos comparar os filmes. Assim como a histórica figura da realeza inglesa, Davis também tinha uma personalidade marcante. Aqui ela encontrou um papel muito adequado ao seu jeito de ser. Também em termos de reconstituição histórica a sua rainha surge mais de acordo com os figurinos e costumes da época, inclusive com o estranho corte de cabelo que não foi reproduzido nos filmes modernos sobre Elizabeth (provavelmente porque deixaria o público espantado com os estranhos adereços). No geral o que temos aqui em "The Virgin Queen" é uma produção muito digna de todos os aplausos, tanto em sua tentativa de trazer um pouco de história para o público em geral como também pela sua fidelidade histórica dos acontecimentos originais. Um belo clássico do cinema americano que certamente vai agradar aos gostos mais refinados.

A Rainha Tirana (The Virgin Queen, Estados Unidos, 1955)  Estúdio: Twentieth Century Fox / Direção: Henry Koster / Roteiro: Harry Brown, Mindret Lord  Elenco: Bette Davis, Richard Todd, Joan Collins / Sinopse: O filme resgata a história da monarca inglesa Elizabeth I, conhecida entre seus súditos como a "Rainha Virgem" e entre seus inimigos como a "Rainha Tirana". Filme indicado ao Oscar na categoria de Melhor Figurino (Charles Le Maire e Mary Wills).
 
Pablo Aluísio.

Meu Reino Por um Amor

Grande momento da carreira da atriz Bette Davis e um dos filmes mais lembrados por sua grande atuação. Aqui ela encontrou um papel à altura de sua personalidade única. Ela interpreta a rainha Elizabeth I, que ficou conhecida na história como a "rainha virgem" pois nunca se casou e nem deixou herdeiros. Quando o filme começa ela está pronta para receber um de seus comandantes, o Conde de Essex (Errol Flynn). Ele está triunfante pois venceu uma grande batalha contra a Espanha e sua armada. A rainha porém não está satisfeita pois esperava que a campanha lhe trouxesse muitos tesouros dos navios espanhóis. Ao invés disso tudo foi para o fundo do mar. O interessante é que por baixo do jogo de aparências a rainha ama aquele homem, tem verdadeira paixão por ele. Seu comportamento é até mesmo uma forma de despistar dos outros lordes. Os seus verdadeiros sentimentos ficam escondidos em encontros secretos com seu amado. Em pouco tempo ela volta para seus braços.

O roteiro do filme foi baseado em fatos históricos reais, inclusive não abrindo mão do trágico destino que acabou envolvendo esse romance. Bette Davis está ótima como a monarca inglesa, inclusive usando figurinos e maquiagem bem pesadas, típicos da época. Isso significou que ela precisou até mesmo cortar parte de seu cabelo para fazer jus aos problemas de calvície que atingia a rainha. A Elizabeth I foi uma mulher complexa, cheia de traumas por causa da velhice e da perda da juventude (algo retratado no filme). A estrutura do roteiro desse filme é bem teatral pois foi baseado numa peça. Só que em nenhum momento cansa o espectador. Além disso tem ótimos diálogos que prendem a atenção. Enfim, um filme realmente digno dessa histórica rainha inglesa.

Meu Reino Por um Amor (The Private Lives of Elizabeth and Essex, Estados Unidos, 1939) Direção: Michael Curtiz / Roteiro: Norman Reilly Raine, Eneas MacKenzie / Elenco: Bette Davis, Errol Flynn, Olivia de Havilland, Vincent Price / Sinopse: O filme resgata a história de amor envolvendo a rainha Elizabeth I (Davis) e o Conde de Essex (Flynn) durante o século XVI. Filme indicado ao Oscar nas categorias de Melhor Fotografia (W. Howard Greene, Sol Polito), Melhor Direção de Arte (Anton Grot), Melhor Som (Nathan Levinson), Melhores Efeitos Especiais (Byron Haskin, Nathan Levinson) e Melhor Música (Erich Wolfgang Korngold).

Pablo Aluísio.

quinta-feira, 18 de abril de 2019

Névoa do Mistério

Título no Brasil: Névoa do Mistério
Título Original: Fog Over Frisco
Ano de Produção: 1934
País: Estados Unidos
Estúdio: First National Pictures, Warner Bros
Direção: William Dieterle
Roteiro: Robert N. Lee, George Dyer
Elenco: Bette Davis, Donald Woods, Margaret Lindsay

Sinopse:
Arlene Bradford (Bette Davis) pertence a uma das famílias mais ricas de San Francisco. Seu pai é o industrial milionário Everett Bradford (Arthur Byron) que atende a todos os seus desejos. Isso transformou Arlene em uma típica herdeira mimada, que não admite encontrar limites em sua vida. Embora seja noiva do corretor Spencer Carlton, a quem não dá muita atenção, ela prefere a companhia da meia-irmã Valkyr (Margaret Lindsay)! Juntas acabam se envolvendo com um grupo de gangsters locais, incluindo o infame Jake Bellow (Pichel).

Comentários:
Bette Davis foi uma das grandes estrelas de Hollywood em seu período clássico. Sua forte personalidade era muito adequada para alguns de seus personagens, mulheres fortes e decididas que não se enquadravam no estilo dondoca esperado da época. Com esse modo de ser Davis realizou grandes obras primas, inclusive dramas onde explorava essa forma de lidar com a sociedade à sua volta. Se Bette Davis já era conhecida por um ter um gênio marcante imagine a atriz interpretando uma garota rica e mimada como aqui. Ela está ótima como uma jovem muito má que não se importa em fazer coisas erradas, até porque pode sempre contar com a ajuda de seu milionário pai, sempre disposto a encobrir suas maldades e livrar a sua cara de punições. Sua Arlene Bradford é uma verdadeira peste, uma mulher que fica o tempo todo no fio da meada, um tipo de personagem vilã que só seria possível mesmo na Hollywood dos anos 30, em pleno auge das mulheres fatais no cinema.

Pablo Aluísio.

segunda-feira, 21 de janeiro de 2019

A Estranha Passageira

O filme mostra, acima de tudo, como uma mãe dominadora e opressora pode influenciar negativamente na personalidade de uma filha. Charlotte Vale (Bette Davis) é a filha da matriarca de uma das famílias mais aristocratas e milionárias de Boston. A mãe a reprime de todas as formas, seja na forma de se vestir, seja na forma de se comportar. Com isso Charlotte acaba desenvolvendo uma personalidade tímida, medrosa em excesso. Depois de um colapso nervoso ele é internada em uma instituição psiquiátrica. Aos poucos ela vai melhorando. O psiquiatra então sugere que ela faça um grande cruzeiro em direção ao Rio de Janeiro. País tropical, cheio de belezas naturais, certamente a mudança de clima iria melhorar sua saúde mental. E assim Charlotte embarca em um belo navio transatlântico. Na viagem acaba se apaixonando por um homem chamado Jerry Durrance (Paul Henreid). Tudo seria maravilhoso, uma grande história de amor se não fosse por um detalhe crucial: ele já era casado, pai de um casal de filhos.

De volta aos Estados Unidos Charlotte então precisa defender suas novas posições diante da vida. Ela está bem vestida, com roupas modernas, dona de si, interagindo muito bem com as pessoas e apaixonada. Mudanças que sua mãe não encara com bons olhos, claro! Será que ela resistirá novamente aos atos de opressão de sua própria mãe? Esse filme é muito bem escrito e atuado. Valeu uma indicação ao Oscar para Bette Davis. Mais do que merecido. Afinal ela interpreta sua personagem em dois momentos bem diferentes da vida. No primeiro surge oprimida e triste, no segundo finalmente se liberta, sendo uma mulher de verdade, vivendo a vida, amando e sendo feliz. Só uma grande atriz como Davis poderia tornar crível esse tipo de mudança comportamental. Em termos gerais é um bom drama romântico com nuances psicológicas. Algo cada vez mais raro de encontrar nos dias de hoje.

A Estranha Passageira (Now, Voyager, Estados Unidos, 1942) Direção: Irving Rapper / Roteiro: Casey Robinson, baseado na peça escrita por Olive Higgins Prouty / Elenco: Bette Davis, Paul Henreid, Claude Rains, Gladys Cooper / Sinopse: Charlotte Vale (Bette Davis) é uma mulher com muitos problemas psicológicos e emocionais. Por recomendação médica acaba embarcando em um cruzeiro rumo ao Rio de Janeiro. Durante a viagem acaba se apaixonado por Jerry Durrance (Paul Henreid), um homem casado. Filme vencedor do Oscar na categoria de Melhor Música (Max Steiner). Também indicado nas categorias de Melhor Atriz (Bette Davis) e Melhor Atriz Coadjuvante (Gladys Cooper).

Pablo Aluísio.

sábado, 22 de dezembro de 2018

A Carta

Título no Brasil: A Carta
Título Original: The Letter
Ano de Produção: 1940
País: Estados Unidos
Estúdio: Warner Bros
Direção: William Wyler
Roteiro: W. Somerset Maugham, Howard Koch
Elenco: Bette Davis, Herbert Marshall, James Stephenson, Frieda Inescort, Gale Sondergaard, Bruce Lester

Sinopse:
Uma americana, Leslie Crosbie (Bette Davis), esposa de um administrador de uma fazenda na distante Cingapura, atira em um nativo local, afirmando ter atirado em  legítima defesa. Depois de sua morte ela é levada a julgamento. Tudo parece confirmar sua versão dos fatos, exceto uma suposta carta reveladora que é encontrada. Teria sido mesmo apenas um crime por legítima defesa? Filme indicado a sete Oscars, incluindo Melhor Filme, Direção (William Wyler), Atriz (Bette Davis), Ator Coadjuvante (James Stephenson), Fotografia e Edição. 

Comentários:
"A Carta" foi baseada em uma antiga peça de sucesso que estreou na Broadway durante os anos 1920. Na década seguinte o texto ganhou sua primeira versão cinematográfica com Jeanne Eagels, que estava tão bem em cena que foi indicada ao Oscar de Melhor Atriz. Esse é o remake dos anos 1940, já com a diva Bette Davis no papel principal. O roteiro é primoroso (injustamente não ganhou indicação ao prêmio da Academia, talvez pelo fato do filme ter tido outras sete indicações) mas revela que atrás de toda grande atuação há sempre um bom roteiro por trás. E por falar em boas atuações o filme está repleto delas, em especial a própria Davis que era ótima para esse tipo de personagem, ao qual você não consegue descobrir se é de fato uma mocinha ou uma vilã! James Stephenson, que também foi indicado ao Oscar, brilha como um advogado de defesa bem dúbio em suas intenções. O filme foi dirigido pelo mestre William Wyler (1902 - 1981), um dos maiores cineastas de todos os tempos. Com tanto Know-how essa película se torna mesmo indispensável na coleção de todo fã de cinema clássico.

Pablo Aluísio.

quarta-feira, 23 de maio de 2018

Morte Sobre o Nilo

Título no Brasil: Morte Sobre o Nilo
Título Original: Death on the Nile
Ano de Produção: 1978
País: Inglaterra
Estúdio: EMI Films
Direção: John Guillermin
Roteiro: Anthony Shaffer
Elenco: Peter Ustinov, Bette Davis, David Niven, Mia Farrow, George Kennedy, Angela Lansbury, Maggie Smith, Jack Warden
  
Sinopse:
Baseado no famoso livro "Death on the Nile" da escritora Agatha Christie, publicado em 1937. No enredo um grupo de turistas em uma exótica viagem pelo Rio Nilo, no Egito, descobre que há um assassino entre eles, após a morte misteriosa de um dos viajantes. O inspetor Hercule Poirot (Peter Ustinov) decide então desvendar o caso e acaba descobrindo, para sua surpresa, que todos os que fazem parte daquele cruzeiro parecem ter algum motivo para o crime. Mas afinal de contas quem seria o verdadeiro assassino? Filme vencedor do Oscar e do BAFTA Awards na categoria de Melhor Figurino (Anthony Powell). Também indicado ao Globo de Ouro na categoria de Melhor Filme Estrangeiro.

Comentários:
Assim como os livros de James Bond os livros escritos por Agatha Christie seguiam uma fórmula básica. No caso dessa autora ela geralmente reunia várias pessoas suspeitas em um ambiente fechado (como um barco ou trem) e colocava o leitor na situação de tentar descobrir quem seria o assassino de um crime misteriosamente cometido. É exatamente isso que temos aqui nesse "Morte sobre o Nilo". Vários personagens se tornam suspeitos da morte de uma rica herdeira que misteriosamente é morta durante um cruzeiro turístico pelo Egito. O filme em si é muito interessante, tem ótimas cenas externas (filmadas no templo de Karnak e nas pirâmides de Gizé) e um elenco de encher os olhos de qualquer cinéfilo. Na tela desfilam veteranos da era de ouro do cinema americano, muitos deles em suas últimas aparições, o que não deixa de ser duplamente interessante para quem ama a sétima arte. O destaque obviamente vai para o grande ator Peter Ustinov que aqui interpreta um dos personagens mais famosos da escritora, o inspetor excêntrico Hercule Poirot (que todos pensam ser francês, mas que que seria belga na verdade). Ustinov domina a cena, tentando descobrir quem teria cometido o crime. Nunca assisti uma atuação fraca de Ustinov em toda a sua carreira e aqui não seria exceção. Ao lado dele, o auxiliando, temos outro grande ator, David Niven. Já envelhecido, prestes a se aposentar, o ator ainda tinha uma bela presença de cena. Classe, elegância e uma fina ironia se tornaram suas marcas registradas. Entre as atrizes o filme traz uma coleção estelar, com Mia Farrow fazendo mais uma personagem perturbada e a grande diva Bette Davis, discreta, elegante e atuando ao lado da também excelente Maggie Smith, brilhando como nunca. Enfim, só pela oportunidade de ver tanta gente talentosa junta já vale a existência do filme. Assista, se divirta e tente descobrir o quebra cabeça da trama.

Pablo Aluísio.

segunda-feira, 23 de abril de 2018

Erros do Coração

Título no Brasil: Erros do Coração
Título Original: The Rich Are Always with Us
Ano de Produção: 1932
País: Estados Unidos
Estúdio: First National Pictures, Warner Bros
Direção: Alfred E. Green
Roteiro: Austin Parker
Elenco: Ruth Chatterton, George Brent, Bette Davis
  
Sinopse:
Com roteiro baseado na novela romântica escrita pela autora Ethel Pettit, "Erros do Coração" conta a estória de um casamento em crise. Após dez anos de casados, Caroline Grannard (Ruth Chatterton) e seu marido Greg (John Miljan) não conseguem mais esconder as fendas cada vez mais profundas de seu desgastado relacionamento. Para piorar uma mulher bem mais jovem, Allison Adair (Adrienne Dore), parece despertar sentimentos profundos em Greg. Tudo assim estaria fadado ao fim em relação a eles? Poderia aquele casamento sobreviver a tamanha crise emocional?

Comentários:
Filme marcante da era de ouro do cinema clássico americano. Entre outras coisas marcou por trazer uma das primeiras grandes atuações da ainda jovem atriz Bette Davis. Na época, com apenas 24 anos, ela já conseguiu chamar todas as atenções para si, mesmo não desempenhando o papel principal do filme. O personagem principal feminino é interpretada pela simpática e talentosa atriz Ruth Chatterton (1892 - 1961) que além de saber atuar muito bem, ainda tinha um raro talento vocal, o que de certa forma lhe abriu as portas em Hollywood para vários filmes do gênero como, por exemplo, "Amar não é Pecado" e "Sarah e Seu Filho". Esses filmes também tinham uma forte carga dramática o que valeu a atriz duas indicações ao Oscar no mesmo ano, uma por seu papel coadjuvante no último filme citado e outra como atriz principal em "Madame X". Mesmo com tanta bagagem o fato é que Ruth acabou ofuscada por Bette Davis. De fato, durante todo o desenrolar da trama o cinéfilo ficará mais interessado nos rumos do papel de Bette do que do casal principal. Ela sabia muito como bem interpretar personagens dúbias, que podiam transitar entre o bom mocismo e a maldade absoluta. Não é por acaso que acabou se tornando uma das mais famosas atrizes de todos os tempos.

Pablo Aluísio.

quinta-feira, 22 de fevereiro de 2018

Com a Maldade na Alma

Filme realmente muito bom, mas pouco lembrado nos dias de hoje. A história começa em 1927, numa daquelas belas mansões sulistas, com suas colinas romanas brancas e todo o luxo e charme das antigas fazendas de algodão da região. É lá que vive Charlotte Hollis e seu pai, um milionário da Louisiana. É uma noite de baile, com Charlotte radiante pois está ao lado de seu amado noivo. O problema é que seu pai descobriu que o sujeito não passa de um vigarista. Além de estar obviamente de olho em sua fortuna, o playboy esconde ainda algo pior do que se imaginava: ele já é um homem casado! Claro que a revelação feita a Charlotte a deixa enlouquecida! Mais grave do que isso, seu noivo é morto brutalmente naquela mesma noite. O que era classe e sofisticação vira barbárie e crime.

Assim o filme avança no tempo. Quando o espectador percebe a história vai para 1964. O tempo passou. A doce e debutante Charlotte Hollis envelheceu sozinha, sem ter se casado e com a infâmia de ter sido acusada de ser a assassina de seu noivo. Agora o interessante: o roteiro que escondeu o tempo todo o rosto de Charlotte mostra sua face pela primeira vez. Nessa fase de velhice ela assume as feições da maravilhosa atriz Bette Davis. Aliás um papel ideal para a grande dama da atuação. A personagem de Charlotte na velhice é um prêmio para ela! Escondida da sociedade na velha mansão, com fama de ser a louca da região, ela passa os seus dias sendo atormentada pelos fantasmas do passado. A antiga casa da fazenda foi desapropriada pelas autoridades para a construção de uma rodovia, mas ela se recusa a sair de lá. Criando um impasse chega sua prima distante, Miriam (na interpretação de outro mito do cinema, Olivia de Havilland), para tentar convencê-la a ir embora. É um filme de muitas nuance psicológicas. Os principais personagens não parecem ser o que são na verdade, por isso fique atento. Os que são pura bondade e graça na verdade escondem intenções de pura ganância.

Esse clássico do cinema assim fecha seu ciclo trafegando em vários gêneros. Há o suspense e até mesmo o horror proveniente das supostas aparições dos fantasmas do passado, o drama representado pela triste situação de Charlotte que vê sua vida cair em desgraça e até mesmo um aspecto de filme noir nas intenções não confessadas de se colocar as mãos em sua fortuna. Tudo muito bem mesclado em um roteiro realmente excepcional, valorizado bastante pelas grandes atrizes em cena. Confesso que me surpreendi, sendo desde já um dos melhores filmes da carreira de Bette Davis, uma atriz cuja filmografia foi realmente inigualável.

Com a Maldade na Alma (Hush...Hush, Sweet Charlotte, Estados Unidos, 1964) Direção: Robert Aldrich / Roteiro: Henry Farrell, Lukas Heller / Elenco: Bette Davis, Olivia de Havilland, Joseph Cotten, Agnes Moorehead / Sinopse: Charlotte Hollis (Davis) é uma velha senhora, com fama de louca e assassina, que mora em um velho casarão do começo do século XX. Quando sua propriedade é desapropriada pelas autoridades ela precisa sair do lugar. Sua prima Miriam (Havilland) chega então para tentar convencê-la a ir embora, mas não sem antes que todos os fantasmas do passado voltem para atormentar ainda mais Charlotte. Filme indicado ao Oscar nas categorias de Melhor Atriz Coadjuvante (Agnes Moorehead), Melhor Fotografia (Joseph F. Biroc), Melhor Direção de Arte (William Glasgow e Raphael Bretton), Melhor Figurino (Norma Koch), Melhor Edição (Michael Luciano) e Melhor Música Original ("Hush...Hush, Sweet Charlotte"). Também indicado ao Globo de Ouro na categoria de Melhor Atriz Coadjuvante (Agnes Moorehead).

Pablo Aluísio.

sábado, 20 de janeiro de 2018

Nas Garras do Ódio

Título no Brasil: Nas Garras do Ódio
Título Original: The Nanny
Ano de Produção: 1965
País: Inglaterra
Estúdio: Hammer Films
Direção: Seth Holt
Roteiro: Jimmy Sangster
Elenco: Bette Davis, Wendy Craig, Jill Bennett, James Villiers, William Dix, Pamela Franklin

Sinopse:
Baseado na novela de suspense escrita por Marryam Modell, o filme conta a história de antipatia que um garotinho nutre pela mulher que foi babá de sua mãe e que continuou a morar com a família, mesmo após muitos anos. O menino é problemático e acusa a babá de ter matado sua irmã.

Comentários:
Um combinação interessante. A Hammer Films, produtora especializada em filmes de terror como Drácula, etc, contratou a atriz  Bette Davis nos anos 1960 para atuar nessa produção de suspense. O roteiro mostra uma família bem disfuncional. A mãe sofre de depressão e não consegue lidar com os problemas do dia a dia. O marido é um sujeito distante que não aguenta passar muito tempo naquela casa e o filho, bem, o filho é o mais problemático de todos. Rebelde, mimado, ofensivo, ele odeia a babá da sua mãe (interpretada por Davis) que continuou morando com ela, mesmo já adulta e casada. O menino afirma que ela matou sua irmã em circunstâncias mal esclarecidas. Assim o roteiro deixa tudo no ar: o garoto seria apenas um moleque mal criado, mentiroso e infernal ou estaria mesmo dizendo a verdade? Bette Davis, já na velhice, como sempre, tem muita dignidade em cena. Com uma maquiagem que lhe deu grossas sobrancelhas ela parece sempre calma, paciente e gentil, mas essa seria sua personalidade verdadeira ou apenas uma máscara para esconder os mais inconfessáveis desejos de cometer crimes? Assista ao filme para descobrir.

Pablo Aluísio.

terça-feira, 27 de junho de 2017

Jezebel

A atriz Bette Davis costumava dizer que o diretor William Wyler era um verdadeiro tirano durante as filmagens e que paradoxalmente a isso ele havia conseguido lhe tirar as melhores interpretações de sua carreira. O filme "Jezebel" vem justamente para confirmar as afirmações de Davis. Aqui ela interpreta Julie Marsden, uma jovem dama sulista na New Orleans do século XIX. Mimada, geniosa e dada a ataques de capricho, ela coloca seu romance com o banqueiro Preston Dillard (Henry Fonda) em risco, justamente por causa de sua personalidade.

Preston gosta dela, é verdadeiramente apaixonado, porém a paciência vai se acabando. Durante um tradicional baile sulista, onde as jovens solteiras sempre vão com lindos vestidos brancos, numa tradição muito valorizada no sul, Julie decide aparecer com um vestido todo vermelho, bem berrante, para escândalo da sociedade local. Essa "vergonha" começa a minar o romance dela com o jovem banqueiro, que afinal de contas é muito suscetível a qualquer problema dentro das regras daquela sociedade, uma vez que é um banqueiro que precisa preservar sua imagem perante seus clientes.

Dois aspectos históricos bem interessantes acompanham o enredo de "Jezebel". O primeiro é o fato da história se passar apenas poucos anos antes do começo da guerra civil americana. Já naquela época os ânimos surgem bem aflorados, dominando as conversas dos sulistas pelos salões das cidades. Outro é o surgimento da febre amarela no sul, levando morte e destruição em uma escala jamais vista. Essa doença que se dissemina com extrema rapidez vai ser essencial no desenrolar da história, culminando numa forte cena final que certamente marcou época e é o grande momento de todo o filme.

"Jezebel" foi baseado numa peça escrita por Owen Davis. De certa forma foi uma produção que antecipou em um ano o impacto do clássico "E o Vento Levou". As duas histórias dos filmes são bem parecidas, com enredos se passando no sul escravocrata, nos tempos da guerra civil. As duas protagonistas também são bem semelhantes. Até mesmo em termos de premiação da academia temos semelhanças pois Bette Davis foi merecidamente premiada com a estatueta de melhor atriz do ano com essa interpretação. Ela era ainda bem jovem, mas já imprimia a marca de sua forte personalidade em sua personagem. Décadas mais tarde, após o falecimento de Bette Davis, o diretor Steven Spielberg compraria o Oscar que ela havia sido premiada por esse filme e que estava à venda em um leilão em Londres. Ele comprou a estatueta e a devolveu para o museu da academia em Hollywood. Um gesto de preservação da história do cinema. Em suma, esse é de fato um dos melhores filmes históricos desse momento crucial na história dos Estados Unidos. Um clássico absoluto do cinema americano em sua era de ouro.

Jezebel (Jezebel, Estados Unidos,1938) Direção: William Wyler / Roteiro: Clements Ripley, Abem Finkel / Elenco:  Bette Davis, Henry Fonda, George Brent / Sinopse: Julie (Bette Davis) é uma jovem mimada e de personalidade forte. Ela tem um romance com um jovem banqueiro chamado Preston (Fonda), mas esse vai aos poucos perdendo a paciência com seus inúmeros caprichos. Quando a febre amarela assola a região o casal se colocará a prova, principalmente quando Julie descobrir que o grande amor de sua vida se casou com uma jovem do norte após o rompimento de seu conturbado namoro. Filme indicado ao Oscar nas categorias de Melhor Filme, Melhor Fotografia (Ernest Haller) e Melhor Música (Max Steiner). Vencedor do Oscar nas categorias de Melhor Atriz (Bette Davis) e Melhor Atriz Coadjuvante (Fay Bainter).

Pablo Aluísio.

quinta-feira, 25 de maio de 2017

Encontro no Inverno

Esse não era bem o tipo de filme em que você esperaria encontrar a grande Bette Davis. Bancar a mocinha romântica realmente nunca foi a especialidade dessa diva do cinema. E de fato sua personagem passa longe desse tipo de clichê. Davis interpreta Susan Grieve, uma escritora e poetista, de família aristocrata e tradicional, que parece muito bem resolvida em sua vida. Ela é solteira (imaginem o tipo de preconceito que existia na época contra mulheres solteiras em sua idade) e está centrada em seu trabalho e carreira, Tudo muda quando chega um herói de guerra da marinha americana em Nova Iorque, Slick Novak (Jim Davis). Ele é celebrado por onde passa e todos parecem dispostos a agradecê-lo pelos atos de coragem e heroísmo durante a II Guerra. Por um mero acaso Susan acaba sendo convidada para um jantar onde também estará presente o militar. Quando eles se conhecem o militar prontamente demonstra seu interesse nela, apesar da presença da bela (e frívola) Peggy Markham (Janis Paige) que está lá disposta a tudo para seduzi-lo. Pois é, a intelectual Susan acaba superando a bonita e vazia Peggy e se torna seu interesse romântico.

O romance começa muito bem, eles vão até uma antiga casa onde Susan foi criada e lá passam por momentos maravilhosos e românticos. Para Susan, que já estava acostumada com a ideia de que nunca iria encontrar o homem de sua vida, tudo é uma grande surpresa. Porém quando o destino é por demais generoso é hora de se preocupar. E o conto de fadas romântico de Susan acaba se desmanchando no ar quando Novak lhe confessa que deseja se um tornar padre! Esse sempre fora seu sonho, desde os 16 anos de idade e a experiência da guerra reforçou ainda mais seu desejo de se tornar um sacerdote católico! Para Susan é o fim de seus sonhos, como se pode imaginar. O filme "Encontro no Inverno" tem uma boa trama, baseada no romance escrito por Grace Zaring Stone. A ideia de colocar um herói romântico que tem planos de se tornar um padre é bem curiosa e poderia levantar muitas questões interessantes, tanto do ponto de vista social como religioso, porém o filme não vai até esse ponto. Ele apenas se concentra na decepção e desilusão da protagonista que vê sua felicidade desmoronar por causa da escolha daquele que ama. O filme, apesar de tudo isso, é bem sóbrio. Bette Davis, elegante como sempre, interpreta essa mulher inteligente e culta que se vê diante de uma situação de perplexidade. O ator Jim Davis talvez seja a grande decepção em termos de elenco pois o achei sem muito talento para desenvolver na tela as crises existenciais de seu papel. Já John Hoyt era um ator brilhante, que praticamente roubou todas as cenas em que contracenou com Davis. Então é isso. Um bom drama romântico de época mostrando a montanha russa emocional de uma mulher que só queria, no final das contas, ser feliz.

Encontro no Inverno (Winter Meeting, Estados Unidos, 1948) Direção: Bretaigne Windust / Roteiro: Catherine Turney / Elenco: Bette Davis, Janis Paige, Jim Davis, John Hoyt / Sinopse: Susan é uma escritora e poetisa que se apaixona por um herói de guerra da Marinha que apesar dos belos românticos passados ao seu lado tem um velho sonho de se tornar padre, principalmente após ter presenciado todos os horrores da guerra.

Pablo Aluísio.

segunda-feira, 22 de maio de 2017

Escândalo na Sociedade

Excelente drama. O filme se passa no meio da alta sociedade de San Francisco. No centro de tudo temos a rica e tradicional família Hayden. A matriarca Gerald Hayden (Bette Davis) é uma mulher dominadora, manipuladora, que faz de tudo para manobrar a vida da sua única filha, Valerie Hayden (Susan Hayward), Essa sempre teve tendência para as artes, especialmente a escultura e com os anos acabou se tornando uma artista até bem reconhecida no meio. Para sua mãe porém é hora dela se casar. Procurando por um marido para a filha ela acaba encontrando um herói de guerra, o Major Luke Miller (Mike Connors), o tipo ideal para ser seu genro. Inicialmente relutante Valeria acaba cedendo, se casando com o militar. O casamento que tinha tudo para dar certo porém logo se revela um desastre. Nasce uma filha, mas nem isso segura o falido relacionamento. De volta à vida de solteira, agora divorciada, Valerie começa a se relacionar com homens jovens, destruindo sua reputação, principalmente porque a maioria de seus amantes são meros aproveitadores que estão de olho em sua fortuna. Seu modo de vida escandaloso choca a sociedade e tudo desanda para a tragédia quando sua filha de apenas 15 anos de idade mata um de seus amantes. O caso ganha os jornais e agora tudo terá que ser revelado nos tribunais.

O roteiro desse filme foi baseado em um best-seller escrito pelo romancista Harold Robbins. Quem conhece a obra desse escritor sabe bem do que se trata. Geralmente Robbins utilizava-se de dramas baseados em pessoas comuns, que acabavam trilhando o caminho do crime e da violência por circunstâncias inesperadas que vão surgindo em suas vidas. Vários de seus livros ganharam adaptações bem sucedidas no cinema, como por exemplo, "Balada Sangrenta", filme dirigido por Michael Curtiz, estrelada pelo cantor Elvis Presley, naquele que foi considerado o melhor filme de sua carreira. O western "Nevada Smith" com Steve McQueen também foi uma adaptação de um livro escrito por Robbins. Enfim, seus textos acabaram dando origem a excelentes filmes.

Outro grande atrativo desse drama familiar vem do elenco que é liderado por duas excepcionais atrizes. A primeira delas é a grande dama do cinema americano Bette Davis. A atriz tinha uma presença e uma personalidade que enchiam a tela. O seu papel nesse filme é muito adequado para sua forma de atuar. Ela interpreta a matriarca da família Hayden, uma mulher poderosa da alta sociedade que viveu praticamente toda a sua vida baseada apenas em status e aparência social. Perante a sociedade em geral todos os membros de sua linha familiar tinham que surgir de forma impecável. Só que sua filha, no fundo uma rebelde diante de toda essa futilidade, acaba colocando praticamente tudo a perder. Susan Hayward também está excelente. Ela morreria muito jovem ainda, de câncer, e esse acabou sendo um dos seus últimos filmes. Sua personagem, a de uma mulher frustrada que não consegue segurar seus impulsos, é uma das melhores de toda a sua carreira. No geral temos aqui um grande filme, valorizado enormemente por essas duas maravilhosas atrizes. Esse filme assim está mais do que recomendado aos admiradores do cinema clássico americano.

Escândalo na Sociedade (Where Love Has Gone, Estados Unidos, 1964) Direção: Edward Dmytryk / Roteiro: John Michael Hayes, baseado na obra de Harold Robbins / Elenco: Bette Davis, Susan Hayward, Mike Connors / Sinopse: Gerald Hayden (Bette Davis) e Valerie Hayden (Susan Hayward), mãe e filha da alta sociedade de San Francisco, possuem um relacionamento conturbado por diferenças de opiniões e personalidade. Com os anos os atritos se tornam ainda mais fortes e tudo desaba quando a neta adolescente mata um homem no ateliê de sua própria mãe, dando origem a uma tragédia e a um escândalo de grandes proporções. Filme indicado ao Oscar e ao Globo de Ouro na categoria de Melhor Música ("Where Love Has Gone" de Van Heusen e Sammy Cahn). 

Pablo Aluísio.