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sábado, 20 de maio de 2023

Imagine

Imagine
Em 1972 Yoko Ono decidiu fazer uma série de filmagens mostrando ela e seu marido John Lennon em pequenas sequências ou cenas. A ideia inicial dela seria transformar o material em curtas, só que depois de um tempo ela desistiu desse projeto inicial. Para não perder o material filmado, Yoko então decidiu reunir tudo em um longa, usando as músicas de John Lennon para o disco "Imagine" como trilha sonora. Até que ficou muito bom o resultado final. Sáo pequenos momentos, como John e Yoko passeando numa praça, ouvindo o planeta Terra, fazendo pequenos exercícios conceituais bem de acordo com a arte de vanguarda de Yoko.

Grande parte das cenas também foram filmadas na grande mansão de John nos arredores de Londres; A mesma casa onde os Beatles fizeram seu último ensaio de fotos, sendo que algumas dessas fotos foram usadas na capa e contracapa do disco Hey Jude. No final de tudo, ficam as boas músicas de John e a nítida impressão de que esse homem era perdidamente apaixonado pela Yoko. Alguns momentos mostram bem isso, como quando John lambe a sola do sapato de sua amada japonesa. Demonstração maior de adoração certamente você não vai encontrar por aí. Por fim, não vá confundir esse filme de 72 com outro, de mesmo título, lançado alguns anos após a morte de Lennon. São filmes diferentes. 

Imagine (Reino Unido, 1972) Direção: Yoko Ono, John Lennon / Roteiro: Yoko Ono, John Lennon / Elenco: John Lennon, Yoko Ono, George Harrison, Jack Palance, Fred Astaire / Sinopse: Filme, em formato de clipes, mostrando aspectos da vida do casal Lennon e Ono, em Londres e em Nova Iorque. No elenco algumas participações especiais de veteranos da Hollywood clássica. 

Pablo Aluísio.

domingo, 8 de maio de 2022

The Beatles - Help! - Parte 4

Os Beatles sempre deixavam espaço para George Harrison contribuir com uma ou duas canções nessa fase inicial do grupo. Nesse álbum "Help!" George trouxe "You Like Me Too Much". A música tem uma introdução de órgão que causa surpresa, parece mais um velho arranjo para algum velho filme de faroeste. O resto da música, ainda bem, segue em um ritmo totalmente diferente, com John nos teclados, solando por toda a faixa. Com voz dobrada também podemos perceber como Harrison havia melhorado como vocalista. Nem parecia aquele cantor tímido dos primeiros discos dos Beatles.

E por falar em bons vocais, John Lennon está muito bem na bela balada "You're Going to Lose That Girl". Um som acústico, valorizando mais o violão do que guitarras, que nessa época formavam a identidade musical dos Beatles. A letra, composta por Lennon, é um diálogo franco. Um amigo diz ao outro que ele deve cuidar melhor de sua garota, pois caso contrário vai perdê-la, talvez até para ele mesmo. Dica de um jovem para outro. Se cuida meu amigo!

"Another Girl"  é puro Paul McCartney que compôs a faixa, com breve anotações de Lennon. Ele também lidera os vocais. Outro dia assisti a um show recente de Paul e pude perceber que por causa da idade ele tem perdido parte de sua voz. Algo natural de acontecer. Nesse faixa, com Paul jovem e cheio de energia, podemos notar como tudo mudou com o passar dos anos. Curiosamente Paul a escreveu quando estava na Tunísia, curtindo férias.

"Tell Me What You See" traz vocais dobrados de Paul e John. Outra boa balada do disco. Os Beatles, de maneira em geral, trouxeram uma excelente sonoridade para esse álbum, caprichando nos arranjos mais bem elaborados. Da primeira fase do grupo desse disco pode ser considerado um dos mais bem arranjados. Algo que podemos perceber também em "I've Just Seen a Face" com lindo arranjo de solos de violão em sua introdução. A música cantada por Paul também soa como um bom country music. O feeling é puro Nashville. A letra foi feita também para Jane Asher. O namoro de Paul com ela também tinha suas pequenas histórias, de como eles se conheceram, etc. Algo que Paul transformava em música para o disco dos Beatles. Sem dúvida um bom momento desse álbum.

Pablo Aluísio.

sexta-feira, 11 de fevereiro de 2022

George Harrison: Living in the Material World

Depois de ficar anos à sombra da dupla Lennon / McCartney finalmente um documentário de alto nível foca as luzes em George Harrison. Eu já assisti dezenas e dezenas de documentários sobre os Beatles antes mas como era de se esperar todos eles enfocavam muito mais John Lennon e Paul McCartney. George sempre era meio deixado de lado pois a personalidade da dupla principal do grupo ofuscava todo o resto. A própria personalidade de Harrison contribuiu de certa forma para que ele ficasse conhecido como o "Beatle quieto". Espiritualizado, seguidor de religiões orientais, Harrison acreditava em uma vida mais interior. Isso é bem demonstrado no filme com George caminhando pelo jardim de sua mansão no interior da Inglaterra, no depoimento de seu filho que afirma que Harrison odiava o fato dele estudar em uma escola militar e vários outros pequenos detalhes que mostram a verdadeira maneira de pensar e agir do artista. Aqui Martin Scorsese não inventa. Ele realizou um documentário ao velho estilo mesmo, intercalando depoimentos, fotos, imagens (várias caseiras) em um rico filme com quase 4 horas de duração.

Como todo filme criado do mosaico de depoimentos de várias pessoas diferentes que conviveram com Harrison em diferentes fases de sua vida, aqui o espectador vai também acabar se deparando com algumas contradições entre o que foi dito sobre o artista. Só para citar um exemplo: quando se enfoca o fim do primeiro casamento de George com Patty Boyd, surgem versões diferentes sobre o que realmente aconteceu e como George teria reagido ao fato de ter sido traído justamente pelo colega Eric Clapton. Esse ameniza a situação afirmando que George lidou muito bem com o término de seu casamento, se portando como um "gentleman". Já Patti diz algo completamente diferente ao afirmar que George teria ficado "furioso" com o acontecimento. No final das contas quem tem razão? No fundo não importa. O que é relevante é justamente encontrar impressões divergentes sobre a mesma pessoa. Isso acontece com todos e não seria diferente com George Harrison. Eu recomendo o filme primeiramente para os fãs dos Beatles pois quem não é fã e não conhece muito bem a história do grupo pode ficar um pouco perdido (por exemplo, não são bem explicadas as razões que levaram os Beatles a se separarem, etc). No apagar das luzes o grande mérito dessa produção é mostrar um sujeito que primava muito pela sua própria espiritualidade. Em vida ele sempre procurava da melhor forma possível encontrar o caminho de sua paz espiritual. Sua busca pelo interior cósmico enquanto vivia no mundo material é uma das histórias mais fascinantes da biografia dos Beatles. Nesse ponto o filme é muito bem sucedido. Ele capta extremamente bem essa face do músico inglês. Espero sinceramente que Harrison tenha encontrado finalmente a paz que tanto procurou em vida. Hare Krishma George!

George Harrison: Living In The Material World (Inglaterra, 2011) / Diretor: Martin Scorsese / Participações, depoimentos e arquivos de gravação com Paul McCartney, Terry Gilliam, Ringo Starr, John Lennon, Eric Idle, George Harrison / Produção: Olivia Harrison, Martin Scorsese, Nigel Sinclair / Sinopse: Documentário sobre a vida do ex-beatle George Harrison com muitas imagens inéditas de sua vida cotidiana e seu lado mais espiritualizado.

Pablo Aluísio.

quarta-feira, 1 de dezembro de 2021

The Beatles - Get Back - Part 3

Terceira e última parte do documentário "Get Back". Realmente as coisas começam a ficar cansativas para o espectador. São horas e horas de ensaios, geralmente com as mesmas músicas. Cada detalhe, cada nota, é discutida. Os Beatles de fato repetiam uma mesma canção até a exaustão para que ficasse perfeita. Para quem ouvia os discos era uma maravilha. Entretanto assistir a esse trabalho todo fica mesmo um tanto cansativo. As coisas só melhoram quando surge a garotinha Heather, filha de Linda. Ela vai ao estúdio e como toda menina de seis anos está a todo vapor na energia. Ela cria algumas baguncinhas que animam o ambiente. John contando a história do gatinhos para ela é bem divertida. Igualmente engraçada é a cena em que ela canta no microfone, imitando a Yoko e seus gritos. Todo mundo ri no estúdio, mas ninguém explica a piada para não ofender John Lennon, é claro!

A terceira parte também é salva por causa da apresentação no terraço do prédio Apple. Você já viu isso no filme original "Let It Be", mas nunca de forma tão completa. Os detalhes são mais explorados. Coitados dos dois policiais que ficam lá embaixo enquanto os Beatles tocam no alto do prédio. Educados e polidos, eles esperam pacientemente os Beatles terminarem seu show. Se fosse os policiais brasileiros... Muitas críticas estão surgindo nas redes sociais afirmando que as músicas nunca aparecem na íntegra. Isso foi proposital, uma decisão da Apple. Eles acreditam que se as músicas surgissem completas aqui no documentário as pessoas deixariam de comprar o recente box de cinco CDs de "Let It Be". Faz sentido pensar assim? Bom, eles devem ter seus motivos, ainda mais atualmente com a indústria fonográfica em eterna crise. No geral, apesar de certos momentos cansativos, vela muito a pena assistir a tudo. Quase 8 horas de documentário! É uma maratona, sem dúvida, mas que vale a pena ser percorrida.

The Beatles - Get Back - Part 3 (Inglaterra, 2021) Direção: Peter Jackson / Roteiro: Peter Jackson / Elenco: John Lennon, Paul McCartney, George Harrison, Ringo Starr, Yoko Ono, Linda Eastman, Mal Evans, George Martin, Michael Lindsay-Hogg, Glyn Johns, Neil Spinall / Sinopse: Terceira e última parte do documentário. Os Beatles continuam seus ensaios na Apple e decidem finalizar o filme tocando no alto do prédio de sua gravadora. A apresentação de poucas canções gera protestos e reclamações dos vizinhos que chamam a polícia. Paul McCartney tem finalmente o clímax que tanto esperava.

Pablo Aluísio.

terça-feira, 30 de novembro de 2021

The Beatles - Get Back - Part 2

Fiquei surpreso com a duração dessa segunda parte. São quase 3 horas de filme! Realmente havia muito material para Peter Jackson trabalhar. O resultado como sempre é muito bom. Aqui os Beatles decidem ir embora de Twickenham. Não foi uma boa experiência. Aquele grande estúdio mais parecia um velho galpão. Era frio e nada acolhedor. A solução eles encontram em casa. Decidem gravar o resto do disco nos próprios estúdios da Apple, no porão do prédio de seu selo. Geprge Harrison retorna ao grupo e a chegada do pianista Billy Preston melhora bastante o clima entre eles. Na Apple as coisas começam a melhorar. Os Beatles começam a acertar e as faixas começam a ser gravadas. Tudo parece ter voltado aos eixos.

Entretanto ainda fica sem solução a questão do show que iria encerrar o filme. Eles tinham ouvido várias propostas, algumas bem estranhas, mas no final de tudo eles decidem simplesmente subir no telhado do prédio da própria Apple para encerrar o filme. Definitivamente não era a melhor solução, mas diante das circunstâncias, o que poderia se fazer? Paul sobe no telhado e faz uma checagem. Será que aquilo aguentaria o peso dos Beatles, da equipe de filmagem e dos equipamentos de som? Olhando para o passado fico até perplexo por eles terem decidido algo tão fora do script. Porém era a tal coisa, ou faziam o show no telhado ou o filme ficaria sem um clímax, um dinal adequado. Esse show obviamente ficou para a terceira e última parte do documentário. Então que venha mais algumas horas desse excelente filme.

The Beatles - Get Back - Part 2  (Inglaterra, 2021) Direção: Peter Jackson / Roteiro: Peter Jackson / Elenco: John Lennon, Paul McCartney, George Harrison, Ringo Starr, Yoko Ono, Linda Eastman, Mal Evans, George Martin, Michael Lindsay-Hogg, Glyn Johns, Neil Spinall / Sinopse: Segunda parte do novo documentário sobre os Beatles dirigido por Peter Jackson. Os Beatles deixam o Twickenham Studios para trás e voltam para o prédio da Apple onde as coisas começam a dar certo novamente. Eles gravam as primeiras faixas do novo álbum e decidem fazer um show no telhado da Apple para finalizar o documentário "Let It Be".

Pablo Aluísio.

domingo, 28 de novembro de 2021

The Beatles - Get Back - Part 1

O diretor Peter Jackson teve acesso a mais de 60 horas de gravação do filme "Let It Be" dos Beatles. Esse material estava arquivado há décadas em antigas latas de filmes. Ao começar a pesquisar esse farto acervo o diretor da franquia "O Senhor dos Anéis" percebeu que havia material de sobra para a elaboração de um novo documentário, algo maior, mais complexo, mais completo do que o próprio "Let It Be" de 1970. Surgiu então esse longo documentário com quase oito horas de duração que foi dividido em três partes. Atualmente está disponível para se assistir no Disney Plus. Ontem assisti a parte 1. Os Beatles chegam no estúdio Twickenham para o começo dos trabalhos. A ideia original era gravar de 10 a 12 novas músicas para um álbum de inéditas. Depois os Beatles iriam voltar aos palcos em um grande evento mundial. O problema é que eles praticamente não tinham nada e nem sabiam direito como seria feito esse grande show ao vivo.

Pressionados, eles começaram os ensaios. Tudo muito disperso, sem foco. Paul McCartney tenta o tempo todo organizar aquela bagunça, muitas vezes sem êxito. Em determinado momento desabafa dizendo que os Beatles precisavam de disciplina. Algo complicado, ainda mais vendo que George Harrison estava em um clima de confronto com Paul e John Lennon parecia anestesiado, apático. O próprio Lennon realmente parecia sem novas ideias. Uma das forças criativas do grupo, John só tinha a apresentar algumas linhas de músicas inacabadas. Uma decepção. Conforme o tempo vai passando o clima começou a ficar mais tenso. Esse primeiro episódio termina quando George Harrison decide ir embora, deixar os Beatles. Cansado do perfeccionismo de Paul, ele simplesmente comunicou aos demais membros da banda que estava fora! O auge ocorre quando John Lennon sugere que os Beatles chamem Eric Clapton para subsituir George. O abraço dos três nos momentos finais sugere que eles tentavam salvar um navio que estava inegavelmente afundando.

O que mais me impressionou nessa parte 1 foi a capacidade de criação de Paul McCartney. Em apenas uma manhã ele vai ao piano sozinho e cria praticamente do nada alguns dos maiores clássicos dos Beatles como "Let It Be" e "The Long And Winding Road". Ele também criou, bem na base do improviso, a própria "Get Back", com isso salvando as sessões de um ostracismo impressionante. Confesso que para gostar desse novo documentário o espectador tem que necessariamente gostar muito dos Beatles. São horas e horas de ensaios, muitos deles sem qualquer foco ou direção. No meio de tanta dispersão porém os clássicos iam surgindo meio ao acaso. Somente os Beatles conseguiam criar no meio de uma situação como aquela. Coisa de gênios mesmo.

The Beatles - Get Back - Part 1: Days 1-7 (Inglaterra, 2021) Direção: Peter Jackson / Roteiro: Peter Jackson / Elenco: John Lennon, Paul McCartney, George Harrison, Ringo Starr, Yoko Ono, Linda Eastman, Mal Evans, George Martin, Michael Lindsay-Hogg, Glyn Johns, Neil Spinall / Sinopse: Primeira parte do documentário dos Beatles dirigido pelo cineasta Peter Jackson. Nessa primeira parte vemos os Beatles ensaiando no Twickenham Studios.

Pablo Aluísio.

quarta-feira, 22 de setembro de 2021

The Compleat Beatles

Título no Brasil: The Compleat Beatles
Título Original: The Compleat Beatles
Ano de Produção: 1982
País: Estados Unidos, Inglaterra
Estúdio: Delilah Films
Direção: Patrick Montgomery
Roteiro: David Silver
Elenco: John Lennon, Paul McCartney, George Harrison, Ringo Starr, Brian Epstein, George Martin

Sinopse:
Documentário lançado no Brasil em VHS mostrando toda a história do grupo de rock The Beatles, passando pelos primeiros shows, pelas apresentações no Cavern Club, a excursão por Hamburgo na Alemanha, o sucesso nos Estados Unidos. O filme traz a primeira entrevista coletiva dos Beatles na América, indo até os momentos finais do grupo, quando veio sua separação em 1970.

Comentários:
Quem era fã dos Beatles dos anos 80 e viveu a época das locadoras de vídeo VHS certamente vai se lembrar desse documentário "The Compleat Beatles". A razão é simples de entender. Durante muitos anos essa fita foi a única coisa disponível sobre os Beatles no mercado de vídeo no Brasil. E olha que era até um bom filme, trazendo muitas cenas antigas, até raras, dos Beatles em seu auge, quando a Beatlemania invadiu a América. Também trazia um roteiro interessante, bem escrito, mostrando todas as fases da carreira do grupo. Obviamente não era um produto completo, pois não havia como sintetizar toda a história dos Beatles em um únco documentário com com pouco mais de 2 horas de duração. De qualquer maneira era o que havia na época. Procurou, mesmo com falhas, suprir essa busca dos Beatlemaníacos nos anos 80. Por isso ainda hoje é querido pelos fãs que viveram aqueles tempos.

Pablo Aluísio.

quarta-feira, 1 de julho de 2020

The Beatles: Eight Days a Week - The Touring Years

"The Beatles: Eight Days a Week - The Touring Years", esse é o nome desse novo documentário sobre os Beatles. É a tal coisa, se você gosta da fase da Beatlemania, não há nada mais recomendado para assistir. Claro que tudo já foi visto e revisto, inclusive em outros documentários, mas aqui pelo menos temos uma edição mais ágil, mais moderna. Nos documentários anteriores (incluindo aí o Anthology) não havia um trabalho de edição tão bem feito como esse. Além disso a direção de Ron Howard é muito boa, colocando e situando o espectador dentro da história do grupo, mostrando as datas em que os discos foram lançados e os shows realizados. Como se trata de um documentário que procura mostrar a vida na estrada dos Beatles, tudo é mais centrado mesmo nos concertos. Por essa razão quando os Beatles lançam o disco Sgt Peppers e param de fazer shows o documentário dá uma pausa enorme na história do grupo, só voltando a focar neles novamente no "concerto" improvisado que eles fizeram no alto do edifício da Apple.

E por falar em Apple, como se trata de um lançamento oficial dessa companhia, que até hoje gerencia os direitos do quarteto, em certos momentos tudo vai parecer um pouco chapa branca demais. As coisas negativas envolvendo os Beatles, as brigas, os processos judiciais, são ignorados. Nem tudo porém é negativo. Esse selo de coisa oficial tem outro ponto bem positivo: o uso sem restrições das músicas dos Beatles, algo que em um documentário sobre o conjunto se torna essencial. Eu me recordo que alguns documentários sobre a banda que foram lançados no Brasil em VHS, ainda nos anos 80, não tinham esse tipo de licença. Assim o espectador tinha que encarar um filme sobre o grupo sem suas músicas. Dureza! Agora não, toda a maravilhosa obra musical deles é fartamente usada para deleite dos fãs da boa música, até porque os Beatles se tornaram eternos por sua música e nada mais.

The Beatles - Eight Days a Week (Eight Days a Week, Estados Unidos, Inglaterra, 2016) Direção: Ron Howard / Roteiro: Mark Monroe, P.G. Morgan / Estúdio: Apple Corps / Elenco: Paul McCartney, Ringo Starr, John Lennon, George Harrison, George Martin, Larry Kane / Sinopse: Documentário que resgata o auge da Beatlemania, quando John, Paul, George e Ringo, os Beatles, chegaram nos Estados Unidos para suas primeiras turnês internacionais. Fotos, imagens raras e toda a histeria dos fãs para os que curtem o grupo musical de rock mais popular de todos os tempos. Filme indicado ao BAFTA Awards na categoria de Melhor Documentário.

Pablo Aluísio.

terça-feira, 27 de fevereiro de 2018

The Beatles - Let It Be (1970)

The Beatles - Let It Be (1970) - Fruto do projeto fracassado chamado Get Back o disco Let It Be foi o último disco oficial a ser lançado pelos Beatles (embora não fosse o último a ser gravado como muita gente pensa) e foi produzido por Phil Spector. A ideia inicial de Paul McCartney era filmar um grande documentário mostrando os Beatles dentro dos estúdios, criando e gravando a trilha sonora do filme para depois todos saírem em uma grande turnê em vários países. Deu com os burros n´água. Antes de mais nada as gravações dentro dos estúdios se tornaram um verdadeiro inferno, com os integrantes se ofendendo entre si a todo o tempo. Além do constante confronto entre Paul, George e John este ainda inventou de trazer a japonesa Yoko Ono para dentro de Abbey Road, causando mais aborrecimentos ainda ao resto do grupo e aos produtores do filme.

Para completar de afundar os planos de Get Back a ideia de sair novamente em turnê foi logo descartada pelos demais membros do grupo que não tinham mais a menor intenção de ter de arcar com toda a histeria da estrada, como nos tempos da Beatlemania. George Harrison odiou a ideia assim como John Lennon que não tinha mais nenhum interesse no grupo. Assim Get Back acabou afundando e sendo arquivado. Tudo o que restou foi um vasto material de cenas dos Beatles dentro do estúdio, ensaiando em uma Jam Session sem fim (e sem direção).  Quando o grupo finalmente rachou em 1969 a Apple resolveu ressuscitar o projeto. Trocaram o nome de tudo para Let It Be, contrataram uma boa equipe de cineastas para salvar o documentário e Lennon jogou nas mãos de Phil Spector os pedaços da sessões para que ele desse um jeito naquela bagunça sem fim.  Spector então arregaçou as mangas para encontrar em metros e metros de gravações, material suficiente para compor um disco que fosse comercialmente viável.

O resultado é irregular. Embora haja clássicos absolutos como Get Back, Let It Be, Across The Universe (pessimamente gravada na opinião de Lennon) e Long and Winding Road, a opção de Spector em dar um clima de descontração ao conjunto do disco - com bobagens ditas pelo próprio grupo entre as faixas, pedaços dispersos de músicas e piadinhas - não trouxe um produto à altura de um álbum dos Beatles. Do jeito que ficou mais parece um bootleg do que um disco oficial da gravadora do grupo. Certamente todo fã do conjunto britânico deve ter o álbum em sua discoteca mesmo que passe o resto da vida se lamentando que músicas tão belas não tenham sido lançadas em um disco ideal. Enfim é a vida...

1. Two of Us (Lennon / McCartney) - "Two of Us" é uma balada dos Beatles que sempre considerei subestimada. Nunca vi por aí muitos elogios sendo feitos a essa faixa. É uma criação de Paul McCartney, com pequenas contribuições de John Lennon. Gosto de seu lado acústico, fazendo inclusive com que a gravação tenha um aspecto de singeleza que deixa até uma impressão de que estamos ouvindo uma jam session e não uma gravação oficial dos Beatles. No disco original de 1970 o produtor Phil Spector conseguiu estragar a introdução da canção, colocando Lennon falando algumas bobagens antes da música começar. Nada a ver. Ficou fora de contexto, fora de nexo. Qual teria sido o motivo? Só o maluco do Spector poderia explicar. Penso que essa decisão de trazer uma espécie de som mais cru do disco não foi a melhor opção. Paul que sempre havia primado por belas produções nos discos dos Beatles ficou duplamente irritado quando ouviu o disco. Afinal nada havia sido passado por seu crivo pessoal. Uma bobagem atrás da outra.

2. Dig a Pony (Lennon / McCartney) - Canção composta por Lennon para Yoko Ono. Uma boa faixa, valorizada por bons arranjos criados por John e Paul. Apesar de ser uma canção bem gravada e tudo mais, acabou ganhando o desprezo de Lennon após o fim dos Beatles. Durante uma entrevista ele qualificou sua própria canção como "um lixo"! Não se deve dar ouvidos a John. Ele, depois do fim do grupo, começou a falar mal de muitas músicas e discos da banda, numa reação pouco racional, mais movida pela emoção e pelos problemas (inclusive legais) que ele enfrentou após o fim dos Beatles. Parecia que John queria destruir tudo o que era relativo aos Beatles, provavelmente tentando prejudicar os que ainda tinham direitos sobre as músicas e a marca comercial de seu antigo conjunto. A canção que foi originalmente chamada por John de "All I Want Is You" e acabou depois ganhando esse título mais original e mais criativo " Dig a Pony". Apesar do péssimo humor por parte de John em relação à música pode ouvir sem receios. É uma boa canção do álbum.

3. Across the Universe (Lennon / McCartney) - Outro grande momento de John Lennon em "Let It Be" é a canção "Across the Universe". Certamente é uma obra prima de Lennon. Uma música de melodia lindíssima, com letra igualmente inspiradora. John a compôs na Índia quando os Beatles foram se encontrar com o falso guru Maharishi Mahesh Yogi. De uma forma ou outra o clima espiritualista tocou profundamente a alma do Beatle, resultando em versos como esses: "Palavras flutuam como uma chuva sem fim em um copo de papel / Elas se mexem selvagemente enquanto deslizam pelo universo / Um monte de mágoas, um punhado de alegrias / Estão passando por minha mente / Me possuindo e acariciando / Glória ao maestro do universo / Nada vai mudar meu mundo". E a poesia de Lennon continuava: "Imagens de luzes quebradas / Que dançam na minha frente como milhões de olhos / Eles me chamam para ir pelo universo / Pensamentos se movem como um vento incansável / Dentro de uma caixa de correio / Elas tropeçam cegamente enquanto fazem seu caminho / Através do universo". John acabou não gostando da versão que foi gravada para o álbum "Let It Be". Ele acusou Paul diretamente de ter sabotado sua música. John afirmou anos depois em uma entrevista que os Beatles ficavam semanas trabalhando nos arranjos das músicas de McCartney e quando chegava na hora de gravar as suas músicas pintava um clima de preguiça e má vontade entre os demais Beatles. Verdade ou paranoia de John Lennon? Na minha opinião a gravação de "Across The Universe" que ouvimos aqui nesse disco é muito boa, com belos arranjos. Nem Phil Spector com toda a sua loucura conseguiu estragar a música. Tanto isso é verdade que até hoje é uma das músicas mais celebradas da discografia dos Beatles. Não penso que as acusações de John tinham algum fundo de verdade. Ele estava apenas magoado com Paul e resolveu soltar farpas contra ele pela imprensa. Algo até bem injusto. O fato inegável é que "Across The Universe" é uma obra prima irretocável dos Beatles. Uma música eterna.

4. I Me Mine (Harrison) - George Harrison já vinha numa relação conturbada com John quando finalmente entrou no estúdio para gravar essa bela balada chamada "I Me Mine". O fato é que após uma briga entre eles, John simplesmente boicotou a faixa do colega de banda, não aparecendo nas sessões de gravação dessa canção. Apenas Paul e Ringo participaram. A ausência de John Lennon obviamente é sentida, porém os três Beatles restantes acabaram fazendo uma bela gravação. O refrão era um exemplo de auto afirmação de Harrison em relação ao seu talento. Depois de ficar anos e anos na sombra de John e Paul ele cantava no refrão versos como: "Por todo o dia eu sou mais eu, sou mais eu, sou mais eu / Por toda a noite, eu sou mais eu, sou mais eu, sou mais eu / Agora estão com medo de largar / Todos estão tramando / Tornando-se mais forte o tempo todo / Por todo o dia eu sou mais eu / Eu, depois eu, depois eu / Eu, depois eu, depois eu / Tudo o que eu escuto sou mais eu, sou mais eu, sou mais eu / Até aquelas lágrimas, sou mais eu, sou mais eu, sou mais eu". A letra, como visto, podia ser encarada até mesmo como uma grande indireta contra a dupla Lennon e McCartney. Uma mensagem do tipo "Vocês são bons, mas eu sou mais eu!". Provavelmente Lennon tenha entendido isso e caído fora de sua gravação justamente por essa razão.

5. Dig It (Lennon / McCartney / Harrison / Starkey) - Não espere muito de "Dig It". Essa música é um besteirol Lenniano, como gostava de dizer Paul. Na verdade a gravação original é longa (e chata). Phil Spector resolveu cortar quase tudo, deixando no disco oficial apenas uma amostra de pouco mais de 50 segundos! Soa quase como uma introdução de "Let it Be". Não ficou bom. Melhor teria sido deixado essa jam session besteirol de fora do disco. Não acrescenta nada e nem está completa. Então porque lançar no álbum? Provavelmente Phil Spector a adicionou por gratidão (ou medo) de John Lennon. Afinal foi John quem o contratou para produzir o material que havia sido gravado.

6. Let It Be (Lennon / McCartney) - Paul McCartney compôs a música "Let It Be" em homenagem à memória de sua mãe, falecida muitos anos antes, quando ele era ainda um adolescente. Assim como John Lennon havia feito em "Julia" do Álbum Branco, Paul pensou que havia chegado sua hora de lembrar de sua mãe Mary. A música abria com o seguinte estrofe: "When I find myself in times of trouble / Mother Mary comes to me /  Speaking words of wisdom, let it be". Esses versos chamaram a atenção dos fãs dos Beatles. Houve uma certa especulação quando a música chegou no mercado de que Paul estava fazendo uma referência a Mary (Maria), mãe de Jesus. Seria uma canção religiosa? Anos depois, já com o fim dos Beatles, Paul finalmente explicou a letra dizendo: "Não é uma música sobre Maria, Nossa Senhora, mas sim sobre Mary, minha mãe. Ela era enfermeira em Liverpool, morreu muito jovem e minhas lembranças foram se apagando com o passar dos anos. Eu fiz a música pensando exclusivamente sobre ela. Quando ela voltava do hospital tarde da noite ou pela manhã, sempre me trazia algum presentinho, um carrinho de plástico ou qualquer outra coisa. Ela também sempre tinha palavras que me acalmava. Por isso a letra traz memórias que ainda tenho de sua presença calma e tranquilizadora".

7. Maggie Mae (Harrison) - O disco "Let It Be" chegou ao mercado montado pelo produtor Phil Spector. Ele resolveu aproveitar pequenos trechos de ensaios, em que os Beatles apenas brincavam no estúdio, em estilo jam session, sem qualquer compromisso, para encaixar entre as faixas principais do disco. Uma dessas canções em pedaços foi "Maggie Mae", uma musiquinha bem básica, com acordes engraçadinhos, que John e Paul tocaram nos estúdios, sem jamais pensar que ela iria parar em um disco oficial dos Beatles. A letra relembrava uma prostituta de Liverpool, dos tempos de adolescência de John e Paul. Inicialmente Paul McCartney ficou bem aborrecido em saber que a música iria fazer parte do repertório de "Let It Be", mas como as cópias já estavam sendo prensadas, não havia mais o que fazer. Para falar a verdade Paul nunca gostou de Phil Spector que só foi contratado por decisão de John Lennon, sem consultar os demais membros da banda.

8. I've Got a Feeling (Lennon / McCartney) - Por falar em criações da dupla Lennon e McCartney, o blues "I've Got a Feeling" foi uma das últimas parcerias deles. Uma canção feita face a face, com ambos trabalhando e dando sugestões dentro do estúdio. Paul trouxe o esboço inicial e John começou a acrescentar notas, versos, instrumentos e arranjos. Acabou sendo uma das melhores faixas do disco. O curioso é que John e Paul quiseram imprimir na canção um certo tom de relaxamento, quase como se fosse uma jam session dentro dos estúdios. Só que tudo isso era obviamente bem trabalhado pela dupla. John Lennon resolveu inserir uma indireta para sua primeira esposa, Cynthia, nos versos da canção, quando canta "Oh, por favor acredite em mim, eu odiaria perder o trem / E se você me deixar por causa disso, eu não me atrasarei". Acontece que ela havia perdido o trem quando os Beatles foram para a Índia. Isso irritou profundamente John. Assim o Beatle passou meses longe dela, o que segundo ele próprio serviu para criar um fosso emocional entre o casal. Depois disso Yoko entrou na vida de John e o casamento deles acabou de vez. Já Paul resolveu escrever algumas linhas mais românticas para a música. É dele a seguinte estrofe: "Todos esses anos eu tenho andado por aí / Intrigado como é que ninguém veio me dizer / Que toda a minha procura se resumia a alguém / Que se parecesse contigo". Palavras escritas para Linda, o novo amor na vida de Paul. Afinal Jane Asher naquele momento já era passado.

9. One After 909 (Lennon / McCartney) - Uma das curiosidades mais interessantes do disco "Let It Be" foi a inclusão de uma nova versão para a música "One After 909". Na época os fãs dos Beatles não sabiam e nem foram informados sobre isso, mas essa canção que parecia ser uma doce novidade, uma criação inédita, era na verdade uma das mais antigas composições da dupla Lennon e McCartney. Na realidade esse excelente rock foi composto por John e Paul quando eles eram apenas adolescentes em Liverpool. Foi uma das primeiras experiências deles em criar seu próprio material. Uma música que foi escrita ainda nos anos 50. Pois bem, os Beatles já tinham gravado uma versão do rock na primeira metade dos anos 60. A versão ficou muito boa, realmente excelente. Quem tiver dúvidas ouça as versões gravadas em Abbey Road que foram lançadas no Anthology. Apesar dos bons resultados o que aconteceu a seguir segue sendo uma incógnita. A EMI Odeon simplesmente arquivou a gravação e ela ficou fechada nos porões da gravadora por longos anos! Inexplicavelmente aliás porque era uma versão tecnicamente muito boa. Durante as sessões do "Let It Be" John então resolveu trazer ela de novo, meio que na base da Jam Session, mas que acabou pegando. A versão dos Beatles nesse álbum também é muito boa. Esse é de fato um rock à prova de falhas, com guitarras fortes e aquele sentimento rockabilly que Lennon tanto adorava.

10. Long and Winding Road (Lennon / McCartney) - Uma das coisas que mais irritaram Paul McCartney quando finalmente ouviu o disco oficial "Let It Be" foi a forma como o produtor Phil Spector tratou sua criação "The Long and Winding Road". Para Paul os arranjos ficaram ruins, exagerados, bem de acordo com a "parede de som" que era característica de Spector. Definitivamente McCartney não queria aquele tipo de sonoridade para sua música, porém quando Paul finalmente a ouviu já era tarde demais. Os discos estavam prensados e nas lojas. Não tinha mais volta, era segurar a raiva e seguir em frente. Ele ainda iria reclamar disso em inúmeras entrevistas ao longo dos anos, mas definitivamente já era tarde demais."The Long and Winding Road" foi composta por Paul após o fim de seu longo relacionamento com a atriz Jane Asher. Ela foi a namorada de Paul durante praticamente toda a sua carreira ao lado dos Beatles. Todas as grandes composições dele nessa época foram criadas em cima de seu romance com Jane. Quando o namoro acabou Paul ficou bem arrasado e criou essa bela balada romântica, um adeus final aos anos que passou ao lado de Jane. Curiosamente Jane também foi responsável por ter jogado fora muitas músicas compostas por Paul e John durante a fase dos Beatles. Durante uma faxina ela resolveu jogar no lixo um monte de papéis. Eram letras de música de John e Paul - imaginem o tamanho do prejuízo histórico que isso causou! Mesmo assim, Paul realmente a amava e achava que um dia iria se casar com ela. Aliás todos os demais Beatles pensavam que eles iriam se casar algum dia. Infelizmente isso nunca aconteceu.

11. For You Blue (Harrison) - "For You Blue" foi composta por George Harrison. Em um álbum que trazia também "I Me Mine", considerada por muitos uma das melhores composições de Harrison, ela acabou ficando um pouco ofuscada. Mesmo assim gosto bastante da faixa. Algumas pessoas implicam com o uso da chamada sleep guitar, mas eu pessoalmente gosto desse tipo de sonoridade. Harrison acabou levando esse estilo para muitos de seus discos na carreira solo. Inclusive quando os três Beatles remanescentes resolveram gravar duas faixas no projeto "Anthology", Paul implicou com seu uso em "Free as a Bird" justamente por ter se tornado marca registrada de George. Se a faixa é bem arranjada e produzida, já não digo o mesmo de sua letra que em minha opinião é básica. Confira: "Porque você é bonita e adorável, garota, eu te amo / Porque você é bonita e adorável, garota, é verdade / Eu te amo mais do que amei a qualquer outra garota / Eu te quero de manhã, eu te amo / Eu te quero no momento em que me sinto triste / Eu vivo cada momento para você garota". Como se pode perceber os versos são bem simples. Amor colegial.

12. Get Back (Lennon / McCartney) - O curioso é que o álbum nem iria se chamar "Let It Be" mas sim "Get Back", que era um rock forte, com muita pegada, uma música também composta por Paul. Só nos últimos momentos, bem antes do lançamento do filme e do disco, é que Paul mudou de ideia, fazendo com que a balada sentimental e nostálgica "Let It Be" finalmente viesse a dar o título do disco como também do filme que estava sendo lançado. John Lennon cismou com a letra de "Get Back". Havia uma parte em que Paul cantava, olhando para Yoko Ono, em que ele dizia para ela voltar para o lugar de onde veio. John encarou isso como uma provocação direta de Paul e resolveu tomar satisfações. O clima que já não era bom dentro dos Beatles piorou, mas Paul não comprou briga, afirmando diplomaticamente para John que tudo não passava de paranoia de sua cabeça, uma vez que a canção não era sobre Yoko.

The Beatles - Let It Be (1970): John Lennon (Guitarra, violão, piano e vocal) / Paul McCartney (Baixo, violão, guitarra, piano e vocal) / George Harrison (Guitarra, violão e vocal) / Ringo Starr (Bateria) / Billy Preston (teclados) / Produção: Phil Spector / Selo: Apple - Emi Odeon / Data de gravação: 2 a 31 de Janeiro de 1969 (Apple Studios, Savile Row) e Janeiro de 1970 e Março de 1970 (Abbey Road Studios, Londres) / Data de Lançamento: 8 de maio de 1970 / Melhor Posição alcançada nas paradas: 1 (Inglaterra) e 1 (Estados Unidos).

Pablo Aluísio.

sábado, 30 de dezembro de 2017

The Beatles - Abbey Road (1969)

The Beatles - Abbey Road (1969) - Muitos ainda pensam que "Let It Be" foi o último disco dos Beatles. De fato ele foi lançado depois, porém gravado antes de "Abbey Road". Esse álbum traz as últimas gravações dos Beatles, antes da separação que iria ocorrer poucos meses depois. As filmagens de "Let It Be" deixaram os Beatles exaustos e desanimados. Não foi uma boa experiência e nem resultou em boa música, como disse Lennon depois. Assim quando retornaram ao estúdio Abbey Road eles procuraram renovar sua sonoridade, voltar ao básico, dar o melhor de si. O resultado foi essa obra prima, um dos grandes discos da banda. Elogiado desde que chegou nas lojas pela crítica, o disco também foi um enorme sucesso comercial, se tornando, para surpresa dos próprios Beatles, em seu disco mais vendido! Quem diria... De qualquer forma a qualidade de "Abbey Road" não se discute. Ainda hoje impressiona por sua originalidade, criatividade e sonoridade única. Abaixo comento faixa a faixa esse grande momento da discografia dos Beatles.

1. Come Together (John Lennon / Paul McCartney) - Eu considero "Come Together" a última grande música de John Lennon nos Beatles. Ela foi lançada no disco "Abbey Road" que de certa maneira era uma colcha de retalhos composta e organizada por Paul McCartney. Havia literalmente um monte de pedaços de canções, letras inacabadas e melodias pela metade. Paul foi genial e com esse material em mãos criou uma verdadeira obra prima, principalmente no lado B do álbum que seguia uma linha bem inovadora, com várias composições de John, Paul e George que se entrelaçavam, quase como se não houvesse uma separação entre elas. Já "Come Together" fugia um pouco dessa linha. Era uma composição cem por cento John Lennon e que havia sido criada de forma independente ao conceito que Paul havia criado para "Abbey Road". A letra de John Lennon era na realidade um jogo de palavras. Isso já havia se tornado uma característica de John desde os tempos de "Revolver". Ele decidira romper com a velha fórmula de canções sobre amor, paixões de adolescente e afins. Para John isso não tinha mais nenhuma importância. Ele supostamente descreve um sujeito nada convencional, fora dos padrões, mas isso é apenas a espinha dorsal de sua composição. Lennon, inspirado por Dylan, não queria mais soar previsível ou convencional. Assim ele procurava sempre romper barreiras, tanto em termos de letra como melodia. Essa música tem um estilo estranho, com tensão em cada linha escrita. O ouvinte fica esperando pelo clímax que parece nunca chegar. Curiosamente ela seria regravada por Michael Jackson e Aerosmith alguns anos depois, mas nada supera realmente a beleza e a originalidade dessa gravação de Abbey Road. Realmente uma grande faixa que marcou a despedida de Lennon dos melhores anos de sua vida artística.

2. Something (Harrison) - Durante anos George Harrison viveu à sombra da dupla John Lennon e Paul McCartney. Em entrevistas John Lennon costumava dizer que o grupo sempre deixava um espaço nos álbuns dos Beatles para que George cantasse ou até mesmo encaixasse uma composição própria dentro do repertório. Além de ser mais jovem do que os colegas de banda, George ainda tinha que conviver com a genialidade deles na composição de dezenas de obras primas. Mesmo assim Harrison foi se aperfeiçoando com o tempo. Para muitos a canção "Something" foi a prova definitiva de seu talento como compositor, a sua melhor canção. Pena que ela veio um pouco tarde demais pois quando foi lançada no álbum "Abbey Road" de 1969 os Beatles já estavam separados. Composta por volta de 1968 George esperou alguns meses para levar a música para o estúdio. Queria trabalhar melhor nela. Uma demo crua, apenas com ele e sua guitarra, foi gravada pelo próprio George e em cima dela os demais Beatles e o produtor George Martin começaram a trabalhar nos arranjos. Logo no começo George Harrison percebeu que apenas uma guitarra seria insuficiente para criar a sonoridade que queria. Por isso tocou várias delas, de diferentes modelos, para que depois fossem unidas na edição da gravação original. O curioso é que John Lennon se ofereceu para tocar a guitarra base, mas George achou por bem ele mesmo tocar todas elas sozinho, dando sua própria marca registrada para cada detalhe da canção. Assim Lennon acabou indo para os teclados onde fez um trabalho apenas básico para o fundo instrumental da melodia. Os demais Beatles foram para seus instrumentos tradicionais, com Paul McCartney no baixo e Ringo Starr na bateria. Para a parte instrumental George Martin criou um arranjo envolvendo violinos, violoncelos e violões. Tudo foi acrescentado bem depois, na sala de edição de Abbey Road. O resultado ficou realmente ótimo, embora alguns críticos tenham reclamado do arranjo que para alguns se tornou excessivo. Ao longo dos anos "Something" (que foi lançada como single ao lado de "Come Together") se tornou um dos maiores sucessos dos Beatles sendo regravada por alguns grandes cantores, entre eles Frank Sinatra e Elvis Presley (que lançou sua versão ao vivo no álbum "Aloha From Hawaii"). Em suma, essa é provavelmente a maior obra prima da carreira de George Harrison. Uma prova de que ele não era apenas mais um nos Beatles.

3. Maxwell's Silver Hammer (John Lennon / Paul McCartney) - Essa é uma das músicas mais interessantes do álbum "Abbey Road" dos Beatles. Essa canção foi uma das mais perfeitas, do ponto de vista técnico, da discografia do grupo. Essa perfeição porém teve seu preço. Os demais membros do grupo começaram a se irritar com Paul McCartney porque a gravação parecia nunca ter fim... Paul sempre aparecia querendo lapidar ainda mais a faixa, acrescentar algum detalhe, alguma novidade em sua sonoridade. O preciosismo absurdo de Paul irritou tanto os outros que Lennon simplesmente sumiu do estúdio por duas semanas apenas para não se envolver mais na gravação dessa faixa. Para ele "Maxwell's Silver Hammer" era de uma chatice indescritível. Depois que John foi embora, George Harrison também começou a criticar a música de Paul, dizendo que ela era uma coisa velha, ultrapassada, Parecia a música que Paul estava fazendo para seu avô - por causa da sonoridade anos 1920 que McCartney queria trazer para a faixa. Tentando amenizar tudo Ringo Starr (sempre ele, o conciliador) afirmou que havia um exagero na rabugice de John e George. Ok, a música tinha um timing envelhecido, de tempos antigos, mas também era verdade que ela resultou em uma gravação absurdamente perfeita, cheia de inovações sonoras, que não eram comuns em discos de banda de rock dos anos 60. Mais uma inovação sem precedentes dos Beatles nesse aspecto.

4. Oh! Darling (John Lennon / Paul McCartney) - Depois ouvimos a bela canção romântica "Oh Darling!". Que Paul McCartney sempre foi um grande compositor de baladas, isso provavelmente todo mundo já sabe. O que poucos conhecem é que nos bastidores dos Beatles sempre havia uma disputa surda envolvendo Paul e John. Enquanto McCartney estava sempre lapidando suas criações românticas, John ficava pegando em seu pé, dizendo que ele estava sempre fazendo canções piegas. O próprio John chegou a declarar sobre isso em uma entrevista: "Eu estava sempre surgindo nos estúdios com rocks pesados, enquanto Paul surgia como o poeta romântico dos Beatles. Eu ficava perplexo com isso porque queria contrabalancear nos discos dos Beatles e como Paul só parecia surgir com músicas de amor eu tinha que me virar criando rocks! Quando os Beatles se separaram eu até mesmo fiquei em dúvida se ainda conseguiria compor alguma música romântica depois de anos de pauleira". Pois é, não foi fácil para John aguentar por anos e anos as intermináveis declarações de amor de Paul em forma de notas musicais... De qualquer forma, indiferente com as críticas de John, Paul surgiu no estúdio Abbey Road com essa nova faixa romântica "Oh Darling!" - aliás mais do que isso, uma das mais sinceras e ternas melodias de sua carreira. A inspiração de Paul veio de velhas músicas americanas dos anos 50, com todos aqueles refrãos pegajosos e ultra românticos. Para gravar seus vocais Paul também decidiu que iria chegar mais cedo no Abbey Road para chegar no tipo de vocalização que considerava a ideal. Ele acreditava que sua voz ficava particularmente mais bonita nas primeiras horas da manhã. Assim mal o estúdio era aberto às sete da manhã e lá estava Paul gravando sozinho, sem os demais Beatles que só apareciam muitas horas depois. Depois que Paul finalmente gravou seus vocais o resto da banda contribuiu com a parte instrumental. John foi para o piano tirar algumas notas evocativas daquele espírito rock romântico dos 50´s. George criou um bonito solo de guitarra e Ringo fez o feijão com arroz com sua bateria. Até Billy Preston (que havia trabalhado em "Let It Be") deu uma pequena canja tocando seu sintetizador (embora na versão oficial Paul tenha eliminado essa parte). Então é isso, uma canção despudoradamente apaixonada, como tem que ser. Afinal grandes amores sempre são melhores quando são loucamente vividos.

5. Octopus's Garden (Starkey) - A canção "Octopus's Garden" tem algumas características bem próprias. Essa música foi composta por Richard Starkey, ou melhor dizendo, Ringo. Desde os primeiros discos dos Beatles sempre uma faixa era separada para ser cantada por Ringo. Segundo John as músicas mais simples eram escolhidas por ele e Paul para o baterista soltar a voz. Em um momento pouco feliz de sua tagarelice, John chegou a debochar do baterista durante uma entrevista nos anos 70 dizendo que ele definitivamente "não era o melhor cantor do mundo!". Não deveria ter dito algo assim. De qualquer maneira era tradicional abrir esse espaço para o bom e velho Ringo. A novidade era que "Octopus's Garden" era uma criação própria de Ringo e não apenas uma música composta por Lennon e McCartney e interpretada por ele. De certa maneira causou até mesmo uma surpresa entre John e Paul o fato de Ringo surgir no estúdio com uma canção nova, feita apenas por ele! Não era algo que eles esperavam acontecer durante aquelas sessões. Desde o momento em que ele mostrou uma demo bem crua para os demais, Paul, John e o produtor George Martin decidiram que ali deveria haver muitos efeitos sonoros, tal como havia acontecido com "Yellow Submarine". Aliás para muitos críticos e especialistas da obra dos Beatles essa canção era mesmo uma espécie de sequência daquela famosa música do álbum "Revolver". Paul e John sentaram no estúdio e escreveram alguns efeitos que deveriam aparecer na gravação. Embora não tenham sido creditados na autoria da canção o fato é que a participação deles foi essencial para que "Octopus's Garden" tivesse aquela sonoridade bem conhecida, diferente de todas as outras músicas desse disco.

6. I Want You (She's so Heavy) (John Lennon / Paul McCartney) - Já  "I Want You (She's So Heavy)" era uma composição inteiramente feita por John Lennon. Na verdade eram duas músicas diferentes, sobre temas diversos que Lennon resolveu unir em uma só para ser lançada no álbum "Abbey Road". A primeira chamada "I Want You" foi composta para Yoko Ono. John dizia que em relação a ela tinha que compor versos primários mesmo, pois sua paixão pela japonesa era algo primal, praticamente visceral. Por essa razão a maioria das letras falando de seu romance com Yoko eram de uma sinceridade e singeleza que chegavam a incomodar. Essa linha seria seguida por John Lennon em praticamente todos os seus discos da carreira solo que invariavelmente também tinha um só tema: seu amor por Yoko Ono. Por outro lado "She´s So Heavy" era bem mais pesada. O "She" (Ela) da letra não se referia a uma mulher, mas sim a uma droga. Na época em que a criou John estava afundado em um pesado vício na heroína, uma droga da pesada que causava forte dependência em seus usuários. John já tinha tido problemas antes em escrever letras sobre drogas, principalmente no que dizia respeito a boicotes em rádios inglesas e americanas. Aqui as coisas foram mais amenizadas pois como a música foi unida a outra criou-se a (falsa) impressão que toda a letra dizia somente respeito a Yoko Ono. No estúdio John também resolveu inovar. Criou uma parede sonora, bem pesada, que anos depois seria associada ao Rock Progressivo. Também resolveu fazer um corte abrupto no final da faixa, o que fez alguns compradores voltarem às lojas dizendo que seus discos estavam com defeito! Não era defeito de fabricação, mas sim um jeito inovador que Lennon resolveu criar na sala de edição do produtor George Martin.

7. Here Comes the Sun (Harrison) - Durante muitos anos "Something" foi considerada a grande música de George Harrison no álbum "Abbey Road". Não havia nada de errado nisso. Realmente é um grande clássico e provavelmente o auge da fase criativa de Harrison nos Beatles. Acontece que esse disco trazia também outra obra prima do repertório de George, a linda "Here Comes The Sun". Ela abria o lado B do vinil original e era realmente um primor. O curioso é que as origens dessa música trazem um claro paradoxo por parte de Harrison. A música, como podemos notar em sua letra e melodia, tem clara inspiração no movimento hippie. A letra evocando amor, natureza e bucolismo, se encaixa perfeitamente bem nesse sentido. A questão é que o próprio George não tinha uma opinião muito favorável sobre esse mesmo movimento. Em mais de uma vez ele criticou os hippies. Em certa ocasião George foi convidado para participar de um encontro hippie na Califórnia. Ele prontamente aceitou o convite pois achou que iria encontrar pessoas comprometidas em criar um novo mundo, baseado na difundida mensagem da paz e do amor. Mas ao chegar lá George encontrou algo completamente diferente. Em suas próprias palavras: "Quando cheguei no encontro tudo o que encontrei foi um bando de jovens drogados... drogados e sujos, ralando pela lama. Ninguém ali queria discutir filosofia, paz ou amor, mas sim tomar drogas...". Apesar da decepção com os hippies, George acabou compondo e gravando essa canção que para muitos é a maior canção hippie já feita. Contraditório? Sim, mas isso fazia parte da personalidade complexa do Beatle.

8. Because (John Lennon / Paul McCartney) - "Because" é mais uma obra prima desse álbum. Para entender bem essa canção é interessante saber de onde ela veio e que movimentos musicais acabaria inspirando. O rock progressivo ficou muito associado a uma característica básica: a união entre o rock, música popular por excelência, e o clássico, com sua erudição. Isso é bem demonstrado em álbuns de grupos como Pink Floyd e Yes. O auge do progressivo aconteceu justamente na década de 1970, quando os Beatles já não existiam mais. Isso porém não significa que o grupo não tenha explorado essa linha mais erudita. Um dos maiores exemplos vem nessa faixa do Abbey Road chamada "Because". Aqui os Beatles usaram um arranjo vocal bem de acordo com sua linha tradicional acompanhados de uma orquestração que nos faz lembrar das peças escritas pelo grande Mozart. O uso de instrumentos clássicos, nada comuns de se encontrar em discos de rock, acentua ainda mais esse aspecto. Nem é complicado entender em gravações como essa a importância de George Martin na produção dos discos dos Beatles. Vou mais além, em minha opinião Lennon e McCartney deveriam ter dado a coautoria da música para Martin pois foi ele, com seus conhecimentos de maestro, que criou toda a sonoridade que aqui ouvimos. Um toque de gênio, com certeza. Ainda insistindo um pouco mais na questão do arranjo vocal penso que esse foi um dos melhores de toda a carreira do grupo. Existe uma versão apenas com as vozes de John, Paul e George, completamente isoladas da parte instrumental, que é de arrepiar. Desde que começaram a cantar, ainda nos tempos de colegiais, sempre seguindo a linha de grupos como The Everly Brothers, os Beatles procuravam a melhorar a cada ano. Pois foi justamente em Abbey Road, nessa canção "Because", que eles atingiram o seu auge de perfeição. Perfeitamente sincronizados e com uma afinação de fazer qualquer amante de boa música, bater palmas, essa faixa e sua execução vocal está certamente entre os grandes momentos do conjunto. "Because" é outro momento desse álbum que pode ser chamado, sem favor algum, de obra prima da música. Um verdadeiro primor musical.

9. You Never Give Me Your Money (John Lennon / Paul McCartney) - Música de Paul McCartney que traz em sua letra uma clara mensagem para Alain Klein que estava passando a mão nos bolsos dos Beatles quando ele se tornou o responsável pela Apple. Obviamente Lennon entendeu o recado de Paul, mas resolveu bancar a provocação. Como se sabe foi John quem trouxe Klein para a Apple, brigou para que ele se tornasse o responsável pelos negócios dos Beatles, mesmo contra a opinião de Paul, e depois acabou sendo processado pelo desonesto agente. Se tivesse ouvido seu companheiro de banda nada disso teria acontecido.... Na parte musical houve algumas pequenas inovações dentro dos estúdios: Paul tocou piano e baixo; John ficou na guitarra; George Harrison no piano, pandeiro e em duas guitarras e finalmente Ringo criou algumas variações em sua bateria. George Martin ainda arranjou espaço para acrescentar um segundo piano para melhorar a harmonia da gravação.

10. Sun King (John Lennon / Paul McCartney) - John Lennon gostava de passar suas férias na Espanha, nas praias que banhavam a costa do mar Mediterrâneo. Foi justamente numa dessas viagens que ele compôs "Sun King". Ele inclusive decidiu colocar algumas palavras em espanhol na letra original(que depois contaria com a preciosa colaboração de Paul que sabia mais algumas frases na língua espanhola). Embora seja um bom momento do disco não há como negar que se trata de mais um pedaço de música inacabada por John que acabou sendo encaixada no lado B do álbum. Como havia muitos trechos como esse, Paul teve a brilhante ideia de juntá-las todas, como se fizessem parte de um grande medley.

11. Mean Mr Mustard (John Lennon / Paul McCartney) - Essa composição era mais uma contribuição de John. Ele havia escrito poucas linhas do que viria a se tornar a canção quando estava na Índia. De certa forma era uma sobra das gravações do "White Album" que John resolveu resgatar. O curioso é que anos depois ele destruiu a música ao comentar sobre ela durante uma entrevista. Ele próprio reconheceu que a composição era "Um lixo que ele havia escrito em algum pedaço de papel quando estava na Índia". Como se pode ver John não deixava pedra sobre pedra com seu estilo mordaz de criticar não apenas os outros, como também a si próprio.

12. Polythene Pam (John Lennon / Paul McCartney) - Depois de Paul era a vez de John apresentar uma nova canção nos estúdios chamada "Polythene Pam". A palavra "nova" deve ser encarada em termos. Embora essa canção tenha sido lançada no álbum "Abbey Road", ela quase entrou no "White Album". Lennon só não a colocou naquele disco porque ele não a considerava ainda finalizada. Uma bobagem já que na verdade a composição nunca foi terminada por John. Assim quando os Beatles gravavam seu último LP John concordou com Paul McCartney em colocá-la no meio do medley do lado B - o que acabou virando uma das marcas registradas desse maravilhoso trabalho do grupo. Anos depois o próprio John iria esclarecer que "Polythene Pam" havia sido composta na Índia, quando os Beatles estavam por lá para meditar e aprender aspectos da religião hindu. Nessa época a rotina de John era fumar muito maconha, assistir as palestras de seu guru (que depois iria se revelar um picareta) e compor, com seu violão nas horas vagas. Assim a música foi criada, de forma bem despretensiosa e sem muita sofisticação. No "Abbey Road" temos uma versão bem básica, praticamente inacabada, servindo apenas como um link entre as diversas faixas. Pelo visto o próprio John cansou da música e nem sequer se preocupou muito em finalizá-la adequadamente. De qualquer maneira o bom solo de guitarra e a garra da gravação já valem a pena por si só.

13. She Came in Through the Bathroom Window (John Lennon / Paul McCartney) - Durante uma entrevista nos anos 70 John Lennon aceitou fazer uma espécie de bate-bola onde o entrevistador ia citando algumas músicas dos Beatles e ele ia respondendo sobre elas, de forma rápida e simples, dizendo o que primeiro lhe vinha a cabeça. Quando surgiu o nome de "She Came in Through the Bathroom Window" do álbum Abbey Road, John disparou: "Essa música é completamente de Paul. Não tenho a menor ideia do que se trata! Provavelmente Linda tenha entrado pela janela do banheiro, não sei, alguém entrou pela janela do banheiro...". Pois é, a origem dessa canção segue sendo um mistério Beatle. Na verdade a música em si não passava de um pequeno refrão sem importância que havia sido ensaiada durante os trabalhos de "Get Back" (que depois iria se transformar no filme e álbum "Let It Be"). Nada sem muita importância, nada muito bem trabalhado por Paul. Alguns boatos dizem que a tal pessoa que entrou pela janela do banheiro foi a filha de Linda, durante um dia em que Paul estava tão drogado que não conseguia nem abrir a porta de seu apartamento, fazendo com que a garotinha pulasse pela janela para abrir a porta por dentro. Quem sabe o que realmente teria acontecido? Acredito que nessa altura do campeonato nem mesmo Paul saiba mais explicar a origem da letra. De qualquer maneira a faixa é um bom momento do super Medley que Paul havia concebido para fazer parte do disco. Sua fusão com o rock "Polythene Pam" de John funciona muito bem. De uma coisa ninguém duvidava: Paul era realmente um mestre de estúdio, fazendo o melhor dentro de Abbey Road ao lado de George Martin. Coisa fina.

14. Golden Slumbers (John Lennon / Paul McCartney) - Paul McCartney tirou a ideia da canção de uma obra infantil, um conto de fadas. Depois escreveu o arranjo como se fosse uma velha canção de ninar. Para a letra Paul usou a obra do poeta Thomas Dekker. Mesmo com tantas fontes de inspiração Paul não se sentiu muito confortável com o resultado final. Para ele ainda estava faltando algo, pois a gravação original realmente tinha ficado bem curta. Assim ele resolveu unir esse trecho com "Carry That Weight", outra de suas composições que ele trazia para o álbum.

15. Carry that Weight (John Lennon / Paul McCartney) - John Lennon ficou um pouco irritado após ouvir a primeira demonstração dessa música por Paul dentro do estúdio porque a letra era obviamente outra indireta contra Allen Klein, o sujeito que John havia trazido para ser o novo empresário dos Beatles. Paul havia ficado muito irritado com essa escolha pois ele queria que seu sogro se tornasse o novo homem de negócios do grupo. John porém passou por cima de Paul, colocando Klein no comando. A troca de farpas entre eles dentro dos estúdios Abbey Road assim se tornou bem óbvia. John inclusive cogitou mais uma vez sabotar a criação de seu colega de banda, colocando todos os tipos de problemas para tocar na gravação. Sua má vontade tinha se tornado bem clara para todos.

16. The End (john Lennon / Paul McCartney) - É um desfecho, a última faixa a ser creditada na contracapa do álbum original de 1969. Nela Paul canta um verso que ficou bem conhecido dos fãs:  "E no fim, todo o amor que você recebe é igual ao amor que você deu". Como a baladinha "Her Majesty" não foi creditada, muitos pensaram na época que ela era na verdade "The End", mas são músicas diferentes, que até hoje confundem os ouvintes.

17. Her Majesty (john Lennon / Paul McCartney) - O que muitos pensam ser "The End" na verdade é "Her Majesty". Depois de uma longa pausa Paul surge repentinamente tocando seu violão, numa baladinha com poucos versos. Essa gravação nem mesmo iria aparecer no disco, mas de última hora Paul achou que seria divertido causar uma "surpresa" aos ouvintes. Quando todos pensavam que o álbum havia terminado eis que surgia do nada Paul e seu violão para um recadinho final.

The Beatles - Abbey Road (1969) - John Lennon (vocais, guitarra, violão e piano) / Paul McCartney (vocais, baixo, violão e piano) / George Harrison (vocais, violão e guitarra) /  Ringo Starr (vocais, bateria e percussão) / Produção: George Martin / Local de gravação: Abbey Road Studios, Londres / Data de gravação: 22 de fevereiro a 20 de agosto de 1969 / Data de Lançamento: Setembro de 1969 / Selo: Apple Records - Emi Odeon / Melhor Posição nas paradas: #1 (Estados Unidos), #1 (Reino Unido).

Pablo Aluísio.

The Beatles - Sgt. Pepper's Lonely Hearts Club Band (1967)

Muita coisa já foi dita sobre Sgt Pepper´s. Muito provavelmente esse seja o disco mais analisado, comentado e destrinchado trabalho musical da história. Rotular o álbum de revolucionário, impactante seria redundante. Nem os Beatles tinham plena consciência no gigante que esse disco iria se tornar. Depois de tantos anos essa obra ainda continua sendo citada com frequência. Mas afinal de contas o que a torna tão especial? Uma obra de arte não consegue ser totalmente compreendida sem se levar em conta o contexto histórico em que foi produzida. Sgt Pepper´s só é entendido em essência se o ouvinte entender que quando o álbum chegou nas lojas havia todo um clima psicodélico no ar, toda uma busca e um sentimento que hoje muitos associam ao velho chavão hippie “Paz e Amor”. Certamente havia esse sentimento mas também havia mais, existia uma efervescência nas artes em geral e mudanças estavam na ordem do dia. Os Beatles nunca foram ingênuos, eram rapazes inteligentes e antenados com o que acontecia ao redor. Foi assim que o disco nasceu. Em essência era algo que todos esperavam mas que ninguém realmente havia ainda colocado em prática. Havia uma série de pressões comerciais e de estilo em cima de grupos que vendiam muito como os Beatles. O grande mérito deles foi realmente darem a cara à tapa e arriscar. Isso porque Sgr Pepper´s tanto poderia ser um marco como um fracasso monumental. O grupo assumiu uma postura, teve coragem e lançou o álbum e o mundo musical nunca mais foi o mesmo.

Na época muitos críticos e analistas musicais classificaram o disco como “conceitual”, uma denominação que os próprios Beatles desconheciam. Na verdade não foi bem assim. O próprio Paul McCartney, que teve a ideia original do disco, jamais o arquitetou dessa forma. De fato como o próprio Paul explicou mais tarde apenas as 2 primeiras faixas tem algo em si, inclusive são interligadas. Depois disso Lennon apresentou suas canções ao grupo, músicas que tinham sido compostas em separada, sem a concepção do álbum em mente. O curioso é que em termos de sonoridade e avanço realmente havia uma tênue linha ligando todo o material mas isso surgiu de forma bem espontânea, pois John ao compor temas como “A Day in The Life” jamais havia pensado na ideia de Paul para o disco em si. Foi de certa forma um feliz encontro de ideias que resultou em um disco realmente genial, que resistiu a tudo, inclusive ao tempo. Recentemente promovi mais uma audição atenta do conjunto da obra. Realmente as canções, todas psicodélicas, soam seguindo uma proposta, algo indefinido entre o mundo circense, a grande arte da Londres da década de 60, peças de vaudeville, nostalgias dos anos 20 e muito mais. É um caleidoscópio de influências que os Beatles receberam ao longo da vida. O diferencial aqui é que eles jogaram tudo de uma vez, numa só obra musical. Por isso assustou, por isso revolucionou tanto.

Entre as faixas novamente se sobressai o talento de John Lennon como compositor. Não se sabe ao certo a razão, se foram as drogas, se foi seu encontro com Yoko, não sei, o que se pode perceber nitidamente é que ele está numa fase extremamente inspirada por essa época. As três canções mais marcantes do álbum levam sua assinatura pessoal, de digital mesmo. "Lucy in the Sky with Diamonds" não é uma música psicodélica como cantam em prosa e verso por aí. Vou mais além e afirmo que ela é o psicodelismo. Como todos sabem Lennon foi acusado de estar promovendo o ácido lisérgico com a canção pois suas inicias formavam a sigla LSD. Lennon rebateu as acusações dizendo que era mera coincidência pois a letra havia sido inspirada em um desenho de seu filho Julian. Será mesmo? Quem tem a razão? Não importa, LSD, digo, "Lucy in the Sky with Diamonds", é realmente fantástica. Outra faixa forte e marcante é a já citada "A Day in the Life", na verdade uma coleção de músicas inacabadas de Lennon que resolveu unir tudo sob um arranjo extremamente inovador. Paul dá sua contribuição nos arranjos orquestrais. Por fim temos a circense "Being for the Benefit of Mr. Kite!". A letra foi toda inspirada em um velho cartaz que Lennon comprou em um sebo. Vejam como ele era criativo. Compôs toda uma canção apenas utilizando os nomes e eventos que estavam nesse velho comercial de um circo do século passado. O arranjo é um primor e nesse aspecto temos que bater palmas para George Martin, o talentoso maestro que tanto contribuiu para o sucesso do quarteto britânico.

Deixei para falar de Paul por último porque queiram ou não ele é o grande nome por trás desse projeto. Ele concebeu esse conceito de os Beatles surgirem no disco como se fossem um outro grupo musical, justamente o que dá nome ao álbum. Em sua cabeça Paul queria que o consumidor levasse para casa um disco do "Sgt. Pepper's Lonely Hearts Club Band" e não dos Beatles. Essa metalinguagem desse trabalho eu realmente acho genial. Também é importante frisar que ao contrário de Lennon, sempre instigante, ácido e mordaz, McCartney trazia belas melodias aos discos do conjunto. Aqui não foi diferente. De fato as melhores linhas melódicas levam sua marca registrada. "She's Leaving Home", por exemplo, é belíssima. Evocativa e nostálgica a canção é beleza rara em notas musicais. "When I'm Sixty-Four" segue seus passos. O som lembra o melhor das antigas big bands americanas das décadas de 20 e 30. Paul com nostalgia de um tempo não vivido. Genial. George Harrison, mais envolvido do que nunca com a religião e cultura indianas surge com "Within You Without You". Eu confesso que essa é a única música do disco que não me agrada muito. É um tipo de musicalidade muito específica, não digo que é ruim, apenas que não faz o meu estilo. Enfim, eu poderia ficar dias e noites escrevendo sobre as qualidades de "Sgt. Pepper's Lonely Hearts Club Band" mas isso é realmente desnecessário. A obra fala por si mesma. Não adianta ficar procurando o conceito ou a falta dele entre as faixas. O importante é ouvir seu som atemporal. É isso que faria o Billy Shears. Quem é o Billy Shears? Bom, essa é uma outra estória que a gente vai contar por aqui... faixa a faixa:

1. Sgt. Pepper's Lonely Hearts Club Band (Lennon / McCartney) - Paul McCartney sempre foi um gênio criativo. Durante uma viagem a negócios nos Estados Unidos nos anos 60 ele rascunhou em um guardanapo dado pela empresa aérea uma nova ideia. Imagine que os Beatles não mais existissem. Imagine que Paul, George, Ringo e John fossem apenas membros de uma banda ao estilo do século XIX chamada "Sgt. Pepper's Lonely Hearts Club Band"! Algo bem Old School, era Vitoriana, Vaudeville, do velho teatro inglês do século passado, algo misturado também com o conceito das antigas fanfarras que cruzavam o interior durante as festas regionais, as feiras de produtores rurais de Liverpool e redondezas. Quando retornou a Londres, Paul apresentou a ideia inicialmente para John Lennon. Ele demorou um pouco a pegar o conceito, mas quando finalmente entendeu as intenções de Paul, adorou! Era algo inédito dentro da indústria fonográfica, realmente revolucionário. No começo a gravadora dos Beatles, a EMI, ficou com receios, principalmente depois que Paul disse que não queria a marca "Beatles" nem na capa do disco e nem na propaganda de lançamento do novo álbum. A EMI deveria promover apenas a bandinha do Sgt Pepper. É claro que depois de muitas reuniões Paul voltou atrás, mas o conceito artístico inicial iria prevalecer. Os Beatles basicamente iriam fingir (ou interpretar) que eram parte de um outro grupo musical.

2. With a Little Help from My Friends (Lennon / McCartney) - "With a Little Help from My Friends" é uma das canções mais emblemáticas do álbum "Sgt. Pepper's Lonely Hearts Club Band". O curioso é que não havia muita pretensão sobre ela quando Paul a compôs. Na verdade ele queria utilizar a música como meramente um link, um elo de ligação entre a faixa principal e as demais canções do disco. Para isso chamou Ringo para os vocais, por causa da simplicidade melódica da faixa. Outro fato muito curioso é que Paul criou uma figura imaginária chamada Billy Shears que depois foi usado pelos fãs de teorias da conspiração como uma das pistas deixadas pelos Beatles após a morte de Paul em 1966! Tem coisa mais maluca do que essa? O sósia de Paul, colocado em seu lugar, seria justamente o tal de Billy Shears! Bizarro! De qualquer forma nada disso impediu uma bela gravação dos Beatles. Hoje em dia também é impossível citar essa música sem falar de Joe Cocker. Ele fez aquele que talvez seja o cover mais famoso de uma canção dos Beatles. Sucesso em Woodstock virou um símbolo dos anos 60, conseguindo ganhar inclusive personalidade própria, algo que surpreendeu os próprios Beatles.

3. Lucy in the Sky with Diamonds (Lennon / McCartney) - Sem dúvida uma das canções mais lembradas desse clássico álbum dos Beatles é a maravilhosa "Lucy in the Sky with Diamonds", uma verdadeira obra prima de John Lennon. Assim que o disco foi lançado começaram as especulações sobre o significado de sua estranha letra. Afinal a frase "Lucy no céu com diamantes" não fazia muito sentido. Várias versões surgiram até que um crítico de Nova Iorque escreveu um artigo dizendo que havia entendido a mensagem cifrada de Lennon. As iniciais da canção formavam a sigla LSD! Bingo! Isso mesmo, John havia composto uma música em homenagem à droga lisérgica que estava se tornando moda na época. Não era segredo para ninguém que John estava consumindo LSD em grandes quantidades nesse período em sua vida. Só que assim que soube dessa interpretação John chamou a imprensa e disse que sua criação psicodélica nada tinha a ver com LSD. Ela havia sido criada após seu filho Julian lhe mostrar um desenho feito na escola. Quando John perguntou a Julian o que aquilo significava o garoto respondeu: "Essa é Lucy, no céu, com diamantes". Ora, isso para uma mente criativa como John foi o bastante. Assim ele acabou criando a música. Para provar seu ponto de vista Lennon chegou até mesmo a mostrar o desenho do garoto para a imprensa.

4. Getting Better (Lennon / McCartney) - "Getting Better" por outro lado nunca foi um grande sucesso dos Beatles. De certa forma é um típico lado B da banda, uma canção que apesar de ser bem gravada só servia mesmo para completar cronologicamente o disco como um todo. Nunca gostei muito dessa composição de Paul McCartney. Sempre achei inclusive uma criação um pouco preguiçosa, que usava e abusava de clichês musicais em praticamente todas as suas linhas. McCartney certamente poderia fazer melhor, porém acredito que ele estava simplesmente exausto depois de meses e meses de estúdio, trabalhando em cada detalhe de cada gravação. Com isso um certo ar de cansaço iria mesmo surgir em algum momento. Para não dizer que era um momento de puro desperdício vale elogiar o trabalho dos vocais secundários, que nos fazem lembrar inclusive dos Beatles de "Please, Please Me" e "Rubber Soul". A letra também fugia bastante do estilo enigmático que John Lennon vinha imprimindo nos discos da banda. É bem simples, quase pueril, falando sobre melhorar a cada ano, a cada dia, procurando sempre ser uma pessoa melhor do que havia sido no passado. Nada filosófico, nada obscuro, nada simbólico, apenas uma mensagem de positividade por parte de Paul, que era um otimista incorrigível.

5. Fixing a Hole (Lennon / McCartney) - Para aliviar um pouco tantas sonoridades estranhas e diferentes, Paul McCartney resolveu trazer uma baladinha bem mais simples chamada "Fixing a Hole". O curioso é que Paul decidiu gravar a faixa fora dos estúdios Abbey Road onde o álbum foi praticamente todo gravado. Outro fato digno de nota é que a canção, tal como havia acontecido com "Lucy in the Sky With Diamonds", também foi alvo de interpretações equivocadas. A letra levou alguns a entenderem que ela se referia a heroína, algo que Paul de pronto negou! Ele disse: "Minha inspiração não foi a heroína, droga que não usava na época. Sempre tive medo de agulhas e a heroína era hardcore demais para mim. Na verdade eu me inspirei em alguns trechos do evangelho de Mateus para criar a canção! Foi algo completamente diferente do que depois chegaram a pensar!".

6. She's Leaving Home (Lennon / McCartney) - Outra gravação extremamente bela em termos de arranjos foi "She's Leaving Home". Já fazia alguns anos que Paul e John realizavam trabalhados próprios, bem autorais, dentro dos discos dos Beatles. Eles nunca mais tinham se sentado juntos para criar em conjunto, como havia acontecido nos primeiros discos dos Beatles. Pois bem, aqui John e Paul voltaram a de fato trabalharem juntos na composição de uma música. Paul escreveu as primeiras linhas e John completou. Isso ficou bem claro inclusive na gravação, com Paul cantando sua parte e John as harmonias que escreveu. O resultado ficou belíssimo. É seguramente um dos momentos mais maravilhosos de todo o disco. Uma legítima composição Lennon e McCartney, com tudo de genial que isso significava.

7. Being for the Benefit of Mr. Kite (Lennon / McCartney) - Outra canção do disco que chamou muito a atenção da crítica e do público foi a estranha (e circense) "Being For The Benefit Of Mr. Kite!". Que loucura era aquela? Na verdade a canção veio da cabeça imaginativa do próprio Lennon. Colecionador de antiguidades o Beatle viu esse cartaz antigo de circo em uma exposição. Ele acabou comprando a peça e a pendurou em sua casa nos arredores de Londres. Quando estava sob pressão para compor novas músicas para o novo álbum dos Beatles,  Lennon simplesmente olhou para o poster e ali viu toda uma letra, todo um universo próprio, com seus artistas, números de circo, enfim, um poster comercial que tinha um belo sabor de nostalgia de um tempo que não existia mais. Com a ajuda do maestro (e quinto beatle) George Martin, Lennon criou uma sonoridade única na discografia dos Beatles. Sons originais, nunca antes usados em discos de grupos de rock, foram adicionados. Um clima de picadeiro, com malabaristas, palhaços, mágicos e tomadores de leões, como bem resumiu Lennon, tomou conta da faixa. Lindamente produzida, cheia de efeitos sonoros, "Being For The Benefit Of Mr. Kite!" demonstrava que a velha reclamação de Lennon, onde afirmava que suas músicas não eram bem trabalhadas em estúdio pelos outros Beatles, simplesmente não tinha razão de ser. Essa faixa, cem por cento Lennon, era a prova de que sua afirmação não se baseava em fatos verdadeiros. É certamente uma das faixas mais trabalhadas e bem produzidas de toda a discografia do grupo.

8. Within You Without You (Harrison) - Outra canção que causou surpresa foi "Within You Without You". Essa era uma criação de George Harrison que parecia bem determinado em trazer para os discos dos Beatles a sonoridade da Índia, terra que o havia fascinado desde que a conheceu alguns meses antes. Por ser tão específica e tão sui generis, com arranjos e instrumentos orientais, John, Ringo e Paul acabaram não participando da gravação. Apenas George e um grupo de músicos indianos tocaram nela. É uma faixa interessante, por seu valor cultural, porém inegavelmente estranha para os nossos ouvidos ocidentais.

9. When I'm Sixty-Four (Lennon / McCartney) - É consenso praticamente geral que o álbum "Sgt. Pepper's Lonely Hearts Club Band" é um dos maiores discos da história do rock mundial. Mesmo assim é interessante notar que o grupo e seu produtor George Martin não estavam necessariamente focados em gravar um álbum convencional do gênero que investisse em arranjos tradicionais baseados no trio de instrumentos formado por guitarras, baixo e bateria. Eles jogaram as regras e as fórmulas para o alto e inovaram completamente na sonoridade do trabalho. De certa maneira os próprios Beatles não queriam mais seguir o que a gravadora achava melhor para o grupo. Aquela velha história de ser "comercialmente viável". Os Beatles não queriam mais saber disso. Pensando assim acabaram criando uma obra prima. Uma das canções que retratam essa ruptura é justamente essa "When I'm Sixty-Four". Mesmo assinada pela dupla Lennon e McCartney a música foi composta praticamente sozinha por Paul. Isso foi reconhecido pelo próprio John. Durante uma entrevista após o fim do grupo ele respondeu quando perguntado sobre essa faixa: "Essa foi completamente composta por Paul. Jamais sonharia em compor algo parecido". E como vinha acontecendo nas composições de McCartney para esse álbum um arranjo orquestral foi criado, tentando trazer de volta a sonoridade dos anos 20 - afinal a letra era nostálgica. George Martin escreveu também um lindo arranjo de clarinete, pois esse instrumento eram um dos mais populares do começo do século XX. Por fim, depois de tanto trabalho dentro do estúdio, se cogitou lançá-la como single, porém essa ideia foi abandonada. Ela apenas faria parte do álbum Sgt. Peppers. Como era uma música de complexa execução ela jamais foi tocada ao vivo pelo grupo, até porque eles tinham também decidido dar por encerrados os concertos na época de gravação desse disco.

10. Lovely Rita (Lennon / McCartney) - Outra música que foi também uma criação exclusiva de Paul McCartney foi "Lovely Rita". De todas as faixas do álbum essa é considerada uma das mais singelas. Em um disco tão revolucionário do ponto de vista musical e em termos de letras, essa canção é surpreendentemente convencional e pueril. A sonoridade é bem simples e sua letra evoca a figura de uma guarda de trânsito chamada Rita! A letra, em primeiro pessoa, narra essa singela estorinha de amor de alguém que acaba se encantando pela policial. Esse tipo de composição, tão tipicamente selada com o rótulo "McCartney", iria virar alvo de Lennon após o fim dos Beatles. John estaria sempre se irritando com essas baladas românticas escritas por Paul. Para John era um retrocesso, uma perda de tempo.

11. Good Morning Good Morning (Lennon / McCartney) - Talvez para fugir desse tipo de banalidade, John Lennon tenha surgido no estúdio com "Good Morning Good Morning". Sob uma fachada também banal, contando com um momento cotidiano na vida de qualquer um (o acordar pela manhã, o café antes de ir para a escola ou o trabalho, etc), John critica o consumismo e a banalização dos comerciais de TV. Seu alvo era certeiro, pois a canção era praticamente uma sátira aos comerciais televisivos da indústria de cereais Kellogg 's, da marca Corn Flakes. Inclusive durante os anos 70 John iria rasgar o verbo contra o que ele chamava de "indústria do açúcar" que viciava as crianças no consumo de produtos com excesso de açúcar, destruindo a saúde de todos lentamente, ao longo dos anos. Com a explosão dos casos de diabetes que vemos hoje em dia, podemos perceber que ele não estava longe da verdade em sua visão. Coisas de John Lennon, enfim.

12. Sgt. Pepper's Lonely Hearts Club Band (Reprise) (Lennon / McCartney) - Para que tudo saísse perfeito Paul McCartney e o produtor George Martin trabalharam muito juntos dentro dos estúdios. A canção  "Sgt. Pepper's Lonely Hearts Club Band" iria aparecer duas vezes no disco. Abrindo o álbum e depois, quase no final, como uma espécie de ligação entre todas as faixas do disco. Essa segunda versão foi chamada por Paul de "Sgt. Pepper's Lonely Hearts Club Band (Reprise)", Era basicamente a mesma música, só que com algumas mudanças sutis na melodia. Paul obviamente queria um arranjo primoroso, com uma grande orquestra por trás de seus vocais. Foi uma gravação extremamente trabalhosa, que levou semanas de gravação árdua dentro do estúdio Abbey Road em Londres.

13. A Day in the Life (Lennon / McCartney) - Durante uma entrevista John Lennon perguntou, com certo cinismo: "Então Sgt Peppers pegou você de surpresa?". Na verdade pegou o mundo musical inteiro de surpresa. A ideia inicial partiu de Paul McCartney. Que tal gravar um novo álbum que não fosse necessariamente dos Beatles, mas de uma banda imaginária chamada Sgt. Pepper's Lonely Hearts Club Band? Claro que era algo fora do comum, ainda mais em se tratando de Beatles e toda a sua fama e sucesso mundial. Uma das canções que fez parte desse álbum conceitual (rótulo aliás renegado pelo próprio Paul) foi "A Day in The Life". Essa é uma criação praticamente toda de Lennon. A letra, dividida em três partes, era obviamente uma referência ao período lisérgico pelo qual John passava na época. Longe de ser banal, a canção era aberta a inúmeras interpretações e algumas delas causaram problemas para os Beatles. Há um trecho da letra que diz: "Agora eles sabem quantos buracos são necessários para encher o Albert Hall". A direção da BBC interpretou aquilo como uma referência ao uso de drogas, os buracos seriam os deixados nos braços dos viciados. Lennon reclamou, mas não houve jeito, a música foi banida da programação da emissora.

The Beatles - Sgt. Pepper's Lonely Hearts Club Band (1967) - John Lennon (guitarra, violão, piano, vocais) / Paul McCartney (baixo, piano, violão, vocais) / George Harrison (guitarra, violão, vocais) / Ringo Starr (bateria, vocais) / Sounds Incorporated (saxofones) / Neil Aspinall (harmônica) / Geoff Emerick (efeitos sonoros) / Mal Evans (piano, efeitos sonoros) / Neill Sanders, James W. Buck, John Burden, Tony Randall (trompas) / Robert Burns, Henry MacKenzie e Frank Reidy (clarinetes) / Arranjos: John Lennon, Paul McCartney, George Harrison, George Martin / Produção: George Martin / Data de gravação: 6 de dezembro de 1966 a 21 de abril de 1967 / Data de Lançamento: 26 de maio de 1967 (Reino Unido) / 2 de junho de 1967 (Estados Unidos) / Melhor posição nas paradas: 1 (Reino Unido) 1 (Estados Unidos).

Pablo Aluísio.

sexta-feira, 29 de dezembro de 2017

The Beatles - Revolver (1966)

"Revolver" é um disco fenomenal. O primeiro trabalho realmente revolucionário do conjunto britânico, o LP abriu portas no mundo da música que nunca mais foram fechadas. Seu resultado foi tão extraordinário na época que nem os próprios Beatles acreditavam que um dia iriam conseguir superá-lo. De repente os quatro rapazes de Liverpool mostravam ao mundo que o Rock não era apenas um gênero musical bobo falando sobre namoricos, corações adolescentes partidos e versinhos de caderno. O rock poderia se transformar em grande arte e seguramente Revolver foi o primeiro grande trabalho da história do Rock a atravessar essa fronteira. Tirando poucos momentos medianos do ponto de vista artístico (como "Yellow Submarine" e "I Want To Tell You") "Revolver" traz uma série incrível de sonoridades diversificadas que se traduzem em canções antológicas. "Taxman", que abre o disco, é uma parceria entre Lennon e Harrison (só creditada ao segundo) que mostra claramente o rompimento do grupo com seu antigo som. Paul McCartney apresenta duas músicas maravilhosas, a melancólica e linda "Eleanor Rigby" e "For No One", que apesar de subestimada é até hoje uma das melodias mais bonitas da carreira dos Beatles (e isso meu amigo não é pouca coisa); O velho Macca ainda nos brinda com a deliciosa "Got to Get You Into My Life", canção cheia de charme e suingue bebendo diretamente da fonte da herança musical negra americana, estilo Motown e cia. Seu legado no disco termina com "Here, There and Everywhere". Canção excepcionalmente bem escrita e arranjada resultando num momento simplesmente irretocável.

Embora McCartney tenha sido genial nesse disco com suas ternas melodias o legado mais revolucionário do álbum pertence mesmo a John Lennon. Desde a primeira faixa Lenniana, "I´m Only Sleeping", com escala musical incomum, John deixa claro que veio para testar os limites do Rock na época. Sua "She Said, She Said" é uma pedrada no formato convencional (e careta) que predominava na música da década de 60. Dr. Robert, por sua vez, é um manifesto com referências ao movimento psicodélico que nascia naquele momento e "Good Day Sunshine", com sua linha saudosista, vinha para satirizar com muito bom humor o comodismo da classe média e seus valores quadrados. Mas foi com "Tomorrow Never Knows" que Lennon realmente chutou o balde. Essa canção pode ser considerada, sem a menor hesitação, como uma das mais influentes do rock mundial moderno. Não existe sequer uma única banda da atualidade que não beba de sua fonte maravilhosamente enlouquecida e sem freios. "Tomorrow Never Knows" até hoje soa extraordinariamente criativa, imaginativa e acima de tudo revolucionária. Não importa qual seja a sua banda favorita e nem a época, de Radiohead a Oasis, nenhum grupo conseguiu sequer chegar aos pés dessa doce alucinação. Não há como duvidar, Lennon realmente era um gênio musical. Revolver retrata o momento em que os Beatles romperam com tudo o que se fazia na época, inclusive com seu próprio modelo, que definitivamente a partir desse momento era deixado para trás. Apenas pela coragem de romper tabus musicais Revolver já teria garantido seu lugar na história da música do século XX, mas o álbum é muito mais do que isso, é uma obra simplesmente indispensável para se entender a arte de nosso tempo.

1. Taxman (Harrison) - Nesse disco George e John trabalharam juntos em algumas faixas. Essa parceria Lennon e Harrison se mostraria mais forte em "Taxman". Anos depois, após o fim dos Beatles, John Lennon iria reclamar publicamente de George Harrison que segundo ele nunca teria dado os créditos merecidos na gravação dessa música. John afirmava que George havia chegado nos estúdios Abbey Road apenas com um esboço muito primário do que seria Taxman. Assim ele e George passariam horas lapidando a música, com John Lennon fazendo grande parte dos arranjos. Curiosamente a dobradinha "Harrison / Lennon" também não apareceu na contracapa do álbum, sendo a canção creditada apenas a George Harrison. Na época John Lennon pareceu não ligar muito para isso, mas depois, já nos anos 70, reclamou da falta de consideração de seu colega de banda.

2. Eleanor Rigby (Lennon / McCartney) - Paul McCartney compôs "Eleanor Rigby" durante as filmagens de "Help!". Ele inclusive quase escolheu a música para fazer parte da trilha sonora do filme, mas pensou melhor e resolveu trabalhar ainda mais nela, antes de a levá-la para o estúdio. Assim que George Martin a ouviu pela primeira vez percebeu que ali havia uma faixa clássica que não se enquadraria com os instrumentos de um grupo de rock. Era algo completamente novo para um disco dos Beatles. Era necessário escrever um arranjo mais erudito, usando um quarteto de cordas, de preferência. Paul aceitou imediatamente as sugestões. Assim os instrumentos básicos dos Beatles foram deixados de lado. Um grupo de músicos foi contratado e Paul e Martin começaram a lapidar a canção em Abbey Road. Para se ter uma ideia, Ringo Starr nem sequer participou da gravação da música. John e George só colaboraram fazendo os vocais de apoio. Embora John tenha creditada a canção como uma de suas criações, o fato é que sua participação na criação da música foi praticamente nula. Paul esclareceria anos depois que John havia escrito apenas uma linha da letra e feito o backing vocal, nada muito além disso. Aliás nenhum dos Beatles tocou na faixa, sendo tudo providenciado mesmo pelo gênio George Martin. A letra, composta quase que exclusivamente por Paul falava sobre solidão. Essa é certamente uma das letras mais cinematográficas dos Beatles pois em essência narra o enterro de Eleanor Rigby, uma pessoa solitária, em cujo funeral ninguém compareceu a não ser o Padre McKenzie para fazer as orações finais. Durante anos Paul disse que a personagem Eleanor Rigby era ficcional, tanto que antes de escolher esse nome outros foram usados na composição como Miss Daisy Hawkins. A sonoridade desse nome porém não agradou Paul completamente, tanto que depois finalmente encontrou o que procurava em "Eleanor Rigby". A explicação soava até bem plausível, isso até historiadores dos Beatles encontrarem uma lápide real no cemitério de Liverpool com o nome de Eleanor Rigby, cuja data de falecimento constava como o de 1939. Eleanor Rigby assim era o nome real de uma pessoa real, que viveu e morreu em Liverpool bem no começo da II Guerra Mundial. Informado sobre a descoberta, Paul se disse completamente surpreso! Quem sabe seu nome ficou em seu subconsciente, pois Paul costumava frequentar o local quando era mais jovem. Mais um mistério na história desse verdadeiro clássico da carreira dos Beatles.

3. I'm Only Sleeping (Lennon / McCartney) - E a última grande criação de John Lennon para "Revolver" foi "I'm Only Sleeping". Durante anos se especulou que John novamente fazia referências ao uso de drogas na letra dessa canção. Ele porém rechaçou essa interpretação. John dizia que era a pessoa mais preguiçosa do mundo, que amava ficar em sua cama durante o dia inteiro, sem fazer nada. A letra era assim a mais direta possível, uma declaração de um preguiçoso sobre a arte de não fazer absolutamente nada, de ficar apenas dormindo o dia inteiro. Aliás o próprio John admitira esse aspecto de sua personalidade várias vezes ao longo da vida em entrevistas. Certa vez ele declarou: "Os Beatles só voltavam a se reunir em estúdio por insistência de Paul. Ele me ligava e dizia que tínhamos que gravar um novo disco, ao qual eu respondia que não queria, que estava com preguiça. Então Paul ficava ligando por uma ou duas semanas, insistindo, até eu finalmente sair da cama para trabalhar!"

4. Love You To  (Harrison) - Outra surpresa em termos de arranjo do "Revolver" veio com a gravação de  "Love You To". Que George Harrison estava completamente imerso na religião hindu, todos já sabiam. De todos os Beatles ele foi aquele que mais caiu de cabeça dentro da cultura oriental, quando o grupo foi até a Índia atrás dos ensinamentos de um guru indiano, o Maharishi Mahesh Yogi. O que ninguém esperava era que George iria trazer o som da Índia para dentro dos discos dos Beatles. No começo houve uma certa resistência de Paul em colocar a música dentro do álbum. Era estranha demais para os ouvidos dos ocidentais, dos fãs dos Beatles. Depois cansado das brigas com Harrison, finalmente cedeu. A música serve de certa maneira como uma forma de enriquecimento cultural maior dos trabalhos dos Beatles, mas Paul tinha razão em dizer que ela não deveria ter entrado no disco. Teria sido bem melhor que George Harrison a tivesse lançado em um single solo, até mesmo porque ele foi o único Beatle a participar da gravação. Todos os demais, por questões óbvias, ficaram de fora. Ninguém sabia tocar aqueles estranhos instrumentos musicais indianos.

5. Here, There and Everywhere (Lennon / McCartney) - Bom, o que não poderia faltar em um bom disco dos Beatles nos anos 60 era uma bela e romântica balada. Invariavelmente essas lindas canções de amor eram compostas por Paul McCartney. Aqui não houve exceção. "Here, There and Everywhere" fazia jus a esse legado. Uma das melodias mais bonitas compostas por Paul. Ele a criou em homenagem à sua namorada na época, a ruivinha Jane Asher. Todos os Beatles acreditavam que Paul um dia iria se casar com Jane. Eles estavam juntos há muito tempo e ela foi a fonte de inspiração de algumas das melhores músicas de amor de Paul. John vivia provocando Paul, querendo saber quando seria o dia do casamento pois ele estava cansado de ser o único Beatle casado! Curiosamente Jane e Paul romperiam alguns anos depois. "Uma surpresa e tanto, pensei que eles iriam se casar!" - resumiria depois John em uma entrevista. Pelo menos as ótimas canções românticas que embalaram esse romance sobreviveram ao tempo.

6. Yellow Submarine (Lennon / McCartney) - Até hoje ninguém sabe ao certo quem teve a ideia de compor uma música psicodélica chamada "Yellow Submarine". Pelo tema de fantasia poderíamos dizer que foi Paul, mas as contribuições de John Lennon também não foram poucas. O que se sabe com certeza é que todo álbum dos Beatles, desde o primeiro, tinha que trazer uma música mais simples para ser cantada pelo baterista Ringo Starr. O próprio John explicaria isso ao dizer: "Eu e Paul sempre fazíamos alguma música para Ringo cantar. Ele não era o melhor cantor do mundo, então as músicas dadas a ele eram as mais simples!". Bom, olhando para o resultado final podemos dizer que esse nem foi bem o caso da música. "Yellow Submarine" foi intensamente trabalhada por Paul, John e George Martin dentro dos estúdios. Tudo para criar aquela sonoridade única que ouvimos, algo parecido com um desenho animado segundo a opinião de Paul. O curioso é que de fato ela iria virar uma animação futuramente, mas na época em que foi gravada ninguém realmente pensava que isso iria acontecer. Era apenas mais uma faixa do "Revolver" que fugia completamente dos padrões do que os Beatles tinham gravado antes.

7. She Said She Said (Lennon / McCartney) - Para o álbum "Revolver" John Lennon parecia estar mesmo muito inspirado. Tanto que ele iria trazer outra "pauleira" para ser gravada. A música se chamava apenas "She Said She Said". Ao contrário de "Tomorrow Never Knows" essa já estava praticamente feita quando John a apresentou aos demais membros da banda. Ele havia gravado uma fita demo e tudo já estava ali, sem precisar trabalhar muito nela. Mais uma vez a presença do produtor George Martin se mostrou vital. Ele sugeriu a John que aumentasse a distorção das guitarras, já que ele queria um rock bem ao velho estilo. O resultado saiu melhor do que o esperado. A composição surgiu de uma conversa entre John e Peter Fonda. A inspiração obviamente veio do LSD, o ácido lisérgico, que ia se tornando cada vez mais popular. John e Paul não se deram muito bem durante as gravações. Eles discordaram muito sobre como a música deveria ser gravada. Paul queria mais melodia, enquanto John queria um som bem mais cru. Como não chegaram a um acordo satisfatório, Paul resolveu abandonar sua participação na música. John então pediu a George Harrison que tocasse o baixo. Isso demonstrava que o stress e as brigas entre John e Paul já vinha de algum tempo. Algo que iria destruir o grupo em alguns anos.

8. Good Day Sunshine (Lennon / McCartney) - "Good Day Sunshine" era outra boa composição de John Lennon. Aliás se formos analisar bem veremos que o último álbum de grande colaboração de John na seleção musical havia sido mesmo o "Revolver". Depois dele o próprio John admitia que havia entrado numa fase de pasmaceira criativa, onde ele geralmente chegava sem canções finalizadas dentro do estúdio, precisando da ajuda dos demais Beatles para completar aquelas ideias inacabadas, muitas vezes sendo apenas trechos e esboços de músicas, tudo sem arte final. A letra, composta ao piano, parecia em uma primeira audição bem bobinha. John porém queria criticar exatamente a chatice da vida das pessoas, todas embaladas por sonhos de consumo medíocres, como se fossem grande coisa.

9. And Your Bird Can Sing (Lennon / McCartney) - "And Your Bird Can Sing" também fugia do lugar comum. Aqui John Lennon quis dar uma espécie de resposta para a faixa anterior de Paul, também com um arranjo diferente. Porém ao contrário de Paul, John não quis deixar as guitarras debaixo da cama. Ao contrário disso as deixou em primeiro plano, em excelentes solos que iam se revezando ao longo de toda a faixa. Curiosamente o principal parceiro de John na elaboração dessa música dentro do estúdio não foi Paul McCartney, mas sim George Harrison. Afinal ambos eram os guitarristas da banda, então era natural que eles se sentassem para escrever juntos as linhas de melodia que iriam usar. Apesar disso, da intensa colaboração de Harrison, a música acabou sendo creditada, mais uma vez, como uma criação de Lennon e McCartney, apesar da participação de Paul ter sido mínima.

10. For No One (Lennon / McCartney) - Paul também foi o criador de outro momento sublime do álbum. A música se chamava "For No One". Assim como aconteceu com "Eleanor Rigby", Paul e o produtor e maestro George Martin sentaram para discutir como seria gravada essa linda balada. Usar os instrumentos básicos dos Beatles (guitarras, baixo e bateria) parecia soar banal demais para Paul McCartney. Ele queria algo mais erudito, mais clássico. Assim Paul dispensou as participações de John Lennon e George Harrison. Ao invés deles Paul trouxe para o estúdio o músico Alan Civil. Dos demais Beatles apenas Ringo compareceu fazendo uma percussão bem mais sutil. A letra foi mais uma vez inspirada no relacionamento de Paul com Jane Asher. Paul descrevia pequenos detalhes que revelavam como o namoro entre eles estava chegando ao fim. Uma grande composição de Paul McCartney, sem dúvida.

11. Doctor Robert (Lennon / McCartney) - É a tal coisa, se tivesse que escolher o melhor rock do álbum "Revolver" certamente apontaria para a canção "Doctor Robert". Essa canção, como diria John Lennon anos depois, tinha realmente um grande pulso, uma grande pegada! A letra foi composta por John durante a excursão americana dos Beatles. A letra era meio enigmática, porém a ligação com as drogas que os Beatles estavam consumindo na época era bastante óbvia! E afinal quem era o tal Doutor Robert citado na letra? John costumava dizer que era ele mesmo, assim apelidado pelos demais Beatles por estar sempre com todas as pílulas na mão! Se algum membro da banda quisesse tomar alguma droga, já sabia, deveria procurar por Doutor Robert, ou seja, Lennon, que guardava as drogas com ele. Ele costumava andar com uma pequena maletinha onde guardava as substância químicas ilegais. Outros porém dizem que Lennon quis preservar a identidade do verdadeiro Dr. Robert, que seria na verdade o médico Robert Freymann, que vendia prescrições médicas falsas para os figurões do mundo da música em Londres. Era uma espécie de traficante travestido de médico!

12. I Want to Tell You (Harrison) - Por falar em George Harrison ele também trouxe suas próprias composições para o disco. Uma delas foi "I Want to Tell You". Nessa todos os Beatles estavam presentes. No começo Paul não gostou muito da melodia e disse a George que era necessário trabalhar mais na música antes de gravá-la. Era precisa escrever mais algumas linhas de melodia, acrescentar mais notas musicais, mas Harrison recusou a ajuda de Paul. No final a música foi gravada do jeito que George queria, embora ao ouvi-la se chegue na conclusão de que Paul McCartney realmente tinha razão. A música parece não ir para lugar nenhum, exagerando no uso e abuso do refrão, algo que no final das contas se torna até mesmo cansativo.

13. Got to Get You into My Life (Lennon / McCartney) - O álbum "Revolver" foi de fato o primeiro a romper completamente com aquela sonoridade dos primeiros discos dos Beatles. Não havia mais necessidade de seguir uma determinada fórmula comercial à risca. Ao contrário disso eles queriam mesmo arriscar, sondar novos territórios musicais. Em "Got to Get You into My Life" Paul quis recriar o som da gravadora negra Motown, Por isso pediu a George Martin que ele providenciasse um arranjo com muitos metais. Praticamente foi dispensada a formação clássica de instrumentos dos Beatles. Guitarras e baixo foram colocados em segundo plano. O destaque ficou concentrado mesmo apenas naquele tipo de som que ficaria muito adequado em um lançamento da gravadora de Detroit.

14. Tomorrow Never Knows (Lennon / McCartney) - A obra prima de John Lennon em "Revolver" foi justamente essa estranha (para a época)  "Tomorrow Never Knows". Para muitos especialistas em rock essa canção foi o verdadeiro marco zero no que viria a ser depois chamado de Rock Psicodélico. Quando John entrou em Abbey Road pela primeira vez com o esboço da letra dessa música ele não tinha exatamente ideia do que ela iria se transformar. Ao lado do maestro e produtor George Martin ele passou dias, horas e mais horas de estúdio, tentando reproduzir o tipo de sonoridade que ele procurava. John queria que George Martin recriasse o som que ele definia como a de uma fita de gravação sendo rebobinada. Algo inédito na época. Depois de muitas tentativas e erros finalmente a gravação foi finalizada, se tornando a primeira grande experimentação musical dos Beatles em sua discografia. Não havia mais limites a respeitar em termos de criatividade dentro dos estúdios.

The Beatles - Revolver (1966) - John Lennon (vocais, guitarra, violão e piano) / Paul McCartney (baixo, violão, piano e bateria) / George Harrison (vocais, violão, guitarra) / George Harrison (vocais, guitarra, violão) / Ringo Starr (vocais, bateria) / Jurgen Hess (violino) / Tony Gilbert (violino) / Sidney Sax (violino) / John Sharpe (violino) / Stephen Shingles (viola) / John Underwood  (viola) / Derrick Simpson (Cello) / Norman Jones (Cello) / George Martin (Órgão, piano, backing vocals) / Geoff Emerick (backing vocals) / Mal Evans (backing vocals, bumbo) / Neil Aspinall (backing vocals) / Brian Jones (backing vocals, efeitos sonoros) / Marianne Faithful (backing vocals) / Alan Civil (Trompa) / Peter Coe (Sax Tenor) / Eddie "Tan Tan" Thornton (trompete) / Alan Branscombe (Sax Tenor) / Les Conlon (Trompete) / Ian Hammer (Trompete) / Data de gravação: 6 de Abril a 21 de junho de 1966 / Local de gravação: Abbey Road Studios, Londres / Data de Lançamento: 5 de agosto de 1966 / Produção: George Martin.  

Pablo Aluísio.