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segunda-feira, 11 de março de 2024

Sede de Viver

Esse é outro filme que considero essencial para se conhecer melhor o talento do ator Kirk Douglas. Ele deixou os filmes de faroeste, os grandes épicos, as aventuras submarinas de lado, para atuar em um projeto bem artístico, com um roteiro muito humano. O tema do filme era a vida do pintor Vincent van Gogh (1853 - 1890). Filho de um austero pastor protestante, ele sonhava seguir os passos do pai, mas acabava sendo rejeitado por sua congregação. O motivo? Ele não tinha aptidão para a oratória e a pregação nos cultos. Com isso seus sonhos acabaram ficando pelo meio do caminho. Porém o que lhe faltava como orador certamente lhe sobrava como pintor de quadros. Depois da rejeição, ele decidiu então se dedicar ao mundo da pintura. Era um velho sonho esse de se tornar artista, de viver de sua arte. Trabalhando freneticamente, almejava se tornar um sucesso no mundo das artes, mas só conseguiu em vida ser completamente ignorado. Seu irmão Theo, um comerciante de quadros em Paris, até se esforçou para vender suas pinturas, mas o sucesso definitivamente não parecia sorrir na vida de Van Gogh. Alguns grandes nomes da arte só conseguem mesmo o reconhecimento após a morte. Infelizmente para Van Gogh foi esse o caso.

Considerei um filme bem comovente. É bastante louvável que Hollywood tenha produzido algo assim, mostrando um dos maiores gênios da pintura de todos os tempos de uma forma respeitosa, mas também realista. O Vincent van Gogh que surge na tela é um homem que não consegue acertar na vida. Tenta ser pastor protestante, mas sua visão de mundo, de abraçar os mais pobres e humildes, o faz fracassar dentro de sua missão luterana. Seus superiores não querem esse tipo de atitude de abnegação. Depois sonha em se tornar um pintor, trabalha incansavelmente, mas novamente não consegue grande êxito (comercial, é bom frisar). Seus quadros não vendem nada e ele acaba sendo sustentado pelo irmão, um grande sujeito. A falta de um caminho de sucesso acaba destruindo a alma do grande artista. Atacado por uma crise nervosa, vai parar em um manicômio onde dá continuidade às suas crises existenciais. É um grande trabalho da carreira de Kirk Douglas que se entregou de corpo e alma ao papel. Poucas vezes vi o ator em uma interpretação tão intensa como essa. Kirk incorpora Van Gogh de uma forma sobrenatural. Podemos perceber facilmente seu apego ao papel. Foi uma atuação de coração mesmo, do fundo de sua alma. Ele foi indicado ao Oscar de melhor ator, mas por uma dessas injustiças da Academia não foi premiado. 

Anthony Quinn foi mais feliz e levantou a estatueta de Melhor Ator Coadjuvante. Ele interpretou o pintor Paul Gauguin, que era um dos únicos amigos que Van Gogh tinha no mundo das artes. Sua atuação quebrou um estigma na época, pois Quinn era visto como um grandalhão, um gigante amigo, mas não um excepcional ator de cinema. Depois que ganhou o Oscar ganhou o respeito dos críticos em geral. O personagem que interpretou era muito rico, um verdadeiro presente para qualquer ator. Sua amizade mercurial com Van Gogh arranca faíscas em cena. Outro ponto digno de elogios foi a preocupação dos produtores em mostrar os mais famosos quadros do pintor em momentos cruciais da trama, fundindo vida e arte de forma muito adequada e conveniente. Por uma ironia do destino Van Gogh morreu pobre e esquecido, mas hoje em dia seus quadros estão entre os mais valiosos do mundo das artes. Valem milhões! Um artista que mal conseguiu vender um quadro em vida, hoje é considerado um gênio absoluto dos pincéis. Sua arte foi valorizada, tardiamente, temos que reconhecer, mas pelo menos seu talento foi devidamente reconhecido. Esse filme mostra sua história, tudo realizado com grande qualidade. É um grande clássico sem final feliz, pelo menos sob o ponto de vista da existência desse ser humano que foi um artista genial.

Sede de Viver (Lust for Life,  Estados Unidos, 1956) Estúdio: Metro-Goldwyn-Mayer (MGM) / Direção: Vincente Minnelli, George Cukor (não creditado) / Roteiro: Norman Corwin, baseado no livro de Irving Stone / Elenco: Kirk Douglas, Anthony Quinn, James Donald, Pamela Brown / Sinopse: O filme conta a história real e trágica da vida do pintor Vincent Van Gogh. Suas lutas, seus fracassos e suas desilusões. Filme vencedor do Oscar na categoria de Melhor ator coadjuvante (Anthony Quinn). Também indicado nas categorias de Melhor Ator (Kirk Douglas), Melhor Roteiro Adaptado (Norman Corwin) e Melhor Direção de Arte (Cedric Gibbons e Hans Peters). Filme vencedor do Globo de Ouro na categoria de Melhor Ator (Kirk Douglas). Também indicado na categoria de Melhor Filme - Drama.

Pablo Aluísio.

terça-feira, 5 de março de 2024

Buffalo Bill

Título no Brasil: Buffalo Bill
Título Original: Buffalo Bill
Ano de Lançamento: 1944
País: Estados Unidos
Estúdio: Twentieth Century Fox
Direção: William A. Wellman
Roteiro: Eneas MacKenzie, Clements Ripley
Elenco: Joel McCrea, Maureen O'Hara, Anthony Quinn

Sinopse:
A história de William "Buffalo Bill" Cody (Joel McCrea), lendário nome da mitologia do western dos Estados Unidos, desde seus dias como batedor do exército até suas atividades posteriores como proprietário de um show do Velho Oeste.

Comentários:
O melhor filme sobre Buffalo Bill foi feito na década de 1970 com Paul Newman no papel principal. Aquele sim é um filme historicamente correto sobre essa figura do velho oeste norte-americano. Esse filme aqui vai por outro caminho, tornando como fato certas lorotas que o próprio Bill contava sobre si mesmo. O que não quer dizer que seja um filme ruim, nada disso, apenas tem essa perspectiva diferenciada. O elenco é muito bom, mas devo dizer que Joel McCrea não era o ator certo para interpretar Buffalo Bill. Era um ator sério demais para esse papel. O verdadeiro Buffalo Bill era meio bufão, um tipo mais circense mesmo. Melhor se sai o sempre bom Anthony Quinn, com sua presença sempre forte e carismática. Então é isso, deixo o registro desse faroeste B que tentou contar a história de William "Buffalo Bill" Cody, mesmo de uma forma bem romanceada e estigmatizada. 

Pablo Aluísio.

terça-feira, 13 de fevereiro de 2024

Inferno nos Trópicos

Título no Brasil: Inferno nos Trópicos
Título Original: Tycoon
Ano de Lançamento: 1947
País: Estados Unidos
Estúdio: RKO Radio Pictures
Direção: Richard Wallace
Roteiro: Borden Chase, John Twist
Elenco: John Wayne, Anthony Quinn, Laraine Day, Cedric Hardwicke, Judith Anderson, James Gleason

Sinopse:
O engenheiro Johnny Munroe (John Wayne) é contratado para construir um túnel ferroviário através de uma montanha localizada na América do Sul. O desafio é criar uma estrada para chegar às minas da região. Sua tarefa fica complicada e sua ética fica comprometida quando ele acaba se apaixonando pela filha de seu chefe nesse projeto ousado e desafiador. 

Comentários:
A RKO estava em dificuldades financeiras, por isso voltou a contratar John Wayne para estrelar essa aventura passada na América do Sul. O próprio ator aceitou o convite de bom grado pois tinha uma dívida de gratidão com a RKO desde o começo de sua carreira. O filme é interessante, bem produzido e com roteiro um pouco irregular pois apresenta elementos que no meu ponto de vista seriam desnecessários nesse tipo de história. Eu considerei a parte romântica do filme um pouco valorizada acima do que era esperado. Alguém que ia atrás de um filme de aventuras com John Wayne não estava necessariamente esperando uma atuação de galã romântico por parte dele. Aliás ele nunca funcionou direito nesse tipo de papel. Talvez por essa razão o filme não tenha sido bem sucedido nas bilheterias de cinema na época de seu lançamento. Como foi uma produção muito cara, acabou trazendo prejuízo para a já problemática vida financeira da RKO que algum tempo depois iria acabar indo á falência, fechando suas portas definitivamente. 

Pablo Aluísio.

terça-feira, 8 de novembro de 2022

Seminole

Rock Hudson não fez muitos filmes de western ao longo de sua carreira. Se formos analisar bem sua filmografia logo perceberemos que ele sempre foi um ator de dramas e depois de comédias românticas, como os grandes sucessos de bilheteria que filmou ao lado da atriz e cantora Doris Day. Isso porém não significa que não foi para o velho oeste nas telas. Claro que fez filmes no estilo, ainda mais na época em que os filmes de faroeste eram extremamente populares. Aqui ele volta à boa forma. Na trama um tenente do exército americano chamado Lance Caldwelll (Rock Hudson) chega em distante forte militar situado nos pântanos da Flórida. Sua guarnição tem a missão de pacificar o local, destruindo e capturando um bando de índios renegados da tribo Seminole liderados pelo rebelde chefe conhecido como Osceola (Anthony Quinn).

O argumento do filme é baseado em fatos reais. A tribo Seminole realmente lutou contra o exército americano na Flórida. O grande chefe Osceola também é um personagem real. Já o tenente Lance Cadwell (Rock Hudson) é totalmente fictício. O desfecho do filme também não condiz com a realidade dos fatos. O chefe Osceola não morreu conforme vemos na tela. Apesar disso e do fato de existir outros erros históricos no roteiro, não há como negar que "Seminole" é um western muito bom. Seus méritos surgem logo no começo do filme com uma curiosa inversão de valores - algo realmente raro na década de 1950. Aqui os índios não são vilões carniceiros e nem os soldados americanos são heróis virtuosos. Pelo contrário, o que vemos no roteiro é uma civilização tentando manter seus hábitos e costumes, seu estilo de vida, em vista da invasão do homem branco. Já era um sinal de mudança dos filmes retratando esse período histórico dos Estados Unidos. A mentalidade começava a mudar, mesmo que aos poucos.

Outra questão importante: o mais alto oficial americano na estória é simplesmente um sujeito antipático, que toma as decisões erradas. Em um grande trabalho de caracterização, o ator Richard Carlson compõe um major totalmente fora de controle, megalomaníaco e até mesmo psicótico em certos momentos. Assistindo ao filme, vendo as tropas atoladas no pântano da Flórida, me lembrei daquela frase que diz: "Não existe situação mais grave do que a de ser comandado por um idiota". É isso o que vemos aqui - uma tropa liderada por um completo inepto. Outro aspecto curioso do filme é o fato dele se passar na Flórida, no meio pantanoso, bem diferente dos faroestes que estamos acostumados a assistir, em longas planícies do deserto no oeste selvagem. Enfim, gostei bastante de "Seminole", um filme com pequenos erros históricos certamente, mas socialmente muito consciente. Um parente distante de produções como "Dança com Lobos" onde a questão do nativo americano foi tratada com respeito e seriedade.

Seminole (Seminole, Estados Unidos, 1953) Direção: Budd Boetticher / Roteiro: Charles K. Peck Jr. / Elenco: Rock Hudson, Anthony Quinn, Richard Carlson, Barbara Hale / Sinopse: Um tenente do exército americano é enviado para um forte localizado na Flórida. A região é constantemente fonte de tensão pois os nativos americanos não aceitam a presença do homem branco em suas terras ancestrais.

Pablo Aluísio.

terça-feira, 24 de maio de 2022

A Bela e o Renegado

Título no Brasil: A Bela e o Renegado
Título Original: Ride, Vaquero!
Ano de Produção: 1953
País: Estados Unidos
Estúdio: Metro-Goldwyn-Mayer (MGM)
Direção: John Farrow
Roteiro: Frank Fenton
Elenco: Robert Taylor, Ava Gardner, Anthony Quinn, Howard Keel, Kurt Kasznar, Ted de Corsia

Sinopse:
José Constantino Esqueda (Anthony Quinn) é um bandoleiro e fora da lei mexicano que deseja dominar toda a região da fronteira entre Estados Unidos e México. Para isso ele começa a expulsar todos os colonos de suas terras, entre eles Rio (Robert Taylor) e Cordelia Cameron (Ava Gardner). Suas intenções de intimidar e perseguir porém serão combatidas pelo corajoso Rio que não aceitará as imposições covardes de Esqueda para com toda aquela gente.

Comentários:
Bom faroeste da MGM que contou com um elenco acima da média. O enredo se trava na luta entre os personagens de Esqueda (Anthony Quinn) e Rio (Robert Taylor). Rio é americano e Esqueda mexicano. Ambos foram criados juntos pela mãe de Esqueda que considerava Rio como seu verdadeiro filho. Quando se tornam adultos Esqueda vira um sujeito violento, rude e cruel, que ambicioso começa a perseguir os pobres colonos da fronteira. Rio não admite esse tipo de comportamento criminoso e não demora para que os irmãos de criação se tornem inimigos jurados de morte! Como já foi dito o maior mérito desse filme é o ótimo elenco que reuniu. Robert Taylor era o galã preferido da MGM na época, tendo brilhado no épico "Quo Vadis", seu filme anterior. Estava na crista da onda, desfrutando de grande popularidade. Como vilão Anthony Quinn novamente surpreende. Ele sabia interpretar sujeitos indigestos como ninguém! E como brinde final o espectador era ainda presenteado com a linda Ava Gardner, em um papel menor, é verdade, mas mesmo assim marcante. Todo filmado no deserto implacável do estado de Utah, "Ride, Vaquero!" é uma bela sugestão para os admiradores do mais americano de todos os gêneros cinematográficos. Não vá perder!

Pablo Aluísio.

quinta-feira, 17 de março de 2022

A Salamandra

Título no Brasil: A Salamandra
Título Original: The Salamander
Ano de Produção: 1981
País: Inglaterra, Itália
Estúdio: Opera Films
Direção: Peter Zinner
Roteiro: Robert Katz, Rod Serling
Elenco: Anthony Quinn, Christopher Lee, Franco Nero, Eli Wallach, Claudia Cardinale, Martin Balsam

Sinopse:
Um policial italiano investiga uma série de assassinatos envolvendo pessoas em posições de destaque. Um desenho de uma salamandra sempre é deixado para trás em cada cena do crime. O policial começa a suspeitar que esses assassinatos estão ligados a um complô fascista para tomar o controle do governo.

Comentários:
Filme bem interessante e com elenco internacional onde astros do cinema vindos da Itália, Inglaterra e Estados Unidos unem forças para fazer a produção funcionar. Talvez o maior problema do filme seja justamente condensar e resumir a trama complexa do livro original de Morris West que deu origem ao roteiro. Um filme apenas não daria conta disso. Seria melhor adotar um formato de série ou minissérie. De qualquer forma o filme mesmo falhando na adaptação da literatura ainda consegue ser um bom programa. Além disso nunca é demais apreciar a beleza da atriz Claudia Cardinale, ainda encantando na tela. Já Anthony Quinn segue com seu tipo habitual, explosivo, impulsivo, pura emoção. Enfim temos aqui um filme de ação e conspirações políticas que merece uma revisão e uma reavaliação nos dias atuais.

Pablo Aluísio. 

terça-feira, 18 de janeiro de 2022

O Magnata Grego

Título no Brasil: O Magnata Grego
Título Original: The Greek Tycoon
Ano de Produção: 1978
País: Estados Unidos
Estúdio: Universal Pictures
Direção: J. Lee Thompson
Roteiro: Nico Mastorakis, Win Wells
Elenco: Anthony Quinn, Jacqueline Bisset, Raf Vallone, Edward Albert, James Franciscus, Camilla Sparv

Sinopse:
Theo Tomasis (Anthony Quinn) é um magnata grego, um bilionário, que resolve se envolver romanticamente com a americana Liz Cassidy (Jacqueline Bisset), criando assim vários problemas pessoais em sua vida, principalmente com seus familiares.

Comentários:
Chega a ser bem óbvio o fato de que esse filme é na verdade uma cinebiografia do magnata Aristotelis Onassis. Os produtores e o estúdio, temendo processos milionários, decidiram então colocar outros nomes nos personagens principais, porém fica claro desde o começo de quem se trata. E o roteiro foca bastante no romance escandaloso envolvendo o magnata grego e a ex-primeira-dama dos Estados Unidos Jacqueline Kennedy. Para decepção do povo americano ela se envolveu com essa figura excêntrica após a morte do marido, o presidente JFK. E esse romance, diria até bizarro, iria encher por anos e anos as páginas das revistas de fofocas por todo o mundo. Anthony Quinn surge muito à vontade no papel principal. Ele adorava esse tipo de personagem, onde ele colocava muito de si mesmo na interpretação. De certa maneira ele era o próprio magnata grego, com todos os seus maneirismos e cacoetes. Enfim, um filme interessante, mas que hoje em dia pode não se conectar mais tão bem com as novas gerações. Tudo vai soar bem datado e exagerado para os mais jovens.

Pablo Aluísio.

quinta-feira, 20 de maio de 2021

Jesus de Nazaré

Franco Zeffirelli nunca foi um diretor de moderação. Ao contrário disso ele sempre foi um cineasta que ia ao limite. Assim quando foi contratado para dirigir uma versão da história de Jesus Cristo para as telas, não quis saber de economias. Ele queria mesmo, como afirmou em entrevistas na época, dirigir o filme definitivo sobre a história de Jesus. Para tanto contou com um orçamento milionário, uma produção envolvendo produtores britânicos e italianos e um elenco numeroso e fenomenal, com vários astros do cinema em papéis coadjuvantes. Muito dinheiro foi investido e o primeiro corte do diretor resultou em um filme com mais de quatro horas de duração. Inviável lançar algo tão longo nos cinemas da época.

Diante disso o estúdio decidiu fazer duas versões do filme. Uma editada com pouco mais de 2 horas de duração para o cinema e uma versão bem longa que seria exibida na TV em formato de minissérie. Franco Zeffirelli não gostou muito, entretanto ele não tinha mais controle sobre sua própria criação. O resultado é um filme muito bom, com ótimas cenas e uma fidelidade tão grande com a imagem do Jesus das pinturas e quadros da renascença que o ator escolhido para viver Jesus era uma réplica fiel daquele Jesus mais conhecido, com olhos azuis e nariz alongado, algo que é discutido por historiadores de maneira em geral. De qualquer forma essa é uma questão secundária, pois "Jesus de Nazaré" segue sendo um dos filmes mais amados por cristãos de todo o mundo. Sinal de que o trabalho foi realmente extremamente bem feito.

Jesus de Nazaré (Jesus of Nazareth, Inglaterra, Itália, 1977) Direção: Franco Zeffirelli / Roteiro: Franco Zeffirelli, Anthony Burgess, Suso Cecchi D'Amico, baseados nos evangelhos do novo testamento / Elenco: Robert Powell, Olivia Hussey, Laurence Olivier, Ernest Borgnine, Claudia Cardinale, James Earl Jones, James Mason, Donald Pleasence, Christopher Plummer, Anthony Quinn, Rod Steiger, Peter Ustinov, Michael York / Sinopse: O filme conta a história de Jesus, judeu nascido na Galiléia que passou a difundir uma mensagem de paz e amor entre os homens durante o século I.

Pablo Aluísio.

quarta-feira, 28 de abril de 2021

O Leão do Deserto

Filme que apresenta em seu elenco um formidável grupo de atores de excepcional talento dramático. Vários deles com sólida formação teatral em Shakespeare, como por exemplo, John Gielgud. Curiosamente o astro principal Anthony Quinn seria o menos qualificado em termos de currículo e formação em arte dramática nesse sentido. Ele sempre foi um ator de cinema e não de teatro. Sua escola, sendo realista, foram os filmes e não uma série de peças teatrais de literatura clássica. Porém dentro do contexto de seu personagem dentro desse filme, até que está bem adequado, pois ele interpreta um líder tribal chamado Omar Mukhtar, um homem que resiste no campo de batalha ao domínio do imperialismo italiano, representado na figura do líder fascista Benito Mussolini. Homem rude, violento, forjado na guerra contra os colonizadores europeus.

A história do filme se desenvolve nas areias escaldantes do deserto da Líbia, naquela ocasião histórica (estamos nos referindo ao ano de 1929) sendo dominada pelos imperialistas da Itália. É a velha política de colonização de nações africanas por países europeus. A velha luta entre metropóle e colônia, que tantos males, mortes e destruição trouxeram à história da humanidade. O filme, como não poderia deixar de ser, foi todo rodado no deserto do Norte da África, uma região inóspita. Por isso a equipe de filmagem encontrou todos os tipos de problemas para terminar o filme. O resultado ficou muito bom no meu ponto de vista. Não pode ser considerado um filme à altura de grandes épicos do passado nesse estilo como "Lawrence da Arábia", mas certamente estava acima da média das produções realizadas no começo da década de 1980.

O Leão do Deserto (Lion of the Desert, Estados Unidos, 1980) Direção: Moustapha Akkad / Roteiro: David Butler, H.A.L. Craig / Elenco: Anthony Quinn, Oliver Reed, Rod Steiger, John Gielgud / Sinopse: A história do filme se passa em 1929, no norte da África, na região que hoje é conhecida como Líbia. Nesse posto colonial da Itália fascista de Mussolini, um novo general é designado para conter uma série de rebeliões do povo local liderado pelo líder rebelde tribal Omar Mukhtar (Quinn).

Pablo Aluísio.

terça-feira, 23 de março de 2021

Sangue Sobre a Neve

Um filme clássico com temática bem diferente, diria até que extremamente exótico. Assim poderia definir esse "Sangue Sobre a Neve". Qual é a história contada no filme? Em uma parte do mundo gelado, no Ártico, vive Inuk (Anthony Quinn). Ele é um nativo selvagem que vive nos confins do Polo Norte congelado e inóspito, um esquimó com pouco contato com a civilização das cidades. Com jeito rude e direto, ele acaba sendo ofendido por um padre e sem medir as consequências de seus atos comete um assassinato. Perseguido pela polícia, ele se aventura pelas regiões mais isoladas em busca de refúgio. Escapará das leis do chamado homem civilizado?

Esse é um filme curioso sobre esquimós, com Anthony Quinn, Peter O Toole e direção de Nicholas Ray. O roteiro foca nos costumes dos nativos das regiões mais geladas do planeta e o choque que pode existir entre a cultura deles e as leis do homem dito civilizado. O roteiro do filme se apoia bastante naquela visão do "bom selvagem", algo que está bem claro até mesmo no nome original da produção, "The Savage Innocents", algo como os inocentes selvagens. É a velha teoria de que o homem nasce bom e puro até ser corrompido pela civilização dita avançada. Muitos obviamente não comprarão a ideia por trás de tudo, mas a intenção de expor esse tipo de visão não deixa de ser válida.

Em termos puramente cinematográficos vale o elogio para a boa atuação de Anthony Quinn pois o papel lhe caiu muito bem. Seu biotipo inclusive é perfeito para o personagem. Curiosamente há poucos diálogos em praticamente todo o filme e Quinn precisa utilizar bastante de uma atuação mais física do que verbal, algo em que se sai muito bem. Bem fotografado, com cenas de estúdio, intercaladas com cenas externas de locação, no norte do Canadá, terra gelada e sem fim, o filme é bem interessante, principalmente para estudantes de sociologia e ciências sociais em geral. É o que costumo chamar de "filme tese" que defende uma ideia por trás de tudo. Mesmo assim quem estiver em busca apenas de uma boa aventura clássica também não vai se decepcionar.

Sangue Sobre a Neve (The Savage Innocents, Estados Unidos, 1960) Estúdio: Paramount Pictures / Direção: Nicholas Ray / Roteiro: Hans Ruesch, Franco Solinas / Elenco: Anthony Quinn, Peter O'Toole, Yoko Tani, Carlo Giustini / Sinopse: O filme retrata a vida de um esquimó selvagem que mora no Polo Norte do planeta, em uma parte da Terra onde tudo parece inóspito e congelado. Após se envolver em um crime ele passa a ser perseguido por pessoas que querem levá-lo a um julgamento de acordo com as leis do homem civilizado. Filme indicado à Palma de Ouro no Cannes Film Festival.

Pablo Aluísio.

segunda-feira, 18 de janeiro de 2021

A Patrulha da Esperança

Clássico filme de guerra. Qual é a história? O coronel Pierre Raspeguy (Anthony Quinn) e seus homens ficam cercados por um grande exército de libertação nacional em Dien Bien Phu na Indochina. Depois da derrota, são feitos prisioneiros e após algum tempo são finalmente libertados quando a França desiste de sua intervenção militar no país. De volta à Paris tudo o que o coronel deseja é retornar para o campo de batalha e ele consegue seu objetivo ao ser designado para comandar uma tropa de elite a ser enviada para a Argélia, colônia francesa que luta por sua independência. Filme tecnicamente muito bem realizado, com ótimas sequências de batalha e ação, mas novamente um pouco confuso sob o aspecto político. O filme começa na Indochina, que naquele momento tentava se livrar do poderio e domínio do imperialismo francês. Os soldados liderados por Anthony Quinn estão encurralados e a única saída é a rendição aos inimigos. Depois de algum tempo presos, são finalmente libertados depois que a França se conscientiza que aquela guerra é uma perda inútil de homens, equipamentos e dinheiro. 

O curioso aqui é chamar a atenção para o fato de que após a retirada da França da Indochina, que passaria a se chamar Vietnã, iria se abrir um vácuo de poder na região, o que iria resultar na intervenção dos Estados Unidos. E isso, anos depois, iria dar origem também à Guerra do Vietnã. Um grande desastre militar para os americanos. Depois que voltam para a França, a tropa comandada pelo Coronel  Raspeguy (Anthony Quinn) é novamente enviadas para o front, só que dessa vez na Argélia, e lá começam a combater os argelinos que lutam pela independência de seu país! Pois é, o fato é que esse roteiro tem como protagonistas soldados que estavam sempre lutando pelo imperialismo de Paris contra povos que apenas tinham como objetivo sua libertação desse tipo de colonialismo anacrônico. Assim o roteiro derrapa nesse aspecto, pois tem um viés equivocado, trazendo a mesma visão que iria levar à guerra da Argélia e até mesmo à guerra do Vietnã, duas experiências que França e Estados Unidos jamais iriam esquecer por causa do tamanho do desastre que foi.

Porém, tirando esse aspecto político de lado, o espectador terá um filme de guerra bastante eficiente, com ótimas tomadas de combate como atrativo, em especial a cena final onde rebeldes argelinos e tropas francesas se enfrentam numa montanha com ruínas da época do império romano ao fundo. Nesses tempos o cinema não tinha recursos digitais para recriar esse tipo de combate em computadores e nada do tipo. Tudo era feito de forma real, com centenas de milhares de figurantes, explosões, veículos de guerra, etc. E filmar tudo em lugares desertos tornava a produção ainda mais complicada. Então é isso, "Lost Command" não tem uma visão política correta daquele período histórico, mas se salva pela grandeza de suas cenas de ação e guerra, o que hoje em dia é certamente o que mais irá atrair o fã de cinema clássico.

A Patrulha da Esperança (Lost Command,  Estados Unidos, 1966) Estúdio: Columbia Pictures / Direção: Mark Robson / Roteiro: Jean Lartéguy, Nelson Gidding / Elenco: Anthony Quinn, Alain Delon, George Segal / Sinopse: Militares franceses veteranos da guerra da Indochina são enviados novamente para o campo de batalha, no norte da África, onde forças rebeldes argelinas lutam pela independência de sua nação do imperialsmo francês.

Pablo Aluísio.

sábado, 14 de novembro de 2020

Febre da Selva

Título no Brasil: Febre da Selva
Título Original: Jungle Fever
Ano de Produção: 1991
País: Estados Unidos
Estúdio: Universal Pictures
Direção: Spike Lee
Roteiro: Spike Lee
Elenco: Wesley Snipes, Annabella Sciorra, Samuel L. Jackson, John Turturro, Anthony Quinn, Spike Lee, Halle Berry, Ossie Davis

Sinopse:
Em Nova Iorque, durante a década de 1990, Flipper Purify (Wesley Snipes) se envolve com Angie Tucci (Annabella Sciorra). O que poderia ser um caso como tantos outros, acaba causando muitas reações negativas nos familiares e amigos do casal. A razão? Ele é negro e ela faz parte da comunidade italiana da cidade, cusando todo tipo de reações preconceituosas das pessoas próximas.

Comentários:
Nesse filme o diretor e roteirista Spike Lee voltou a tratar da questão racial nos Estados Unidos. Para demonstrar como o preconceito também pode afetar os relacionamentos pessoais, ele colocou como protagonistas de seu filme um casal, formado por um homem negro e uma mulher branca, de origem italiana. Eles se conhecem, gostam um do outro e começam a se relacionar. O problema são os amigos, parentes, vizinhos, todos querendo atrapalhar o romance, tudo causado pelo preconceito racial. Embora o tema possa parecer pesado em um primeiro momento, levando o espectador a pensar que vai ver um drama, o diretor optou por algo até bem mais leve. Há humor e ironia envolvendo as situações. Não é um filme trágico, como alguns poderiam pensar. E o mais interessante de tudo é que Spike Lee e Samuel L. Jackson, acabaram sendo premiados em Cannes naquele ano, justamente pelo trabalho que fizeram nesse filme. Quem poderia imaginar? Enfim, bom filme, tratando de um tema relevante, mas sem exagerar nas tintas dramáticas, o que no final se revelou ser uma decisão acertada do diretor.

Pablo Aluísio.

quarta-feira, 11 de dezembro de 2019

As Sandálias do Pescador

O filme “As Sandálias do Pescador” foi baseado no best-seller de Morris L. West, um dos romancistas mais prestigiados do mundo. Em plena guerra fria, o enredo mesclava política e religião com muita maestria. A trama do filme era pura ficção, mas com nuances baseados em fatos históricos reais. No enredo o protagonista se chama Kiril Lakota (Anthony Quinn), Ele é um cardeal russo que acaba sendo libertado após muita pressão internacional contra o governo comunista da União Soviética. Exilado, ele volta ao Vaticano onde por uma ironia do destino acaba fazendo parte do conclave para a escolha do novo Papa. Como se não bastasse a surpresa de retornar a Roma nesse momento particularmente delicado, acaba ainda por cima sendo eleito o novo Papa pelos cardeais, que cansados das lutas internas dentro da cúria romana decidem eleger alguém de fora para assumir o poder máximo da Igreja Católica no mundo!

A história parece familiar para você? Pois é, incrivelmente parecida mesmo com a história do Papa João Paulo II, que também foi eleito após escapar do regime comunista na Polônia. Nesse ponto o autor Morris West foi incrivelmente perspicaz pois os eventos narrados em seu livro acabaram de certa forma se tornando reais dez anos depois com a escolha de Karol Wojtyla para o trono do pescador. É incrível pensar que ele havia previsto uma década antes que um novo Papa viria de um país dominado pelo comunismo. Era algo impensado na época, justamente por causa da guerra fria que parecia não ter fim. A eleição de um Papa proveniente de um país socialista seria algo não apenas inédito, mas também explosivo do ponto de vista da política internacional. Em meio a tensão, ter um Papa com essas origens iria deixar o cenário ainda mais turbulento e tenso entre Estados Unidos e União Soviética.

“As Sandálias do Pescador” é nitidamente dividido em dois atos. O primeiro que antecede a subida ao trono de São Pedro e o segundo que já mostra o protagonista como o novo Papa eleito. A produção é das mais ricas, com tudo sendo recriado a perfeição em seus menores detalhes. Todos os rituais, liturgias e cerimônias são refeitas com extremo rigor e fidelidade histórica. O elenco é fabuloso. Além de Anthony Quinn como o russo que vira Papa o filme ainda conta com as preciosas atuações de Laurence Olivier (como o premie soviético) e Vittorio de Sica como o Cardeal Rinaldi. Outro ponto positivo é a recriação das intrigas e conspirações palacianas, tão comuns em escolhas de Papas ao longo da história. Embora o filme decaia um pouco em seus momentos finais, o fato é que “As Sandálias do Pescador” é um marco do cinema da década de 60. Uma produção de encher os olhos com um elenco realmente maravilhoso. Em tempos de conclaves, eleições de Papas e tudo mais “As Sandálias do Pescador” se torna ainda mais interessante. Assistindo ao filme você irá perceber que pouco coisa mudou em todos esses anos. Os corredores do Vaticano e seus segredos milenares continuam os mesmos, seja na ficção ou na vida real. São dois mil anos de uma fonte inesgotável de história. 

As Sandálias do Pescador (The Shoes of the Fisherman, Estados Unidos, Itália, 1968) Direção: Michael Anderson / Roteiro: John Patrick, James Kennaway baseados no livro de Morris West / Elenco: Anthony Quinn, Laurence Olivier, Oskar Werner, Vittorio de Sica / Sinopse: Após escapar do regime brutal soviético um cardeal russo (Anthony Quinn) acaba sendo eleito o novo Papa com o nome de Kiril I. Filme indicado ao Oscar nas categorias de de melhor Trilha Sonora original e melhor Direção de Arte.

Pablo Aluísio. 

terça-feira, 12 de novembro de 2019

Lawrence da Arábia

Esse filme é a obra prima absoluta do diretor David Lean, um dos melhores cineastas da história do cinema. Também é o auge, o ponto máximo da carreira do ator Peter O'Toole, um pico que ele nunca mais alcançaria em sua vida. São vários os adjetivos usados para essa produção realmente memorável. Grandioso, épico, maravilhoso, o cinema em sua mais qualificada essência, etc. De fato é um filme impressionante, uma produção que custou milhões de dólares e foi extremamente complicada de concluir. Também é grande em duração, com quase 230 minutos de duração. O cinéfilo precisa praticamente se preparar para encarar um filme assim, tão longo e ao mesmo tempo tão espetacular.

O curioso é que tudo estava pronto para Marlon Brando estrelar o filme. O roteiro foi pensado nele e o ator já tinha até mesmo concordado em analisar o convite, só que na última hora ele desistiu. O motivo foi frívolo. Brando afirmou que David Lean levava tanto tempo para filmar que ele provavelmente iria morrer seco no meio do deserto. Foi uma pena, mas ao mesmo tempo uma jogada do destino, porque atualmente ninguém consegue imaginar o personagem histórico sendo interpretado por outro ator. Peter O'Toole fez um trabalho tão fantástico que ele ficou para sempre marcado como o Lawrence da Arábia. E ao seu lado, no elenco, não faltaram outros nomes geniais como Alec Guinness, Anthony Quinn e Omar Sharif . Ou em outros termos, o filme também trazia a nata dos grandes atores da época.

Hoje em dia a figura de T.E. Lawrence é mais controversa do que quando o filme foi lançado. Esse inglês foi de tudo um pouco, arqueólogo, militar, agente secreto, diplomata. Para a mentalidade atual revisionista ele seria apenas um personagem a mais no jogo de dominação colonial do império britânico no Oriente Médio. Essa visão progressista mais crítica porém não se sustenta muito em meu ponto de vista. Até porque ele também foi um excelente escritor. Basta ler poucas linhas de seu mais conhecido livro, "Os Sete Pilares da Sabedoria", para bem entender isso. Porém deixando de lado essa visão mais política, o fato inegável é que o filme "Lawrence of Arabia" é mesmo cinema em seu estado mais grandioso, em sua mais pura essência. Um dos maiores clássicos da história do cinema de todos os tempos. Maior até mesmo que seu próprio protagonista.

Lawrence da Arábia (Lawrence of Arabia, Inglaterra, 1962) Direção: David Lean / Roteiro: Robert Bolt / Elenco: Peter O'Toole, Alec Guinness, Anthony Quinn, Omar Sharif, José Ferrer / Sinopse: O filme conta a história real do oficial britânico Thomas Edward Lawrence (1888 - 1945), um homem que teve grande importância no período colonial do império britânico no Oriente Médio. Filme vencedor do Oscar nas categorias de Melhor Filme, Melhor Direção (David Lean), Melhor Trilha Sonora (Maurice Jarre), Melhor Edição (Anne V. Coates), Melhor Som (John Cox), Melhor Direção de Arte (John Box, John Stoll, Dario Simoni) e Melhor Fotografia (Freddie Young).

Pablo Aluísio. 


sábado, 19 de outubro de 2019

Viva Zapata!

Cinebiografia do revolucionário mexicano  Emiliano Zapata (1879 - 1919). Filho de uma família rica no México, Zapata liderou a nação na revolução mexicana de 1910 que tencionava devolver o poder ao povo daquele país. Com o descontentamento crescente da população com sua classe política e corrupta, Zapata de posse de uma retórica populista conseguiu formar um grande exército que lutou ao seu lado. Filmar a vida de Zapata era um velho projeto de Elia Kazan. Ele próprio era uma pessoa com uma visão de esquerda (que seria manchada após ser acusado de entregar seus amigos do Partido Comunista). Assim era natural que Kazan quisesse fazer o filme definitivo sobre o revolucionário. Não foi nada fácil. Poucos produtores tinham coragem de filmar a vida desse personagem histórico mexicano com receio de ser acusado de ser socialista, o que poderia transformar em um inferno a vida de qualquer um em Hollywood na década de 1950. Kazan porém não desistia fácil e realizou um belo filme.

"Viva Zapata" resistiu bem ao tempo, isso apesar de cometer alguns clichês em seu roteiro (fato que se pode perdoar porque afinal estamos falando de um filme que foi feito há mais de 60 anos). O Zapata de Marlon Brando é bem romantizado por isso, embora a caracterização do ator seja muito boa, mostrando um personagem bem verossímil e que ficou bem próximo da realidade: um homem de pouca cultura (era analfabeto), brutalizado e de poucas palavras, mas muita ação. Brando inclusive deixou crescer um enorme bigode ao estilo do verdadeiro Zapata, mas teve que aparar seu vasto bigodão por ordens do estúdio que o achou muito exagerado (o que poderia fazer a plateia rir dele, levando o filme ao ridículo). Mesmo sob protestos o bom senso prevaleceu e Brando fez o que foi determinado pelo estúdio. A atriz Jean Peters era fraca (só entrou no filme por influência de seu namorado, o milionário excêntrico Howard Hughes que literalmente a escalou no filme). Nas cenas mais dramáticas ao lado de Brando a situação fica um tanto constrangedora para o lado dela (que afinal só era uma starlet, bonita e nada mais). O filme também quase não saiu do papel. O produtor Zanuck não queria Brando para o papel e entrou com confronto direto com Kazan que não abria mão do ator. Zanuck ainda brigou com Kazan por causa da maquiagem "muito escura" que foi realizada em cima de Jean Peters. Como se vê ele era um produtor muito poderoso que procurava se meter em cada detalhe dos filmes que produzia o que irritava profundamente Kazan, sempre muito independente e cioso de seu trabalho.

Além disso o filme não pôde ser rodado no México por expressa proibição do governo daquele país que achou o roteiro "inaceitável". As filmagens então foram realizadas no Novo México, no Colorado e no Texas. As condições não eram as ideais e o custo de se "maquiar" essas localidades para parecerem o México inflaram o orçamento. Lá pelo meio do filme Brando também foi perdendo o interesse ao entender que "Viva Zapata!" faria várias concessões para se enquadrar no estilo de Hollywood. Mesmo com tantos problemas "Viva Zapata" resistiu e hoje em dia é considerado um clássico, sem a menor sombra de dúvidas. Além da direção de alto nível por parte de Kazan o filme acabou ganhando muito também com a presença de Anthony Quinn no papel do irmão de Zapata. Enfim é um dos mais interessantes filmes da carreira de Brando e Kazan, o que não é pouca coisa. "Viva Zapata!" assim se torna essencial para quem deseja conhecer a obra de Elias Kazan e Marlon Brando em sua plenitude criativa.

Viva Zapata! (Viva Zapata!, EUA, 1952) Direção: Elia Kazan / Roteiro: John Steinbeck / Elenco: Marlon Brando, Jean Peters, Anthony Quinn, Joseph Wiseman, Alan Reed / Sinopse: Cinebiografia do líder revolucionário Emiliano Zapata (Marlon Brando) que em 1910 promoveu uma grande revolução no Estado do México visando devolver o poder político ao povo daquele país, que estava cansado de sua classe política corrupta e inepta. Filme vencedor do Oscar nas categorias de melhor ator coadjuvante (Anthony Quinn). Filme indicado ao Oscar nas categorias de melhor ator (Marlon Brando), melhor roteiro (John Steinbeck), melhor direção de arte, melhor música (Alex North).

Pablo Aluísio. 


domingo, 16 de dezembro de 2018

Os Canhões de San Sebastian

Título no Brasil: Os Canhões de San Sebastian
Título Original: La Bataille de San Sebastian
Ano de Produção: 1968
País: Itália, França, México
Estúdio: Compagnie Internationale de Productions Cinématographiques
Direção: Henri Verneuil
Roteiro: William Barby Faherty, Serge Gance
Elenco: Anthony Quinn, Anjanette Comer, Charles Bronson, Sam Jaffe

Sinopse:
Leon Alastray (Anthony Quinn) é um bandoleiro que acaba sendo confundido com um sacerdote assassinado. Ao chegar na aldeia de San Sebastian ele entende que aquele povo vive em constante medo causado pelos ataques regulares ao povoado, onde seus poucos bens e sua comida viram alvos de ladrões violentos que chegam na região, aterrorizam os moradores e depois vão embora com o produto de seu saque. Assim Leon logo decide ajudar aquelas pessoas injustiçadas a se defenderem desses bandidos, organizando um verdadeiro exército de resistência.

Comentários:
Western Spaghetti que fez muito sucesso nos cinemas durante os anos 1960. Uma produção internacional envolvendo três países, Itália, França e México, e que contou em seu elenco com dois famosos atores do cinema americano, Anthony Quinn e Charles Bronson. Isso demonstrava que a indústria de cinema italiano estava forte o suficiente para contratar atores americanos para suas películas. O curioso é que esses profissionais eram considerados, até de forma injusta, como atores de segundo escalão em Hollywood. Assim eles deixaram a Califórnia para trás e foram para a Europa, onde contaram com produções melhores para se tornarem estrelas por lá. O mesmo caminho trilhou Clint Eastwood no começo de sua carreira. Uma vez com o sucesso dessas produções, podiam retornar para Hollywood onde ganhavam um novo status, conquistado pela farta bilheteria de seus faroestes spaghettis. Anthony Quinn, por exemplo, tinha uma personalidade expansiva e extrovertida, excelente para esses filmes onde muitas vezes o exagero dava o tom de seus roteiros. Já Charles Bronson era o tipo ideal para encarnar sujeitos durões, de poucas palavras e muita ação. Uma dupla que casou perfeitamente bem em cena, a se lamentar apenas o fato de terem trabalhado poucas vezes juntos. Assim o que temos aqui é uma das produções mais ousadas do Western Spaghetti, um filme que não envelheceu tanto como era de se esperar. Uma excelente diversão para quem curte esse tipo de produção italiana com muitos tiros e pouca conversa fiada.

Pablo Aluísio.

quarta-feira, 23 de maio de 2018

Sob o Céu da China

Título no Brasil: Sob o Céu da China
Título Original: China Sky
Ano de Produção: 1945
País: Estados Unidos
Estúdio: RKO Radio Pictures
Direção: Ray Enright
Roteiro: Brenda Weisberg, Joseph Hoffman, baseados na obra de Pearl S. Buck
Elenco: Randolph Scott, Ruth Warrick, Ellen Drew, Anthony Quinn, Carol Thurston, Benson Fong

Sinopse: 
Dr. Gray Thompson (Randolph Scott) e a Dra. Sara Durand (Ruth Warrick) são médicos missionários em um hospital na China. Seu trabalho consiste em ajudar a população carente da região. Os tempos porém são conturbados e eles precisam retornar para os Estados Unidos após a invasão japonesa na China. Gray e Sara acabam se apaixonando na cidade chinesa mas o romance não se concretiza. De volta ao seu país o Dr Gray resolve se casar com a bela Louise mas seu coração continua dividido pois ele ainda ama secretamente a doce Sarah.

Comentários:
Mais um interessante filme de Randolph Scott fora do gênero western. Aqui ele interpreta um médico missionário que vai até uma cidade muito pobre e miserável da China para ajudar a população local. Seu trabalho de caridade e ajuda ao próximo é interrompido com a chegada das brutais tropas japonesas. Randolph Scott está perfeito na pele do Dr. Gray Thompson, um homem cheio de boas intenções que é traído por seus sentimentos pois não consegue se decidir completamente com quem ficar, pois parece amar duas mulheres maravilhosas na mesma proporção. O roteiro consegue mesclar muito bem aventura, romance e guerra. As tropas japonesas que tentam invadir a China são retratadas da pior forma possível, o que chegou a chocar o público americano na época. Não se pode esquecer que apesar dos americanos estarem em guerra com o Japão na ocasião, as atrocidades japonesas contra a população civil chinesa ainda eram pouco conhecidas do grande público na América. Como era impossível filmar algo na China naqueles tempos conturbados a RKO usou bastante da técnica conhecida como back projection nessa película. O resultado não deixa de ser muito bom, considerando as limitações técnicas daqueles tempos. Enfim, mais um bom exemplar da série "Randolph Scott deixa o velho oeste e vai à guerra"

Pablo Aluísio.

quinta-feira, 19 de abril de 2018

Minha Vontade é Lei

Warlock é uma cidadezinha do velho oeste que é constantemente atormentada por um bando de mal feitores que cometem crimes à luz do dia, na frente de todos, aterrorizando a pacata população local. Após assassinar o último xerife da cidade um conselho de cidadãos resolve contratar dois famosos pistoleiros para proteger e impor ordem na localidade. Clay Blaisedell (Henry Fonda) e Tom Morgan (Anthony Quinn) são então chamados a Warlock para impor através de seus colts a ordem e a lei para todos. "Minha Vontade é Lei" é um western muito bem escrito, com excelente trama que consegue unir um dos melhores elencos que já vi reunidos: Além de Henry Fonda (sempre ótimo) e Anthony Quinn (interpretando um velho pistoleiro com os dias contados) o filme ainda traz o eficiente e subestimado Richard Widmark como um auxiliar do xerife que tenta de alguma forma estabelecer uma ordem na caótica Warlock. Para os fãs de "Star Trek" uma curiosidade: a presença de DeForest Kelley como um membro do bando de bandidos que aterrorizam a cidade. Assim que surge em cena lembramos automaticamente de seu maior personagem, o médico da nave espacial Enterprise.

"Minha Vontade é Lei" foi dirigido pelo veterano Edward Dmytryk (1908–1999) . Ele não era um diretor especializado em faroestes, tendo dirigido mais dramas o que talvez explique algumas características desse filme. O roteiro não tem pressa em apresentar os personagens e nem em desenvolvê-los de forma bem gradual, aos poucos. Todos possuem personalidades complexas, que podem transitar tranquilamente entre a lei e a desordem. Os pistoleiros interpretados por Fonda e Quinn são exemplos disso. Não são mocinhos absolutos, pelo contrário, podem facilmente mudar de lado caso isso seja de seu interesse. A direção de Dmytryk é adequada mas não tão ágil como alguns fãs de western preferem (principalmente os adeptos de filmes de bang-bang mais viris) mesmo assim não faltam os momentos vitais no desenrolar do filme, como os confrontos, brigas e por fim o duelo final. De fato é uma produção acima da média, um faroeste um pouco mais dramático do que habitual mas não menos interessante e bom. Recomendo com absoluta certeza.

Minha Vontade é Lei (Warlock, EUA, 1959) Direção: Edward Dmytryk / Roteiro: Robert Alan Aurthur baseado na novela de Oakley Hall / Elenco: Richard Widmark, Henry Fonda, Anthony Quinn, DeForest Kelley, Dorothy Malone / Sinopse: Warlock é uma cidadezinha do velho oeste que é constantemente atormentada por um bando de mal feitores que cometem crimes à luz do dia, na frente de todos, aterrorizando a pacata população local. Após assassinar o último xerife da cidade um conselho de cidadãos resolve contratar dois famosos pistoleiros para proteger e impor ordem na localidade. Clay Blaisedell (Henry Fonda) e Tom Morgan (Anthony Quinn) são então chamados a Warlock para impor através de seus colts a ordem e a lei para todos.

Pablo Aluísio.

terça-feira, 20 de março de 2018

Rápidos, Brutos e Mortais

Título no Brasil: Rápidos, Brutos e Mortais
Título Original: Los Amigos
Ano de Produção: 1973
País: Itália
Estúdio: Compagnia Cinematografica, Idea Film
Direção: Paolo Cavara
Roteiro: Lucia Brudi, Paolo Cavara
Elenco: Franco Nero, Anthony Quinn, Pamela Tiffin
  
Sinopse:
Texas, 1830. A região agora é uma República independente do México. O presidente Sam Houston precisa manter a estabilidade política da região e para isso precisa combater os rebeldes que desejam uma nova guerra dentro das fronteiras texanas. Assim ele determina que um de seus agentes, Erastus 'Deaf' Smith (Anthony Quinn) se infiltre sorrateiramente no meio das facções rebeldes. Johnny Ears (Franco Nero), um ex-pistoleiro temido também é enviado para a mesma missão. Curiosamente Smith tem problemas de audição e usa Johnny literalmente como seus próprios ouvidos.

Comentários:
Depois do sucesso de "Django" o ator Franco Nero foi soterrado por convites para realizar filmes de faroeste italianos, os chamados Westerns Spaghettis. Ele porém tinha outras ambições em sua carreira e assim andou por um tempo transitando em outros gêneros cinematográficos, atuando sob a direção de grandes mestres, como por exemplo, Luis Buñuel em "Tristana, Uma Paixão Mórbida". Seu retorno aos filmes de faroeste porém era inevitável e mais cedo ou mais tarde todos sabiam que ele voltaria a montar seu cavalo para empunhar seu colt, cravejando de balas seus inimigos nas telas. Em 1973 o eterno Django finalmente voltou ao estilo nesse "Rápidos, Brutos e Mortais". Na mira nada de muito pretensioso do ponto de vista artístico. A intenção era realmente satisfazer seus antigos fãs, levando o ator novamente para a caracterização de um pistoleiro rápido no gatilho. Ao seu lado os produtores resolveram trazer um nome de peso, o astro Anthony Quinn que foi literalmente importado do cinema americano. O resultado é um faroeste à prova de críticas, muito divertido e movimentado, trazendo de volta às telas aquela estética de violência estilizada que fez a alegria de muitos frequentadores de cinemas populares nos anos 1960 e 1970. Apesar do filme ser italiano ele foi praticamente todo rodado na Espanha, com equipe basicamente formada naquele país. Nero acabou ficando doente no meio das filmagens o que fez seu cronograma de conclusão ficar atrasado. Isso porém fica imperceptível na tela. Um filme que vai acertar em cheio no gosto dos fãs desse tipo de faroeste italiano. Está mais do que recomendado.

Pablo Aluísio.

segunda-feira, 23 de outubro de 2017

A Invasão dos Bárbaros

Título no Brasil: A Invasão dos Bárbaros
Título Original: Attila
Ano de Produção: 1954
País: Itália, França
Estúdio: Producciones Ponti-de Laurentiis
Direção: Pietro Francisci
Roteiro: Ennio De Concini, Richard C. Sarafian
Elenco: Anthony Quinn, Sophia Loren, Henri Vidal, Claude Laydu, Irene Papas, Colette Régis

Sinopse:
Durante o século V da era cristã, o general romano Aécio (Henri Vidal) é enviado até as terras ocupadas pelos bárbaros conhecidos como Hunos. Eles são liderados por um guerreiro violento chamado Átila (Anthony Quinn). O militar de Roma pretende assinar um tratado de paz com os bárbaros, mas logo percebe que isso é praticamente impossível pois uma invasão está prestes a acontecer nas fronteiras do império.

Comentários:
Filme baseado em fatos históricos reais. Átila, Rei dos Hunos, passou para a história conhecido como "O Flagelo de Deus". Ele liderou a maior invasão bárbara que se teve notícia até então. O outrora glorioso Império Romano estava em franca decadência. Liderado por um jovem e fraco imperador chamado Valentiniano III, Roma acabou sendo invadida pelos Hunos de uma forma nunca antes vista. Esse filme franco italiano tentou contar essa famosa passagem da história da queda do Império Romano. Pena que não teve o orçamento necessário para isso. Realmente o que estraga esse filme é sua fraca produção. Para épicos assim era necessário ter milhões de dólares na época. Como o filme foi feito na Itália, com um orçamento insuficiente, ficamos com aquela sensação ruim de estar assistindo a um teatro filmado, ou pior que isso, a uma novela de TV. O elenco até era muito bom, com destaque para o expansivo Anthony Quinn. Aqui cometeram um erro de maquiagem nele pois para reproduzir os olhos orientais de Átila, puxaram o rosto do ator para trás, lhe trazendo um aspecto nada natural. Sophia Loren, jovem e bonita, muito sensual até, interpretou a irmã do afeminado imperador, a víbora Honoria. Um papel central na trama, pois ela acabou sendo uma das razões da invasão dos bárbaros sobre Roma. O problema é que Loren não era uma atriz muito experiente na época em que o filme foi feito. Sua atuação deixa mesmo a desejar. Assim, no final das contas, temos um filme menor, pequeno demais para a grandeza da história que tenta contar.

Pablo Aluísio.