terça-feira, 31 de maio de 2016

Errol Flynn - O Gavião do Mar

Errol Flynn tinha todos os defeitos do mundo que você possa imaginar. Era canalha, frívolo, mentiroso, crápula, viciado em drogas, bebum, até espião nazista durante a II Guerra Mundial. Um lixo de pessoa. Agora, como ator ele teve muita sorte na carreira. Flynn foi o maior astro da Warner Bros em um tempo em que esse estúdio resolveu apostar alto em grandes superproduções e filmes de aventura. Ao lado de Michael Curtiz, grande diretor da era de ouro do cinema americano, Flynn estrelou uma sucessão de grandes filmes e enormes sucessos de bilheteria, até porque ele era o tipo ideal para esse tipo de produção.

Jovem, atlético, Flynn era um aventureiro na vida real. Sua desenvoltura em cenas de barcos não era gratuita. Ele viajou da Austrália aos Estados Unidos em um velho veleiro, tal como seus personagens de seus filmes como em "O Gavião do Mar", um de seus grandes hits de bilheteria. Curiosamente ao mesmo tempo em que ia fazendo uma extremamente bem sucedida parceria com o diretor Curtiz, também ia tecendo sua armadilha de canalhice em relação ao cineasta. Enquanto posava de amigo de Curtiz nos estúdios, nos bastidores ia seduzindo a esposa dele. A tal ponto que ela se apaixonou por Flynn, largou Curtiz e foi viver ao seu lado por um breve tempo, já que Flynn não era homem de se amarrar a mulher nenhuma. Em pouco tempo a dispensou também. Era da natureza dele, ser um canalha, fazer o quê?

No fim da vida Errol Flynn se tornou alcoólatra e uma sombra do galã que havia sido no passado. Começou a elogiar publicamente ditaduras como a de Cuba (ele nunca escondeu sua preferência por regimes autoritários) e chegou até mesmo a ir na ilha caribenha para rodar um filme trash com atores locais. Tudo mera desculpa para encher a cara nas piores bodegas da Ilha de Fidel Castro. Esse por sua vez usou o que restou da fama de Flynn para promover seu sistema de governo que segundo a propaganda socialista era o melhor do mundo. Uma piada sem graça que nem o próprio Flynn acreditava. Depois de muitos excessos o grande aventureiro dos mares morreu precocemente. Ele havia cometido todos os excessos possíveis. Foi um sujeito que não admitia nenhum limite em sua vida. Pagou o preço devido.

Pablo Aluísio.

Mar de Fogo

Para se fazer um grande épico é necessário mais do que uma bela fotografia e cenas de impacto passadas em lugares exóticos e distantes. É justamente isso que prova "Mar de Fogo", produção de 2004. A história é baseada em fatos reais. Em 1890 um rico e poderoso líder árabe ofereceu um grande prêmio ao vencedor de uma corrida de cavalos de três mil milhas pelas regiões mais hostis do deserto da Arábia Saudita. Entre os concorrentes um cowboy americano, Frank T. Hopkins (Viggo Mortensen), se destacou por sua audácia, coragem e fibra de campeão. Cavalgando um animal da raça Mustang chamado Hidalgo ele entrou para a história por participar dessa competição. Sua proeza ficou tão conhecida dentro dos Estados Unidos que ele e seu cavalo viraram atração fixa no famoso show de Buffalo Bill no Oeste Selvagem.

"Mar de Fogo" foi dirigido pelo jovem cineasta texano Joe Johnston de "Jurassic Park III" e "Jumanji". Considerado um protegido de Steven Spielberg sua intenção se mostra bem nítida desde o começo do filme. Seu objetivo é alcançar a mesma classe e opulência do grande clássico "Lawrence da Arábia", algo pra lá de pretensioso. O problema é que tudo ficou apenas na intenção. Nem a presença do grande Omar Sharif (um dos atores preferidos do genial David Lean) melhora esse aspecto. Apesar da excelente produção, da bonita fotografia (temos que admitir) o filme não consegue convencer ou agradar. Muitas vezes na ânsia de realizar grandes tomadas abertas no deserto tudo o que o diretor consegue no final das contas é passar tédio para a película. Esse aliás é um dos grandes problemas de "Hidalgo" pois seu ritmo se torna irregular, ora acelerado demais, ora completamente parado, ficando por isso muitas vezes chato. Não foi um filme que me agradou, apesar das expectativas e boas intenções que rondaram sua chegada aos cinemas. Pode ser dispensado sem maiores problemas.
 
Mar de Fogo (Hidalgo, EUA, 2004) Direção: Joe Johnston / Roteiro: John Fusco / Elenco: Viggo Mortensen, Omar Sharif, Zuleikha Robinson / Sinopse: Cowboy americano (Mortensen) participa de uma corrida de cavalos no meio do deserto da Arábia Saudita. Filme vencedor do Western Writers of America na categoria de Melhor Roteiro.

Pablo Aluísio.

Prince (1958 - 2016)

Eu certamente não sou a pessoa mais indicada para escrever sobre Prince. Eu nunca fui de acompanhar sua carreira e nem de comprar seus discos. Claro que como um jovem que viveu parte de sua adolescência na década de 80 eu sabia muito bem quem foi o Prince, seus sucessos mais óbvios e sua postura nos palcos. Por isso esse singelo texto vai ser mais sobre minhas impressões superficiais sobre esse artista do que uma análise mais cuidadosa de sua importância musical.

Como se sabe ele faleceu ontem, ainda relativamente jovem, de causas não devidamente  esclarecidas. De uma maneira em geral eu sempre associei o Prince a outro astro da mesma época em que ele viveu seu auge: Michael Jackson. Penso que não sou o único a fazer essa associação. Os caminhos deles cruzaram muitas vezes ao longo de suas carreiras. Ainda que fosse um grande e talentoso instrumentista, Prince entendeu que a performance de palco era algo essencial para fazer sucesso. Por isso criou sua própria mise-en-scène em seus concertos. Embora negasse isso o fato é que seu estilo de ser e interpretar se baseava bastante no que Jackson fazia, afinal ele não era apenas o Rei do Pop, mas também dos clips e do visual. Nos anos 80 a imagem era tudo! Assim Prince adotou figurinos vitorianos, bem kitsch, que se tornaram sua marca registrada. Outra coisa que me chamava a atenção eram suas guitarras. Todas com formatos bem diferenciados. Causava um grande impacto para quem o via se apresentando ao vivo. Eram instrumentos diferentes e bem bonitos.

Depois que Prince estourou também no Brasil com o grande sucesso de Purple Rain, todos pensavam que ele iria entrar numa disputa música a música nas paradas de sucesso com Michael Jackson. E de fato Prince conseguiu excelentes números comerciais em termos de vendas de discos. Porém ao contrário de Jackson ele teve uma espécie de surto em determinado momento de sua trajetória. Brigou com a gravadora, virou um recluso e resolveu que iria abolir seu próprio nome Prince. Ao invés disso adotou um símbolo para lhe identificar. Começou a gravar discos bem estranhos, com material que não mais fazia sucesso e assim foi desaparecendo da grande mídia. Para quem prestava pouca atenção nele a coisa só piorou. Ele desapareceu do radar. Nos anos seguintes ouvi falar muito pouco dele. Geralmente quando ouvia seu nome ele vinha acompanhando da pergunta: "Por onde anda o Prince?" A impressão é que havia caído em um ostracismo enorme. Ele não emplacava mais sucessos, sumiu das rádios e dos programas de TV o que me fez pensar seriamente que ele tinha se aposentado da música.

Parecia que iria se tornar uma daquelas estrelas típicas dos anos 80 que surgiam, faziam algum sucesso e depois sumiam para sempre. E de fato passei muitos anos sem ouvir falar nele. Só de vez em quando via alguma reportagem sobre Prince em revistas, pena que não eram revistas de música, mas de fofocas. Ele geralmente surgia namorando alguma sub celebridade (como Carmem Electra), ou então tendo um namorico com uma adolescente brasileira (quando esteve aqui na década de 90). Fora isso, nada. Só há algumas semanas o Prince pareceu voltar à mídia ao passar mal durante um de seus últimos shows. Seu avião inclusive teve que retornar porque ele estava em péssimo estado. É isso. Infelizmente Prince para mim foi apenas um cantor de sucesso dos anos 80 que depois desapareceu por um longo período. Dizem que nesse hiato gravou grandes discos experimentais. Infelizmente não os ouvi. Para mim ele sempre será o performático com guitarra vitoriana tocando "Purple Rain" e nada muito além disso. Pensando bem até que está de bom tamanho.

Pablo Aluísio.

segunda-feira, 30 de maio de 2016

Natal Sangrento

Título no Brasil: Natal Sangrento
Título Original: Silent Night, Deadly Night
Ano de Produção: 1984
País: Estados Unidos
Estúdio: TriStar Pictures
Direção: Charles E. Sellier Jr.
Roteiro: Paul Caimi, Michael Hickey
Elenco: Lilyan Chauvin, Gilmer McCormick, Toni Nero

Sinopse:
Depois que seus pais são assassinados, uma jovem adolescente atormentado sai em uma fúria assassina vestido como o próprio Papai Noel, aterrorizando as famílias na noite de Natal. A mente perturbada do assassino procura por vingança contra os abusos que sofreu após ser enviado para um sinistro orfanato. Roteiro parcialmente baseado numa história real envolvendo um dos mais infames serial killers (assassinos em série) dos Estados Unidos.

Comentários:
"Tente sobreviver ao Natal" - essa era a frase que acompanhava a publicidade desse "Natal Sangrento", filme de terror que invadiu os cinemas americanos na véspera de natal de 1984. Naquela década o cinema americano vivia uma febre de filmes de horror que disputavam o título de mais sangrento da temporada. Quanto mais sangue e tripas expostas melhor. Esse aqui foi lançado no mesmo final de semana de "A Hora do Pesadelo", sendo que ambos disputaram a preferência dos fãs de filmes de terror nas bilheterias naquela ocasião. O uso da mitologia de natal em um filme desse tipo causou uma certa indignação e revolta em determinados setores da sociedade americana. O filme foi acusado de ser de extremo mau gosto ao usar a figura de Papai Noel entrando pela chaminé de uma casa com um machado em seu poster original! Afinal estavam destruindo a figura do bom velhinho, o transformando em um psicopata cruel e assassino. Bobagem, o filme é um produto pop que jamais deve ser levado muito à sério. Causa espanto que críticos tão conceituados como Roger Ebert tenham escrito que a produção era uma "vergonha" por misturar os elementos natalinos em um filme Slasher de muita violência. O curioso é que o resultado foi bem mais violento do que queria seu diretor Charles E. Sellier Jr, a tal ponto que ele largou a produção pouco antes do fim das filmagens. Houve um atrito entre sua visão (mais centrada para o suspense) e os produtores, que queriam mais sangue derramando na tela. Assim o estúdio acabou escalando o editor Michael Spence para dirigir algumas cenas extras de matança, o que deixou tudo ainda mais cru e sádico. Estavam certos pois o filme acabou fazendo sucesso, dando origem dois anos depois a uma continuação que também foi bem sucedida do ponto de vista puramente comercial.

Pablo Aluísio.

Dupla em Fúria

Título no Brasil: Dupla em Fúria
Título Original: Bu er shen tan
Ano de Produção: 2013
País: China
Estúdio: Hong Kong Pictures International
Direção: Tsz Ming Wong
Roteiro: Tan Cheung
Elenco: Jet Li, Zhang Wen, Shishi Liu

Sinopse:
Dois tiras, Huang Feihong (Jet Li) e Wang Bu'er (Zhang Wen) são designados para desvendar uma série de assassinatos em Hong Kong. As investigações levam os policiais para um jogo mortal, onde criminosos bem armados e organizados em extensas quadrilhas não estarão dispostos à se renderem perante a lei.

Comentários:
Muita gente ficou (com razão) decepcionado com a participação de Jet Li em "Os Mercenários 3", já que ele surge rapidamente em cena, atirando do alto de um helicóptero e nada mais. Para esses eu recomendo essa produção recente realizada na China onde Jet Li tem novamente possibilidade de mostrar toda sua perícia em artes marciais. O roteiro é, como manda a tradição oriental, bem simples e direto, apenas o suficiente para criar um background para as cenas de luta e ação. Jet Li está completamente à vontade para demonstrar toda a sua técnica, em excelentes lutas coreografadas (ninguém, mas absolutamente ninguém, no meio cinematográfico tem mais criatividade do que os próprios orientais em organizarem lutas extremamente complexas do ponto de vista técnico). Para não ficar muito pesado o roteiro também investe em generosas pinceladas de bom humor durante todo o desenvolvimento da trama. O filme foi rodado diretamente na língua local mas depois dublado em inglês para ser lançado no mercado americano e europeu. Uma boa pedida para os fãs de filmes de artes marciais em geral.

Pablo Aluísio.

Até o Fim

Título no Brasil: Até o Fim
Título Original: All Is Lost
Ano de Produção: 2013
País: Estados Unidos
Estúdio: Universal Pictures
Direção: J.C. Chandor
Roteiro: J.C. Chandor
Elenco: Robert Redford

Sinopse:
Homem velejando em seu barco enfrenta inúmeras dificuldades quando sua embarcação apresenta vários problemas técnicos de complicada solução. Filme indicado ao Oscar na categoria de Melhor Edição de Som. Vencedor do Globo de Ouro na categoria Melhor Trilha Sonora Original. Indicado na categoria Melhor Ator - Drama (Robert Redford).

Comentários:
Imagine um filme onde só existe um ator, vivendo um personagem que ninguém sabe o nome e utilizando apenas um barco como cenário. E pior: Este personagem não fala - a não ser duas palavras durante todo o filme: God e fuck. Pois é, este filme se chama: "Até o Fim" (All is Lost) 2013. O personagem é ninguém menos que um dos maiores astros do cinema do século 20: Robert Redford. O longa - dirigido por J.C. Chandor e gerado no ventre da produtora independente, Sundance que tem o próprio R.R como proprietário, mostra o ator solitário a bordo de seu veleiro na imensidão do oceano Índico, quando de repente ele é acordado com o choque do seu pequeno barco contra um contêiner que boiava à deriva, e que provavelmente tinha caído de algum cargueiro. Com o choque, o casco é rasgado e a água começa a inundar o interior do barco. Do alto de seus 78 anos, um carismático e ainda excelente Robert Redford age rápido e mostra agilidade e força para consertar o rombo no casco do veleiro. Utilizando um grande pedaço de plástico e uma cola especial o mítico ator consegue consertar o rombo, mas o pior já havia acontecido e não tinha conserto: Seu rádio comunicador havia sido danificado, e, partir daquele momento, o nosso eterno Sundance Kid - longe do frescor de sua juventude luminosa do famoso pistoleiro - encontra-se perdido e desconectado do mundo, passando a lutar só e desesperadamente pela sua própria sobrevivência, em meio à imensas tempestades, tubarões e dias impiedosos de sol e calor escaldantes. 

Telmo Vilela Jr.

domingo, 29 de maio de 2016

Coração Satânico

Um dos melhores filmes de terror e suspense que já assisti em minha vida também foi um dos mais subestimados. Estou me referindo a "Angel Heart" que no Brasil recebeu o título de "Coração Satânico". Lançado em 1987, com direção do talentoso Alan Parker, o filme tinha um roteiro maravilhoso escrito baseado a partir do ótimo romance gótico de William Hjortsberg. A velha batalha entre o bem e o mal, entre Deus e Satã, ganhava ares mais mundanos, mais próximos de cada um. No enredo um detetive particular chamado Harry Angel (interpretado por Mickey Rourke no auge de sua carreira) era contratado pelo misterioso Louis Cyphre (Robert De Niro) para encontrar um antigo cantor de jazz conhecido como Johnny Favorite. No passado esse tal de Favorite teria ficado em dívida com o senhor Louis, que agora surgia para cobrar sua parte no trato. Angel sai em busca do sujeito, passando pelos lugares mais sórdidos e obscuros de uma New Orleans cheia de magia negra, feitiços e vodu. O sangue vermelho parece lhe acompanhar em toda parte e curiosamente o mal parece estar sempre presente em seu caminho de investigação.

Na época de lançamento do filme o ator Mickey Rourke era considerado o legítimo sucessor de Marlon Brando e James Dean. Um dos últimos a se formar no Actors Studio de Nova Iorque (a mesma escola de interpretação dos dois mitos citados), tudo parecia caminhar para transformar Rourke em um dos grandes astros rebeldes do cinema. Infelizmente não foi bem isso que aconteceu. De qualquer maneira o filme "Angel Heart" (no original "Coração de Anjo") tinha outro grande ator em cena. Era Robert De Niro. Antes de afundar em várias comédias constrangedoras, De Niro brilhava em um papel bem diferente. Um sujeito que na fachada parecia ser muito fino e elegante, quase um lord. No fundo ele seria a personificação do puro mal diabólico. O roteiro já deixava pistas sobre isso durante todo o desenrolar da trama - basta ver que seu nome, Louis Cyphre, lembra bastante o nome de Lúcifer, o anjo caído. Por isso a grande lição que esse excelente filme deixava era mais simples que se pensava: Nunca faça promessas com o diabo, um dia ele irá certamente cobrar sua parte.

Pablo Aluísio.

Os Caçadores da Arca Perdida

No começo da década de 80 o diretor Steven Spielberg quase foi contratado para assumir a franquia de James Bond, o agente 007. Infelizmente as negociações não deram certo. Frustrado, Spielberg viajou em férias para as Bahamas ao lado do amigo e também diretor George Lucas. Nessas férias Lucas mostrou a Spielberg um roteiro que havia acabado de escrever. Era uma aventura ao velho estilo, que lembrava até mesmo os antigos seriados cinematográficos do passado. Algo como Flash Gordon, Buck Rogers, Tarzan, mas em um contexto diferente. Um professor respeitado, arqueólogo, que se envolvia nas maiores aventuras na busca por artefatos históricos cobiçados. Seu nome? Indiana Jones. Desde o começo Spielberg adorou a ideia. Ele sabia que havia ali potencial para mais uma franquia de grande sucesso comercial. E foi justamente o que aconteceu. Com filmagens programadas em várias países tudo estava certo a não ser um problema crucial: quem iria interpretar Indiana? No começo tanto Spielberg como Lucas queriam o ator Tom Selleck para o papel, mas esse estava comprometido com a série de TV Magnum, grande sucesso de audiência na época. Assim eles foram atrás de outro ator para estrelar o filme.

A solução acabou sendo mais simples do que se imaginava. Lucas sugeriu a Spielberg que o papel de Indiana Jones fosse entregue a Harrison Ford, que já tinha se dado muito bem como o mercenário das estrelas Han Solo em "Star Wars". Acertos feitos, começaram as filmagens. "Os Caçadores da Arca Perdida" logo se tornou um fenômeno de bilheteria. Era um filme de aventura com claro sabor nostálgico, mas com uma roupagem mais adequada aos novos tempos. Com ótimo timing o filme era realmente perfeito, tanto tecnicamente como em termos de produção e roteiro. Por falar em roteiro a estória criada por George Lucas era realmente um primor de inventividade. Nela um grupo de pesquisadores nazistas saíam em busca da Arca da Aliança, o artefato citado na Bíblia. A lenda e a tradição afirmavam que aquele que possuísse a Arca se tornava invencível no campo de batalha. Exatamente o que almejava Hitler e seus homens. Curiosamente havia um fundo de verdade no enredo pois era bem conhecido o misticismo e a atração que os nazistas tinham nesse tipo de relíquia religiosa. O filme acabou fazendo tanto sucesso que de fato acabou virando uma série cinematográfica, tal como aquelas que o inspiraram. Haveria filmes bons e outros nem tanto, mas inegavelmente Indiana Jones se tornaria um dos grandes personagens da história do cinema americano.

Pablo Aluísio.

Nascido Para Matar

Na segunda metade dos anos 80 houve todo um ciclo de filmes tratando sobre a Guerra do Vietnã. Além do premiado Platoon tivemos também outro grande filme sobre o tema: Nascido Para Matar. Dirigido pelo mestre Stanley Kubrick e baseado no livro de Gustav Hasford o filme era na verdade uma denúncia ao militarismo americano. O roteiro tinha dois atos básicos. O primeiro seria focado no treinamento de um grupo de fuzileiros militares (marines). Numa base militar um sargento durão (interpretado pelo ótimo R. Lee Ermey) levava seus homens ao limite, até o momento em que um deles perdia completamente o controle, indo para as raias da loucura e da insanidade. É interessante essa parte inicial do filme pois explorava como os militares procuravam suprimir completamente as individualidades e a personalidade de cada soldado. Uma maneira de transformá-los em máquinas de guerra, sem remorso, consciência ou senso crítico.

Depois daquela tragédia aqueles mesmos jovens eram então levados para o inferno do Vietnã. A linha de ligação entre os dois atos vinha na presença do praça Joker' Davis (Matthew Modine). Ele almeja ser correspondente de guerra, mas precisa também colocar a mão na massa no front, enfrentando todos os tipos de desafios, inclusive uma sniper vietcongue. Nesse segundo ato o diretor Kubrick coloca uma desesperança, um clima sórdido e até mesmo mesmo desesperador, investindo em uma fotografia escura, vermelha, como se estivesse fazendo uma alegoria com o sangue daqueles homens que seguem sendo abatidos como gado no matadouro. De todos os dramas de guerra que foram lançados nesse período, "Nascido Para Matar" foi um dos mais festejados. Um filme cru e áspero que não abria margem a concessões ou meias verdades. A intensidade de Kubrick fez toda a diferença do mundo. Brilhante.

Pablo Aluísio. 

sábado, 28 de maio de 2016

Crimes Ocultos

Na União Soviética, sob o brutal regime comunista de Stálin, um oficial da polícia política, Leo Demidov (Tom Hardy), cai em desgraça junto ao Estado após se negar a entregar sua própria esposa, Raisa (Noomi Rapace), acusada injustamente de ser inimiga da revolução. Por ser uma herói de guerra acaba sendo poupado da execução, afinal foi ele o soldado que levantou a bandeira soviética no alto de um prédio em Berlim, no fim da II Guerra Mundial, dando origem a uma foto que se tornou histórica e símbolo da vitória russa sobre a Alemanha de Hitler. Sua punição vem então na forma de uma transferência para uma região remota da Rússia chamada Rostov. Ao chegar em seu novo posto ele acaba ficando sob o comando do implacável General Mikhail Nesterov (Gary Oldman). Eles precisam resolver juntos um mistério macabro. Várias crianças são encontradas mortas perto de ferrovias e estações de trem por todo o país. Certamente há um serial killer à solta, mas as investigações se tornam duplamente perigosas pois o regime de Stálin negava existir psicopatas na sociedade soviética, considerada perfeita sob o comunismo. Para os altos escalões desse Estado a figura do psicopata era exclusiva de sociedades capitalistas decadentes ocidentais como os Estados Unidos. Como investigar um assassino em série lutando contra a própria política de acobertamento do Estado Soviético?

Gostei bastante desse filme. Embora seja baseado em um livro de suspense escrito por Tom Rob Smith, a trama foi inspirada em fatos históricos reais. Nos anos 1950 a polícia soviética precisou organizar uma grande operação para descobrir e prender um serial killer de crianças que atuava na região de Rostov. Ele era Andrei Chikatilo, um burocrata que viajava de cidade em cidade resolvendo seus negócios e no caminho aproveitava para aliciar e matar crianças indefesas que encontrava em estações de trem e pequenas vilas. A maioria delas eram órfãs e abandonadas, vivendo de esmolas nesses lugares. As investigações confirmariam ao menos 53 assassinatos (muito embora hoje saiba-se que foi muito mais do que isso, já que ele matava suas vítimas no meio de florestas remotas, onde muitas vezes os corpos sequer eram encontrados por policiais). Além do excelente roteiro o filme ainda tem outros atrativos. Em termos de elenco não há o que reclamar. O filme tem três ótimos atores nos papéis principais, além de Oldman e Hardy se destaca também Joel Kinnaman (o ator que interpretou RoboCop na nova versão, também conhecido pela ótima série "The Killing"). Ele interpreta um agente político cruel e manipulador, velho desafeto do personagem de Tom Hardy, que faz de tudo para prejudicá-lo sempre que possível. A reconstituição histórica também é excelente, perfeita. Enfim, ótimo filme sobre um dos mais infames assassinos da história, cuja história se passou sob um dos regimes comunistas mais ferrenhos que já se teve notícia.

Crimes Ocultos (Child 44, Estados Unidos, Rússia, Inglaterra, República Tcheca, Romênia, 2015) Direção: Daniel Espinosa / Roteiro: Richard Price, baseado no livro de Tom Rob Smith / Elenco: Tom Hardy, Gary Oldman, Joel Kinnaman, Noomi Rapace / Sinopse: União Soviética. 1953. Leo Demidov (Tom Hardy) e o General Mikhail Nesterov (Gary Oldman) são dois investigadores que precisam desvendar uma série de mortes de crianças, perto de estações de trem por todo o país. Suas tentativas de solucionar os crimes esbarram no próprio Estado que não quer admitir que existam psicopatas dentro uma sociedade comunista supostamente perfeita como aquela. O lema de Stálin afirmava que "Não existiriam psicopatas no paraíso", algo que iria se revelar completamente sem sentido e mentiroso com o avanço das investigações.

Pablo Aluísio.

sexta-feira, 27 de maio de 2016

Platoon

O grande vencedor do Oscar no ano de 1987 foi "Platoon", drama de guerra dirigido por Oliver Stone. Na época o filme foi recebido com grande entusiasmo por público e crítica porque supostamente o cinema americano finalmente havia encarado o desafio de contar parte da derrota americana na Guerra do Vietnã de uma forma sincera e corajosa. Antes disso filmes como "Rambo" ou "O Franco Atirador" já tinham colocado o dedo na ferida do orgulho nacional americano machucado, mas "Platoon" tinha um diferencial a seu favor. Era um drama sério, bem escrito e não um filme de ação ou existencialista. O público estava pronto para ver a queda do exército de seu país nas florestas tropicais do Vietnã. Acontece que o próprio diretor Oliver Stone era um veterano de guerra. O que ele sabia do Vietnã não lhe havia sido contado e nem lido, mas vivenciado. Quando a guerra chegou ao seu ápice o jovem Oliver resolveu se alistar nas forças armadas. Voluntário, foi enviado para o front no sudeste asiático. Como era ainda muito jovem tinha uma visão patriótica e um tanto boba do que representava um conflito como aquele. Quando chegou no Vietnã compreendeu a enorme besteira que havia cometido. Stone era um dos poucos soldados brancos no exército. Apenas negros e pobres estavam naquele inferno. O velho sentimento de patriotismo lhe trouxe vergonha profunda do que estava vendo.

Um aspecto interessante sobre o roteiro é que na época foi divulgado que tudo o que se via na tela havia acontecido de fato, era uma espécie de biografia de Oliver Stone. Não era verdade, a informação não procedia. Anos depois o próprio Stone tratou de explicar. Na realidade o roteiro do filme era uma mistura de acontecimentos reais com ficção. Os dois personagens mais importantes eram os sargentos Elias (Willem Dafoe) e Barnes (Tom Berenger). Um representava o bem e o outro o mal. Um claro mecanismo dramático, para se contar esse enredo. Stone afirmou que ambos representavam na verdade vários oficiais e suboficiais que conheceu no Vietnã. Era uma representação e não algo real. O saldo, apesar de tudo, foi dos melhores. O filme foi premiado com o Oscar de Melhor Filme, Direção, Som e Edição. O ator Charlie Sheen que interpretava o alter ego de Stone no filme foi considerado um dos prováveis astros do futuro, mas essa previsão não se concretizou. Sheen se envolveu com drogas e prostituição e viu sua carreira afundar no cinema (ela foi salva em parte quando resolveu se dedicar à TV). Recentemente ele confessou ser viciado em crack e ter AIDS. Nem Oliver Stone em seus momentos mais barra pesada pensaria em algo tão hardcore como isso.

Pablo Aluísio.

Busca Sem Limites

Título no Brasil: Busca Sem Limites
Título Original: Never Let Go
Ano de Produção: 2015
País: Estados Unidos, México, Espanha
Estúdio: Latitude Films
Direção: Howard J. Ford
Roteiro: Howard J. Ford
Elenco: Angela Dixon, Nigel Whitmey, Lisa Eichhorn, Velibor Topic
  
Sinopse:
Lisa Brennan (Angela Dixon) é uma agente especial do governo americano que decide tirar férias no exótico Marrocos. Uma vez lá é surpreendida pelo sequestro de seu filho, um bebezinho. Tomada de fúria ela resolve para o acerto de contas com os sequestradores, um grupo internacional de tráfico de drogas.

Comentários:
Produção B sem maiores atrativos. A trama é clichê e as cenas de ação não empolgam. Na verdade esse filme mal conseguiu espaço nos cinemas americanos, sendo lançado diretamente no mercado de TV a cabo. O roteiro cai no lugar comum, tentando transformar uma mãe em heroína de filmes de ação. Para isso ela sai na mão com os vilões (todos caricaturais), faz acrobacias, mostra grande perícia em uso de armas de fogo e lutas marciais. Tudo isso para quê? Certamente para encher de orgulho as feministas, quem sabe... Do ponto de vista puramente cinematográfico porém essa produção não se sustenta. É rasa, fraca e derivativa. Não há nenhuma originalidade ou criatividades, se ainda fosse nos anos 80 quem sabe ainda se justificaria. Hoje em dia soa como coisa velha e ultrapassada. Se você gosta de ação não perca seu tempo, há coisas bem melhores por ai, basta procurar.

Pablo Aluísio.

Quarteto Fantástico e o Surfista Prateado

Título no Brasil: Quarteto Fantástico e o Surfista Prateado
Título Original: 4 - Rise of the Silver Surfer
Ano de Produção: 2007
País: Estados Unidos
Estúdio: Twentieth Century Fox
Direção: Tim Story
Roteiro: Don Payne, Mark Frost
Elenco: Ioan Gruffudd, Jessica Alba, Chris Evans, Michael Chiklis, Laurence Fishburne, Julian McMahon
  
Sinopse:
O Sr. Fantástico Reed Richards (Ioan Gruffudd) e a Mulher Invisível Susan Storm (Alba) planejam finalmente se casar. Afinal o mundo passa por um momento de paz e tranquilidade. Seus planos de núpcias porém são interrompidos quando surge nos céus de Nova Iorque um estranho ser, o Surfista Prateado (dublado pelo ator Laurence Fishburne). Ao lado do Tocha Humana (Evans) e da Coisa (Chiklis) eles partem para combater essa nova ameaça. Filme indicado ao prêmio da Academy of Science Fiction, Fantasy & Horror Films na categoria de Melhor filme de Ficção do ano.

Comentários:
Sinceramente eu gostei dessa primeira franquia do Quarteto Fantástico que chegou ao fim justamente nessa fita. Durante muito tempo alguns fãs de quadrinhos (sempre eles!) reclamaram muito dessa primeira série de filmes, mas agora devem estar arrependidos depois que foi lançado o novo filme (que foi considerado ruim pela maioria da crítica e público). Pois bem, nessa primeira franquia nada disso havia acontecido. A pura verdade é que o Quarteto Fantástico é um produto pop dos anos 60 com tudo de bom (e ruim também) que isso possa significar. Os heróis desse grupo são datados realmente, porque era parte da mentalidade da época. Os efeitos especiais são bons, isso é inegável e o roteiro conta com a presença desse personagem bem interessante do universo Marvel, o Surfista Prateado. Certa vez assisti a uma entrevista do criador Stan Lee explicando que usava o "The Silver Surfer" para dar voz aos seus pensamentos mais, digamos assim, existencialistas. Faz todo o sentido. No fim, quando chegamos na conclusão que o personagem roubou o filme para si, ficamos com a pergunta na cabeça: será que algum dia haverá uma franquia apenas com ele? Bom, tantos filmes já foram feitos com personagens bem menos relevantes que essa é uma possibilidade bem plausível. Só nos resta aguardar. Enquanto não vem fique com a dica dessa boa produção (caso você ainda não tenha visto). Boa diversão.

Pablo Aluísio.

Marcas da Possessão

Título no Brasil: Marcas da Possessão
Título Original: Ava's Possessions
Ano de Produção: 2015
País: Estados Unidos
Estúdio: Off Hollywood Pictures, Ravenous Films
Direção: Jordan Galland
Roteiro: Jordan Galland
Elenco: Louisa Krause, Carol Kane, Jemima Kirke, William Sadler
  
Sinopse:
Após ser exorcizada por um padre, a jovem Ava (Louisa Krause) tenta retomar sua vida, algo que não se mostra nada fácil pois enquanto esteve possuída cometeu alguns atos de extrema violência contra familiares e pessoas amigas. Agora ela tenta reconstruir suas relações pessoais frequentando um grupo de apoio formado por pessoas que passaram pelo mesmo problema que ela. O problema é que em pouco tempo ela começa a ter novas visões e sensações de que o mal ainda não a deixou completamente. Filme indicado ao Neuchâtel International Fantastic Film Festival.

Comentários:
"Ava's Possessions" tenta fugir um pouco do que estamos acostumados a ver nesse tipo de filme sobre exorcismos e possessões demoníacas. Ao invés de mostrar o "durante" desse processo ele se concentra no "depois", ou seja, o que acontece na vida de uma pessoa após ela passar por esse tipo de experiência traumática. Pena que o diretor Jordan Galland cometeu dois erros básicos nessa ideia inicialmente tão promissora. O primeiro equívoco foi tentar trazer um tipo de humor negro que simplesmente não funciona em nenhum momento do filme. O outro foi escalar o filho de John Lennon, Sean, para compor a trilha sonora incidental da produção. Ele criou um som do tipo nada a ver com filmes de terror. Aquela sonoridade eletrônica fora do contexto só serviu para estragar qualquer tipo de clima de terror que poderia ser aproveitado. Com excessos a trilha me convenceu que Sean Lennon não puxou ao pai, mas sim à mãe, a menos talentosa Yoko Ono. Mostra de forma muito clara como uma boa trilha é importante na composição de um filme de terror, pois quando ela não se mostra adequada tudo vem abaixo. Fora isso a atriz Louisa Krause ainda se esforça para melhorar um pouco o filme, mas é tudo em vão. "Marcas da Possessão" é muito moderninho para causar medo em alguém. No final tudo o que ele consegue passar ao espectador é aquela sensação de tempo perdido. Não vale a pena.

Pablo Aluísio.

quinta-feira, 26 de maio de 2016

Marley & Eu

Título no Brasil: Marley & Eu
Título Original: Marley & Me
Ano de Produção: 2008
País: Estados Unidos
Estúdio: Fox 2000 Pictures, Regency Enterprises
Direção: David Frankel
Roteiro: Scott Frank, Don Roos
Elenco: Owen Wilson, Jennifer Aniston, Eric Dane
  
Sinopse:
Baseado numa história real o filme mostra a vida de um jovem casal, John (Owen Wilson) e Jenny (Jennifer Aniston), e seu cãozinho de estimação, o bagunceiro e divertido Marley ao qual seu dono considera o pior animal de estimação do mundo. Para sua surpresa Marley acaba sendo o grande amigo e protagonista de suas próprias vidas. Filme premiado pelo BMI Film & TV Awards, Kids' Choice Awards e Teen Choice Awards.

Comentários:
Quem já teve um animalzinho de estimação e sofreu com sua perda certamente vai acabar chorando nesse filme! Digo por experiência própria pois "Marley & Me" consegue nos atingir lá no fundo do peito nesse aspecto. Penso que ter um animal do qual cuidamos tantos anos e depois perdê-lo é realmente algo que nos marca profundamente. Dito isso, o roteiro não poderia ser mais propenso a emocionar. É basicamente a estória de um sujeito comum que certo dia leva para casa aquele que ele considera "o pior cachorro do mundo", mas que nos anos que virão o acompanhará nos momentos mais marcantes de sua vida. Um aspecto interessante desse filme é que o comediante Owen Wilson nunca esteve tão bem. Ele é ótimo para interpretar sujeitos de bem com a vida, meio avoados e de boa. Aqui ele trouxe uma leveza tão grande ao filme que só melhorou ainda mais o clima geral. Chegou até mesmo a ofuscar Jennifer Aniston, que não faz nada muito além do que desfilar sua imagem de "namoradinha da América" pela tela. Mesmo com dois bons atores no elenco quem acaba roubando mesmo as atenções (não poderia ser diferente) é o cãozinho Marley (na verdade uma série de animais foram usados ao longo do filme). Sua estória inclusive levou a uma explosão de procura pela raça do bichinho nas lojas de pets por todo o mundo. Ah e antes que me pergunte: O Marley é um cão da raça Labrador, um ótimo companheiro nessa viagem chamada vida. Se ainda não assistiu não deixe de conferir (e não esqueça de levar um lencinho junto pois as lágrimas serão certas). 

Pablo Aluísio.

Soldado Universal

Título no Brasil: Soldado Universal
Título Original: Universal Soldier
Ano de Produção: 1992
País: Estados Unidos
Estúdio: StudioCanal, Carolco Pictures
Direção: Roland Emmerich
Roteiro: Richard Rothstein, Christopher Leitch
Elenco: Jean-Claude Van Damme, Dolph Lundgren, Ally Walker
  
Sinopse:
Dois militares, Luc Devereaux (Jean-Claude Van Damme) e Andrew Scott (Dolph Lundgren), são submetidos a um novo projeto governamental que visa criar o soldado perfeito. Usando de tecnologia cibernética o objetivo seria criar um combatente insensível à dor, altamente eficiente no campo de batalha, mas sem os sentimentos inerentes aos seres humanos. No começo tudo vai bem até que algo começa a sair errado, fazendo com que Luc e Andrew comecem a recuperar sua humanidade.

Comentários:
Eu nunca fui muito fã desse filme que misturava o universo Sci-fi com a pegada dos filmes de ação que eram extremamente populares na época de seu lançamento. E olha que quando o filme fez sucesso eu ainda era bastante jovem, propenso a gostar desse tipo de fita. Por falar em fita estamos aqui falando dos tempos das locadoras de fitas VHS. Veja, filmes como "Universal Soldier" não lotavam cinemas na década de 90, pelo contrário, seus lançamentos em salas de exibição eram até modestos. O sucesso mesmo vinha nas locadoras de vídeo. Aí o filme fazia a festa, lucrando muito para os donos desses estabelecimentos comerciais (hoje em dia em franca extinção). Bastava conferir o ranking dos filmes mais locados do mês (havia muitos deles em revistas de cinema, também hoje em dia praticamente extintas) para perceber que qualquer filme estrelado por Jean-Claude Van Damme era sucesso imediato nas prateleiras brasileiras. Esse aqui tinha dois diferencias além de ser uma ficção: trazia no elenco o grandalhão Dolph Lundgren e era dirigido por Roland Emmerich em comecinho de carreira. Quem poderia imaginar naquela altura que esse diretor alemão iria nos anos seguintes dirigir vários blockbusters comerciais como "Godzilla", "Stargate" e "Independence Day" nos anos que viriam? Pois é, o mundo realmente dá voltas.

Pablo Aluísio.

007 Contra o Homem com a Pistola de Ouro

O serviço secreto inglês descobre que seu agente James Bond (Roger Moore) está na mira de um assassino profissional conhecido como Francisco Scaramanga (Christopher Lee). Suas intenções de liquidar 007 ficam óbvias após ser encontrado uma bala de ouro com o código de Bond impresso nela. Há suspeitas que o mesmo assassino tenha matado friamente o agente 002 numa missão. Para evitar maiores problemas a agência de espionagem resolve assim afastar Bond de seus serviços por um tempo. Livre de cumprir uma agenda de missões, Bond resolve então ir atrás por conta própria de Scaramanga. Como pista usa a própria bala que foi dirigido a ele. Em pouco tempo James Bond segue seu rastro em lugares tão distantes como Beirute, Hong Kong e Macau. O infame assassino profissional usa uma arma de ouro, com calibre próprio. Para Bond essa seria uma pista segura para se chegar até ele.

Esse foi o segundo filme de Roger Moore como James Bond. O primeiro, "Com 007 Viva e Deixe Morrer", foi sucesso de público e crítica. Uma alívio para os produtores que temiam que a franquia chegasse ao fim com a saída de Sean Connery. Esse segundo filme não é tão bom quanto o anterior, mas inegavelmente tem seus méritos. O maior deles talvez seja a presença do ótimo ator Christopher Lee como o vilão Scaramanga. Ele é um tipo bizarro, com uma característica física incomum (tem três mamilos!) e um assistente anão tão perverso quanto o próprio. Esse papel foi interpretado pelo ator Hervé Villechaize (que ficou muito conhecido no Brasil interpretando o personagem Tatu na série "A Ilha da Fantasia", que fez bastante sucesso na TV brasileira durante os anos 70). O roteiro não tem muitos mistérios ou tramas internacionais a se revelar, se resumindo muitas vezes a ser apenas uma disputa de vida ou morte entre Bond e Scaramanga. Esse porém não é um problema exclusivo do filme em si. O livro escrito por Ian Fleming em 1965 também foi criticado por essa razão. Enfim, um bom filme da safra com Roger Moore que com ele se estabeleceria definitivamente como Bond, só deixando a série em meados da década seguinte.

007 Contra o Homem com a Pistola de Ouro (The Man with the Golden Gun, Inglaterra, 1974) Direção: Guy Hamilton / Roteiro: Richard Maibaum, Tom Mankiewicz, baseados no livro escrito por Ian Fleming / Elenco: Roger Moore, Christopher Lee, Hervé Villechaize, Britt Ekland / Sinopse: O agente inglês James Bond (Roger Moore) passa a ser caçado pelo assassino profissional Francisco Scaramanga (Christopher Lee), dando início a uma disputa de vida e morte entre eles. Filme premiado pelo Saturn Award na categoria Best DVD / Blu-Ray Collection.

Pablo Aluísio. 

Um Sonho, Dois Amores

Título no Brasil: Um Sonho, Dois Amores
Título Original: The Thing Called Love
Ano de Produção: 1993
País: Estados Unidos
Estúdio: Paramount Pictures
Direção: Peter Bogdanovich
Roteiro: Carol Heikkinen
Elenco: River Phoenix, Samantha Mathis, Dermot Mulroney

Sinopse:
Miranda Presley (Samantha Mathis) resolve se mudar de Nova Iorque para Nashville em busca de uma carreira musical. Como cantora não encontra nenhuma chance, nenhuma porta aberta. Então resolve tentar como compositora mas nada parece dar muito certo. Sem saída acaba se casando com um admirador, uma união que se revelará muito problemática e desgastante.

Comentários:
Esse foi um dos últimos filmes da carreira de River Phoenix. A produção anda tão esquecida quanto o próprio ator uma vez que vinte anos após sua morte pouca gente ainda se recorda dele. Eu penso que a morte inglória de Phoenix, de overdose, numa calçada suja de Los Angeles, acabou com sua imagem. Na época ele cultivava um jeito de jovem politicamente correto, amante das artes e da ecologia. Em toda entrevista lá estava o River Phoenix falando da importância de levar uma vida saudável, consumindo apenas produtos ecologicamente corretos e blá, blá, blá. Aí de repente o sujeito morre de uma mistura de cocaína com heroína após uma balada de arromba no clube de Johnny Depp. As pessoas, suas fãs inclusive, descobriram que o Phoenix falava e pregava uma coisa publicamente e na sua vida privada fazia algo completamente diferente. Assim ficou aquela impressão de que era um hipócrita e tudo mais. De qualquer maneira chamo a atenção para o talento do rapaz. Tudo bem, Phoenix poderia ser um mentiroso mas como ator, olhando puramente por esse lado, ele realmente tinha talento dramático. Uma prova está aqui, uma produção simples, singela, de orçamento modesto mas bem cativante. A imagem de ídolo pode ter caído durante todos esses anos mas o filme e a atuação de Phoenix ainda valem a pena. Assista.

Pablo Aluísio.

quarta-feira, 25 de maio de 2016

Minhas Mães e Meu Pai

Título no Brasil: Minhas Mães e Meu Pai
Título Original: The Kids Are All Right
Ano de Produção: 2010
País: Estados Unidos
Estúdio: Universal Pictures
Direção: Lisa Cholodenko
Roteiro: Lisa Cholodenko, Stuart Blumberg
Elenco: Annette Bening, Julianne Moore, Mark Ruffalo, Mia Wasikowska, Josh Hutcherson
 
Sinopse:
Jules (Julianne Moore) e Nic (Annette Bening) formam um casal de lésbicas que precisa lidar com uma nova e inesperada situação quando seus filhos decidem descobrir a identidade de seu pai biológico. Filme indicado ao Oscar nas categorias de Melhor Filme, Melhor Atriz (Annette Bening), Melhor Ator (Mark Ruffalo) e Melhor Roteiro Original. Filme vencedor do Globo de Ouro nas categorias de Melhor Filme - Comédia ou Musical e Melhor Atriz (Annette Bening).

Comentários:
A família tradicional (pai, mãe e filhos) já não é mais a mesma de antes pois agora temos variações decorrentes do reconhecimento de união civil de pessoas do mesmo sexo. É justamente esse o tema central do filme "The Kids Are All Right". Aqui no caso temos dois jovens que foram criados por um casal de lésbicas que em determinado momento de suas vidas decidem conhecer seu pai biológico, um sujeito que apenas vendeu seu sêmen para uma clínica de fertilização. Intencionalmente o roteiro não procura explorar o preconceito que vive o casal de mulheres diante da sociedade em geral, procurando ao invés disso focar apenas nos conflitos que nascem quando um terceiro elemento (o pai biológico) entra no relacionamento daquela família diferenciada (e não isenta de problemas, como toda e qualquer família normal). Como é um drama de relações humanas o grande destaque vai para o trabalho do elenco, em especial Julianne Moore e Annette Bening que forma o casal lésbico. Bening é a cabeça da família, forte e decidida, uma médica bem sucedida na carreira, enquanto Moore apresenta uma personalidade mais passiva, submissa e até mesmo insegura, tentando iniciar algum negócio profissional que dê certo em sua vida repleta de tentativas mal sucedidas. Mark Ruffalo é o pai desconhecido, um sujeito comum que é surpreendido pela chegada inesperada de seus filhos que ele sequer sabia que existiam. Em suma, uma produção indicada especialmente para o público GLS que mais cedo ou mais tarde poderá enfrentar situações semelhantes a essa diante dessa nova realidade social.

Pablo Aluísio.

Hellraiser II - Renascido das Trevas

Título no Brasil: Hellraiser II - Renascido das Trevas
Título Original: Hellbound: Hellraiser II
Ano de Produção: 1988
País: Estados Unidos, Inglaterra
Estúdio: New World Pictures
Direção: Tony Randel, Clive Barker 
Roteiro: Peter Atkins
Elenco: Doug Bradley, Ashley Laurence, Clare Higgins

Sinopse:
Duas jovens garotas resolvem usar o cubo para irem até o inferno em busca do pai de uma delas. Uma vez nas trevas precisam enfrentar os sádicos e torturadores cenobitas, um médico psicopata e uma mulher enlouquecida pelas chamas eternas da noite eterna, comandadas pelo grande leviatã.

Comentários:
Sequência do cult Hellraiser! O criador de todo o conceito da saga, Clive Barker, acabou brigando com os produtores do estúdio durante os preparativos da continuação e por isso foi afastado, o que não impediu de ter sido creditado como roteirista, pois afinal de contas ele teria escrito todo o enredo dessa segunda parte. O filme foi bem recebido pela crítica em geral, mas os fãs dos cenobitas reclamaram pois o roteiro fazia inúmeras concessões no objetivo de tornar a fita mais comercial e aceita dentro do circuito mainstream. A principal crítica era referente à dupla de garotas que conseguia enfrentar os maiores demônios da escuridão e se sair bem, vivas! Um absurdo completo. O primeiro Hellraiser ficou conhecido por fugir desse tipo de clichê barato, com final feliz. Os adoradores do filme original queriam algo mais incisivo, forte mesmo, com tintas exageradas. De qualquer maneira, apesar do roteiro ser de certa forma medroso em ir até as últimas consequências, o filme ainda se mantém como um bom terror dos anos 80. Não chega a ser uma obra cult como o primeiro mas mantém o interesse, apesar de suas falhas.

Pablo Aluísio.

terça-feira, 24 de maio de 2016

George Lucas

Em 1999 o diretor e roteirista George Lucas deu uma rara entrevista a uma revista americana onde falou com extrema sinceridade sobre sua vida e obra. Lucas sempre foi considerado um cineasta que não dava entrevistas à imprensa e só havia aberto espaço naquele ano por causa do lançamento de "Star Wars - Episódio I - A Ameaça Fantasma", um filme muito aguardado, mas que de certa maneira frustrou as expectativas dos fãs da saga.

Perguntado porque havia se passado tanto tempo entre "O Retorno de Jedi" (lançado em 1983) e esse novo filme Lucas explicou que ainda não existia tecnologia necessária para colocar suas ideias na tela. Ele queria filmar o começo de toda a estória, o primeiro episódio, que havia escrito ainda nos anos 70. Como se sabe o primeiro filme "Guerra nas Estrelas" era na verdade o quarto episódio de uma saga escrita por Lucas ainda na universidade. Alguns personagens foram suprimidos e outros criados pois para Lucas aquele enredo era o mais acessível para o público na época. O filme se tornou uma das grandes bilheterias da história do cinema, rompeu marcos históricos de vendas de ingressos e virou um fenômeno, gerando muito dinheiro em licenciamento de brinquedos, bonecos, produtos, etc. Isso era algo inédito até então. Depois vieram mais dois blockbusters, "O Império Contra-Ataca" e "O Retorno de Jedi" e então Lucas parou tudo.

Nessa mesma entrevista, em um momento de sinceridade, Lucas ainda admitiu que a falta de tecnologia em efeitos especiais não foi o único motivo de ter se afastado de "Star Wars" e sua saga. Havia um elemento em sua vida pessoal também. Sua primeira esposa o abandonou por um homem dez anos mais jovem, o que Lucas disse ser "uma história clássica de traição" e isso o devastou por anos e anos. Veio em seguida uma depressão profunda que o paralisou como artista e cineasta. Depois disso Lucas colocou todo o material de "Star Wars" de lado para tentar organizar novamente sua vida pessoal.

O fato é que "Star Wars" poderia ter se encerrado definitivamente na trilogia original. Lucas já não tinha mais interesse até que a Fox resolveu lhe fazer uma proposta absurda em termos de dinheiro para que ele retomasse uma nova trilogia. Essa segunda trilogia não seria tão bem sucedida em termos de crítica como a primeira. Os filmes tinham roteiros ruins e pasmem, nem os efeitos especiais ficaram tão bons como era esperado. Some-se a isso a avalanche de críticas que Lucas teve que aguentar dos próprios fãs da saga e você entenderá porque há alguns anos ele resolveu finalmente se livrar de tudo, vendendo todos os direitos para a Disney. Milionário e renascido com uma nova paixão (uma jornalista negra), Lucas não parece disposto a se envolver novamente com o universo que criou. Esse tempo acabou em sua vida, segundo sua própria opinião.

Pablo Aluísio.

A Lista de Schindler

Quando "Schindler's List" chegou aos cinemas em 1993 a crítica de todo o mundo disse que Steven Spielberg tinha finalmente crescido e virado um adulto. Era uma metáfora pelo fato de que o diretor que havia se consagrado na carreira com filmes com muita fantasia e imaginação finalmente encarava um drama histórico com tema extremamente pesado. "Schindler's List" deixava o mundo de Peter Pan de lado, pois era real, dolorosamente real. O roteiro era inspirado na história real do industrial alemão Oskar Schindler. No começo da Segunda Guerra Mundial ele havia usado de toda a sua influência no Partido Nazista para que fosse enviado o máximo de judeus em ritmo de trabalho escravo para trabalharem como mão de obra em sua fábrica. Com o tempo porém algo aconteceu e Schindler começou a pedir mais e mais mão de obra com a clara intenção de salvar todos aqueles judeus dos campos de concentração da Alemanha Nazista. E assim, fazendo listas e mais listas com o nome desses judeus ele salvou gerações de serem mortas pela política de extermínio final do III Reich. Durante anos a figura desse industrial foi controversa, havendo apoiadores e detratores. Spielberg optou por celebrar seus atos. O filme é dessa maneira uma celebração de sua memória. O que Spielberg louva e homenageia é e atitude do industrial em salvar as vidas humanas do povo judeu perseguido.

O diretor resolveu filmar em preto e branco como uma espécie de referência à época em que se passa a história. Apenas trouxe cores para um pequeno momento do filme envolvendo uma garotinha prestes a encarar o horror do holocausto. Nesse ponto acertou, assim como acertou no maravilhoso elenco. Liam Neeson interpreta o industrial, Ben Kingsley o seu assistente judeu que o ajuda na elaboração da lista e finalmente Ralph Fiennes arrasa como o oficial alemão já enlouquecido pela loucura e insanidade da guerra e da morte de tantas pessoas, todas em ritmo industrial, sem humanidade, sem alma e sem perdão. "A Lista de Schindler" é certamente o mais relevante filme da carreira de Steven Spielberg. Um filme deveras humano de um momento em que faltou justamente humanidade para aquele regime completamente brutal. A mensagem que fica é perene e imortal: holocausto nunca mais!

Pablo Aluísio.

sábado, 21 de maio de 2016

Os Homens que Pisaram na Cauda do Tigre

Título no Brasil: Os Homens que Pisaram na Cauda do Tigre
Título Original: Tora no o wo fumu otokotachi
Ano de Produção: 1945
País: Japão
Estúdio: Toho Company
Direção: Akira Kurosawa
Roteiro: Akira Kurosawa
Elenco: Denjirô Ôkôchi, Susumu Fujita, Ken'ichi Enomoto

Sinopse:
No Japão feudal do século XII, dois clãs familiares lutam entre si. O clã samurai Heike luta para dominar as vastas terras dos guerreiros Minamotos. Após uma sangrenta batalha o general Yoshitsune Yoritomo volta para seu lar em Kyoto mas descobre que seu irmão, o Shogun Yoritomo, está traindo seu próprio clã. Após escapar de uma emboscada ele consegue fugir com seis de seus mais leais samurais ao se disfarçarem de monges. Agora terão que lutar por suas próprias vidas ao mesmo tempo em que tramam a queda do traidor de sua própria casa. 

Comentários:
"Os Homens que Pisaram na Cauda do Tigre" foi realizado em um dos períodos históricos mais terríveis da história do Japão. Nesse mesmo ano de 1945 duas cidades japonesas, Hiroshima e Nagasaki, foram varridas do mapa por duas bombas nucleares jogadas por aviões americanos, selando dessa forma o fim da Segunda Guerra Mundial. A sociedade japonesa assim passaria por transformações que a moldariam para o que se tornou  hoje em dia. Velhas tradições seriam substituídas pela tecnologia e pela cultura americana. O inimigo e sua invasão cultural mudariam os gostos e padrões dos japoneses para sempre. Akira Kurosawa porém procurava resgatar parte dessa tradição cultural. O filme é uma adaptação de uma peça teatral milenar, que sempre fez parte do folclore do Japão. Seu trabalho é realmente fantástico, mesmo sob o olhar atual. Kurosawa explora as tradições e valores ancestrais mas de uma forma atrativa, sem se tornar chato ou pretensioso. Embora tenha sido apenas seu quarto filme - e o primeiro a chegar ao Brasil - ele já dava muitos sinais de seu grande talento como cineasta e humanista. Uma obra que já antecede o gênio que iria se revelar nos anos seguintes.

Pablo Aluísio.

sexta-feira, 20 de maio de 2016

The Offering

Título Original: The Offering
Título no Brasil: Ainda Não Definido
Ano de Produção: 2016
País: Estados Unidos, Singapura
Estúdio: Highland Film Group
Direção: Kelvin Tong
Roteiro: Kelvin Tong
Elenco: Elizabeth Rice, Pamelyn Chee, Matthew Settle
  
Sinopse:
Após a morte de sua irmã em Singapura, a jovem americana Jamie Waters (Elizabeth Rice) resolve viajar até aquele distante país asiático para trazer sua sobrinha de volta aos Estados Unidos. Uma vez lá começa a desconfiar das causas da morte de sua irmã, uma vez que o laudo oficial determinava como causa mortis o suicídio. Pesquisando ela descobre que a velha casa onde ela morava teria um passado negro, onde vários membros de uma mesma família teriam sido mortos por um pai enlouquecido, que praticava magia negra. Agora ela precisa salvar a sobrinha das garras do mal absoluto.

Comentários:
Alguns roteiros de filmes de terror possuem muito potencial. Infelizmente nem sempre grandes ideias dão muito certo nas telas. É o que vejo no caso dessa produção. Há várias boas ideias dentro da trama, mas nenhuma delas é bem trabalhada ou desenvolvida. O simbolismo que vai surgindo é um dos pontos mais interessantes que fica pelo meio do caminho. Várias pessoas, de diferentes camadas sociais, cometem suicídio. No lugar onde as mortes ocorrem surge um velho símbolo demoníaco referente a Leviatã, uma velha criatura citada no velho testamento. Isso por si só já daria margem a uma boa estória de terror, mas nada é muito bem realizado nesse aspecto. A atriz Elizabeth Rice é bonita e diria até talentosa, mas não tem muito o que fazer com o material do roteiro. Em termos de efeitos especiais eles são até discretos. Na cena final acontece um grande exorcismo envolvendo um padre traumatizado com rituais desse tipo, pois no passado uma pessoa exorcizada por ele teria morrido em suas mãos. A culpa então se torna esmagadora. Por essa razão sua fé estaria abalada, chegando ao ponto dele duvidar até mesmo da existência de Deus. Agora, frente a frente com o Leviatã, ele precisa voltar a erguer uma muralha de espiritualidade em torno de si mesmo. Outro fato que acabei percebendo foi que as situações criadas pela trama acabam tendo soluções rápidas demais. Fora isso o suspense não é bem desenvolvido. Em suma, tudo pode ser resumido mesmo na seguinte frase: várias boas ideias que não foram bem aproveitadas. Fica para a próxima então.

Pablo Aluísio.

Revólver

Título no Brasil: Revólver
Título Original: Revolver
Ano de Produção: 2005
País: França, Inglaterra
Estúdio: EuropaCorp Films
Direção: Guy Ritchie
Roteiro: Luc Besson, Guy Ritchie
Elenco: Jason Statham, Ray Liotta, Vincent Pastore, Mark Strong
  
Sinopse:
Jake Green (Jason Statham) passa longos anos preso. Ele acabou caindo numa cilada armada por outro criminoso chamado Dorothy Macha (Ray Liotta). Pior do que isso, acaba sendo também diagnosticado com uma rara doença que lhe dá pouco tempo de vida. Assim Jake não tem como esperar para promover sua vingança pessoal contra Macha e é justamente isso o que ele pretende fazer com suas poucas semanas de vida. Filme premiado pelo Golden Trailer Awards na categoria de Melhor Trailer - Filme de ação estrangeiro.

Comentários:
As qualificações desse filme de ação são as melhores possíveis. Primeiro é um filme inglês com Jason Statham. Eu já escrevi várias vezes de que qualquer produção britânica com Jason vale muito a pena. Certo, nos Estados Unidos ele realmente estrelou algumas bobagens, mas dentro da indústria inglesa de cinema ele só acertou. Não sei quais as razões disso acontecer, mas é uma verdade absoluta na filmografia de Statham. O segundo aspecto positivo é que o filme foi dirigido por Guy Ritchie. Esse é um cineasta que sempre procura fugir do lugar comum. Duvida? Basta olhar para a linguagem de Revolver para entender bem isso. Guy não parte de uma narrativa convencional, mas foge disso para não parecer óbvio demais. Assim tudo ganha um clima meio surreal, quase louco. Além disso o roteiro foi escrito a quatro mãos em parceria com Luc Besson. Hoje em dia Besson já não está mais em seus dias mais talentosos, mas pelo menos mantém uma certa postura artística de também fugir do lugar comum. Some-se a isso a pitada final da presença de Ray Liotta (ele sempre está ótimo em filmes de gangsters) e você terá uma fita de ação acima da média, valorizada pela narrativa fora do normal e por uma quantidade de cenas de ação bem realizadas para ninguém colocar defeito. Assim se você estiver a procura de uma boa fita com muita ação e originalidade deixo a dica de "Revolver". Certamente você não se arrependerá da escolha. É um filme pauleira com muito estilo.

Pablo Aluísio.

terça-feira, 17 de maio de 2016

A Incrível História de Adaline

Achei muito simpático e diria até mesmo docemente romântico esse filme sobre uma mulher que nunca envelhece. Após um acidente em seu carro ela se torne imune ao envelhecimento. Os anos passam, os amigos e amores se vão, mas ela fica, eternamente jovem e bonita. É uma fábula sobre o passar dos anos, o envelhecimento e a busca pela eterna juventude (embora a personagem principal nunca tenha procurado por isso, sendo apenas vítima de uma série de circunstância que fogem ao seu controle). A direção de arte do filme é bela, valorizada pelo fato de que o roteiro se passa em várias épocas históricas, desde a década de 1930 até os nossos dias. Tudo muito elegante, fino e sofisticado. O próprio figurino de Adeline se torna um atrativo e merecia, em minha opinião, ser indicado ao Oscar.

A produção é estrelado pela atriz Blake Lively, muito conhecida pelos fãs de séries. Ela se tornou famosa ao estrelar a série adolescente de grande sucesso "Gossip Girl" onde fazia uma jovem da elite de Nova Iorque que tinha que lidar com um blog de fofocas na net que seguia seus passos e o de suas amigas. Deixando isso um pouco de lado o grande mérito de "A Incrível História de Adaline" vem da união que nasce envolvendo juventude e sabedoria. A protagonista ganha experiência de vida ao longo dos anos vividos, ao mesmo tempo em que mantém sua beleza jovial. Seria o sonho de muita gente, porém de modo indireto e de forma bem inteligente é justamente isso que seu argumento critica. De forma sutil o roteiro traz ainda uma reflexão sobre o fato inexorável da finitude da existência humana: a perda daqueles que amamos e de tudo aquilo que faz parte de nosso universo. Tudo isso um dia chegará ao fim, pois nada é eterno. Esse aliás é o grande drama na vida de Adaline, onde todos estão fadados a passarem pela vida, menos ela. Nesse aspecto sua vida logo se torna uma grande tragédia e um fardo existencial.

A Incrível História de Adaline (The Age of Adaline, Estados Unidos, 2015) Estúdio: Lakeshore Entertainment / Direção: Lee Toland Krieger / Roteiro: J. Mills Goodloe, Salvador Paskowitz  / Elenco: Blake Lively, Michiel Huisman, Harrison Ford / Sinopse: Após um acidente de carro na década de 1930 a jovem Adaline ganha a capacidade inexplicável de ser imune ao passar dos anos, nunca envelhecendo, ficando eternamente jovem e bonita.

Pablo Aluísio.

A Ascensão dos Krays

Filme inglês que conta a história de dois irmãos que se tornam gangsters em Londres durante os anos 1950. Inicialmente eles sobem na hierarquia do submundo do crime extorquindo comerciantes do leste da cidade. Em troca de proteção (deles mesmos, é bom frisar) cobram dinheiro desses pequenos estabelecimentos. Aos poucos vão subindo usando de chantagem, suborno, violência e extorsão. Tudo começa a correr bem para os Krays até que um dos irmãos, Ronnie (Simon Cotton), começa a apresentar problemas mentais. Diagnosticado como esquizofrênico ele se torna uma bomba relógio, cometendo atos de extrema violência gratuita, o que começa a colocar em risco a própria sobrevivência de sua quadrilha. A partir daí rompe-se o suposto equilíbrio entre os próprios irmãos, desencadeando uma verdadeira guerra nas ruas.

Essa produção britânica, até bem realizada, com bom roteiro e boa reconstituição de época poderá agradar aos que gostam de filmes de gangsters. Um dos aspectos que mais me chamou atenção foi a forma como essas gangues inglesas escolhiam para resolver suas diferenças. Enquanto as quadrilhas americanas partiam logo para o uso de metralhadoras e armas de grosso calibre, havia ainda um tabu no uso de armas entre os criminosos ingleses. Tudo era resolvido no punho, em brigas de socos das mais violentas. Essa regra não escrita entre criminosos de Londres só seria quebrada justamente por um dos irmãos Kray, o insano Ronnie, que passou a andar armado, promovendo inclusive torturas em membros de bandos rivais. Nesse aspecto o filme recria o dia em que esse bandido colocou as mãos em um irmão de um de seus inimigos. Não foi certamente algo bonito de se ver. Enfim, bom filme policial, com uma trilha sonora recheada de clássicos do rock inglês em seus primórdios, que no geral cumpre bem seus propósitos.

A Ascensão dos Krays (The Rise of the Krays, Inglaterra, 2015) Direção: Zackary Adler / Roteiro: Ken Brown, Sebastian Brown / Elenco: Matt Vael, Simon Cotton, Kevin Leslie / Sinopse: Dois irmãos se tornam líderes de uma gangue que passa a dominar Londres durante os anos 1950. Para subir no mundo do crime não seguem limites, usando de violência e tortura para subjugar todos aqueles que cruzam seu caminho. Filme vencedor do Marbella Film Festival na categoria de Melhor Ator (Kevin Leslie).

Pablo Aluísio.

domingo, 15 de maio de 2016

A Menina que Roubava Livros

O contexto histórico do filme se passa na Alemanha Nazista. Hitler está no poder e domina toda a sociedade alemã. Nesse cenário a jovem garota Liesel Meminger (Sophie Nélisse) vai morar com um casal alemão numa pequena cidade de interior. Seu irmão mais jovem está morto. Sua mãe é um fugitiva da perseguição política. No novo lar ela aos poucos vai se acostumando com a rotina. Começa a frequentar a escola e faz amizades, entre eles o garoto Rudy (Nico Liersch) que acaba tendo uma quedinha por ela. Para Liesel porém sua grande paixão são os livros. Ela, alfabetizada tardiamente, tem uma grande atração pela leitura, mas sendo uma garota pobre não tem dinheiro para comprá-los. Enquanto vai vivendo precisa conviver também, como todo o povo alemão, com as desgraças e tragédias da guerra que vai aumentando cada vez mais de intensidade. Os bombardeios se tornam diários e a morte começa a ser uma presença cada vez mais próxima.

Excelente filme. Baseado no romance escrito por Markus Zusak a estória tem um grande mérito que é mostrar e dar um rosto bem humano ao povo alemão que foi de certa maneira também uma das maiores vítimas do nazismo. A família de Liesel é um exemplo disso. São pessoas comuns e humildes. Sua mãe adotiva ganha a vida passando roupas. Seu pai (interpretado por um Geoffrey Rush, em nova e inspirada atuação) vive de pequenos serviços pela vizinhança. Nenhum deles é um nazista fanático, são boas pessoas, porém são engolidas por uma ideologia que levaria toda a nação para o caos completo. Um dos aspectos mais interessantes desse filme vem da narração em off da própria morte. Sim, a morte se torna um personagem importante no enredo, narrando com fina ironia e humor negro, sua chegada ao povo alemão, pelas mãos da guerra. No mais é um retrato bem humanista de uma jovem que perde a inocência em um dos momentos mais dramáticos da história. Como é um romance não se baseia em fatos reais, mas bem poderia, pela força de sua mensagem.

A Menina que Roubava Livros (The Book Thief, Estados Unidos, Alemanha, 2013) Direção: Brian Percival / Roteiro: Michael Petroni, baseado no romance de Markus Zusak / Elenco: Sophie Nélisse, Geoffrey Rush, Emily Watson, Ben Schnetzer, Oliver Stokowski / Sinopse: Uma jovem garota vai morar com um casal alemão durante a II Guerra Mundial. Em uma nova escola, conhecendo novas amizades, ela precisa conviver com uma realidade dura, de destruição e morte, enquanto seus pais adotivos escondem no porão um judeu chamado Max (Oliver Stokowski) que procura sobreviver à perseguição nazista contra seu povo. Filme indicado ao Oscar, ao Globo de Ouro e ao BAFTA Awards na categoria de Melhor Trilha Sonora (John Williams). Vencedor do Grammy Awards na mesma categoria.

Pablo Aluísio.

sábado, 14 de maio de 2016

Pandorum

Dois séculos no futuro a humanidade está em colapso. Com mais de 30 bilhões de seres humanos o planeta não suporta mais manter toda a população. Há escassez de água e comida. A solução é enviar uma nave colonizadora em direção a um planeta distante que parece ter condições de sobrevivência. Durante a jornada o astronauta Bower (Ben Foster) finalmente acorda após passar meses em hibernação. Ele não consegue mais se lembrar direito o que aconteceu. O ambiente dentro da espaçonave é o pior possível. O sistema central está inoperante. Não há sinais da tripulação e estranhas criaturas parecem infestar as salas escuras e sombrias do lugar. Quando o tenente Payton (Dennis Quaid) também desperta de sua câmara de hibernação ambos se unem para descobrirem o que afinal estaria acontecendo, onde estariam e para onde iriam dentro daquela atmosfera de caos, insanidade e desespero.

Pandorum é mais um filme na linha Dark Fiction. O futuro é sombrio. Perdidos no espaço, dois membros da tripulação tentam sobreviver a um ambiente completamente insano. O diretor alemão Christian Alvart bebe diretamente da fonte de filmes como "Aliens", muito embora passe longe de chegar perto do terror e suspense daquela franquia. Há o clima sufocante, o roteiro bem criado, mas ele se perde em não saber fazer direito o clima adequado para esse tipo de produção. As criaturas, por exemplo, não são bem trabalhadas. Elas surgem quase todo o tempo, mais parecendo um misto de zumbis com vampiros. Não sobra muita coisa para a imaginação. Há também a tentativa de desenvolver um pouco de terror psicológico pois dentro do roteiro a longa permanência no espaço dá origem a um distúrbio nos tripulantes conhecido como Pandorum. Os astronautas atingidos por esse mal trilham o caminho da insanidade e da alucinação. Dessa forma qualquer um poderia estar delirando, embora o espectador sempre fique na dúvida sobre quem estaria atingido por essa doença. No geral pode-se assistir sem maiores problemas, embora para a maior parte do público tudo soe realmente como mais do mesmo. Melhor rever a série original "Aliens".

Pandorum (Pandorum, Estados Unidos, 2009) Direção: Christian Alvart / Roteiro: Travis Milloy / Elenco: Dennis Quaid, Ben Foster, Cam Gigandet, Antje Traue / Sinopse: Dois tripulantes de uma nave colonizadora tentam sobreviver enquanto são atacados por estranhas criaturas. Eles precisam sobreviver para chegar no reator nuclear, retomando o controle da expedição. Filme dirigido pelo mesmo diretor do terror "Caso 39".

Pablo Aluísio. 

sexta-feira, 13 de maio de 2016

Assim Estava Escrito

Essa semana tive a oportunidade de assistir a mais um belo clássico da era de ouro do cinema americano. O filme se chama "Assim Estava Escrito" (no original "The Bad and the Beautiful"). Produzido em 1952 e dirigido pelo mestre Vincente Minnelli, o filme é um primor cinematográfico.

O eterno astro Kirk Douglas interpreta Jonathan Shields. Seu pai foi um importante produtor de Hollywood na era do cinema mudo. Com sua morte não sobram muitas coisas além de dívidas para Shields. Ele então resolve arregaçar as mangas e vai à luta. Sua ambição é tornar-se produtor tal como seu pai no passado. Por onde começar? Bom, seu primeiro lance de sorte vem quando conhece um jovem diretor, cheio de novas ideias, chamado Fred Amiel (Barry Sullivan).

Inicialmente a dupla, para sobreviver, topa praticamente tudo, inclusive a realização de uma horrenda série de filmes de terror B sobre homens felinos que atacam suas vítimas na escuridão da noite. Uma porcaria. Essas produções porém rendem o dinheiro de que eles precisavam. Agora capitalizado Shields planeja algo maior, a adaptação de um famoso livro da literatura para as telas. Só falta mesmo convencer um estúdio maior a embarcar na ideia. Sem dinheiro para contratar um grande astro ou uma grande estrela, o jovem produtor resolve então apostar todas as suas fichas numa atriz desconhecida, corroída pelo alcoolismo e pelo fracasso na carreira chamada Georgia Lorrison (interpretada pela maravilhosa Lana Turner). Embora negasse isso o fato é que essa personagem se parecia demais como Marilyn Monroe para tudo parecer mera coincidência. Insegura, frágil emocionalmente, ela era um retrato da famosa estrela de Hollywood do mundo real.

O roteiro de "Assim Estava Escrito" foi todo planejado como um grande flashback. Um dono de estúdio de cinema, Harry Pebbel (Walter Pidgeon), resolve reunir todas essas pessoas que começaram suas carreiras pelas mãos de Shields para convidá-las a voltarem a trabalharem com ele. Uma a uma elas porém vão recusando e começam a contar como Shields as decepcionou no passado. Primoroso o texto, uma aula de sétima arte. Kirk Douglas não foi um astro comum em seu tempo. Ele assumia riscos e se aliava a grandes profissionais do cinema, tal como seu produtor aqui nesse filme. De certa maneira sua atuação reflete um pouco de seu próprio jeito de agir e atuar. Ele foi realmente grande na era de ouro do cinema clássico americano. "Assim Estava Escrito" é apenas mais uma prova definitiva sobre isso.

Assim Estava Escrito (The Bad and the Beautiful, EUA, 1952) Direção: Vincente Minnelli / Roteiro: Charles Schnee, George Bradshaw / Elenco: Lana Turner, Kirk Douglas, Walter Pidgeon / Sinopse: Famoso produtor de Hollywood encontra dificuldades para montar sua nova equipe para um novo filme por causa de atitudes que tomou no passado. Um a um todos se recusam a trabalharem novamente com ele. Filme premiado com o Oscar na categoria de Melhor Atriz Coadjuvante.

Pablo Aluísio.

terça-feira, 10 de maio de 2016

Friday the 13th - Sexta-Feira 13

Como hoje é Sexta-Feira 13 nada melhor do que relembrar uma das mais populares séries de filmes de terror de todos os tempos: Friday the 13th. Tudo começou em 1980 quando a Paramount Pictures deu autorização e liberou o orçamento de um novo filme sobre psicopatas. A ideia inicial era realizar uma espécie de "Psicose" mais moderno e com menos papo sobre psicologia e psiconeuroses. Ao invés de criar todo um passado cheio de traumas para justificar o ato do psicopata protagonista do filme o estúdio queria realmente algo bem sangrento, que não perdesse muito tempo com Freud.

Nasceu assim o personagem Jason Voorhees. Como havia sido determinado pelo estúdio seu passado não deveria dominar muito tempo do filme - partindo-se logo para os finalmentes, com adolescentes e jovens sendo trucidados na sinistra região de Crystal Lake. Ele era filho de Pamela Voorhees, cozinheira da estação de turismo local. Por problemas de gestação de sua mãe, Jason nasceu com deformidades físicas e mentais, o que logo o transformou em alvo de bullying das demais crianças que o chamavam de monstro. Tudo mudou até o dia em que dois jovens foram encontrados mortos em Crystal Lake. Quem os teria matado?

Após a morte de sua mãe, Jason continuou vivendo pelas florestas da região, sempre evitando contato com outras pessoas. Complexado por sua aparência jamais se deixou ver e com problemas mentais começou a se vingar daqueles que o zombavam. Assim muitos jovens foram desaparecendo, sendo que a polícia nunca conseguia decifrar completamente os crimes. Isso obviamente abriu margem para uma série tão popular quanto econômica. Os filmes de Jason custavam pouco, rendiam muitos lucros e não contavam em seu elenco com atores caros. Nem o personagem custava muito para a Paramount já que como usava máscara poderia ser interpretado por dublês que eram mudados a cada nova produção.

A franquia original rendeu 10 filmes. O primeiro chamado simplesmente Sexta-Feira 13 foi dirigido pelo cineasta Sean S. Cunningham. Nesse que é considerado um dos melhores o roteiro procurava explicar as origens do psicopata, embora a trama trouxesse novidades e surpresas. O primeiro ator a interpretar Jason foi Ari Lehman. A famosa máscara de hockey não havia surgido ainda. Com o sucesso começaram a surgir as sequências em série. Steve Dash assumiu o personagem e começou a dar a força sobrenatural que caracterizava o assassino. Não importava o que era feito a Jason, ele nunca parecia morrer!

Os filmes seguintes seriam meras imitações dos dois primeiros filmes. Os roteiros eram praticamente os mesmos. Um grupo de jovens ignoravam a lenda de mortes de Crystal Lake e iam para lá acampar. Não demorava muito e as mortes começavam. A única novidade de filme para filme era as maneiras como Jason matava suas vítimas. Conforme os anos iam passando essas cenas com muito sangue iam se tornando cada vez mais exageradas, até caírem completamente no caricato e burlesco. De assustador Jason passou a ser ridículo. O único sobro de inovação veio com a sexta parte que trazia pela primeira vez em anos algumas divertidas mudanças no roteiro.

Os filmes continuaram e foram até o limite. Os orçamentos iam ficando cada vez menores e as bilheterias também. A crítica detestava cada novo lançamento. A Paramount porém não parecia desistir de Jason até que em 2001 a franquia original chegou ao final com o péssimo Jason X, uma mistura mal feita de terror e ficção onde o humor trash definitivamente não funcionava e nem tampouco os efeitos especiais, simplesmente pavorosos. Infelizmente o psicopata Jason parece ter pendurado seu facão. Embora a Paramount tenha tentado renovar Jason no cinema com filmes ruins como "Jason vs Freddy" e o remake mais recente, nada parece dar muito certo. O tempo de Jason passou. Ele foi interessante, principalmente nos anos 80, quando o cinema de terror viveu seu auge criativo. Hoje em dia já não existe mais razão de ser. É hora de finalmente Crystal Park descansar de suas matanças.

1. Sexta-Feira 13 (1980)
Direção: Sean S. Cunningham
2. Sexta-Feira 13 Parte 2 (1981)
Direção: Steve Miner
3. Sexta-Feira 13 Parte 3 (1982)
Direção: Steve Miner
4. Sexta-Feira 13 Parte 4: O Capítulo Final (1984)
Direção: Joseph Zito
5. Sexta-Feira 13 Parte 5: Um Novo Começo (1985)
Direção: Danny Steinmann
6. Sexta-Feira 13 Parte 6: Jason Vive (1986)
Direção: Tom McLoughlin
7. Sexta-Feira 13 Parte 7: A Matança Continua (1988)
Direção: John Carl Buechler
8. Sexta-Feira 13 Parte 8: Jason Ataca Nova Iorque (1989)
Direção: Rob Hedden
9. Jason Vai para o Inferno: A Última Sexta-Feira (1993)
Direção: Adam Marcus
10. Jason X (2001)
Direção: James Isaac
11. Freddy vs. Jason (2003)
Direção: Ronny Yu
12. Sexta-Feira 13 (2009)
Direção: Marcus Nispel

Pablo Aluísio . 

As Profecias do Dr. Terror

Uma boa dica para quem gosta de filmes antigos é rever (ou ver pela primeira vez, conforme o caso) velhas produções inglesas de terror. A minha indicação de hoje vai para o clássico "As Profecias do Dr. Terror" (Dr. Terror's House of Horrors, Inglaterra, 1965). Veja bem, havia uma sofisticação nessas produções que não se via em lugar nenhum do mundo naquela época. Enquanto Hollywood produzia faroestes e dramas em ritmo industrial, os ingleses se especializaram em filmes de terror, alguns hoje em dia considerados verdadeiras obras primas do gênero.

Nessa fita temos um atrativo a mais, a presença de dois ícones em cena, Christopher Lee e Peter Cushing. Enquanto Lee interpreta um cético, um arrogante homem que vive como crítico de arte em Londres, Cushing dá vida (ou morte, dependendo do ponto de vista) ao protagonista. Ele se apresenta como o Dr. W. R. Schreck aos demais passageiros de um trem durante uma viagem noturna partindo de Londres. Ao cochilar acaba deixando cair ao chão sua bagagem que revela um baralho de cartas de tarot. Quem conhece esse tipo de filme sabe que nada acontece ao acaso. As cartas despertam a curiosidade dos demais passageiros que pedem ao sinistro doutor que leia o futuro de cada um deles.

Esse gancho narrativo assim abre a oportunidade do roteiro contar cinco contos de terror, cada um deles explorando algum tipo de estória clássica de horror. Há espaço para todos os gostos nesse menu. No primeiro conto um jovem arquiteto é contratado para ir até uma velha casa nos arredores da cidade. Sua dona deseja fazer reformas nela. Para verificar se isso seria possível ele desce até o porão e lá encontra uma velha tumba que reza a lenda pertenceu ao antigo morador que nas noites de lua cheia se transformava em uma criatura, metade homem, metade lobo (o nosso conhecido lobisomem dos filmes clássicos). Não é por outra razão que esse primeiro conto se chama "Werewolf".

Os dois seguintes são os mais fracos. O segundo, intitulado "Creeping Vine", é certamente o mais sem graça. Chegou a me lembrar de "A Pequena Loja de Horrores". Nele uma planta desconhecida começa a aterrorizar uma família quando começa a atacar todos os moradores (e até o cachorrinho de estimação) da região. Fraquinho realmente. O terceiro é um pouco melhor. Em "Voodoo" um trombonista inglês paga caro quando em turnê com sua banda numa ilha do Caribe resolve fazer chacota de uma velha divindade da religião vodu local. O quarto conto de terror se sobressai pois tem o excelente Christopher Lee no elenco. Ele é um crítico de arte boçal que paga caro por sua arrogância. Por fim em "Vampire" um jovem Donald Sutherland acaba descobrindo que seu casamento não é a maravilha que ele pensava já que sua própria esposa é uma vampira.

Pelas resenhas dos contos já deu para perceber que há muito humor negro inglês envolvido. O filme foi produzido pela Amicus Productions que concorria com a Hammer por esse mercado de produções de terror. Ambas se notabilizaram pela sofisticação, bom gosto e bons filmes. Certamente uma época de ouro para quem era fã de filmes desse estilo.

Pablo Aluísio. 

segunda-feira, 9 de maio de 2016

Brooklyn

Minha recomendação de hoje vai para o filme Brooklyn de John Crowley. Em um momento em que dramas humanos são cada vez mais raros nas telas nada melhor do que encontrar esse drama muito sensível, baseado em fatos reais, sobre a vida de uma jovem irlandesa que decide mudar tudo em sua vida, indo morar nos Estados Unidos no começo do século XX. O roteiro explora assim a vida de milhões de pessoas que emigraram de seus países de origem em busca de novas oportunidades, novas perspectivas de vida. Com produção muito bem realizada (de encher os olhos do espectador), Brooklyn se destaca também pela maravilhosa interpretação da atriz Saoirse Ronan. Dona de expressivos olhos azuis e uma maravilhosa capacidade dramática, ela tem aqui a oportunidade de estrelar o filme de sua vida.

Sua personagem é maravilhosa porque no final das contas é uma pessoa comum. De família humilde ela percebe que provavelmente morrerá trabalhando no mesmo empreguinho de sempre na sua pequena cidade na Irlanda. Por isso toma a corajosa decisão de cruzar o Atlântico, indo morar no bairro Nova Iorquino do Brooklyn. Logo arranja emprego numa loja de departamento, conhece um jovem trabalhador italiano, honesto e de boa índole, e se matricula em um curso noturno. Em poucas palavras, começa a lutar por uma vida melhor. Gostei bastante desse filme e não poderia deixar de recomendar ao todos. Brooklyn é uma ótima pedida para o fim de semana.

Brooklyn (Brooklyn, 2015) Direção: John Crowley - Direção de fotografia: Yves Bélanger - Estúdio: Wildgaze Films, Parallel Film Productions - País: Inglaterra, Canadá, Irlanda - Roteiro: Nick Hornby, baseado no livro de Colm Tóibín - Elenco: Saoirse Ronan, Emory Cohen, Domhnall Gleeson - Sinopse: A história de uma garota, seus sonhos e amores.

Pablo Aluísio.