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quinta-feira, 27 de janeiro de 2022

O Outro Lado de Cary Grant

Nas telas o ator Cary Grant foi um dos galãs mais famosos e queridos pelo público na era de ouro do cinema clássico americano. Seu estilo mais sofisticado, elegante, em parte fruto de suas origens britânicas, se revelou perfeito para grandes diretores da época. Ao lado de sua imagem pública também surgiu uma série de curiosidades que foram surgindo ao longo dos anos, muitas delas reveladas por biografias que foram fundo em pesquisas minuciosas, entrevistando pessoas de sua intimidade, familiares e ex-namoradas.

Um dos casos de sua vida privada que mais chamaram atenção em Hollywood foi sua amizade muito próxima com o também ator Randolph Scott, ídolo do western americano. No começo da carreira, jovens e ainda aspirantes ao estrelado, Grant e Scott, que já eram muito amigos desde os primeiros tempos na capital do cinema, resolveram morar juntos numa bela mansão na cidade. A justificativa foi que seria mais barato dividir o aluguel de uma casa entre eles. Como eram solteiros também poderiam curtir melhor sua juventude, promovendo festas e eventos com amigos da indústria cinematográfica. Até aí tudo bem. O problema é que o estúdio resolveu que seria bom para ambos participarem de uma sessão de fotos juntos em sua casa, mostrando momentos mais íntimos e privados de seu cotidiano. Seria uma forma de promover os jovens atores. O tiro porém saiu pela culatra. Algumas fotos ficaram, digamos, sugestivas demais. Assim que foram publicadas logo surgiu o boato malicioso e totalmente maldoso que na verdade Grant e Scott eram gays... e amantes!

Até hoje o boato persiste e nunca foi devidamente esclarecido. O filho de Randolph Scott publicou uma biografia do pai onde tratou do assunto. Para ele seu pai era apenas um grande amigo de Grant. Ele teria ficado muito magoado com as fofocas, mas jamais deixou de ser amigo de Grant por essa razão. Quando Cary morreu, Scott não se importou com os fuxicos e expressou toda a sua dor pela perda do colega em seu funeral. O fato é que tirando esse suposto relacionamento gay nada mais parecia justificar que eles eram mesmo homossexuais. Ambos se casaram, tiveram filhos e casos amorosos duradouros com mulheres. Mesmo assim para alguns textos e matérias na net tudo é tratado como absoluta verdade - o que é um erro ético para quem escreve. Deve-se sempre saber as versões de todas as partes envolvidas antes de se tirar conclusões apressadas.

Se a relação homossexual entre Grant e Scott até hoje é motivo de controvérsias, outros dois aspectos de sua personalidade parecem realmente ter sido confirmados pelos seus biógrafos. O primeiro é que Cary Grant era um pão duro quase obsessivo. Essa característica de sua personalidade foi confirmada por todos que viveram com o ator. Ele tinha pavor em gastar dinheiro e sua sovinice ficou conhecida. Mesmo ganhando muito dinheiro com os filmes, vivendo em belas mansões, Grant controlava cada centavo gasto em sua vida pessoal e familiar. Ele só se comprava uma meia nova ou um sapato quando os mais velhos estavam completamente imprestáveis. Vira e mexe surgia no camarim com suas meias furadas e seus sapatos surrados.

Outro problema de sua vida particular era ligado à bebida e cigarros. Cary Grant foi bom de copo. Era conhecido por beber até cair nas festas do estúdio. Como a bebida era de graça o ator aproveitava ao máximo (não escrevi que ele era pão duro?). Já com drogas pesadas Grant teve uma experiência perigosa nos anos 60. Na época a LSD foi vista como uma droga experimental, que ampliava o poder da mente. Grant caiu nessa história e começou a usar LSD com regularidade, sempre com supervisão médica. O problema é que estudos posteriores provaram que era de fato um alucinógeno perigoso e assim Grant passou por maus bocados para se livrar do vício. Um pequeno deslize na biografia de um ator que também ficou bem conhecido por seu profissionalismo em todos os filmes em que trabalhou.

O maior problema de Grant porém era o cigarro. Ele foi um fumante inveterado. Na época fumar fazia parte do charme de ser um galã de cinema. Não havia um estigma ruim em cima do ato de fumar, pelo contrário, era esperado que astros como ele fumassem não apenas nas festas, como também nos filmes. Certa vez confidenciou para um amigo próximo de Hollywood: "Acho que vou gastar todo o meu dinheiro com cigarros! Não é possível, estou sempre comprando uma nova cartela de cigarros!". Ele fumava tanto que seus dedos ficaram amarelados por causa da nicotina. De uma forma ou outra esse vício de fumar de forma compulsiva contribuiu para os problemas de sua saúde. Ao morrer aos 82 anos de idade, em 1986, ele já havia sido diagnosticado com um câncer de pulmão. 

Pablo Aluísio.

quinta-feira, 25 de fevereiro de 2021

Aventureiro de Sorte

Clássico do cinema estrelado pelo ator e galã Cary Grant. Que história esse filme nos conta? Joe Adams (Cary Grant) é um trapaceiro que fica de olho numa grande bolada que será doada a uma instituição de caridade. Ele então resolve assumir uma nova identidade falsa, a de um sujeito morto chamado Joe Bascopolous, para se aproximar dos ricaços que darão o dinheiro para os mais necessitados. Nesse ínterim ele acaba conhecendo a bela e simpática Dorothy Bryant (Laraine Day), jovem pertencente a uma das famílias mais ricas de Nova Iorque, que mexerá com seu coração e mudará sua forma de encarar o mundo.  O ator Cary Grant (1904 - 1986) se especializou em filmes sofisticados e românticos ao longo de toda a sua carreira. Aqui ele tem a chance de interpretar um "quase vilão", isso mesmo, um sujeito que inicialmente é cheio de más intenções, mas que acaba mudando de ideia quando conhece uma linda e doce jovem que muda seu, digamos assim, "estilo de vida". O roteiro é uma inovação da fábula do bom ladrão que encontra a redenção no amor de uma mulher. O que salva tudo no final das contas é o texto que tem um senso de humor único, muitas vezes resvalando para o cinismo e isso poderá surpreender quem estiver em busca de uma comédia romântica de costumes mais simplória e comum. O próprio título original é um trocadilho inspirado.

O filme foi lançado em um período histórico complicado, com o mundo sendo assolado pela segunda guerra mundial e serviu como um alívio no meio daquele caos em que todos viviam. Também é fortemente endereçado ao público feminino que na época havia se tornado o principal consumidor de cinema dentro do mercado americano, afinal de contas os homens americanos em sua maioria estavam lutando na Europa e no Pacífico. Se há uma crítica maior a se fazer sobre o resultado final talvez seja a falta de uma química melhor entre o casal principal, fato que foi observado pelos críticos americanos na época. De qualquer forma temos que reconhecer que isso é de menor importância tendo em vista o bom roteiro e as atuações inspiradas de Grant e Laraine Day. Hoje em dia a produção serve acima de tudo para mostrar uma sofisticação que anda bem perdida dentro do cinema americano atual. Uma prova de que comédias românticas não precisam ser bobas e nem muito menos piegas.

Aventureiro de Sorte (Mr. Lucky, Estados Unidos, 1943) Estúdio: RKO Radio Pictures / Direção: H.C. Potter / Roteiro: Milton Holmes / Elenco: Cary Grant, Laraine Day, Charles Bickford / Sinopse: Cary Grant interpreta um vigarista, um golpista, que acaba se apaixonando pela mulher de seus sonhos, o que o faz mudar de ideia sobre o mundo e o jeito que ele leva sua vida.

Pablo Aluísio.

sábado, 18 de janeiro de 2020

Intriga Internacional

Não é dos filmes mais celebrados do mestre Alfred Hitchcock, porém é um dos melhores em cenas de ação. Também é considerado uma espécie de pioneiro nos filmes envolvendo o mundo da espionagem. Antes de James Bond surgir nas telas, Alfred Hitchcock resolveu explorar esse universo, tão em voga na época da guerra fria. O toque de mestre foi misturar o mundo da espionagem internacional com a vida das pessoas comuns. Imagine todo esse aparato mortal atingindo em cheio a vida de um homem inocente. Na trama temos o protagonista Roger O. Thornhill (Cary Grant), um publicitário falastrão de Manhattan, que acaba sendo confundido com um espião americano. Jogado no meio de um jogo de vida e morte da espionagem internacional que mal consegue compreender, ele tenta se manter vivo. No meio do caos que sua vida se torna, ele acaba se apaixonando pela bonita e misteriosa Eve Kendall (Eva Marie Saint), sem desconfiar contudo que ela também faz parte dessa mortal intriga internacional.

O mestre do suspense Alfred Hitchcock costumava dizer que não estava muito interessado nas estórias que contava, mas sim na forma como as contava. Ele se considerava um "pintor de flores" do mundo cinematográfico. Esse filme "North by Northwest" se encaixava bem nesse ponto de vista. O filme não tem um grande enredo. Na verdade tudo se resume na estória de um homem errado que se encontra no lugar errado, no momento errado, sendo confundido com um assassino internacional, um espião há muito procurado por serviços de inteligência ao redor do mundo. Depois que isso acontece sua vida se torna caótica, onde ele tenta sobreviver de todas as maneiras às várias tentativas de eliminá-lo! O curioso é que, como o roteiro explica depois, o espião verdadeiro com o qual ele é confundido sequer existe, sendo apenas uma invenção da CIA para despistar seus perseguidores.

Além do habitual suspense, Alfred Hitchcock também investiu bastante nas cenas de ação É o seu filme mais movimentado nesse aspecto. Há duas sequências que ficaram bem conhecidas. A primeira acontece quando o personagem de Grant é perseguido por um avião no meio do nada! Essa cena é a mais conhecida do filme até os dias de hoje. Também é a que melhor aproveita o suspense que foi a marca registrada da filmografia do diretor. Outro ponto alto acontece no clímax do filme, em seu final, quando Grant e Marie Saint participam de uma perseguição no alto do monte Rushmore (com os rostos dos presidentes americanos mais memoráveis da história, esculpidos na rocha). A cena é tecnicamente perfeita e demonstra muito bem que os efeitos especiais em Hollywood na época já eram bem avançados.

Quando o filme termina, chegamos em algumas conclusões. É fato que Alfred Hitchcock aqui optou pelo lado mais comercial do cinema americano, deixando seu lado autoral (que sempre foi seu maior legado) um pouco de lado. Fica evidente que ele estava em busca de um sucesso de bilheteria, acima de qualquer outra coisa. Outro aspecto é perceber que Hitchcock já tinha entendido que haveria um boom de filmes de espionagem. A MGM já tinha anunciado que iria trazer James Bond para o cinema e o velho mestre logo entendeu que essa seria uma tendência a dominar o cinema na década que estava para nascer. Algo que efetivamente aconteceu mesmo nos anos 1960. Pelo visto Hitchcock tinha talento não apenas para realizar bons filmes de suspense, como também para antecipar o que iria cair no gosto do público. 

Intriga Internacional (North by Northwest, Estados Unidos, 1959) Estúdio: Metro-Goldwyn-Mayer (MGM) / Direção: Alfred Hitchcock / Roteiro: Ernest Lehma / Elenco: Cary Grant, Eva Marie Saint, James Mason, Martin Landau, Jessie Royce Landis, Josephine Hutchinson / Sinopse: Um homem comum, publicitário de Nova Iorque, é confundido com um perigoso e mortal espião internacional. A partir daí ele passa a lutar por sua própria sobrevivência. Filme indicado ao Oscar nas categorias de Melhor Roteiro Original (Ernest Lehman), Melhor Direção de Arte (William A. Horning, Robert F. Boyle) e Melhor Edição (George Tomasini).

Pablo Aluísio.

quinta-feira, 19 de dezembro de 2019

Os Gays de Hollywood

Um dos livros mais polêmicos lançados nos Estados Unidos sobre a Hollywood clássica se chama “Full Service: My Adventures in Hollywood and the Secret Sex Lives of the Stars” (Serviço Completo: Minhas Aventuras em Hollywood e o Segredo das Vidas Sexuais das Estrelas). Escrito por Scotty Bowers e Lionel Friedberg. O motivo de tanto alarde é até fácil de explicar. Em pouco mais de 260 páginas o autor expõe, como poucas vezes já foi visto, a vida sexual de diversos mitos da história de Hollywood. Ele afirma ter circulado entre a nobreza da classe artística do cinema americano nas décadas de 1940, 1950 e 1960. Conheceu de perto as preferências sexuais de muitos astros. Curiosamente ele nunca se declara nas páginas de seu livro como um profissional do sexo, afinal prostituição nos EUA é crime, principalmente para quem desempenha a função de “agenciador” de encontros sexuais. Ao ler seus relatos porém a única conclusão que o leitor tem é a de que Bowers era exatamente isso, uma pessoa a quem os grandes astros recorriam para arranjar uma transa rápida, sem consequências.

Em suas estórias poucos astros se salvam. A lista é longa: Rock Hudson, Errol Flynn, Cary Grant, Marlon Brando, Charles Laughton, Montgomery Clift, Katharine Hepburn, Spencer Tracy, Tyrone Power, Rita Hayworth, Mae West, Laurence Olivier, Vincent Price, Randolph Scott, Sal Mineo, Judy Garland e muitos outros. Bowers que está com 88 anos, diz que não queria levar todas essas picantes estórias que viveu para o túmulo e por isso agora. no final da vida, resolveu contar tudo, afinal a grande maioria dos astros já estão mortos. Alguns relatos são de primeira pessoa onde o autor afirma que vivenciou tudo, outros porém ele deixa claro que conhece apenas por “ouvir dizer”, até porque seria simplesmente impossível alguém ser próximo de tantos atores e atrizes ao mesmo tempo. Para gozar da intimidade da vida privada de tanta gente, Bowers teria que ser simplesmente o mais bem relacionado membro da comunidade em Hollywood naqueles anos e até mesmo ele sabe que ninguém acreditaria em tal coisa.

Do que afirma ter vivenciado realmente, um dos casos mais interessantes e chamativos é o que envolve a atriz Katharine Hepburn. Uma das profissionais mais premiadas da história, ela chamava a atenção por nunca ter se casado. Na boca miúda se dizia que tinha um caso escondido com Spencer Tracy, que era casado. Para Bowers tudo não passava de uma farsa. Ele afirma que Hepburn era lésbica e... voraz. Em seu texto o autor diz ter enviado a ela ao longo de vários anos mais de cem mulheres. O suposto romance proibido com Spencer Tracy era assim apenas uma desculpa para encobrir também a homossexualidade do veterano ator. Hepburn se vestia como homem, com ternos de longas ombreiras e não gostava da companhia de outras mulheres como amigas. Bowers vai mais longe e diz que ela tinha uma pele ruim e péssimos hábitos de higiene. Outro que não escapa das revelações de Bowers é o galã Tyrone Power. Embora gostasse também de mulheres (teve vários relacionamentos ao longo da vida com elas) Bowers diz que ele tinha mesmo era uma uma queda especial por jovens latinos, bem apessoados. Chegou a flertar com Rock Hudson, outro galã muito famoso da era de ouro do cinema americano, mas nunca tiveram um caso amoroso.

Por falar em Rock Hudson ele ocupa várias páginas do livro de Bowers. Esse era outro astro com grande apetite sexual. Geralmente dava festas só para rapazes em sua grande mansão nas colinas de Hollywood. Enchia a piscina de jovens aspirantes dispostos a tudo para ganhar um papel em algum de seus filmes. Seu fraco era por jovens loiros e altos, de preferência bronzeados de praia. Se tivessem bigode então cairiam no tipo perfeito na preferência de Hudson. Gostava de brincar dizendo que nem sabia o nome dos amantes, geralmente chamando os loiros de “Bruce” e os morenos de “Carl”. No fim da tarde todos iam para sua sauna particular onde aconteciam grandes orgias gays. Assim que se tornou o astro número 1 em popularidade em Hollywood o estúdio apressou-se em lhe casar com uma secretária de seu agente para encobrir sua homossexualidade, uma vez que sua fama de o “homem preferido da América” valia milhões de dólares.  A coisa não deu certo e Rock se separou em pouco tempo voltando para sua rotina de devassidão sexual. Só assumiu publicamente que era gay em seus últimos dias. O ator estava morrendo de AIDS e a imprensa não o deixava em paz. Para dar um bom exemplo e chamar a atenção de todos para o perigo da nova doença, ele finalmente saiu do armário, após ter ficado quase cinquenta anos dentro dele.

Os grandes atores também não escapam. Montgomery Clift seria um gay enrustido e esnobe. James Dean um bissexual porcalhão que tinha problemas com doenças venéreas. Brando um sujeito confuso que gostava de tratar as mulheres como objeto enquanto se apaixonava por homens mais velhos. Nem o mito dos filmes de terror Vincent Price escapa. Para Bowers ele era um gay metido a grã fino que colecionava obras de artes e encontros homossexuais furtivos. Já Randolph Scott e Cary Grant formariam um dos casais gays mais famosos de Hollywood segundo Bowers. Morando juntos e promovendo grandes festas em sua mansão discreta e luxuosa nos arredores de Beverly Hills. No tocante a esse suposto romance encontramos vários problemas. Grant sabia que era alvo de fofocas há muito tempo e no final da vida processou um humorista que fez uma piada na TV sobre sua suposta sexualidade. Ele teve inúmeros casos amorosos com atrizes famosas e se casou várias vezes. Recentemente sua filha lançou um livro negando que seu pai era gay. Outro que saiu em defesa do pai foi o filho de Randolph Scott, Christopher, que também negou veemente em suas memórias que o eterno cowboy do cinema fosse gay. Scott foi casado muitos anos com a mesma mulher e tudo leva a crer que nada de fato aconteceu, apenas amizade no começo de carreira de ambos. As fofocas porém até hoje são conhecidas.

Hollywood se orgulhava de ser livre de preconceitos, cosmopolita e avançada. Mesmo quando alguma história de homossexualidade se tornava notória dentro da comunidade muito raramente chegava na imprensa sensacionalista. Não havia dentro dos estúdios uma penalização ou punição apenas pelo fato do ator ou atriz serem gays, apenas tinha-se um certo cuidado para que sua vida privada não chegasse ao público, prejudicando sua popularidade. Por isso arranjou-se um casamento para Rock Hudson. Dentro da Universal todos sabiam que ele era gay, mas nada era dito sobre isso fora dos portões do grande estúdio. O grande cineasta George Cukor também é alvo nas páginas de Bowers, mas parece ser um caso isolado de diretor gay. O fato porém é que nem todo mundo era gay em Hollywood, nem mesmo na mente de Bowers. Escapam de sua escrita atores que eram obviamente heterossexuais naqueles dias como Paul Newman, Tony Curtis, Charlton Heston, Elvis Presley, Steve McQueen, John Wayne (imaginem esse símbolo do machão do velho oeste como gay!), entre outros.

Os galãs sempre foram muito visados. Nos anos seguintes surgiram boatos de que Richard Gere, John Travolta e até mesmo Tom Cruise eram gays. Richard Gere ficava extremamente aborrecido com essas fofocas. Ele teve romances com modelos internacionais, mas nem isso apagou essa fama de homossexual. Irritado, mandou publicar uma nota em um grande jornal americano negando tudo. Seu ato pegou muito mal entre a comunidade LGBT americana. Parecia que ele se defendia de um crime que havia cometido. Foi um erro lamentável de sua parte. Já John Travolta foi apontado como um gay no armário logo que começou a fazer sucesso. Boatos circulavam no começo de sua carreira. Depois ele entrou para uma religião chamada Cientologia e se casou com a atriz Kelly Preston. Com isso as fofocas foram aos poucos desaparecendo.

Do lado das mulheres houve casos famosos também. Jodie Foster conviveu por anos e anos com fofocas de que seria lésbica. Ela nunca era vista com namorados em eventos sociais de Hollywood e sua vida privada era fechada a sete chaves. Atriz e diretora de talento, parecia obcecada em esconder suas preferências sexuais. Conforme a carreira foi ficando mais bem sucedida, mais a imprensa marrom corria atrás de algum escândalo, até que anos depois, cansada da perseguição da imprensa, decidiu assumir que era lésbica e que vivia há anos com uma mulher. Foi um alívio sair do armário. Já a apresentadora de TV Ellen DeGeneres não apenas assumiu seu caso com a atriz Anne Heche, como se tornou ativista da causa. Pena que no caso dela seu relacionamento não tenha durado muito. Anne Heche se separou dela e depois se apaixonou por um homem, casando com ele e tendo filhos. Mesmo assim DeGeneres continuou seu ativismo em prol dos direitos dos homossexuais.

A melhor atitude em relação a esse tema parece ter sido mesmo a do ator George Clooney. Solteirão convicto, ele não escapou das venenosa línguas de fofoqueiras de Hollywood. A imprensa marrom sempre insinuava que ele seria um gay enrustido dentro do armário. Por que não se casa? Por que não tem filhos? O que o impede de se casar? Cansado desse tipo de boato, o ator foi direto ao ponto. Perguntado por uma jornalista no tapete vermelho do Oscar o ator abriu o sorriso e disse: "Eu sou gay mesmo! Pode publicar aí no seu jornal". Claro, não era verdade, mas sim um ato de solidariedade com a comunidade gay, sempre perseguida por publicações escandalosas. No final vale a resposta de Mae West ao ser informada de que Rock Hudson era gay. Ela sorriu e disse: "Ele era gay? Sorte dos gays. Deixem essas pessoas ser felizes!".

Pablo Aluísio.

segunda-feira, 16 de dezembro de 2019

Ladrão de Casaca

Talvez o filme mais atípico da carreira de Alfred Hitchcock. Segundo algumas biografias isso se deu por um motivo básico: o diretor estava apaixonado pela estrela Grace Kelly (com quem havia trabalhado em "Disque M Para Matar" e "Janela Indiscreta") e por essa razão aceitou dirigir esse filme muito soft, centrado muito mais no romance do que propriamente no suspense, que era a marca registrada do cineasta. A imprensa da época inclusive chegou a ironizar chamando "Ladrão de Casaca" de "Champanhe Hitchcock". Não há como negar que a produção é muito bonita e bem realizada. Inovando em várias novas tecnologias (Widescreen e Vistavision) o filme foi realmente considerado bem revolucionário nesse aspecto.

Curiosamente o estúdio escalou o veterano galã Cary Grant para fazer o par romântico com a jovem e linda Grace Kelly. Grant estava às portas de se aposentar quando fez o filme. O sucesso de bilheteria acabou dando uma renovada em sua carreira como um todo e ele resolveu voltar para fazer mais filmes nos anos seguintes (com resultados irregulares). Foi filmando "Ladrão de Casaca" que Grace Kelly conheceu o príncipe Rainier de Mônaco. Há tempos ele procurava se envolver com alguma estrela de Hollywood para levantar seu pequeno principado que estava decadente. Chegou inclusive a sondar o mito Marilyn Monroe que não quis nada com o nobre por lhe achar muito feio e sem atrativos. Grace Kelly porém não pensou assim e começou um romance com Rainier, algo que perturbou o velho Hitchcock pois ela logo anunciaria o fim de sua carreira no cinema para se dedicar apenas ao seu futuro marido. O diretor jamais se perdoou quando soube disso!

Talvez por essa razão o velho Hitchcock tenha depois espinafrado tanto o filme, afirmando que era o que menos apreciava em sua carreira. De fato o cineasta realmente fez muitas concessões em prol de Grace Kelly, fugindo até bastante de suas principais características como diretor. Quando ela o deixou para se casar com Rainier ele interpretou isso quase como uma traição pessoal. Anos depois tentaria trazer Grace Kelly de volta para estrelar Marnie, um de seus filmes menos inspirados, mas ela novamente recusou. Como dito "Ladrão de Casaca" não consegue se sobressair no meio de tantos outros clássicos do mestre do suspense. O filme tem um tom muito ameno, beirando o sentimentalismo exacerbado, o que destoa do restante da obra de seu criador. De bom mesmo ficaram apenas as maravilhosas locações da Rivieira Francesa que foram magnificamente fotografadas e a nostalgia de ver a beleza insuperável de Grace Kelly, no auge de seu esplendor. Como suspense em si o filme deixa a desejar. O tema também passa longe da sordidez reinante em outros filmes de Hitchcock. Mesmo assim é impossível não se render a todo o charme e elegância que desfilam pela tela. Nesse quesito a dupla central de atores realmente era insuperável. Se não é um dos melhores filmes de Hitchcock, pelo menos fica longe das mediocridades que se produzem hoje em dia. Assista sem medo de se arrepender. 

Ladrão de Casaca (To Catch a Thief, Estados Unidos, 1955) Direção: Alfred Hitchcock / Roteiro: John Michael Hayes, Alec Cooper baseados no livro de David Dodge / Elenco: Grace Kelly, Cary Grant, Jessie Royce Landis, Brigitte Auer, Charles Vanel, John Williams, Georgette Anys, Jean Martinelli, Roland Lesaffre / Sinopse: John Robie (Cary Grant) é um veterano ladrão de jóias aposentado que vive tranquilamente na bela Riviera Francesa. Apelidado em seus dias de fama como "O Gato" ele agora começa a ficar intrigado por uma série de roubos recentes na região que repetem o seu conhecido modus operandi. Para provar sua inocência e pegar o novo ladrão o antigo “Gato” resolve voltar à ativa.

Pablo Aluísio.

sábado, 18 de maio de 2019

O Paraíso Infernal

Em um país da América do Sul, o aviador americano Geoff Carter (Cary Grant) administra uma pequena empresa de aviação, formada por pilotos destemidos que precisam levar cargas, pessoas e alimentos para regiões inóspitas e distantes do continente. Se utilizando de velhos aviões, em climas hostis, eles precisam levar em frente um negócio não apenas arriscado, mas muitas vezes mortal. Bonnie Lee (Jean Arthur) é uma viajante que acaba conhecendo o grupo durante uma parada de seu navio na região. Em pouco tempo ela se encanta por Geoff, embora ele não esteja muito interessado em realmente se apaixonar novamente por alguém. Indicado a dois Oscars (Melhor Fotografia e Melhores Efeitos Especiais) esse "Only Angels Have Wings" já traz todas as características que seriam muito presentes na obra do cineasta Howard Hawks. Um dos diretores mais ecléticos da história do cinema americano aqui ele procura mesclar aventura com romance, drama com humor. O resultado é muito bom, mesmo com algumas pequenas falhas de roteiro.

Como basicamente se trata de um enredo aventuresco o diretor precisou utilizar de duas técnicas básicas para contar sua estória. Na primeira ele se utilizou de maquetes de aviões (bem charmosas aliás) para reproduzir os momentos de maior perigo, principalmente em acidentes aéreos e pousos perigosos. Na segunda conseguiu ótimas sequências reais, usando aviões de verdade. Existe uma cena onde temos dois aviões - um de filmagem e outro em ação - que impressiona até hoje. As aeronaves sobrevoam montanhas íngremes e realizam verdadeiras manobras em sua encosta. Tudo realizado com extrema perícia e competência. Em termos de elenco o galã Grant interpreta um piloto durão que após uma decepção amorosa no passado (a sua ex-mulher não suportou sua vida de desafios e perigos no ar) decide que não mais irá se apaixonar. Isso se torna um problema para a personagem de Jean Arthur que fica caidinha por seus encantos. Para completar o triângulo amoroso surge uma jovem Rita Hayworth, esposa de um dos pilotos que trabalham para Grant, embora ela esteja interessada mesmo é nele! Enfim, como eu já frisei, Hawks conseguia mesclar vários gêneros em um só filme. Aqui ele conseguiu novamente, realizando assim um de seus melhores trabalhos na década de 1930. Diversão garantida, como bem queria o grande mestre.

O Paraíso Infernal (Only Angels Have Wings, Estados Unidos, 1939) Estúdio: Columbia Pictures / Direção: Howard Hawks / Roteiro: Jules Furthman / Elenco: Cary Grant, Jean Arthur, Rita Hayworth / Sinopse: Geoff Carter (Cary Grant) é um piloto de aviões comerciais que voam em regiões distantes e perigosas da América do Sul. Enquanto tenta sobreviver a cada voo vai se apaixonando por mulheres interessantes que vão cruzando seu caminho.

Pablo Aluísio.

segunda-feira, 22 de outubro de 2018

Lar... Meu Tormento

Título no Brasil: Lar... Meu Tormento
Título Original: Mr. Blandings Builds His Dream House
Ano de Produção: 1948
País: Estados Unidos
Estúdio: RKO Radio Pictures
Direção: H.C. Potter
Roteiro: Norman Panama
Elenco: Cary Grant, Myrna Loy, Melvyn Douglas, Reginald Denny, Sharyn Moffett, Connie Marshall

Sinopse:
Um casal de Nova Iorque mora em um pequeno, para não dizer minúsculo, apartamento na cidade. Numa manhã o marido lê em um jornal que casas no interior são bem mais baratas. Com o dinheiro que gastam em NYC poderiam muito bem construir uma bela e ampla casa numa pequena cidade. Eles decidem então se mudarem para realizar esse sonho. Mal sabem os problemas que vão enfrentar.

Comentários:
O título nacional pode levar alguns a acharem que se trata de um filme dramático sobre problemas domésticos, conjugais. Nada disso. O filme é uma espécie de "Um Dia a Casa Cai" dos anos 1940. Basicamente é a história de um casal que vai embora de Nova Iorque em busca de uma vida mais calma e tranquila. A velha busca por uma melhor qualidade de vida. No campo eles compram uma velha propriedade e decidem que ali vão construir uma bela casa, de acordo com suas próprias determinações e especificações. Ao embarcarem nisso descobrem o quanto é complicado lidar com construções, operários, arquitetos, etc. É uma crônica sobre as dificuldades de se levantar um teto, mesmo que no interiorzão do país. Cary Grant era um excelente ator porque ele definitivamente não fazia força para parecer engraçado. Seu humor vinha do fato de interpretar um homem comum, imerso em uma série de confusões das quais ele não tinha o menor controle. Esse tipo de filme, uma comédia de costumes, era o seu habitat cinematográfico natural. Esse filme aqui foi um de seus sucessos na carreira, sendo indicado inclusive ao Writers Guild of America, o Oscar dos roteiristas. De fato o roteiro é muito bem escrito, extremamente espirituoso e divertido.

Pablo Aluísio.

quarta-feira, 24 de janeiro de 2018

Jejum de Amor

Título no Brasil: Jejum de Amor
Título Original: His Girl Friday
Ano de Produção: 1940
País: Estados Unidos
Estúdio:  Columbia Pictures
Direção: Howard Hawks
Roteiro: Charles Lederer, Ben Hecht
Elenco: Cary Grant, Rosalind Russell, Ralph Bellamy, Gene Lockhart, Porter Hall, Ernest Truex

Sinopse:
Baseado na peça teatral intitulada "The Front Page", o filme "Jejum de Amor" conta a história de um editor de jornal que usa de todos os truques para que sua ex-esposa não venha a se casar novamente.

Comentários:
Esse clássico filme romântico foi mais um dos escolhidos para fazer parte de uma seleta lista que procurou preservar grandes obras cinematográficas do passado, tudo sob a supervisão do Congresso dos Estados Unidos. Diante dessa informação você já começa a entender sua importância dentro da cultura norte-americana. Mas calma, não pense que é um filme pesado. chato, enfadonho ou nada do gênero. Na realidade é uma deliciosa comédia romântica dos anos 40, valorizada por uma inspirada interpretação do sempre ótimo Cary Grant. Ele não consegue tirar sua ex-esposa da cabeça e começa a mexer os pauzinhos para destruir os planos dela de se casar novamente. Situação complicada. Enfim, ótimo filme, um delicioso momento do cinema de Howard Hawks.

Pablo Aluísio.

domingo, 17 de dezembro de 2017

O Beijo de Despedida

Título no Brasil: O Beijo de Despedida
Título Original: Kiss Them for Me
Ano de Produção: 1957
País: Estados Unidos
Estúdio: Twentieth Century Fox
Direção: Stanley Donen
Roteiro: Julius J. Epstein, Luther Davis
Elenco: Cary Grant, Jayne Mansfield, Leif Erickson, Suzy Parker
  
Sinopse:
Um grupo de pilotos da Marinha americanha consegue uma licença de quatro dias para passar em San Francisco. Em plena guerra o passe se torna um verdadeiro presente para aqueles combatentes. Uma vez na cidade o comandante Andy Crewson (Cary Grant) acaba se apaixonando pela bela Gwinneth Livingston (Suzy Parker), que infelizmente já está comprometida com Eddie Turnbill (Leif Erickson), um rico empresário, dono de estaleiros, que pretende contratar Andy para fazer uma palestra para seus trabalhadores, algo que ele definitivamente não tem a menor vontade de fazer.

Comentários:
Uma comédia romântica bem divertida estrelada pelo astro Cary Grant. O enredo se passa praticamente todo durante uma licença desses pilotos da marinha. Eles são considerados heróis pela imprensa, mas no fundo só querem mesmo se divertir na cidade. Conseguem se hospedar em uma luxuosa suíte de um hotel cinco estrelas e caem na farra, promovendo festas e aproveitando o máximo que podem do tempo livre de folga. O roteiro por tentar ser engraçado e leve acaba não trazendo nada de muito substancial em termos de trama. O mais importante é tentar fazer o espectador rir. No elenco o ator Cary Grant comparece com seu carisma habitual. Outro destaque vem da presença da atriz Jayne Mansfield, a mais célebre imitadora de Marilyn Monroe. Seu papel inclusive foi escrito para Marilyn que o recusou por ser mais uma tentativa de explorar o velho estigma da "loira burra". Jayne Mansfield assim tenta, sem muito sucesso, imitar nos mínimos detalhes a forma como Monroe se comportava quando interpretava esse tipo de personagem. Até a pinta perto dos lábios foi reproduzido no rosto de Jayne. O tom de voz, tudo, foi pensado para colocar uma "Marilyn Monroe genérica" no filme. Não deu muito certo. Então é isso, "Kiss Them for Me" é apenas um passatempo agradável, sem muitas novidades ou relevância cinematográfica. Sim, é divertido, mas nada muito além disso.

Pablo Aluísio.

domingo, 22 de outubro de 2017

Esposa Só no Nome

Casualmente durante um passeio a cavalo, Alec Walker (Cary Grant) acaba conhecendo Julie Eden (Carole Lombard). Ela é uma jovem viúva que ganha a vida desenhando vestidos para revistas de moda em Nova Iorque. Ele é um homem infeliz em seu casamento de fachada. Sua esposa, uma alpinista social, só se casou com ele por causa da fortuna de sua família. Aos poucos Walker vai se apaixonando por Julie, mas sua esposa não vai deixar algo assim passar barato. Esse filme do final dos anos 1930 investe em um roteiro baseado na velha premissa do triângulo amoroso, envolvendo aqui um homem casado e uma viúva, mãe de uma garotinha de seis anos. O casamento dele é uma farsa. Não há amor envolvido, nem paixão. Assim ele busca por um novo amor, mas obviamente isso vai lhe trazer inúmeros problemas.

O grande interesse nessa produção vem do seu elenco, mas particularmente do desempenho da atriz Carole Lombard. Quando ela atuou nesse filme só tinha 3 anos de vida pela frente. Ela morreu tragicamente em um acidente de avião, enquanto trabalhava para vender bônus da segunda guerra mundial. Sua morte chocou Hollywood porque ela ainda era jovem, com apenas 33 anos de idade! Tinha uma bela carreira pela frente. Depois desse "Esposa Só no Nome" ela só faria mais quatro filmes. Outro destaque é a presença de Cary Grant, também ainda bem jovem. Seu papel é a de um homem, filho de uma rica e tradicional família do sul, que precisa enfrentar as barreiras da sociedade para ser feliz. Naqueles tempos romper um casamento, para se firmar em um romance com uma mulher viúva, era algo desastroso do ponto de vista social. Então é isso, "In Name Only" é certamente um filme bem interessante, contando no elenco com um grande galã de Hollywood atuando ao lado de uma jovem estrela que não viveria muito, vitimada por uma das grandes tragédias da história do cinema americano.

Esposa Só no Nome (Estados Unidos, 1939) Direção: John Cromwell / Roteiro: Richard Sherman, baseado na novela romântica escrita por Bessie Breuer / Elenco: Cary Grant, Carole Lombard, Kay Francis / Sinopse: Homem casado, mas infeliz em seu matrimônio, se apaixona por jovem viúva, artista de design de vestidos de luxo de Nova Iorque. O romance, encarado por ele como uma salvação para sua frustrada vida sentimental, logo se torna alvo de sua esposa, que não parece disposta a lhe dar o divórcio.

Pablo Aluísió.

domingo, 2 de julho de 2017

Becoming Cary Grant

Título Original: Becoming Cary Grant
Título no Brasil: Ainda não definido
Ano de Produção: 2017
País: Estados Unidos
Estúdio: Yuzu Productions
Direção: Mark Kidel, Mark Kidel
Roteiro: Mark Kidel, Mark Kidel
Elenco: Cary Grant,  Judy Balaban, Mark Glancy, Barbara Jaynes, Kent Victor Schuelke, David Thomson

Sinopse:
Documentário exibido recentemente nos Estados Unidos pelo canal Showtime mostrando aspectos privados e bem pessoais da vida do ator americano Cary Grant. Baseado em relatos do próprio Grant o filme desvenda a conturbada infância do futuro astro de Hollywood, quando ele foi abandonado pelos pais, indo morar em um orfanato mantido pelo Estado. O filme procura também mostrar sua ascensão rumo à fama e ao sucesso. Documetário indicado no Cannes Film Festival.

Comentários:
Excelente documentário que mostra um lado pouco conhecido da vida do ator Cary Grant. Seu pai internou sua mãe por problemas psiquiátricos quando Grant era apenas uma criança. Sem ter a menor intenção de ter a responsabilidade de criá-lo sozinho, acabou jogando o garoto em um orfanato. Por essa razão Grant levou por toda a vida esse trauma, tentando superar o sentimento de abandono e perda. Também criou uma personalidade mesquinha em relação ao dinheiro. Sua sovinice era lendária, mesmo rico e famoso não jogava suas roupas foras, usando meias furadas, tudo para economizar o máximo possível. O documentário também explora o problema de Grant com as drogas e as bebidas. Ele sempre procurou afogar suas mágoas no copo, em bares por toda a Los Angeles. Em relação às drogas encontrou o LSD nos anos 60 e pensando tratar-se apenas de mais uma substância química que servisse como remédio para seus problemas emocionais foi fundo no uso da droga. O roteiro só traz uma falha digna de nota, ao não explorar a grande amizade que ele teve com outro ator famoso, o cowboy Randolph Scott. Provavelmente para não dar pano para a manga sobre as inúmeras fofocas de que eles tiveram um caso homossexual, os produtores resolveram deixar isso de fora. De qualquer maneira esse "Becoming Cary Grant" é certamente o melhor documentário já realizado sobre esse grande astro de Hollywood, em sua fase de ouro, no auge do inesquecível cinema clássico dos Estados Unidos. Não deixe de assistir.

Pablo Aluísio.

terça-feira, 16 de julho de 2013

O Inventor da Mocidade

O Dr. Barnaby Fulton (Cary Grant) é o químico chefe do departamento de pesquisas de uma grande empresa. Sempre com o pensamento voltado para suas descobertas ele mal consegue pensar no dia a dia de sua vida. Sua esposa, a compreensiva Edwina (Ginger Rogers), tem que ter muita paciência com seu marido que parece estar sempre com o pensamento no mundo da Lua. Um dos sonhos de Barnaby é descobrir a fórmula que retarde o envelhecimento natural das pessoas. Até que um dia ele chega lá. Ao tomar a nova poção (que na realidade foi feita ao acaso por um chipanzé do centro de pesquisa) ele começa a ter reações adversas, inclusive se comportando como um inconseqüente e leviano adolescente, chegando inclusive a levar a bela senhorita Laurel (Marilyn Monroe), secretária do presidente da companhia, para um passeio em alta velocidade no carrão recém comprado por impulso! E agora, como o renomado doutor voltará ao normal?

Começa assim essa simpática comédia “O Inventor da Mocidade”, dirigida pelo talentoso e reverenciado cineasta Howard Hawks. O ator Cary Grant desfila seu talento natural para as comédias de costumes (bem populares na época) mas de certa forma acaba sendo ofuscado por duas atrizes que se tornaram, cada um ao seu estilo, grandes nomes da história do cinema. A que mais chama a atenção é obviamente Marilyn Monroe, linda, bastante jovem e em um papel bem coadjuvante mas já desfilando muita graça, carisma e simpatia com sua presença em cena. O outro destaque é a presença no elenco de Ginger Rogers, a eterna parceira de Fred Astaire. Ela se notabilizou pelas ótimas coreografias ao lado do colega em vários musicais clássicos de sucesso mas aqui exerce basicamente seu talento humorístico (embora dê alguns passinhos em uma cena de dança para agradar aos seus fãs). No geral “O Inventor da Mocidade” não é uma comédia tão marcante mas mantém o interesse e tem cenas realmente divertidas e engraçadas, principalmente quando o casal principal se torna ainda mais jovem, virando pequenas crianças travessas. Procure assistir.

O Inventor da Mocidade (Monkey Business, Estados Unidos, 1952) Direção: Howard Hawks / Roteiro: Ben Hecht, Charles Lederer / Elenco: Cary Grant, Ginger Rogers, Charles Coburn, Marilyn Monroe / Sinopse: Um renomado cientista inventa uma fórmula que rejuvenesce os mais velhos. Tentando verificar a eficácia da nova poção o próprio doutor resolve tomar algumas doses o que dará origem a várias confusões pois ele começa a se comportar como um adolescente inconseqüente.

Pablo Aluísio.

quinta-feira, 5 de abril de 2012

Anáguas a Bordo

Oficial da Marinha Americana (Cary Grant) é designado para comandar velho submarino precisando de reparos. Como o sistema de provisões da marinha americana não funciona de forma adequada ele tem que contar com os inúmeros cambalachos do tenente Holden (Tony Curtis) que providencia tudo que a velha lata de sardinha do mar precisa para voltar a funcionar de forma eficiente. É uma comédia típica do final dos anos 50, tudo muito inofensivo e sem maiores consequências. O roteiro ainda aproveita para explorar o fato do submarino resgatar várias mulheres da Marinha que se encontravam à deriva numa ilha do pacífico. Obviamente que existem muitas e muitas piadinhas que envolvem a chamada guerra dos sexos (os marinheiros há muito tempo sozinhos no mar não perdem a chance de dar em cima das garotas). Cary Grant é o comandante do navio que chega inclusive a ser pintado de cor de rosa por falta de uma tinta de cor adequada. Já Tony Curtis desfila seu papel típico - o sujeito boa pinta, levemente cafajeste que dá em cima de todas e nas horas vagas surrupia algum objeto de propriedade da Marinha americana para consertar o submarino Sea Tiger.

"Anáguas a Bordo" não é uma comédia de dar gargalhadas. Claro que o bom humor está presente em várias cenas mas de maneira em geral nada desbanca para o pastelão ou algo parecido. O diretor Blake Edwards está bem contido e muito longe de alguns de seus futuros trabalhos onde ele assumidamente adotaria uma postura exagerada, cartunesca mesmo. Aqui o humor é de pequenos sorrisinhos e não de tortas na cara dos personagens (como ele inclusive faria em futuras parcerias com Tony Curtis). Enfim, vale a pena conhecer esse que foi um dos maiores clássicos da "Sessão da Tarde" nos anos 70 e 80.

Anáguas a Bordo (Operation Petticoat, Estados Unidos, 1959) Direção: Blake Edwards / Roteiro:: Stanley Shapiro e Maurice Richlin / Com Cary Grant, Tony Curtis e Joan O'Brien / Sinopse: Oficial da Marinha Americana (Cary Grant) é designado para comandar velho submarino precisando de reparos. Como o sistema de provisões da marinha americana não funciona de forma adequada ele tem que contar com os inúmeros cambalachos do tenente Holden (Tony Curtis) que providencia tudo que a velha lata de sardinha do mar precisa para voltar a funcionar de forma eficiente.

Pablo Aluísio. 

sábado, 15 de dezembro de 2007

Tarde Demais Para Esquecer

Um dos filmes românticos mais famosos de Hollywood. "Tarde Demais Para Esquecer" marcou época por causa de sua trama romântica e cheia de charme. Junte a isso um casal muito entrosado em cena e uma trilha sonora simplesmente inesquecível (cantada pelo ótimo cantor Vic Damone). A estória quase todo mundo já conhece: Playboy conquistador (Cary Grant) se apaixona por uma espirituosa passageira (Deborah Kerr) durante uma viagem de navio entre a Europa e os Estados Unidos. O problema é que ambos estão comprometidos. Ele com uma rica herdeira nova-iorquina e ela por um homem bem sucedido que a venera. Quando a viagem chega ao fim resolvem criar um pacto: Caso não se casem em seis meses com seus respectivos e atuais pares se encontrarão no alto do prédio Empire State (um dos cartões postais de Nova Iorque) para firmarem compromisso entre si.

O roteiro criou escola no cinema americano, tanto que o filme acabou sendo refeito duas vezes nos anos seguintes (versões com Tom Hanks e Warren Beatty). O que pouco gente sabe é que o próprio "Tarde Demais Para Esquecer" era o remake de um clássico da década de 1930 chamado "Duas Vidas" estrelado pela atriz Irene Dunne (hoje injustamente esquecida). Em termos práticos podemos notar duas partes bem distintas na produção. Na primeira acompanhamos o casal se conhecendo e finalmente se apaixonando dentro do transatlântico. Em minha opinião é a melhor parte do filme. Cary Grant com todo seu charme tenta superar sua fama de "conquistador barato" para conquistar a bela e madura Deborah Kerr (muito bonita no filme, elegante e vestida com alta costura). A aproximação entre eles é sutil, feita de pequenos momentos - como convém a um romance passado na década de 50. Já a segunda parte mostra os encontros e desencontros do casal em terra firme (e que não seria adequado comentar detalhes aqui para não atrapalhar os que ainda não assistiram). Esse segundo ato é um pouco inferior ao primeiro. Sub-tramas desnecessárias aparecem (como o grupo infantil) e números musicais se alongam além do razoável. Mesmo assim o clímax, apesar de um pouco apressado, fecha com chave de ouro a trama.

Infelizmente nos dias atuais já não temos tantos filmes assim. Os próprios relacionamentos mudaram, a moralidade que movia os personagens de "Tarde Demais Para Esquecer", com toda a culpa pela suposta infidelidade, não existe mais. As pessoas hoje em dia simplesmente traem, sem necessidade de encontros marcados em noites chuvosas! Os romances são mais rasos e passageiros e quanto menos envolvimento existir, melhor. De qualquer forma para quem ainda gosta de um boa estória de amor o filme vai cair muito bem. Não há como negar que ele envelheceu um pouco, podendo soar meloso para os mais jovens, mas mesmo assim isso é o de menos pois seu saudosismo acabou virando um charme a mais em um filme já tão charmoso, mesmo após tantos anos de seu lançamento.

Tarde Demais Para Esquecer (An Affair to Remember, 1957) Direção de Leo McCarey / Roteiro de Delmer Davis e Leo McCarey / Elenco: Cary Grant, Deborah Kerr e Richard Danning / Sinopse: Playboy conhece bela mulher durante um cruzeiro atlântico. Após se enamorarem decidem marcar um encontro no prédio Empire Builiding de Nova Iorque.

Pablo Aluísio.

segunda-feira, 2 de abril de 2007

Boêmio Encantador

Título no Brasil: Boêmio Encantador
Título Original: Holiday
Ano de Produção: 1938
País: Estados Unidos
Estúdio: Columbia Pictures
Direção: George Cukor
Roteiro: Donald Ogden Stewart, Sidney Buchman
Elenco: Katharine Hepburn, Cary Grant, Doris Nolan, Lew Ayres, Edward Everett Horton, Henry Kolker

Sinopse:
Rapaz se apaixona por uma garota rica. Ela corresponde aos seus galanteios, mas ele teme ser rejeitada pela sua família milionária. Para superar essa situação delicada, ele decide elaborar um plano para ser executado durante um feriado muito especial. Filme indicado ao Oscar na categoria de melhor direção de arte (Stephen Goosson e Lionel Banks).

Comentários:
Comédia romântica sofisticada da década de 1930 em que se destacam o elenco e a direção sempre muito elegante do mestre George Cukor. O casal formado pelos sempre ótimos Katharine Hepburn e Cary Grant esbanja charme e elegância em cena. Muito jovens ainda, eles são o destaque dessa romântica produção. O roteiro tem uma certa ingenuidade, própria da época. Isso porém não é problema, mas um charme nostálgico a mais. Na verdade ele se apoia em um tipo de inocência social que hoje em dia soa até esquisito e sem muito nexo. Mesmo assim o espectador deve ter em mente que está assistindo a um filme que foi produzido há mais de 80 anos e por isso deve tentar se adequar ao contexto histórico social em que ele foi realizado. Por falar nisso um dos problemas que o cinéfilo terá que enfrentar é a má qualidade das cópias que sobreviveram ao desafio do tempo. Algumas versões foram restauradas, porém problemas ainda persistem. O diretor Martin Scorsese trabalhou com sua equipe na restauração de filmes antigos e esse "Holiday" foi um deles. O resultado melhorou muito a qualidade da imagem e do som, mas obviamente por ser tão antigo há um limite para esse tipo de melhoria. Assim se você se interessa pela história do cinema não deixe de ver "Boêmio Encantador", nem que seja para apenas conhecer os trejeitos sociais daqueles tempos ou ver dois mitos do cinema ainda jovens e esbanjando sedução e charme em cena, tudo embalado por um fino humor dos anos 1930.

Pablo Aluísio.

sexta-feira, 16 de março de 2007

Cary Grant: An Affair to Remember

Nickie Ferrante (Cary Grant) é um playboy conquistador que se apaixona por uma espirituosa passageira, Terry McKay (Deborah Kerr), durante uma viagem de navio entre a Europa e os Estados Unidos. O problema é que ambos estão comprometidos. Ele com uma rica herdeira nova-iorquina e ela por um homem bem sucedido que a venera. Quando a viagem chega ao fim resolvem criar um pacto romântico. Caso não se casem em seis meses com seus respectivos e atuais pares, se encontrarão no alto do prédio Empire State (um dos cartões postais de Nova Iorque) para firmarem compromisso entre si.

Um dos filmes românticos mais famosos de Hollywood. "Tarde Demais Para Esquecer" marcou época por causa de sua trama romântica e cheia de charme. Junte a isso um casal muito entrosado em cena e uma trilha sonora simplesmente inesquecível (cantada pelo ótimo cantor Vic Damone). O roteiro criou escola no cinema americano, tanto que o filme acabou sendo refeito duas vezes nos anos seguintes (versões com Tom Hanks e Warren Beatty). O que poucos sabem é que o próprio "Tarde Demais Para Esquecer" era o remake de um clássico da década de 1930 chamado "Duas Vidas" estrelado pela atriz Irene Dunne (hoje injustamente esquecida). Em termos práticos podemos notar duas partes bem distintas na produção. Na primeira acompanhamos o casal se conhecendo e finalmente se apaixonando dentro do transatlântico. Em minha opinião é o melhor momento do filme. Cary Grant com todo seu charme tenta superar sua fama de "conquistador barato" para conquistar a bela e madura Deborah Kerr (muito bonita no filme, elegante e vestida com alta costura).

A aproximação entre eles é sutil, feita de pequenos momentos - como convém a um romance passado na década de 50. Já a segunda parte mostra os encontros e desencontros do casal em terra firme (e que não seria adequado comentar detalhes aqui para não atrapalhar os que ainda não assistiram). Esse segundo ato é um pouco inferior ao primeiro. Subtramas desnecessárias aparecem (como o grupo infantil) e números musicais se alongam além do razoável. Mesmo assim o clímax, apesar de um pouco apressado, fecha com chave de ouro a trama. Infelizmente nos dias atuais já não temos tantos filmes assim. Os próprios relacionamentos mudaram, a moralidade que movia os personagens de "Tarde Demais Para Esquecer", com toda a culpa pela suposta infidelidade, não existe mais. As pessoas hoje em dia simplesmente traem, sem necessidade de encontros marcados em noites chuvosas! Os romances são mais rasos e passageiros e quanto menos envolvimento existir, melhor. De qualquer forma para quem ainda gosta de um boa estória de amor o filme vai cair muito bem. Não há como negar que ele envelheceu um pouco, podendo soar meloso para os mais jovens, mas mesmo assim isso é o de menos pois seu saudosismo acabou virando um charme a mais em um filme já tão charmoso, mesmo após tantos anos de seu lançamento.

Tarde Demais Para Esquecer (An Affair to Remember, Estados Unidos, 1957) Estúdio:  Twentieth Century Fox / Direção: Leo McCarey / Roteiro: Delmer Davis, Leo McCarey / Elenco: Cary Grant, Deborah Kerr, Richard Danning, Neva Patterson, Cathleen Nesbitt, Robert Q. Lewis / Filme indicado ao Oscar nas categorias de Melhor Fotografia, Melhor Figurino, Melhor Som e Melhor Música Original (An Affair to Remember).

Pablo Aluísio.

sexta-feira, 5 de janeiro de 2007

Boêmio Encantador

Título no Brasil: Boêmio Encantador
Título Original: Holiday
Ano de Produção: 1938
País: Estados Unidos
Estúdio: Columbia Pictures
Direção: George Cukor
Roteiro: Donald Ogden Stewart, Sidney Buchman
Elenco: Katharine Hepburn, Cary Grant, Doris Nolan, Lew Ayres, Henry Kolker, Binnie Barnes

Sinopse: 
Johnny Case (Cary Grant) é um rapaz pobre que se apaixona por uma garota rica chamada Linda Seton (Katharine Hepburn). Ela corresponde aos seus avanços românticos, mas ele teme ser rejeitado pela família milionária dela. Para superar isso, Johnnqy decide elaborar um plano para ser executado durante um feriado muito especial. Filme indicado ao Oscar na categoria de Melhor Direção de Arte.

Comentários:
Comédia romântica sofisticada da década de 1930 em que se destacam o elenco e a direção sempre muito elegante do mestre George Cukor. O casal formado pelos sempre ótimos Katharine Hepburn e Cary Grant esbanja charme e elegância em cena. Muito jovens ainda, eles literalmente carregam o filme nas costas, uma vez que não havia como negar que o roteiro era bem ingênuo e não muito bem escrito. Essa aliás foi a crítica mais recorrente ao filme em seu lançamento original. Na verdade, ele se apoia em um tipo de inocência social que hoje em dia soa até esquisito e sem muito nexo. Mesmo assim o espectador deve ter em mente que está assistindo a um filme que foi produzido há mais de 70 anos e por isso deve tentar se adequar ao contexto histórico social em que ele foi realizado. Por falar nisso, um dos problemas que o cinéfilo terá que enfrentar é a má qualidade das cópias que sobreviveram ao desafio do tempo. O diretor Martin Scorsese trabalhou com sua equipe na restauração de filmes antigos e esse "Holiday" foi um deles. O resultado melhorou muito a qualidade da imagem e som, mas obviamente por ser tão antigo há um limite para esse tipo de melhoria. Assim se você se interessa pela história do cinema não deixe de ver "Boêmio Encantador", nem que seja para apenas conhecer os trejeitos sociais daqueles tempos ou ver dois mitos do cinema ainda jovens e esbanjando sedução e charme em cena, tudo embalado por um fino humor dos anos 30.

Pablo Aluísio.