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terça-feira, 5 de março de 2024

Candy

Título no Brasil: Candy
Título Original: Candy
Ano de Lançamento: 1968
País: Estados Unidos, França
Estúdio: American Broadcasting Company (ABC)
Direção: Christian Marquand
Roteiro: Buck Henry, Terry Southern
Elenco: Ewa Aulin, Richard Burton, Marlon Brando, Charles Aznavour, James Coburn, John Huston, Walter Matthau, Ringo Starr

Sinopse:
Uma jovem e inocente garota colegial, conhecida apenas como Candy (Docinho) acaba conhecendo uma longa série de homens mais velhos, alguns bem interessantes, outros completamente malucos. E nessas experiências vai aprendendo sobre o amor, a vida e a felicidade. E tudo vai acontecendo em plena era do flower power, no mágico ano de 1968, em pleno auge do movimento hippie.

Comentários:
Em sua autobiografia, em um momento de confissão e lucidez, Brando reconheceu que fez filmes bem ruins ao longo de sua carreira. Um exemplo que ele citou foi justamente esse "Candy". Para Brando fazer esse filme foi um dos maiores erros de sua carreira. Apenas aceitou o convite porque se considerava muito amigo do diretor Christian Marquand e não teve coragem de lhe dizer não! Iria se arrepender amargamente nos anos seguintes. O filme foi feito no período em que nada parecia dar certo na vida do ator. Muitos problemas pessoais envolvendo suas ex-esposas e na vida profissional as coisas também não iam bem, com sucessivos fracassos de bilheteria. De uma coisa tenho certeza, Brando acertou em sua avaliação pessoal. Esse filme é muito ruim mesmo. Nada parece certo, passando pela história boboca, indo pelos figurinos bizarros e até mesmo pela má interpretação do próprio Brando. E olha que seu elenco está cheio de gente famosa da época, mas nada disso pareceu melhorar um filme fadado a ser muito fraco. Enfim, um erro da primeira à última cena. O pior filme de Marlon Brando, sem dúvida! 

Pablo Aluísio.

segunda-feira, 22 de maio de 2023

Os Homens Violentos da Klan

Os Homens Violentos da Klan
O ator Richard Burton deu completo apoio à luta dos direitos civis nos Estados Unidos na década de 1960. Ele sempre quis expressar no cinema suas convicções políticas. Então quando esse roteiro lhe foi oferecido pelo estúdio ele nem pensou duas vezes em aceitar a oferta. A história, baseada em fatos reais, contava parte do problema imenso que era a existência de organizações racistas e de supremacia branca no sul dos Estados Unidos. Entre elas havia a mais conhecida de todas, a infame Ku Klux Klan. No filme Burton interpretava um homem que lutava contra a Klan no interior do Alabama. Uma região com racismo estrutural intenso dentro da sociedade local. E tudo explodia quando um jovem negro era acusado de estupro de uma mulher branca. 

Quando o filme foi lançado e chegou nos cinemas houve uma forte reação contra em estados do Sul do país. Alguns cinemas boicotaram o filme e se recusaram a exibi-lo. Richard Burton foi criticado e xingado. Pior do que isso, o ator foi ameaçado de morte por grupos racistas violentos. Isso obviamente o assustou bastante, assim como a sua esposa, a atriz Elizabeth Taylor. Em entrevistas, Burton se mostrou chocado em saber que a Klan ainda era forte e infiltrada dentro do círculo de poder nesses estados sulistas. A velha ferida aberta durante a guerra civil nos Etados Unidos ainda estava aberta! 

Os Homens Violentos da Klan (The Klansman, Estados Unidos, 1974) Direção: Terence Young / Roteiro: William Bradford Huie, Millard Kaufman, Samuel Fuller / Elenco: Richard Burton, Lee Marvin, Cameron Mitchell / Sinopse: Uma pequena cidade no interior do Alabama, no sul dos Estados Unidos, explode em violência, fúria e ódio racial após um negro ser acusado de ter estuprado uma mulher branca na região. 

Pablo Aluísio.

quinta-feira, 11 de agosto de 2022

Zulu

“Zulu” é um desses filmes que ajudam o espectador a entender o processo de colonização promovido pelos ingleses ao redor do mundo, durante a era vitoriana. No filme acompanhamos o aspecto militar desse sistema. O enredo se passa durante o conflito entre o Reino Zulu (denominação um tanto difusa e vaga, usada pelos ingleses para designar uma série de tribos localizadas na África do Sul) e as tropas britânicas estacionadas naquela região. Não se sabe bem a razão, mas o fato foi que a partir de um determinado momento os Zulus decidiram combater a presença do branco europeu em suas terras. E isso aconteceu depois de anos de paz entre eles.

Até aquele momento havia uma certa harmonia na região. A disputa territorial ficou conhecida como Guerra Anglo-Zulu. A tragédia humana foi terrível, pois a guerra ocasionou milhares de mortes para ambos os lados. Obviamente as tropas do império britânica eram muito mais bem armadas e organizadas que as forças das tribos nativas. Foi claramente um choque de civilizações. Do ponto de vista dos europeus todos aqueles povos armados de lanças e escudos rudimentares eram incivilizados e primitivos. Em caso de guerra deveriam ser eliminados sumariamente. 

O filme apresenta um ótimo elenco, com o melhor que o cinema inglês tinha a oferecer naquele período. O protagonista é interpretado por Michael Caine. No filme ele atua como um oficial britânico que é designado para servir na distante colônia africana, poucos dias antes do conflito se deflagrar. Sua postura, com uniforme intocável e limpo, acaba contrastando na tela violentamente com o primitivismo dos guerreiros Zulus. Esses eram guerreiros bravos e destemidos, mas não tinham uma tecnologia bélica à altura para enfrentar os disciplinados ingleses. Sequer conheciam as armas de fogo, lutando apenas com seus primitivos instrumentos de guerra. Estavam em maior número, mas os ingleses tinham também muitos pontos a seu favor nessa guerra sangrenta.

“Zulu” foi muit bem recebido pela crítica, principalmente por sua narrativa objetiva e imparcial. Aliás a narração em off foi executada pelo grande ator Richard Burton, que anos depois iria ele próprio estrelar um filme sobre o mesmo tema, mas mostrando os fatos que ocorreram antes da chacina tribal. Tudo o que aconteceu nesse massacre em 1879 deixou duas grandes lições para o Império Britânico. O primeiro foi que não importava o grau de civilização dos nativos locais de suas colônias, pois o inimigo jamais poderia ser subestimado. A segunda foi a de que o Império deveria adotar uma postura mais diplomática com as tribos locais para evitar justamente tudo o que ocorreu nesse evento histórico. Em conclusão, temos aqui um excelente filme para quem estiver interessado em conhecer melhor a colonização promovida pelo Império Britânico na época do longo reinado da Rainha Vitória.

Zulu (Zulu, Inglaterra, 1964) Direção: Cy Endfield / Roteiro: John Prebble, Cy Endfield / Elenco: Michael Caine, Richard Burton (narração), Stanley Baker, Jack Hawkins, Ulla Jacobsson, James Booth / Sinopse: Jovem oficial é enviado para uma região remota da África do Sul onde tribos do chamado Reino Zulu começam a se rebelar contra a presença britânica na região. Uma grande guerra está prestes a começar e ele, sem querer, acaba vivenciando esse trágico momento histórico. Filme indicado ao BAFTA Awards na categoria de Melhor Direção de Arte (Ernest Archer).

Pablo Aluísio. 

quinta-feira, 14 de julho de 2022

Cleópatra

Alguns filmes mudam seu status conforme os anos se passam. Vejam o caso desse "Cleópatra". Na época de seu lançamento original ele não foi bem recebido pela crítica e sua bilheteria, embora tenha sido boa, não conseguiu recuperar o investimento da cara produção nas bilheterias. Muita gente reclamou, muita gente classificou o filme como um fracasso e o próprio estúdio se arrependeu de ter entrado em uma aventura cinematográfica tão cara e cheia de problemas. Vale lembrar que durante as filmagens a atriz Elizabeth Taylor teve um sério problema de saúde e quase morreu, para desespero da Fox que havia pago, pela primeira vez na história, um cachê de um milhão de dólares para uma atriz!

Pois bem, o tempo passou, os anos foram ficando para trás e "Cleópatra" foi sendo exibido na TV e depois lançado em vídeo, em edição luxuosa, cheia de extras. Com isso o filme foi ganhando uma nova avaliação (inclusive da crítica especializada) que lhe deu finalmente o título de grande cinema. E penso que foi uma justiça tardia. Sempre discordei totalmente das críticas dos anos 60 que avaliaram o filme como uma bomba. Longe disso. Esse é um dos melhores épicos já produzidos por Hollywood. Tanto isso é verdade que nunca mais houve outro filme sobre essa rainha do Egito nessas dimensões. Uma prova que de fato foi um daqueles filmes definitivos sobre um dos capítulos mais conhecidos da história. Em meu ponto de vista é uma obra-prima da sétima arte.

Cleópatra (Cleopatra, Estados Unidos, 1963) Direção: Joseph L. Mankiewicz / Roteiro: Joseph L. Mankiewicz, Ranald MacDougall / Elenco: Elizabeth Taylor, Richard Burton, Rex Harrison, Roddy McDowall, Martin Landau / Sinopse: O filme conta a história da rainha do Egito Cleópatra, que se envolveu romanticamente com Júlio César e depois teve um ardente romance com o general romano Marco Antônio.

Pablo Aluísio. 

quarta-feira, 9 de março de 2022

O Carrasco de Roma

Título no Brasil: O Carrasco de Roma
Título Original: Rappresaglia
Ano de Produção: 1973
País: França, Itália
Estúdio: CCCF Films
Direção: George P. Cosmatos
Roteiro: Robert Katz, George P. Cosmatos
Elenco: Richard Burton, Marcello Mastroianni, Leo McKern, John Steiner, Anthony Steel, Peter Vaughan

Sinopse:
II Guerra Mundial. Uma tropa de soldados da Alemanha é morta em uma emboscada. Como represália um oficial nazista da SS toma a decisão de executar mais de 400 italianos, moradores de Roma. O evento passou a ser conhecido como o Massacre de Roma.

Comentários:
Nas guerras todos os tipos de atrocidades são cometidas. A II Guerra Mundial foi palco de muitos crimes de guerra. Para o povo de Roma nada foi pior do que esse massacre promovido por um oficial nazista chamado Herbert Kappler (Burton, em excelente atuação). Depois que soldados do exército alemão caíram em uma emboscada ele decidiu que iria se vingar nos civis. Foram escolhidos 400 moradores de Roma, pessoas selecionadas a esmo, para morrerem em vingança à morte dos militares do III Reich. Uma grande atrocidade, sem dúvida. O filme traz um tema delicado, sensível. Para muitos foi o melhor filme do diretor George P. Cosmatos. Por fim vale lembrar que essa produção chegou a ser lançada no Brasil em VHS pelo selo Globo Vídeo. Só que mudaram o título na ocasião para "O Massacre de Roma".

Pablo Aluísio.

segunda-feira, 25 de janeiro de 2021

Selvagens Cães de Guerra

A ideia era muito boa. Reunir um grupo de atores veteranos para a produção de um filme de guerra como nos velhos tempos. "Selvagens Cães de Guerra" foi produzido já no final da década de 1970. Por essa época o que estava em moda no cinema eram os filmes do tipo "Guerra nas Estrelas". Fazer um filme com combatentes da II Guerra Mundial era considerado algo ultrapassado. Mesmo assim a Warner Bros resolveu apostar suas fichas nesse novo filme. Claro, visando atingir sobretudo os mais velhos, um grupo que ainda significava bastante em tempos de bilheteria. Afinal a velha guarda também tinha que ter seu próprio espaço na programação dos cinemas.

A Warner só contratou feras. O primeiro a entrar no projeto foi Richard Burton. Naquela altura de sua vida ele estava precisando de altas somas em dinheiro por causa do divórcio com sua ex-esposa Elizabeth Taylor. Depois de sua entrada na produção as coisas ficaram mais fáceis. O Estúdio contratou o próprio James Bond em pessoa, ou melhor dizendo, o ator que o interpretava na época, o sempre bom Roger Moore. John Wayne foi convidado, mas problemas de saúde o impediram de fazer o filme. Assim a vaga foi preenchida pelo também ótimo Richard Harris. Por fim Stewart Granger e Hardy Krüger completaram a equipe. A direção ficou a cargo do especialista inglês Andrew V. McLaglen, que anos depois iria dirigir outro filme muito parecido com esse, chamado "Os Doze Condenados".

A trama também era bem bolada. Uma multinacional britânica decidia derrubar um ditador cruel na África central. Os executivos da companhia então resolviam contratar um bando de mercenários (veteranos, em sua maioria) na cidade de Londres para enviá-los para salvar o líder da oposição, um político virtuoso e honesto que foi preso por ordens diretas do regime ditatorial que estava no poder. O problema é que ele estava seriamente doente após ficar tantos anos encarcerado. Não seria uma missão isenta de muitas dificuldades operacionais. Mesmo assim os membros da equipe se uniam, dispostos a irem até o final. Para eles uma missão dada seria sempre uma missão cumprida.

E para quem achava que esse tipo de filme não faria mais sucesso, o resultado nas bilheterias foi muito bom. Com excelente elenco formado por atores veteranos, "Selvagens Cães de Guerra" acabou virando um modelo a ser seguido nos anos que viriam. De fato basta pensar no auge dos filmes de ação que iria ocorrer na década seguinte, para entender que essa produção acabou criando mesmo um estilo novo de fazer filmes de guerra, modelo esse que seria seguido por Sylvester Stallone e Arnold Schwarzenegger, no auge de suas carreiras. A intenção não era mais reproduzir um evento histórico marcante da Segunda Guerra, mas sim apostar em incríveis cenas de ação e violência como objetivo final do filme. Richard Burton já estava no fim de sua longa carreira, mas conseguiu trazer grande veracidade ao seu personagem do Coronel Faulkner. Na época das filmagens ele também estava enfrentando o drama do alcoolismo, porém conseguiu ser profissional o suficiente para que seus problemas não transparecessem para as cenas. Já Roger Moore estava colhendo os frutos de seu sucesso como James Bond. Com tanta gente boa envolvida não poderia se ter outro resultado. O filme acabou abrindo as portas para o cinema brucutu que iria dominar a indústria cinematográfica nos anos 80.

Selvagens Cães de Guerra (The Wild Geese, Estados Unidos, 1978) Estúdio: Warner Bros / Direção: Andrew V. McLaglen / Roteiro: Reginald Rose, Daniel Carney / Elenco: Richard Burton, Roger Moore, Richard Harris, Stewart Granger / Sinopse: Grupo de mercenários é reunido por uma grande companhia inglesa para derrubar um ditador sanguinário na África que está atrapalhando seus planos na região. A ideia é destituir o ditador do poder, para colocar em seu lugar o líder da oposição, que se encontrava preso em uma masmorra.

Pablo Aluísio.

quinta-feira, 21 de janeiro de 2021

A Noite do Iguana

Mais um excelente filme assinado pelo mestre John Huston. O projeto foi inicialmente desenvolvido para ser estrelado por Marlon Brando, mas esse desistiu de assumir o personagem do reverendo perturbado por estar envolvido em muitos problemas pessoais na época. Uma pena pois o filme parecia muito adequado a ele já que o roteiro era baseado em mais uma peça do genial Tennessee Williams. Como se sabe esse grande autor da dramaturgia americana gostava de colocar todos os seus personagens em situações quase banais, mas que seduzia o espectador basicamente pela grande força de seus diálogos inteligentes e instigantes, discutindo as grandes questões universais. A fórmula havia dado tão certo em outros grandes textos de Williams e voltava a funcionar maravilhosamente bem aqui, tudo abrilhantado pelas ótimas atuações de Richard Burton (em grande forma profissional) e Ava Gardner (praticamente uma força da natureza). Dois grandes astros do cinema americano, bem populares, que a despeito da fama aceitaram interpretar esses personagens um tanto marginais no meu ponto de vista. Não era algo fácil de se fazer, ainda mais partindo de atores que tinham que manter uma certa imagem limpa para a sociedade. Atravessar a linha oposta poderia significar muito em termos de bilheteria. Eles porém foram em frente.

A trama se passa em uma pousada decadente localizada em um distante vilarejo. É lá que vai parar o Reverendo Shannon (Richard Burton). Em crise de fé, ele acaba tendo que lidar com as três fortes mulheres que convivem no local. A primeira é Maxine (Ava Gardner). Independente, liberada sexualmente, não consegue transpor esse espírito livre para sua personalidade emocional que muitas vezes se revela sem força. Sue Lyon (a atriz que ficou famosa internacionalmente em “Lolita”) interpreta Charlotte Goodall, uma jovem sexualmente atraente que não se importa muito com as consequências de suas atitudes irresponsáveis. Por fim há Hannah Jelkes (Deborah Kerr), uma artista que deseja viver de sua arte, misturando geralmente sua obra com sua própria vida pessoal. “A Noite do Iguana” não nega sua origem teatral em nenhum momento. A força do filme vem justamente dos diálogos que vão dissecando as pequenas e grandes hipocrisias da sociedade como um todo. Um filme belamente bem escrito que merece ser redescoberto pelos amantes da sétima arte.

A Noite do Iguana (The Night of the Iguana, Estados Unidos, 1964) Direção: John Huston / Roteiro: Anthony Veiller, baseado na peça escrita por Tennessee Williams / Elenco: Richard Burton, Ava Gardner, Deborah Kerr, Sue Lyon, Grayson Hall / Sinopse: Em uma pousada decadente de um balneário isolado quatro personagens se enfrentam entre si, discutindo sobre as pequenas e grandes questões da existência humana. Filme vencedor do Oscar na categoria de Melhor Figurino. Também indicado nas categorias de Melhor Direção de Arte, Melhor Fotografia e Melhor Atriz Coadjuvante (Grayson Hall).

Pablo Aluísio.

quinta-feira, 9 de abril de 2020

Absolvição

Título no Brasil: Absolvição
Título Original: Absolution
Ano de Produção: 1978
País: Inglaterra
Estúdio: 23rd Century
Direção: Anthony Page
Roteiro: Anthony Page
Elenco: Richard Burton, Dominic Guard, David Bradley, Billy Connolly, Andrew Keir, Willoughby Gray

Sinopse:
Em um colégio católico na Inglaterra, um professor, o padre Goddard (Richard Burton), fica chocado ao saber em confissão que um de seus alunos preferidos cometeu um crime bárbaro. Impedido de revelar tudo, por causa do segredo da confissão, ele entra em crise existencial.

Comentários:
O roteiro desse filme foi baseado numa peça teatral inglesa que fez muito sucesso na década de 1960. Interessado pelo material o ator Richard Burton decidiu ele mesmo bancar parte da produção, contratando o próprio diretor da peça de teatro, Anthony Page, para dirigir e roteirizar o filme. O resultado ficou muito bom, embora tenha sofrido críticas por dois motivos principais. O primeiro foi que o final do filme foi mudado no cinema. Procurando dar mais agilidade e movimento - algo desnecessário em um teatro - o filme mudou aquilo que para muitos era o ponto alto da peça. Acusado de priorizar uma certa ação e pirotecnia, ao invés de investir mais fundo na dramaticidade, essa foi uma crítica justa. Outro ponto que desagradou os críticos de cinema da época, no lançamento original do filme, foi a incrível semelhança entre esse enrendo e o clássico de Alfred Hitchock, "A Tortura do Silêncio". De fato ambos os filmes partiam do mesmo ponto, a impossibilidade de um padre contar o que sabia em um crime chocante e aterrorizante. De qualquer forma a brilhante interpretação do ator Richard Burton acabou compensando todas essas pequenas falhas.

Pablo Aluísio.

domingo, 19 de janeiro de 2020

As Chuvas de Ranchipur

Para superar problemas no casamento o rico Lord inglês Albert Esketh (Michael Rennie) e sua elegante esposa Lady Edwina Esketh (Lana Turner) decidem viajar até a distante Índia, província do império britânico, para fazer turismo e comprar cavalos de raça para seu plantel na Inglaterra. Seu destino é a região de Ranchipur. Uma vez lá Lady Edwina acaba se apaixonando por um médico idealista, o Dr. Major Rama Safti (Burton), dando origem a um perigoso triângulo amoroso. Todo o intenso jogo romântico porém é interrompido por um enorme desastre natural que se abate sobre o exótico lugar. Aventuras exóticas em países distantes fizeram muito sucesso na época de ouro do cinema clássico americano. Havia um frescor em conhecer outras culturas sendo bastante para isso apenas a compra de um ingresso de cinema que custava poucos centavos de dólar. Assim houve no começo da década de 1950 um verdadeiro boom de interesse por parte do público diante desse tipo de filme.

E se o estúdio colocasse pitadas de romance com astros e estrelas de sucesso a boa bilheteria certamente seria certa. Todos esses ingredientes podem ser encontrados aqui em "The Rains of Ranchipur". Estrelado por Lana Turner e Richard Burton o roteiro explorava justamente esse nicho de mercado. Romance, aventura, terras exóticas e ação. Hoje em dia o filme é lembrado bastante por causa de seus bem realizados efeitos especiais (que chegaram a concorrer ao Oscar na categoria). De certa maneira é uma antecipação do que viria a se tornar bem popular algumas décadas depois, quando grandes desastres da natureza se tornavam o tema principal dos filmes que passaram a ser conhecidos como "cinema catástrofe". Tudo isso porque no enredo há um grande cataclisma natural. Se esse tipo de situação não lhe interessa é bom saber que a produção desfila um belo figurino em cena, principalmente nos trajes elegantes usados pelo personagem de Richard Burton. Lana Turner também não fica atrás, sempre tão fina e sofisticada. Em suma, uma aventura ao velho estilo, valorizado por um glamour tipicamente Hollywoodiano.

As Chuvas de Ranchipur (The Rains of Ranchipur, Estados Unidos, Inglaterra, 1955) Estúdio: Twentieth Century Fox / Direção: Jean Negulesco / Roteiro: Louis Bromfield, Merle Miller / Elenco: Lana Turner, Richard Burton, Fred MacMurray, Joan Caulfield / Sinopse: Um elegante e nobre casal inglês decide fazer uma viagem de turismo na exótica Índia, naquele momento uma colônia do poderoso império britânico. O que eles não poderiam prever é que iriam estar no país indiano bem no meio de um grande desastre natural.  Filme indicado ao Oscar na categoria de Melhores Efeitos Especiais (Ray Kellogg e Cliff Shirpser).

Pablo Aluísio.

sexta-feira, 17 de janeiro de 2020

Amargo Triunfo

Filme de guerra estrelado pelo ator Richard Burton. Ele interpreta o capitão inglês Leith (Burton), Especialista em arqueologia, ele é designado para participar numa perigosa missão que deve entrar em uma cidade ocupada pelos nazistas no norte da África, na Líbia. O objetivo é roubar documentos de uma guarnição do exército alemão. As informações poderiam ser vitais para o esforço de guerra. O problema é que esse comando será subordinado ao Major Brand (Curd Jürgens), O capitão tem problemas pessoais com ele. No passado ele teve um caso amoroso com a atual esposa do Major. E ele descobre sobre isso um dia antes da missão. Claro, de uma forma ou outra o oficial vai tentar prejudicar o personagem de Burton. E para piorar eles precisam atravessar um deserto hostil, uma situação nada fácil, nem para militares experientes.

Temos aqui um bom filme. Não é nada espetacular, nem grandioso, mas é uma boa diversão. O ator Richard Burton fez muitos filmes nesse estilo, sendo um dos mais lembrados o clássico "Selvagens Cães de Guerra", onde a fórmula atingiu sua perfeição. Nesse aqui as coisas são um pouco mais modestas. A questão é que o filme foi assinado pelo ótimo diretor Nicholas Ray, o que elevou minhas expectativas antes de assistir. E aí aconteceu o velho problema quando expectativas grandes encontram filmes meramente medianos. Fica um gostinho de decepção no ar.

O roteiro poderia ter explorado melhor a rivalidade entre o Capitão de Burton e o Major, esse com a dor de saber que sua esposa na verdade amava outro homem. Para um filme de guerra também não há grandes cenas de ação. Existe o combate contra os alemães na cidade da Líbia, depois eles fogem para o deserto e aí o filme se concentra mais em uma tensão psicológica entre os homens. Curiosamente - e aqui vai um spoiler - foi um dos poucos filmes em que vi o personagem de Richard Burton morrer. E não em campo de batalha. Ele é picado por um escorpião do deserto. Em um filme com heróis e covardes em cena os roteiristas poderiam ter escrito um final melhor para seu personagem. Porém a intenção foi mesmo colocar em evidência a pouca honradez do Major, o que acabou funcionando na cena final, com os bonecos de pano do exercício militar. Enfim, não é dos melhores filmes da carreira de Richard Burton, mas cumpre bem seu papel no quesito entretenimento.

Amargo Triunfo (Bitter Victory, Estados Unidos, França, 1957) Direção: Nicholas Ray / Roteiro: René Hardy, Nicholas Ray / Elenco: Richard Burton, Curd Jürgens, Ruth Roman, Christopher Lee / Sinopse: Durante uma expedição no deserto, na II Guerra Mundial, dois oficiais ingleses duelam psicologicamente entre si. A esposa do Major Brand (Curd Jürgens) foi apaixonada pelo Capitão Leith (Burton) no passado, o que cria uma grande tensão entre eles durante a missão. Filme indicado ao Venice Film Festival.

Pablo Aluísio. 

segunda-feira, 11 de novembro de 2019

Becket, O Favorito do Rei

A história do filme se passa em 1066, na Inglaterra medieval. No trono está o Rei Henrique II (Peter O'Toole). Ele é um monarca insolente, imoral, pouco afeito aos assuntos do Estado. Os prazeres, as mulheres e o vinho são mais importantes para ele. Para gerenciar o governo da nação ele resolve nomear seu grande amigo Thomas Becket (Richard Burton) como chanceler. A Inglaterra sofre há anos com a rivalidade entre normandos e saxões. O Rei é de uma linhagem normanda, enquanto sue novo chanceler é saxão. Embora sua decisão tenha sido acertada o Rei logo descobre que precisa de Becket também em outra função.

A Igreja Católica e seu clero se tornam muito poderosos no reino e Henrique II teme por sua coroa. Assim resolve nomear Becket como o Arcebispo de Canterbury. A decisão choca os católicos ingleses pois Becket jamais havia sido membro do clero. O fato porém é que o Rei impõe sua decisão a todos, contando obviamente com o apoio de Becket dentro da Igreja em seu favor. Só que para sua surpresa o novo Arcebispo começa a levar muito à sério sua função. Quando um nobre mata um padre de seu clero ele exige que seja julgado. O Rei assim fica dividido entre os interesses da Igreja e da nobreza, o que lhe coloca numa saia justa. Pior do que isso, Henrique II se sente traído por Becket, a quem pensava ser seu leal amigo.

Esse filme é realmente excelente. Tem uma ótima reconstituição de época e conta uma história real muito interessante. O mais curioso é que o personagem interpretado por Richard Burton se tornaria santo tanto da Igreja Católica como da Anglicana. Ele foi mártir da fé cristã naquele tempo distante, onde os reis absolutistas tinham todo o poder em suas mãos. Por falar em reis, o Henrique II de Peter O'Toole acabou se tornando uma das maiores interpretações de sua carreira e em se tratando de um ator com tantos clássicos em sua filmografia isso definitivamente não é pouca coisa. O roteiro trabalha com uma sugestão subliminar, muito tênue, tratando a imensa amizade que o Rei tinha com Becket quase como se fosse uma relação homoerótica. Os historiadores ainda debatem sobre essa estranha obsessão do monarca para com seu chanceler e amigo. O filme adota assim um tom de sugestão sutil, embora nunca assuma de uma vez essa delicada questão histórica. No mais é uma produção requintada com ótimos figurinos, trilha sonora, cenários e, é claro, ótimas atuações de todo o elenco.

Becket, O Favorito do Rei (Becket, Estados Unidos, Inglaterra, 1964) Direção: Peter Glenville / Roteiro: Jean Anouilh, Lucienne Hill, Edward Anhalt / Elenco: Richard Burton, Peter O'Toole, John Gielgud / Sinopse: Thomas Becket (Richard Burton), chanceler e amigo do Rei Henrique II da Inglaterra (Peter O'Toole), assume o mais alto cargo do clero católico da nação. Aos poucos porém ele começa a defender os interesses da igreja e não os do Rei, o que acaba enfurecendo o monarca que o considerava seu amigo. Filme vencedor do Oscar na categoria de Melhor Roteiro Adaptado. Também indicado ao Oscar nas categorias de Melhor Filme (Hal B. Wallis), Melhor Ator (Peter O'Toole), Melhor Ator (Richard Burton), Melhor Ator Coadjuvante (John Gielgud, como o Rei da França, Louis), Melhor Direção (Peter Glenville), Melhor Fotografia (Geoffrey Unsworth), Melhor Figurino (Margaret Furse), Melhor Som, Edição, Direção de Arte e Música. Vencedor do Globo de Ouro nas categorias de Melhor Filme - Drama e Melhor Ator (Peter O'Toole).

Pablo Aluísio.

sábado, 9 de novembro de 2019

Adeus às Ilusões

Laura Reynolds (Elizabeth Taylor) é uma mulher nada convencional. Artista, ateia, mãe solteira, vive com seu jovem filho numa pequena cabana, localizada numa praia isolada e ensolarada da Califórnia. Lá passa os dias pintando a natureza em seus quadros, enquanto seu garotinho explora as belezas naturais da região. Os dias de tranquila paz porém logo são encerrados. Após o garoto matar um animal silvestre ele é enviado para o juizado de menores onde um severo juiz impõe a seguinte escolha para sua mãe, Laura: Ou ele é enviado para uma escola de ensino religioso onde aprenderá os mais importantes valores morais da sociedade ou então será encaminhado para o reformatório, onde terá contato com pequenos marginais.

Laura não segue nenhuma religião e definitivamente não deseja que seu filho seja doutrinado mas diante da situação extrema concorda em matricular o jovem numa escola religiosa local administrada pelo reverendo Edward (Richard Burton). Esse aliás fica impressionado pelo modo de vida de Laura e seu filho. Vivendo de caça e pesca, com um suado trocado proveniente das vendas dos quadros de sua mãe, Edward fica intrigado pela estrutura dessa família sui generis e diferente. A aproximação porém trará sérias conseqüências na vida de todos os envolvidos pois o religioso começa a sentir uma atração incontida por Laura. Poderá um romance entre um religioso conservador e uma artista liberal, de idéias modernas, dar realmente certo?

“Adeus às Ilusões” é um drama estrelado pelo casal Elizabeth Taylor e Richard Burton sob direção do famoso Vincente Minnelli. O argumento é baseado na obra do autor Dalton Trumbo (um dos grandes roteiristas e escritores da era de ouro do cinema americano) e explora um amor que nasce de duas pessoas completamente diferentes. Ele é um religioso austero, disciplinador, firme em suas convicções e crenças e ela é o extremo oposto disso, artista, de alma livre, que não segue nenhuma regra e vive em harmonia no meio da natureza. Além disso é ateia convicta e não acredita em Deus. Como seria possível duas pessoas de pensamentos tão contrários se apaixonarem, passando por cima de todas as convenções sociais? O texto é excepcionalmente bem escrito, com diálogos saborosos onde cada um tenta convencer o outro de suas crenças (ou da falta delas).

Como não poderia deixar de ser a química entre o casal salta aos olhos nas cenas mais ardentes. Elizabeth Taylor está belíssima em cena, falando suavemente e de forma contida (o extremo oposto de sua personagem histérica em “Quem Tem Medo de Virginia Wolf?”). Burton também se sobressai com o dilema moral que vive seu reverendo. Não conseguindo mais conciliar entre sua fé e a paixão que sente por Laura (Taylor) ele sucumbe aos prazeres do amor e da sedução. Vincente Minelli reservou longos planos abertos para mostrar toda a beleza do lugar onde a produção foi realizada. Também encheu o filme de uma bela trilha sonora com muito jazz e bossa nova. Até o durão Charles Bronson aparece suavizado, em um papel singular, a de um jovem artista escultor que vive na praia entre amigos e saraus. Produção bem escrita, requintada e de bom gosto, “Adeus às Ilusões” é programa obrigatório para os fãs de Elizabeth Taylor, que aqui surge radiante. Não deixe de assistir.

Adeus às Ilusões (The Sandpiper, EUA, 1965) Direção: Vincente Minnelli / Roteiro: Irene Kamp, Louis Kamp, Dallton Trumbo / Elenco: Elizabeth Taylor, Richard Burton, Charles Bronson, Eva Marie Saint, Robert Webber / Sinopse: Religioso austero, conservador e rígido (Richard Burton) se apaixona por jovem artista (Elizabeth Taylor) que além de liberal e atéia também é mãe solteira de um pequeno garoto que se torna aluno da escola religiosa onde administra. Filme vencedor do Oscar de Melhor Canção Original, “The Shadow Of Your Smile".

Pablo Aluísio

sábado, 23 de março de 2019

Ratos do Deserto

Norte da África. Segunda Guerra Mundial. As tropas do eixo comandadas pelo brilhante general Erwin von Rommel (James Mason) tentam destruir os últimos batalhões de resistência aliada entrincheirados em Tobruk. O capitão inglês 'Tammy' MacRoberts (Richard Burton) é enviado para o campo de batalha para liderar um regimento australiano que tem como missão deter o avanço dos tanques do Afrika Korps alemão. Disciplinador e austero com seus comandados, ele logo se torna uma figura de destaque no meio do histórico conflito. Conseguirá ser bem sucedido em seu plano de defesa? Para quem gosta de filmes sobre a II Guerra Mundial esse "Ratos do Deserto" é um prato cheio. O roteiro explora uma das mais famosas e sangrentas batalhas de toda a guerra, a luta pelo controle do norte da África, uma região hostil, complicada, onde uma luta feroz entre alemães e ingleses se desenvolve. Eles travam uma queda de braço que entrou para a história. O capítulo de enfrentamento entre alemães e ingleses nas areias do deserto no norte da África certamente é um dos momentos mais estudados e lembrados de toda a guerra. Choque de titãs!

O elenco conta com dois grandes atores. James Mason está excelente como Rommel. Sua atuação não é apenas grandiosa no que diz respeito ao estilo do general mas também fisicamente, pois ele está muito parecido com o militar alemão. Richard Burton também se destaca em seu papel. Seu personagem encontra um dilema pessoal quando encontra um velho professor de sua adolescência lutando como um mero soldado raso em seu pelotão. Os diálogos que travam mostram bem como o roteiro é bem escrito, caprichado mesmo. Outro destaque é o talento demonstrado por Robert Wise, um grande cineasta. Ele procura ser realista mas também abre espaço para cenas que são visualmente impressionantes como a dos soldados caminhando em direção ao horizonte, enquanto olham para as explosões que os esperam, se refletindo nas nuvens do céu. Esse momento tem um grande impacto para o espectador pois vemos a fragilidade daqueles homens em frente a um conflito de dimensões épicas. Outra cena tecnicamente perfeita acontece quando Rommel ordena um ataque bem no meio de uma tempestade no deserto. Ele pretende literalmente camuflar seus tanques no meio do caos causado pela areia. Em conclusão podemos dizer que "Ratos do Deserto" merece o status de ser considerado um dos melhores filmes de guerra já feitos pelo cinema americano. É um filme realmente excepcional em todos os aspectos.

Ratos do Deserto (The Desert Rats, Estados Unidos, 1953) Estúdio: Twentieth Century Fox / Direção: Robert Wise / Roteiro: Richard Murphy / Elenco: Richard Burton, James Mason, Robert Newton / Sinopse: O filme resgata a acirrada batalha travada entre ingleses e alemães no norte da África durante a segunda guerra mundial.

Pablo Aluísio.

segunda-feira, 21 de janeiro de 2019

Cleópatra

Seguramente um dos filmes mais famosos da história do cinema. O filme nasceu da megalomania dos executivos da Fox, em especial do todo poderoso Darryl F. Zanuck, que tomou às rédeas da realização do filme com punhos de ferro. Embora não tenha sido creditado como diretor a verdade é que ele acabou dirigindo muitas das cenas pessoalmente, mostrando a importância que o projeto tinha para o estúdio naquele momento. Vendo a rival MGM colecionando um sucesso atrás do outro com seus épicos bíblicos a Fox resolveu correr atrás do prejuízo. Mesmo com problemas de caixa resolveu investir milhões em uma produção extremamente arriscada e problemática. Desde o momento em que o filme foi anunciado pelo estúdio, Cleópatra chamou a atenção da imprensa. Era caro demais, suntuoso ao extremo e traria o mito Elizabeth Taylor como a famosa rainha do Egito.

Para contracenar com ela foi escalado o trio formado por Rex Harrison (Júlio César), Roddy McDowall (Otavio Augusto) e finalmente Richard Burton (Marco Antônio). O roteiro já era por demais conhecido. O general Júlio César se apaixona pela monarca do Egito, Cleópatra, uma mulher tão bonita quanto sedenta de poder. Após Júlio César ser assassinado por senadores contrários ao seu constante acúmulo de poder, o braço direito de César, o também general Marco Antônio, se une à rainha do Egito para destruir a sede de poder de Otavio, sobrinho de César que pretendia subir ao trono de forma absoluta. Essa página é muito conhecida porque foi a partir dela que a República Romana foi substituída pelo Império, dando origem a uma linhagem de imperadores sanguinários e pervertidos.

Elizabeth Taylor ganhou um milhão de dólares para interpretar Cleópatra. Nunca na história uma atriz recebera tanto dinheiro por um só filme. A quantia chocou as pessoas e Elizabeth Taylor cunhou uma de suas mais famosas frases: “Se existe um idiota que me paga um milhão de dólares por um filme, não serei idiota de recusar”  Quando as filmagens começaram Liz Taylor era considerada o supro sumo da Diva do cinema. Jovem, linda, famosa e rica, ela tinha todos os requisitos para interpretar a soberana com extrema fidelidade. Aliás os bastidores de filmagens do épico acabaram se tornando mais famosos que o próprio filme. Taylor se apaixonou por Burton e ambos começaram um caso amoroso ruidoso que escandalizou mais uma vez Hollywood. Entre tapas e beijos eles colocaram a Fox em alerta. Para piorar a atriz teve um sério problema de saúde durante as filmagens que tiveram que ser interrompidas. Com cenários enormes e centenas de milhares de extras contratados a paralização das filmagens custou uma soma imensa para os já cambaleantes cofres do estúdio. Após vários meses de confusões, brigas e escândalos o filme finalmente foi lançado e dividiu as opiniões. Para alguns críticos a produção era um show de mau gosto e da breguice. Para outros era uma maravilha da sétima arte.

O público prestigiou, pois a curiosidade era forte. Durante muitos anos se afirmou que o filme foi um fracasso de bilheteria. Não é verdade. Apesar de ter sido extremamente caro, Cleópatra conseguiu pagar os custos da produção. Sua bilheteria ao redor do mundo salvou o filme de ser um desastre e deixou um pequeno lucro para a Fox. Não era o que o estúdio estava esperando mas também estava longe de ser um grande fracasso. Hoje, após tantos anos, podemos dizer que o saldo final de Cleópatra é bastante positivo. A imagem de Liz Taylor como a rainha virou ícone de nossa cultura e o filme é símbolo de um tipo de cinema épico que não mais se faz hoje em dia, infelizmente. A maior prova da longevidade da produção é o fato de sabermos que até hoje, mesmo após tantos anos, nenhum filme conseguiu superar a grandiosidade dessa película. Não existe maior prova de sua qualidade do que essa.

Cleópatra (Cleopatra, EUA, 1963) Direção: Joseph L. Mankiewicz, Rouben Mamoulian (não creditado), Darryl F. Zanuck (não creditado) / Roteiro: Joseph L. Mankiewicz, Ranald MacDougall, Sidney Buchman / Elenco: Elizabeth Taylor, Richard Burton, Rex Harrison, Roddy McDowall, Martin Landau, Cesare Danova / Sinopse: A rainha do Egito Cleópatra (Elizabeth Taylor) se apaixona e tem um filho com o poderoso romano Júlio César (Rex Harrison). Após sua morte violenta no idos de março no Senado, ela resolve se unir com o General Marco Antônio (Richard Burton) contra as forças de Otávio Augusto (Roddy McDowall). A guerra irá definir o destino de Roma nos séculos seguintes.

Pablo Aluísio.

domingo, 7 de agosto de 2016

Richard Burton - Paixão Proibida

Nesse fim de semana tive a oportunidade de conferir mais um clássico do cinema inglês. O filme em questão se chama "Look Back in Anger" (no Brasil, "Paixão Proibida"). É uma adaptação de uma peça teatral estrelada pelo ator Richard Burton. Aliás sábia escolha. É um daqueles personagens que você fica em dúvida se foi o ator que escolheu o papel ou o contrário disso. Isso porque o protagonista, Jimmy Porter, tinha muito a ver com o próprio Richard Burton. De temperamento mercurial e personalidade forte, ele acaba involuntariamente destruindo todos ao seu redor. Aliás, até seu próprio casamento acaba sendo tragado por suas atitudes nada nobres.

O enredo do filme se desenvolve em torno de um casal, Jimmy (Burton) e Alisson (Mary Ure). O casamento deles é o que se pode chamar de inferno na Terra. Tudo se baseia em um relacionamento destruído, em frangalhos, que só continua de pé por razões que a própria razão desconhece. O roteiro aliás é muito pertinente nesse aspecto pois mostra duas pessoas afundadas em uma união infeliz, repleta de brigas e ofensas, mas que continua sem muitas razões claras. Afinal quem gostaria de viver em um matrimônio onde não existe mais diálogo, mas só brigas, brigas, ofensas, provocações e humilhações diárias? Para piorar o personagem de Richard Burton sobrevive no limite, trabalhando como feirante de dia e tentando descolar alguns trocados como músico (ele toca trompete) em bares e boates, sem muito sucesso.

E onde o fracasso se instala também se instala a tentativa de descontá-lo nos outros. No caso o marido desconta toda a sua ira e frustração pessoal na própria esposa. Burton em cena está impagável. O ator parecia frustrado com o trabalho que vinha desenvolvendo em Hollywood e voltou para a Inglaterra para respirar ares mais artísticos, estrelar mais filmes que lembrassem o seu tempo de ator de teatro em Londres. Acertou em cheio. Certamente "Look Back in Anger" passou longe de ser tão popularmente comercial como os épicos de Roma e Guerra que Burton vinha estrelando em Hollywood, mas certamente lhe trouxe muito orgulho e reconhecimento pessoal pelo trabalho que desenvolveu. Acabou sendo indicado a dois prêmios importantes, o Globo de Ouro e o BAFTA Awards. Dizem que durante uma de suas habituais bebedeiras disse que o cinema americano era apenas o lugar onde ele ganhava suas fortunas, sendo que a paixão de ser ator só encontrava mesmo nos palcos e estúdios britânicos.

Por fim, outro bom motivo para conferir esse "Look Back in Anger" é a presença da jovem atriz
Mary Ure. Com cabelos platinados e rosto de beleza clássica ela atuou como a esposa de Richard Burton no filme. Uma mulher que pagou um alto preço por amar um homem que no fundo não queria amar ninguém e nem ser amado. Sua interpretação chama bastante a atenção do espectador, principalmente por ela apresentar uma maturidade e um grau de sofrimento que nem era condizente com sua idade na época em que o filme foi realizado. Infelizmente Mary teve um destino trágico ao morrer de uma overdose de drogas acidental. Ela ainda trabalharia ao lado de Burton em filmes como "O Desafio das Águias" (dizem que foi namorada do ator), mas infelizmente teve pouco tempo de vida para explorar todos os seus talentos dramáticos. Esse filme aqui acabou sendo uma boa oportunidade de conferir como ela era, além de linda esteticamente, uma grande atriz.

Pablo Aluísio.

sábado, 16 de março de 2013

O Exorcista II – O Herege

Havia assistido há muitos anos mas agora resolvi rever por pura curiosidade. Sabia que a continuação de um dos maiores clássicos do terror nunca foi considerado um bom filme mas devo confessar que até me espantei com sua falta de qualidade extrema. A trama de “O Herege” começa alguns anos depois dos eventos do primeiro filme quando a garotinha Regan MacNeil (Linda Blair) foi possuída por um demônio e exorcizada por padres da Igreja Católica, entre eles o padre Merrin (Max Von Sydow). Agora Regan já superou aquele drama e vive uma vida relativamente normal. Ela quer se dançarina profissional e estuda para isso. Ao mesmo tempo freqüenta uma psicóloga que tem a firme convicção de que tudo o que aconteceu não passou de um grave problema mental na garota, nada tendo a ver com possessões demoníacas. Para não deixar mais dúvidas sobre o que realmente aconteceu o Vaticano então envia o Padre Philip Lamont (Richard Burton) para realizar uma investigação completa sobre todos os acontecimentos do exorcismo da menina anos antes. Ele porém acaba descobrindo muito mais, inclusive sobre as verdadeiras origens do mal.

“O Exorcista II” tem dois grandes problemas em minha opinião. O primeiro é que o filme explica demais sobre as origens da entidade demoníaca que possuiu o corpo da garotinha no primeiro filme. Ficamos sabendo que ele se chama “Pazuzu”, que é um espírito maligno proveniente da África e que domina pragas de gafanhotos. Meus amigos fãs de terror eu pergunto: alguém realmente queria saber algo assim? Pergunto porque as explicações são tolas demais e quebram qualquer clima de mistério e suspense que o filme venha a ter. Os personagens falando o tempo todo em um demônio chamado “Pazuzu” acaba criando um humor involuntário que acaba com as pretensões de causar medo nesse filme. Para piorar o filme apresenta ainda uma engenhoca que “ligam as mentes” das pessoas que o usam. Parece aquelas engenhocas que o Dr. Brown dos filmes da série “De Volta Para o Futuro” usava, um trambolho completamente ridículo! Então se perde muito tempo com o uso desse equipamento onde entram na linha ao mesmo tempo o padre Lamont, a garota Regan e claro o... Pazuzu! Em determinado momento do filme fiquei realmente com pena de ver o grande Richard Burton envolvido em um abacaxi desse tamanho. Ele aliás não está nada bem, sempre com os olhos esbugalhados, suando e com cara de espanto (provavelmente ficou espantado com a ruindade do roteiro!). Enfim, se você gosta de “O Exorcista” faça um favor a si mesmo e nunca... repito... nunca veja esse “O Herege” pois caso contrário o primeiro filme vai acabar virando piada quando você se lembrar do tal Pazuzu! Francamente...

O Exorcista II – O Herege (Exorcist II: The Heretic, Estados Unidos, 1977) Direção: John Boorman / Roteiro: William Goodhart / Elenco: Richard Burton, Linda Blair, Louise Fletcher, Max Von Sydow / Sinopse: O Vaticano envia o Padre Lamont (Richard Burton) para investigar o exorcismo do primeiro filme. O que ele encontra porém é a origem do mal.

Pablo Aluísio.

domingo, 17 de junho de 2012

Alexandre, O Grande (1956)

Roteiro e Argumento: A história de Alexandre é bem conhecida. O filme segue didaticamente sua biografia e mostra todos os grandes momentos de suas incríveis conquistas. Os primeiros 60 minutos focam completamente na complicada relação entre Alexandre e seu pai, o Rei Filipe. Existem cenas que são idênticas às que são mostradas no filme de Oliver Stone. De forma geral gostei da forma como o roteiro tratou essa história, tudo bem dividido e mostrado. Produção: Não é tão rica como a de outras produções do mesmo período porém é luxuosa e bonita. O filme foi filmado em locações na Espanha, aproveitando inclusive antigas ruínas romanas. Isso deu um visual muito mais real às tomadas de cena, bem diferente dos épicos que eram filmados dentro dos estúdios em Hollywood e que muitas vezes soavam bem falsos. As cenas de batalha são boas e bem coreografadas, principalmente as finais, quando Alexandre enfrenta Dario no campo de batalha. 

 Direção: Robert Rossen era muito mais roteirista do que diretor. De fato ele só dirigiu dez filmes em sua carreira. A falta de experiência muitas vezes aparece no filme com quebras de ritmo e cenas avulsas que tão rápidas como surgem somem. Um diretor mais experiente faria um produto mais coeso e com maior agilidade. Elenco: Só há uma estrela no filme, Richard Burton. De cabelos pintados de loiro sua caracterização quase caiu na caricatura mas felizmente Burton deu a volta por cima. Ele está empenhado e interpreta Alexandre com convicção. De certa forma seu papel antecipou o que faria depois em Cleópatra.  

Alexandre, O Grande (Alexander, The Great, Estados Unidos, 1956) Direção e roteiro de Robert Rossen / Elenco: Richard Burton, Fredric March, Claire Bloom, Danielle Darrieux, Harry Andrews, Peter Cushing / Sinopse: Alexandre, filho do Rei Filipe da Macedônia, começa uma campanha de conquistas em direção ao oriente passando pela Pérsia e chegando até a Índia onde enfrenta uma rebelião de seus próprios homens cansados de tantas batalhas.  

Pablo Aluísio.

sábado, 7 de abril de 2012

Filmografia Comentada: Richard Burton

Ele não foi apenas o marido de Elizabeth Taylor. Richard Burton também foi um dos atores mais populares do cinema americano durante as décadas de 1950 e 1960. Conseguiu superar a fase de galã e de herói de aventuras para se tornar um ator respeitado que ousou levar vários textos de autores importantes para o cinema, como Tennessee Williams. Foi sete vezes indicado ao Oscar de melhor ator mas por uma dessas ironias do destino não venceu nenhuma. Bom de copo e brigão Richard Burton se vangloriava de seus antepassados galeses que costumavam beber um litro de whisky religiosamente todos os dias. Ao que tudo indica Burton estava disposto a levar a tradição familiar em frente pois continuou beberrão e fumante até o fim de seus dias. Gostava de tomar um litro de vodka todas as manhãs para ajudar no despertar matinal. Tanto abuso cobrou seu preço depois. Acabou morrendo vítima de cirrose hepática aos 58 anos em 1984. Deixou uma fortuna mesmo tendo gasto quase todo o seu dinheiro com joias caras durante seu conturbado relacionamento com Liz Taylor ao qual chegou a se casar não apenas uma mas duas vezes! Burton definitivamente não era um homem de moderação como bem demonstra sua vida intensa. Segue abaixo alguns de seus grandes filmes (posteriormente novos comentários serão adicionados à lista conforme outros filmes do ator venham a ganhar novas resenhas em nosso blog).

Alexandre, O Grande
Roteiro e Argumento: A história de Alexandre é bem conhecida. O filme segue didaticamente sua biografia e mostra todos os grandes momentos de suas incríveis conquistas. Os primeiros 60 minutos focam completamente na complicada relação entre Alexandre e seu pai, o Rei Filipe. Existem cenas que são idênticas às que são mostradas no filme de Oliver Stone. De forma geral gostei da forma como o roteiro tratou essa história, tudo bem dividido e mostrado. / Produção: Não é tão rica como a de outras produções do mesmo período porém é luxuosa e bonita. O filme foi filmado em locações na Espanha, aproveitando inclusive antigas ruínas romanas. Isso deu um visual muito mais real às tomadas de cena, bem diferente dos épicos que eram filmados dentro dos estúdios em Hollywood e que muitas vezes soavam bem falsos. As cenas de batalha são boas e bem coreografadas, principalmente as finais, quando Alexandre enfrenta Dario no campo de batalha. / Direção: Robert Rossen era muito mais roteirista do que diretor. De fato ele só dirigiu dez filmes em sua carreira. A falta de experiência muitas vezes aparece no filme com quebras de ritmo e cenas avulsas que tão rápidas como surgem somem. Um diretor mais experiente faria um produto mais coeso e com maior agilidade. / Elenco: Só há uma estrela no filme, Richard Burton. De cabelos pintados de loiro sua caracterização quase caiu na caricatura mas felizmente Burton deu a volta por cima. Ele está empenhado e interpreta Alexandre com convicção. De certa forma seu papel antecipou o que faria depois em Cleópatra.

O Desafio das Águias
General americano é feito prisioneiro por tropas alemãs. O alto oficial tem conhecimento dos planos aliados para o desembarque do dia D. Temendo que sob tortura ele revele esses planos uma equipe de elite do exército inglês é enviada com a missão de resgatá-lo de uma fortaleza quase inexpugnável onde ele é mantido sob rígida vigilância. Juntar o veterano Richard Burton ao jovem Clint Eastwood em um filme que une II Guerra Mundial e contra espionagem parece, a priori, uma ótima idéia. Foi justamente isso que o diretor Brian G. Hutton fez no finalzinho dos anos 60 com esse "O Desafio das Águias". O filme é ágil (apesar da duração) e mantém um bom nível nas diversas cenas de ação. Embora haja uma interessante subtrama de espionagem envolvida no roteiro o que dá o tom aqui realmente são as cenas de batalha, sabotagem e alpinismo. O filme em nenhum momento nega seu objetivo de ser um entretenimento de bom nível apenas. Em uma época em que os efeitos visuais eram primitivos, as cenas no teleférico da base alemã nos alpes impressiona. Embora o uso de back projection seja claro se percebe também que os dublês realmente ficaram pendurados por lá em diversos momentos, o que demonstra como eram bons em suas funções. Curioso entender que "O Desafio das Águias" faz parte da última geração de filmes de guerra aonde não se discutia ou se colocava em debate os problemas que conflitos como esse causavam. De certa forma os filmes de guerra mudariam radicalmente com o lançamento de "Apocalypse Now" alguns anos depois. Ao invés de simples filmes de ação as produções desse gênero iriam ser bem mais psicológicas, nada ufanistas ou patrióticas. Tudo iria desandar no chamado círculo do Vietnã com filmes que iriam invadir as telas na década de 80. Nesse aspecto não procurem nada parecido aqui em " Where Eagles Dare" pois o filme é pura diversão escapista apenas. Se o roteiro não inova o elenco pelo menos é de primeira linha. Richard Burton, já envelhecido e com olhos de ressaca (seu alcoolismo só aumentou ao longo dos anos) consegue dar conta do recado, apesar de estar visivelmente fora de forma. Já Clint Eastwood mostra porque iria se tornar um dos grandes astros de Hollywood. Jovial, com vasta cabeleira e pinta de durão o futuro Dirty Harry não economiza nas balas e nas porradas, ambas distribuídas fartamente ao longo do filme. Enfim, "Desafio das Águias" é indicado para apreciadores de filmes de guerra bem movimentados, com fartas doses de ação e que não se importem com um ou outro furo do roteiro. Faz parte de uma linha de produção que estava chegando ao fim. Filmes de guerra com muita ação e só. Se isso faz seu gosto pessoal procure assistir, não vai se arrepender.

Quem Tem Medo de Virginia Woolf?
Casal de meia idade decide receber um casal amigo em sua casa. A esposa interpretada por Elizabeth Taylor (em ótima caracterização) logo se excede na bebida. Em pouco tempo começa a ofender e destruir a imagem e auto estima de seu marido (Richard Burton, soberbo) o qualificando como um miserável, um derrotado e fracassado na vida. Logo a briga matrimonial foge totalmente do controle. O que posso dizer? Belo filme. Aqui o que importa mesmo é atuação do grande casal Elizabeth Taylor e Richard Burton. Basicamente tudo se passa em apenas uma noite, sendo explorada apenas uma situação. O problema básico é que os personagens em cena estão completamente embriagados e como sabemos quando a bebida sobe à cabeça as amarras sociais descem ladeira abaixo. Assim o que parecia ser apenas um tedioso encontro social vira uma verdadeira carnificina psicológica entre os presentes. Tudo é passado a limpo, desde segredos reveladoras a frustrações pessoais e profissionais. O argumento forte capta o momento de falência de um casamento quando a esposa transforma o marido em mero saco de pancadas, jogando todas as suas raivas reprimidas em cima dele de uma só vez.Do elenco o destaque absoluto é mesmo Elizabeth Taylor como Martha. Muita gente não dá o devido valor a Liz Taylor e geralmente usa seu estigma de estrela de Hollywood para rebaixar seu talento. Sempre fui contra essa visão preconceituosa em relação a ela, pois a considero uma das melhores atrizes da história do cinema americano (sendo estrela ou não). Aqui nesse filme provavelmente ela entrega sua melhor interpretação ao lado do maridão Burton (que vira quase uma escada para ela mas é salvo por outra brilhante atuação). Liz é intensa, visceral e não mede consequências. Engordou e se enfeou propositalmente para tornar sua personagem (uma dona de casa frustrada) mais verossímil. Richard Burton também se despiu de sua vaidade natural e imagem de galã viril para encarnar um pobre diabo que não consegue mais lidar com o inferno que sua vida se tornou. O mais curioso é que o casal real também se envolvia em bebedeiras homéricas e brigas públicas, o que provavelmente facilitou e muito em cena. Mas isso não tira seus méritos. Virginia Woolf é isso, excessivo, pesado, com cara de teatro filmado, mas que no final das contas se revela um filme simplesmente brilhante. Para quem gosta de grandes atuações é um prato cheio! Sirva-se à vontade.

O Homem Que Veio de Longe
Ótima produção do casal Taylor / Burton que para minha surpresa segue pouco conhecida. O roteiro é de Tennessee Williams baseado em sua própria peça "The Milk Train Doesn't Stop Here Anymore", o que por si só já é garantia de ótimos diálogos e cenas extremamente bem escritas. Obviamente o filme em nenhum momento nega sua origem teatral mas isso é compensado pelo uso de uma locação simplesmente maravilhosa: uma mansão em cima de um penhasco rochoso numa paradisíaca ilha no litoral italiano (localizada em Capo Caccia na Sardenha). É nesse cenário deslumbrante que Liz Taylor e Richard Burton duelam em cena, o que me lembrou muito em sua estrutura outro filme famoso do casal, "Quem Tem Medo de Virginia Woolf?". Ela inclusive aqui está muito mais diva do que no famoso filme que a consagrou. A produção foi um projeto pessoal de Liz Taylor. Ela inclusive escalou o desconhecido diretor Joseph Losey para comandar as filmagens que pelas locações distantes tiveram um maior grau de dificuldade em relação aos filmes rodados em estúdio. Liz vinha de um filme complicado, "The Comedians", ao lado de Burton que não havia sido muito bem recebido nem pela crítica e nem pelo público. Produção muito cara (só Burton recebeu um milhão de dólares de cachê pelo filme) não trouxe bom retorno de bilheteria quando lançado. Para recuperar o fôlega Elizabeth então resolveu voltar para os textos de Tennessee Williams e exigiu que o mesmo fosse o próprio roteirista do filme. Era uma tentativa de voltar aos anos de glória de sua carreira. O personagem de Elizabeth Taylor é uma viúva milionária (foi casada com seis magnatas) que há muito passou seu apogeu. Vivendo solitária em sua mansão ela é servida dia e noite por um grupo de lacaios prontos a atender qualquer que seja seu desejo. Isso porém não a impede de ser desbocada, despudorada e abusiva com todos à sua volta. Ditando sua biografia para uma secretária servil ela se surpreende quando um dia chega um desconhecido em sua casa (Burton) que aos poucos vai colocando em xeque o modo de agir da milionária. Há um curioso subtexto no roteiro sobre a real identidade do desconhecido, inclusive a de que ele na realidade seria um anjo da morte, tal como vimos em outra produção mais recente, "Meet Joe Black" com Anthony Hopkins e Brad Pitt. Mas será mesmo? Enfim, altamente recomendado para quem quiser conhecer mais a filmografia do mito Elizabeth Taylor.

Ana dos Mil Dias
Uma boa dica para quem gosta de temas históricos e da série de sucesso The Tudors é assistir esse filme estrelado por Richard Burton. O tema todos conhecemos: as várias histórias de alcova envolvendo o rei absolutista inglês Henrique VIII. Nesse caso o filme é centrado especificamente sobre o romance do Rei com sua segunda esposa, Ana Bolena. Um caso de amor que envolveu até mesmo questões de Estado que até hoje repercutem na história mundial (O Rei rompeu com a Igreja Católica e fundou a sua própria Igreja, chamada Anglicana, por causa da recusa do papa na época em anular seu primeiro casamento). O filme tem produção requintada, ótimas atuações e um bom roteiro, que procura na medida do possível ser bastante fiel aos fatos históricos. Richard Burton está particularmente bem no papel, fazendo com primor essa figura tão controvertida que era Henrique. A atriz que faz Ana Bolena, Geneviève Bujold, também está bem correta em sua caracterização. Talvez o único senão do filme seja a pouca exploração de um dos personagens centrais da história de Henrique VIII, o chanceler Sir Thomas Moore, o principal opositor ao rompimento de Henrique com a Igreja Romana. Em detrimento de sua participação o filme enfoca mais a presença do Cardel Wolsey e do maquiavelico Cromwel, o segundo chanceler do Rei. De certa forma é até compreensível que isso tenha acontecido, já que são tantos os personagens a se enfocar que seria praticamente impossível não haver omissões em um longa metragem como esse. Apenas seriados conseguem mostrar todos os detalhes de uma biografia tão rica em intrigas, traições e vilanias como a de Henrique. Fato esse demonstrado por The Tudors. O Filme merece ser conhecido com absoluta certeza. Além da riqueza de produção a película tem um desenvolvimento bem mais leve e acessível do que "O Homem que não vendeu sua Alma" (esse sim centrado e muito na história de Thomas Moore, mártir da fé católica que acabou sendo canonizado pela Igreja de Roma). O resultado se vê na tela, Burton foi indicado ao Globo de Ouro pela produção e até arranjou uma participação não creditada de sua esposa Elizabeth Taylor no filme, o que é um divertimento a mais, já que tentar encontrá-la no meio de tantos figurantes e atores coadjuvantes não é uma tarefa das mais simples. Enfim, gosta de filmes de época? Quer saber mais sobre o absolutismo que imperou na Europa ou simplesmente quer conhecer mais sobre a biografia desse polêmico Rei? Então assista Ana dos Mil Dias e alie bom divertimento a enriquecimento cultural.

Pablo Aluísio.

segunda-feira, 9 de janeiro de 2012

O Desafio das Águias

General americano é feito prisioneiro por tropas alemãs. O alto oficial tem conhecimento dos planos aliados para o desembarque do dia D. Temendo que sob tortura ele revele esses planos uma equipe de elite do exército inglês é enviada com a missão de resgatá-lo de uma fortaleza quase inexpugnável onde ele é mantido sob rígida vigilância. Juntar o veterano Richard Burton ao jovem Clint Eastwood em um filme que une II Guerra Mundial e contra espionagem parece, a priori, uma ótima ideia. Foi justamente isso que o diretor Brian G. Hutton fez no finalzinho dos anos 60 com esse "O Desafio das Águias". O filme é ágil (apesar da duração) e mantém um bom nível nas diversas cenas de ação. Embora haja uma interessante subtrama de espionagem envolvida no roteiro o que dá o tom aqui realmente são as cenas de batalha, sabotagem e alpinismo. O filme em nenhum momento nega seu objetivo de ser um entretenimento de bom nível apenas. Em uma época em que os efeitos visuais eram primitivos, as cenas no teleférico da base alemã nos alpes impressiona. Embora o uso de back projection seja claro se percebe também que os dublês realmente ficaram pendurados por lá em diversos momentos, o que demonstra como eram bons em suas funções.

Curioso entender que "O Desafio das Águias" faz parte da última geração de filmes de guerra aonde não se discutia ou se colocava em debate os problemas que conflitos como esse causavam. De certa forma os filmes de guerra mudariam radicalmente com o lançamento de "Apocalypse Now" alguns anos depois. Ao invés de simples filmes de ação as produções desse gênero iriam ser bem mais psicológicas, nada ufanistas ou patrióticas. Tudo iria desandar no chamado círculo do Vietnã com filmes que iriam invadir as telas na década de 80. Nesse aspecto não procurem nada parecido aqui em " Where Eagles Dare" pois o filme é pura diversão escapista apenas. Se o roteiro não inova o elenco pelo menos é de primeira linha. Richard Burton, já envelhecido e com olhos de ressaca (seu alcoolismo só aumentou ao longo dos anos) consegue dar conta do recado, apesar de estar visivelmente fora de forma. Já Clint Eastwood mostra porque iria se tornar um dos grandes astros de Hollywood. Jovial, com vasta cabeleira e pinta de durão o futuro Dirty Harry não economiza nas balas e nas porradas, ambas distribuídas fartamente ao longo do filme. Enfim, "Desafio das Águias" é indicado para apreciadores de filmes de guerra bem movimentados, com fartas doses de ação e que não se importem com um ou outro furo do roteiro. Faz parte de uma linha de produção que estava chegando ao fim. Filmes de guerra com muita ação e só. Se isso faz seu gosto pessoal procure assistir, não vai se arrepender.

O Desafio das Águias (Where Eagles Dare, Reino Unido, 1968) Direção: Brian G. Hutton / Roteiro: Alistair MacLean baseado no romance de Alistair MacLean / Elenco: Richard Burton, Clint Eastwood, Mary Ure, Patrick Wymark / Sinopse: General americano é feito prisioneiro por tropas alemãs. O alto oficial tem conhecimento dos planos aliados para o desembarque do dia D. Temendo que sob tortura ele revele esses planos uma equipe de elite do exército inglês é enviada com a missão de resgatá-lo de uma fortaleza quase inexpugnável onde ele é mantido sob rígida vigilância.

Pablo Aluísio.

quinta-feira, 29 de novembro de 2007

Ana dos Mil Dias

Uma boa dica para quem gosta de temas históricos e da série de sucesso The Tudors é assistir esse filme estrelado por Richard Burton. O tema todos conhecemos: as várias histórias de alcova envolvendo o rei absolutista inglês Henrique VIII. Nesse caso o filme é centrado de forma bem específica sobre o romance do Rei com sua segunda esposa, Ana Bolena. Um caso de amor que envolveu até mesmo questões de Estado que até hoje repercutem na história mundial (O Rei rompeu com a Igreja Católica e fundou a sua própria Igreja, chamada Anglicana, por causa da recusa do papa na época em anular seu primeiro casamento). O filme tem produção requintada, ótimas atuações e um bom roteiro, que procura na medida do possível ser bastante fiel aos fatos históricos. Richard Burton está particularmente bem no papel, fazendo com primor essa figura tão controvertida que era Henrique. A atriz que faz Ana Bolena, Geneviève Bujold, também está bem correta em sua caracterização.

Talvez o único senão do filme seja a pouca exploração de um dos personagens centrais da história de Henrique VIII, o chanceler Sir Thomas Moore, o principal opositor ao rompimento de Henrique com a Igreja Romana. Em detrimento de sua participação o filme enfoca mais a presença do Cardel Wolsey e do maquiavélico Cromwel, o segundo chanceler do Rei. De certa forma é até compreensível que isso tenha acontecido, já que são tantos os personagens a se enfocar que seria praticamente impossível não haver omissões em um longa metragem como esse. Apenas seriados conseguem mostrar todos os detalhes de uma biografia tão rica em intrigas, traições e vilanias como a de Henrique. Fato esse demonstrado por The Tudors.

O Filme merece ser conhecido com absoluta certeza. Além da riqueza de produção a película tem um desenvolvimento bem mais leve e acessível do que "O Homem que não vendeu sua Alma" (esse sim centrado e muito na história de Thomas Moore, mártir da fé católica que acabou sendo canonizado pela Igreja de Roma). O resultado se vê na tela, Burton foi indicado ao Globo de Ouro pela produção e até arranjou uma participação não creditada de sua esposa Elizabeth Taylor no filme, o que é um divertimento a mais, já que tentar encontrá-la no meio de tantos figurantes e atores coadjuvantes não é uma tarefa das mais simples. Enfim, gosta de filmes de época? Quer saber mais sobre o absolutismo que imperou na Europa ou simplesmente quer conhecer mais sobre a biografia desse polêmico Rei? Então assista Ana dos Mil Dias e alie bom divertimento a enriquecimento cultural.

Ana dos Mil Dias (Anne of the Thousand Days, EUA, 1969) Direção: Charles Jarrott / Roteiro: Bridget Boland, John Hale / Elenco: Richard Burton, Geneviève Bujold, Irene Papas / Sinopse: O filme enfoca o romance de Henrique VIII (Richard Burton) e Ana Bolena (Geneviève Bujold). O romance escandalizou a Europa medieval e levou ao rompimento da Inglaterra com a Igreja Católica.

Pablo Aluísio.