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terça-feira, 6 de dezembro de 2022

10 Curiosidades - O Homem Que Matou o Facínora

1. Dirigido por John Ford, o filme é considerado um patrimônio cultural nos Estados Unidos, tendo sua cópia original preservada pela Biblioteca Oficial do Congresso Nacional em Washington.

2. John Ford inicialmente queria rodar o filme em cores, mas a Paramount só liberou orçamento para a realização de um filme em preto e branco. Anos depois Ford comentaria a decisão afirmando que ela acabou sendo a correta já que esconderia melhor a verdadeira idade de James Stewart que tinha que interpretar um jovem advogado idealista.

3. O primeiro ator contratado por John Ford foi John Wayne, quando o roteiro nem ainda estava pronto. Foi Wayne que sugeriu a Ford que contratasse James Stewart e Lee Marvin, com quem já tinha trabalhado. Depois de pensar alguns dias John Ford acabou aceitando ambas as sugestões.

4. Apesar de ter sido aclamado por público e crítica, o diretor John Ford, mesmo contente com os resultados, afirmou que jamais voltaria a filmar em preto e branco, uma vez que o sistema de cores já era padrão no cinema americano. Na visão de Ford o filme poderia ter sido mais bem sucedido nas bilheterias caso fosse lançado em cores.

5. Logo no começo das filmagens John Ford deixou claro para todo o elenco que ele era o diretor e por essa razão não admitiria intervenções em nenhum aspecto do filme. Virando-se para o ator Lee Marvin, Ford falou: "Eu sei que você foi dirigido por John Wayne recentemente no filme "Os Comancheros", porém saiba que ele aqui não manda em absolutamente nada!". Ao ouvir aquilo Wayne caiu na gargalhada.

6. A advertência de que ele, John Ford, era o diretor e senhor absoluto do filme, parece não ter surtido efeitos em John Wayne. Ele começou a querer mudar determinadas cenas, reescrevendo parte dos diálogos, o que acabou criando uma grande tensão entre eles. Chegaram a discutir com vigor perante toda a equipe técnica e elenco. Depois de uma briga séria Ford saiu anunciando: "Jamais voltarei a trabalhar com John Wayne em minha carreira!"

7. Com John Wayne e John Ford trocando farpas no set de filmagens, o ator James Stewart acabou se tornando um poço de tranquilidade, para onde todos iam durante as brigas entre o ator e diretor. Quando era perguntado sobre o que acontecia Stewart simplesmente ria dizendo: "Eu não tenho nada a ver com isso!"

8. Para os jornalistas que visitavam o set, o diretor John Ford explicava: "Filmar em preto e branco é uma arte. A direção tem que ser mais cuidadosa, mais carinhosa. Você tem que fazer tudo com extremo cuidado, sabendo jogar com luzes e sombras de uma forma única!"

9. Durante uma cena de diligência o ator James Stewart foi incentivado por John Ford para fazer ele mesmo a perigosa cena. No alto falante gritou: "Vá lá James, pule, mostre que você não é um covarde, não é um covarde!"

10. John Ford avisou ao seu elenco que queria realizar poucos takes de cada cena. Ele queria que os atores improvisassem até um certo limite, trazendo espontaneidade para cada momento. Dito isso virou para John Wayne e disparou: "Todos podem improvisar, menos John Wayne!". Todos riram.

Pablo Aluísio.

segunda-feira, 14 de novembro de 2022

John Wayne: O Anti-herói Americano

Documentário francês sobre a carreira do ator John Wayne. Começa mostrando o jovem que trabalhava nos estúdios de cinema carregando os cenários de um lugar para o outro. Depois ele foi ganhando confiança e pedindo papéis como figurante. Como sabia montar bem, acabou ganhando seu espaço. Em pouco tempo, estava atuando em filmes B de faroeste. A mudança definitiva aconteceu quando ele se tornou amigo do diretor John Ford. Esse cineasta não considerava Wayne um bom ator, mas acreditava que ele tinha um tipo interessante. Por isso, praticamente o salvou de virar um ator de filmes B pelo resto da vida. Escalou Wayne para atuar em grandes filmes, alguns grandes clássicos da história do cinema. Isso mudou tudo. 

O documentário também mostra o lado mais polêmico da vida de John Wayne. Principalmente o lado referente ao aspecto político. Ele era um conservador ao velho estilo ou conforme algumas opiniões, um reacionário de carteirinha. Ajudou na caça às bruxas em Hollywood. Acabou ganhando antipatias por todo o meio. Curiosamente, apesar desse seu discurso de patriotismo, ele se esquivou de ir lutar na Segunda Guerra Mundial. Pressionado, tentou se alistar no exército, mas acabou sendo recusado. Respirou aliviado depois disso! Ele não queria ir para a guerra!

Enquanto outros astros de Hollywood estavam servindo na guerra, John Wayne ficou nos Estados Unidos. E nesse período, reinou absoluto. Atuou em grandes sucessos de bilheteria. E se tornou o ator mais bem pago da indústria cinematográfica americana. Levou sua forma de pensar para o cinema também. Um exemplo bem explorado pelo documentário é o filme "Os Boinas Verdes". Nessa produção, ele louvava a invasão dos Estados Unidos no Vietnã. 

Mostra também que ele acabou sendo corroído por um terrível câncer no pulmão. O documentário tira uma casquinha, mostrando o ator fazendo propagandas e comerciais para marcas famosas de cigarro. Por fim, o documentário resgata um belo registro histórico. Trata-se da última aparição pública do ator. Abatido e magro, ele foi na entrega do Oscar. Morreria apenas dois meses depois dessa última cerimônia. Enfim, gostei bastante do documentário. Resgata imagens preciosas e debate a personalidade complexa e polêmica do ator. Interessante notar que vai agradar tanto aos fãs de John Wayne, quanto aos seus detratores. 

John Wayne: O Anti-herói Americano (John Wayne, l'Amérique à tout prix, França, 2019) Direção: Jean-Baptiste Péretié / Roteiro: Jean-Baptiste Péretié / Elenco: John Wayne, John Ford, Raoul Walsh / Sinopse: Documentário que resgata e explora a história e a carreira do icônico ator clássico John Wayne. O filme mostra cenas de seus filmes, documentários jornalísticos da época e discute sobre suas polêmicas posições políticas.

Pablo Aluísio.

terça-feira, 26 de abril de 2022

Crepúsculo de Uma Raça

Quando o filme começa vemos um posto avançado da cavalaria do exército dos Estados Unidos em território demarcado como reserva indígena do povo Cheyenne. Aos poucos milhares de nativos chegam ali. Eles querem se encontrar com um senador que está chegando da capital. Querem mostrar para ele como as terras daquele lugar são desertas, sem água e nem comida. Que viver ali não seria possível. Os índios chegam pela manhã e ficam em pé esperando o senador que parece nunca chegar. Depois de horas de espera eles cansam de esperar e vão embora. Estão ofendidos e com razão. E decidem ir embora da reserva. O problema é que o comandante da tropa da cavalaria, o capitão Thomas Archer (Richard Widmark) tem ordens para evitar isso, usando de violência, se necessário for. Mas como ele vai atirar em crianças, idosos e mulheres indefesas?

Esse filme de John Ford foi uma espécie de pedidos de desculpas do cineasta para com o povo nativo dos Estados Unidos. Durante anos ele filmou filmes de western usando os indígenas como vilões e selvagens. Nesse filme ele decidiu que também iria mostrar o outro lado, o lado das nações nativas da América. O filme é assim dividido em três atos bem claros. No primeiro temos a fuga dos Cheyennes da reserva deserta e hostil para onde foram levados. No segundo ato, passado na cidade de Dodge City, há um pânico quando moradores descobrem que os índios estão chegando a na última parte vemos o desfecho, a conclusão da história.

Embora seja um filme muito bom ele se torna irregular por causa do segundo ato, em Dodge City. James Stewart aqui interpreta o xerife Wyatt Earp, mas tudo em tom de comédia, de humor, o que destoa do restante do filme. Quando eles saem em perseguição dos índios no deserto tudo parece um episódio de Corrida Maluca. Algo que quebra o ritmo sério e concentrado do restante do filme. O que diabos tinha John Ford na cabeça quando rodou esse segundo ato? Felizmente o filme retoma sua seriedade inicial na terceira e última parte, quando os indígenas chegam em um forte do exército americano. Ali eles esperam um tratamento adequado para seres humanos. Esperam que o governo americano encontre uma solução para eles. Quem se destaca nessa última parte é o veterano ator Edward G. Robinson. Ele interpreta o secretário do interior Carl Schurz, um homem justo e humano.

Então é isso. Temos aqui um filme que quase foi estragado pelo próprio John Ford na sua equivocada decisão de inserir humor em um filme com temática séria demais para esse tipo de coisa. O western assim se vale das duas partes (inicial e final) para se assumir como grande obra cinematográfica. Há elementos demais a se pensar nesse roteiro, de como o governo dos Estados Unidos foi injusto e cruel com os índios daquele país. Uma dívida história que pensando bem até hoje não foi devidamente paga!

Crepúsculo de Uma Raça (Cheyenne Autumn, Estados Unidos, 1964) Direção: John Ford / Roteiro: James R. Webb, Howard Fast / Elenco: Richard Widmark, James Stewart, Edward G. Robinson, Karl Malden, Ricardo Montalban, Carroll Baker, Sal Mineo, Dolores del Rio, Patrick Wayne, Gilbert Roland / Sinopse: O filme conta a história da fuga de um enorme grupo de índios da nação Cheyenne de uma reserva deserta dada pelo governo dos Estados Unidos. Assim que eles deixam a reserva passam a ser perseguidos pela cavalaria, dando origem a diversos confrontos e conflitos. Filme indicado ao Oscar na categoria de melhor direção de fotografia (William H. Clothier). Também indicado ao Globo de Ouro na categoria de melhor ator coadjuvante (Gilbert Roland).

Pablo Aluísio. 


segunda-feira, 11 de abril de 2022

As Vinhas da Ira

Baseado na obra homônima do escritor americano John Steinbeck (Nobel de Literatura em 1962), o longa, As Vinhas da Ira, abre a caixa de Pandora de algumas das mazelas da grande depressão americana de 1929 que quase destruíram com a economia dos Estados Unidos. A história gira em torno dos membros da família Joad que vivem há décadas no estado de Oklahoma mas que perdem suas terras que mantêm como meeiros.,Essa perda ocorre devido à chegada de grandes empresários do setor de agricultura que impõe à região o progresso, com modernos tratores e implantando uma nova agricultura mecanizada. Com isso o sistema de agricultura manual dos meeiros da região torna-se obsoleto e praticamente liquidado, fazendo com que a família Joad e várias outras famílias abandonem a região. Sem terras e sem dinheiro os Joad, liderados por Tom Joad (Henry Fonda), Al Joad (O.Z Whitehead) e Ma Joad (Jane Darwell) reúnem-se dentro de um pequeno e velho calhambeque e partem em direção ao estado da Califórnia em busca de trabalho e de dias melhores. Mas toda essa esperança pode tornar-se um grande pesadelo.

Dirigido pelas lentes do genial John Ford, o antológico clássico consegue, em 140 minutos, encapsular toda a angústia e desespero dos agricultores americanos num dos períodos mais negros da história americana. A situação profundamente angustiante, somada a uma paisagem distópica, abrutalhada e entristecida, é filtrada por uma fotografia requintada onde a beleza do preto e do branco parecem amenizar boa parte de toda a miséria e desesperança daquelas pessoas. O longa - vencedor de dois Oscars nas categorias de melhor diretor (John Ford) e melhor atriz coadjuvante (Jane Darwell) - nos brinda com diálogos e metáforas tão memoráveis e atuações tão fantásticas que cada personagem, e até mesmo o calhambeque, deveria, cada um deles, ganhar um Oscar. Um filme realmente magnífico.

As Vinhas da Ira (The Grapes of Wrath, Estados Unidos, 1940) Direção: John Ford / Roteiro: Nunnally Johnson / Elenco: Henry Fonda, Jane Darwell, John Carradine / Sinopse: O filme conta a história de uma família pobre dos Estados Unidos que precisa ir embora, para outro estado, em busca de trabalho e meios de sobrevivência durante a grande depressão que assolou os Estados Unidos. Filme indicado ao Oscar na categoria de melhor filme, melhor ator (Henry Fonda) e melhor roteiro adaptado. Filme vencedor do Oscar na categoria de melhor direção (John Ford) e melhor atriz coadjuvante (Jane Darwell).

Telmo Vilela e Pablo Aluísio.

terça-feira, 25 de janeiro de 2022

Crepúsculo de uma Raça

Título no Brasil: Crepúsculo de uma Raça
Título Original: Cheyenne Autumn
Ano de Produção: 1964
País: Estados Unidos
Estúdio: Warner Bros
Direção: John Ford
Roteiro: Mari Sandoz, James R. Webb
Elenco: James Stewart, Richard Widmark, Karl Malden, Sal Mineo, Edward G. Robinson, Ricardo Montalban

Sinopse:
No ano de 1878, o governo decide deixar de doar os suprimentos e alimentos necessários para a sobrevivência da nação indígena Cheyenne, levando centenas de milhares de índios a saírem da reserva em Oklahoma até o Wyoming, local onde sempre viveram. Thomas Archer, Capitão da Cavalaria, recebe a tormentosa missão de vigiar e conter os anseios de guerra dos índios, mas durante esse processo de convivência durante o percurso, passa a nutrir um grande respeito pelos nativos americanos.

Comentários:
Foi um dos últimos filmes da carreira do diretor John Ford. Nessa produção ele novamente decidiu reunir um grande elenco para contar esse lado menos heroico da conquista do velho oeste dos Estados Unidos. Ao lado de grandes cenas, explorando novamente a beleza natural de lugares como o Monument Valley, o mestre do cinema também cometeu alguns erros. Não é um filme perfeito, tem suas falhas. Uma delas é a longa duração. Esse faroeste assim acaba parecendo mais longo do que deveria ser, com excesso de tramas secundárias que não adicionam muito ao resultado final. Há uma longa parte no meio do filme com James Stewart que exagera nas doses de humor, quebrando o ritmo de um filme que deveria ter um tom mais sério. John Ford sempre tentou trazer algum tipo de alívio cômico em seus filmes, mas aqui ele definitivamente errou a mão. De qualquer forma esse último western assinado por Ford se mantém relevante por causa do teor de seu roteiro que procurou trazer uma visão mais consciente e humana em relação aos nativos americanos. Salvo por suas boas intenções, prejudicado um pouco por alguns deslizes de seu diretor, o filme ainda é um marco importante nesse gênero cinematográfico tão importante dentro do cinema americano. Filme indicado ao Oscar na categoria de melhor direção de fotografia (William H. Clothier).

Pablo Aluísio.

sexta-feira, 18 de dezembro de 2020

Paixão dos Fortes

Reza a lenda que no ano de 1927 o mítico Wyatt Berry Stapp Earp, ou simplesmente Wyatt Earp (1848 -1929) numa entrevista concedida ao mestre John Ford, contou-lhe em detalhes como fora o famoso duelo de Ok.Corral que ocorrera na cidade de Tombstone no ano de 1881, entre os irmãos Earp e os Clanton. Anos depois, transformado numa obra de arte e batizado de "Paixão dos Fortes" (My Darling Clementine - 1946) o clássico - erguido na exuberância de Monument Valley, palco principal do legendário diretor John Ford - conta a história (verídica) dos irmãos Earp (Wyatt, James, Virgil e Morgan Earp) que depois de abandonarem a cidade de Dodge City - onde Wyatt Earp (Henry Fonda) era xerife - partem para a região do Arizona dedicando-se a criação de gado.

Certa noite, Wyatt, Virgil e Morgan Earp vão até à cidade de Tombstone para conhecê-la um pouco mais e deixam o irmão mais novo, James Earp, sozinho, tomando conta do gado e do acampamento. Ao retornarem, o cenário é desolador: todo o gado havia sido roubado e James Earp, assassinado. Depois de enterrar o irmão, Wyatt torna-se xerife de Tombstone com o objetivo de vingar os assassinos do jovem irmão, e manter a cidade em paz. Ele ainda não sabe quem são os assassinos de seu irmão, no entanto, uma certa turma não sai de sua cabeça: os Clanton (Clanton pai, Billy Clanton, Ike Clanton) e seus comparsas: Billy Claiborne, Tom e Frank McLaury. Wyatt conhece Chihuahua (Linda Darnel) uma espevitada dançarina do saloon local, que alimenta apenas um sonho: a volta de sua paixão, John Henry "Doc" Holliday, ou apenas Doc Holliday: pistoleiro, jogador e dentista (daí o apelido Doc).

A fervura aumenta com a chegada à cidade do irascível Doc Holliday (Victor Mature). Depois de rever a bela Chihuahua o dentista conhece de perto o lendário Wyatt Earp. Wyatt aproxima-se de Doc, mas o encontro dos dois que a princípio poderia se tranformar numa grande amizade vira uma conturbada relação de amizade e ódio que se arrasta até o fim do clássico. Certo dia chega à cidade a bela Clementine Carter (Cathy Downs). Antiga paixão do Doc, Clementine (que inspira a trilha sonora) chega para reencontrar seu antigo e intratável amor. Doc odeia sua presença e diz que se ela não for embora, ele irá. Wyatt apaixona-se por Clementine que resolve ficar. Revoltada com a presença de Clementine em Tombstone, Chihuahua vai até seu quarto para expulsá-la do hotel e da cidade no exato momento em que  é surpreendida pela chegada de Wyatt Earp que acalma a situação. Enquanto conversa com Chihuahua, Earp nota que ela está usando um colar que pertenceu ao seu irmão assassinado. O famoso xerife fica então a poucos instantes de descobrir quem realmente matou seu irmão.

Paixão dos Fortes é um diamante da sétima arte e foi reconhecido pelo próprio John Ford como o seu filme mais precioso. Durante quarenta e cinco dias de filmagens, Ford construiu um verdadeiro monumento, não só ao cinema mas às artes em geral. Ele não era apenas um diretor de cinema, mas também um poeta, um pintor e um visionário de cenas antológicas que marcaram para sempre a história do cinema americano. No clássico, sua chancela está em cada cena e em cada fala. A esplêndida direção de fotografia de Joseph Mac Donald equilibra as imagens em preto e branco com brilhos e sombreamentos excepcionais. O elenco, recheado de lendas do cinema como Henry Fonda, Linda Darnell, Victor Mature e Walter Brennan são a cereja do bolo deste clássico inesquecível que entrou para a história do cinema.

Paixão dos Fortes (My Darling Clementine, EUA, 1946) Direção: John Ford / Roteiro: Samuel G. Engel, Winston Miller / Elenco:  Henry Fonda, Linda Darnell, Victor Mature / Sinopse: Um dos grandes clássicos de John Ford "Paixão dos Fortes" conta parte da história do lendário xerife Wyatt Earp e o famoso conflito armado ocorrido no OK Corral.

Telmo Vilela Jr.

segunda-feira, 16 de novembro de 2020

A Longa Viagem de Volta

Tem coisa melhor, em termos de cinema, do que um bom filme clássico dirigido pelo mestre John Ford e estrelado pelo ator John Wayne? Não, não tem. Antes de tudo é bom salientar que esse, apesar dos nomes envolvidos, não é um western, um faroeste. Esse tipo de engano seria até bem comum, afinal quando se ouve falar em John Ford e John Wayne trabalhando juntos em um filme, logo se pensa nos clássicos filmes de western em que eles brilharam no céu de Hollywood em seus anos de ouro. Mas não, essa é uma produção diferenciada, até porque eles não queriam também ficar presos em apenas um gênero cinematográfica. A versatilidade também era um objetivo a se alcançar. A história é bem interessante. "The Long Voyage Home" traz o cotidiano do cargueiro Glencairn. Nele convive uma tripulação que entende que todos precisam de todos, onde a camaradagem e a amizade não são apenas uma questão de escolha, mas de necessidade vital se quiserem continuar vivos pelas longas viagens que fazem pelos mares. A união é a força e também uma questão de sobrevivência. E lá que trabalha o velho lobo do mar Olsen (John Wayne), um sujeito durão, mas também justo e íntegro, dono de um enorme coração. Ele é um marinheiro típico, trabalhador, mas igualmente apaixonado pelas coisas boas da vida, como a paixão por uma bela mulher em cada porto que chega.

Uma das surpresas que o cinéfilo vai encontrar nesse filme é seu estilo mesclado, pois se inicialmente o filme se propõe a ter sua carga dramática, também há muitos elementos de aventura, afinal John Ford tinha talento para praticamente todos os gêneros cinematográficos. Também é um filme bonito de se assistir com cenas belíssimas da natureza, captadas com capricho pelas lentes do mestre do cinema. Ele conseguiu trazer para o filme momentos perfeitos para a tela do cinema usando apenas de recursos naturais, como uma tensa neblina, que inclusive, em certos momentos, faz o espectador relembrar dos melhores momentos do cinema noir. O ator John Wayne por essa época (estou me referindo ao começo da década de 1940) estava prestes a se tornar o ator mais popular do mundo. Nesse filme ele está em sua caracterização habitual, a do homem durão, pura honestidade. Ao invés do cowboy cavalgando no deserto, ele aqui dá vida a um marinheiro da velha escola. Ficou muito bem no papel, não podia ser diferente. A novidade veio da complexidade que o roteiro procurou trazer para seu personagem. Por essa razão ele teve que se esforçar um pouco mais, porque suas cenas traziam uma carga dramática mais forte do que seus costumeiros filmes de faroeste.

O bom humor também está presente, como aliás era bem habitual nos filmes de John Ford. Mas não pense que o filme se resume a isso. Há também toda uma atmosfera de melancolia e solidão que permeia a vida dos marinheiros. Esse clima do filme até hoje impressiona a quem o assiste.  Para falar a verdade o espectador se sente bem no meio das longas travessias escuras mar adentro que o filme mostra. Uma aula de cinema do mestre John Ford. Espetacularmente subestimado, o filme é extremamente recomendado aos fãs da sétima arte em geral, em especial para quem procura um filme clássico focado na vida de marinheiros em alto mar.

A Longa Viagem de Volta (The Long Voyage Home, Estados Unidos, 1940) Estúdio: Argosy Pictures, Walter Wanger Productions / Direção: John Ford / Roteiro: Eugene O'Neill, Dudley Nichols / Elenco: John Wayne, Thomas Mitchell, Ian Hunter / Sinopse: O filme "A Longa Viagem de Volta" conta a história de um grupo de marinheiros que trabalham em um velho cargueiro que faz longas viagens pelo mar, em especial da Inglaterra até os Estados Unidos. Entre eles está o velho lobo do mar Olsen (John Wayne) que tanto deseja a fortuna como a sorte no amor.  Filme indicado ao Oscar nas categorias de melhor filme, melhor roteiro (Dudley Nichols), melhor direção de fotografia (Gregg Toland), melhor edição (Sherman Todd), melhores efeitos especiais (R.T. Layton, Ray Binger) e melhor trilha sonora (Richard Hageman).

Pablo Aluísio.

domingo, 16 de fevereiro de 2020

A Conquista do Oeste

Quando a Metro anunciou "A Conquista do Oeste" o estúdio deixou claro suas intenções: realizar o filme definitivo sobre a expansão da civilização norte-americana em direção ao oeste selvagem.  Para isso não mediu esforços colocando à disposição do filme tudo o que estúdio tinha de mais importante na época. Atores, diretores, roteiristas, tudo do bom e do melhor foi direcionado para esse projeto. Os grandes nomes do western foram contratados. John Wayne e James Stewart logo assinaram para participarem do elenco. Os diretores consagrados John Ford e George Marshall também entraram no projeto sem receios. Era uma grande equipe reunida. Além do capital humano a Metro resolveu investir em um novo formato de exibição onde três telas enormes projetavam cenas do filme. A técnica conhecida como Cinerama visava proporcionar ao espectador uma sensação única de imersão dentro do filme. Para isso há uso de longas tomadas abertas, tudo para dar a sensação ao público de que realmente está lá, no velho oeste. Era claramente uma tentativa da Metro em barrar o avanço da televisão que naquele ano havia tirado uma grande parte da bilheteria dos filmes. Assim "A Conquista do Oeste" chegava para marcar a história do cinema... bom, pelo menos essa era a intenção.

Realmente é uma produção de encher os olhos, com três diretores e um elenco fenomenal. O resultado de tanto pretensão porém ficou pelo meio do caminho. "A Conquista do Oeste" passa longe de ser o filme definitivo do western americano. Na realidade é uma produção muito megalomaníaca que a despeito dos grandes nomes envolvidos não passa de uma fita convencional, pouco memorável. O problema é definitivamente de seu roteiro. São vários episódios com linhas narrativas que as ligam numa unidade, mas nenhuma delas é bem desenvolvida. Tudo soa bem superficial.

O grande elenco também é outro problema. Apesar dos mitos envolvidos nenhum deles tem oportunidade de disponibilizar um bom trabalho, realmente marcante. John Wayne, por exemplo, só tem praticamente duas cenas sem maior importância. Ele interpreta o famoso general Sherman, mas isso faz pouca diferença pois tão rápido como aparece, desaparece do filme, deixando desolados seus fãs que esperavam por algo mais substancioso. James Stewart tem um papel um pouquinho melhor, de um pioneiro que vive nas montanhas, mas é outro grande nome que também é desperdiçado. A única que faz parte de todos os segmentos é a personagem de Debbie Reynolds, porém ela não é uma figura de ponta no mundo do faroeste. Quem não gosta dela certamente não se importará com sua personagem. Assim, em conclusão, podemos definir "A Conquista do Oeste" como um filme grande, mas não um grande filme. Faltou um melhor equilíbrio.

A Conquista do Oeste  (How the West Was Won, Estados Unidos, 1962)  Direção: John Ford ("The Civil War") / Henry Hathaway ("The Rivers", "The Plains", "The Outlaws") / George Marshall ("The Railroad") / Roteiro: James R. Webb, John Gay / Elenco: Debbie Reynolds, James Stewart, Lee J. Cobb, Henry Fonda, Carolyn Jones, Karl Malden, Gregory Peck, George Peppard, Richard Widmark, Eli Wallach, John Wayne / Sinopse: A saga de uma família de pioneiros cujos descendentes participarão dos grandes eventos que marcaram a história do oeste americano.Filme vencedor do Oscar nas categorias de Melhor Roteiro (James R. Webb), Melhor Som (Franklin Milton) e Melhor Edição (Harold F. Kress).

Pablo Aluísio. 

terça-feira, 24 de dezembro de 2019

No Tempo das Diligências

Esse foi o primeiro grande sucesso comercial e de crítica que uniu dois dos maiores mitos dos filmes de faroeste: John Wayne e John Ford. Partindo de uma premissa até simples o roteiro consegue desenvolver extremamente bem todos os personagens mostrando que um grande filme não precisa necessariamente ter um argumento complexo ou complicado, pelo contrário. O enredo, olhando sob esse ponto de vista, é extremamente eficiente: uma diligência com sete passageiros resolve enfrentar uma viagem das mais perigosas, atravessando um território hostil dominado pelo bando Apache liderado pelo famoso chefe Gerônimo. De forma muito talentosa John Ford desenvolve cada passageiro da melhor forma possível. E cada um deles é um retrato de tipos que fizeram parte da colonização rumo ao velho oeste. Estão lá o médico Alcoólatra interpretado por Thomas Mitchell (vencedor do Oscar de melhor ator coadjuvante por seu desempenho), a prostituta Dallas (Claire Trevor) banida da cidade por motivos óbvios pela liga da moralidade, o jogador trapaceiro Hatfield (John Carradine), o Xerife Curley (George Bancroft) e finalmente o pistoleiro foragido, às do gatilho, que é procurado pela lei, o famoso Ringo Kid (John Wayne). Todos representando tipos comuns do oeste americano. 

O filme também tem todas as características que criaram a fama do cinema de John Ford. A produção foi rodada no cenário mais famoso de sua filmografia, o Monument Valley. Foi a primeira vez que Ford filmou no local e ficou tão fascinado pelo resultado na tela que resolveu voltar lá inúmeras vezes nos anos seguintes, como por exemplo, em "Paixão dos Fortes", "Sangue de Heróis", "Legião Invencível", "Caravana de Bravos", "Rio Bravo", "Rastros de Ódio", "Audazes e Malditos" a até mesmo em seu último faroeste, "Crepúsculo de Uma Raça". O personagem Ringo Kid foi escrito para ser estrelado inicialmente pelo ator Gary Cooper. Já a prostituta Dallas foi criada para ser interpretada pela famosa atriz Marlene Dietrich.

Curiosamente ambos foram descartados do projeto por não terem acertado um cachê adequado ao orçamento do filme. Ford assim escalou John Wayne e Claire Trevor para os personagens, algo que consideraria anos depois um grande acerto pois os dois estão muito bem em cena. Também visando economizar o diretor acabou contratando índios Navajos para a formação do bando Apache de Gerônimo. Tantas economias e cortes de custo acabou virando uma marca registrada da produção que apesar de ser bem simples e direta também é muito eficiente e marcante. Hoje "No Tempo das Diligências" é considerado um dos grandes clássicos do gênero western, de forma muito merecida aliás.

No Tempo das Diligências (Stagecoach, Estados Unidos, 1939) Direção: John Ford / Roteiro: Ernest Haycox, Dudley Nichols / Elenco: John Wayne, Claire Trevor, Andy Devine, John Carradine, George Bancroft / Sinopse: Diligência com sete passageiros tenta atravessar uma região dominada pelo violento e hostil bando do famoso chefe Gerônimo. Vencedor do Oscar nas categorias de melhor ator coadjuvante (Thomas Mitchell) e melhor canção. Indicado ao Oscar nas categorias de melhor filme, diretor, direção de arte (Alexander Toluboff), fotografia em preto e branco (Bert Glennon) e Edição (Otho Lovering e Dorothy Spencer). Vencedor do prêmio de melhor direção (John Ford) pela associação dos críticos de cinema de Nova Iorque.

Pablo Aluísio.

quarta-feira, 18 de dezembro de 2019

A Paixão de uma Vida

Esse filme é bem interessante porque ele conta a história de um homem comum chamado Martin 'Marty' Maher. Ainda jovem ele imigrou da Irlanda para os Estados Unidos. Chegando lá foi atrás de um emprego e acabou arranjando trabalho como garçom na academia militar de West Point. Depois com a eclosão da guerra seu senso patriótico o fez se alistar como soldado. Depois continuou trabalhando em West Point, se tornando uma figura querida pelos alunos que por lá passaram. O filme mostra praticamente toda a sua vida, desde a juventude até a velhice, quando ele decidiu por conta própria ir falar pessoalmente com o presidente dos Estados Unidos (ex-aluno da academia) para continuar trabalhando, sem se aposentar, que para ele iria significar sua morte.

Tudo o que se vê na tela foi baseado em fatos reais, na vida do próprio Marty. É um filme bem carinhoso com seu protagonista, o retratando como um homem duro, porém de bom coração. Afetuoso com os alunos acabou se tornando um símbolo de West Point pois gerações de futuros militares o conheceram bem quando estudaram lá. O filme foi dirigido pelo mestre John Ford e pode ser considerado uma de suas obras cinematográficas mais leves e despretensiosas. O diretor criou um carinho especial por seu personagem principal, levando o galã Tyrone Power para interpretá-lo tanto na juventude como na velhice onde o ator surge com maquiagem pesada, o retratando como um velho. Nas duas situações ele está muito bem, mostrando que Power tinha sim talento dramático e não era apenas um rostinho bonito em Hollywood como muitos o trataram por anos a fio, durante sua carreira.

A Paixão de uma Vida (The Long Gray Line, Estados Unidos, 1955) Direção: John Ford / Roteiro: Edward Hope, baseado no livro "Bringing Up the Brass" de Marty Maher / Elenco: Tyrone Power, Maureen O'Hara, Robert Francis / Sinopse: O filme conta a história real de Martin 'Marty' Maher (Power), imigrante irlândes que durante décadas trabalhou na famosa academia militar de West Point onde se tornou querido por gerações de alunos que por lá passaram.

Pablo Aluísio.

sexta-feira, 29 de novembro de 2019

Mogambo

Esse é um clássico do gênero "Aventura na África". Uma produção com um elenco estelar da era de ouro do cinema clássico de Hollywood. No enredo um caçador americano no continente africano, Victor Marswell (Clark Gable), é contratado pelo pesquisador Donald Nordley (Donald Sinden) para comandar um safári nas montanhas remotas onde vivem gorilas selvagens. Donald quer registrar o comportamento desses animais em seu habitat natural, os filmando na natureza. Victor inicialmente não acha uma boa ideia pois poucos homens estiverem naquele lugar distante, porém acaba aceitando a generosa oferta. O que o cientista Donald nem desconfia é que sua própria esposa, Linda Nordley (Grace Kelly), está se apaixonado cada vez mais por Victor. Para concretizar seu romance porém ela terá que passar por cima de Eloise Y. Kelly (Ava Gardner), uma dançarina de night club, que também está perdidamente apaixonada por Victor.

John Ford deu um tempo em seus clássicos de western para se arriscar no gênero aventura nessa produção. O resultado foi esse "Mogambo", certamente um bom filme, mas que jamais pode ser comparado com obras primas como "Rastros de Ódio" ou "Rio Bravo". O enredo se passa numa África ainda colonial e praticamente inexplorada. É lá que vive o personagem de Clark Gable, um veterano caçador branco que captura animais exóticos para vendê-los a circos e zoológicos de todo o mundo. Sua rotina de trabalho acaba mudando completamente com a chegada de uma dançarina americana chamada Eloise (Ava Gardner) que realizou uma longa viagem dos Estados Unidos até a África pensando que iria encontrar um milionário indiano, mas acaba se dando mal ao saber que ele foi embora uma semana antes de sua chegada.

Imediatamente Eloise se apaixona por Victor, porém as coisas não saem como ela queria. Victor torce o nariz ao saber que ela era uma dançarina de boates. Pior do que isso, começa a tratar a garota com um certo desdém (a ponto de dizer a um de seus amigos que ela na verdade seria uma "mulher de todos os homens!"). Nada aliás poderia sair mais diferente de Eloise do que a também recém chegada Linda (Grace Kelly). Loira, linda, recatada e educada, com extrema finesse, ela sim se mostra a mulher que Victor gostaria de ter ao seu lado. Infelizmente para o velho caçador há um problema: Linda já é casada, justamente com o homem que o contratou para um safári rumo às montanhas, em busca de gorilas selvagens.

É verdade que o roteiro acaba se rendendo ao moralismo da época em seus momentos finais, mas nem isso estraga "Mogambo". Ford já havia demonstrado em seus faroestes que ele conseguia com muito brilho tanto dirigir um bom filme de entretenimento como também desenvolver psicologicamente bem todos os seus personagens. Não havia espaço para papéis rasos e sem sentido em seus filmes. Não é à toa que até hoje ele é considerado um mestre, um verdadeiro gênio da sétima arte. "Mogambo" tem um elenco maravilhoso, com três grandes estrelas da época, e um roteiro extremamente bem escrito. Dito isso também temos que reconhecer que o tempo também cobrou seu preço. O tempo, como diria o provérbio, é o senhor da razão. O que era normal há 60 anos hoje já não soa tão comum.

O filme mistura cenas rodadas em estúdio com filmagens reais realizadas por Ford e sua equipe de segunda unidade no continente africano. Não poucas vezes as duas filmagens são mescladas em edição. Nem sempre isso funciona. As imagens capturadas na África não possuem, por exemplo, a mesma qualidade das cenas que foram realizadas em estúdio com os atores. Por isso a diferença de uma para outra se torna muito perceptível ao espectador. Tecnicamente o filme envelheceu mal. Pode parecer que algo assim seria um excesso de zelo, porém é um fator que envelheceu dramaticamente, tornando o filme de Ford menor do que ele realmente era. De qualquer forma o que temos aqui é certamente um clássico do gênero aventura nas selvas. Com a genialidade de John Ford não era de se esperar nada muito diferente disso.

Mogambo (Mogambo, Estados Unidos, 1953) Estúdio: Metro-Goldwyn-Mayer (MGM) / Direção: John Ford / Roteiro: John Lee Mahin, Wilson Collison / Elenco: Clark Gable, Grace Kelly, Ava Gardner, Donald Sinden / Sinopse: Pesquisador da vida selvagem contrata um caçador para levá-lo a uma montanha onde vivem gorilas selvagens. No meio da expedição sua esposa acaba se apaixonando pelo caçador. Filme indicado ao Oscar nas categorias de Melhor Atriz (Ava Gardner) e Melhor Atriz Coadjuvante (Grace Kelly). Vencedor do Globo de Ouro na categoria de Melhor Atriz (Grace Kelly).

Pablo Aluísio.

segunda-feira, 15 de abril de 2019

Rastros de Ódio

Esse era considerado por muitos (inclusive pelo próprio John Wayne) como um dos maiores westerns já realizados. O roteiro foi adaptado do romance escrito por Alan Le May que por sua vez usou como fonte uma história verídica ocorrida no século 19. No auge da colonização rumo ao Oeste muitos raptos de crianças brancas foram relatados às autoridades americanas. Muitas tribos indígenas (como os Comanches retratados no filme) roubavam essas crianças para utilizá-las como moeda de troca com os colonizadores ou como ato de terror para que eles abandonassem suas terras. No filme a pequena Debbie é levada por um chefe tribal conhecido como Scar  (cicatriz em português). Seus pais são mortos em um rancho enquanto os homens da família partem em busca de gado roubado pelos índios. Ao retornarem se deparam com o rancho em chamas e os corpos dos adultos espalhados pela casa sede. Duas jovens crianças são levadas pelos Comanches. A mais jovem logo é encontrada em um canion no meio do deserto, mas a outra some sem deixar vestígios. A busca por sua sobrinha desaparecida logo se torna a obsessão de Ethan Edwards (John Wayne) que ao lado de seu sobrinho Martin Pawley (Jeffrey Hunter) parte em direção ao Oeste na tentativa desesperada de resgatar a pequena Debbie. Passam-se anos e eles enfrentam todas as adversidades possíveis para alcançar seu objetivo, mesmo que isso custe sua saúde, sua sanidade e sua paz.

O personagem Ethan é uma força da natureza. Mesmo após várias tentativas frustradas ele simplesmente não se abala. Ele segue em frente como símbolo de obstinação e luta! Não importa quantos anos levem, ele segue de forma inabalável rumo a novas cidades, novas pradarias, sempre lutando para descobrir o paradeiro de sua ente querida. Na história verídica Cynthia Ann Parker (nome real da pessoa que inspirou Debbie de "Rastros de Ódio") acabou virando esposa de um guerreiro Comanche, tendo com ele três filhos. No filme Ethan consegue alcançar Debbie ainda jovem, vivendo como uma das quatro esposas do cacique da tribo. A Debbie que eles encontram já não é a mesma garotinha de antes, agora é uma adolescente (interpretada por Natalie Wood) que parece ter se adaptado à cultura dos índios Comanches, algo que se torna imperdoável para Ethan. A direção de John Ford surge mais inspirada do que nunca. Tirando proveito das belas locações naturais (entre elas a conhecida Monument Valley. a região que virou marca registrada dos filmes de western do cineasta) ele criou um visual de grande impacto que entrou no subconsciente de gerações de cinéfilos. Também trabalhou muito na composição de Ethan.

Ao contrário dos mocinhos típicos filmes de western que surgiam invariavelmente como poços de integridade, o personagem interpretado por John Wayne aqui tem defeitos - e muitos! Um deles é seu preconceito contra nativos. Sua aversão a Comanches é tamanha que ele ao perceber que sua sobrinha está totalmente inserida dentro da cultura da tribo prefere vê-la morta do que como está! Ousa inclusive levantar a hipótese de matá-la! Seu passado também é nebuloso. Após deixar a Guerra Civil ele surge com muito dinheiro, em notas novas, sugerindo que teria sido fruto de algum roubo a banco ou trem realizado por ele e seus comparsas. Assim Ethan é um caso raro de personagem multilateral, com várias facetas, muitas delas nada dignas. Wayne encarna com perfeição seu papel, ora criando um vínculo genuíno com o público, ora despertando sua aversão. Para finalizar resta dizer que "Rastros de Ódio" foi eleito recentemente como um dos 100 melhores filmes da história do cinema americano pelo American Film Institute. Uma honra só reservada para as grandes obras primas. Um lugar mais do que merecido para "The Searchers" o filme definitivo das carreiras de John Wayne e John Ford. Um marco na história do western americano.

Rastros de Ódio (The Searchers, EUA, 1956) Direção: John Ford / Roteiro:Frank S. Nugent baseado na novela de Alan Le May / Elenco: John Wayne, Jeffrey Hunter, Vera Miles, Natalie Wood, Ward Bond, John Qualen / Sinopse: Após massacrar toda uma família em um rancho, guerreiros Comanches raptam duas crianças. A primeira é morta no deserto, mas a segunda passa a ser criada na Tribo. O tio dela, Ethan (John Wayne), decide transformar a busca dela no objetivo maior de sua vida. Ao lado do sobrinho mestiço Martin Pawley ( Jeffrey Hunter) ele começa uma longa jornada que durará anos em busca de pistas do paradeiro de sua sobrinha sequestrada.

Pablo Aluísio.

sábado, 23 de fevereiro de 2019

O Céu Mandou Alguém

Título no Brasil: O Céu Mandou Alguém
Título Original: 3 Godfathers
Ano de Produção: 1948
País: Estados Unidos
Estúdio: Metro-Goldwyn-Mayer (MGM)
Direção: John Ford
Roteiro: Laurence Stallings, Frank S. Nugent
Elenco: John Wayne, Pedro Armendáriz, Harry Carey Jr

Sinopse:
Três bandoleiros liderados por Robert Hightower (John Wayne) decidem roubar um banco na pequenina cidadezinha de Welcome no Arizona. Na fuga acabam sem água, perdidos no meio de um dos desertos mais hostis dos Estados Unidos. Lá encontram uma carruagem abandonada, com uma mulher grávida, prestes a ter um filho. Após ajudar no nascimento da criança a mãe morre. Agora os três assaltantes tentarão sobreviver naquele deserto implacável, tentando fugir do xerife e seus assistentes, ao mesmo tempo em que tentam manter o recém-nascido vivo.

Comentários:
Esse é certamente um dos mais interessantes e menos badalados filmes do mestre John Ford (1894 - 1973). O filme começa como todos os westerns da época, com um trio de bandidos de olho no banco de uma cidadela perdida no meio do deserto. Segue-se a perseguição do xerife e então o diretor dá uma guinada e tanto no enredo, fazendo daqueles três assaltantes pessoas de bom coração, que ajudam uma jovem mãe a ter seu filho no meio do deserto. Os três personagens, um americano (Wayne), um mexicano (Pedro Armendáriz) e um jovem pistoleiro conhecido como 'The Abilene Kid' (Harry Carey Jr.) mostram seu lado mais humano, mesmo após terem cometido um crime. O enredo não disfarça uma conotação levemente religiosa ao comparar aqueles três bandidos, os padrinhos do menino recém nascido (daí o título em inglês, 3 Godfathers), com a própria natividade do menino Jesus (com direito até mesmo a uma estrela brilhante no céu). Como um dos próprios personagens fala, eles seriam versões modernas dos três reis magos! Ford também utiliza a natureza do deserto como um elemento opressor sobre todos os personagens, tanto os perseguidos, como os perseguidores. Essa linguagem serve para demonstrar a pequenez do ser humano diante da natureza. O filme no final das contas, embora pouco conhecido, é mais uma das provas da genialidade de um cineasta realmente diferente, marcante, que deixou sua marca para sempre na história da sétima arte.

Pablo Aluísio.

quarta-feira, 16 de maio de 2018

Audazes e Malditos

Título no Brasil: Audazes e Malditos
Título Original: Sergeant Rutledge
Ano de Produção: 1960
País: Estados Unidos
Estúdio: Warner Bros
Direção: John Ford
Roteiro: Willis Goldbeck baseado no romance de John Hawkins
Elenco: Jeffrey Hunter, Woody Strode, Constance Towers, Carleton Young
  
Sinopse:
Baxton Rutledge (Woody Strode) é um sargento negro do exército americano que é acusado de matar um oficial superior. Como se isso não bastasse ainda é apontado também como o assassino e estuprador de uma jovem garota. Para defendê-lo é indicado como advogado de defesa o tenente Tom Cantrell (Jeffrey Hunter). Instaurada a corte marcial todos tentarão desvendar o que realmente teria acontecido

Comentários:
"Audazes e Malditos" é mais um belo western do consagrado diretor John Ford. Geralmente filmes de cavalaria americana sempre dão bons filmes e com Ford na direção não poderia sair outro resultado. Porém o filme se diferencia dos demais que John Ford fez sobre o exército americano. Muita coisa que vemos em sua famosa trilogia da cavalaria não se repete aqui. Em "Audazes e Malditos" temos um autêntico filme de tribunal, só que obviamente passado no velho oeste. Embora haja conflitos entre soldados e Apaches (mostrados em flashbacks) a ação propriamente dita não se desenrola no meio do deserto, mas sim em depoimentos, testemunhos e evidências que são apresentadas durante a corte marcial do sargento. Para um filme assim Ford teve que convocar um bom elenco de atores. Jeffrey Hunter está muito bem no papel do tenente que tenta de todas as formas inocentar o acusado. Para falar a verdade não me recordo de nenhuma outra atuação dele tão boa quanto essa. Era sem dúvida um bom ator que ficou imortalizado não apenas no papel de Jesus Cristo em "Rei dos Reis" como também por ter sido o primeiro piloto da nave Enterprise no episódio de estreia da série "Jornada nas Estrelas" que na época foi considerada "cerebral" demais para os padrões da TV americana. Uma pena que tenha morrido tão jovem. Outro destaque é a presença de Woody Strode como o sargento negro acusado de assassinato e estupro. Sua postura é das melhores e ele mostra que era excelente ator em pequenos detalhes, no olhar, na convicção e na dignidade. Por todas essas razões recomendo "Audazes e Malditos" não apenas aos fãs de John Ford, esse genial cineasta, mas também a todos que gostam de edificantes tramas jurídicos. Um roteiro socialmente consciente que tem muito a dizer e passar com sua mensagem. Certamente não irão se arrepender.

Pablo Aluísio.

sábado, 21 de abril de 2018

Rio Grande

O tenente coronel Kirby Yorke (John Wayne) é o comandante de um forte localizado na fronteira do Texas com o México. A região é abalada pela união de várias tribos indígenas que resolvem unir forças contra os brancos. O problema é que sempre que a cavalaria liderada por Kirby consegue localizar os índios selvagens, esses fogem para o outro lado da fronteira, atravessando o grande rio que separa os dois países. Além dos problemas envolvendo conflitos com os nativos, Kirby ainda tem que lidar com a transferência de seu filho, recentemente expulso de West Point, para sua guarnição. Ele não vê o jovem há 15 anos e tem que criar algum relacionamento com ele, mesmo mal o conhecendo de fato. “Rio Grande” é o último filme da trilogia da cavalaria de John Ford. Aqui o lendário diretor utilizou-se de todos os elementos que fizeram seus grandes clássicos: cenas de batalhas bem executadas, música evocativa, lindos cenários naturais (o filme foi todo filmado aos pés do Monument Valley) além é claro da presença do mito John Wayne.

O roteiro foi baseado em uma estória publicada no jornal Saturday Evening Post de autoria de James Warner Bellah. Era comum a publicação de longas estórias de western nos grandes jornais norte-americanos. Alguns desses textos eram tão bons que acabavam indo parar nos cinemas. Esse de Bellah foi um grande sucesso, chegando ao ponto de aumentar as vendas do jornal. John Ford, sempre procurando por bom material, não tardou a comprar os direitos da estória. Sua adaptação é excelente como podemos conferir ao assistirmos essa inspirada saga sobre a cavalaria americana. O filme foi produzido pelo estúdio Republic, que já não existe mais. Dois grandes cenários foram construídos no pé do Monument Valley – o próprio forte do exército e uma pequena vila com uma igreja abandonada onde ocorrem os eventos finais do filme. As construções feitas pela equipe de John Ford ainda existem e viraram ponto de turismo na região! Outro atrativo em “Rio Grande” é a bela participação do grupo musical vocal “The Sons of Pioneers” que chegou a ter suas músicas lançadas na trilha sonora do filme, se tornando um grande sucesso de vendas. O tema principal do filme é a belíssima "I'll Take You Home Again, Kathleen" que ganhou inclusive versão na voz de Elvis Presley na década de 70. No final das contas quem melhor resumiu a produção foi o Los Angeles Times que qualificou “Rio Grande” como “um legítimo épico da mitologia americana”. Ninguém poderia definir melhor.

Rio Grande (Rio Grande, Estados Unidos, 1950) Direção: John Ford / Roteiro: James Kevin McGuinness; Camera Bert Glennon baseados na estória de James Warner Bellah / Elenco: John Wayne, Maureen O'Hara, Ben Johnson, Claude Jarman Jr, Harry Carey Jr, Victor McLaglen / Sinopse: Comandante de um forte na fronteira entre México e Estados Unidos tem que lidar com tribos selvagens rebeldes ao mesmo tempo em que resolve criar vínculos mais genuínos com seu filho, um soldado recentemente transferido para fazer parte da guarnição sob seu comando.

Pablo Aluísio.

segunda-feira, 15 de janeiro de 2018

Marcha de Heróis

Título no Brasil: Marcha de Heróis
Título Original: The Horse Soldiers
Ano de Produção: 1959
País: Estados Unidos
Estúdio: United Artists
Direção: John Ford
Roteiro: John Lee Mahin, Martin Rackin
Elenco: John Wayne, William Holden, Constance Towers
  
Sinopse:
Durante a guerra civil americana o Coronel John Marlowe (John Wayne) da União recebe uma missão ousada e perigosa. Ele precisará adentrar o território inimigo, indo em direção ao coração do sul rebelde e confederado, para destruir uma importante estação ferroviária chamada Newton, que está sendo usada como uma vital via de reposição de tropas e recursos para os exércitos sulistas. A empreitada, praticamente suicida, acaba colocando frente a frente dois oficiais que não se dão muito bem, o próprio Marlowe e o Major Henry Kendall (William Holden), médico cirurgião do exército. A marcha acaba se revelando uma jornada de superação e heroísmo. Filme indicado ao Directors Guild of America na categoria de Melhor Direção (John Ford).

Comentários:
O mestre John Ford (1894 - 1973) elevou o gênero Western a um novo patamar. Ele recriou a mitologia do velho oeste e consagrou um dos mais importantes fenômenos cinematográficos da história. Os faroestes dirigidos por Ford não se contentavam apenas em contar boas histórias, em excelentes produções, mas também criar toda uma nova mitologia americana, louvando a bravura do homem do oeste. Aqui o foco se dirige em direção à guerra civil, o conflito armado que mais ceifou vidas americanas durante toda a história daquela nação. Wayne interpreta esse velho Coronel, um sujeito durão, formado pelas adversidades da vida. No passado ele viu seu filho morrer por causa de uma imperícia médica e por essa razão acabou criando uma aversão natural por médicos em geral. Ao ter que lidar com o cirurgião Henry Kendall (Holden) durante uma perigosa missão rumo ao sul as coisas realmente começam a sair do controle. O roteiro, muito bem estruturado e dividido em pequenas tramas independentes que vão sendo exploradas ao longo do filme, se revela muito acima da média, investindo bastante nas relações humanas de todos os personagens. 

Isso não se limita ao tenso convívio entre o durão Coronel e o médico cirurgião de sua tropa, mas também em relação a uma dama sulista, Miss Hannah Hunter (Constance Towers), que eles precisam levar a tiracolo depois que ela descobre importantes planos da União. Não demora muito e o Coronel acaba desenvolvendo sentimentos em relação à mocinha, uma velha presença constante na obra de Ford, sempre procurando também trazer um pouco de  romance mesmo em suas tramas essencialmente masculinas e feitas para os homens dos anos 50. Ford também se dá ao luxo de colocar o Coronel interpretado por John Wayne em crise existencial ao perceber que ele no final das contas está destruindo aquilo que construía antes da guerra (já que o velho Coronel Marlowe foi engenheiro ferroviário antes da guerra civil). Em um bar, ouvindo as dinamites explodirem as linhas de trem, o velho oficial finalmente desaba e tem um ataque de nervos, algo incomum para um típico herói de faroestes daquela época. O bom humor também não é deixado de fora pelo roteiro. Os sulistas que surgem geralmente são caipirões indigestos e o conflito iminente entre a cavalaria da União e uma guarnição sulista composta apenas por garotos da escola militar acabam gerando os momentos mais divertidos de todo o filme. O clímax também é ótimo, na travessia da ponte que significa a salvação e a liberdade para aqueles bravos soldados da União. Assim não existe outra qualificação para "The Horse Soldiers", pois é uma obra cinematográfica realmente grandiosa que faz jus a toda genialidade de seu diretor. Um faroeste que jamais poderá faltar em sua coleção. Realmente imprescindível!

Pablo Aluísio.

sexta-feira, 23 de junho de 2017

Asas de Águias

Título no Brasil: Asas de Águias
Título Original: The Wings of Eagles
Ano de Produção: 1957
País: Estados Unidos
Estúdio: Metro-Goldwyn-Mayer (MGM)
Direção: John Ford
Roteiro: Frank Fenton, William Wister Haines
Elenco: John Wayne, Maureen O'Hara, Dan Dailey, Ward Bond, Ken Curtis, Edmund Lowe
  
Sinopse:
Durante a formação da primeira esquadrilha de aviões da marinha americana, o piloto Frank 'Spig' Wead (John Wayne) acaba se destacando por sua coragem e audácia. Ele é um militar rebelde que nem sempre segue as ordens. Quando a marinha resolve disputar com o exército uma volta ao mundo ele prontamente se dispõe a liderar sua equipe. Apenas uma surpresa do destino acaba parando seus planos para essa aventura inesquecível.

Comentários:
John Ford foi um mestre do cinema. Disso ninguém tem dúvidas. A questão é que até mesmo os grandes cineastas dão tropeços em sua carreira. Esse "Asas de Águias" foi seguramente um dos piores filmes de Ford. Mesmo trabalhando ao lado de John Wayne, em uma história tão interessante, baseada em fatos reais, pouca coisa funciona. No começo do filme Ford adota um tom exageradamente pastelão. Isso mesmo, em um filme que se propunha a ser um drama de guerra, Ford colocou cenas exageradamente cômicas, com direito a bolos e tortas na cara e calhambeques disputando corridas com aviões (como se o espectador estivesse assistindo a um velho filme de "O Gordo e o Magro"). Nada chega a ser engraçado, apenas constrangedor. Depois o filme avança e Ford, aos poucos, vai mudando o estilo. O personagem de John Wayne sofre um acidente doméstico, ao cair de uma escada, e se torna paraplégico. Ele que sempre foi um militar audacioso teria que lidar agora com uma terrível nova realidade. E aí, do nada, o que era pastelão se torna dramalhão. É um pouco demais para o público, vamos convir. Essa montanha russa de estilos cinematográficos acaba atrapalhando o filme como um todo. Sem ter como pilotar novamente então o personagem de John Wayne vai para Hollywood e se torna roteirista de filmes de guerra. A história real de Frank 'Spig' Wead poderia render algo muito mais interessante. Ele próprio poderia ter escrito um roteiro melhor para o filme, porém quando esse foi realizado ele já estava morto. Uma pena, de certa forma John Ford, apesar de todas as suas boas intenções e talento, estragou essa biografia do velho piloto da marinha. Se tivesse adotado um tom sério e mais centrado no drama real vivido por Spig teríamos um filme muito mais interessante. Do jeito que ficou tudo soa muito bobo e fora de propósito. Esse filme certamente foi uma bola fora dentro da filmografia do grande John Ford. A lição que fica é a de que até os grandes gênios do cinema cometem sua dose de bobagens nas telas.

Pablo Aluísio.

sábado, 13 de maio de 2017

A Mocidade de Lincoln

Título no Brasil: A Mocidade de Lincoln
Título Original: Young Mr. Lincoln
Ano de Produção: 1939
País: Estados Unidos
Estúdio: Twentieth Century Fox
Direção: John Ford
Roteiro: Lamar Trotti
Elenco: Henry Fonda, Alice Brady, Marjorie Weaver, Arleen Whelan, Eddie Collins, Richard Cromwell
  
Sinopse:
O sonho do jovem Abraham Lincoln (Henry Fonda) é se tornar um grande advogado. Até chegar lá porém ele terá que superar muitos desafios. Filho de uma humilde família da interiorana Hodgenville, no Kentucky, trabalhador rural, ele precisa mostrar seu valor nos estudos, mesmo sem muito apoio ou incentivo por parte de seus pais. O filme narra justamente os anos iniciais de sua vida profissional, quando apenas sonhava em vencer na vida.

Comentários:
Quando se fala em filmes sobre a figura do presidente Abraham Lincoln, sempre se lembra dessa produção dos anos 30. É um dos clássicos da brilhante carreira do mestre John Ford. O filme foi vencedor do Oscar na categoria de Melhor Roteiro (Lamar Trotti) justamente por romantizar os primeiros anos de atuação de Lincoln, quando ele era apenas um jovem advogado desconhecido, do interior do Kentucky. Apesar de ser inegavelmente um grande filme, desses para se ter em sua coleção, o fato é que há dois pequenos erros em sua narrativa. O primeiro diz respeito aos próprios fatos mostrados na tela, todos eles meramente ficcionais. Obviamente Lincoln realmente foi um advogado de interior antes de entrar na vida política. Isso é certo, porém os acontecimentos mostrados no filme, os detalhes, as causas, essas são frutos da imaginação do roteirista Lamar Trotti. Outro erro digno de nota vem da própria personalidade do protagonista. Interpretado por Henry Fonda, o jeito de ser e agir do seu Lincoln tem mais a ver com a imagem simbólica que ele construiu em seus anos na Casa Branca, do que com a do jovem advogado cheio de prosa que é encontrado nos livros de história. Em sua juventude Abraham Lincoln era dado a contar causos, piadas e anedotas divertidas, muitas delas explorando a vida de um homem simples do campo. Nada a ver com atitudes gloriosas, majestosas, da imagem oficial. O Lincoln da história era bem mais divertido. Assim o filme perde bastante no quesito veracidade histórica, embora como puro cinema é realmente uma excelente obra cinematográfica.

Pablo Aluísio.

sábado, 24 de dezembro de 2016

Mister Roberts

Título no Brasil: Mister Roberts
Título Original: Mister Roberts
Ano de Produção: 1955
País: Estados Unidos
Estúdio: Warner Bros
Direção: John Ford, Mervyn LeRoy
Roteiro: Frank S. Nugent, Joshua Logan
Elenco: Henry Fonda, Jack Lemmon, James Cagney, William Powell, Nick Adams, Betsy Palmer
  
Sinopse:
Segunda Guerra Mundial. Pacífico Sul. O Tenente 'Doug' Roberts (Fonda) serve em um velho cargueiro da Marinha americana. Ele a cada dia se sente mais frustrado pois sua embarcação não está relacionada diretamente a entrar em combate, se limitando a suprir as mercadorias das tropas aliadas naquela região. Com apenas 62 homens a bordo eles precisam aguentar as manias e ataques de maluquice de seu comandante, o capitão Morton (Cagney) que não parece disposto a facilitar a vida de ninguém. O que mais deseja Doug é ir embora do navio, para ser transferido para um destróier da armada, mas isso, como ele logo descobrirá, não será nada fácil. Filme indicado ao Oscar nas categorias de Melhor Filme e Melhor Som. Vencedor do Oscar na categoria de Melhor Ator Coadjuvante (Jack Lemmon).

Comentários:
Baseado numa peça de grande sucesso da Broadway, "Mister Roberts" é uma simpática comédia ambientada na Segunda Guerra dirigida pelo mestre John Ford. É interessante que Ford pouco se aventurou nesse estilo, mas o apelo de levar a famosa e bem sucedida peça teatral falou mais alto e ele aceitou o convite da Warner para dirigir o filme. Inicialmente a produção seria estrelada por Marlon Brando (como Mister Roberts) e Spencer Tracy (como o médico a bordo, Doc), mas por motivos variados eles não foram contratados. O destino tem suas próprias razões e isso foi muito bom, uma vez que a dupla Fonda / Powell funcionou muito bem. Henry Fonda inclusive havia estrelado a peça da Broadway e seria naturalmente, mais do que qualquer outro ator, o nome ideal para a adaptação cinematográfica. Já Lemmon acabou levando o único Oscar do filme, numa interpretação muito divertida do desastrado segundo tenente Frank Thurlowe Pulver, oficial da lavanderia de roupas e da moral da tripulação (imaginem que mistura esquisita!). O roteiro foi escrito por dois diretores, Frank S. Nugent e Joshua Logan, e tem realmente um timing excelente. 

O tenente Roberts (Fonda) passa o tempo todo em uma guerra surda e não declarada para com o esquisito e carreirista capitão do barco, Morton (Cagney) que é um sujeitinho cheios de manias, como a de cultivar uma palmeira no convés do navio, sem que ninguém pudesse nem ao menos tocá-la. Como o filme é baseado numa peça teatral alguns aspectos de palco acabaram passando para a tela, como por exemplo, o desenrolar de toda a estória acontecendo em praticamente apenas um ambiente (o próprio cargueiro decadente chamado de "banheira" por todos os tripulantes). É lá que tudo se desenvolve. Curiosamente Fonda interpreta o bom oficial, amigo de todos, um colega de farda que é acima de tudo um apoio contra os desmandos do capitão, de quem ninguém gosta de verdade. O final, quando o tenente Roberts finalmente consegue sua tão sonhada transferência da embarcação para um navio poderoso da esquadra e o seu destino que o aguarda, é um dos mais tocantes que já vi. Uma lição irônica e ao mesmo tempo realista da vida e da luta que aguardavam todos aqueles militares no maior e mais sangrento conflito armado de todos os tempos.

Pablo Aluísio.

sexta-feira, 22 de abril de 2016

Mogambo

Aproveitei a noite de ontem para conferir mais um clássico. O filme em questão foi Mogambo, produção de 1953 dirigida pelo mestre John Ford. Conhecido e consagrado pelos filmes de western que realizou ao lado de John Wayne, Ford aqui mudou de ares, trocando o deserto do velho oeste pelas planícies sem fim da África selvagem. O grande atrativo para o cinéfilo nem vem tanto dessa diversidade, mas sim do maravilhoso elenco que Ford conseguiu reunir. Ele teve sob sua direção três grandes estrelas de Hollywood: Clark Gable, Grace Kelly e Ava Gardner! Poucos filmes da época conseguiram reunir uma constelação como essa.

O galã Gable interpreta um grande caçador branco chamado Victor Marswell; Ele tem um posto avançado no continente africano. Ao lado de sua equipe ele caça animais raros (como uma pantera negra) para vender para circos e zoológicos ao redor do mundo. O negócio prosperou tanto que Vic resolve em determinado momento também alugar sua experiência para safáris pela selva adentro. O pesquisador de grandes primatas Donald Nordley (Donald Sinden) resolve então contratar seus serviços. Donald quer que Victor comande uma expedição rumo às montanhas dos gorilas onde pretende recolher dados sobre o habitat onde vivem esses animais. O problema é que Donald também está acompanhado de sua bela esposa, a educada e delicada Linda (Grace Kelly). Talvez por estar com o casamento em crise ou por pura atração o fato é que Linda acaba se apaixonando por Victor, bem no meio do safári e bem debaixo do nariz do próprio marido!

Para completar o triângulo amoroso improvável ainda há a presença de Eloise Y. Kelly (Ava Gardner). Ela é uma dançarina americana de night clubs em Nova Iorque que foi até a África encontrar um sultão rico. O problema é que o tal milionário foi embora antes da hora e Kelly ficou a ver navios. Sem ter para onde ir ela acaba indo parar na propriedade de Victor que resolve lhe acolher enquanto o próximo barco em direção à civilização não chega. Pronto, fica assim armado todo o drama romântico do filme. Kelly ama Victor que por sua vez se sente atraído por Linda, mesmo sendo ela casada. John Ford teve habilidade suficiente para desenvolver todos esses romances ao mesmo tempo em que desenvolve uma boa aventura. Há muitas cenas reais das paisagens e animais africanos, mas a grande maioria delas foram realizadas por uma segunda unidade, sem a presença do elenco. Os atores geralmente surgem em estúdio, como se estivessem na África. Ford, sempre perfeccionista, coordenou todas as filmagens no Congo, na Tanzânia e no Quênia. Isso trouxe um visual extremamente rico para o filme.

Com tantas qualidades quem acaba roubando o filme em meu ponto de vista é a atriz Grande Kelly. Há um contraponto entre sua elegância, finesse e educação com os modos mais rudes da personagem de Ava Gardner (que de cabelos curtos também está muito sensual). Grace está maravilhosa em seu papel, que combinava perfeitamente com sua imagem pública. O curioso é que nos bastidores ela acabou tendo um caso passageiro com Gable, provando que por baixo de toda aquela imagem de mulher fria e nobre havia um vulcão adormecido. Enquanto Ava, que tinha uma postura mais sensual em cena, se comportava adequadamente no set de filmagem, sua parceira levava o astro principal do filme para debaixo de seus lençóis. O extremo oposto das personagens que interpretavam no filme. De uma forma ou outra tanto Grace como Ava foram agraciadas com indicações ao Oscar, muito embora elas não tenham levado o grande prêmio da sétima arte para casa.

Mogambo (Mogambo, EUA, 1953) Direção: John Ford / Roteiro: John Lee Mahin, Wilson Collison / Elenco: Clark Gable, Grace Kelly, Ava Gardner / Sinopse: Victor Marswell (Clark Gable) é um caçador americano na África que precisa decidir entre o amor de duas belas mulheres, a dançariana Eloise Y. Kelly (Ava Gardner) e a doce e tímida Linda Nordley (Grace Kelly), cujo o marido o contratou para levá-lo até as montanhas dos gorilas selvagens.

Pablo Aluísio.