Finalmente assisti a esse novo "Blade Runner 2049", As duas observações iniciais são simples: o filme me agradou de maneira em geral e também não foi nada aborrecido e cansativo como muita gente tem dito por aí. Parece que as pessoas perderam o jeito (e a paciência) para assistir a obras como essa. O filme foi mal nas bilheterias, tanto nos Estados Unidos como no resto do mundo. Era algo previsível de acontecer. Os jovens que vão ao cinema hoje em dia muito provavelmente não conhecem o filme original. A falta de ação e o estilo mais cerebral também são fatores que espantam esses jovens. Afinal são quase 3 horas de duração, onde tudo acontece no seu devido tempo, sem pressa, em ritmo lento, como se fosse um film noir dos anos 40.
O roteiro não me surpreendeu muito, mesmo naqueles momentos em que tenta manipular o espectador. Tampouco foi tão complexo como eu esperava. Ao contrário disso a trama é até bem redondinha, nada complicada de entender. Basicamente há uma novidade e tanto no universo de Blade Runner. Descobre-se que uma replicante conseguiu se reproduzir! Isso mesmo, os restos mortais de uma delas mostra que ela teve filhos! Caso único e singular. Obviamente que se torna vital encontrar essa criança, pois ela é uma etapa a mais na evolução! Imaginem, se os replicantes pudessem se reproduzir de que serviria a humanidade a partir desse ponto? Nessa linha temos assim o mote principal de toda a história: o Blade Runner "K" (Ryan Gosling) precisa encontrar o fruto desse evento maravilhoso (ou terrível, dependendo do ponto de vista). Seria a primeira descendente nascida de um ser artificial.
O diretor Denis Villeneuve fez um belo trabalho de ambientação. Você vai se lembrar imediatamente daquele universo sombrio, escuro, com muita decadência futurista. Um mundo distópico, com chuva eterna. O mesmo que você conheceu lá nos anos 80 com o primeiro filme estrelado por Harrison Ford. E por falar nele, penso que o único erro maior dessa nova produção foi trazer o personagem Rick Deckard de volta. Ele poderia ser apenas uma lembrança, um mistério a ser resolvido, tal como a replicante Rachael. A impressão que tive foi que a presença de Ford foi única e exclusivamente usada como ponto de referência, como explicação de tudo o que está acontecendo. Seu personagem funciona como alguém que serve para revelar mais e tornar tudo mais claro ao espectador. Não era necessário. Nesse ponto o roteiro parece ter subestimado a inteligência do público.
Outro fato interessante é que os roteiristas jogam o tempo todo com a verdadeira identidade do filho (ou filha) de Rachael. Seria um dos personagens do filme? Ou alguém que no final não vai aparecer (abrindo portas para uma sequência futura). Isso você só vai descobrir assistindo ao filme. Outro revés é que não existem aqui discussões mais filosóficas sobre a importância da vida humana como vimos no primeiro filme. Não há um background mais complexo. Isso porém não chega a estragar o resultado final. É sim um bom filme, que vem para fechar um ciclo. Era necessário mesmo explicar o que aconteceu com Deckard e Rachael? Bom, penso que não! Mesmo assim, não deixa em hipótese nenhuma de ser algo interessante. Assim esse novo filme com a marca "Blade Runner" muito provavelmente não se tornará um cult movie e uma obra prima como o original, mas ainda assim vale como algo a mais do que um mero exercício de imaginação.
Blade Runner 2049 (Estados Unidos, 2017) Direção: Denis Villeneuve / Roteiro: Hampton Fancher, Michael Green, baseados na obra original escrita por Philip K. Dick / Elenco: Harrison Ford, Ryan Gosling, Robin Wright, Jared Leto, Ana de Armas, Sean Young, Sylvia Hoeks, Edward James Olmos / Sinopse: Trinta anos após os acontecimentos vistos no filme "Blade Runner - O Caçador de Andróides", um novo policial é enviado para descobrir o paradeiro de uma criança que teria nascido do ventre de uma replicante - algo completamente surreal e inédito na história. Descobrir sua identidade e onde ela está passa a ser vital para todos.
Pablo Aluísio.