terça-feira, 15 de dezembro de 2009

Constance - Livro de Sangue

Cap. 1 - Vingança
Entrou pela cozinha. A velha não o viu. Ele tinha contas a acertar. Aquela velha no passado quis matá-lo. Depois ficou anos e anos procurando destruir sua reputação, publicando em jornais frases de deboche e escárnio, o ofendendo através de piadas psicóticas. Ela tinha personalidade retardada, era infantilóide e embora estivesse com 80 anos parecia ainda uma víbora adolescente. Também era uma das madames mais ricas de Paris! 

Agora havia chegado a hora de dizer basta. O Lord Constance, vampiro fino e elegante, queria descontar tudo o que havia passado. Chegou por trás da velha que, ouvindo mal, não o viu chegar. Ele a pegou pelos cabelos. Estavam na cozinha da casa. Pegou ela pelos cabelos e buum... a bateu com força na quina da pia dura de pedra da cozinha. A pancada foi forte e certeira. Ela perdeu imediatamente os sentidos. 

O Lord vampiro percebeu que ela não tinha mais consciência. Só para se assegurar que aquele ser não iria voltar a pegou novamente pela cabeça e deu uma, duas, três, fortes pancadas com sua cabeça no chão. O crânio fez barulho de ter trincado. O Lord então pegou um machado, o levantou e zumm... cortou a cabeça da velha fora! A cabeça rolou e rolou... Foi parar perto de uma poça de água...

Não iria beber seu sangue. Não queria beber o sangue daquela nobre de quinta categoria. Mulher rica de Paris, mas de baixos instintos. Ela tinha o que merecia. Era uma megera, uma insana, uma psicótica com ares de perversidade. De personalidade tóxica até o último fio de cabelo. Sua vida se esvaira. Estava morta. Constance nem perdeu tempo. Deu um chute feroz em sua cabeça decepada que estourou na parede da cozinha. O sangue cobriu tudo. Ele olhou uma última vez para aquilo. Estava satisfeito. Ela agora jazia nas profundezas do inferno. 

Acendeu um último cigarrete, olhou para o luar e saiu pela janela, para nunca mais voltar naquela casa...

Pablo Aluísio. 

segunda-feira, 14 de dezembro de 2009

Morte na Ravina

Cap. 1 - Todos Mortos...
Little Bighorn, Montana, 30 de junho de 1876
Entramos nas colinas próximas a Little Bighorn, no Território de Montana, em 30 de junho de 1876. Cinco dias antes a Sétima Cavalaria do General Custer havia sido destroçada por índios nessa mesma região. Estávamos chegando para conferir pela primeira vez o que teria realmente acontecido. Será que eles tinham mesmo sido mortos pelos nativos? Era necessário o envio de uma parte da cavalaria para verificar in loco o que de fato teria acontecido. Antes de qualquer coisa devo me apresentar. Esse que escreve essas linhas é o Major Paul Byron, faço parte da décima nona cavalaria e minha missão era de ir até aquela região para ver tudo com os próprios olhos. 

Antes de entrarmos na ravina já encontramos corpos de militares. Todos em avançado estado de decomposição. Muitos tinham sofrido com a tradicional ritualística dos nativos de retirar seus escalpos, a parte da frente dos cabelos nos crânios dos homens mortos. Os índios usavam os escalpos em seus cintos e nos cavalos para mostrar aos demais guerreiros da tribo a sua bravura na guerra contra o homem branco. 

Vi o corpo de um jovem soldado com a boca aberta e os olhos de terror. O rigor cadavérico preservou para a eternidade suas últimas feições em sua face praticamente juvenil. Não havia armas entre os corpos, uma prova de que elas tinham sido levadas pelos índios. Isso significava que estavam fortemente armados e municiados. Mais um sinal de que deveríamos ter muito cuidado. 

Finalmente depois de quase uma hora no lugar identificamos o corpo de Custer. Ele estava cadáverido, mas conseguimos reconhecer pelo uniforme, pelas insígnias e também pelos cabelos que sobraram, loiros, longos, ao vento. Seus dedos tinham sido cortados e seu corpo estava muito mutilado, demonstrando o ódio e a fúria de seus inimigos no calor da luta. Eles não apenas mataram Custer, eles fizeram de tudo para lhe tirar sua dignidade. O tronco havia sido separado de suas pernas, um dos pés foram arrancados e sua dentro de sua boca havia flechas de fogo. Um triste fim para um dos oficiais mais importantes da história do exército americano. 

Pablo Aluísio. 

domingo, 13 de dezembro de 2009

Manuscritos de um Vampiro

Manuscritos de um Vampiro
Segue abaixo mais um lote de manuscritos encontrados nas catacumbas de Paris no final dos anos 1920. Reza a lenda que seria de um Lord Vampiro, há muito desaparecido...

Capítulo 1 - Mil Demônios em seu leito fétido...
Paris, 12 de outubro de 1801
Estive lembrando de novo de uma figura imunda que cruzou meu caminho. Mulher de baixos instintos. Soube que ainda está viva, para minha surpresa. Sim, velha, sim, decrépita, mas ainda respirando. Aliás ela e seus irmãos, todos patifes da pior laia, ainda vivem e andam sobre a Terra. Daí eu me pergunto, como isso seria possível... Volto a dizer, que não existe nada. Nem um céu acima de nós e nem um inferno abaixo de nossos pés. É tudo invenção, tudo mitologia. 

Caso existisse algo desse tipo, mulheres como essa, que se dizem crentes em Deus, mas que no fundo são hipócritas malditas, já teriam virado pó. Um pastiche cremoso, feito de suas visceras. Mas como nada existe mesmo, elas caminham sobre a Terra de forma livre, leve e solta. Ainda são imundas, mesmo com o passar dos anos. Como são velhas de decrepitude a carne fede, os homens pegam nojo, ainda mais com suas personalidades cheias de preconceito, racismo e escrotidão. São mulheres escrotas no mais alto nível que você possa imaginar. Duas irmãs que vivem na sarejta moral e espiritual. 

De qualquer forma como sou um vampiro, que muitas pessoas não acreditam existir, vou deixar aqui uma oração negra de maldição, velha tradição da literatura do mal-dizer, muito em voga em eras passadas. Era uma forma de amaldiçoar o próximo ou a próxima. Eis minhas palavras nesse sentido, dirigidas para HM. Queima freira do Diabo, queima...

"Oh, seres das trevas...
Amaldiçoem as pegadas dessa velha imunda
Que Mil Demônios avancem sobre ela, de noite, de dia, a qualquer hora...
Que suas imundicies que saem de sua boca voltem para ela...
Que a miséria de sua alma fétida corroe suas entranhas...
Que o sono fique perturbado, que seja feito de pesadelos...
E que pela manhã o câncer que já esteve em seu corpo avance...
Avance, tome os órgãos, todos eles...
Destrua a imunda, destrua, por dentro, em todo lugar...
Coma suas vísceras, como o verme come os corpos apodrecendo nas covas do cemitério...
A carne fedendo, as unhas pretas, o cheiro de podridão...
E que ela seja enviada para seu lugar natural...
A mais baixa profundida do infernos...
Onde beijará as placas ardentes do submundo do reino das trevas...

Está lançada a praga, está lançada a maldição eterna..." 

Capítulo 2 - Encontro noturno em Portugal
Lisboa, 15 de dezembro de 1802
Eu estive em Portugal poucas vezes em minha vida. Hoje estou aqui. Ontem me encontrei com um senhor vampiro chamado Andrade Soarez. Ele é um velho vampiro, de muitos séculos de existência. Visualmente parece ser um senhor distinto, cabelos grisalhos e tudo mais. E realmente é uma presença agradável. Sabe aquelas pessoas gentis que você reconhece até mesmo em pequenos gestos. Pois bem, era o caso dele. Fomos para uma pequena cantina numa alameda do centro de Lisboa e conversamos durante duas horas naquela noite. Ele reclamou bastante dos jovens da noite, vampiros com menos de 200 anos de existência. Para ele era um bando sem salvação, um bando de vagabundos!

Não que não houvesse vampiros ruins no passado, ele confessou que havia. Foi mais além e disse que determinadas casas ou clãs eram formadas apenas por gente de esgoto, asquerosos, gente sem nenhum tipo de valor humano ou inumano. Era a escória em sua palavra. Citou um velho vampiro muito antigo de uma casta tradicional. Disse que o chefe desse clã era miserável e avarento e que todos os seus 11 filhos eram seres desprezíveis. Ele perdeu o filho mais velho, que acabou caindo dentro de sua própria armadilha. Depois disso assumiu a coordenação do clã o segundo mais velho. Um homem impotente e que por baixo de uma aparência de vampiro honrado, era ladrão e golpista. 

Os demais não valiam muito. Havia três irmãs mais velhas, três víboras. Uma era mística fanatizada, a outra uma megera incurável e a mais jovem uma canalha pérfida. Mulheres da noite tão feias que não arranjaram pretendentes. Pareciam morcegos atrofiados, aleijados. Os demais irmãos mais novos eram em essência patifes. Todos envolvidos em redes de prostituição, bebedeiras e crimes dos mais diversos tipos. Um deles precisou fugir acusado de roubo de dinheiro público. Terminou sua vida (ou morte, já que vampiros supostamente teriam vida eterna) como um aleijão que mal conseguia se levantar de uma cadeira. Mesmo debilitado e sem forças, continuava o mesmo ser desprezível. 

Esse clã familiar vampiro não resistiu ao tempo. Demorou, mas aos poucos todos foram desaparecendo. Uma ninhada de ratazanas. O senhor então bebeu sua última gota de vinho e me confessou que a tal vida eterna também havia se tornado um fardo, ainda mais agora que ele finalmente compreendia que o ser humano era um projeto que deu errado. Passavam os séculos e os mesmos erros eram cometidos, inclusive na sociedade, dentro da política, das comunidades de uma maneira em geral. Agora, com séculos nas costas ele só queria desapatecer de uma vez por todas, numa esquina escura de uma cidade portuguesa. E foi justamente isso que ele fez após se despedir da minha presença, com breves palavras finais. 

Capítulo 3 - Oh Morte, Venha a ela...
Paris, 8 de janeiro de 1824
Oh Helena, pessoa sórdida e vil!
Que sua boca seja invadida por sangue de hemorragia, que a luz de seus olhos se apaguem, que você sofra todos os males possíveis e imagináveis. Que se afogue em seu próprio sangue e perversidade, que o mau cheiro de suas entranhas entre em suas narinas e de lá nunca mais saiam... Que você sofra muito em suas últimas horas nessa existência miserável que você vive. Que os vermes decompositores rejeitem sua carne podre no caixão!

Que ao morrer seus restos mortais de chorume cadavérico sejam jogados numa caçamba de lixo e não em um túmulo, pois nem isso você merecerás! Joguem no lixo essa pessoa imunda, esse ser humano de quinta categoria, esse estrume, escória, imundície suprema... Que o lixo e a lama sejam seus últimos companheiros nessa vida desgraçada que levas...

Eu estarei na beira de seu túmulo onde vou me encher de pus fédido para cuspir em seus dejetos cadavéricos. Aquele pus amarelo fedorento escorrendo de sua foto péssima... Eu anseio por esse momento... Vou cuspir, cuspir e cuspir em sua memória... Que você morra muito em breve, que tenha muito sofrimento, que caia no descrédito e na humilhação coletiva, que seu nome seja motivo de escárnio e ofensa pelos séculos que virão...

Tu não és nobre, tu és lixo putrefato... Eu como vampiro vou olhar para você em seu último refúgio e cuspirei em seus restos mortais, Oh Helena, morra, morra eternamente na escuridão de sua própria imundície pessoal e que leve com você todos esses seres sórdidos que você chama de família... Oh Helena, apodreça, apodreça...

Capítulo 4 - Helena
Paris, 11 de janeiro de 1824
Ontem reencontrei um velho amigo, Lord Constance. Como sempre estava muito elegante e charmoso. Velhos vampiros não aprendem truques novos, muito embora educação e elegância já não tenham a mesma força atrativa para essas jovens de hoje, todas muito frívolas e superficiais. Pois bem, foi um breve, mas traumático encontro. Não pela presença de Constance, pois sempre gostei muito dele como Lord das trevas e tudo mais, mas sim pelo que ele me contou, quase no final da nossa conversa, quando já estava colocando seu bonito chapeu para se retirar. Eles se virou para mim e fez a pergunta fatal: 

- Você soube de Helena Margot?

Fiz cara de surpresa, mas escondendo fúria e raiva incontroláveis pois Helena era o nome proibido no meu caso, ainda mais depois de tudo o que aconteceu...

- Não estou sabendo de nada...

Constance então colocou as mãos em meus ombros, como se estivesse me preparando para a informação que iria me abalar. Ele olhou em meus olhos fixamente e disparou...

- Helena Margot morreu ontem em Paris. Ela estava com 94 anos de idade! Estava com demência avançada, além de Mal de Parkinson e havia sido abandonada em um asilo nos arredores da cidade pelos últimos familiares que lhe restavam...

Foi como receber uma estaca final em meu coração! Senti o sangue jorrar de meu coração falecido... Foi muito doloroso... Fiz rosto de pessoa consternada, um pouco teatral, mas foi isso... Não me veio mais nada à mente... Estava chocado demais para reagir, para falar algo que fosse minimamente coerente ou complexo... 

Ele então, percebendo que eu tinha ficado abalado, pediu desculpas, falou que tinha que ir e que havia sido muito bom me reencontrar... Com os olhos marejados, úmidos, ainda consegui dizer a ele:

- Claro Constance, o prazer foi todo meu... - Então ele virou-se e foi embora. 

Fiquei sozinho olhando o luar. Estava arrasado... Eu havia amaldiçoado o nome de Helena Margot por muitas décadas, mas a verdade é que a simples citação de seu nome ainda me abalava. Eu estava em choque! 

Helena, Helena... Nunca houve uma beleza como Helena... A amei e a odiei em doses extremas, sem meio termo... Ódio e Amor nas mesmas proporções... Provavelmente o único amor que tive em toda a minha existência... Eu tenho que enfrentar meus demônios interiores e contar nossa história, o que ocorreu no passado. Quero deixar registrado no papel nossa história. E é o que farei, nobre amigo, nas próximas cartas que irei lhe escrever...

Capítulo 5 - O Baile
Paris, 23 de janeiro de 1824
De acordo com o que lhe escrevi na última carta aqui vao algumas recordações que tenho de Helena Margot, que ja amaldiçoei em inúmeras vezes nas noites eternas em que vago sem rumo pelas ruas desertas e escuras em Paris. Hábito que admito, amo de coração, acaso tivesse eu ainda um coração batendo em meu peito de puro vácuo. Eu me recordo que a vi pela primeira vez em um salão de festas, um baile dado em homenagem ao filho de um conde que estava se formando em letras jurídicas. Não lembro mais o nome desse nobre. O tempo joga suas areias em nossas lembranças, mesmo as mais marcantes. 

Estava eu andando pelo baile, falando com as damas de ocasião quando surgiu Helena em minha frente. Uma doce donzela na flor de seus 16 anos de idade. Pele maravilhosa, olhos profundamente azuis, cabelos longos, ondulados e loiros como as mais puras e intocadas divindades nórticas. Estava conversando com uma amiga, dando risadinhas, contando alguma coisa engraçada entre elas. Pareciam muito felizes e contentes. E eu, literalmente falando, esbarrei nela sem querer. Estava de costas, bebendo, quando de repente percebi que havia batido em alguém de forma involuntária. O salão estava cheio, era inevitável esse tipo de situação!

- Oh, perdão, senhorita, não foi minha intenção - lhe disse assim que tomei par da situação um tanto embaraçosa...

- Não, tudo bem, fique tranquilo - ela me disse.

- Espero que não tenha derramado o seu copo em seu lindo vestido... - Uma observação pertinente enquanto a olhava de cima a baixo. Na verdade estava inebriado com sua beleza. Com o falso motivo de estar procurando por alguma gota em seu vestido, pude apreciar todas as suas curvas, a beleza de seus seios, a pela de porcelana....

- Não,  não me molhou... até porque se tivesse caído alguma bebida em meu vestido eu estaria louca, louca... - Ela disse sorrindo, aliás dentes perfeitos, brancos, maravilhosos... Fiquei inebriado...

Então puxamos algum tipo de conversa banal, apenas para tentarmos nos conhecer melhor. 

Pude perceber que ela tinha tiradas ótimas, de puro humor, sobre os vestidos das demais damas. Não era algo de maldade, achei tudo de um bom humor realmente cativante. Fiquei muito interessado nela. 

Não era uma adolescente comum. Ela era muito inteligente. Devo dizer que era mais inteligente do que eu, haja visto que ela fez algumas piadas comparando os convidados com alguns personagens de literatura que eu já ouvira falar, mas que não tendo lido os livros me deixou numa situação de humildade intelectual que raras vezes senti. Uma mulher assim era algo notável. Conhecer ela naquela noite me marcou. E não demoraria para nos vermos novamente, em outras situações mais do que interessantes...

Pablo Aluísio. 

sábado, 12 de dezembro de 2009

Cartas Vampirescas

Cap. 1 - Eu, o Vampiro...
Eu, Lord de Stlevanisk, figura antiga, figura que cruzou os séculos, deixo aqui alguns registros do que vi com meus próprios olhos. Me tornei vampiro há séculos, já andei com patifes, piratas, homens do governo, políticos ditos respeitados, chefes de governo e Estado e posso dizer que todos são iguais. A raça humana é escória, imundície. Não valem nada. Me tornei vampiro ao renegar a cruz de Cristo. Ele era um bosta, um revolucionário fracassado do século I, não tinha nada de sagrado e nem de Deus. Uma mentira, uma farsa que enganou milhões e continua enganando. A mente humana é ridicularmente medíocre e obtusa. Os romanos mostraram a ele como se trata de terrorismos em geral. Levou uma surra enorme, depois morreu pendurado numa cruz. Os abutres comeram sua carne, o resto caiu no chão para os cães comerem. Ressuscitou nada, quando falam isso eu dou uma grande gargalhada...

Estava com sede. Ontem de madrugada visitei o apartamento de uma velha professora. Deveria ser uma pessoa inteligente, mas me deparei com uma mulher burra e grosseira, de baixos instintos. Não era bonita, embora fosse vaidosa. Tinha os cabelos nada naturais, cafonas, banhados em química por décadas para tentar preservar uma juventude que não mais existia. Pessoa patética. Você nunca mais será jovem! Já é uma velha decrépita. Ninguém mais lhe quer. Seu futuro será o frio túmulo, sendo corroída por vermes decompositores que certamente vomitarão ao consumir sua carne fétida e imunda.

Imunda a define bem! Uma fascista imunda! Adepto de torturas e porões da ditadura. Quando soube que gostava de torturas lhe dei um gostinho do que é uma tortura. A massacrei lentamente, tirando inicialmente sua pele, como se faz a um coelho abatido. Pele de gente velha, cheia de manchas e rugas. Não servia para nada aquela pele. Joguei no lixo. Com a sua carne viva resolvi me divertir. Joguei sal em cima. os gritos dela foram bem interessantes, me divertiram um pouco. Voz feia, voz de gente velha. Ninguém liga se grita. Acham que é uma louca tendo crises. E no fundo ela era uma louca mesmo! Pensei em fazer um serviço de reciclagem para melhorar o mundo! 

Depois disso cortei seus dedos, orelhas e seios. O sangue jorrou. Bebi um pouco e me arrependi. Como era uma velha tomava muitos remédios. O sangue ficou com gosto péssimo. Como não servia mais para nada arranquei sua cabeça em um só golpe. Existem pessoas que não servem mais para nada, nem para jogos mortais com um velho vampiro que sou! Decidi que só vou atrás das mulheres jovens daqui em diante. Chega de velharias inúteis. Eu quero é sangue jovem! Etarismo? Pois é, palavra nova para velhos preconceitos. Eu me tornei vampiro para nunca perder a minha vida e a minha juventude. Devo ser mesmo um bastardo preconceituoso. Minha mentalidade é de séculos atrás, por isso não me julguem. Enquanto penso isso limpo meu elegante terno do sangue daquela velha imunda. Ah, os ossos do ofício... 

Cap. 2 - Velhas Cartas...
Encontrei velhas cartas no porão, algumas banalidades, mas algumas com aspectos interessantes, lembranças de um tempo passado que jamais voltará novamente... Passa a transcrevê-las a partir de agora...

Londres, 19 de setembro de 1873
Chuvas noturnas, ruas escuras, coração entristecido. Ando por essas ruas sombrias lembrando do amor que nunca veio. Era uma mentira. A doce pela qual estava apaixonado era uma fraude. Não era a bela mulher de meus sonhos, ao contrário disso era uma vulgar. De classe social superior se achava mais importante, mais relevante, certamente se considerava superior à minha pessoa. Só que na verdade era uma figura lamentável, feia de corpo, baixos instintos. O rosto poderia ser considerada bonito, com muita boa vontade, mas no geral era bem mal organizada. O amor veio da minha própria solidão e não daquele ser que hoje sei ser abjeto. 

Porca imunda, coberta de sífilis e outras doenças sexualmente transmissíveis. Morta moral, rameira suprema. Fizeste de seu corpo um playground para qualquer um. Imunda faceira, rosnando na areia de vômito e gozo de outros. E pensar que nutri bons sentimentos por esse tipo de pessoa asquerosa. Teu futuro virá e será triste. Mando mil demônios em sua direção. Lepra será bem-vinda depois de saberes o mal que lhe desejo. Amaldiço seu passado, presente e futuro. Que seu espírito sempre imundo seja acompanhado em suas carnes decompostas. Vaca de brejo imundo. 

Riu de mim naquele salão vitoriano. Rirei de você em meus pensamentos. Não terás filhos, todos serão mal formados de suas mpurezas. Vermes estarão nas tuas entranhas. De suas raízes nada brotará, a não ser infâmia, desabor e decepção. Quero ir em sua cova dar uma cusparada eterna. O cadarro escoerá de sua foto bem posada. Nada sobrará de sua existência. O esquecimento será sua última químera. Bons ventos a aguarda nas profundezas do inferno mais vil. Morra, apodreça, finde para todo o sempre! Imunda, imunda...

Cap. 3 - O Túmulo dos Mares
Paris, 16 de abril de 1912
Cá estava eu em uma belo café de Paris quando me deparei, lendo o jornal daquele dia, que o navio HMS Titanic afundou no Atlântico Norte, levando para o fundo do mar mais de 1500 almas! Que desperdício de alimento, meu caro Azmodeus! E tudo aconteceu porque o maldito navio bateu em um iceberg naquelas águas geladas! Pois é, a maioria das pessoas morreram congeladas mesmo. Ao cair naquele oceano frio não restou outra chance para elas. Vão com Deus, os pobres. Vão com o Diabo, os ricos. Afinal não foi o Nazareno que disse que era mais fácil um camelo entrar no buraco de uma agulha do que um rico entrar no reino de Deus? Então, estão todos fritando agora. Imagine que destino, morrer na água gelada, pagar seus pecados no inferno em chamas. Só dando risadas! 

A ironia pessoal é que quase comprei um ticket do Titanic quando estava pensando em viajar para os Estados Unidos. Desisti na última hora, após ver algumas fotos de cowboys! Gente suja aquela! Obviamente não conseguem ter um dente na boca. Cheiram a bosta de vaca, passam anos sem tomar banha. Detesto gente mal cheirosa. Assim, desisti daquela terra de bárbaros e vim para Paris onde posso desfilar com minhas roupas finas, meu monóculos elegante e minha bengala com esquifes de leões de marfim. 

Viro a página e vejo que a polícia de Paris procura por uma modelo francesa desaparecida na calada da noite. Hahahahaha... Não vão achar, crianças de azul. Ela esteve em meu menu ontem à noite. Confesso que foi mais do que um lanchinho e menos do que um cardápio refinado. Ela não era de alta estirpe. De certo modo era uma mulherzinha pé de chinelo que fazia muita força para parecer da alta sociedade. Eu a degustei como quem devera uma comida de rua. Estava com fome. Nem sempre comemos os mais finos pratos franceses. Algumas vezes nos contentamos com comida rápida! 

Ser imortal tem seus problemas. Não faça amizades íntimas, não seja amigo de ninguém, prefira a solitude. Viver sozinho, quando você tem vida interior rica e extensa, pode ser o maior dos prazeres. Por isso, faminto vampiro, adquira cultura! Vá aos museus, leia os melhores livros, visite os mais requintados teatros - e os populares também, para falar mal. Adquira cultura que você no final de tudo nunca estará realmente sozinho...

Cap. 4 - Sangue sobre a Alemanha
Berlim, 30 de janeiro de 1933
Estou em Berlim, onde vim passar um fim de semana agradável em meu hotel preferido da cidade. Assim pensava eu. Quando cheguei na cidade, já tarde da noite, encontrei um clima realmente péssimo. Chove muito e está frio, mas não é nada disso o que estou tentando descrever. A Alemanha tem um novo chanceler, um sujeitinho ridículo chamado Hitler. Esse é daqueles que não tem vergonha de ser bestial. Só defende as bandeiras erradas e para minha surpresa nessa culta e sofisticada Alemanha muitos o seguem de forma fanatizada. Estou impressionado com a perversidade desses nazistas. Nenhum vampiro se equivale. Sao malvados e perversos, cheios de preconceitos e muito ódio, ódio visceral é bom esclarecer. 

Odeiam judeus, mas não apenas eles. Odeiam qualquer um que não seja alemão, loiro e alto. São assumidamente racistas e escrotos e muitos dos mais velhos o seguem despudoradamente. Esses velhos se dizem conservadores, andam com o livro sagrado nas mãos, rezam de forma fervorosa. Rezam para que os diferentes sejam mortos. São pessoas péssimas, sinceramente falando. O velho JC ficaria horrorizado em ver no que sua mensagem se transformou na mente desses idiotas violentos...

Nunca pensei que gente culta, com nível educacional superior, iria se prestar a uma coisa dessas, mas é a pura verdade. Eu confesso que a Europa caminha mal tendo uma de suas principais nações nas mãos desses loucos. O que poderá vir pela frente? Eu não sei, mas sei que boa coisa não virá...

Com essa nova ideologia perversa as ratazanas saíram dos esgotos. Nem disfarçam mais como pensam ou o que querem. Desejam morte, clamam pela morte. Eu tenho quinhentos anos de existência e nunca vi nada igual. E tudo potencializado por um sistema de propaganda política poderosa, que aliena, faz lavagem cerebral e aprisiona mentalmente o sujeito. Quem já tinha propensão à doença mental então, nem se fala. Loucura... essa é a definição do que ocorre na Alemanha nos dias de hoje, no dia em que escrevo essa carta. Prevejo em breve um mar de sangue por toda a Europa...

Cap. 5 - A Cruz e o Vampiro
Roma, 19 de junho de 1878
Eu sou um vampiro. As pessoas podem perguntar se eu tenho medo da cruz. Tenho nada! Isso é coisa da literatura. Não tem porque ter medo da cruz. O JC foi um revolucionário judeu que tentou lutar contra a dominação romana e se deu mal. Vamos encarar a realidade. Ele não era aquilo que as pessoas pensam. Hoje em dia a palavra Messias nos leva a uma ideia de algo espiritual, de ser superior nesse sentido. Nos tempos do JC ser Messias significava ser um líder político. O Messias era o Rei. O filho de Deus era um título dado ao Rei. JC queria ser o Rei Judeu que expulsou os romanos. Se deu mal. Foi preso, crucificado e morto. Não teve isso de ressurreição. Cresçam meninos. Nenhum homem jamais ressuscitou na história da humanidade!

Outra coisa: a cruz era um instrumento de tortura usado pelos romanos para matar os inimigos do Estado. Nada mais do que isso. JC ficaria certamente horrorizado se soubesse que a cruz daria origem a uma religião em seu nome. Seria o fim para ele. Era como se um enforcado fosse representado religiosamente por sua forca. Um absurdo completo, vamos falar a verdade. 

Assim, diante de todos esses argumentos, porque diabos eu teria medo da cruz? Não. não tem nenhuma lógica nisso tudo. Além disso geralmente o crucifixo é levantado por membros do clero católico. Hei, psiu, vou te contar um segredo: Tem poucos santos dentro desse clero. Quase nenhum! O que existem são muitos homossexuais embaixo das batinas. Ande de madrugada pelas ruas próximas ao Vaticano. Você vai encontrar vários desses religiosos do clero em busca de uma companhia masculina. Sim, a maioria é homossexual! 

Então eu vou sair correndo por causa de um homossexual cheio de pecados (dentro da doutrina que eles mesmos dizem seguir), segurando uma representação de um instrumento de tortura romano, símbolo de uma religião criado por um insurgente judeu contra os romanos no século I? Mas que lógica existe nisso? Por favor me poupe de suas crendices bobobas...

Cap. 6 - Jack de Whitechapel
Londres, 10 de novembro de 1888 
A cidade só fala nisso. Jack, o Estripador, voltou a matar na noite anterior. Antes de mais nada devo defender a minha classe. Não, Jack não é um vampiro. É apenas um porco sádico e demente. Vampiros são elegantes e matam para sobreviver, afinal precisamos do sangue quente dos seres humanos. Esse Jack é claramente um doente mental. ele mata essas pobres mulheres que vivem pelas ruas como prostitutas, tentando de forma desesperada ganhar a vida e depois as mutila de forma horrenda. Eu nunca faria aquilo com uma mulher que morderia seu pescoço. Tem que respeitar a vítima. 

Dentro da nossa comunidade sabemos quem é Jack, o Estripador. Os vampiros sabem tudo o que acontece na noite. Só que não ajudaremos aos policiais, esses porcos que muitas vezes nos perseguem sem razão alguma. Eu me lembro do que aconteceu com Lara, uma jovem vampira que foi massacrada por esses imundos. Não, não faremos nada para facilitar seus trabalho. Trabalhem porcos, trabalhem...

Mas como essa é uma carta confidencial direi a você quem é Jack, afinal devemos nos informar. Ele é um sujeito que sempre viveu ao lado do irmão em um dos bairros mais pobres de Londres. Ele é um imigrante de uma família que veio da Polônia em busca de trabalho e de uma vida melhor. Seu nome é Aaron Kosminski. Trabalha como barbeiro e açougueiro em espeluncas de Whitechapel. É um tipo rude, porcalão, vulgar e sofrendo de uma grave doença. 

O dito cujo contraiu sífilis de prostitutas londrinas. Por isso as odeia, por isso quer matar todas elas. A doença esta corroendo seu cérebro. Ele está enlouquecendo aos poucos. Vai terminar seus dias em uma instituição para loucos, urinado em si mesmo, comendo fezes pensando ser comida. Esse é o tal Jack, o Estripador. Não tem nenhum glamour nele. Apenas miséria, pobreza e desespero insano. E assim caminha a humanidade. 

Cap.7 - Asas Sobre a América
New Orleans, 23 de janeiro de 1940
O mundo está novamente em guerra. Quando afirmo que a humanidade não vale nada, falo com convicção, minhas queridas criaturas da noite. Há um cheiro de falso moralismo e patriotismo verdadeiro no ar. O presidente americano reluta em entrar na guerra, principalmente em uma guerra na Europa onde não faz muito tempo muitos jovens americanos perderam suas vidas. Se a Europa tem problemas, que eles mesmos venham a resolver seus problemas, assim afirmam os que defendem a neutralidade dos Estados Unidos na guerra. 

Em New Orleans fui apresentado à religião Vodu. Acho tudo um grande simbolismo, mas destituído de valores práticos. Ninguém fará mal a outro apenas confeccionando bonequinhos de argila para causar sofrimento alheio. É tudo simbólico, mas não passa mesmo de pensamento mágico. Agora, gostei da comunidade vampiresca na cidade, principalmente de lady Anne. Uma francesa muito bem educada, jovial, ali na casa dos 200 anos de idade. 

Ela me ofereceu uma recepção em sua casa ao estilo colonial. Não faz muito tempo e escravos trabalhavam acorrentados naquelas plantações de algodão. Pobre gente negra. Foram escravos por muitos séculos, tratados como animais. Depois dizem que os vampiros são perversos... nenhum vampiro escraviza outro vampiro, mas os seres humanos certamente escravizaram seus semelhantes. 

De minha parte a conversação à mesa foi agradável. Ela é uma anfitriã de mão cheia. É a tal coisa, boa postura e elegância vem de um berço aristocrático. Gente grossa com dinheiro é apenas gente grossa. Elegância e fino trato social é outra coisa. Falamos sobre tudo, mas principalmente da lástima que a Europa se tornou. Penso até mesmo em deixar o velho continente para trás... Quem sabe eu possa me estabelecer na jovem América, passando temporadas entre Estados Unidos e Canadá, que é um país dos mais agradáveis para se viver. Até porque adoro clima frio. 

Cap. 8 - Psicótico Perverso
Paris, 5 de outubro de 1823
Eu fui um ser humano normal, ha muitos anos, há muito tempo. Era jovem e cheio de vida, pensando que meu futuro iria ser brilhante. Quando me tornei vampiro, deixei as lembranças do jovem de lado Meus pensamentos sao outros. O que me levou a escrever essa cartas de lembranças foi deixar registrado na tinta da pena de meu lápis um pouco das lembranças dos meus entes familiares que como meros mortais estão todos mortos. Não tenho saudades de nenhum deles. Era um grupo de patifes da pior espécie, gente que nunca prestou! 

Eu poderia definir todos eles cmo psicóticos perversos! Hoje em dia, analisando tudo com coerência a paciência não teria outra definição para aquela gente. O grande patriarca da família, o meu avô, era um sujeito asqueroso. Batia na esposa (minha avó, claro!) e a deixava em cárcere privado. Louvado hoje em dia em prosa e verso, era em essência um tremendo de um canalha. Naqueles tempos não havia direitos da mulher e o marido podia ser o abusador supremo, que nada acontecia. Com um bando de filhos covardes, deu no que deu. Todos foram crescendo com sérios problemas emocionais. Alguns foram em vida bem doidos mesmo. O meu próprio pai não era o que se podia considerar de um sujeito normal e o pior de tudo é que ele amava aquele velho bastardo que era o seu pai. Até hoje nunca entendi como um filho que sofreu tanto nas mãos do próprio pai conseguia ter tanto afeto com ele! 

Eu não tive muito contato com esse meu avô. morava em cidades diferentes. No pouco contato que tive, criei a impressão de que ele era mesmo um sujeito estranho. Não parecia ser nada inteligente. Parecia ser rude e burrão. Não formulava nenhum tipo de pensamento mais bem elaborado. era rude e grosseiro. Eu me lembro dele cuspindo dentro de casa e isso para mim era a maior das seboseiras. Não parecia muito limpo e não era. Na família se dizia que ele nunca tomava banho. Tinha grande pés que arrastava pela casa. Não demonstrava qualquer tipo de empatia com o próximo, nem com a esposa que maltratava, nem com os filhos que ele expulsava de casa assim que atingiam a maioridade. Certamente tinha algum distúrbio mental. Provavelmente estava no espectro autista, mas naqueles tempos as pessoas comuns nem sabiam o que era isso. 

Nunca pareceu gostar de ninguém. Suas demonstrações de afeto eram estranhas. Ele tinha um cavalo que gostava muito quando jovem. Quando esse morreu, ele trouxe os ossos para os fundos de um cômodo da sua própria casa. Imagine ter um esqueleto de um bicho desses dentro de casa. O velho era muito estranho. Quando a esposa morreu, ele pareceu comemorar pois haveria um prato a menos na mesa, menos despeas. Ela havia doado toda a sua vida para viver ao lado desse velho asqueroso e ao morrer ele não demonstrava nenhum tipo de sentimento humano. Era ou não era um psicótico pervero? Depois eu é que sou chamado de monstro por ser um vampiro. Seres humanos são bem piores, pode ter certeza disso. 

O fim do velho foi trágico. Ele viveu muito, chegando a 96 anos de idade! Vaso ruim não quebra, dizia a sabedoria humana. Já tinha perdido a razão, vivia quase nu, gritando dentro de casa. A família nem tinha coragem de interná-lo em um asilo e nem tampouco de levar ele para a rua. Viveu seus últimos dias preso dentro de casa. Até que a revolução francesa eclodiu. Ele tinha títulos de nobreza e não escapou da turba. Eles o pegaram e o levaram para a guilhotina. O velho nem tinha forças mais para andar. Em poucos segundos sua cabeça rolou. Uns garotos que estavam ao pé do cadafalso jogaram bola com ela. O velho teve o fim que merecia. Depois sua carcaça foi jogada numa caçamba de lixo. Bom final para o tipo de ser humano que ele foi em vida. 

Cap. 9 - Lena, Filha de Paul 
Paris, 14 de outubro de 1890
Vampiras, de modo em geral, são mais sádicas e perversas que vampiros. Isso a experiência de séculos me ensinou. Veja o caso de Lena, filha de Paul. Uma mulher que poderia ser dita como bela, mas longe dos padrões de beleza das grandes modelos clássicas. Ele era alta, longos cabelos castanhos e belas pernas. Também destacaria seus quadris, ótimos para despertar o desejo dos homens como se falava entre os humanos. Era bem branca e tinha uma bela voz. Tinha um semblante que despertava meus desejos mais íntimos e era conhecida como Thatiana entre os mais próximos. Eu me lembro de imaginar várias vezes ela em minha cama, completamente nua. 

Só havia um problema com Lena. Ela só amava cretinos. Quanto mais imbecil e idiota fosse o homem, mais ela parecia ficar perdidamente apaixonada. Isso me fazia duvidar de seus dotes intelectuais, afinal se fosse uma mulher realmente inteligente jamais iria se encolver com aquele bastardos. O homem com quem se casou era uma piada ambiente. Um soldado raso, imbecil até dizer chega. Uma daquelas figuras que você não conseguiria nem ter uma conversação amigável de trato social. Ao que me consta ela ficou fisurada nele por causa de seus dotes penianos. Dizem que homens são escravos de vaginas bem delineadas. Ora meu caro, mulheres também se tornam escravas de homens com penis robustos. 

De qualquer maneira ela selou seu destino. Casou com ele, teve duas filhas. Entrou para um ramo protestante conhecido também pela idiotice. De bela mulher se tornou uma crente das mais feiosas. Parou de se cuidar. Ficou feita mesmo, desleixada, com seu apelo sexual indo pelo ralo depois de duas maternidades. Ainda assim eu cheguei a desejá-la alguns anos depois quando a reencontrei por acaso. Era uma ruína de mulher, não parecia nada com o tesão que conheci pela primeira vez em uma prestigiada e tradicional faculdade de direito em Paris. 

Com uma certa pena a mordi e a transformei em uma vampira. Meus caros, ela virou uma das vampiras mais perversas que se tem notícia. Lena, filha de Paul, ficou falada entre as criaturas da noite. Todos queriam saber seus últimos crimes, suas últimas atrocidades. Ela chegou a levar 20 homens negros para a cama e depois os esquartejou sem dó e piedade. E tudo com aquela imagem de garota da vizinhança. Era mesmo sedenta por sexo e sangue. Tenho que voltar a encontra-la pois como a transformei em vampira sou responsável por ela. Tenho que parar a Thatiana mais cedo ou mais tarde. Tenho que destrui-la. Sei que farei isso algum dia...

Cap. 10 - O Medíocre por Opção
Paris, 1 de outubro de 1823
O meu pai nasceu nos tempos da revolução francesa. Era um homem inteligente, mas embora tenha nascido na época certa, onde a educação e o conhecimento estava ao alcance de todos, ele nasceu no lugar errado e na família errada. Veja, meu pai era um homem inteligente, mas nasceu no meio de gente tosca, ignorante e perversa, a começar pelo próprio pai dele que mal sabia ler e escrever e era um perverso de carteirinha, que batia na esposa, filhos e até empregados com requintes de crueldade. Era obviamente um psicótico não diagnosticado! Os irmãos dele eram todos brutalizados, rudes, figuras grotescas. Assim ele deixou seu potencial de lado para afundar no meio dessa família de asnos, que apesar das injustiças que sofreu ao longo de sua vida, sempre os amou profundamente. 

Dessa forma ele que parecia ser a única pessoa inteligente no meio daqueles imbecis, acabou também se tornando um asno, deixando a escola e o saber de lado, abraçando a negatividade e burrice de todos aqueles parentes asquerosos dele. Foi um caso de história trágica mesmo. Depois, mais velho, adquiriu uma doença grave e nunca mais se recuperou. Foi definhando com essa doença grave e sem cura até a morte. Morreu abraçando a estupidez, ignorância e idiotice de seus familiares obtusos. 

Eu e meus irmãos fomos pessoas inteligentes, mas obviamente sofremos por causa da pobreza que as escolhas de nosso pai sempre fez ao longo de sua vida. Ao invés dele procurar se instruir, se formar, ele viveu de empregos medíocres e funções subalternas, algo que não era para ele por causa de sua inteligência que ele de fato nunca desenvolveu. Lutamos para subir na vida, mas sempre houve limites para pessoas pobres como nós. O pai muitas vezes pode destruir não apenas os seus sonhos, mas os de seus filhos também. 

Quando jovem eu tive muitas vezes raiva do meu pai. Muitas vezes foi grosseiro e estúpido comigo e tudo feito de forma gratuita. Quando era jovem e bem de saúde era igualmente um escroto de marca maior. Infelizmente seguiu os passos de meu avô, um sujeito pra la de tacanho. Com a velhice e a doença passei a ter piedade e compaixão. De certa maneira ele foi mesmo uma vítima, de todos aqueles parentes estúpidos, daquela mentalidade medíocre que existia entre sua própria família. Sobre eles eu sempre quis distância. Era mesmo gente rasteira, do esgoto produndo. É o tipo de gente que nunca quis ao meu redor, em nenhuma época de minha vida. 

Pablo Aluísio. 

sexta-feira, 11 de dezembro de 2009

Morte em Andrômeda

Cap. 1 - A Viagem Sem Fim
O universo não é um lugar agradável para se estar. Na verdade é um ambiente hostil para a vida humana. Estamos em 3973. O ser humano finalmente conseguiu romper as barreiras que o deixavam preso na Via Láctea, a galáxia que é nosso lar. Agora uma nave denominada Station Eagle 183 finalmente conseguiu entrar em nossa galáxia vizinha, a espetacular Andrômeda! Foi uma viagem cósmica construída sobre muito sofrimento. Várias missões fracassaram. Centenas de astronautas morreram. Apenas a cosmologia e a física avançada conseguiram romper as barreiras do tempo e espaço.

A Station Eagle 183 é uma dádiva da tecnologia humana. Uma nave com 240 metros de comprimento e 90 metros de largura. Nela viaja apenas 5 tripulantes. O capitão Andrew Sizemore é o comandante da missão. Piloto de carreira. A primeira tenente Monroe é sua imediata. Some-se a isso o engenheiro Rick Sladd e a médica Lorelay Smith. O cientista Robert Calister é o encarregado científico da expedição. Poucas pessoas, alguns mais observadores poderiam dizer. Na verdade eles estão amparados por milhares de pessoas na Terra. São apenas seres humanos avançados que executam a missão em nome e supervisionada por milhares na base.

Uma viagem como essa é extremamente cansativa e coloca o ser humano no limite. Há perda de massa muscular, capacidade motora e desgaste psicológico extremo. Experimente ficar confinado dentro de uma nave, por mais espaçosa que ela seja, por dez anos. É enlouquecedor! Apenas os mais fortes suportariam algo assim. É realmente se doar por uma causa, dar uma vida para realizar algo que ficará pela história. Só que naquele momento, depois de tantos anos, só existia mesmo a exaustão psicológica da viagem. Todos os tripulantes estavam no limite. Alguns deles transformaram as marcas psicológicas em marcas físicas. O capitão, outrora um homem alto e forte, havia ganho muito peso e estava com os cabelos completamente brancos. Síndrome de Maria Antonieta. Ele passou por tantas pressões, por tantos momentos ruins e de frustração, que agora era apenas uma sombra do homem que um dia fora.

Robert Calister já era um homem velho quando a missão começou. Agora sofria de fortes dores na coluna. Ele era um sujeito sagaz e astuto, mas as dores físicas o tinham colocado à nocaute. Na verdade o que aconteceu foi que um gatilho psicológico foi acionado depois de alguns anos de viagem. O que havia começado com ares de heroísmo e frenesi na mídia, logo caiu no desinteresse popular. A missão seguia seus passos, mas o público na Terra não se interessava mais pelos resultados. Eles agora eram ignorados pela grande mídia na Terra. Dizia-se que tinham entrado em uma missão sem fim. Muitos inclusive nem acreditavam que estavam mesmo no espaço. A desinformação corria solto. E com tanta coisa negativa a tripulação acabou perdendo o entusiasmo, o vigor jovial. Estavam todos pra baixo, corroídos por viverem tanto tempo dentro de uma nave. O ser humano definitivamente não nasceu para esse tipo de situação. 

A missão tinha como objetivo principal explorar alguns planetas situados em zonas habitáveis de suas estrelas. Claro que uma galáxia como aquela tinha milhares de estrelas, sendo que algumas delas apresentavam planetas. Poderia haver vida neles? E se houvesse vida, como ela seria? Baseada em Carbono como em nosso planeta? Na Terra a base havia traçado um protocolo a se seguir, onde a expedição teria que orbitar pelo menos 5 exoplanetas bem promissores. A tripulação naquela altura já havia estudado tudo sobre eles, então agora era apenas uma questão de chegar em seu destino inicial. O que poderia haver de tão espetacular a se descobrir naquela região remota do universo? 

Cap. 2 - O Planeta de Prata
Relatório espacial Sxh - Ps0148934-HD 6114. O texto a seguir é verídico, com testemunhas assinadas por toda a tripulação da nave Eagle. O comandante da nave desceu até o planeta HD 6114-b, situado no sistema planetário que circula a estrela HD 6114, da galáxia de Andrômeda. Tal planeta recebeu vulgarmente o nome de Planeta de Prata por causa da grande incidência desse metal em sua base territorial.

Visualmente temos uma belo planeta visto de sua órbita, com uma coloração realmente linda ao depararmos com a luz de sua estrela incidente. Não há sinal de vida ou água liquida no planeta, apesar de sua temperatura ser considerada amena (algo em torno de 25 graus Celsius). O planeta apresenta cor cinza, muito em decorrência de suas enormes jazidas de prata. O comandante desceu ao solo sozinho, reforçado com pouca segurança pessoal a não ser uma pequena arma de laser.

Não tirou seu capacete por questões de segurança. Há alta concentração de elementos químicos pesados em sua atmosfera, portante apesar de ser um planeta em zona habitável não parece haver possibilidade de vida tal como a conhecemos. Há mares e lagos de prata derretidos, o que não deixa de ser algo incomum que vai até mesmo contra as leis da física que rege o universo. Como isso seria possível? Pergunta que segue sem respostas.

O comandante esteve à beira de um desses lagos prateados. E logo a seguir transcreveremos suas falas transmitidas por rádio até nosso espaçonave: "Trata-se de algo que nunca tinha visto. A Prata se encontra em estado semi líquido. Não é líquido que se coloque nas mãos e que venha a escorrer entre os dedos. Está mais para algo pastoso, como se fosse um creme com muita densidade. Visualmente é algo excepcionalmente belo, a visão mais bela que já vi em toda a minha vida!"

E segue a transcrição: "Estou aqui parado olhando toda essa imensidão de prata semi derretida. O chão na beira do lago é firme, sem sinais de vida marinha... Nenhuma concha ou algo semelhante... Algum ser vivo poderia viver em um lago de prata como esse? Penso ser impossível... mas espere... estou reconhecendo ondas, como se algo nadasse embaixo desse lago de prata... Meu Deus!..."

Depois de mais ou menos três minutos em silêncio o comandante finalmente respondeu: "Eu não estou louco... eu não estou louco... mas vou reportar o que estou vendo senhores... É uma criatura que poderia dizer ser uma figura feminina, com longos cabelos platinados e seios firmes.. só que ao invés de pernas temos longas nadadeiras.. Eu sei que vou passar como um homem louco, mas vou dizer mesmo assim... São sereias nesse lago de Prata! Meu Deus... Meus Deus... O que posso fazer? Vou imediatamente para a nave..."

Depois dessa transmissão as comunicações foram cortadas, nenhum sinal de rádio do comandante. Sensores indicam que ele foi atacado de forma violenta a 10 metros da nave. Criaturas que parecem saídas do lago de prata, rastejando rapidamente em sua direção, em terra firme. Não houve tempo de entrar na nave. O comandante foi atacado. As tais sereias de prata o atacaram com garras poderosas. Suas mãos foram tomadas de grandes garras.. Sua roupa de astronauta foi rasgada... E sua carne foi devorada enquanto as sereias voltavam para o lago de prata. Confirmamos vida extraterrestre hostil no planeta de Prata - Repetindo, confirmamos vida hostil e desconhecida no planeta HD 6114-b, vulgo Planeta de Prata. Esperamos por novas ordens. Câmbio desligo!". 

Cap. 3 - Fúria
A tenente Judy Monroe ficou furiosa com a morte do comandante da nave. Não apenas por ter sido trágico e colocado ela no comando da missão, mas também porque ela queria matá-lo com requintes de crueldade. Durante alguns anos da viagem o comandante a assediou sexualmente. E isso a enfurecia. A rebaixava como mulher e como profissional. Ela queria ter sua chance de vingança contra aquele bastardo, machista e escroto. Em seu diário pessoal de viagem ele gravou o seguinte desabafo:

"Maldito miserável! Que mil maldições o levem direto para as profundezas do inferno! Desgraçado maldito, cão maldito! Eu queria te matar maldito, esse direito era meu. Queria enfiar uma faca na sua barriga, ver o sangue escorrendo por sua boca imunda, queria derramar ácido dentro de seu cérebro aberto! Maldito! Maldito! Que mil maldições recaíam sobre você e todos os malditos que formam sua família. Que apodreça para sempre nos confins do inferno, que beije o piso das fossas infernais! Uma pena que jamais terei a oportunidade de cuspir em sua cova pois nem cova você terá no espaço. Eu vou te jogar no espaço junto com o lixo da nave... ah se vou!".

Só que esse prazer sórdido a tenente não teria. Não havia corpo para ser jogado no espaço. O comandante foi trucidado por organismos daquele planeta de prata. Claro que não eram sereias como ele havia comunicado. Na verdade seu cérebro já não funcionava direito na hora do ataque, fruto provavelmente de algum gás alucinógeno que entrou em seu sistema de respiração. Poderia haver algum problema no capacete. Como não havia como conferir tudo, pois o comandante havia sido arrastado pelas criaturas daquele estranho planeta tudo havia sido deixado de lado. O relatório de certa maneira ficaria inconclusivo.

So que navegar era preciso, viver não era preciso. Pelo menos em relação àquela nave espacial viajando pela galáxia de Andrômeda. A tenente, agora comandante da Eagle, abortou qualquer outra descida naquele planeta. A nave havia ficado com apenas 4 tripulantes agora. Situação complicada. Por controle remoto ela trouxe de volta a espaçonave pequena que havia levado o comandante até aquele planeta. Assim que ela foi acoplada a Eagle saiu de sua órbita. O destino agora seria o planeta mais escuro do universo. Apesar de não haver luz de sua estrela em sua atmosfera, ele ainda estava em zona habitável de seu sistema estelar. Era um dos destinos da expedição desde o começo.

E o planeta de prata? A tenente Judy Monroe ao lado de seu oficial de ciências concluiu que aquele planeta apresentava vida. Sua natureza era desconhecida. Eram criaturas que agiam como predadores e que habitavam as águas de prata derretida de seus mares e oceanos. Não eram sereias como o comandante havia descrito. Na verdade a atmosfera corrosiva do planeta continha algum gás desconhecido que causava alucinações nos seres humanos. O traje especial não protegia contra esse gás. Por isso o comandante morreu pensando estar sendo levado por sereias. Havia seres ali, mas definitivamente não eram sereias. Eram criaturas que podiam atacar, matar e comer um ser humano.

Qualquer outra expedição que fosse enviada para aquele planeta teria que descer em seu solo fortemente armados. E isso era tudo o que havia para reportar. Sem o corpo do comandante não havia como tirar maiores conclusões. Deixando o planeta de prata para trás a Eagle seguiria em frente em sua missão espacial programada para durar cinco anos em Andrômeda, a nossa galáxia vizinha.

Cap. 4 - A obra-prima do universo
Morrer no espaço é bom. Imagine o cosmos com toda a sua imensidão absurda e saber que nada nesse vazio imenso vive. O que pode ser considerado vida? Não há vida inteligente como a que conhecemos, essa é a verdade realmente. Não existe, o que existe são seres unicelulares, ou muito simples. Que vivem em fossas de água em planetas distantes, inóspitos. Universo, o grande vazio. O que me faz pensar que realmente não deve haver uma inteligência por trás dessa criação, porque se houvesse, haveria inúmeras civilizações pelo espaço e isso simplesmente não há. O ser humano parece ser a única vida inteligente, solitária, suprema do universo, nada parece ter alguma semelhança conosco. 

E assim, as viagens espaciais a longo dos anos se transformaram em grandes e infinitas viagens vazias, nesse deserto entre estrelas. Onde nada parece prosperar, onde nada parece viver, apenas o vazio imenso de estrelas quando rodeadas por planetas isentos de vida, lugares sem objetivos. Lugares totalmente remotos. E nada condizentes com a vida humana. E assim segue o homem na busca de estrelas, em busca de um espelho, em busca de algum ser que lhe seja parecido, mas que no final da estrada nunca parece ser encontrado. 

O que será da humanidade? Das estrelas? Do Sol? Que nem é uma grande esteira em termos de cosmos, mas que é a nossa Estrela. A estrela Sol vai explodir, vai entrar em supernova. E nada vai existir além dela. O nosso planeta vai ser pulverizado por chamas. Tudo o que nós conhecemos, todos os lugares que vivemos. Todas as regiões do Globo vão desaparecer em questão de segundos. A humanidade está fadada a ser destruída, a não ser que fuja para as estrelas, e isso vai ser algo bem complicado de se realizar, porque as distancias do espaço são abissais ao ser humano. O homem é um ser ridículo perto do universo. Um grãozinho de Areia numa praia distante, selvagem, em termos cósmicos, alguma coisa infinitamente medíocre. A não ser o fato de que ele pensa. Tem consciência de si mesmo, algo que os nem os mais enormes planetas e estrelas do universo possuem. Uma vez que são meros astros inertes e sem vida. A esterilidade parece ser a regra nesse universo sem fim. E o ser humano tem vida. Somos a obra-prima do universo.

Pablo Aluísio.

quinta-feira, 10 de dezembro de 2009

Patrulha Policial

Cap. I - Cemitério de Ossos
O xerife Tom Oxford foi até o cemitério. Seu objetivo era acompanhar o enterro da chamada "Assassina das Estradas", uma prostituta violenta que matava clientes e quem mais cruzasse seu caminho. Oxford queria monitorar para ver quem comparecia. Talvez um comparsa, um sócio do crime. Ele queria dar uma dura em quem aparecesse no enterro. Ninguém apareceu, nem o padre para encomendar o corpo podre daquela criminosa. Um coveiro apenas foi ao local. Para surpresa de Oxford ela foi enterrada como indigente. Sem direito a caixão. O corpo enrolado em um lençol, ou melhor dizendo, uma mortalha, foi jogada na terra crua.

O policial Oxford acendeu um cigarro. As primeiras pás de terra foram jogadas no corpo. Oxford então foi girando o corpo, em 360 graus, para dar uma geral no cemitério. Talvez alguém estivesse escondido entre as árvores. Talvez uma prostituta conhecida da assassina. Porém tudo o que ele viu foram corvos, daqueles de asas bem negras, acompanhando o funeral. Provavelmente as aves, em seus instintos, acreditassem que o corpo da assassina fosse deixado ao céu aberto. Seira uma boa refeição para aquelas figuras aladas. Elas e seus primos, os abutres, certamente teriam um banquete.

Por Oxford a assassina teria sido deixada no bosque para apodrecer, tal como havia acontecido com algumas de suas vítimas, senhores de idade que pagavam por companhia e algum carinho feminino. Só que ao invés disso sentiram uma bala atravessar seus crânios calejados pelo tempo. Para o xerife veterano havia o mal no mundo. Essa psicopata que estava sendo enterrada era parte desse mal. E como o bem deveria sempre vencer, ela teria que ser eliminada mesmo, de qualquer jeito. Para o mal prevalecer bastava apenas que o bem ficasse de braços cruzados. Não era o caso de Oxford. Ele sempre poderia mandar uma bala no mal. Sempre que isso fosse necessário.

O coveiro avisou que o trabalho estava feito. Ela estava enterrada. Agora seria comida de decompositores em geral. Vermes, bactérias, seres microscópios teriam o que comer. Não era curioso? Era o ciclo da vida. A morte de alguns significava a vida para outros. A carcaça da assassina era panetone de natal, peru do dia de ação de graças, pernil de ano novo. Para seus iguais, era apenas carne apodrecida pelo crime, que deveria ser esquecida para todo o sempre. Que o Diabo, esse ser da mitologia cristã, a carregasse nos braços até os portões do inferno.

Oxford pigarreou. Ele tinha esse problema de garganta. Poderia ser bem irritante para quem não o conhecia. Para quem era íntimo significava que ele estava estressado. O pigarro era seu jeito de dizer "Que merda de vida". Pois é, o velho xerife estava pronto para mais um dia de trabalho. A criminosa estava enterrada. Terra para todo lado, nos braços, nas pernas, no rosto, no cabelo, nos olhos. Ela já era! Página virada, assunto encerrado. Agora era chegado o momento de seguir em frente. Prender alguns maconheiros, dar um corretivo nos vagabundos. Vida que segue. 

Cap. II - O Inseto
A rotina policial de um xerife numa cidade do interior não se diferenciava muito do cotidiano que um homem da lei em um passado recente. Alguns dias passavam em branco, sem nenhum chamado. Em outros havia um ou outro caso mais fora dos padrões, como por exemplo, resgatar cobras venenosas que apareciam nos quintais das pessoas. Era um trabalho variado. Naquela cidade os crimes nao eram de maior importância. Na maioria das vezes eram meras contravenções penais. Nem chegavam a crime.

Na categoria crimes havia bastante ocorrências dos chamados crimes menores, tais como dano, brigas, bebedeiras, ofensas pessoais. Em um bar cheio de trabalhadores braçais as coisas poderiam sair um pouco do controle quando dois valentões,  já embriagados, se olhavam torto entre si. As menores coisas poderiam dar origem a brigas generalizadas. Um esbarrava no outro. Esse não gostava. Soltava uma piadinha... pronto, socos cruzados, garrafas quebradas, dentes caindo pela boca. Era assim no interior.

A cidade ficava na Rota 66, então era comum a chegada de forasteiros, alguns fugitivos de outras cidades. Geralmente esses criminosos de alta patente passavam direto pelas ruas da cidade. Não queriam problemas. Mas como tudo na vida havia algumas exceções que terminavam em problemas mais complexos. Foi assim no caso da Assassina das estradas. Ela fugiu e foi parar ali na jurisdição do xerife Oxford. E quando isso acontecia ele tinha que sair da zona de conforto. Fazer valer o brilho de sua estrela de homem da lei.

Na década de 1940 chegaram as drogas em larga escala. A rota 66 virou rota de tráfico de drogas entre as costas oeste e leste. Virou um corredor nacional para grandes quadrilhas de traficantes. E onde havia drogas, havia a máfia italiana. Os chefões mais velhos, que não queriam envolvimento com o tráfico de drogas, foram perdendo espaço para os mais jovens que ansiavam pelo dinheiro que esse mercado gerava. Nessa luta de poder dentro da máfia muitos chefões de famílias tradicionais foram mortos. Alguns com requintes de crueldade, fuzilados.

O xerife Oxford sabia que mais cedo ou mais tarde iria ter problemas com essa gente. Numa manhã de domingo, em um dia que havia tudo para ser tranquilo, ele viu um carrão com placa de Nova Iorque atravessar a principal rua da cidade. Em sua mente ficou torcendo para que eles passassem direto pela cidade, mas para seu azar o carro parou.

As quatro portas do carro se abriram. Eram todos italianos. Dava para perceber pelas roupas e pela pinta de mafiosos que exibiam. Então desceu o chefe deles. O xerife ficou vendo tudo de longe. O "capo" entre eles lhe chamou a atenção imediatamente. Ele jurava que já tinha visto aquele homem antes. Cabelo puxado para trás com brilhantina. chapéu Panamá de estilo, roupas impecáveis. Eram criminosos, mas bandidos que se vestiam muito bem.

Oxford pensou em ir até lá para saber o que eles queriam. Mas depois desistiu. Aqueles homens não tinham feito nada fora da lei. Apenas pararam na cidade. Compraram cigarros na banca de jornais e olharam em volta. O Xerife estava estrategicamente atrás de um poste, para não chamar a atenção. Porém ele não tirava os olhos daqueles homens. Até que sua memória lhe deu a resposta que vinha martelando em sua mente. Sim, ele conhecia aquele homem. Ele já tinha visto cartezes de "procura-se" com aquele sujeito. Era ninguém mais, ninguém menos do que o conhecido mafioso Benjamin Siegel, mais conhecido como Bugsy Siegel, ou melhor dizendo, o "inseto" Siegel. As coisas começavam a complicar.

Cap. III - Companhia de Assassinos
Benjamin Siegel era um assassino profissional da máfia de Nova Iorque. Ninguém sabia ao certo de onde ele viera, quem eram seus pais, quais eram suas origens. Alguns diziam que era judeu. Outros que seus pais tinham imigrado da Polônia. Quem poderia dizer algo com certeza? Ninguém! Bugsy era um assassino e como tal escondia seus rastros. Seu passado era incerto e seu futuro também. Nesse meio tempo ele matava. Nada pessoal, apenas cumpria os serviços pelos quais eram contratado. E ele era conhecido um dos mais eficientes do ramo. Se você quisesse matar alguém, sem deixar pistas e provas, Bugsy era o homem a se contratar.

Embora não tivesse sangue italiano ele era conhecido por ser membro da famosa família mafiosa Genovese. Era longa a lista de serviços sujos que havia feito para esses italianos mafiosos. Sua especialidade porém era uma só: enfiar uma bala no meio da testa de seu alvo. Se esse era um serviço pelos quais os mafiosos pagavam, então Bugsy aceitava o serviço sem problemas. E ele se considerava muito bom naquilo que fazia.

Ele certamente havia saído de Chicago e estava indo em direção a Los Angeles. Dizia-se na boca pequena que iria pegar dinheiro para levar ao deserto de Nevada. Estava construindo um hotel em Las Vegas com o nome de Flamingo. Claro que aquilo tudo era dinheiro da máfia. Os mafiosos procuravam por empreendimentos que lavassem seu dinheiro captado no submundo do crime, ao mesmo tempo em que tentavam abrir negócios legítimos, legais. Era um bando de carcamanos espertalhões.

Ter um bandido como Bugsy em sua cidade era problema na certa. O xerife Tom Oxford sabia disso. Ele queria que aqueles mafiosos fossem embora de sua cidade. Por isso deixou um certo receio de lado e começou a andar em direção aos gângsters. Tom Oxford não tinham poder de fogo para encarar aqueles criminosos, que muito provavelmente tinham várias metralhadoras nos porta-malas de seus carros novinhos em folha.

Então ele foi lentamente em direção aos criminosos. Eles notaram a aproximação do homem da lei. Bugsy, com aquele olhar de peixe morto, foi o primeiro a estender a mão ao xerife. Fingindo ter um sorriso sincero, que no fundo mais parecia a face da morte, ele trocou algumas palavras com o policial.

- Olá oficial, tenha um bom dia! - Disse Bugsy.

Tom Oxford não mostrou simpatia e nem sinais de ser um bom anfitrião. Foi logo tocando no ponto, sendo o mais objetivo possível.

- Olá rapazes. O que fazem por aqui? Estão esperando por alguém?

- Não, não... - Bugsy olhou para seus capangas que estavam atrás de si, dois armários italianos - Estou apenas olhando o céu, que está bonito... É um lindo dia, não é mesmo? O céu está lindamente azul...

- Pretendem ficar por aqui? - Continuou interrogando o xerife

- Calma xerife, não queremos encrenca, estamos só de passagem. Desci do carro para estirar as pernas... respirar um pouco de ar puro... quem sabe... estou vendo o tempo passar, vendo as rodas girarem...

Tom Oxford não gostou nada dos rumos daquela conversa.

- Espero que partam logo... - Falou firmemente Tom.

- Ora, ora, calma lá xerife... temos nossos direitos constitucionais. Não estamos fazendo nada de errado. Temos o direito de ir e vir e também de ficarmos, se quisermos... - Bugsy podia aguentar muita coisa, mas certamente não iria aceitar pressões de um xerife do interior que ele considerava um verdadeiro caipira.

Com aquela resposta Tom Oxford decidiu seguir em frente com sua ronda policial. Ele parou alguns instantes, olhou fixamente nos olhos de Bugsy e terminou o assunto dizendo:

- Pois muito bem. E assim como você possuem seus direitos, eu também possuo os meus. Sou a autoridade policial máxima dessa cidade e não quero  problemas com forasteiros, entenderam? Espero ter sido bem claro.

Bugsy deu um sorriso de puro cinismo. Ele ficou calado, enquanto o xerife se distanciava. Depois virou para seus capangas, disse algo baixinho e todos riram.

Tom Oxford, o xerife, sabia que vinha chumbo quente por aí. 

Cap. IV - As Garotas de Las Vegas
O que Bugsy queria mesmo naquela cidadezinha era recrutar algumas garotas bonitas para que elas fossem trabalhar em Las Vegas como dançarinas e prostitutas. Bugsy sabia que em toda pequena cidade dos Estados Unidos havia garotas lindas e... pobres! Então era só uma questão de jogar a conversa certa, colocar elas dentro de um carro Ford e levar as beldades para a tão conhecida cidade do pecado! O segredo para convencer essas jovens? Ora, o mesmo argumento de sempre: Dinheiro!

Bugsy tinha uma visão de homem de negócios, embora também fosse um criminoso, um assassino profissional à serviço da Máfia. Bugsy racionalizava aquela situação toda da seguinte forma: Qual era o futuro dessas mulheres se ficassem nas cidades onde nasceram? Ora, com alguma sorte iriam casar com algum homem local e com sorte esse homem teria algum emprego qualquer. Elas iriam passar a vida toda lavando e passando a roupa desses sujeitos. Depois iriam passar a outra parte da vida passando e lavando a roupa de seus filhos. Quando chegassem aos 40 anos de idade estavam com a vida acabada!

A beleza teria ido embora, as linhas e curvas da juventude se acabariam e só restaria mesmo uma senhora obesa, fumante inveterada, extremamente frustrada pela vida que teve, odiando o marido por décadas e nada mais. Era um estilo de vida triste esse de mulher casada. E o que aconteceria com elas se fossem para Las Vegas? Ora, seriam mulheres do show business, seriam estrelas do palco, iriam levar a vida dançando, tendo fortes emoções, talvez, quem sabe, iriam cair nas graças de algum milionário do Texas e teriam vida de esposas de fazendeiros pelo resto de suas vidas. Era um destino melhor, vamos falar a verdade.

Com essa narrativa Bugsy convencia todas as garotas a entrarem em seu Cadillac rumo a Vegas. Até porque havia um grande fundo de verdade nas comparações que ele fazia. Muitas daquelas mulheres iriam mesmo desperdiçar suas vidas atrás de um tanque de roupas sujas ou fazendo faxinas eternamente em suas casinhas poeirentas na beira da estrada 66. Se toda vida é uma perda de tempo, pelo menos era melhor perder o tempo restante de suas vidas nos palcos de Las Vegas. Outra coisa: essas meninas tinham mães e elas conheciam melhor do que ninguém sobre o futuro delas. Era o mesmo futuro de suas mães. Uma coisa horrorosa de se pensar.

As mães dessas garotas eram senhoras mal humoradas, que tinham almas enegrecidas pelas experiências ruins de vida. Muitas deles tinham que prover seu próprio sustento porque seus maridos não encontravam trabalho. O desemprego era uma chaga social. E muitos maridos perdiam o tempo de vida se tornando alcoólatras, afogando suas mágoas em bares locais, bebendo para não encarar a vida real, o mundo real. Elas também já tinham presenciado muita violência doméstica, quando seus pais agrediam suas mães dentro de casa.

Com isso tudo Bugsy fazia a festa e podia escolher. Ele costumava brincar dizendo: "Sabe aquela garota que você se está apaixonado na escola? Aquela linda loirinha de olhos azuis que todo fim de semana canta no coral da igreja? E aquela ruivinha maravilhosa, muito dócil e meiga que tem olhos azuis faiscantes? Pois é meu chapa, todas elas estão loucas para trabalharem ao meu lado nos hotéis de Las Vegas!". E dizendo isso ele jogava uma moeda para cima. Não importava se fosse dar cara ou coroa. Uma coisa era certa, nesse jogo Bugsy sempre sairia vencedor. 

Cap. V - Nina, Nina...
O xerife Tom Oxford tinha uma paixão secreta por uma garota chamada Nina Ann Hartley. Baixinha, loirinha, muito bem feita de corpo, com pernas grossas e bumbum de outro planeta. Era uma pequena deusa. Embora de família desestruturada, pois seu pai era um jogador inveterado que geralmente deixava sua família sem ter o que comer, ela procurava levar uma vida, digamos, cristã, de bons modos, de boa conduta.

Pois Bugsy colocou os olhos justamente na pequena Nina. E ficou louco por ela. Seria uma garota para faturar alto em seu cassino em Las Vegas. Ela poderia trabalhar como stripper e também como garota de programa. Para a máfia não importava de onde ela vinha, para onde ela ia e coisas do tipo. Para a máfia só interessava explorar sexualmente aquela garota de alguma forma, fazer dinheiro com suas curvas. Ah, isso sim era o importante.

Tom Oxford ficou maluco quando soube que Bugsy estava tentando colocar as patas justamente naquela garota. Oxford era um homem tímido, que tinha dificuldades de chegar nas mulheres. Ele levou anos para conhecer melhor Nina, dar alguns pequenos presentes e até se considerou muito ousado quando lhe ofereceu flores. Depois de tantos anos a cortejando com todo o cuidado, agora via tudo ruir com a conversa mole de um rato como Bugsy.

E Bugsy agiu rápido e Nina aceitou seu convite também rapidamente. Mulheres que homens pensam que são valorosas, mas que no fundo não passam de mulheres sem muito valor. Acontece muito na vida cotidiana de muitas pessoas. Pouco mais de cinco horas após Bugsy conhecer Nina pela primeira vez e ter trocado as primeiras palavras com ela, a pequena loira já estava em sua cama no pequeno hotel da cidade.

Mulheres, pensava Tom Oxford, se deslumbram facilmente por dinheiro. Bastou Bugsy estacionar seu carrão com placa de Los Angeles perto de Nina para ela se desmanchar completamente. E Bugsy quis conferir tudo o que aquela garota tinha a lhe oferecer em relação a cama. Em pouco tempo estava fazendo anal furioso com ela. Imagine o pobre Tom Oxford, que lhe mandava flores e tímidos recadinhos de paixão quase adolescente. Enquanto ele mordia seu chapéu de policial na frente do hotel, Bugsy lá em cima desfrutava de sua paixão, das formas mais sacanas que se possa imaginar. Não há salvação mesmo para os homens mais inocentes...

Cap. VI - Dor da Alma
O Xerife Oxford ficou furioso com Bugsy. Porém ficou mais decepcionado com Nina. Foi uma dor emocional que atingiu seu coração como uma flecha Apache. Aquele tipo de sentimento que dói na alma, mas que também deixa sequelas físicas. Oxford começou a sentir um pequeno, mas perceptível, desconforto no peito. Poderia ser algo relacionado a uma dor muscular peitoral, mas também poderia ser um problema no coração. Ele nunca havia sentido aquilo antes. No fundo estava arrasado por tudo o que havia acontecido. Também se sentiu um idiota por amar aquela mulher e testemunhar tudo, toda a sordidez dela, em minúcias que ele jamais poderia imaginar. Triste aquilo.

Há tempos o xerife vinha descobrindo a realidade por trás das pessoas. E isso não se referia apenas à Nina. O mesmo acontecia com seus parentes. Ele não era muito próximo deles porque no fundo eram pessoas tóxicas. Alguns deles inclusive tinham tido problemas com a lei. Eram sórdidos na mesma situação que Nina. Pessoas que ele pensava ser até boas pessoas, mas que no fundo da alma eram sujeitos da mais profunda sordidez. Criminosos em potencial, almas fascistas, gente escrota, enfim.

O pior para Oxford é que ele não conseguia colocar as mãos em Bugsy. Sim, ele era um gângster conhecido, tanto  na costa oeste, como na costa leste. Um assassino frio da máfia de Chicago. Só que nas entranhas dos tribunais, nos diversos processos que respondia, ele havia conseguido deter o longo braço da lei. Havia tantas medidas cautelares nos tribunais que garantiam sua liberdade, que o xerife ficava de mãos atadas. Enquanto não pegasse Bugsy em algum crime cometido na sua cidade, não poderia prender aquele criminoso contumaz. Era enervante a situação.

Bugsy estava pensando em usar aquela cidadezinha com ponto de apoio para seus contrabandistas de whisky. Porém havia problemas. O xerife Tom Oxford já havia demonstrado que não o queria lá. Bugsy preferia atuar em cidades onde os policiais pudessem ser corrompidos. Tiras corruptos, era isso o que ele procurava. Com Oxford isso não iria dar certo. Não apenas pelo caso envolvendo a antiga amada Nina, mas também pelo fato de que o xerife Oxford realmente não era um homem corrupto. Pelo contrário. Era tão fiel cumpridor da lei que até mesmo seus parceiros de patrulha o consideravam exagerado demais nesse campo.

Após desfrutar do corpo e da alma de Nina, finalmente Bugsy saiu do hotel. Ele mastigava chicletes. Uma das poucas pistas de sua verdadeira sordidez. Por fora era pura elegância. Ternos finamente cortados, chapéu Panamá importado de Paris. O cara sabia se vestir com elegância. Só que não havia finesse verdadeira. Bugsy era pura maldade, pura vilanice. Não havia nada de bom nele. Tanto que assim que saiu de cima de Nina, meio que a desprezou. Jogou uma nota de 10 dólares sobre a cama e disse que ela deveria procurar por Johnny "Rato", que estava lá embaixo. Nina já agia como uma prostituta e deveria ser tratada assim dali em diante. E Bugsy não costumava dar muita confiança para putas em geral. Elas eram apenas suas empregadas.

Nina ficou um pouco chocada com o desdém do gângster. Porém o que ela esperava? Um buquê de flores como aqueles que Oxford lhe presenteava? Não, nada disso. Ela deveria ser tratada mesmo pelo que era... puro lixo caipira. Aquele tipo de beleza do interior que fazia a festa dos prostíbulos das grandes cidades. Seu destino seria Las Vegas. Ela se juntaria a outras rainhas da beleza de cidades do interior que iriam trabalhar para Bugsy dali em diante. Iria se deitar com todos os tipos de homens que iriam fazer fila para sexo com ela. Trinta por cento desse dinheiro ganho com prostituição ficava com a garota. Os outros setenta por cento iria para Bugsy. E se ela ousasse reclamar ou chamar os policiais, sua carcaça seria enterrada em alguma cova rasa no meio do deserto. Com Bugsy era assim. Afinal ele era acostumado a matar mafiosos perigosos. Sumir com uma garota como aquela seria extremamente fácil para ele e seus capangas. Quem sai na chuva é para se molhar. 

Capítulo Final - Pobre Alma Perdida
Depois de alguns dias Siegel e sua quadrilha da morte simplesmente entraram em um carro e foram embora para Las Vegas. A amada Nina também foi embora. O velho xerife que tanto gostava dela saberia alguns anos depois sobre o seu destino. Nina se prostituiu por muitos anos em Nevada. Depois de algum tempo foi parar em um desses ranchos prostíbulos, bem populares naquele estado único, onde a prostituição já era legalizada.

Depois de mais um programa um fazendeiro gordo, cheio de feridas pelo corpo a teria esfaqueado no pescoço. A razão foi que ela riu quando ele se mostrou impotente na cama. Acostumado a abrir um grande leitão de cabo a rabo com um facão, ele fez o mesmo procedimento com Nina. A levantou pelo pescoço e deferiu facadas, primeiro em seu lindo pescoço e depois disso se fartou com mais facadas em sua barriga. O quarto se encheu de sangue. Jorrou sangue pelas paredes. E Nina berrou como uma porca enquanto estava sendo assassinada.

- Tome, sua cadela! Tome outra facada! - E continuou a apunhalar a pobre Nina que morreu poucos segundos depois.

O xerife recebeu essas notícias com indignação. Apesar de tudo ele ainda tinha bons sentimentos com aquela mulher. Porém é a tal coisa, cada um escolhe seu próprio destino, não é mesmo? Ela poderia ter vivido longos anos, ter ficado velhinha, sendo a querida esposa de um homem da lei. Entretanto quis seguir por outro caminho. Quis ser prostituta. Ao invés de ter apenas um homem honesto, leal e parceiro, decidiu que iria fazer sexo por dinheiro, ficando com um homem diferente todas as noitas. Cafajestes, bêbados, seres asquerosos. Até que riu na hora errada e pagou caro por isso. Pagou com a própria vida.

Nina foi enterrada em uma cova sem identificação em um cemitério para pobres no meio do deserto. Depois de três anos seu corpo foi retirado e seus ossos jogados em um ossário imundo, onde de noite os chacais famintos vinham fazer suas refeições. Depois de algum tempo apenas o xerife que a amava lembrava dela. Todo mundo já havia esquecido que um dia ela tinha existido. Seus ossos foram levados de madrugada por esses velhos cães sarnentos do deserto hostil.

E o Bugsy? O que aconteceu com ele? Acabou sendo morto pela própria máfia. Em determinado momento ele se deslumbrou com as luzes, fama e dinheiro de Hollywood. Saiu com atrizes, com starlets, virou um playboy que aparecia quase todos os dias nas colunas sociais. A máfia não queria esse tipo de publicidade. O administrador dos cassinos tinha que levar uma vida das mais discretas. Nada de ostentação. Só que Bugsy queria mais. Logo surgiram denúncias que ele estaria roubando os chefões mafiosos. Um tiro na cabeça encerrou tudo. Ele estava bebendo em sua sala cheia de quadros de arte e móveis caros, quando recebeu um tiro certeiro na cabeça. Esse é sempre o destino de quem ousa desafiar a Cosa Nostra.

E o xerife Tom Oxford? Que fim levou? Ele morreria no final da década de 1950. Já era um homem aposentado, com vários quilos a mais. Teve uma velhice de tranquilidade e paz. Morreu solteiro, mas passava longe de ser um homem triste ou qualquer coisa que o valha. Era um homem feliz, ao seu jeito. De vez em quando lembrava de Nina. Acendia um grande charuto, olhava o horizonte e pensava:

- Pobre alma perdida...

Pablo Aluísio.

quarta-feira, 9 de dezembro de 2009

RIngo e a Montanha Dourada

Cap. I - O Sol do Deserto
Se havia algo que Ringo Sinclair odiava em sua vida de pistoleiro era cavalgar no deserto, debaixo de sol escaldante. O suor descia pela sua face, seus braços e mãos estava molhados. E seu cantil estava com um nível perigosamente baixo de água potável. Aquele deserto era realmente infernal. Passou a se sentir um pouco mal, por causa do calor excessivo. Parou seu cavalo e olhou para trás, por cima de seus ombros cansados. Avistou ao longe uma dança de abutres no céu. Cercavam a próxima carcaça que iriam devorar. Ringo sabia do que se tratava. Era o corpo do homem que havia acabado de matar.

Vida de pistoleiro tem seus dissabores. Esse homem que jazia no deserto, que começava a exalar cheiros de decomposição fétida, estava em seu encalço há dias e dias. Queria vingança. Ringo havia matado seu pai em um crime encomendado. O serviço havia sido feito, o pagamento estava em sua calça jeans. Porém, como ele já estava acostumado, todo serviço de morte encomendada trazia seus efeitos colaterais, entre eles o desejo de vingança dos parentes mortos. E para sanar esse problema Ringo tinha que matar mais de uma vez. Já havia perdido a conta de quantos parentes havia matado ao longo de sua vida. Sempre que algum desses "amadores" surgiam em sua frente, tremendo com revólver em punho, sabia que teria que matar de novo - e dessa vez sem receber nada pelo serviço. Pura legítima defesa.

Esse último que havia surgindo na frente de Ringo não passava de um "engomadinho". Ringo procurava economizar munição nessas ocasiões, afinal balas custavam caro e não deveriam ser desperdiçadas em momentos "sem lucro". Tudo deveria gerar lucro, essa era a filosofia de vida de Ringo em sua trajetória de pistoleiro. E ele colocava tudo na conta. O serviço de morte era friamente calculado por Ringo. Ele colocava na conta não apenas o preço da munição, mas também os riscos que iria correr, a quantidade de milhas que deveria cavalgar após matar, o preço dos hotéis e pousadas que iria pagar para fugir, os oficiais da lei que teria que subornar, etc.

Depois de cavalgar por várias horas, Ringo avistou ao longe uma grande construção de madeira. Na frente da porta uma grande placa, um tanto rústica, escrito "armazém". Quem recebeu Ringo na frente da construção foi uma jovem simpática chamada Kate Bender. Ela morava na estalagem ao lado de seu irmão, seu pai e sua mãe. Eram imigrantes alemães. Ringo inicialmente só queria comprar alguns mantimentos para conseguir chegar na próxima cidade, mas foi convidado por Kate para passar a noite ali, se assim desejasse.

Kate Bender ganhou a confiança de Ringo. Afinal ela era muito simpática, sempre falando, dando sorrisos, falando coisas agradáveis. Era bem falante, bem comunicativa, bem sociável. Bonita, bem penteada, vestida e com todos os dentes na boca, era bem diferente das mulheres que Ringo havia encontrado nas últimas semanas. Geralmente ele encontrava mulheres rudes, mal encaradas, forjadas no trabalho pesado dos pioneiros. Isso criava uma completa falta de feminilidade nessas jovens senhoras, que logo se tornavam idosas precoces. Com Kate nada disso acontecia. Ela era puro charme, pura beleza feminina. Encantado pela música da sereia, Ringo desceu de seu cavalo e decidiu que sim, iria passar a noite naquela estalagem. Ele estava mais interessado em Kate do que em qualquer outra coisa. 

Cap. II - Os Encantos de Kate
Ringo estava interessado nos peitos de Kate. Não adianta disfarçar ou inventar outras desculpas, era isso o que ele queria. Depois de cavalgar por vários dias pelo meio do deserto ele ansiava por uma companhia feminina. Kate Bender não parecia fazer o tipo prostituta, mas também isso não significava que Ringo não poderia tentar sua sorte. Ele olhava e olhava para Kate olhando cada detalhe de seu corpo. Ela tinha lindos olhos azuis, era loira e bronzeada, do tipo garota dourada. Sua boquinha era uma coisa, bem pequenina, com dentes delicados. O cabelo era cortado pequeno, como das jovens daquela região. O corpo era todo proporcional com ótimas coxas e pernas. A bunda era um destaque. A Única coisa que não agradou muito Ringo foram seus dedos dos pés. De certa forma entregava a origem humilde da garota.

Bom, se Kate era puro desejo sexual, nada poderia ser mais oposto do que o resto de sua família. Kate vivia com dois homens a quem ela chamava de pai e mano. Não se pareciam entre si, o que fez com que Ringo acendesse uma luz vermelha no fundo de sua mente. Havia algo errado ali. A mulher mais velha era dita como a mãe de Kate. Outro problema. Ele nunca vira mãe e filha tão diferentes como aquelas duas. O que diabos estava acontecendo ali? Nenhum dos parentes de Kate tinham a menor simpatia por ninguém. Eram sorumbáticos e respondiam a cada tentativa de conversação com grunhidos. Era gente muito esquisita.

Ringo deveria ter prestado mais atenção nos detalhes à sua volta, no que realmente estava acontecendo naquele hotel de madeira de beira de estrada. Havia um certo tom sinistro pairando no ar. Mesmo assim Ringo pagou os dois dólares pela estadia noturna. Queria passar a noite ali. Queria transar com Kate, queria pegar nos peitos dourados dela. Queria mamar a mulher. Homem nesse estado de cio não pensa direito, não presta atenção em mais nada. Eis o maior problema para Ringo. Ele estava entrando numa armadilha mortal.

Assim que entrou na estalagem Ringo ouviu ruídos vindos do porão. Como assassino profissional aquele som lhe pareceu com o som de alguém sendo amordaçado para não fazer barulho. Kate percebeu que ele percebeu. Então resolveu chamar sua atenção. Lhe convidou para ir na cozinha para comer um bom prato de sopa. E ficou fazendo gestos sensuais com a colher de pau na mão, enquanto mexia o prato na panela. Ringo lambeu os beiços, não se sabe pelo água na boca pela sopa ou pelos peitos de Kate. Ela entendeu que seus seios estavam despertando a atenção do pistoleiro e baixou ainda mais a blusinha, fazendo um infantil "ops". Pura safadeza para mostrar os bicos dos seios. Ringo ficou excitado na hora!

Ela serviu a sopa quente em um prato para Ringo, mas quem estava pegando fogo era ele mesmo! Se não houvesse outras pessoas na estalagem ele provavelmente a pegaria pelos braços, lhe daria um grande beijo na boca, abriria suas pernas e aliviaria seus desejos carnais. Mas ao invés disso Ringo viu o mundo girar! Após colocar a primeira colher na boca o mundo começou a rodar e a rodar. Ringo estava completamente tonto! Ele perdeu o equilíbrio e caiu no chão! Algo estava muito errado, ele estava perdendo o controle e essa era a pior sensação do mundo. Seus olhos giravam e giravam... era uma das piores coisas que já havia sentido na vida. Sim, ele pensou... 

- Fui envenenado! - foram suas últimas palavras antes de perder completamente os sentidos... 

Cap. III - Chamas Eternas
Quando Ringo finalmente recuperou sua consciência ele estava no porão da velha estalagem. Mesmo ainda bem tonto por causa do veneno ele ainda conseguiu deslizar sua mão em busca de seu revólver no coldre. Nada achou. A arma tinha sido retirada dele. Ringo então olhou para o lado a tempo de ver um dos supostos familiares de Kate. Um dos hóspedes estava deitado no chão, a uns cinco metros dele. Inconsciente, ele acabou sendo assassinado com uma martelada na cabeça. Uma coisa horrível. Ringo ouviu o seu crânio se rompendo com a violência da pancada.

Nesse momento Ringo percebeu que ou se levantava ou então ele seria o próximo a morrer. O pistoleiro sempre andava com uma ampola contra envenenamentos em seu bolso da calça jeans. Ringo era um assassino profissional e como tal podia ser envenenado a qualquer momento. Por isso estava sempre ao lado dessa substância. Ringo então enfiou a mão e para seu grande alívio descobriu que o antídoto ainda estava lá. Foi o que salvou sua vida. Após engolir seu conteúdo Ringo viu de forma rápida a anulação dos efeitos do veneno.

Ele assim se levantou rapidamente... O agressor percebeu e foi em sua direção com o martelo. Para sorte de Ringo ele percebeu que havia um monte feito de coisas roubadas dele e do outro hóspede, que agora jazia morto no chão de feno. Ringo então, mais rápido do que um coelho, deu um pulo em direção a essas coisas roubadas. E entre elas estava seu precioso Colt 45. O grandalhão percebeu que Ringo agora estava armado e foi em sua direção com fúria. Ringo nem contou 2 segundos, mirou na cabeça do tal sujeito e puxou o gatilho. Foi um tiro certeiro. Morte em milésimos de segundos.

Claro que o tiro alertou a todos na estalagem. Ringo olhou o tambor do Colt e percebeu que havia cinco balas... Seria o suficiente para ele matar todos aqueles desgraçados de uma só vez. Lembrou da frase "A melhor defesa é o ataque" e decidiu partir para cima. Subiu as escadas em um só fôlego. Ao entrar na parte de trás da casa foi recebido a bala. No meio do tiroteio ainda percebeu kate correndo por entre as mesas, segurando o seu rifle... Ah, aquilo sim era imperdoável. Ele agora sabia que deveria matá-la por crime de lesa majestade.

O fato é que Ringo era um pistoleiro profissional. Ele vivia disso, vivia de matar. Aquela família de Kate poderia ser criminosa, mas não tinha a habilidade no Colt de Ringo. E ele tinha cinco balas para mostrar sua perícia. A bala seguinte teve interesse certo, se alojando no coração da "Mãe" de Kate, que muito provavelmente nem era sua mãe, mas apenas mais uma bandida da quadrilha. A bala de Ringo a atravessou, no caminho explodiu os músculos do coração. Não havia como resistir. Ela caiu imediatamente no chão.

Ringo agora tinha 4 balas. Ele percebeu que "Georgie", ou seja lá qual era o seu nome, estava atrás de uma das mesas. Ringo não poderia desperdiçar balas. Ele então pegou uma garrafa de querosene, enfiou um pano, colocou fogo e jogou no seu inimigo. O estrago foi feio. "Georgie" virou uma bola de fogo. Gritando desesperado saiu em chamas pela porta principal da casa. Ringo pensou se deveria desperdiçar uma bala com ele. Na dúvida mirou e... arrancou seu cérebro pela parte de trás do crânio. Mais um tiro no alvo. Ringo não brincava em serviço.

Ringo tinha 3 balas e dois opositores. O "velho", que fazia papel de "pai" de Kate foi o próximo! Ele demonstrou ter uma mira ruim. Atirou várias vezes com seu rifle, mas não acertou nenhum tiro em Ringo. Era obviamente um amador. Ringo então se posicionou e deu um tiro em sue perna. Isso o tirou de ação. Ringo agora tinha 2 balas. Ele então rolou no chão e bum... deu um tiro certeiro entre os olhos do velho. Esse tombou imediatamente.

Ringo agora tinha só uma bala! Desesperador não é mesmo? Porém um lance de sorte aconteceu. A velha estalagem de madeira começava a arder em chamas. Kate suando e desesperada tinha que sair pela porta principal, mas se fizesse isso seria alvejada por Ringo, com absoluta certeza. Sua saia começou a pegar fogo e ela então não viu outra saída, deu um grito e saiu em direção à porta...

Ringo nem pensou duas vezes. Um tiro em suas costas, o impacto foi tão forte que Kate caiu no chão imediatamente. Uma das vigas de madeira do teto acabou caindo sobre ela, a esmagando. Era o seu fim. Kate estava morta. E foi uma morte bem horrível e sofrida mesmo. Merecia, era uma ladra e uma assassina fria que usava seus encantos para matar viajantes solitários. O lugar dela era mesmo entre chamas, mas entre as chamas do inferno. O problema é que Ringo ainda se encontrava dentro da estalagem que agora ardia completamente em chamas. Sem saída ele fez o que estava à sua mão - pulando pela janela de vidro, quebrando tudo pelo meio do caminho. Ao cair no chão Ringo percebeu que estava todo cortado, mas isso era o de menos. O importante é que ele estava... vivo!

Cap. IV - Cavalgada Noturna
Naquela mesma noite Ringo subiu em seu cavalo marrom de meias brancas e sumiu pela noite adentro. Cavalgou e cavalgou, pelo meio do deserto, até chegar numa pequena vila de mineradores. Era Silver Rock City, o primeiro ponto de partida para quem estava em plena corrida do ouro. Assim que chegou na rua única e principal de Silver, Ringo desceu de seu cavalo e foi até o saloon local. Ele estava exausto, destruído mesmo. No mínimo cavalgou por cinco horas seguidas. Cavaleiro acostumado com o desconforto de uma sela, ele poderia se auto declarar completamente dominado pela exaustão.

Tomou um rápido gole de whisky e perguntou ao barman se ele conhecia algum lugar que alugasse quartos para dormir. Foi informado que do outro lado da rua iria arranjar um bom lugar por um preço barato. Ringo nem pensou duas vezes e foi até lá. Pagou 4 dólares e ganhou o direito de finalmente dormir em uma cama quente. Ringo não dormia há mais de 48 horas, segundo seus próprios cálculos. A confusão na estalagem dos Benders havia custado muito, não apenas em material perdido, mas também do ponto de vista emocional.

Ringo tirou as botas e deitou-se. A mente corria a mil. Mentalmente ele procurou fazer um balanço do que havia perdido. Kate Bander e seus falsos irmãos tinham roubado seu dinheiro, seu rifle e alguns outros pertences. Como Ringo deixou a estalagem em chamas ao sair de lá não houve como recuperar o que havia perdido. De todas as coisas que foram perdidas a que mais deixou Ringo irritado foi a perda de rifle Winchester que não fazia muito tempo havia comprado (leia o conto "Um Winchester para Ringo" para saber mais). Ele havia também perdido o revólver de seis tiros, uma bela arma que vinha com ele há vários anos.

Sobraram o cavalo Costa, seu fiel companheiro, a sela e sua roupa do corpo. Fora isso Ringo estava a zero! Fazia muitos anos que ele não se via numa situação tão delicada. E como estava longe de seus contatos, não havia trabalho à vista e nem dinheiro para gastar. Ringo tinha que pensar e agir rápido. A solução seria ganhar alguns dólares no jogo de cartas do Saloon. Ele não havia desistido de subir a montanha em busca do ouro. Esse destino estava traçado e ele tencionava ir até o fim. Mas para continuar sua jornada teria que ter algum dinheiro no bolso. O cavalo Costa estava em uma estribaria local, sendo alimentado e cuidado. Outra despesa que Ringo teria que arcar em breve. Porém antes de tudo ele precisava se recuperar com algumas boas horas de sono. Ele havia escapado da morte, quase havia sido morto a marteladas. O momento agora era relaxar um pouco para voltar ao mundo sórdido do velho oeste que conhecia tão bem.

Cap. V - Cowboy do Oeste
Ringo muitas vezes acabava sendo presenteado com lances de sorte. No dia seguinte, ao sair do pequeno hotel onde havia se hospedado, Ringo descobriu que uma grande boiada estava sendo levada para a costa, para uma fazenda na Califórnia. E o dono do gado estava recrutando cowboys na cidade. Para ele era o ideal. A cavalgada iria para a mesma região que ele estava viajando. Se arranjasse um serviço de cowboy ainda iria receber por isso. Acabou falando com o capataz. Esse lhe perguntou se ele já tinha um cavalo. Com a resposta positiva então, Ringo estava dentro.

A boiada seria tocada por dez homens, Ringo entre eles. A viagem estava calculada para durar dez longos dias. Era um trabalho exaustivo, manter o gado em linha reta, em direção ao seu destino. No caminho eles iriam atravessar desertos, regiões habitadas por índios selvagens e terras abandonadas, onde não havia nenhuma alma viva. Eles se reuniram fora da cidade, em um curral, montaram seus cavalos e caíram em direção ao seu caminho.

Além de Ringo, estavam participando o dono do Rancho Four Stars, Cliff Edwards, que era o dono do gado, seu braço direito, o capataz Erickson e mais outros sete cowboys. Sujeitos durões, barbas por fazer, muita adrenalina e muita vontade de terminar o serviço bem feito. Alguns eram nitidamente homens da classe trabalhadora, mas Ringo também percebeu que Erickson tinha maneirismos de pistoleiro. Durante a primeira hora de jornada surgiu uma cobra cascavel no meio do caminho. Para evitar que alguma cabeça de gado fosse picada pelo perigoso animal, Erickson retirou seu rifle da parte paralela da cela e deu um tiro... um só tiro... certeiro. Era óbvio que era um ás do gatilho, provavelmente um pistoleiro com muitos anos de perícia no uso de sua arma. Ringo, que não era bobo, nem nada, ficou de olho. Sinal amarelo para aquele sujeito.

Quando chegou a noite todos pararam para comer alguma coisa, descer de seus cavalos e descansar. Ringo estava acostumado com aquela vida. Uma vida de se dormir no chão, sem travesseiro, sem nada, apenas o brilho das estrelas sobre a cabeça. Ele tomou alguns goles de água fresca, comeu alguns pedaços de carne salgada e se deitou. Dormir ao léu tinhas seus perigos. Entre eles o ataque de alguma cobra venenosa que se aproveitasse do fato de sua vítima estar dormindo. Porém mais perigoso do que isso eram os escorpiões. Eles eram enormes, do tamanho da palma da mão de um homem grande. Uma picada poderia significar a morte.

Durante a madrugada Ringo ouviu barulhos na parca e árida vegetação. Era um chacal. Um tipo de animal traiçoeiro e oportunista, acostumado a seguir caravanas no meio do deserto. Ao longo dos séculos esses animais descobriram que seguir seres humanos poderia significar comida. Comida deixada pelo caminho, comida jogada fora das carrocerias. Ringo se levantou e quando olhou o chacal nos olhos esse tombou bruscamente. Havia levado um tiro na cabeça. Um tiro que surpreendeu Ringo. Ao se virar se deparou com Erickson. Ele havia dado um tiro pelas costas de Ringo, há pelo menos cinco metros ou mais do animal. Definitivamente aquele cara sabia atirar bem. E ele fez questão de fazer isso perto de Ringo. Queria que ele soubesse que em questão de armas, havia um especialista ali. A tensão começou a se formar entre os dois.  

Cap. VI - Luar Noturno
No final do segundo dia de viagem, lá pelas nove da noite, Ringo e os demais cowboys pararam. Era hora de descansar para o dia seguinte. Antes disso porém todos se reuniram em volta da fogueira onde um velho bulê esquentava o café para todos aqueles homens. Ringo adotou uma personalidade calada, de não puxar papo com ninguém. Fazia seu trabalho direito, pouco falava e não despertava interesse. Essa era sua tática para passar despercebido, não chamar a atenção de ninguém.

Só que naquela noite o capataz Erickson sentou ao seu lado. Com um pequeno galho de soja entre os dentes sentou e esperou pelo café. E não demorou muito tempo para puxar papo com Ringo, algo que ele definitivamente não queria fazer.

- Então forasteiro... de onde você é? - Perguntou Erickson, fingindo um falso desinteresse pela resposta.

- Eu não sou de lugar nenhum... - Ringo tentou cortar a conversa mole.

No mesmo instante um sorriso surgiu na cara vermelha de sol do velho Erickson.

- Todas as pessoas são de algum lugar forasteiro... Então, diga logo de onde você é! Pare de mistérios - Disse ele rindo, enquanto enchia sua caneca de um café quente como o inferno.

- OK! Eu sou de Montana... de uma pequena cidadezinha para além das montanhas geladas, perto do Canadá. Você provavelmente nunca ouviu falar - Eram mentiras ditas por Ringo. Seu objetivo era cortar o assunto.

Erickson limpou as calças, tirou um pouco de poeira do deserto delas e se deitou sobre sua sela, que agora servia como um travesseiro improvisado.

- Olha forasteiro, possa ser que eu conheça sim sua cidadezinha. Eu já cavalguei por milhares de milhas ao longo da minha vida. Eu sou um nômade por natureza! - Ele tomou um gole do café forte e continuou - Pois então, diga o nome aí do seu vilarejo, possa ser que eu conheça...

- Ah, acho que não conhece. Não vamos perder tempo. Temos que dormir - Ringo sabia que Erickson o sondava a partir daquele momento.

- Sabe, meu caro, seu rosto me é familiar. Acho que já vi sua face em algum lugar aí pelo oeste. Isso não sai da minha cabeça.

Imediatamente a luz amarela de atenção acendeu na mente de Ringo. Será que esse sujeito teria visto algum cartaz de "Procura-se vivo ou morto" dele? Era algo a se pensar e a se preocupar. De qualquer modo Ringo virou-se de costas e não respondeu a Erickson. Apenas disse "Boa Noite!".

Erickson olho de lado, olhar de pura desconfiança. Ele sabia lidar com cowboys, pois tinha feito isso por toda a sua vida, mas aquele novo cowboy que se dizia ser de Montana não lhe convencia. Na mente de Erickson havia a forte convicção que ele conhecia Ringo, sõ não conseguia lembrar de onde e nem de quando. Será que havia trombado com ele em algum jogo de cartas? Ou será que teria trocado tiros com ele quando participou como membro de uma tropa de apoio dos Texas Rangers? Se esse fosse o caso então a resposta só poderia apontar para o fato de Ringo ser um bandido procurado.

O luar noturno porém estava lindo naquela noite. O céu cheio de estrelas. O corpo pedia por descanso, assim tanto Ringo como Erickson rapidamente adormeceram. No dia seguinte iriam finalmente cruzar a fronteira da Califórnia.

Cap. VII - Faca Afiada
Ringo sentiu as mãos de seu algoz em volta de seu pescoço. Foi pego de surpresa, na traição. Era o capataz, que tentava neutralizá-lo. A reação foi rápida, Ringo sabia que se não alcançasse seu revólver estaria morto. Só que seu inimigo também foi rápido, conseguindo chegar na arma de Ringo, a tirando do coldre e depois a jogando fora. Isso deu uma falsa sensação de segurança ao capataz e isso foi seu erro mortal...

Ringo conseguiu desvencilhar um dos braços, imediatamente foi em busca de sua bota. E dentro da bota havia uma faca afiada e muito bem preparada para situações como essa. Ringo era um assassino profissional, ele jamais poderia se confiar apenas em uma arma. Sempre haveria um plano B e seu plano B era a faca, com ela em mãos ele voltava ao jogo. Não seria asfixiado, nada disso, ele enviaria seu oponente para as portas abertas do inferno.

Com as luvas amarelas de cowboy, Ringo firmou com força a faca em sua mão esquerda e deferiu um golpe certeiro na coxa esquerda do capataz que tentava lhe sufocar. A dor foi imensa. O agressor soltou um grito surdo de dor. Ringo enfiou com força, mas não foi só isso. Ele cravou a faca na perna e depois a puxou de lado, abrindo uma fenda enorme em seu inimigo. O sangue jorrou, manchando até mesmo o rosto de Ringo. Com tamanha brutalidade seu algoz soltou seu pescoço, ele ficou se contorcendo de dor e agonia.

Livre das mãos do assassino, Ringo rolou de lado e finalmente recuperou seu Colt 45. Com ele em mãos, já de pé, recuperou completamente o controle da situação. Sua face pingava sangue. O capataz gemia no chão, em posição fetal. Ringo mirou o Colt em sua cabeça e só fez uma pergunta:

- Por quê?

- Eu vi seu rosto em um cartaz de procurado... eu queria a recom.. a recompensa... - o sangue fazia uma poça na areia do chão...

Ringo mirou o Colt e puxou o gatilho. O som do tiro ouviu-se na pradaria. As aves bateram asas e voaram para longe. O estampido da bala ecoou nas montanhas distantes... Um tiro apenas, dado na cabeça do capataz... Sem perdão, sem redenção, apenas um tiro... como era do feitio de Ringo.

Ele se levantou, bateu as calças para tirar a poeira e montou em seu cavalo Costa. Não havia mais como voltar para a caravana. Ele teria que ir embora. Fatalmente o corpo do capataz seria encontrado. Ringo não queria problemas. Ele já estava perto da fronteira. Sabia que mais alguns dias de cavalgada, estaria na Califórnia, nas montanhas douradas, onde esperava encontrar ouro e ficar rico. Ao subir em seu cavalo, Ringo saiu a galope. Nem olhou para trás. Enquanto seu cavalo suava e corria, o capataz dava seu último suspiro. O último gosto que sentiu foi o de poeira misturada com seu próprio sangue.

Estava morto em segundos. Morto... era o fim de sua existência..

Cap. VIII - A Montanha Dourada
Depois de uma longa viagem Ringo finalmente chegou na "montanha dourada", onde se dizia que havia ouro em abundância para minerar. Era, segundo a lenda, apenas uma questão de esforço mínimo. Quem estivesse disposto a subir na montanha iria encontrar ouro e a fortuna. Só que Ringo não encontrou nada disso. Ao contrário, no pé da montanha havia um acampamento horroroso, caindo aos pedaços. A fauna reinante ali era de bêbados e prostitutas. Ringo olhou tudo com um desânimo incrível. Era para aquilo que ele havia lutado tanto? Uma viagem tão longa para chegar em uma bueiro como aquele? Decepção, era a palavra recorrente passando em sua mente...

Entretanto era a tal coisa. Está no inferno? Aproveita e abraça o Diabo. Já que havia chegado ali não iria dar meia volta. Entrou com seu cavalo Costa no meio daqueles barracões. Logo percebeu que as prostitutas eram todas maltratadas, algumas com sinais claros na pele de doenças sexualmente transmissíveis. A Sífilis estava em alta. Muitas daquelas mulheres estavam obviamente contaminadas. Eram jovens, muito provavelmente vinham de famílias sem estrutura, outras eram órfãs. Sem saber ler e nem escrever só sobrava mesmo o caminho da prostituição, a chamada profissão mais antiga do mundo, muito praticada, inclusive por mulheres de fino trato que se casavam apenas por dinheiro. Era um modo de ganhar a vida.

A sociedade que imperava ali era na base de violência. Não havia leis. Todos tinham uma arma carregada na cintura. Qualquer palavra errada, qualquer provocação gratuita, era respondida com chumbo quente. Ringo sabia que a melhor maneira de sobreviver era não chamar a atenção, não criar provocação. Os homens que ali viviam eram desesperados, não tinham nada a perder. A maioria era criminosos foragidos (ora, como o próprio Ringo). Havia de tudo, ladrões, bandoleiros, mexicanos, trogloditas, insanos, pervertidos. Era uma desgraceira sem tamanho. Não havia como ter amizades naquele meio, todos, sem exceção, eram patifes desalmados.

O único grupo que parecia se diferenciar era a dos pastores. Todos bem arrumados, com ternos limpos. Nada de novo, Ringo sabia bem disso. Aquela gente não o enganava. Eram tão vigaristas como os mais vigaristas que estavam ali. Queriam o dízimo, queriam pegar o dinheiro que sobrasse, que caísse das mesas dos mineradores. Eram parasitas. O ranço de gente ruim, o cheiro de picaretas, esse Ringo conhecia muito bem. Ele sabia que aqueles pastores não tinham nada de Deus. Queriam o vil metal, o dinheiro, nada mais. Eram mercadores do templo, lobos em peles de cordeiros.

Assim Ringo, em poucos minutos, fez o diagnóstico preciso do que estava acontecendo ali no pé da montanha dourada. Ele pensou em ficar ali, por pelo menos um dia, mas depois refletiu e entendeu que o melhor era apenas pegar mantimentos, água e munição e dar uma volta pelas redondezas. Dormir ao relento era sua prática comum. Queria subir na montanha ainda naquela tarde. Viu uma garota até bonita, mas maltratada pela vida que levava. Seu nome era Feliicity. Nome falso, claro. Ela ofereceu seus serviços em troca de 4 dólares. Ringo não mostrou qualquer interesse. Comprou o que tinha que comprar. Colocou ao lado da sela de seu cavalo e saiu daquele covil de víboras. Ele iria adentrar o meio selvagem. Queria subir na montanha. Dourada ou não, ele tinha que explorar, caso contrário sua longa viagem teria sido em vão.

Capítulo Final - A verdadeira Fortuna
Ringo subiu a montanha ao lado de sua nova companheira. Ela se mostrou uma boa companhia, prestativa e cuidadosa. Algumas mulheres quando passam pela prostituição começam a entender, a enxergar a vida sob um novo ponto de vista. Elas são submetidas a uma rotina das mais perversas e são expostas a todos os tipos de sujeitos asquerosos. Acabam desenvolvendo um sexto sentido para localizar bons homens. Com ela aconteceu justamente isso. Ela viu um bom homem em Ringo. E ele, por sua vez, começou a ter uma boa sensação ao seu lado.

Ringo passava as manhãs em busca de ouro. Quando voltava para seu acampamento já era meio-dia. Hora de fazer uma refeição. Depois mais uma jornada de trabalho pela tarde. Antes de anoitecer estava de volta. E um homem e uma mulher no alto da montanha, o que você poderia imaginar que iria acontecer? Claro, não demorou muito e eles tiveram uma noite de sexo e prazer. Ringo gostou muito dela nessa questão. E ela se sentiu muito bem por não ter sido remunerada por isso. Era o sinal de que havia um relacionamento ali. Quem sabe ele chamasse ela para ficar ao seu lado. Ela toparia com certeza.

Ringo tentou por uma semana no alto da montanha. Conforme os dias iam passando ele foi tomando consciência que era tarde demais. Se aquela montanha tinha ouro - e em algum momento houve ouro ali com certeza, caso contrário não se chamaria "montanha dourada" - bom, se havia ouro, eles já tinham levado de lá. Afinal a tal febre do ouro fez com que uma multidão subisse aquelas montanhas. Ringo havia chegado tarde... Até havia pedrinhas douradas pelo caminho, mas não era ouro. Era o que os mineradores chamavam de "ouro de tolo", pois apenas um tolo não iria saber distinguir aquele metal do verdadeiro ouro.

Havia buracos por toda a parte. A mineração ali havia sido feroz, sem nenhuma preocupação com o meio ambiente. Aqueles homens eram homens desesperados. Em farrapos, procuravam pela grama que iria garantir pelo menos a refeição do dia. Não era algo bonito de se ver. Muitos eram magros, com as roupas rasgadas. Poucos tinham algum tipo de calçado. Andavam de pés descalcos, sujos, já se tornando parte da paisagem. Depois de alguns dias ali Ringo finalmente enxugou o suor de seu rosto, olhou para o horizonte e decidiu que iria seguir em frente. Iria para San Francisco, tentar vida nova. Afinal esse era o seu habitual, a história de sua vida.

Assim logo pela manhã da segunda, exatamente uma semana depois de ter chegado na montanha dourada, Ringo pegou sua sela, selou seu cavalo, ajeitou suas coisas e decidiu que era hora de ir embora. Felicity ficou olhando ele arrumar suas coisas. Será que ele iria chamá-la para ir ao seu lado? Ela ficou ansiosa, esperando pelo que iria acontecer. Então assim que ajeitou tudo, Ringo olho para ela. Olhos nos olhos. Ela estava apreensiva... Então ele estendeu sua mão e ela o abraçou de forma fervorosa. Sim, Ringo havia feito sua escolha. iria ficar com ela. Afinal, depois de tudo, ele finalmente havia encontrado a verdadeira fortuna.

Pablo Aluísio.