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segunda-feira, 15 de agosto de 2022

2001: Uma Odisséia no Espaço

Stanley Kubrick não foi um diretor convencional e nem tampouco um diretor de fácil digestão. Ele não estava nem um pouco interessado em fazer um cinema que fosse acessível a todos os tipos de públicos. Pelo contrário, Stanley Kubrick fazia cinema para ele mesmo e para um seleto grupo de admiradores de seu estilo. Para muitos essa ficção foi sua maior obra prima. O filme pelo qual ele sempre será lembrado. E de fato não era algo fácil a transposição para o cinema do famoso livro de Arthur C. Clarke. Kubrick fez uma bela adaptação para a sétima arte, entretanto é bom saber, de antecedência, que o filme parte da premissa que o espectador conheça pelo menos um pouco o livro original, leu alguns capítulos. Caso contrário a coisa começa a parecer sem muito sentido realmente.

Outro ponto é que o roteiro também espera que aquele que vai assistir ao filme saiba, nem que seja um pouquinho, sobre astronomia e astrofísica. Conceitos como espaço x tempo, buracos negros, viagem na velocidade da luz, múltiplas dimensões, tudo isso é jogado na tela. Outra discussão muito interessante se refere ao tema da inteligência artificial. Até que ponto dotar uma máquina da capacidade de pensar por si mesma seria seguro para a humanidade? Bom, pelos exemplos dados já deu para ter uma ideia da complexidade desse filme. É sem dúvida uma das maiores ficções da história do cinema. E esse título não foi lhe dado em vão, pelo contrário, temos aqui grande cinema de fato.

2001: Uma Odisséia no Espaço (2001: A Space Odyssey, Estados Unidos, 1968) Direção: Stanley Kubrick / Roteiro: Stanley Kubrick, baseado na obra de Arthur C. Clarke / Elenco: Keir Dullea, Gary Lockwood, William Sylvester / Sinopse: Depois de descobrir um misterioso artefato enterrado sob a superfície lunar, a humanidade parte em uma busca para encontrar suas origens com a ajuda do supercomputador inteligente denominado H.A.L. 9000.

Pablo Aluísio.

segunda-feira, 1 de agosto de 2022

Lolita

Esse filme original dos anos 60 é muito superior ao fraco remake que foi produzido algumas décadas depois. A fotografia em preto e branco é um dos trunfos do filme que por si só já é muito bem dirigido pelo mestre Stanley Kubrick, aqui em um de seus filmes mais convencionais. Se bem que o uso do termo convencional nem pode ser usado impunemente em um filme com tema tão explosivo e polêmico como esse. Como sabemos o roteiro foi baseado no livro escrito por Vladimir Nabokov. Mesmo na época do lançamento original do livro, ainda dentro dos muros da literatura, o escritor precisou lidar com uma avalanche de críticas pesadas por causa da história de seu romance sui generis.

E o que justificava tanta polêmica? Ora, Lolita contava a história pouco aceita socialmente de um tórrido interesse de um homem bem mais velho por uma adolescente, a ninfeta Lolita. Nabokov não pintou seus personagens de culpa, arrependimentos ou pecado. Ao contrário disso ele procurou mostrar aquele desejo do velho homem como algo natural mesmo, da natureza humana. E talvez isso tenha gerado tantos problemas para ele. Kubrick, em seu filme, também segue pelo mesmo caminho. Para interpretar a Lolita ele acertou em cheio ao escolher a jovem Sue Lyon. Além de linda a atriz era talentosa e esperta, ou seja, era de certa forma a própria personificação da Lolita de Vladimir Nabokov. Para uma adaptação cinematográfica não poderia haver escolha melhor.

Lolita (Lolita, Estados Unidos, Inglaterra, 1962) Direção: Stanley Kubrick / Roteiro: Stanley Kubrick, baseado na obra de Vladimir Nabokov / Elenco: James Mason, Sue Lyon, Shelley Winters, Gary Cockrell / Sinopse: Homem bem mais velho, já coroa, cai de amores e sedução por uma jovem adolescente, uma ninfeta chamada Lolita. Filme indicado ao Oscar na categoria de melhor roteiro adaptado.

Pablo Aluísio.

quinta-feira, 21 de outubro de 2021

O Iluminado

Título no Brasil: O Iluminado
Título Original: The Shining
Ano de Produção: 1980
País: Estados Unidos
Estúdio: Warner Bros
Direção: Stanley Kubrick
Roteiro: Stanley Kubrick, Diane Johnson
Elenco: Jack Nicholson, Shelley Duvall, Danny Lloyd, Scatman Crothers, Barry Nelson, Philip Stone

Sinopse:
Roteiro inspirado no famoso livro escrito pelo autor Stephen King. Na história um homem chamado Jack Torrance (Jack Nicholson) é contratado para trabalhar em um hotel isolado e fechado durante o inverno. Ele viaja com sua esposa e filho e descobre que o lugar é assustadoramente sombrio.

Comentários:
Stephen King não gostou dessa adaptação de sua própria obra. Stanley Kubrick não se importou com sua opinião. Na verdade o mestre do cinema estava interessado em fazer um grande filme de terror e suspense psicológico e não em ser fiel demais ao livro que serviu de ponto de partida para o roteiro do filme. E nesse aspecto ele estava mais do que certo. "O Iluminado" é considerado um dos grandes clássicos de sua filmografia. Curiosamente Kubrick visitou o hotel verdadeiro onde a história do livro foi inspirada, mas depois de passar uma noite hospedado nele desistiu de filmar o filme por lá. Achou que o lugar não tinha "as vibrações necessárias" para isso. Assim a Warner acabou mudando a produção para um antigo hotel localizado em uma montanha gelada no Oregon. Aí sim o filme começou a ganhar aquele clima que todos conhecemos. E o que dizer da atuação de Jack Nicholson? Ele está possesso em cena, o que convenhamos era justamente o que seu papel exigia. O resultado de tantos elementos juntos? Um dos filmes essenciais dos anos 80. Verdadeira obra-prima.

Pablo Aluísio.

sexta-feira, 8 de outubro de 2021

Nascido Para Matar

Não é uma unanimidade, nem entre os admiradores de Kubrick, um dos grandes mestres do cinema. Entretanto é inegável que foi um dos filmes que captaram com mais exatidão a insanidade e a loucura do militarismo. O roteiro dividiu o filme em dois grandes atos bem separados. Nem é preciso entender de cinema para compreender bem isso. No primeiro ato vemos um grupo de jovens sendo treinados. Como a guerra do Vietnã estava a todo vapor fica bem claro que eles serão levados para o front no sudeste asiático. Um dos recrutas logo vira alvo, saco de pancada, de seu sargento. É um sujeito mais gordinho, desajeitado. Tanto mexem com seu psicológico que ele logo surta e tudo termina em tragédia. 

Depois do impacto da cena que encerra a primeira parte do filme os soldados são finalmente enviados para o Vietnã. E aí o filme ganha uma surpreendente carga emocional e psicológica, se tornando mais cadenciado, mais sensorial. E o momento final acontece quando os americanos enfrentam uma atiradora de elite escondida nos escombros da guerra. Enfim, um grande filme de guerra, o que não quer dizer que seja para todos os tipos de públicos. Tão visceral é que se torna um filme realmente para poucos. Em minha opinião foi mais uma prova da genialidade de Stanley Kubrick e os gênios, como bem sabemos, nem sempre são bem compreendidos.

Nascido Para Matar (Full Metal Jacket, Estados Unidos, 1987) Direção: Stanley Kubrick / Roteiro: Stanley Kubrick, Michael Herr, Gustav Hasford / Elenco: Matthew Modine, R. Lee Ermey, Vincent D'Onofrio / Sinopse: A loucura e a insanidade da guerra do Vietnã impactando a vida de jovens americanos enviados para o campo de batalha. Filme indicado ao Oscar na categoria de melhor roteiro adaptado.

Pablo Aluísio.

segunda-feira, 23 de março de 2020

Laranja Mecânica

Sem dúvida o filme mais polêmico do mestre Stanley Kubrick. O diretor escreveu o roteiro, adaptando o estranho livro de Anthony Burgess. Lançada em 1962, a obra literária não foi totalmente compreendida na época. Para muitos o livro era violento demais. Porém a intenção do autor era justamente fazer um texto que criticasse a violência da juventude de sua época. De quebra tecia inúmeras críticas a sistemas estatais autoritários. E por não ter sido entendido, o livro acabou sendo acusado justamente daquilo que criticava de forma inteligente. Isso de certa forma também aconteceu com o filme. Kubrick queria mandar a mensagem do livro original para as telas de cinema, mas novamente não foi bem interpretado. Nesse processo criou-se uma grande polêmica que de certa forma segue ainda nos dias de hoje.

E essa acabou sendo a marca principal dessa controvertida obra de Kubrick. Mesmo após tantos anos de seu lançamento o impacto ainda continua, pois "Laranja Mecânica" continua despertando ódios e paixões na mesma intensidade. Para muitos especialistas na filmografia do diretor a película não é a obra prima definitiva do cineasta, mas certamente é um de seus filmes mais intrigantes e complexos. A trama pode até soar absurda, vulgar e ofensiva para muitos, porém esse é o tipo de filme em que sua verdadeira riqueza não está na superfície do que se vê nas telas, mas sim em seu subtexto, naquilo que o diretor quis passar para o público.

A trama começa mostrando um grupo de jovens rebeldes cujos interesses podem ser resumidos em ultra violência, sexo e música clássica, não necessariamente nessa ordem. Os jovens não possuem qualquer perspectiva de futuro e por isso passam todo o seu tempo barbarizando a civilização, tal como imposta por um Estado opressor. Assim invadem uma casa, estupram uma mulher na frente de seu marido, espancam, humilham e colocam para fora todos os seus instintos mais viscerais, selvagens e obtusos. Kubrick capta tudo, como se estivesse até mesmo tendo prazer em mostrar aquilo. Ele transforma os atos irracionais de seus personagens em uma opereta insana.

A violência extrema de “Laranja Mecânica” chocou o público em seu lançamento (aliás choca até hoje). O diretor teve que lidar com uma saraivada de críticas e ofensas e muitas pessoas abandonaram a sala com menos de 20 minutos de exibição. De fato não há como negar que é um filme extremo, que mexe com os instintos mais básicos do público. Muitos se sentiram ofendidos e o filme enfrentou problemas em alguns países. Aqui no Brasil ele foi censurado por anos. Em plena ditadura militar a obra foi considerada grotesca e até pornográfica. Nas cenas de nudez a censura mandou colocar "bolinhas saltitantes" em cima das genitálias femininas das personagens, mesmo sendo o filme proibido para menores de 18 anos. E isso após muito esforço para lançar o filme em nossos cinemas. Até mesmo porque sua mensagem contra regimes autoritários ia contra tudo o que a ditadura militar no Brasil representava.

Na verdade “Laranja Mecânica” é um manifesto contra a opressão, o autoritarismo e a invasão das liberdades individuais por um Estado de exceção. Kubrick faz uma dura crítica aos meios repressivos mais incisivos. Isso é bem demonstrado quando os delinquentes do filme são capturados e começam a passar por uma verdadeira lavagem cerebral onde seus valores são todos trocados pelos valores que o Estado entende ser os adequados. O indivíduo é apagado, virando um reflexo amorfo da coletividade estatal, forte, onipresente, incontrastável. É realmente uma pena que poucas pessoas tenham entendido essa mensagem na época (e muitas não entenderam até hoje). No meio de tudo fica apenas o registro da genialidade do excêntrico Kubrick, que não estava preocupado em agradar a ninguém a não ser ele mesmo e sua arte.

Laranja Mecânica (A Clockwork Orange, Estados Unidos, Inglaterra, 1971) Direção: Stanely Kubrick / Roteiro: Stanley Kubrick, baseado no livro de Anthony Burgess / Elenco: Malcolm McDowell, Patrick Magee, Michael Bates / Sinopse: Em um futuro indeterminado um grupo de jovens delinquentes caem nas garras de um Estado opressor que começa um sistema de lavagem cerebral para mudar sua forma de pensar e se comportar. Filme indicado ao Oscar nas categorias de Melhor Filme, Roteiro, Direção e Edição. Indicado ao Globo de Ouro nas categorias de Melhor Filme - Drama, Melhor Direção e Melhor Ator (Malcolm McDowell).

Pablo Aluísio.

domingo, 19 de janeiro de 2020

Lolita

É interessante notar que mesmo tendo sido diretor por várias décadas, Stanley Kubrick dirigiu poucos filmes. No total foram apenas 16 direções assinadas por ele. Em quatro décadas de trabalho ele de fato dirigiu poucos filmes. Passou longe de ter uma filmografia extensa. Acontece que Kubrick ficava trabalhando nos roteiros por anos e anos. E só depois de muito pensar, finalmente assinava um contrato com os estúdios de cinema. E por ficar muito tempo sem ter novos filmes, cada vez que algo dele chegava aos cinemas chamava bastante atenção dos críticos e cinéfilos. Em 1962 ele chocou a todos quando seu novo filme chegou nos cinemas da Europa e Estados Unidos. Era uma adaptação da controversa e polêmica obra escrita por Vladimir Nabokov. O livro havia sofrido ataques por todos os setores da sociedade. Para os mais conservadores o seu texto trazia uma espécie de apologia à pedofilia, mesmo que de forma muito sutil e camuflada.

Stanley Kubrick tinha uma outra visão sobre tudo. Para ele era apenas um filme romântico, embora o casal protagonista estivesse fora dos padrões esperados pelos conservadores. Certamente a jovem adolescente Lolita (Sue Lyon) e o cinquentão Prof. Humbert Humbert (James Mason) não estavam dentro do que se esperaria de um casal na época. Um homem de sua idade se relacionar com uma ninfeta como Lolita era mesmo um escândalo. O curioso é que a obra de Vladimir Nabokov ainda hoje causa muita controvérsia. Penso inclusive que nos dias atuais o filme (e o livro) despertem ainda mais incômodo, porque afinal o politicamente correto jamais aceitaria um enredo como o que vemos por aqui.

Stanley Kubrick tinha bastante receio de adaptar esse livro para o cinema, não por causa dos padrões morais que ele infringia, mas sim porque em sua opinião seria muito complicado achar uma atriz para interpretar Lolita. Ela tinha que ser uma adolescente com certo ar ainda infantil, mas ao mesmo tempo ter muita malícia. Levar isso para o público não seria fácil. Para sorte de Kubrick ele acabou achando a atriz certa. A loirinha Sue Lyon acabou sendo a escolha perfeita. Ela não apenas era linda, como também era uma ótima atriz! Ela já tinha 18 anos quando fez o filme, mas com traços de menina mais jovem, convencia plenamente como Lolita. James Mason também se arriscou. Mesmo contra a vontade de seu agente ele aceitou fazer o filme. Outro destaque vem da presença do comediante Peter Sellers, aqui em um papel até mesmo bem perturbador. Nada de humor em seu personagem. Enfim, se você gosta do cinema de Stanley Kubrick esse filme se torna indispensável. Caso a história seja um pouco fora dos padrões de sua moralidade pessoal, então basta ignorar o filme como um todo. Caso contrário não deixe de assistir.

Lolita (Lolita, Estados Unidos, Inglaterra, 1962) Direção: Stanley Kubrick / Roteiro: Stanley Kubrick, Vladimir Nabokov, baseado na obra de Vladimir Nabokov / Elenco: James Mason, Sue Lyon, Shelley Winters, Peter Sellers / Sinopse: Escritor cinquentão fica perdidamente apaixonado por uma adolescente chamada Lolita. Ele tenta superar de todas as formas a atração que sente pela jovem, mas acaba cedendo aos seus desejos, ainda mais depois de perceber que ela também se mostra interessada em seus avanços. Filme indicado ao Oscar na categoria de Melhor roteiro adaptado.

Pablo Aluísio. 

segunda-feira, 13 de novembro de 2017

Barry Lyndon

Resolvi rever esse filme de Stanley Kubrick. Eu já tinha assistido há muitos anos, ainda nos tempos do VHS e como tenho a intenção de rever toda a filmografia do gênio Kubrick decidi começar essa maratona justamente por essa produção. É um filme de época, passado no século XVIII, na Europa marcada por guerras sem sentido e rivalidades entre as nações. O personagem central é um jovem irlandês chamado Redmond Barry (Ryan O'Neal). Ele é um rapaz romântico, levemente bobo, pobre, sem muita experiência de vida. Acaba se apaixonando pela prima, mas essa arrasta suas asas para um velho militar inglês. A garota é uma oportunista. Barry porém cego pela paixão se sente ultrajado e desafia o inglês para um duelo. Isso vai mudar sua vida para sempre.

Depois de atingir o rival ele precisa ir embora, pois naquela época matar um militar inglês era um crime de traição, punido com morte. Viajando ganha o mundo, ou melhor dizendo, a Europa. Sem possibilidade de ganhar a vida pois é muito jovem e não tem profissão, acaba indo parar em um regimento inglês que está prestes a atravessar o Canal da Mancha para enfrentar os franceses. No campo de batalha se revela um militar vacilante, que decide desertar de seu batalhão. Outro crime, outro motivo para fugir sem destino. Acaba roubando roupas de um militar prussiano e com essa nova farda vai até o campo inimigo onde termina até mesmo condecorado!!! E a trama assim vai avançando, com Barry sempre atrás de oportunidades, ora ganhando a vida como jogador de cartas (enganando seus adversários com truques na manga), ora cortejando uma jovem casada com um velho rico e decrépito, com um pé na cova! Obviamente Barry fica na espera de colocar as mãos na fortuna que o marido dela vai deixar.

Kubrick explora com esse roteiro a sordidez humana. Seu protagonista não é um herói, tampouco alguém digno de admiração. É apenas um sujeito de origem humilde, pobre, que tenta sobreviver em um mundo de castas sociais, de nobreza, onde sem um título você não era absolutamente ninguém, por mais que se esforçasse para vencer na vida. Sem muitas alternativas decide tentar de tudo, até mesmo jogando sujo. Ryan O'Neal era até um bom ator, mas penso que o filme ganharia muito com outro ator mais talentoso. Fiquei imaginando Jack Nicholson nesse tipo de papel. Iria ser algo memorável. Mesmo assim Kubrick fez um belo filme. É uma obra cinematográfica longa, que exige fôlego do espectador, pois são quase três horas de duração. O roteiro afinal conta praticamente toda a vida de Barry, da lama pobre da Irlanda até as mais luxuosas cortes da Europa, onde o vício e a perversão imperavam. Um personagem para quem os fins justificavam os meios.

Barry Lyndon (Estados Unidos, 1975) Direção: Stanley Kubrick / Roteiro: Stanley Kubrick, baseado no romance escrito por William Makepeace Thackeray / Elenco: Ryan O'Neal, Marisa Berenson, Patrick Magee / Sinopse: O filme conta a história de Redmond Barry (Ryan O'Neal), um jovem pobre nascido na Irlanda, que após atirar em um militar inglês durante um duelo parte para o continente europeu, onde vive muitas situações inusitadas, sempre procurando subir na vida, custe o que custar. Filme vencedor do Oscar nas categorias de Melhor Fotografia (John Alcott), Melhor Direção de Arte (Ken Adam, Roy Walker), Melhor Figurino (Ulla-Britt Söderlund, Milena Canonero) e Melhor Música (Leonard Rosenman). Também indicado ao Oscar nas categorias de Melhor Filme, Melhor Direção (Stanley Kubrick) e Melhor Roteiro Adaptado (Stanley Kubrick). Vencedor do BAFTA Awards nas categorias de Melhor Direção (Stanley Kubrick) e  Melhor Fotografia (John Alcott).

Pablo Aluísio.

domingo, 23 de outubro de 2016

De Olhos Bem Fechados

Stanley Kubrick foi inegavelmente um gênio da história do cinema. Infelizmente sua despedida da sétima arte deixou bastante a desejar. Em 1999 o cineasta realizou seu último filme "Eyes Wide Shut" (que no Brasil recebeu o título de "De Olhos Bem Fechados"). Era um drama com toques eróticos estrelado pelo casal Tom Cruise e Nicole Kidman. Como Kubrick faleceu antes da estreia do filme criou-se uma sensação de que estava por vir mais uma obra prima do diretor, a sua obra prima final. Os críticos criaram muitas expectativas e o público (pelo menos aquele formado por cinéfilos mais interessados na história do cinema) prestigiaram a chegada da película nas telas. Posso dizer, com conhecimento de causa, que a expectativa alta logo se transformou em decepção amarga. Nem os mais fervorosos fãs da obra de Kubrick conseguiram esconder o desapontamento. O filme se revelava na tela inconclusivo, arrastado e até mesmo chato. Pior do que isso, sua carga de erotismo, que deveria seu forte, se revelava pífia, sem sedução alguma.

Kubrick parecia interessado em explorar o mundo de uma sexualidade mais doentia, misteriosa, fora dos padrões. Em alguns momentos até conseguiu captar algumas belas cenas, tudo valorizado por uma bonita direção de arte, mas foi pouco para quem estava esperando um grande filme.A reação negativa do filme também não se limitou ao círculo restrito ao público que pagou e se decepcionou com o resultado. O próprio casal que estrelou o filme viu sua relação ser abalada, tudo desencadeando para o divórcio. Alguns afirmam que Kidman teria reclamado da exposição a que foi submetida (ela tinha cenas de nudez), mas outros acreditam que Tom Cruise se separou dela apenas por motivos financeiros. A poucas semanas dela ter direito à metade de sua fortuna (algo que teria sido estabelecido em uma cláusula contratual de seu casamento), Cruise teria encerrado o relacionamento. Enfim, ao que parece a experiência de "Eyes Wide Shut" acabou não sendo boa para absolutamente ninguém.

Pablo Aluísio. 

domingo, 29 de maio de 2016

Nascido Para Matar

Na segunda metade dos anos 80 houve todo um ciclo de filmes tratando sobre a Guerra do Vietnã. Além do premiado Platoon tivemos também outro grande filme sobre o tema: Nascido Para Matar. Dirigido pelo mestre Stanley Kubrick e baseado no livro de Gustav Hasford o filme era na verdade uma denúncia ao militarismo americano. O roteiro tinha dois atos básicos. O primeiro seria focado no treinamento de um grupo de fuzileiros militares (marines). Numa base militar um sargento durão (interpretado pelo ótimo R. Lee Ermey) levava seus homens ao limite, até o momento em que um deles perdia completamente o controle, indo para as raias da loucura e da insanidade. É interessante essa parte inicial do filme pois explorava como os militares procuravam suprimir completamente as individualidades e a personalidade de cada soldado. Uma maneira de transformá-los em máquinas de guerra, sem remorso, consciência ou senso crítico.

Depois daquela tragédia aqueles mesmos jovens eram então levados para o inferno do Vietnã. A linha de ligação entre os dois atos vinha na presença do praça Joker' Davis (Matthew Modine). Ele almeja ser correspondente de guerra, mas precisa também colocar a mão na massa no front, enfrentando todos os tipos de desafios, inclusive uma sniper vietcongue. Nesse segundo ato o diretor Kubrick coloca uma desesperança, um clima sórdido e até mesmo mesmo desesperador, investindo em uma fotografia escura, vermelha, como se estivesse fazendo uma alegoria com o sangue daqueles homens que seguem sendo abatidos como gado no matadouro. De todos os dramas de guerra que foram lançados nesse período, "Nascido Para Matar" foi um dos mais festejados. Um filme cru e áspero que não abria margem a concessões ou meias verdades. A intensidade de Kubrick fez toda a diferença do mundo. Brilhante.

Pablo Aluísio. 

sexta-feira, 15 de abril de 2016

Spartacus

Título no Brasil: Spartacus
Título Original: Spartacus
Ano de Produção: 1960
País: Estados Unidos
Estúdio: Universal Pictures
Direção: Stanley Kubrick
Roteiro: Dalton Trumbo, Howard Fast
Elenco: Kirk Douglas, Laurence Olivier, Jean Simmons, Peter Ustinov, Tony Curtis, Charles Laughton, John Gavin, John Ireland 

Sinopse:
Durante a República da Antiga Roma, um escravo chamado Spartacus (Kirk Douglas), treinado para ser um gladiador nas arenas de combate, resolve liderar uma Insurreição contra a escravidão, levantando um verdadeiro exército de escravizados contra o poder de Roma. Para deter a rebelião o senado romano envia o general Crassus (Laurence Olivier) com a missão de aniquilar todos os revoltosos. Filme vencedor do Oscar nas categorias de Melhor Ator Coadjuvante (Peter Ustinov), Melhor Fotografia, Direção de Arte e Figurino. Filme vencedor do Globo de Ouro na categoria de Melhor Filme - Drama.

Comentários:
Ainda considerado um dos grandes clássicos épicos da história do cinema americano, "Spartacus" é uma verdadeira obra prima. Curiosamente foi um projeto bem pessoal do ator Kirk Douglas que via grande potencial na famosa história do escravo Spartacus, que ousou liderar a maior rebelião em busca da liberdade da Roma Antiga. Para transformar o projeto em um grande filme ele resolveu contratar o roteirista Dalton Trumbo que na época estava na lista negra da caça às bruxas em Hollywood. Douglas não se importou e teve a coragem de trazer o escritor para o filme. Adaptando a novela de Howard Fast ele criou um texto magnífico que daria origem a um enredo edificante e muito inspirado. Apesar de ter três horas de duração nunca se torna cansativo ou enfadonho, fruto do grande trabalho de Trumbo. Além dele o filme ainda contou com a primorosa direção de Stanley Kubrick, naquele que pode ser considerado o único épico histórico de sua carreira. O diretor foi minucioso na recriação do modo de vida dos romanos da época, estudando a fundo os mosaicos que sobreviveram ao tempo. Um historiador foi inclusive contratado atendendo uma sugestão de Kubrick que sempre foi um perfeccionista. Some-se a isso um elenco de primeira linha contando com Kirk Douglas em grande forma física, Peter Ustinov como o dono da casa de Batiatus (ele seria premiado com o Oscar por sua atuação), Laurence Olivier como o astuto general e político romano Crassus e Tony Curtis interpretando o escravo Antoninus, menestrel e declamador de poesias. Sua cena no banho ao lado de Olivier se tornou famosa por causa das claras insinuações homossexuais entre os dois personagens. A película sofreu uma restauração em 1991 resultando em uma versão com 10 minutos a mais de projeção, seguindo os planos iniciais de Kubrick. Em suma "Spartacus" merece todo o status que possui pois é de fato um dos grandes filmes da história.

Pablo Aluísio.

sexta-feira, 7 de novembro de 2014

2001 - Uma Odisséia no Espaço

Título no Brasil: 2001 - Uma Odisséia no Espaço
Título Original: 2001: A Space Odyssey
Ano de Produção: 1968
País: Estados Unidos
Estúdio: Metro-Goldwyn-Mayer (MGM)
Direção: Stanley Kubrick
Roteiro: Stanley Kubrick, baseado na obra de Arthur C. Clarke
Elenco: Keir Dullea, Gary Lockwood, William Sylvester, Daniel Richter

Sinopse:
Durante uma missão espacial rumo ao planeta Júpiter, dois astronautas entram em confronto com o computador HAL 9000 que controla todo o sistema operacional da espaçonave, colocando em lados opostos o pensamento humano contra a lógica e racionalidade da máquina. Filme indicado aos Oscars de Melhor Direção (Stanley Kubrick), Roteiro e Direção de Arte. Vencedor do Oscar na categoria de Melhores Efeitos Especiais. Vencedor do BAFTA Awards nas categorias de Melhor Fotografia e Direção de Arte. Indicado ainda nas categorias de Melhor Filme e Direção. 

Comentários:
Para muitos esse seria o maior clássico da ficção científica de todos os tempos. Esse título por si só já daria ao filme o status de obra imortal, porém como se trata do gênio Stanley Kubrick temos que elevar ainda mais sua importância. Na verdade além de ser uma ficção clássica, o filme "2001: A Space Odyssey" também pode ser encarado como um drama sobre a fragilidade do sentimento humano e sua luta para superar a racionalidade técnica e científica (aqui incorporada pelo personagem HAL 9000, que com argumentação impecável, mostra como o ser humano é uma entidade frágil, incoerente e primitiva, isso analisando-se tudo sob uma ótica puramente lógica e racional). Além do duelo homem versus máquina o roteiro primoroso de Kubrick também abre margem para um intenso debate de fundo filosófico e metafísico sobre as barreiras dimensionais que existem dentro do universo. O final, que segue incompreendido por muitos até hoje, é um reflexo dessa pretensão de Kubrick em ir muito além do simples convencional. Não existiram barreiras para o que ele desejava transmitir com sua mensagem. O diretor não aceitou abrir concessões ao seu projeto original e indo contra as próprias orientações da MGM resolveu levar até as últimas consequências sua visão muito particular sobre esse tema. Por essa razão não é uma obra fácil e acessível a todos os públicos. Kubrick exige do espectador um certo background cultural e científico para conseguir entender todas as nuances que expõe e desfila na tela. O resultado de tanto empenho é de fato uma produção que segue sendo discutida até os dias atuais. Uma prova cabal da importância da sétima arte dentro do pensamento humano. É a obra prima definitiva do mestre Kubrick.

Pablo Aluísio.

sexta-feira, 6 de junho de 2014

Nascido Para Matar

Título no Brasil: Nascido Para Matar
Título Original: Full Metal Jacket
Ano de Produção: 1987
País: Estados Unidos
Estúdio: Warner Bros
Direção: Stanley Kubrick
Roteiro: Stanley Kubrick
Elenco: Matthew Modine, R. Lee Ermey, Vincent D'Onofrio

Sinopse:
Jovens americanos se preparam para entrar em combate durante a Guerra do Vietnã. Sob ordens de um sargento linha dura, eles são submetidos a todo tipo de pressão física e mental. Apenas os fortes resistirão a esse desafio. Filme indicado ao Oscar na categoria Melhor Roteiro Adaptado. Também indicado na mesma categoria no Globo de Ouro, onde venceu na categoria Melhor Ator Coadjuvante (R. Lee Ermey). "Full Metal Jacket" foi o penúltimo filme da carreira do cineasta Stanley Kubrick.

Comentários:
Esse foi o último grande filme da carreira do genial Stanley Kubrick. Para muitos também é a melhor produção do chamado ciclo do Vietnã, uma série de filmes feitos sobre o conflito que começaram a surgir nas telas em meados dos anos 80. Não é para menos. Kubrick dividiu a trama de seu roteiro em dois atos bem claros. No primeiro acompanhamos o duro treinamento de um grupo de soldados, levando um deles à beira da insanidade completa. No segundo ato já temos os recrutas em plena guerra, tendo que enfrentar os desafios de uma batalha que nunca parecia ter fim. Em um momento crucial acabam ficando na mira de um atirador de elite das forças vietcongues. Kubrick se mostra genial em todos os momentos da película. Dono de um estilo maravilhoso no que toca ao poder de domínio sobre a narrativa, ele consegue expor a loucura do Vietnã de forma magistral. O enredo foi baseado na novela de Gustav Hasford mas, como sempre acontecia com o genial cineasta, ele usou isso apenas como ponto de partida para seu script, que se mostra extremamente atual e relevante. Em termos de elenco quem acaba se destacando mesmo é R. Lee Ermey que interpreta o sargento durão Hartman. O curioso é que Ermey era de fato um militar, o que trouxe ainda mais veracidade no que vemos na tela. Em suma, uma verdadeira obra prima cinematográfica com a assinatura do gênio Stanley Kubrick! Precisa dizer mais alguma coisa?

Pablo Aluísio.

sábado, 22 de fevereiro de 2014

De Olhos Bem Fechados

Título no Brasil: De Olhos Bem Fechados
Título Original: Eyes Wide Shut
Ano de Produção: 1999
País: Estados Unidos
Estúdio: Warner Bros
Direção: Stanley Kubrick
Roteiro: Stanley Kubrick, Frederic Raphael
Elenco: Tom Cruise, Nicole Kidman, Todd Field

Sinopse:
Dr. William Harford (Tom Cruise), um médico de Nova York, que é casado com uma curadora de arte, Alice Harford (Nicole Kidman), resolve descobrir o limite de seu relacionamento com a esposa ao experimentar a liberdade sexual e moral de um perigoso jogo de sexo, poder e sedução, numa longa noite de excessos pela cidade.

Comentários:
O último filme do mito Stanley Kubrick. Ao que tudo indica Cruise não deixaria passar a oportunidade de estrelar um filme dirigido pelo famoso cineasta, mesmo que o roteiro e o argumento não fossem lá grande coisa. Ao lado da esposa (na terceira e última atuação juntos no cinema) Cruise se despiu de vaidades, aceitando protagonizar ousadas cenas de sexo e sensualidade (para um astro de seu status, é claro). Após uma conturbada filmagem o filme foi lançado com reações adversas. Muitos não gostaram do resultado final e consideram a pior obra da filmografia do gênio Kubrick. Uma coisa porém é certa, mesmo não sendo unanimidade o filme segue como um dos mais marcantes da filmografia de Tom Cruise. Se do ponto de vista profissional o filme virou uma referência para o ator, no aspecto profissional as coisas não foram tão bem. O relacionamento com sua esposa, Nicole Kidman, se deteriorou bastante, o que causaria o rompimento definitivo entre eles pouco tempo depois. Para alguns, a atriz culpava Cruise por ele ter deixado que ela se expusesse em demasia no filme, em uma concessão descabida, supostamente dada à genialidade de Kubrick. E por falar em genialidade, o mestre Kubrick mostra aqui claros sinais de desgate, falta de novas ideias e saturação. Ele parece querer se esconder atrás da imagem de seu próprio mito mas em vão. "Eyes Wide Shut" é uma obra opaca, sem vida, que tenta desesperadamente se apoiar em cenas chocantes e escandalosas para lhe dar algum sentido artístico. Os esforços porém soam sem resultado. Se não houvesse a assinatura de Stanley Kubrick nos créditos o filme certamente seria massacrado ainda mais pela crítica em seu lançamento. Hoje seria ignorado, certamente. Não foi um canto de cisne à altura de um mito do cinema como Stanley Kubrick, infelizmente.

Pablo Aluísio.

terça-feira, 30 de abril de 2013

O Iluminado

Outro grande clássico do cinema baseado em um livro de autoria do mestre Stephen King. Aqui o cenário é desolador, um hotel isolado em baixa estação, durante um rigoroso inverno. É para lá que vão Jack Torrence (Jack Nicholson) e sua familia. Após o lugar ficar completamente isolado durante uma tempestade de neve tudo começa a mudar. O que começa como um trabalho normal, de rotina, logo se revela assustador pois o grande hotel parece ter vida própria, com várias manifestações sobrenaturais ocorrendo pelos corredores. Jack também começa a manifestar um comportamento fora do comum, obviamente influenciado por forças que não consegue compreender. Vários são os motivos que tornaram “O Iluminado” uma obra prima. Todo filme é a soma dos talentos envolvidos e aqui certamente não faltam grandes nomes. A direção de Stanley Kubrick é, como sempre, inovadora e assustadoramente perturbadora. O cineasta conseguiu criar um excelente clima sombrio utilizando-se apenas dos cenários daquele imenso local que a todo momento parece esconder algo misterioso. Kubrick não cai em armadilhas fáceis e aposta em um terror psicológico, soturno. Também se utiliza com extrema inteligência da chamada câmera subjetiva, onde o espectador se coloca numa visão em primeira pessoa. Andar por aqueles corredores, vendo tudo como um espectador privilegiado (e aterrorizado) fez toda a diferença do mundo.

Além da direção inspirada “O Iluminado” conta com a preciosa e insuperável interpretação de Jack Nicholson. É fato que esse livro já ganhou várias adaptações depois dessa mas nenhuma conseguiu superar a sobrenatural atuação de Nicholson. Seu personagem começa a estória como um bom homem, equilibrado, que vai aos poucos perdendo a razão, se tornando obcecado, submerso em si mesmo, até beirar as raias da loucura completa. Apenas um grande ator conseguiria trazer para as telas a profundidade de um papel assim e Nicholson, talentoso como sempre foi, consegue isso com rara sensibilidade. Por fim temos que elogiar o texto original de Stephen King. Aqui em seu trabalho ele conseguiu criar uma obra assustadora, muito eficiente no quesito sustos e medo, mas também com uma bela trama em aberto, que leva o espectador / leitor a parar para pensar e entender tudo aquilo que assistiu / leu. O final, que Kubrick soube utilizar com raro brilhantismo, reflete muito bem esse aspecto. Em suma, “O Iluminado” é certamente um dos maiores filmes de terror já feitos. Essencial na coleção de todo fã do gênero que se preze.

O Iluminado (The Shining, Estados Unidos, 1980) Direção: Stanley Kubrick / Roteiro: Stanley Kubrick, Diane Johnson, baseados no livro The Shining de Stephen King / Elenco: Jack Nicholson, Shelley Duvall, Danny Lloyd, Scatman Crothers / Sinopse: Escritor e sua família ficam completamente isolados em um hotel fora de estação durante uma tempestade de neve. Presos no local logo começam a notar o surgimento de várias manifestações sobrenaturais no local.

Pablo Aluísio.

terça-feira, 23 de abril de 2013

Glória Feita de Sangue

Provavelmente seja o melhor filme já realizado enfocando a I Guerra Mundial. Esse foi um conflito terrível onde as batalhas eram travadas por meses a fio, sem movimentação, em trincheiras imundas e enlameadas onde as tropas literalmente apodreciam de doenças e frio enquanto os oficiais do alto comando viviam em ambientes luxuosos, verdadeiros palacetes, se auto reverenciando com suas medalhas sem honra. Stanley Kubrick criou uma obra prima a partir de uma estória até mesmo simples mas muito significativa. Na trama uma ordem sem qualquer base na realidade é passada entre os oficiais sedentos por novas condecorações e promoções. A meta é tomar uma posição praticamente inexpugnável em uma colina íngreme e fortemente defendida pelo exército inimigo. O grande Kirk Douglas interpreta o Coronel francês Dax que acaba tendo que cumprir as ordens provenientes de dois generais sem qualquer contato com a realidade do front. Ele sabe que o ataque é impossível em vista da situação de seus homens mas tem que ir em frente para cumprir as ordens de seus superiores.

Na hora do ataque uma parte dos soldados franceses simplesmente se recusa a avançar por ser um ato praticamente suicida. Em vista disso uma corte marcial é instaurada, com soldados inocentes sendo levados para a pena capital como meros bodes expiatórios. Stanley Kubrick, de forma genial, expõe as vísceras do exército francês durante o conflito. Generais insanos, embriagados em sua própria glória infame, tenentes covardes, soldados abandonados à própria sorte e um Coronel tentando a todo custo trazer de volta a verdadeira honra para as fileiras de um alto comando condenado do ponto de vista moral. O roteiro é um primor e foge completamente da fórmula dos filmes da época, evitando sempre cair na armadilha fácil e boba do patriotismo ufanista, erguendo ao invés disso uma bandeira de realismo que soa completamente revolucionária para os filmes de guerra daqueles anos. No final não sobra pedra sobre pedra. O filme no fundo mostra a pior situação que um bom soldado pode se encontrar numa guerra, quando seu comando é completamente inepto e enlouquecido. Um filme muito atual e completamente essencial para quem gosta do gênero. Obra prima certamente.

Glória Feita de Sangue (Paths of Glory, Estados Unidos, 1957) Direção: Stanley Kubrick / Roteiro: Stanley Kubrick, Calder Willingham / Elenco: Kirk Douglas, Ralph Meeker, Adolphe Menjou / Sinopse: Durante a Primeira Guerra Mundial um General francês almejando subir ainda mais na hierarquia militar promove um ataque suicida sem qualquer possibilidade de sucesso. O desastre acaba levando alguns soldados à corte marcial acusados injustamente de covardia. Para defende-los um Coronel ético e idealista tenta evitar que sejam executados por não terem levado em frente aquelas ordens superiores sem qualquer base na realidade do front.

Pablo Aluísio.