sábado, 5 de dezembro de 2009

Patrulha Policial

Cap. I - Cemitério de Ossos
O xerife Tom Oxford foi até o cemitério. Seu objetivo era acompanhar o enterro da chamada "Assassina das Estradas", uma prostituta violenta que matava clientes e quem mais cruzasse seu caminho. Oxford queria monitorar para ver quem comparecia. Talvez um comparsa, um sócio do crime. Ele queria dar uma dura em quem aparecesse no enterro. Ninguém apareceu, nem o padre para encomendar o corpo podre daquela criminosa. Um coveiro apenas foi ao local. Para surpresa de Oxford ela foi enterrada como indigente. Sem direito a caixão. O corpo enrolado em um lençol, ou melhor dizendo, uma mortalha, foi jogada na terra crua.

O policial Oxford acendeu um cigarro. As primeiras pás de terra foram jogadas no corpo. Oxford então foi girando o corpo, em 360 graus, para dar uma geral no cemitério. Talvez alguém estivesse escondido entre as árvores. Talvez uma prostituta conhecida da assassina. Porém tudo o que ele viu foram corvos, daqueles de asas bem negras, acompanhando o funeral. Provavelmente as aves, em seus instintos, acreditassem que o corpo da assassina fosse deixado ao céu aberto. Seira uma boa refeição para aquelas figuras aladas. Elas e seus primos, os abutres, certamente teriam um banquete.

Por Oxford a assassina teria sido deixada no bosque para apodrecer, tal como havia acontecido com algumas de suas vítimas, senhores de idade que pagavam por companhia e algum carinho feminino. Só que ao invés disso sentiram uma bala atravessar seus crânios calejados pelo tempo. Para o xerife veterano havia o mal no mundo. Essa psicopata que estava sendo enterrada era parte desse mal. E como o bem deveria sempre vencer, ela teria que ser eliminada mesmo, de qualquer jeito. Para o mal prevalecer bastava apenas que o bem ficasse de braços cruzados. Não era o caso de Oxford. Ele sempre poderia mandar uma bala no mal. Sempre que isso fosse necessário.

O coveiro avisou que o trabalho estava feito. Ela estava enterrada. Agora seria comida de decompositores em geral. Vermes, bactérias, seres microscópios teriam o que comer. Não era curioso? Era o ciclo da vida. A morte de alguns significava a vida para outros. A carcaça da assassina era panetone de natal, peru do dia de ação de graças, pernil de ano novo. Para seus iguais, era apenas carne apodrecida pelo crime, que deveria ser esquecida para todo o sempre. Que o Diabo, esse ser da mitologia cristã, a carregasse nos braços até os portões do inferno.

Oxford pigarreou. Ele tinha esse problema de garganta. Poderia ser bem irritante para quem não o conhecia. Para quem era íntimo significava que ele estava estressado. O pigarro era seu jeito de dizer "Que merda de vida". Pois é, o velho xerife estava pronto para mais um dia de trabalho. A criminosa estava enterrada. Terra para todo lado, nos braços, nas pernas, no rosto, no cabelo, nos olhos. Ela já era! Página virada, assunto encerrado. Agora era chegado o momento de seguir em frente. Prender alguns maconheiros, dar um corretivo nos vagabundos. Vida que segue. 

Cap. II - O Inseto
A rotina policial de um xerife numa cidade do interior não se diferenciava muito do cotidiano que um homem da lei em um passado recente. Alguns dias passavam em branco, sem nenhum chamado. Em outros havia um ou outro caso mais fora dos padrões, como por exemplo, resgatar cobras venenosas que apareciam nos quintais das pessoas. Era um trabalho variado. Naquela cidade os crimes nao eram de maior importância. Na maioria das vezes eram meras contravenções penais. Nem chegavam a crime.

Na categoria crimes havia bastante ocorrências dos chamados crimes menores, tais como dano, brigas, bebedeiras, ofensas pessoais. Em um bar cheio de trabalhadores braçais as coisas poderiam sair um pouco do controle quando dois valentões,  já embriagados, se olhavam torto entre si. As menores coisas poderiam dar origem a brigas generalizadas. Um esbarrava no outro. Esse não gostava. Soltava uma piadinha... pronto, socos cruzados, garrafas quebradas, dentes caindo pela boca. Era assim no interior.

A cidade ficava na Rota 66, então era comum a chegada de forasteiros, alguns fugitivos de outras cidades. Geralmente esses criminosos de alta patente passavam direto pelas ruas da cidade. Não queriam problemas. Mas como tudo na vida havia algumas exceções que terminavam em problemas mais complexos. Foi assim no caso da Assassina das estradas. Ela fugiu e foi parar ali na jurisdição do xerife Oxford. E quando isso acontecia ele tinha que sair da zona de conforto. Fazer valer o brilho de sua estrela de homem da lei.

Na década de 1940 chegaram as drogas em larga escala. A rota 66 virou rota de tráfico de drogas entre as costas oeste e leste. Virou um corredor nacional para grandes quadrilhas de traficantes. E onde havia drogas, havia a máfia italiana. Os chefões mais velhos, que não queriam envolvimento com o tráfico de drogas, foram perdendo espaço para os mais jovens que ansiavam pelo dinheiro que esse mercado gerava. Nessa luta de poder dentro da máfia muitos chefões de famílias tradicionais foram mortos. Alguns com requintes de crueldade, fuzilados.

O xerife Oxford sabia que mais cedo ou mais tarde iria ter problemas com essa gente. Numa manhã de domingo, em um dia que havia tudo para ser tranquilo, ele viu um carrão com placa de Nova Iorque atravessar a principal rua da cidade. Em sua mente ficou torcendo para que eles passassem direto pela cidade, mas para seu azar o carro parou.

As quatro portas do carro se abriram. Eram todos italianos. Dava para perceber pelas roupas e pela pinta de mafiosos que exibiam. Então desceu o chefe deles. O xerife ficou vendo tudo de longe. O "capo" entre eles lhe chamou a atenção imediatamente. Ele jurava que já tinha visto aquele homem antes. Cabelo puxado para trás com brilhantina. chapéu Panamá de estilo, roupas impecáveis. Eram criminosos, mas bandidos que se vestiam muito bem.

Oxford pensou em ir até lá para saber o que eles queriam. Mas depois desistiu. Aqueles homens não tinham feito nada fora da lei. Apenas pararam na cidade. Compraram cigarros na banca de jornais e olharam em volta. O Xerife estava estrategicamente atrás de um poste, para não chamar a atenção. Porém ele não tirava os olhos daqueles homens. Até que sua memória lhe deu a resposta que vinha martelando em sua mente. Sim, ele conhecia aquele homem. Ele já tinha visto cartezes de "procura-se" com aquele sujeito. Era ninguém mais, ninguém menos do que o conhecido mafioso Benjamin Siegel, mais conhecido como Bugsy Siegel, ou melhor dizendo, o "inseto" Siegel. As coisas começavam a complicar.

Cap. III - Companhia de Assassinos
Benjamin Siegel era um assassino profissional da máfia de Nova Iorque. Ninguém sabia ao certo de onde ele viera, quem eram seus pais, quais eram suas origens. Alguns diziam que era judeu. Outros que seus pais tinham imigrado da Polônia. Quem poderia dizer algo com certeza? Ninguém! Bugsy era um assassino e como tal escondia seus rastros. Seu passado era incerto e seu futuro também. Nesse meio tempo ele matava. Nada pessoal, apenas cumpria os serviços pelos quais eram contratado. E ele era conhecido um dos mais eficientes do ramo. Se você quisesse matar alguém, sem deixar pistas e provas, Bugsy era o homem a se contratar.

Embora não tivesse sangue italiano ele era conhecido por ser membro da famosa família mafiosa Genovese. Era longa a lista de serviços sujos que havia feito para esses italianos mafiosos. Sua especialidade porém era uma só: enfiar uma bala no meio da testa de seu alvo. Se esse era um serviço pelos quais os mafiosos pagavam, então Bugsy aceitava o serviço sem problemas. E ele se considerava muito bom naquilo que fazia.

Ele certamente havia saído de Chicago e estava indo em direção a Los Angeles. Dizia-se na boca pequena que iria pegar dinheiro para levar ao deserto de Nevada. Estava construindo um hotel em Las Vegas com o nome de Flamingo. Claro que aquilo tudo era dinheiro da máfia. Os mafiosos procuravam por empreendimentos que lavassem seu dinheiro captado no submundo do crime, ao mesmo tempo em que tentavam abrir negócios legítimos, legais. Era um bando de carcamanos espertalhões.

Ter um bandido como Bugsy em sua cidade era problema na certa. O xerife Tom Oxford sabia disso. Ele queria que aqueles mafiosos fossem embora de sua cidade. Por isso deixou um certo receio de lado e começou a andar em direção aos gângsters. Tom Oxford não tinham poder de fogo para encarar aqueles criminosos, que muito provavelmente tinham várias metralhadoras nos porta-malas de seus carros novinhos em folha.

Então ele foi lentamente em direção aos criminosos. Eles notaram a aproximação do homem da lei. Bugsy, com aquele olhar de peixe morto, foi o primeiro a estender a mão ao xerife. Fingindo ter um sorriso sincero, que no fundo mais parecia a face da morte, ele trocou algumas palavras com o policial.

- Olá oficial, tenha um bom dia! - Disse Bugsy.

Tom Oxford não mostrou simpatia e nem sinais de ser um bom anfitrião. Foi logo tocando no ponto, sendo o mais objetivo possível.

- Olá rapazes. O que fazem por aqui? Estão esperando por alguém?

- Não, não... - Bugsy olhou para seus capangas que estavam atrás de si, dois armários italianos - Estou apenas olhando o céu, que está bonito... É um lindo dia, não é mesmo? O céu está lindamente azul...

- Pretendem ficar por aqui? - Continuou interrogando o xerife

- Calma xerife, não queremos encrenca, estamos só de passagem. Desci do carro para estirar as pernas... respirar um pouco de ar puro... quem sabe... estou vendo o tempo passar, vendo as rodas girarem...

Tom Oxford não gostou nada dos rumos daquela conversa.

- Espero que partam logo... - Falou firmemente Tom.

- Ora, ora, calma lá xerife... temos nossos direitos constitucionais. Não estamos fazendo nada de errado. Temos o direito de ir e vir e também de ficarmos, se quisermos... - Bugsy podia aguentar muita coisa, mas certamente não iria aceitar pressões de um xerife do interior que ele considerava um verdadeiro caipira.

Com aquela resposta Tom Oxford decidiu seguir em frente com sua ronda policial. Ele parou alguns instantes, olhou fixamente nos olhos de Bugsy e terminou o assunto dizendo:

- Pois muito bem. E assim como você possuem seus direitos, eu também possuo os meus. Sou a autoridade policial máxima dessa cidade e não quero  problemas com forasteiros, entenderam? Espero ter sido bem claro.

Bugsy deu um sorriso de puro cinismo. Ele ficou calado, enquanto o xerife se distanciava. Depois virou para seus capangas, disse algo baixinho e todos riram.

Tom Oxford, o xerife, sabia que vinha chumbo quente por aí. 

Cap. IV - As Garotas de Las Vegas
O que Bugsy queria mesmo naquela cidadezinha era recrutar algumas garotas bonitas para que elas fossem trabalhar em Las Vegas como dançarinas e prostitutas. Bugsy sabia que em toda pequena cidade dos Estados Unidos havia garotas lindas e... pobres! Então era só uma questão de jogar a conversa certa, colocar elas dentro de um carro Ford e levar as beldades para a tão conhecida cidade do pecado! O segredo para convencer essas jovens? Ora, o mesmo argumento de sempre: Dinheiro!

Bugsy tinha uma visão de homem de negócios, embora também fosse um criminoso, um assassino profissional à serviço da Máfia. Bugsy racionalizava aquela situação toda da seguinte forma: Qual era o futuro dessas mulheres se ficassem nas cidades onde nasceram? Ora, com alguma sorte iriam casar com algum homem local e com sorte esse homem teria algum emprego qualquer. Elas iriam passar a vida toda lavando e passando a roupa desses sujeitos. Depois iriam passar a outra parte da vida passando e lavando a roupa de seus filhos. Quando chegassem aos 40 anos de idade estavam com a vida acabada!

A beleza teria ido embora, as linhas e curvas da juventude se acabariam e só restaria mesmo uma senhora obesa, fumante inveterada, extremamente frustrada pela vida que teve, odiando o marido por décadas e nada mais. Era um estilo de vida triste esse de mulher casada. E o que aconteceria com elas se fossem para Las Vegas? Ora, seriam mulheres do show business, seriam estrelas do palco, iriam levar a vida dançando, tendo fortes emoções, talvez, quem sabe, iriam cair nas graças de algum milionário do Texas e teriam vida de esposas de fazendeiros pelo resto de suas vidas. Era um destino melhor, vamos falar a verdade.

Com essa narrativa Bugsy convencia todas as garotas a entrarem em seu Cadillac rumo a Vegas. Até porque havia um grande fundo de verdade nas comparações que ele fazia. Muitas daquelas mulheres iriam mesmo desperdiçar suas vidas atrás de um tanque de roupas sujas ou fazendo faxinas eternamente em suas casinhas poeirentas na beira da estrada 66. Se toda vida é uma perda de tempo, pelo menos era melhor perder o tempo restante de suas vidas nos palcos de Las Vegas. Outra coisa: essas meninas tinham mães e elas conheciam melhor do que ninguém sobre o futuro delas. Era o mesmo futuro de suas mães. Uma coisa horrorosa de se pensar.

As mães dessas garotas eram senhoras mal humoradas, que tinham almas enegrecidas pelas experiências ruins de vida. Muitas deles tinham que prover seu próprio sustento porque seus maridos não encontravam trabalho. O desemprego era uma chaga social. E muitos maridos perdiam o tempo de vida se tornando alcoólatras, afogando suas mágoas em bares locais, bebendo para não encarar a vida real, o mundo real. Elas também já tinham presenciado muita violência doméstica, quando seus pais agrediam suas mães dentro de casa.

Com isso tudo Bugsy fazia a festa e podia escolher. Ele costumava brincar dizendo: "Sabe aquela garota que você se está apaixonado na escola? Aquela linda loirinha de olhos azuis que todo fim de semana canta no coral da igreja? E aquela ruivinha maravilhosa, muito dócil e meiga que tem olhos azuis faiscantes? Pois é meu chapa, todas elas estão loucas para trabalharem ao meu lado nos hotéis de Las Vegas!". E dizendo isso ele jogava uma moeda para cima. Não importava se fosse dar cara ou coroa. Uma coisa era certa, nesse jogo Bugsy sempre sairia vencedor. 

Cap. V - Nina, Nina...
O xerife Tom Oxford tinha uma paixão secreta por uma garota chamada Nina Ann Hartley. Baixinha, loirinha, muito bem feita de corpo, com pernas grossas e bumbum de outro planeta. Era uma pequena deusa. Embora de família desestruturada, pois seu pai era um jogador inveterado que geralmente deixava sua família sem ter o que comer, ela procurava levar uma vida, digamos, cristã, de bons modos, de boa conduta.

Pois Bugsy colocou os olhos justamente na pequena Nina. E ficou louco por ela. Seria uma garota para faturar alto em seu cassino em Las Vegas. Ela poderia trabalhar como stripper e também como garota de programa. Para a máfia não importava de onde ela vinha, para onde ela ia e coisas do tipo. Para a máfia só interessava explorar sexualmente aquela garota de alguma forma, fazer dinheiro com suas curvas. Ah, isso sim era o importante.

Tom Oxford ficou maluco quando soube que Bugsy estava tentando colocar as patas justamente naquela garota. Oxford era um homem tímido, que tinha dificuldades de chegar nas mulheres. Ele levou anos para conhecer melhor Nina, dar alguns pequenos presentes e até se considerou muito ousado quando lhe ofereceu flores. Depois de tantos anos a cortejando com todo o cuidado, agora via tudo ruir com a conversa mole de um rato como Bugsy.

E Bugsy agiu rápido e Nina aceitou seu convite também rapidamente. Mulheres que homens pensam que são valorosas, mas que no fundo não passam de mulheres sem muito valor. Acontece muito na vida cotidiana de muitas pessoas. Pouco mais de cinco horas após Bugsy conhecer Nina pela primeira vez e ter trocado as primeiras palavras com ela, a pequena loira já estava em sua cama no pequeno hotel da cidade.

Mulheres, pensava Tom Oxford, se deslumbram facilmente por dinheiro. Bastou Bugsy estacionar seu carrão com placa de Los Angeles perto de Nina para ela se desmanchar completamente. E Bugsy quis conferir tudo o que aquela garota tinha a lhe oferecer em relação a cama. Em pouco tempo estava fazendo anal furioso com ela. Imagine o pobre Tom Oxford, que lhe mandava flores e tímidos recadinhos de paixão quase adolescente. Enquanto ele mordia seu chapéu de policial na frente do hotel, Bugsy lá em cima desfrutava de sua paixão, das formas mais sacanas que se possa imaginar. Não há salvação mesmo para os homens mais inocentes...

Cap. VI - Dor da Alma
O Xerife Oxford ficou furioso com Bugsy. Porém ficou mais decepcionado com Nina. Foi uma dor emocional que atingiu seu coração como uma flecha Apache. Aquele tipo de sentimento que dói na alma, mas que também deixa sequelas físicas. Oxford começou a sentir um pequeno, mas perceptível, desconforto no peito. Poderia ser algo relacionado a uma dor muscular peitoral, mas também poderia ser um problema no coração. Ele nunca havia sentido aquilo antes. No fundo estava arrasado por tudo o que havia acontecido. Também se sentiu um idiota por amar aquela mulher e testemunhar tudo, toda a sordidez dela, em minúcias que ele jamais poderia imaginar. Triste aquilo.

Há tempos o xerife vinha descobrindo a realidade por trás das pessoas. E isso não se referia apenas à Nina. O mesmo acontecia com seus parentes. Ele não era muito próximo deles porque no fundo eram pessoas tóxicas. Alguns deles inclusive tinham tido problemas com a lei. Eram sórdidos na mesma situação que Nina. Pessoas que ele pensava ser até boas pessoas, mas que no fundo da alma eram sujeitos da mais profunda sordidez. Criminosos em potencial, almas fascistas, gente escrota, enfim.

O pior para Oxford é que ele não conseguia colocar as mãos em Bugsy. Sim, ele era um gângster conhecido, tanto  na costa oeste, como na costa leste. Um assassino frio da máfia de Chicago. Só que nas entranhas dos tribunais, nos diversos processos que respondia, ele havia conseguido deter o longo braço da lei. Havia tantas medidas cautelares nos tribunais que garantiam sua liberdade, que o xerife ficava de mãos atadas. Enquanto não pegasse Bugsy em algum crime cometido na sua cidade, não poderia prender aquele criminoso contumaz. Era enervante a situação.

Bugsy estava pensando em usar aquela cidadezinha com ponto de apoio para seus contrabandistas de whisky. Porém havia problemas. O xerife Tom Oxford já havia demonstrado que não o queria lá. Bugsy preferia atuar em cidades onde os policiais pudessem ser corrompidos. Tiras corruptos, era isso o que ele procurava. Com Oxford isso não iria dar certo. Não apenas pelo caso envolvendo a antiga amada Nina, mas também pelo fato de que o xerife Oxford realmente não era um homem corrupto. Pelo contrário. Era tão fiel cumpridor da lei que até mesmo seus parceiros de patrulha o consideravam exagerado demais nesse campo.

Após desfrutar do corpo e da alma de Nina, finalmente Bugsy saiu do hotel. Ele mastigava chicletes. Uma das poucas pistas de sua verdadeira sordidez. Por fora era pura elegância. Ternos finamente cortados, chapéu Panamá importado de Paris. O cara sabia se vestir com elegância. Só que não havia finesse verdadeira. Bugsy era pura maldade, pura vilanice. Não havia nada de bom nele. Tanto que assim que saiu de cima de Nina, meio que a desprezou. Jogou uma nota de 10 dólares sobre a cama e disse que ela deveria procurar por Johnny "Rato", que estava lá embaixo. Nina já agia como uma prostituta e deveria ser tratada assim dali em diante. E Bugsy não costumava dar muita confiança para putas em geral. Elas eram apenas suas empregadas.

Nina ficou um pouco chocada com o desdém do gângster. Porém o que ela esperava? Um buquê de flores como aqueles que Oxford lhe presenteava? Não, nada disso. Ela deveria ser tratada mesmo pelo que era... puro lixo caipira. Aquele tipo de beleza do interior que fazia a festa dos prostíbulos das grandes cidades. Seu destino seria Las Vegas. Ela se juntaria a outras rainhas da beleza de cidades do interior que iriam trabalhar para Bugsy dali em diante. Iria se deitar com todos os tipos de homens que iriam fazer fila para sexo com ela. Trinta por cento desse dinheiro ganho com prostituição ficava com a garota. Os outros setenta por cento iria para Bugsy. E se ela ousasse reclamar ou chamar os policiais, sua carcaça seria enterrada em alguma cova rasa no meio do deserto. Com Bugsy era assim. Afinal ele era acostumado a matar mafiosos perigosos. Sumir com uma garota como aquela seria extremamente fácil para ele e seus capangas. Quem sai na chuva é para se molhar. 

Capítulo Final - Pobre Alma Perdida
Depois de alguns dias Siegel e sua quadrilha da morte simplesmente entraram em um carro e foram embora para Las Vegas. A amada Nina também foi embora. O velho xerife que tanto gostava dela saberia alguns anos depois sobre o seu destino. Nina se prostituiu por muitos anos em Nevada. Depois de algum tempo foi parar em um desses ranchos prostíbulos, bem populares naquele estado único, onde a prostituição já era legalizada.

Depois de mais um programa um fazendeiro gordo, cheio de feridas pelo corpo a teria esfaqueado no pescoço. A razão foi que ela riu quando ele se mostrou impotente na cama. Acostumado a abrir um grande leitão de cabo a rabo com um facão, ele fez o mesmo procedimento com Nina. A levantou pelo pescoço e deferiu facadas, primeiro em seu lindo pescoço e depois disso se fartou com mais facadas em sua barriga. O quarto se encheu de sangue. Jorrou sangue pelas paredes. E Nina berrou como uma porca enquanto estava sendo assassinada.

- Tome, sua cadela! Tome outra facada! - E continuou a apunhalar a pobre Nina que morreu poucos segundos depois.

O xerife recebeu essas notícias com indignação. Apesar de tudo ele ainda tinha bons sentimentos com aquela mulher. Porém é a tal coisa, cada um escolhe seu próprio destino, não é mesmo? Ela poderia ter vivido longos anos, ter ficado velhinha, sendo a querida esposa de um homem da lei. Entretanto quis seguir por outro caminho. Quis ser prostituta. Ao invés de ter apenas um homem honesto, leal e parceiro, decidiu que iria fazer sexo por dinheiro, ficando com um homem diferente todas as noitas. Cafajestes, bêbados, seres asquerosos. Até que riu na hora errada e pagou caro por isso. Pagou com a própria vida.

Nina foi enterrada em uma cova sem identificação em um cemitério para pobres no meio do deserto. Depois de três anos seu corpo foi retirado e seus ossos jogados em um ossário imundo, onde de noite os chacais famintos vinham fazer suas refeições. Depois de algum tempo apenas o xerife que a amava lembrava dela. Todo mundo já havia esquecido que um dia ela tinha existido. Seus ossos foram levados de madrugada por esses velhos cães sarnentos do deserto hostil.

E o Bugsy? O que aconteceu com ele? Acabou sendo morto pela própria máfia. Em determinado momento ele se deslumbrou com as luzes, fama e dinheiro de Hollywood. Saiu com atrizes, com starlets, virou um playboy que aparecia quase todos os dias nas colunas sociais. A máfia não queria esse tipo de publicidade. O administrador dos cassinos tinha que levar uma vida das mais discretas. Nada de ostentação. Só que Bugsy queria mais. Logo surgiram denúncias que ele estaria roubando os chefões mafiosos. Um tiro na cabeça encerrou tudo. Ele estava bebendo em sua sala cheia de quadros de arte e móveis caros, quando recebeu um tiro certeiro na cabeça. Esse é sempre o destino de quem ousa desafiar a Cosa Nostra.

E o xerife Tom Oxford? Que fim levou? Ele morreria no final da década de 1950. Já era um homem aposentado, com vários quilos a mais. Teve uma velhice de tranquilidade e paz. Morreu solteiro, mas passava longe de ser um homem triste ou qualquer coisa que o valha. Era um homem feliz, ao seu jeito. De vez em quando lembrava de Nina. Acendia um grande charuto, olhava o horizonte e pensava:

- Pobre alma perdida...

Pablo Aluísio.

7 comentários:

  1. Patrulha Policial
    Cap. I - Cemitério de Ossos
    Pablo Aluísio.

    ResponderExcluir
  2. Texto Adicionado
    Cap. II - O Inseto
    Pablo Aluísio.

    ResponderExcluir
  3. Texto Adicionado:
    Cap. III - Companhia de Assassinos
    Pablo Aluísio.

    ResponderExcluir
  4. Texto Adicionado
    Cap. IV - As Garotas de Las Vegas
    Pablo Aluísio.

    ResponderExcluir
  5. Patrulha Policial:
    Cap. V - Nina, Nina...
    Pablo Aluísio.

    ResponderExcluir
  6. Patrulha Policial
    Cap. VI - Dor da Alma
    Pablo Aluísio.

    ResponderExcluir
  7. Patrulha Policial
    Capítulo Final - Pobre Alma Perdida
    Pablo Aluísio.

    ResponderExcluir