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quinta-feira, 21 de maio de 2020

Uma Janela para o Amor

Título no Brasil: Uma Janela para o Amor
Título Original: A Room with a View
Ano de Produção: 1985
País: Inglaterra
Estúdio: Goldcrest Films International
Direção: James Ivory
Roteiro: Ruth Prawer Jhabvala
Elenco: Helena Bonham Carter, Maggie Smith, Judi Dench, Julian Sands, Daniel Day-Lewis, Denholm Elliott

Sinopse:
Com roteiro baseado no romance escrito por E.M. Forster, o filme conta a história da jovem aristocrática inglesa Lucy Honeychurch (Helena Bonham Carter). No começo do século XX ela decide fazer uma viagem até Florença, onde descobre um grande amor. Filme indicado ao Oscar nas categorias de melhor filme, melhor roteiro adaptado, melhor ator coadjuvante (Denholm Elliott), melhor atriz coadjuvante (Maggie Smith), melhor direção (James Ivory) e melhor diração de fotografia (Tony Pierce-Roberts).

Comentários:
Esse filme concorreu em oito categorias do Oscar, se saindo vencedor em três (roteiro adaptado, direção de arte e figurino). Merecia mais prêmios, afinal foi o filme mais caro rodado na Inglaterra naquele ano, custando mais de 50 milhões de dólares (um padrão elevado para os anos 80). E de fato é uma produção de encher os olhos do espectador, com uma primorosa recriação da fase histórica onde a história do filme se passa. O brilhante cineasta James Ivory sempre foi um artesão da sétima arte, criando uma "parceria" com o obra de E.M. Forster que resultou em algumas produções que com o passar do tempo foram elevadas para a categoria de obras-primas da sétima arte. Outro destaque dessa produção foi a reunião de atrizes inglesas de gerações diversas, todas consideradas as mais talentosas de sua época, com destaque para Maggie Smith (sempre ótima, aqui sendo premiada por seu trabalho com o Globo de Ouro), Judi Dench (a grande dama da dramaturgia inglesa) e Helena Bonham Carter (Já se destacando em seu primeiro grande filme internacional). E o elenco masculino não fica muito atrás, contando com o excelente  Daniel Day-Lewis em um papel coadjuvante. Algo inimaginável de acontecer nos dias de hoje. Enfim, esse filme é um verdadeiro primor do cinema. Um daqueles itens que não podem ficar de fora na coleção de qualquer cinéfilo que se preze.

Pablo Aluísio. 

sábado, 25 de abril de 2020

Cenas de uma Família

Título no Brasil: Cenas de uma Família
Título Original: Mr. & Mrs. Bridge
Ano de Produção: 1990
País: Estados Unidos
Estúdio: Miramax
Direção: James Ivory
Roteiro: Ruth Prawer Jhabvala
Elenco: Paul Newman, Joanne Woodward, Saundra McClain, Margaret Welsh, Kyra Sedgwick, Simon Callow

Sinopse:
Baseado no romance escrito por Evan S. Connell, o filme conta a história do casal Bridge. Durante a Segunda Guerra Mundial, uma família de classe alta começa a desmoronar devido à natureza conservadora do patriarca e aos valores progressivos de seus filhos.

Comentários:
A atriz Joanne Woodward foi indicada ao Oscar e ao Globo de Ouro por esse trabalho de atuação. Muito merecido. Ela foi inclusive a pessoa que mais lutou para que esse filme fosse produzido. Esposa por longos anos do galã e mito do cinema Paul Newman, ela tinha grande carinho por esse filme que é um drama sensível de época que valoriza bastante o aspecto familiar do casal Bridge. O grande patriarca Walter Bridge (Newman) é um homem que resiste às mudanças dos novos tempos. Ele foi criado dentro de uma certa tradição e não abre mão disso. Os filhos, claro, pertencem a outra geração e não querem seguir nessa linha. E no meio desse verdadeiro cabo de guerra entre o pai e seus filhos surge a esposa India Bridge (Joanne Woodward) como fonte de equilíbrio e sensatez. O roteiro coloca em primeiro plano assim os conflitos familiars e suas consequências. As duas filhas estão sempre com problemas a superar em relação aos anseios do pai. Pior é o relacionamento com o filho que tem planos para sua vida, mas que o pai sempre coloca abaixo por não concordar com eles. Por fim há uma bela produção em cena. De fato o casal Newman poucas vezes esteve tão elegante em um filme. Os figurinos são de primeira linha e o filme como um todo agrada bastante, principalmente para um público mais refinado que esteja procurando um filme com mais classe e elegância.

Pablo Aluísio.

terça-feira, 4 de junho de 2019

Retorno a Howards End

Um filme tipicamente britânico, bem sofisticado e elegante, contando com a assinatura do talentoso cineasta James Ivory; O roteiro é baseado na obra do romancista E.M. Forster que publicou seu romance originalmente em 1910. Assim somos apresentados aos principais personagens. As irmãs Margaret Schlegel (Emma Thompson) e Helen Schlegel (Helena Bonham Carter) vivem em Londres. Ambas são solteiras. Margaret acaba se aproximando de Ruth Wilcox (Vanessa Redgrave) e se torna sua amiga. Ela é esposa de um bem sucedido homem de negócios chamado Henry Wilcox (Anthony Hopkins). O que Margaret não sabe é que Ruth está em seus últimos dias de vida. Assim ela acaba sendo surpreendida por sua morte após algumas semanas. Um choque na sociedade londrina.

Sem saber de nada, Ruth deixa de herança para Margaret sua casa de campo,  Howards End, um lugar bucólico e muito agradável onde ela passou sua infância. Só que o marido Henry esconde esse fato. Ele quer deixar o imóvel para seu filho mais velho. O destino porém tem suas artimanhas e assim o viúvo acaba se apaixonando pela amiga de sua esposa falecida. Após alguns desencontros eles finalmente decidem se casar. A irmã mais jovem Helen não simpatiza muito com o novo marido dela, uma vez que ela tem suas próprias ideias de liberdade social, que conflitam quase sempre com o capitalista que Henry se torna. Para piorar um conhecido, o desafortunado Leonard Bast (Samuel West), perde seu emprego, justamente por algo que Henry indiretamente causa. Esse e outros acontecimentos acabam desgastando o relacionamento entre as irmãs. Helen vai embora morar na Alemanha. Quando retorna a situação se complica ainda mais, gerando um grande mal-estar entre todos os envolvidos.

Esse filme tem muitas características de outra produção inglesa que gosto muito, "Vestígios do Dia". É praticamente a mesma equipe técnica, o mesmo produtor (Ismail Merchant, antigo parceiro de Ivory) e a mesma classe e sofisticação. É curioso porque a casa de Howards End funciona não apenas como cenário para as cenas, mas também como um catalisador de momentos importantes. Sempre que algo fundamental na trama vai acontecer o escritor Foster desloca todos os personagens para esse lugar bem bucólico, longe da agitação de Londres. Com excelente elenco e uma nobreza ímpar, esse filme é essencial para quem aprecia o melhor do cinema inglês dos anos 90.

Retorno a Howards End (Howards End, Inglaterra, 1992) Direção: James Ivory / Roteiro: Ruth Prawer Jhabvala, baseado na obra de E.M. Forster / Elenco: Anthony Hopkins, Emma Thompson, Vanessa Redgrave, Helena Bonham Carter, Samuel West / Sinopse: Após a morte de sua amiga Ruth Wilcox (Vanessa Redgrave), Margaret Schlegel (Emma Thompson) se casa com seu marido Henry Wilcox (Anthony Hopkins). Afinal ambos são livres e desimpetidos, nada tendo contra esse casamento. Só que a irmã mais jovem de Margaret, a temperamental Helen Schlegel (Helena Bonham Carter), não gosta de Henry e seu jeito de ricaço arrogante, criando assim um abismo entre elas. Filme vencedor do Oscar nas categorias de Melhor Atriz (Emma Thompson), Melhor Roteiro Adaptado (Ruth Prawer Jhabvala) e Melhor Direção de Arte (Luciana Arrighi e Ian Whittaker).

Pablo Aluísio.

sexta-feira, 15 de novembro de 2013

Maurice

Título no Brasil: Maurice
Título Original: Maurice
Ano de Produção: 1987
País: Estados Unidos
Estúdio: Merchant Ivory Productions, Cinecom Pictures
Direção: James Ivory
Roteiro: Kit Hesketh-Harvey, baseado no romance de E.M. Forster 
Elenco: James Wilby, Rupert Graves, Hugh Grant, Ben Kingsley, Helena Bonham Carter

Sinopse: 
Dois jovens ingleses de classe aristocrática entram em um dilema após descobrirem que estão apaixonados um pelo outro. Além do aspecto moral envolvido eles teriam que agir com muita cautela pois poderiam ser presos por causa de seu afeto homossexual. Essa opção sexual ainda era considerada crime na Inglaterra naquele período histórico.

Comentários:
Não faz muito tempo (em termos históricos) que o homossexualismo era considerado crime grave punido com prisão na Inglaterra. Até nomes famosos como Oscar Wilde foram condenados por sua opção sexual. "Maurice" é um drama histórico que se desenvolve justamente nesse contexto histórico. Antes de mais nada gostaria de dizer que James Ivory sempre foi um dos meus cineastas preferidos de todos os tempos. Poucos diretores foram tão elegantes e finos como ele. Sua filmografia é uma prova dessa afirmação. Curiosamente nunca tinha assistido a essa produção dirigida por Ivory em 1987. A produção, como não poderia ser diferente, é luxuosa e de bom gosto. O elenco é bem acima da média com destaque para um jovem Hugh Grant (antes de virar astro de comédias românticas americanas) e Ben Kingsley esbanjando sofisticação. Também vale lembrar a presença de Helena Bonham Carter, que durante certo tempo foi uma espécie de musa do diretor, participando de vários filmes dirigidos por ele. O roteiro mostra com muita sensibilidade a tumultuada e complicada relação entre dois jovens ingleses ricos durante a primeira década do século passado. Embora apaixonados não podiam exteriorizar esse sentimento pois poderiam ir para a cadeia por isso. "Maurice" é um filme menor de James Ivory mas merece ser redescoberto, principalmente nos dias de hoje pois o tema parece nunca sair da ordem do dia. Conheça e reflita sobre a mensagem proposta por esse grande diretor.

Pablo Aluísio.

sexta-feira, 27 de setembro de 2013

Jefferson em Paris

Thomas Jefferson (Nick Nolte) é enviado como embaixador dos Estados Unidos para a corte luxuosa do rei Luís XVI em Paris. Enquanto na França se disseminam cada vez mais as ideias revolucionárias em busca de liberdade, Jefferson tenta superar a contradição entre manter boas relações com o sistema da monarquia francesa e o próprio simbolismo que representava pois sua nação naquele momento havia se tornado um exemplo bem sucedido de rompimento com o antigo regime das realezas européias. "Jefferson em Paris" é um bom drama histórico que tenta desvendar aspectos da complexa personalidade de Jefferson. O período enfocado no filme acontece anos antes dele se tornar presidente. Considerado uma pessoa sem sofisticação dentro da corte de Luís XVI a principal missão do diplomata naquele momento era realmente trazer maior reconhecimento para os Estados Unidos, que nada mais era naquela época do que uma jovem nação que procurava se organizar após se livrar do imperialismo colonial inglês.

A figura de Thomas Jefferson é das mais interessantes do ponto de vista histórico. Considerado um dos pais da América, Jefferson era um símbolo de liberdade mas ao mesmo tempo mantinha escravos em sua enorme fazenda. Seu caso com a escrava Sally Hemings, de apenas 15 anos, ainda hoje desperta constrangimento a historiadores americanos, sempre tão ciosos em preservar a memória dos grandes nomes de sua história. O fato porém é que certas verdades não podem ser escondidas. Jefferson teve filhos com suas escravas e a despeito de sua genialidade (foi um dos principais autores da carta de independência americana, era criativo e muito interessado em ciência), essa mancha em sua biografia não pode ser varrida para debaixo do tapete. O filme por sua vez é muito bem realizado, com ótima reconstituição de época e em nenhum momento ofende a inteligência do espectador. Felizmente o ufanismo e a patriotada, tão comuns em filmes que mostram grandes personagens da história americana como esse, também está sob controle. Dito isso fica a recomendação desse belo filme que seguramente vai lhe trazer um pouco mais de cultura histórica.

Jefferson em Paris (Jefferson in Paris, Estados Unidos, 1995) Direção: James Ivory / Roteiro: Ruth Prawer Jhabvala / Elenco: Nick Nolte, Greta Scacchi, Gwyneth Paltrow / Sinopse: Thomas Jefferson (Nick Nolte) é enviado como embaixador dos Estados Unidos para a corte luxuosa do rei Luís XVI em Paris. Lá buscará por reconhecimento para seu país, a jovem nação americana.

Pablo Aluísio.

quarta-feira, 25 de abril de 2012

O Retorno a Howard´s End

O Retorno a Howard´s End é mais um excelente drama de costumes dirigido por James Ivory, o mais britânico dos diretores americanos. Com elenco de primeira o filme retrata o complicado relacionamento de duas irmãs (Emma Thompson e Helena Bonham Carte) com um rico burguês da classe alta, interpretado pelo sempre ótimo Anthony Hopkins. No centro de tudo surge Howard´s End, uma casa tradicional familiar, disputada por todos. O interessante em "O Retorno a Howard´s End" é que apesar de Anthony Hopkins ser creditado como o ator principal - aparecendo em primeiro lugar nos créditos - seu papel não é em definitivo o central. Na realidade a principal personagem é interpretada por Emma Thompson em um papel complicado (uma solteirona que não tem papas na língua, falando pelos cotovelos que se casa com um rico dono de empresa). Em torno dela vários personagens curiosos desfilam: uma irmã também solteirona que não sabe muito bem o que quer da vida, um irmão tímido, de pouca presença e um pouco afeminado e um casal que ela mal consegue saber de quem se trata mas que será importante no desfecho da trama. Seu trabalho lhe valeu o merecido Oscar de Melhor atriz daquele ano.

Eu considero Howard´s End um bom filme da safra de James Ivory mas não o melhor. Ele fica bem abaixo de "Vestígios do Dia", esse sim uma obra prima. De qualquer forma a elegância da produção, o bom gosto dos figurinos, a excelente reconstituição de época (quem gosta de veículos antigos vai certamente apreciar os modelos que aparecem em cena) e a boa atuação dos atores mantém o filme em um excelente patamar de qualidade. O filme inclusive venceu na categoria de melhor direção de arte. O roteiro não tem a fluidez de "Vestígios do Dia" mas credito isso muito mais ao próprio livro em que foi inspirado (que por si só é bem minucioso, detalhista, com várias sub-tramas em seus capítulos). Trazer toda a riqueza da obra de E.M. Forster para as telas certamente não é uma tarefa das mais simples. O esforço do roteirista veio na premiação de melhor roteiro adaptado, um prêmio que em minha opinião não foi muito justo. De quialquer forma a produção em um contexto geral é realmente excelente, particularmente indicada para quem quer assistir uma elegante crônica sobre costumes ingleses no começo do século passado. Sutileza, charme e elegância não irão faltar, certamente.

O Retorno a Howard´s End (Howards End, Japão / Inglaterra, 1992) Direção: James Ivory / Roteiro: Ruth Prawer Jhabvala / Elenco: Anthony Hopkins, Emma Thompson, Vanessa Redgrave, Helena Bonham Carter, Joseph Bennett, Prunella Scales, Adrian Ross Magenty. / Sinopse: o filme retrata o complicado relacionamento de duas irmãs (Emma Thompson e Helena Bonham Carte) com um rico burguês da classe alta, interpretado pelo sempre ótimo Anthony Hopkins. No centro de tudo surge Howard´s End, uma casa de campo tradicional e familiar, almejada por todos.

Pablo Aluísio.

quarta-feira, 6 de janeiro de 2010

Os Amores De Picasso

Título no Brasil: Os Amores De Picasso
Título Original: Surviving Picasso
Ano de Produção: 1996
País: Estados Unidos
Estúdio: Warner Bros.
Direção: James Ivory
Roteiro: Ruth Prawer Jhabvala
Elenco: Anthony Hopkins, Tom Fisher, Andreas Wisniewski, Julianne Moore

Sinopse:
Cinebiografia de parte da vida do famoso pintor Pablo Picasso, aqui interpretado pelo ator Anthony Hopkins. O enredo se desenrola a partir das lembranças de Francoise Gilot (Natasha McElhone), que foi amante do artista por mais de dez anos. Foi um caso dos mais ousados pois Picasso era 40 anos mais velho do que ela. Mesmo assim se apaixonaram e viveram um inesperado caso de amor. Com uso de inúmeros flashbacks ficamos conhecendo detalhes da vida pessoal do pintor, inclusive seu turbulento relacionamento com sua esposa, Olga (Jane Lapotaire).

Comentários:
Um filme que agradou a poucos. Na época de seu lançamento a família de Pablo Picasso tentou impedir, inclusive legalmente, a chegada da película nas telas. Não conseguiu. Não é para tanto, embora muito humano o artista que vemos passar na tela não é em nenhum momento desrespeitoso com sua biografia, digamos, oficial e chapa branca. O Picasso de Anthony Hopkins é explosivo, apaixonado, caliente mas também infiel e traidor da confiança daqueles que mais o amam. Uma personalidade complexa que o roteiro apenas em parte consegue captar. No final das contas é um filme mediano que não consegue ficar à altura do gênio que tenta retratar. Anthony Hopkins é um grande ator mas alguns papéis definitivamente não lhe caíram bem. É o caso de Pablo Picasso. Escalar um ator tipicamente britânico para fazer um espanhol é uma temeridade, ainda mais quando literalmente o "pintam" para dar a tonalidade da cor natural do pintor. Depois de uma escalação e maquiagem tão ruins como essas fico pensando em como um ator consegue sobreviver a um papel desses? A única coisa que se salva é a beleza de Julianne Moore que ajuda a passar o tempo do filme de forma menos penosa.

Pablo Aluísio.

terça-feira, 5 de janeiro de 2010

Vestígios do Dia

Terminei de rever "Vestígios Do Dia". Fazia tempo que tinha visto pela última vez então foi um prazer renovado. Nem é preciso dizer que mesmo após todos esses anos o filme não perdeu nem uma cota de seu charme, de sua delicadeza e de sua elegância. Na minha opinião ainda continua sendo uma grande obra prima do cinema. Muita gente não consegue até hoje captar a essência desse roteiro, o que é uma pena, pois a mensagem é tão sutil e delicada que passa despercebida a muitos. Não chegam a entender que "Vestígios do Dia" tem um dos enredos mais românticos já filmados. O mais interessante de tudo é que o filme consegue fazer isso sem nenhum tipo de afeto físico entre os protagonistas. Tudo é apenas sugerido, insinuado. Não há um beijo sequer entre eles, por exemplo. Isso porém acaba não tendo importância pois a emoção e o sentimento são tão presentes que esse tipo de coisa acaba sendo um mero detalhe.

A atração entre o mordomo (Hopkins) e sua governanta (Emma Thompson) é latente mas não assumida abertamente por causa das convenções sociais a que ambos estão submetidos. Além disso Hopkins brilha como uma pessoa que simplesmente não consegue expressar suas emoções. Criado para ser um mordomo a vida inteira e possuir uma educação exemplar ele acaba perdendo a capacidade de se revelar a quem quer que seja, mesmo para a mulher que sente atração e nutre sentimentos românticos. Assim é erguido um muro invisível que não deixa que ambos se declarem um ao outro. Tudo isso é de uma sutileza fenomenal. Apenas um cineasta com a sensibilidade de James Ivory conseguiria transportar isso para a tela no tom certo.

Desnecessário dizer que o resultado é excelente. O roteiro é um primor, a direção e a reconstituição de época são soberbas mas o melhor vem da interpretação dos atores. Esse filme traz a melhor atuação da carreira de Anthony Hopkins, embora isso possa causar surpresa em muitos é a mais pura verdade. Ele faz um mordomo de um Lord inglês que se apaixona por uma empregada da mansão, feita pela Emma Thompson. É um filme de momentos sutis. Existe uma cena maravilhosa em que Hopkins tenta se declarar à sua paixão mas por questões sociais, timidez, nervosismo e até mesmo preconceito se reprime. Poucas vezes vi um momento tão divinamente interpretado no cinema como esse. É genial. Vestígios do Dia é um primor, um filme feito para pessoas sofisticadas e de muito bom gosto. Como não poderia deixar de ser é uma produção britânica do mais alto nível. O diretor Ivory é um dos meus preferidos de todos os tempos. E é por essa e outras razões que considero "Vestígios Do Dia" uma perfeição da sétima arte. Poucas vezes algo assim tão sutil encontrou um veículo tão competente nas telas. Um primor!

Vestigios do Dia (The Remains of the Day, Estados Unidos, Inglaterra, 1993) Direção: James Ivory / Elenco: Christopher Reeve, Anthony Hopkins, Emma Thompson, Caroline Hunt / Sinopse: 1958. James Stevens (Anthony Hopkins), um homem de idade, em um grande carro antigo começa uma viagem pela Inglaterra em direção ao mar. Por muitos anos ele foi o mordomo-chefe de Darlington Hall, uma famosa casa de campo. Neste época sacrificou sua vida pessoal por vários anos para ter um alto desempenho profissional, mesmo reprimindo seus sentimentos e passasse uma frieza que na verdade não era parte da sua personalidade. Ele está indo visitar Sally Kenton (Emma Thompson), que ele não vê há muito tempo e tinha sido governanta em Darlington. Ele pensa que talvez ela possa ser persuadida a retomar a sua antiga posição, trabalhando para o novo proprietário de Darlington, um congressista americano aposentado.

Pablo Aluísio.

segunda-feira, 21 de janeiro de 2008

Vestígios do Dia

Revi esse excelente filme de James Ivory. O filme continua maravilhoso a cada releitura. Na verdade o tema principal não é apenas a fleuma e o mundo das grandes propriedades vitorianas de uma Inglaterra prestes a embarcar nos horrores da Segunda Guerra Mundial. Tudo isso é um pano de fundo ricamente ilustrado, porém não o tema central do filme. Na verdade o cerne de seu argumento vem da impossibilidade de um homem, no caso o mordomo Mr. Stevens (brilhantemente interpretado por Anthony Hopkins), de assumir suas emoções e de expressá-las. Criado para ser um profissional de extrema educação e gentileza, quase a um ponto obsessivo, ele não consegue mais sair do papel, nem mesmo para assumir um relacionamento com a governanta Miss Kenton (Emma Thompson) que também está apaixonada por ele. Assim temos o melhor filme sobre amor não concretizado da história do cinema (e isso definitivamente não é algo irrelevante).

Além desse aspecto emocional principal temos também um subtexto bem interessante. O mordomo de Hopkins trabalha para um Lord prestes a cair em desgraça no Reino justamente por tentar a todo custo construir uma aliança com os nazistas. O filme explora bem isso com suas duas linhas narrativas. Na primeira vemos Stevens no auge da casa onde trabalha, com a chegada de importantes políticos e chefes de Estado. A casa resplandece de brilho e glamour. Já na segunda linha encontramos tudo mudando, a aristocrata casa sendo colocada em leilão e o velho mordomo em viagem de reencontro ao seu passado (algo que novamente não trará frutos satisfatórios).

Tudo acaba caindo nas mãos de um americano, em bom momento de Christopher Reeve no cinema. Ele obviamente tem um outro modo de ver o mundo e de agir, fugindo completamente dos rígidos padrões britânicos de educação e estilo. Isso claro vai contrastar completamente com Mr. Stevens e sua refinada classe. Enfim, são muitos subtextos enriquecedores. Assim "Vestígios do Dia" continua sendo uma obra prima da sutileza, das frases não ditas e dos sentimentos não expressados. Um filme realmente emocionante ao seu próprio modo.

Pablo Aluísio.