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sábado, 16 de março de 2024

Elvis Presley - That's the Way It Is - Parte 2

 Elvis Presley - That's the Way It Is - Parte 2
"Twenty days and Twenty Nights" é mais uma bela balada romântica gravada por Elvis. Curiosamente essa canção nunca teve um espaço maior dentro da discografia oficial de Elvis. Ao que me consta ela nunca foi devidamente trabalhada ao vivo por Elvis e banda e nem tampouco ganhou maior cuidado por parte da RCA Victor. Em 2010 um CD foi lançado com o mesmo título da canção, trazendo uma rara versão ao vivo cantada por Elvis em agosto de 1970. Era um bootleg do selo Audionics com excelente qualidade sonora. Mesmo assim continuou sendo uma música coadjuvante dentro da vasta obra musical do cantor. De qualquer forma, como foi dito, embora Elvis tenha cantado a canção em raras ocasiões em Las Vegas a RCA Victor no álbum original "That´s The Way It Is" resolveu usar a versão de estúdio, bem mais conhecida entre os fãs. Sua linha melódica mais triste (e diria até mesmo melancólica) realmente combinava melhor com o cuidado e o clima mais intimista de um estúdio de gravação do que um palco, onde ela muitas vezes a canção caia em um clima de tédio e falta de empolgação por parte do público, afinal de contas em concertos ao vivo nem sempre a música funcionava muito bem (e talvez por isso tenha sido deixada de lado por Elvis muito rapidamente). 

Uma das coisas mais interessantes sobre essa música, que fala sobre solidão e arrependimento, é o salto de qualidade do compositor Ben Weisman. Autor de algumas das mais bobas, maçantes e infantis canções da fase de Elvis em Hollywood, Ben se superou de forma surpreendente nessa composição, escrevendo finalmente um tema de relevância, adulto, falando de dramas reais, de pessoas reais, tudo com muita sobriedade e maturidade. Nada mais longe das bobagens que ele costumava escrever para Elvis em suas piores trilhas sonoras. Talvez a má qualidade desse material nem tenha sido sua culpa, talvez os próprios argumentos ridículos de alguns filmes de Elvis o tenha levado a escrever tantas bobagens, mas o que é importante destacar mesmo é que dessa vez ele finalmente apresentou um material digno e à altura de um astro como Elvis gravar. Em resumo: ótima canção, belíssimo arranjo e o mais importante de tudo, uma letra relevante com uma mensagem realmente importante a se passar adiante.

"How The Web Was Woven" é outra canção desse disco que considero apenas mediana. A letra até tem um refrão e um verso que considero bem escritos, fazendo uma analogia entre o ato de se apaixonar e a prisão em uma teia de aranha da qual não se consegue mais se desvencilhar. Mesmo assim, tirando isso, considero uma canção marcada por uma melodia que não avança, não vai para lugar nenhum. O acompanhamento de cordas ajuda a passar o tempo, mas o saldo final é de tédio. O próprio Elvis também não parecia levar muita fé na canção, tanto que nunca a trabalhou muito ao vivo, nunca ajudou em sua promoção e tampouco mostrou ter algum apreço especial por ela. Costumo rotular esse tipo de estilo de country melancólico de Nashville. 

Por essa época Elvis estava muito mergulhado no universo country da capital mundial desse gênero musical. A RCA Victor também enviou um grande leque de opções de músicas como essa para Elvis gravar durante a chamada Maratona de Nashville. Assim não me soa como surpresa a presença de faixas como essa durante essas produtivas sessões de gravação. Curiosamente muitos dizem perceber um certo cansaço físico por parte de Elvis na música. Sua performance seria quase no controle remoto. Não concordo muito com essa visão. No meu ponto de vista a própria canção demanda esse tipo de performance mais intimista, quase depressiva. Nesse aspecto Elvis apenas foi fiel ao que seu compositor queria passar em sua letra. O que ouvimos é uma voz de melancolia, não de cansaço.

Pablo Aluísio.

sábado, 9 de março de 2024

Elvis Presley - That's the Way It Is - Parte 1

Elvis Presley - That's the Way It Is - Parte 1
Esse foi o disco lançado pela RCA Victor trazendo a trilha sonora do filme "Elvis é Assim". O curioso é que as faixas, em sua maioria, não eram as mesmas mostradas no filme. Esse material foi gravado em Nashville, em estúdio, e não em Las Vegas, durante as apresentações do cantor na sua nova temporada na cidade. E nem todas as músicas apresentadas nesse álbum foram mostradas no filme. Assim o fã de certo modo se surpreendeu quando comprou o disco original na época. Tempos depois várias edições especiais tentariam compensar esse aspecto, colocando todas as músicas dos shows, mais vasto material extra. 

Sem dúvida esses CDs especiais eram bem mais completos, porém do ponto de vista histórico, dentro da discografia oficial de Elvis Presley, o disco que conta foi justamente essa primeira edição do ano de 1970. É um bom álbum, trazendo canções que iriam marcar a carreira de Elvis pelo resto de sua vida. Além disso era mais um a seguir nesse novo caminho de sua carreira, o mostrando como um artista diferente, cantando músicas mais maduras, falando de relacionamentos adultos. Os anos de juventude, da adolescência dos filmes dos anos 60, havia ficado definitivamente no passado. A seguir comento faixa a faixa desse disco importante dentro da discografia do cantor.  

A primeira faixa do álbum era a bela "I Just Can't Help Believin". Esse álbum "That's the Way It Is" sempre foi um dos mais queridos dos fãs de Elvis em sua fase anos 70. O disco original era basicamente a trilha sonora do novo filme de Elvis pelo estúdio MGM. Ao contrário das inúmeras trilhas do passado essa aqui não era a de uma comédia romântica musical, mas sim a de um documentário musical que trazia para as telas de cinema parte das apresentações de Elvis em Las Vegas durante o ano de 1970 (em sua terceira temporada na cidade). A canção que abriu o LP foi essa bela balada "I Just Can't Help Believing", sucesso na voz do cantor B.J. Thomas na época. É interessante notarmos que Elvis começava a flertar com uma outra geração de interpretes americanos. Cantores como B.J. Thomas e Neil Diamond nunca foram roqueiros em suas carreiras. Eram vocalistas que apostavam tudo em repertórios bem românticos - para alguns tangenciando até mesmo para o sentimentalismo mais meloso. Elvis porém não parecia se importar muito com isso. Ele estava certo nesse ponto de vista. O importante era interpretar boas músicas e sempre que encontrava uma bela composição no repertório dos colegas cantores não demorava muito para fazer a sua versão. 

Pois bem, quando "That's the Way It Is" foi anunciado pela RCA Victor muitos pensaram na época que o álbum seria mais um no estilo "Ao Vivo" em Las Vegas. O produtor Felton Jarvis porém não queria saturar o mercado com três discos consecutivos de Elvis gravados ao vivo em Vegas. Assim o cantor foi até Nashville para participar de uma verdadeira maratona de gravações, gravando dezenas de novas canções em estúdio. A intenção era gravar bastante material para ser lançado aos poucos, nos meses e anos seguintes. A primeira leva de canções dessa maratona surgiu justamente nesse álbum. Curiosamente a RCA acabou utilizando quase nenhuma gravação ao vivo da temporada que aparecia no filme. Uma exceção acabou sendo exatamente essa versão "Live" de "I Just Can't Help Believing". A letra é um dos pontos altos da música, retratando o sentimento de ternura e paixão que existe nos pequenos detalhes de um relacionamento amoroso, como as mãos dadas, os sorrisos e os aromas da amada. Praticamente apenas três estrofes, mas tudo muito bem escrito. A melodia também é excelente, calma, ponderada, completamente adequada para a mensagem de sua letra. Enfim, uma grande performance de Elvis que esteve bem à altura desse verdadeiro clássico da discografia do cantor. Simplesmente essencial.

Pablo Aluísio.

quarta-feira, 28 de fevereiro de 2024

Elvis Presley - Let's Be Friends - Parte 3

Elvis Presley - Let's Be Friends - Parte 3
O velho vinil segue sendo tocado pela surrada agulha da vitrola... Esse é um disco incrivelmente curto, com apenas nove faixas. Mesmo para discos promocionais do selo RCA Camden era um número abaixo da média em termos de LPs de Elvis Presley. O comum era ter dez faixas, isso em uma época em que suas trilhas sonoras vinham com 12 faixas, chegando até mesmo a 14 em alguns casos. Só que aqui, para um álbum composto para sair baratinho nas lojas, a RCA cortou mesmo sem dó e nem piedade. A edição era mais do que enxuta! 

Pois bem, como falamos em trilhas sonoras, a próxima música vinha justamente de um filme. "Change of Habit" foi a canção tema do filme "Ele e as três noviças". Esse foi o último filme de Elvis ao velho estilo, com roteiro, elenco, direção e argumento mais tradicional. Apesar disso o filme tinha também novidades interessantes, fugindo daquelas estorinhas mais bobas que rechearam muitas das produções com Elvis em Hollywood. Com direção musical do maestro Billy Goldenberg, Elvis começou as sessões de sua última trilha sonora. "Change of Habit" tem um belo arranjo, com um guitarra bem presente. 

A melodia tem uma cadência própria, bem de acordo com o som da época. Não é tola e nem tem uma letra óbvia demais. De maneira em geral gosto bastante dessa gravação. Elvis já estava com aquele estilo vocal que iria se destacar em suas gravação no American Studios em Memphis. Uma voz mais encorpada, forte! Isso contribuiu bastante para o bom resultado. Outro ponto digno de citação foi o belo trabalho do baixista Lyle Ritz em raro solo dentro da discografia de Elvis. Um bom momento, sem dúvida.

"Have a Happy" é outro bom momento do disco e foi gravado também para a trilha sonora de "Change of Habit". No entanto essa faixa era bem mais convencional. Nesse dia, o último de gravação, algumas mudanças foram feitas na equipe musical que acompanhava Elvis. O guitarrista Robert Bain assumiu o baixo e Max Bennett chegou para ajudar nas sessões. Essa segunda canção de "Ele e as três noviças" que foi selecionada para esse álbum "Let's Be Friends" pode ser considerada uma das mais pueris desse disco. Ao contrário da anterior não tenta inovar muito e nem absorver as mudanças da sonoridade da época. É de certa maneira uma herderia tardia das antigas trilhas de Elvis. Um último adeus a aquele tradicional estilo de Hollywood dos velhos tempos.

Pablo Aluísio. 

quarta-feira, 14 de fevereiro de 2024

Elvis Presley - Let's Be Friends - Parte 2

Elvis Presley - Let's Be Friends - Parte 2
A faixa "Let's Forget About The Stars" foi gravada em outubro de 1968 para fazer parte da trilha sonora do western "Charro". Como não houve intenção nenhuma da RCA Victor em lançar essa música ela foi deixada de lado. É curioso porque apesar de ter sido uma das gravações mais negligenciadas da carreira de Elvis ela foi ganhando, ao longo do tempo, um status cult entre os fãs, com muitos elogiando sua bonita melodia. É uma música bem fora de rota do que Elvis produziu nos anos 60, criada por um compositor chamado A.L. Owens. No saldo geral tem seus méritos, é sim uma bela balada que merecia ter tido melhor sorte dentro da discografia do cantor.

Uma boa razão para se comprar esse disco na época de seu lançamento foi a inclusão de "Mama" em seu repertório. Essa era uma antiga faixa que embora tenha sido gravada para a trilha sonora do filme "Girls, Girls, Girls" foi deixada de lado pelos produtores da RCA. A razão segue sendo desconhecida, uma vez que Mama tinha sua importância dentro do filme, sendo ouvida e executada entre as cenas. Alguns autores dizem que a RCA Victor ficou incomodada com o excesso de músicas gravadas para essa trilha sonora e por isso cortou Mama e outras faixas, como por exemplo, "Plantation Rock". Essa última nem fez muita falta, mas Mama certamente deveria ter sido incluída. Foi mais um dos vários erros cometidos pelos responsáveis pela discografia de Elvis.

A música "I'll Be There" foi composta pelo cantor e compositor Bobby Darin. Ela foi lançada originalmente em 1960 com relativo sucesso comercial. Anos depois, em 1965, foi relançada pelo grupo inglês Gerry and the Pacemakers. Essa banda era rival dos Beatles ainda nos tempos do Cavern Club. Eles também faziam parte do círculo de conjuntos de rock que surgiram no eixo Liverpool - Manchester, ainda no final dos anos 1950. Foi justamente dentro desse movimento musical que surgiram os próprios Beatles. Lançada em single pelos ingleses não teve muito sucesso. A versão de Elvis veio em 1969. É uma boa gravação de uma música apenas mediana, não muito vocacionada para o sucesso.

Esse álbum tem algumas músicas bem obscuras dentro da discografia de Elvis. São gravações que ou ficaram arquivadas por bastante tempo ou então não chamaram atenção nenhuma dos fãs quando foram lançadas originalmente. "Almost" é um exemplo disso. Ela foi composta por Ben Weisman e Buddy Kaye. O compositor Weisman foi um campeão em emplacar canções para as trilhas sonoras de Elvis durante os anos 60. Pena que a imensa maioria de suas composições eram bem descartáveis, sem importância artística. Essa fez parte da trilha sonora do filme "The Trouble With Girls" (Lindas Encrencas: As Garotas), mas foi considerada tão fraca que foi arquivada, ressurgindo aqui nesse disco, sem maior repercussão.

Pablo Aluísio. 

quarta-feira, 7 de fevereiro de 2024

Elvis Presley - Let's Be Friends - Parte 1

Elvis Presley - Let's Be Friends - Parte 1
Em 1970 a RCA lançou muitos álbuns de Elvis. Como não havia tanto material novo gravado em seus arquivos, a gravadora através de seu selo azul RCA Camden jogou no marcado mais um disco de preço promocional. O LP se chamou "Let's Be Friends" e seguindo os passos do disco "Almost In Love" também era recheado de sobras de estúdio, relançamento de singles e músicas de trilhas sonoras dos anos 60. Curiosamente esse disco nunca foi lançado no Brasil, talvez porque a filial da gravadora em nosso país tenha chegado na conclusão de que não haveria mercado para tantos álbuns de Elvis sendo lançados ao mesmo tempo. Afinal não havia como comparar o nosso país com o mercado consumidor americano. E os discos internacionais, quando era lançados em nosso país, chegavam nas lojas com atraso, muito depois do lançamento americano. 

Pois bem, esse disco abria com a faixa "Stay Away, Joe". Essa era a música título do filme "Joe é Muito Vivo". Essa é uma comédia nonsense, com roteiro maluco, que nunca chega a fazer muito sentido. De certa maneira é um dos filmes mais singulares da filmografia de Elvis onde ele interpreta um mestiço, um nativo americano, que anda de moto e se envolve em confusões. O final do filme tem uma cena digna das comédias pastelões de "Os Três Patetas" com uma casa inteira vindo abaixo! A música é divertida, segue o mesmo estilo de humor, recriando tambores e sonoridades que tentam copiar as velhas melodias indígenas, mas sem querer ser fiel. É de certa maneira mais um pop ao estilo Hollywood que obviamente não acrescentou praticamente nada dentro da discografia de Elvis Presley.

A segunda música do disco era "If I'm a Fool". Outra que soava como completa novidade para os colecionadores. Naqueles tempos as capas dos discos não traziam informações sobre as datas das gravações, os músicos participantes, nada! Assim era quase um trabalho de arqueologia descobrir onde foram produzidas determinadas músicas. Na realidade essa faixa era uma sobra (embora essa denominação possa parecer inadequada) das sessões do American Studios. Uma canção que não havia sido aproveitada em lugar nenhum até aquele momento. Escrita por Stan Kesler não é bem o que se poderia chamar de uma obra prima inesquecível. Na verdade é uma balada country até bem honesta, mas nada muito além disso. Jamais iria se destacar mesmo, ainda mais se levarmos em conta a extrema qualidade do material gravado por Elvis no American. Não foi por acaso que acabou ignorada. De qualquer maneira, para não passar em branco completamente, acabou sendo colocada aqui nessa seleção pelo produtor Felton Jarvis que adorava qualquer tipo de canção country.

E depois tínhamos a música que havia dado título ao álbum, "Let's Be Friends". Esse disco não primava muito pela organização e nem por seguir qualquer critério visível. É mesmo uma colcha de retalhos sonora, muitas vezes dita como produto caça-níquel. A música título "Let's Be Friends" é boa, tem boa qualidade técnica e uma performance na média por parte de Elvis. Ela foi escrita pelo trio de compositores Calvin Arnold, David Martin e Geoff Morrow e provavelmente seria esquecida para sempre caso não tivesse dado título a esse álbum. Originalmente ela fez parte da trilha sonora do filme "Ele e as três Noviças" (Change Of Habit), tendo sido gravada em março de 1969 nos estúdios da Universal, na costa oeste. Muitos se confundem dizendo que a música teria feito parte do pacote de gravações do American Studios, mas isso é obviamente um erro.

Pablo Aluísio. 

sábado, 27 de janeiro de 2024

Elvis Presley - I've lost You / The Next Step is Love

Esse foi o primeiro single lançado com as músicas do projeto "That´s The Way It Is". Lançado em julho de 1970 o single não vendeu tão bem como era esperado pela RCA Victor. Também o que esperavam? De todos os álbuns e compactos da discografia de Elvis Presley durante os anos 1970, essa foi certamente a pior capa já feita! Com uma direção de arte que pode ser considerada primária e simplória ao extremo, a capa trazendo apenas letras informando o artista, as músicas e a data das gravações era básica demais. Comercialmente falando nada que viesse a chamar a atenção do consumidor nas lojas de discos. Uma direção de arte bem ruim, vamos convir.

As duas canções do single eram inegavelmente boas. "I've lost You" surgia como versão de estúdio, ao contrário do álbum que traria a versão ao vivo gravada em Las Vegas. Como é de praxe toda gravação registrada em estúdio tem melhor qualidade técnica. A canção é bem escrita e tem bons arranjos, mas há um problema em sua estrutura, com excesso de refrão sendo repetido ao longo de toda a duração. Algo que acaba cansando os ouvidos, apesar da excelente performance de Elvis. "The Next Step is Love" vinha no lado B. Essa música tem uma melodia que soa agradável aos ouvidos. A letra também lembra as músicas das trilhas sonoras dos anos 60, por causa de sua singeleza. A RCA acreditava que essa melodia tinha vocação para virar hit, mas isso definitivamente não aconteceu. No final das contas o single " I've lost You / The Next Step is Love" conseguiu chegar apenas na trigésima segunda posição entre os mais vendidos na época original de seu lançamento. Um resultado comercial modesto demais para um nome tão forte dentro da indústria fonográfica como Elvis Presley.

Elvis Presley - I've lost You 
(Single, Estados Unidos, 1970)
Lado A:  I've lost You 
Lado B: The Next Step is Love
Produção: Felton Jarvis
Selo: RCA Victor
Data de Lançamento: Julho de 1970
Melhor Posição nas Paradas: 32 (EUA), 9 (Reino Unido)

Pablo Aluísio. 

quarta-feira, 10 de janeiro de 2024

Elvis Presley - The Wonder of You / Mama Liked The Roses

Esse foi o segundo single de Elvis Presley nos anos 1970. O compacto fez muito mais sucesso do que o anterior, chegando ao Top 10 da Billboard entre os mais vendidos, alcançando a nona posição, o que para Elvis na época era muito bom. O single trazia duas canções. No lado A tínhamos a versão ao vivo da canção "The Wonder of You", gravada no palco em Las Vegas, em fevereiro de 1970, na sua segunda temporada na cidade. Como o single foi lançado em abril era uma gravação ainda muito recente, um verdadeiro presente para todos os fãs do cantor que não podiam ir até Vegas conferir pessoalmente o trabalho que ele vinha desenvolvendo na cidade. Essa era uma antiga canção, originalmente lançada por Ray Peterson em 1959, que Elvis tornava sucesso novamente nas paradas, uma proeza que apenas astros como ele conseguiam fazer. Afinal de contas transformar uma velha música romântica como essa novamente em hit, não era uma coisa das mais fáceis no concorrido mercado fonográfico americano da época. Essa faixa também ligava o single com o álbum "On Stage - February 1970". Era uma tradição das maiores gravadoras, onde um single sempre saía no mercado para promover o lançamento do álbum completo.

Já "Mama Liked the Roses" havia sido gravada em Memphis, em janeiro de 1969. Ao lado do produtor Chips Moman, Elvis realizou uma das mais produtivas e inspiradas sessões de gravação de sua vida. Gravando no American Studios, ele obviamente se sentiu em casa, completamente à vontade. Nessa mesma noite aliás ele chegou nas versões definitivas de dois outros clássicos de sua discografia, a maravilhosa "Don't Cry Daddy" e "Inherit the Wind". Um fato curioso é que tanto "Mama Liked the Roses" como "Don't Cry Daddy" possuem algo em comum em suas letras. Sâo músicas nostálgicas, melancólicas até, relembrando de um passado perdido, que ficou para trás, nas areais do tempo. Seria ótimo que ambas tivessem sido lançadas juntas, lado A e lado B, porém isso não ocorreu.  "Don't Cry Daddy" havia sido lançada no ano anterior e "Mama Liked the Roses" ficou inexplicavelmente arquivada por mais de um ano nos arquivos da RCA, só sendo lançada finalmente aqui, nesse single, no mercado. Coisas da RCA.

Elvis Presley - The Wonder of You
(single, Estados Unidos, 1970)
Lado A: The Wonder of You (Live)
Lado B: Mama Liked The Roses
Produção: Felton Jarvis, Chips Moman
Selo: RCA Victor
Data de Lançamento: Abril de 1970
Melhor Posição nas paradas americanas: 9 (Billboard). 

Pablo Aluísio.

Elvis Presley - FTD The On Stage Season

Eu sou um fã absoluto dessa temporada. Na época foi dito que Elvis estava arriscando demais já que essa seria uma época morta em Las Vegas. Havia poucos turistas nos cassinos e hotéis. Os resultados da primeira temporada do cantor na cidade (em 1969) porém tinham sido tão bons que Elvis e o Coronel resolveram arriscar mesmo e foram para Vegas bem no começo do ano de 1970. Deu certo! Elvis inclusive mudou até mesmo os hábitos de fluxos de turistas na cidade, mostrando que ainda tinha um nome forte o suficiente para reerguer sua carreira (que andava em baixa por causa dos filmes de Hollywood) ao mesmo tempo em que conseguia formar uma nova legião de fãs (processo que diga-se de passagem continua em evolução até mesmo nos dias de hoje). Na discografia oficial americana essa temporada deu origem ao ótimo álbum "On Stage - February 1970". Com poucas músicas - mas bem selecionadas - o disco servia para mostrar o clima e o repertório do astro na cidade do pecado em sua segunda rodada de shows.

Nesse novo FTD temos duas apresentações de Presley dessa mesma temporada. De forma inteligente resolveram colocar em apenas um título os dois shows mais significativos, justamente o da abertura (realizado no dia 26 de janeiro) e o do encerramento (no dia 23 de fevereiro). Como se sabe os concertos tinham que ser rápidos, pois Elvis geralmente realizava duas apresentações por noite, por isso o fã pode vir a estranhar a pouca duração dos shows. A pouca duração porém era compensada pela vontade de Elvis em se apresentar bem, inovando, procurando por outras canções, mudando o repertório (nesses dias ele ainda era bastante criativo e muito esforçado em Vegas). O show de abertura não tem uma qualidade sonora impecável. Talvez pela falta de talento do responsável pelas gravações algo saiu errado, com sobrecarga de grave nos microfones, mas isso não chega a ser um problema. O segundo concerto é bem melhor sob esse aspecto técnico. Não importa. Afinal de contas o que vale mesmo é a importância e o resgate histórico.

FTD The On Stage Season (Estados Unidos, Dinamarca, 2014) - CD-1: Las Vegas, Jan. 26 1970 / 1.All Shook Up 2.That's All Right 3.Proud Mary 4.Don't Cry Daddy 5.Teddy Bear / Don't Be Cruel 6.Long Tall Sally 7.Let It Be Me 8.I Can't Stop Loving You 9.Walk A Mile In My Shoes 10.In The Ghetto 11.True Love Travels On A Gravel Road 12.Sweet Caroline 13.Polk Salad Annie 14.Introductions 15.Kentucky Rain 16.Suspicious Minds17.Can't Help Falling In Love / CD-2: Las Vegas, Feb. 23 1970 / 1.All Shook Up 2.I Got A Woman 3.Long Tall Sally 4.Don't Cry Daddy 5.Hound Dog 6.Love Me Tender 7.Kentucky Rain 8.Let It Be Me 9.I Can't Stop Loving You 10.See See Rider 11.Sweet Caroline 12.Polk Salad Annie 13.Introductions 14.Lawdy Miss Clawdy 15.Heartbreak Hotel 16.One Night 17.It's Now Or Never 18.Suspicious Minds 19.Can't Help Falling In Love. 

Pablo Aluísio.

quarta-feira, 3 de janeiro de 2024

Elvis Presley - Kentucky Rain / My Little Friend

O primeiro single de Elvis nos anos 70 trazia canções gravadas no ano anterior, no American. Esse single aliás, lançado tardiamente, trazia ao mercado os últimos materiais gravados por Elvis naquelas sessões que foram consideradas as melhores da carreira do cantor durante os anos 60. Após anos de trilhas sonoras Elvis voltava a gravar com afinco e determinação, com ótimo repertório e o que era melhor de tudo, em Memphis, sua cidade querida. Essas faixas do American foram extremamente bem recebidas pela crítica, pois era um verdadeiro renascimento artístico por parte de Elvis.

Nesse mesmo dia Elvis ainda gravaria a versão definitiva de "Only the Strong Survive". Realmente é um lote de canções bem acima da média, com ótimos arranjos e produção. Apesar de tudo isso não considero "Kentucky Rain" um dos grandes destaques do material produzido no American. Certamente é bem gravada, porém seu ritmo um pouco indeciso não me agrada muito. Prefiro a singeleza de "My Little Friend", que destoava um pouco da consistência das outras músicas gravadas nessa ocasião. Era mais pueril, lembrando um pouco suas trilhas sonoras mais simples. De qualquer forma "Kentucky Rain" cumpriu suas pretensões, mantendo a discografia de Elvis em alta entre a crítica. Comercialmente falando não fez muito sucesso, chegando apenas no Top 20 da Billboard, em décima sexta posição. Nunca foi um grande sucesso, mas serviu para completar o pacote de músicas do American que ainda não tinham chegado ao mercado. No saldo final é um bom single, nada espetacular, mas mantendo um certo nível de qualidade.

Elvis Presley - Kentuck Rain (1970)
Single: Kentucky Rain / My Little Friend
Cantor: Elvis Presley
Selo: RCA Victor
Data de Lançamento: Fevereiro de 1970
Melhor posição Billboard: 16
Produção: Chips Moman, Felton Jarvis
Estúdio: American Sound, Memphis, Tennessee
Músicos: Elvis Presley (vocais e violão), Reggie Young (guitarra), Tommy Cogbill (baixo), Gene Chrisman (bateria), Bobby Wood (piano), Bobby Emmons (órgão).

Pablo Aluísio.

quarta-feira, 20 de dezembro de 2023

Elvis Presley - On Stage, February 1970 - Parte 5

Elvis Presley - On Stage, February 1970 - Parte 5
O vinil segue tocando na agulha e vamos chegando ao final do álbum, com suas duas últimas músicas. "Walk a Mile In My Shoes" sempre foi uma das minhas preferidas dessa fase da carreira de Elvis. Certa vez Elvis declarou: "Antes de criticar os outros, meu caro, se coloque no lugar deles!". A essência da letra dessa música é justamente essa. Coloque-se no lugar do outro, lute suas batalhas, vejas as dificuldades que cada um enfrenta na sua própria pele. Criticar é fácil, viver os problemas alheios, não! Elvis foi tão criticado ao longo dos anos 60 que ele sabia muito bem o que essa mensagem significava. "Caminhe uma milha em meus sapatos", ou seja, fique no meu lugar, veja como é difícil andar nessa jornada, como a vida definitivamente não é nada fácil para ninguém. Em um trecho a letra é clara sobre isso ao dizer: "Viva um pouco no meu lugar, antes de abusar, criticar e acusar, viva um pouco no meu lugar". Aliás se formos analisar bem a letra foi a chave, o fator determinante, que fez Elvis gravar essa canção. Elvis estava farto, cansado, exausto de ser tão criticado depois de tantos anos. 

Em termos puramente musicais "Walk A Mile In My Shoes" não havia se destacado antes de Elvis gravar a sua própria versão. A canção foi lançada de forma bem obscura como Lado B de um single do cantor e compositor Joe South. O compacto, um tanto precário, quase uma produção independente, foi lançado como sendo do grupo "Joe South and the Believers". Na realidade não era bem uma banda, um novo conjunto vocal country, mas sim um arranjo envolvendo Joe South, seu irmão Tommy e sua cunhada. Eles se reuniram em Atlanta, juntaram uns trocados, fizeram uma gravação praticamente amadora em um estúdio da cidade e mandaram prensar 500 cópias. Tinham a esperança de vender pelo menos umas 300 cópias para lucrar algum dinheiro, e isso era tudo. Acontece que a música acabou chegando até Elvis (não me perguntem como!) e assim o astro a cantou ao vivo em Las Vegas. Quando o álbum "On Stage" chegou nas lojas Joe South pulou de alegria obviamente. Depois de Elvis colocar sua voz em sua criação finalmente Joe conseguiu lançar um single profissional que, pasmem, acabou fazendo um bom sucesso na parada country do cinturão bíblico do sul dos Estados Unidos. Sua sorte havia finalmente mudado!

O disco fecha as cortinas com a grandiosa e bela "Let It Be Me". A primeira vez que ouvi essa música não foi na voz de Elvis Presley. Na verdade ela já havia feito muito sucesso antes na interpretação do grupo "The Everly Brothers". Essa versão - a primeira em língua inglesa - havia sido lançada pelos irmãos em 1960, alcançando um grande sucesso nas paradas, em especial da Billboard Hot 100. É curioso que esse sucesso chegou talvez tarde demais para eles. Já havia uma grande tensão entre os dois e a canção acabou sendo um de seus últimos sucessos juntos. Curiosamente alguns meses atrás assisti a uma entrevista com Paul McCartney afirmando que o estilo vocal do Everly Brothers havia se tornado a grande influência para os Beatles em seus primeiros discos. De fato, basta ouvir álbuns como "Please Please Me" ou "With The Beatles" para comprovar bem isso. Além da influência vocal havia também os arranjos, baseados principalmente na dobradinha voz e violão, que os Beatles também procuraram seguir, principalmente nas canções mais lentas, ternas, com letras que falavam de amor, romance e paixão. Não há como negar, os Beatles deveram muito em termos de influência musical a essa dupla americana. De qualquer maneira apesar da inegável importância da versão dos irmãos Everly, o fato é que a versão original não era deles. A primeira gravação dessa canção foi lançada na França com o título de "Je t'appartiens" na voz do cantor Gilbert Bécaud. 

Isso abre um fato histórico interessante. Elvis teria conhecido a música através do single dos Everly Brothers ou tinha gostado dela por causa da versão original, quando ainda estava servindo o exército americano na Europa? Como se sabe Elvis adorava música francesa e chegou a visitar Paris em uma viagem de férias enquanto estava em solo europeu. Anos depois, consultando a discografia particular de Elvis em Graceland, descobriu-se que ele tinha tanto o compacto americano dos Everly Brothers como o álbum de Gilbert Bécaud. Na dúvida sobre qual gravação era a sua preferida uma coisa é certa: quando apareceu a oportunidade Elvis não deixou passar em branco e resolveu também gravar sua versão em forma de homenagem para essa grande canção, que em suas mãos ganhou um arranjo rico, com muita orquestra, bem diferente das versões originais que primavam pela suavidade e simplicidade harmônica.

Pablo Aluísio. 

Elvis Presley - Kentucky Rain

Elvis Presley: Kentucky Rain
Pelo figurino da capa já podemos ver que se trata da primeira temporada de Elvis em 1970 na cidade de Las Vegas. Afinal é a mesma roupa de palco que vemos na capa do álbum oficial "On Stage - February 1970". Aqui nesse lançamento temos o concerto realizado no dia 22 de fevereiro de 1970, que para muitos se trata de um concerto inédito na qualidade "Audience Records" (que significa tape gravado direto do meio do público, muitas vezes com equipamento não profissional). E essa temporada sempre foi uma das mais apreciadas pelos fãs de Elvis. Não foi uma das mais registradas, por outro lado, o que traz um sabor de interesse sempre que algo que foi gravado nessa época chega ao mercado. 

O bom desse tipo de registro é que ele acaba captando a reação da plateia, sem efeitos sonoros ou nada que o valha. O curioso é que não havia a gravação da última canção da noite, a romântica Can't Help Falling In Love. Assim os produtores acabaram colocando uma versão gravada dois dias antes, para não soar ao ouvinte como algo incompleto. No mais o CD vale por registrar uma das poucas versões ao vivo de Elvis para a canção Kentucky Rain. Há também um curioso momento da apresentação em que Elvis diz ao público que o cantor Roy Orbison está na plateia, prestigiando seu show. Algo bem legal do ponto de vista histórico.

Elvis Presley: Kentucky Rain
1. Opening Vamp - 02. All Shook Up - 03. I Got A Woman - 04. Long Tall Sally - 05. Don't Cry Daddy - 06. Hound Dog - 07. Monologue - 08. Love Me Tender (with false start) - 09. Kentucky Rain - 10. Let It Be Me - 11. I Can't Stop Loving You - 12. Walk A Mile In My Shoes (false start only) - 13. C. C. Rider - 14. Sweet Caroline - 15. Polk Salad Annie - 16. Introductions of singers, musicians, orchestra - 17. Suspicious Minds - 18. Introduction of Roy Orbison - 19. Can't Help Falling In Love.

Pablo Aluísio.

quarta-feira, 13 de dezembro de 2023

Elvis Presley - On Stage, February 1970 - Parte 4

Elvis Presley - On Stage, February 1970 - Parte 4
Seguindo a audição do disco em frente ouvimos os primeiros acordes do clássico "Yesterday" de Lennon e McCartney. A canção original dos Beatles foi um dos maiores sucessos dos anos 60. Lançada originalmente no álbum "Help!" em 1965 ela acabou virando um verdadeiro fenômeno de vendas e popularidade naquela década inesquecível. Durante anos se especulou se Elvis algum dia iria lançar sua própria versão, já que praticamente todos os outros grandes cantores americanos, como Frank Sinatra e Dean Martin, acabaram fazendo as suas. Em estúdio isso jamais aconteceria. Embora Elvis gostasse de vários discos e canções dos Beatles, ele nunca se interessou em gravar suas próprias versões do repertório do quarteto inglês, pelo menos até 1969. Isso mudou com sua volta aos palcos. Como artista de concertos ao vivo Elvis sentiu a necessidade de incluir algumas canções dos Beatles em seu repertório. 

"Yesterday", a imortal criação de Paul McCartney, foi a primeira delas a sair em um disco oficial de Elvis Presley. Ela veio não numa versão de estúdio, como era esperado, mas ao vivo, no palco. Um fato curioso envolve a inclusão dessa faixa nesse álbum. Como sabemos o disco foi intitulado "On Stage - February, 1970" (Em bom português: "No Palco - Fevereiro de 1970"). Isso levava o ouvinte a pensar que todas as gravações tinham sido realizadas nesse período, justamente a da segunda temporada de Elvis em Las Vegas. Isso era apenas parcialmente verdadeiro. "Yesterday" na verdade havia sido gravada em agosto do ano anterior, na primeira temporada de Elvis em Las Vegas. Para ser mais exato no dia 25 de agosto de 1969, algo que nunca foi informado ao fã que comprou o disco uma vez que não havia ficha técnica e nem maiores detalhes na edição original desse disco. Apesar disso a boa seleção acabou deixando tudo com um aspecto bem imperceptível ao fã menos atento. Na realidade o consumidor menos detalhista poderia até mesmo jurar estar ouvindo a uma única apresentação de Elvis, realizada na mesma ocasião. Deixando isso um pouco de lado temos que admitir que essa versão live de "Yesterday" é muito boa, embora não seja tecnicamente perfeita. Se Elvis a tivesse gravada em estúdio, com todo o aparato e cuidado técnico que esse tipo de gravação traz, o resultado teria sido inegavelmente muito superior.

Dentro do conceito de trazer músicas inéditas dentro da discografia de Elvis na época (estamos falando de 1970) a RCA Victor selecionou essa versão ao vivo do grande clássico do rock americano, "Proud Mary". A canção havia sido lançada originalmente em janeiro de 1969 pelo grupo Creedence Clearwater Revival, um dos melhores de sua geração. O single (com "Born on the Bayou" no lado B) acabou se tornando um dos maiores sucessos da banda. Realmente é uma grande composição, um exemplo perfeito do tipo de country / rock que Elvis estava procurando para renovar seu repertório. Certamente cantar novas versões de sucessos dos anos 50 como "Hound Dog" ou "Don´t Be Cruel" em Las Vegas até poderia soar interessante, principalmente para os fãs mais veteranos, porém era igualmente necessário não esquecer o tipo de sucesso que andava tocando nas rádios naquele período. Segundo Felton Jarvis, o produtor e arranjador de Elvis, tudo o que o cantor queria na época era equilibrar seu legado, suas antigas canções, com o mundo musical contemporâneo. Não soar apenas como um artista meramente nostálgico, que vivia de glórias passadas. A escolha foi perfeita. A interpretação de Elvis foi uma das mais empolgantes e se tornou o ponto alto da temporada. Curiosamente, apesar da boa repercussão, Elvis iria deixar a música de lado nos anos seguintes. 

É bom lembrar porém que "Proud Mary" surgiu duas vezes na discografia oficial de Elvis. A primeira foi aqui, no "On Stage". Uma versão bem executada, bem elaborada, com um ritmo mais cadenciado e um sabor quase acústico. A segunda gravação veio no álbum "Elvis as Recorded at Madison Square Garden" de 1972. Para muitos essa segunda versão seria bem melhor, contando com um pique e ritmo que ficaram bem conhecidos dessa eletrizante apresentação de Elvis em Nova Iorque. Por fim, um detalhe interessante: Embora muitos reconheçam que o single do Creedence Clearwater Revival tenha sido vital para que Elvis a gravasse, sua maior influência teria vindo mesmo da versão de Ike & Tina Turner, que lançada nesse mesmo ano (1970), teria impressionado pela garra e vitalidade da interpretação da cantora. Ouvindo todas as versões (a do Creedence, a de Tina Turner e a de Elvis) chegamos na conclusão que realmente Elvis retirou muito mais inspiração da segunda gravação, que combinava muito mais com o estilo de Las Vegas. Afinal de contas ele certamente sabia que poderia contar com essa música para levantar o público durante os shows.

Pablo Aluísio. 

quarta-feira, 6 de dezembro de 2023

Elvis Presley - On Stage, February 1970 - Parte 3

Elvis Presley - On Stage, February 1970 - Parte 3
Fechando o Lado A do vinil temos "The Wonder of You". Esse era o tipo de música que Elvis vinha procurando para apresentar ao vivo, principalmente em palcos como o de Las Vegas, onde esse tipo de exuberância orquestral era praticamente um pré-requisito para qualquer artista se dar bem e ser aclamado por público e crítica. O curioso é que a música em si era antiga, gravada e lançada no final da década de 1950 pelo cantor pop Ray Peterson, justamente na época em que Elvis estava servindo o exército americano numa base na Alemanha. Não há maiores informações sobre se Elvis a teria conhecido na Europa ou na sua volta aos Estados Unidos em 1960, até porque naqueles tempos não havia ainda a facilidade de comunicação e divulgação que temos hoje em dia, mas o fato é que a música conquistou o cantor, tanto que ele pensou em gravá-la durante as sessões no American Studios em Memphis, no ano anterior. A canção chegou inclusive a ser selecionada, o novo arranjo elaborado e até ensaiado pela banda, mas no final passou mesmo em branco. Elvis jamais a gravaria em estúdio. 

O arranjo composto porém não seria desperdiçado. Já nos primeiros ensaios de sua segunda temporada Elvis resolveu inclui-la no repertório, ainda mais agora que a RCA Victor estava em busca de músicas inéditas dentro da discografia de Elvis. O próprio Felton Jarvis diria a Elvis que o "On Stage" seria na verdade um álbum de gravações inéditas, só que nas versões live, ao vivo. Assim com tudo certo a bela faixa foi incluída. Considero essa performance impecável, tanto por parte de Elvis como por parte da TCB Band. É fato que eles sabiam que estavam gravando músicas para o novo LP de Presley e por essa razão foram perfeccionistas na execução da música. Acertaram em cheio. A gravação que foi incluída nesse disco foi a registrada pela RCA em 19 de fevereiro de 1970. Assim que desceu do palco Elvis mandou um recado para seu produtor, para que essa versão fosse a escolhida para o álbum pois ele bem sabia que ela havia ficado simplesmente maravilhosa. Uma das melhores interpretações ao vivo de Elvis em toda a sua carreira.

Virando o vinil, para o Lado B, ouvimos os primeiros acordes de "Polk Salad Annie". Essa canção é uma das mais sui generis da carreira de Elvis. O autor, Tony Joe White, foi criado nas regiões pantanosas da Louisiana e assim escreveu essa letra, meio maliciosa, sobre uma garota pobre do sul, que tinha hábitos alimentares bem regionais. Usando de gírias de sua região natal ele criou esse enredo meio nonsense, algo que no final das contas nunca fez muito sentido ou foi de fácil entendimento para os ouvintes de outras regiões dos Estados Unidos. Por essa mesma razão sua letra soava incompreensível para quem não era do sul. Assim, sempre que Elvis a cantava, usava uma pequena introdução tentando explicar do que se tratava. Na maioria das vezes não adiantava nada, mas o que valia era a boa intenção. Em uma época em que o psicodelismo imperava, com letras que não faziam nenhum sentido, até que Elvis poderia dispensar esse tipo de preciosismo, já que para falar a verdade ninguém estava muito se importando mesmo com a letra da música. 

O que salvava "Polk Salad Annie" era o seu embalo, o ritmo e as coreografias que Elvis apresentava no palco. E por falar em misturas e misturebas, Elvis também resolveu jogar em um mesmo caldeirão movimentos que tinha aprendido com mestres em artes marciais e o estilo dançante da canção, resultando tudo em algo novo. Nesses primeiros concertos Elvis ainda se esmerava em dar o melhor de si, as melhores performances, mas com o passar dos anos a execução de "Polk Salad Annie" foi se tornando mais displicente, quase uma gozação por parte de Elvis nos shows. De uma forma ou outra o que não se pode negar é que a música era ótima para concertos ao vivo! Por outro lado Elvis nunca gravou uma versão oficial com sua banda em estúdio. Era desnecessário. "Polk Salad Annie" afinal era pura festa e diversão.

Pablo Aluísio.

Elvis Presley - Closing Night - February 1970

Quem é fã da velha geração sabe que até alguns anos atrás a única oportunidade de se ouvir Elvis ao vivo era através de seus discos oficiais que eram lançados comercialmente no Brasil. Numa época em que não havia internet o fã ficava restrito ao que era disponibilizado pela gravadora nas lojas. Muitas vezes o disco era lançado na época e nunca mais relançado deixando todos os fãs com as mãos abanando. Isso aconteceu com muitos LPs de Elvis. A grande maioria de seus títulos oficiais só foram lançados nos anos 60 e 70 e nunca mais chegaram nas lojas comuns. Esse infelizmente foi o destino de grande parte de seus discos dos anos 70. Para o fã brasileiro da era pré internet a única chance de se chegar a ouvir um disco oficial nessa situação era ter a sorte de encontrá-lo perdido em algum sebo ou então comprá-lo de outro colecionador. Além do preço exorbitante tínhamos de conviver com o mal estado desses discos, fruto natural de anos e anos de uso pelos seus antigos donos. Porém houve honrosas exceções nesse estado de coisas.

Em 1986 a RCA Brasil, em um raro gesto de generosidade, lançou o LP "On Stage - February 1970" nas lojas! Nem é preciso dizer que tal lançamento foi um verdadeiro choque para os fãs brasileiros. Não era todo dia que se conseguia encontrar nas lojas de vinis um LP oficial de Elvis dos anos 70, tinindo de novo. Todos estavam acostumados apenas com a velhas e cansadas coletâneas como "Disco de Ouro" e outros derivativos, sem nada de atraente para o colecionador desse cantor. O evento foi tão marcante que até hoje me lembro da primeira vez que ouvi o On Stage. Foi um marco. Apenas dez músicas gravadas ao vivo em Las Vegas na segunda temporada do astro. Elvis demonstrava grande poder vocal, pleno domínio de palco, ótima interatividade com os fãs e um repertório novo e contagiante. Embora fosse um jovem fã dos anos 80 penso que essa também foi a sensação dos fãs que o ouviram pela primeira vez nos anos 70. Hoje com a popularização da internet e com a proliferação e divulgação sem limites de seus discos, uma sensação como essa que senti nos anos 80 soa banal e fora de contexto para o fã jovem atual, porém de certa forma me sinto privilegiado de ter vivenciado algo assim.

Sempre considerei "On Stage" um dos trabalhos mais coesos da carreira de Elvis. Tal como foi concebido o disco é redondo e flui com extrema naturalidade, embora saibamos que ele é fruto de montagem, inclusive de apresentações diferentes do cantor. Sempre o terei entre os meus preferidos, fazendo eternamente parte da minha lista dos melhores registros de Elvis ao vivo em sua carreira. Pois bem, 21 anos depois de ouvir pela primeira vez o "On Stage" chegou em minhas mãos o CD bootleg "Closing Night - February 1970". O contexto obviamente é completamente diverso. O que antes era raro e complicado de se encontrar hoje está ao alcance da mão (ou melhor dizendo, do mouse) de qualquer garoto pré-adolescente. Basta um click e o CD está disponível para ouvir por qualquer pessoa. Embora ainda hoje tenhamos colecionadores que primem pelo material original (ou seja, aquele que compra o CD pela mesma net e espera pela chegada em sua casa do produto) chegaremos em breve ao estado em que não se necessitará mais de um suporte material para a música, que simplesmente viajará pelo espaço virtual sem qualquer tipo de limitação, algo completamente fora de imaginação para um garoto dos anos 80 que tinha a audácia de tentar colecionar a discografia de Elvis naquela época.

Porém como tudo na vida temos também o lado negativo. Não existe mais a sensação de descoberta que tive ao ouvir pela primeira vez o "On Stage", embora ao ouvir o bootleg em questão tenha constatado que o brilhantismo de Elvis no palco ainda está lá, sem nenhum sinal de ofuscamento, mesmo após anos e anos de repetição. Isso era mais do que óbvio. As três primeiras temporadas de Elvis em Las Vegas (a primeira em 1969 e as duas de 1970) são fantásticas. Embora Elvis tenha feito alguns shows abaixo da média nessa última, em todos os registros das demais apresentações sempre escutei um cantor no auge, focado nos concertos, cantando de forma impecável, apresentações dignas de seu mito. Os diversos problemas de sua vida pessoal ainda não tinham adentrado no palco. Elvis esbanjava versatilidade, disposição e interesse. O repertório era novo e empolgante e o astro dava o melhor de si. São momentos majestosos. Por essa razão Closing Night - February 1970 é extremamente necessário ao fã do cantor. Não há versões medíocres aqui. O CD pode ser dividido em três partes:

A primeira traz o show do dia 23 de fevereiro de 1970. A segunda parte traz parte dos ensaios realizados por Elvis no dia 18 desse mesmo mês e por fim a terceira e última parte traz a entrevista coletiva dada por Elvis antes de seu primeiro concerto em Houston no Texas. O concerto do dia 23 é tecnicamente excelente. Três ótimas versões abrem o show: All Shook Up, I Got a Woman e Long Tall Sally. O primeiro grande destaque dessa primeira parte vem logo a seguir: Elvis apresenta uma ótima versão ao vivo de Don´t Cry Daddy. A execução é bem mais rápida que sua versão de estúdio o que acaba trazendo maior leveza ao conjunto. Não há dúvidas que tudo se traduz em um ótimo momento. Outra versão digna de nota é a de Kentucky Rain. É outra representante ao vivo de um dos melhores registros em estúdio da carreira de Elvis. Embora a música pudesse trazer problemas em sua execução ao vivo para Elvis e banda, eles se saem extremamente bem no saldo final, o que demonstrava o grande apuro técnico da TCB Band naquele momento.

O concerto segue sem grandes sobressaltos e surpresas. Elvis está bem em praticamente todas as faixas. Brinca um pouco na doce Sweet Caroline, apresenta uma ótima Polk Salad Annie (novidade e grande sucesso da temporada) e generosamente vai ai piano cantar um medley delicioso de Blueberry Hill / Lawdy Miss Clawdy (onde Elvis tenta de forma divertida e desastrada tocar Blueberry Hill até o fim e desiste logo, emendando para uma boa versão de Lawdy, Miss Clawdy). Como se não bastasse até traz uma homenagem ao seu grande hit do passado, It´s Now Or Never (aqui com arranjo bem mais simples e eficaz do que as posteriores que contariam com as péssimas introduções vocais de Sherril Nielsen). De quebra Elvis ainda se arrisca a tirar algumas notas de sua guitarra elétrica na faixa One Night. A parte do show se encerra com competentes versões de Suspicious Minds (muitos anos antes de cair na mesmice) e Can´t Help Falling In Love (com sua linda melodia de sempre). A segunda parte do CD traz algumas curiosidades interessantes.

A primeira delas é a versão de Walk A Mile In My Shoes do dia 18. A principal curiosidade dessa versão é o momento em que Elvis perde o fio da meada da música e passa batido na sua parte. Depois disso ele até ameaça perder o controle e cair na risada mas se recupera bem e termina a canção sem maiores imprevistos. Na parte de ensaios ouvimos duas versões da marcante The Wonder Of You. Na primeira tentativa Elvis erra a letra e se diverte. Mesmo com esse ligeiro contratempo não há como negar a grandiosidade dessa canção, uma das mais vibrantes e robustas do repertório de Presley. No segundo registro banda e vocais tentam se encontrar nos ensaios, Elvis comparece com seu tradicional talento. Embora incompleta podemos ouvir com clareza a famosa apoteose final, marca registrada da música. A terceira e última parte do CD traz partes da entrevista que Elvis concedeu momentos antes da série de seis concertos que realizou em Houston. Embora interessante fica um pouco fora do contexto, mesmo que o show tenha ocorrido em cima da temporada de Vegas. Ficaria melhor situada em um CD sobre Houston mas enfim... Elvis se mostra simpático, comenta amenidades, fala se seus anos na Sun e faz sua parte na promoção dos concertos - que seriam grandes sucessos de bilheteria, abrindo as portas para suas futuras turnês pelo país nos anos 70. Enfim, o CD Closing Night - February 1970 é extremamente recomendado. Com ele o legado do antigo vinil On Stage - February 1970 está bem preservado e representado.

Elvis Presley - Closing Night - February 1970: Selo: Madison - Músicas: All Shook Up - I Got a Woman - Long Tall Sally - Don´t Cry Daddy - Hound Dog - Love Me Tender - Kentucky Rain - Let It Be Me - I Can´t Stop Loving You - CC Rider - Sweet Caroline - Polk Salad Annie - Intrumental Intermezzo - Introductions Of Vocalists, Band Orchestra - Blueberry Hill / Lawdy Miss Clawdy - Heartbreak Hotel - One Night - It´s Now Or Never - Suspicious Minds - Can´t Help Falling in Love - 1970 Bonus Tracks: Walk a Mile In My Shoes - The Wonder Of You - The Wonder Of You - Press Conference Houston, Texas. Data de gravação: 23 de fevereiro de 1970, Las Vegas.

Pablo Aluísio.

quarta-feira, 29 de novembro de 2023

Elvis Presley - On Stage, February 1970 - Parte 2

Elvis Presley - On Stage, February 1970 - Parte 2
Uma das músicas que mais gosto desse álbum é a bela "Sweet Caroline" de Neil Diamond. A apresentação dessa canção foi um dos pontos altos da temporada de fevereiro de 1970. Essa era uma música bem recente nas rádios pois ela havia sido lançada como single (com "Dig In" no lado B) poucos meses antes. Elvis, como todos sabemos, era fã incondicional da música de Diamond, a tal ponto que ao longo de sua carreira gravou várias canções desse artista. Para sua apresentação no palco em Las Vegas acabou criando uma coreografia própria que ficou excelente. O grande diferencial da versão de Elvis para a original de Diamond vem dos arranjos. A música na voz de Neil Diamond soava mais pueril, com uma sonoridade bem hippie. Com Elvis ela ficou mais marcante, fruto dos metais da orquestra. A singeleza do resto, principalmente em relação à letra, manteve-se. 

Outro detalhe técnico chama a atenção. Alguns autores afirmam que "Sweet Caroline" foi sugerida a Elvis ainda quando ele estava produzindo nas sessões do American Studios em Memphis, no ano anterior. Isso provém do fato de que a versão de Diamond foi produzida por Chips Moman (que também produziu aquelas sessões com Elvis) e Tommy Cogbill (que também tocou com Elvis naquela ocasião). Apesar de ter sido oferecida a Elvis e tudo mais o cantor não a gravou em estúdio. As razões de sua recusa seguem desconhecidas. Talvez a grande qualidade das outras canções tenha ofuscado "Sweet Caroline", quem sabe... Foi um erro de Elvis porque ele teria gravado a versão antes de seu autor e teria feito bastante sucesso nas paradas se a tivesse lançado como single, ainda em 1969. Depois disso o próprio Elvis foi surpreendido pela versão original de Neil Diamond que lançada como compacto pelo selo MCA fez bonito nas paradas, ganhando um disco de platina por suas vendas. Todo esse sucesso poderia ter sido de Elvis caso ela não a tivesse descartado no American. Tentando contornar a bobagem que havia feito Elvis resolveu levá-la para os palcos em Vegas, confirmando o velho ditado que diz "Antes tarde do que nunca".

Depois do lirismo da faixa anterior temos a vibração de "Runaway". Diante do propósito de só trazer canções inéditas para esse álbum, Elvis subiu ao palco em Las Vegas para cantar o hit "Runaway" de Del Shannon. Essa música foi número 1 na lista Billboard Hot 100 em fevereiro de 1961. Dois aspectos são dignos de menção. O primeiro é que a canção nunca havia sido gravada por Elvis em estúdio antes (por essa razão era inédita em sua discografia). O segundo é que ela na verdade não havia sido gravada em fevereiro de 1970 como constava na capa do LP original, mas sim em agosto de 1969, na sua primeira temporada de retorno aos palcos em Nevada. A RCA Victor quase a lançou no disco anterior, Elvis in Person, mas por precaução resolveu arquivá-la por mais algum tempo. Quando pintou o projeto desse novo LP ela se mostrou ideal para fazer parte de seu repertório. Ótima decisão. Segundo o próprio Del Shannon em uma entrevista essa canção acabou lhe trazendo uma das maiores alegrias de sua vida. Ele, como tantos outros milhares de admiradores de Elvis, fez questão de assistir o Rei do Rock ao vivo em Las Vegas. 

Para um artista que parecia só realizar concertos de dez em dez anos era uma oportunidade única, imperdível. Na noite em que estava na plateia Elvis parou repentinamente a apresentação e resolveu comunicar para os presentes que Del Shannon estava ali, naquela noite, lhe prestigiando. Shannon ficou completamente surpreendido, pois sequer havia comunicado ao staff de Elvis que iria assistir ao seu concerto. Depois de agradecer sua presença Elvis então mandou ver em sua própria versão do sucesso "Runaway", deixando Shannon emocionado. Depois o encontrou em seu camarim. Sobre esse encontro o autor declarou: "Assistir Elvis cantando minha canção foi muito emocionante. Depois ao encontrá-lo no camarim pude constatar como Elvis era educado, humilde e solícito. Ele me deixou emocionado. Nem quando os Beatles fizeram sua própria versão de Runaway pude ficar tão emocionado. Aquela foi uma das grandes noites de toda a minha vida. Uma lembrança que jamais esquecerei".

Pablo Aluísio. 

quarta-feira, 8 de novembro de 2023

Elvis Presley - On Stage, February 1970 - Parte 1

 Elvis Presley - On Stage, February 1970 - Parte 1
"On Stage - February 1970" foi o primeiro álbum gravado ao vivo por Elvis Presley a ser lançado na década de 70. De certa forma foi o pioneiro numa série de discos de grande sucesso de público e crítica. Saiam de cena as trilhas sonoras de filmes e entravam os discos gravados nas temporadas de Elvis em Vegas e nas suas turnês pelos Estados Unidos. A ideia desse primeiro disco foi bem interessante. Ao invés de lançar um LP aos moldes do anterior (Elvis in Person), trazendo um show na íntegra, com vários sucessos de Elvis gravados ao vivo, os produtores resolveram fazer uma seleção apenas com músicas inéditas dentro da discografia de Elvis. Assim iria satisfazer tanto o fã que estivesse em busca de um disco gravado no palco por Elvis como aquele que estivesse em busca de novidades, de material inédito do cantor. 

A faixa que abriu o disco foi justamente essa "C.C. Rider" que ao longo do tempo iria tradicionalmente abrir os concertos de Elvis nos anos 70. A origem da canção é desconhecida. Já na década de 1910 ela já era bem tocada por cantores de blues em bares no sul. Quem a criou? Provavelmente um desses artistas cujo nome se perdeu no tempo... Apenas em 1924 seria gravada pela primeira vez por Gertrude "Ma" Rainey ainda nos tempos dos acetatos de cera dos gramofones. Como era uma canção tradicional nunca desapareceu, sempre tocada em eventos pelos estados sulistas. Aqui Elvis a revitalizou, dando um arranjo mais moderno, mais rock ´n´ roll. Curiosamente se você tiver a oportunidade de encontrar uma cópia original do LP americano verá que a canção foi creditada no selo do disco ao próprio Elvis Presley. Na verdade Elvis não a compôs, mas sim ajudou nos arranjos. Esse fato acabou justificando a retificação nas reedições posteriores do disco quando então foi creditado da forma correta com a expressão "Arr: Elvis Presley". Essa primeira versão que ouvimos aqui é excelente, mais acústica do que as demais. Além disso soava como novidade, algo que não iria se repetir com a exaustão de execuções repetidas dos anos seguintes quando ela finalmente ficaria saturada.

Sempre gostei muito dessa regravação de Elvis de "Release Me", um velho sucesso da década de 1940, gravada originalmente por Ray Price. Ele foi um artista muito popular durante a adolescência de Presley em Memphis, sempre tocando nas emissoras de rádio da cidade. "For the Good Times", outro de seus sucessos radiofônicos, seria gravada também por Elvis em pouco tempo (sendo lançada no álbum "Good Times" de 1974). Assim Elvis resolveu dar uma nova roupagem a esse velho hit country, usando de certa maneira como base a versão posterior de Engelbert Humperdinck, que chegou, imagine você, a disputar com um single dos Beatles (Penny Lane / Strawberry Fields Forever), a primeira posição nas paradas de sucesso da Inglaterra! Assim você já pode perceber que "Release Me" já era muito conhecida quando Elvis a interpretou em Las Vegas em sua segunda temporada. Como o cantor queria trazer mais material renovador para seu repertório a canção acabou se enquadrando muito bem no que ele tencionava fazer nos palcos da cidade. Em termos de melodia e letra "Release Me" é bem simples, fruto da época em que foi composta, no período da II Guerra Mundial. Aqueles soldados americanos que estavam lutando na Europa só queriam ouvir uma boa música country para relembrarem suas namoradas que ficaram nos Estados Unidos. Por essa razão a mensagem era simples e fácil de entender. Nada muito intelectualmente sofisticado. 

Como se sabe muitos desses militares na Europa ou no Pacífico encontraram novos amores nas cidades por onde passavam, assim a letra trazia essa mensagem ao mesmo tempo nostálgica de um amor do passado e libertária em relação a novos relacionamentos. Em termos de carreira de Elvis eu costumo qualificar canções como essa como "músicas de palco". Elvis nunca a gravou oficialmente em estúdio e ela só foi lançada na discografia oficial justamente nessa versão ao vivo. A interpretação do cantor foi excelente nessa noite e de todas as performances de Elvis cantando "Release Me" ao longo de sua carreira essa é certamente a melhor. Curiosamente Elvis também a descartaria rapidamente do repertório dos concertos, sem muita explicação. Assim ao longo dos anos ela seria sutilmente esquecida por Elvis e sua banda. Uma pena.

Pablo Aluísio. 

quarta-feira, 18 de outubro de 2023

Elvis '56

Título no Brasil: Elvis '56
Título Original: Elvis '56
Ano de Lançamento: 1987
País: Estados Unidos
Estúdio: Lightyear Entertainment
Direção: Alan Raymond, Susan Raymond
Roteiro: Alan Raymond, Susan Raymond
Elenco: Elvis Presley, Scotty Moore, Bill Black, DJ Fontana, The Jordanaires, Ed Sullivan, Steve Allen (em arquivos de imagens). 

Sinopse:
Em precioso trabalho de resgate e registro histórico os realizadores desse documentário foram atrás das imagens capturadas de Elvis Presley se apresentando em diversos programas de televisão nos Estados Unidos durante o ano de 1956, considerado o primeiro de grande sucesso de sua carreira. 

Comentários:
Houve um tempo em que ter acesso às imagens de Elvis se apresentando na televisão americana durante os anos 50 era algo extremamente complicado e raro de se encontrar. Claro que hoje em dia tudo pode ser visto pelo Youtube, mas naqueles anos 80 não existia nem a Internet. Então foi muito bacana quando esse documentário foi lançado em VHS no Brasil. Era material de relevância ímpar para quem curtia as origens e a história do rock. E nem preciso dizer que para os fãs de Elvis era algo muito precioso de se assistir. O único problema é que a distribuidora nacional não caprichou muito na edição nacional. Eu me recordo que a qualidade das imagens não era boa, mas ainda assim se tornou uma fita relativamente fácil de encontrar nas locadoras brasileiras. E o Elvis que encontramos aqui era o jovem Elvis roqueiro, com cabelos loiros, chocando a América conservadora com sua música que, naqueles tempos, era considerada selvagem, que levava os jovens para a delinquência juvenil. Enfim, essas cenas certamente não deixam de ser um registro histórico importante do que estava acontecendo culturalmente entre os jovens naqueles rebeldes anos 50, os tempos da brilhantina. 

Pablo Aluísio.

sexta-feira, 29 de setembro de 2023

Elvis: Amores e Desamores

Elvis: Amores e Desamores
A intenção desse documentário era trazer as antigas namoradas de Elvis Presley para contar sobre seus relacionamentos amorosos com o astro. Nem todas toparam. Há ausências importantes por aqui. A primeira namoradinha Dixie, por exemplo, recusou o convite. Anita Wood, a namorada "oficial" de Elvis nos anos 50 e começo da década de 60 mandou a filha para contar as histórias. Alegou estar com problemas de saúde, algo normal para uma mulher com mais de 80 anos de idade. A maior ausência entretanto é da própria Priscilla que não quis ter qualquer participação nesse filme. Para contornar esse problema os produtores colocaram trechos de entrevistas antigas da única esposa de Elvis, tudo mesclado com imagens reais da época, principalmente dos anos na Alemanha e do casamento do casal em Las Vegas. 

Em compensação a essas mulheres que não participaram do documentário temos a presença de Linda Thompson, a principal namorada de Elvis nos anos 70 e de Ginger Alden, sua última garota, que o encontrou morto no banheiro de Graceland no dia 16 de agosto de 1977. O filme também se destaca por não esconder o lado mais negativo de Elvis. Muitas dessas mulheres traçam um retrato complicado de Elvis, dizendo que ele era temperamental, muitas vezes infantil, agindo como um adolescente, mesmo já passando da idade de agir assim. E todas elas concordam que Elvis tinha uma obsessão nada saudável com a figura de sua mãe falecida. No fundo ela teria sido mesmo a única mulher que Elvis verdadeiramente amou em sua vida. 

E havia também o problema das garotinhas de 14 anos de idade. Elvis tinha uma certa obsessão em se relacionar com essas adolescentes. Nos dias de hoje ele enfrentaria muitos problemas, inclusive de ordem legal. Naquela época isso era visto como algo mais natural. Como bem salienta David Stanley, a fama de Elvis o salvou muitas vezes nesse aspecto. Mesmo quarentão, Elvis estava sempre se aventurando, tentando namorar jovens de 14. Era um tipo de fuga para ele que estava a cada dia perdendo sua própria juventude. Nos dias atuais com internet e vida online Elvis certamente não escaparia nem da questão jurídica e nem do cancelamento virtual. A carreira dele não iria sobreviver diante de algo assim, tão escandaloso! Enfim, um bom documentário, bem curioso, mas especialmente indicado para o público feminino que tenha curiosidade sobre como foi a sua vida pessoal. 

Elvis: Amores e Desamores (Elvis - Heartbreaker, Estados Unidos, 2022) Direção: Barbara Shearer / Roteiro: Barbara Shearer / Elenco: Elvis Presley (imagens de arquivo), Linda Thompson, Ginger Alden /  Sinopse: Nesse documentário diversas mulheres que se relacionaram com Elvis Presley dão seus depoimentos sobre a vida pessoal desse cantor. Em exibição no Brasil pelo canal GNT. 

Pablo Aluísio.

quinta-feira, 21 de setembro de 2023

Elvis Presley - Our Memories Of Elvis

Elvis Presley - Our Memories Of Elvis - Parte 1
Esse pode ser considerado o primeiro álbum póstumo de Elvis Presley, lançado poucos meses após sua morte. Nem preciso dizer que foi uma ideia do Coronel Tom Parker, porque nessa época ele passou a dominar completamente o legado de Elvis. Com a morte do cantor o Coronel conseguiu assinar um contrato ótimo (para ele, claro) com o pai de Elvis, Vernon, que sempre foi muito submisso ao próprio Coronel. Com o passar dos anos Elvis se rebelou algumas vezes contra Parker, mas sempre recuava, muitas vezes a conselho do pai Vernon. Essa é uma realidade histórica que não se pode negar. 

Então com um novo contrato o Coronel decidiu que iria movimentar a máquina promocional em torno de Elvis com novos lançamentos. Ele chegou a dizer a pessoas próximas que a morte de Elvis não iria mudar nada, porque depois que ele morreu estava vendendo mais discos do que quando estava vivo. Uma observação cruel e sem alma, mas que refletia o que estava de fato acontecendo. 

Então a "ideia genial" para esse novo álbum era simplesmente tirar todo o acompanhamento vocal e overdubs das recentes gravações de Elvis em estúdio para lançar o material cru, trazendo em essência apenas a voz de Elvis e a banda que o acompanhava no momento em que as músicas estavam sendo gravadas. Confesso que o resultado de fato ficou muito bom. Felton Jarvis, o produtor de Elvis, muitas vezes pesava demais a mão na hora de adicionar overtubs às gravações originais. 

E o disco abria justamente com uma versão muito honesta de Elvis de "Are You Sincere". Essa faixa havia sido lançada originalmente na discografia no disco "Raised on Rock" de 1973. Alguns não gostam da música pois avaliam ela como melancólica demais, diria até depressiva. Eu não penso assim. Gosto de sua sonoridade mais sóbria, mais intimista. E a voz de Elvis nesse disco se sobressai completamente. Uma performance realmente vinda da alma. Mostrava acima de tudo como ele era mesmo um grande cantor. 

Pablo Aluísio. 

quarta-feira, 2 de agosto de 2023

Elvis Presley - For LP Fans Only - Parte 5

A faixa "Lawdy Miss Clawdy" foi gravada no dia 3 de fevereiro de 1956. Nessa época Elvis já era um cantor profissional contratado pela grande multinacional RCA Victor. Os dias de quase amadorismo, da Sun Records, tinham ficado para trás. Agora ele viajava bastante, não apenas para fazer shows, mas também para gravar nos melhores estúdios de gravação, fossem localizados em Nova Iorque, Nashville ou Los Angeles. Elvis estava sempre ocupado, cumprindo seus compromissos de agenda. Relembrando o passado, conferindo a carga de trabalho a que era submetido, realmente apenas um jovem de sua idade iria conseguir manter aquele pique. E o mais incrível é que Elvis conseguia produzir muito, com qualidade artística.

Essa canção "Lawdy Miss Clawdy" havia sido composta pelo talentoso Lloyd Price. Era uma das preferidas de Elvis, tanto que assim que ele colocou os olhos na set list enviada pela RCA, com a lista das músicas sugeridas para gravação, ele a escolheu rapidamente, sem pensar duas vezes. Inicialmente a RCA pensou em colocar a faixa no primeiro disco de Elvis, mas essa ideia inicial não foi para a frente. Depois ela foi escolhida para fazer parte do segundo álbum do cantor na gravadora, mas igualmente foi deixada de lado. Entender porque uma canção tão boa foi sucessivamente cancelada nesses discos é uma questão sem resposta. É complicado entender o que se passava na cabeça desses executivos e produtores que montavam o repertório dos álbuns de Elvis nessa época distante.

Já "Mystery Train" vinha do repertório do acervo herdado da Sun Records pela RCA. Quando Elvis foi contratado pela grande gravadora de Nova Iorque ficou estipulado em seu contrato que a RCA também teria direito a todas as gravações que ele havia feito na gravadora de Sam Phillips. E essas canções foram sendo lançadas (ou relançadas) aos poucos. Em discos como esse "For LP Fans Only" surgia mais uma boa oportunidade de colocar essas gravações antigas no mercado novamente. Essa aqui foi gravada em julho de 1955, em um tempo em que Elvis ainda estava decidindo se iria virar cantor profissional mesmo ou fazer um curso de eletricidade para trabalhar na companhia de energia de Memphis. Nesses tempos ele apenas dirigia o caminhão da firma.

Em relação aos valores artísticos de "Mystery Train" devemos relembrar que para muitos críticos essa foi uma das maiores e melhores gravações de Elvis em sua carreira. Para Sam Phillips, por exemplo, não havia a menor dúvida que tinha sido o melhor que Elvis havia produzido em sua pequena gravadora. E de fato chega a ser incrível como aqueles jovens músicos conseguiram chegar em um take tão perfeito, com tão poucos recursos disponíveis. A tecnologia de gravação da época era rudimentar. Fazer edições era praticamente impossível. Assim era mesmo uma questão de se chegar em um momento especial para capturar o talento dos artistas. No caso de Elvis, Scotty e Bill, isso aconteceu justamente aqui. Foi mesmo algo fantástico por parte deles. Algo que aliás nunca mais se repetiria ao longo de sua persmanência na Sun de Memphis.

Pablo Aluísio.