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terça-feira, 5 de março de 2024

Candy

Título no Brasil: Candy
Título Original: Candy
Ano de Lançamento: 1968
País: Estados Unidos, França
Estúdio: American Broadcasting Company (ABC)
Direção: Christian Marquand
Roteiro: Buck Henry, Terry Southern
Elenco: Ewa Aulin, Richard Burton, Marlon Brando, Charles Aznavour, James Coburn, John Huston, Walter Matthau, Ringo Starr

Sinopse:
Uma jovem e inocente garota colegial, conhecida apenas como Candy (Docinho) acaba conhecendo uma longa série de homens mais velhos, alguns bem interessantes, outros completamente malucos. E nessas experiências vai aprendendo sobre o amor, a vida e a felicidade. E tudo vai acontecendo em plena era do flower power, no mágico ano de 1968, em pleno auge do movimento hippie.

Comentários:
Em sua autobiografia, em um momento de confissão e lucidez, Brando reconheceu que fez filmes bem ruins ao longo de sua carreira. Um exemplo que ele citou foi justamente esse "Candy". Para Brando fazer esse filme foi um dos maiores erros de sua carreira. Apenas aceitou o convite porque se considerava muito amigo do diretor Christian Marquand e não teve coragem de lhe dizer não! Iria se arrepender amargamente nos anos seguintes. O filme foi feito no período em que nada parecia dar certo na vida do ator. Muitos problemas pessoais envolvendo suas ex-esposas e na vida profissional as coisas também não iam bem, com sucessivos fracassos de bilheteria. De uma coisa tenho certeza, Brando acertou em sua avaliação pessoal. Esse filme é muito ruim mesmo. Nada parece certo, passando pela história boboca, indo pelos figurinos bizarros e até mesmo pela má interpretação do próprio Brando. E olha que seu elenco está cheio de gente famosa da época, mas nada disso pareceu melhorar um filme fadado a ser muito fraco. Enfim, um erro da primeira à última cena. O pior filme de Marlon Brando, sem dúvida! 

Pablo Aluísio.

terça-feira, 18 de janeiro de 2022

O Pecado de Todos Nós

"O Pecado de Todos Nós" definitivamente não é uma obra para todos os públicos, um filme que vá agradar a todos os setores, muito pelo contrário. O diretor John Huston não fez nenhuma concessão e entregou uma obra crua, visceral, sem nenhum tipo de amenização. Marlon Brando, como sempre, se destaca. Acho esse um de seus personagens mais corajosos. O ator joga a imagem de galã fora e encara um papel extremamente complexo e polêmico. Aqui ele interpreta um Major do exército americano com o casamento em crise, em frangalhos. Sua esposa, interpretada por Elizabeth Taylor, em mais uma de seus excelentes caracterizações, é uma fútil dona de casa que passa os dias em longas cavalgadas ao lado de seu amante, um oficial que mora vizinho ao casal na vila militar onde residem. Isso já bastaria para caracterizar esse casamento como disfuncional mas isso não é tudo.

O problema básico do Major Weldon Penderton (Marlon Brando) é que ele não tem mais nenhum desejo sexual pela esposa, pois na realidade é um homossexual enrustido que não consegue exteriorizar e vivenciar sua verdadeira orientação sexual. Após ver um soldado cavalgando nu pelo bosque, o Major acaba ficando obcecado por ele. Tudo caminha então para um clímax ao melhor estilo do diretor Huston, com muitas nuances psicológicas e tensão entre os principais personagens. A hipocrisia do núcleo familiar considerado ideal pela moralista sociedade norte-americana também é exposta sem receios. O grande número de homossexuais escondidos no armário dentro da vida militar também é explorada. O roteiro do filme acerta em cheio na hipocrisia reinante nesse meio.

O argumento soa na realidade como uma provocação por parte de John Huston para com toda a sociedade norte-americana. A família tradicional e o sistema militar são obviamente seus principais alvos. Na porta de entrada dos Estados Unidos na guerra do Vietnã, ele ousou colocar um tema tabu em cena: o homossexualismo dentro das casernas militares. Mais explosivo do que isso impossível. Além disso expõe os problemas que existiam por baixo da imagem impecável das famílias conservadoras daquele país. O marido que posa de cidadão exemplar na verdade despreza sua esposa e esconde seus desejos sexuais mais inconfessáveis. A esposa é infiel, sem conteúdo, rasa, vazia, materialista e tola. Um retrato demolidor de um modelo que nos anos 1960 vinha abaixo.

"Reflections in a Golden Eye" foi baseado na obra da escritora Carson McCullers, uma autora que não tinha receio de tocar nas feridas mais profundas da América. Aqui ao lado de Huston, Liz Taylor e Marlon Brando, ela finalmente encontrou a transposição perfeita de sua obra para as telas de cinema. Em conclusão, "O Pecado de Todos Nós" é uma produção nada confortável e nem amenizadora. No fundo é um retrato controvertido que coloca na berlinda alguns dos pilares mais prezados pelos conservadores americanos. Não deixe de assistir.

O Pecado de Todos Nós (Reflections in a Golden Eye, Estados Unidos, 1967) Direção: John Huston / Roteiro: Chapman Mortimer, Gladys Hill baseados na obra "Reflections in a Golden Eye" de Carson McCullers / Elenco: Elizabeth Taylor, Marlon Brando, Brian Keith, Julie Harris / Sinopse: O Major do exército americano Weldon Penderton (Marlon Brando) se torna obcecado por um jovem soldado da tropa que ele vê nu, cavalgando no bosque. Com fortes inclinações homossexuais, ele não consegue mais conter seus desejos ao mesmo tempo em que negligencia sua esposa Leonora (Elizabeth Taylor), uma dona de casa vazia e fútil, em um casamento de aparências, de fachada.

Pablo Aluísio.

quinta-feira, 15 de julho de 2021

A Honra do Poderoso Prizzi

Charley Partanna (Jack Nicholson) é um assassino profissional. Ele trabalha para a família mafiosa Prizzi de Nova Iorque. Durante um casamento do clã, ele conhece uma mulher muito bonita e elegante, chamada Irene Walker (Kathleen Turner). Ela mora em Los Angeles e Partanna fica completamente apaixonado, um verdadeiro amor à primeira vista. O sujeito perde totalmente o bom senso e a razão por essa desconhecida. O que ele não sabe é que ela também é uma assassina profissional. Também é uma ladra que roubou dinheiro justamente da família Prizzi. E agora, como Partanna vai manter seu código de honra e fidelidade com os mafiosos, já que ele está apaixonado por Irene, a mulher que o chefão Prizzi quer ver morta?

John Huston foi um dos grandes diretores da história do cinema norte-americano. Entretanto quando dirigiu esse filme ele já estava bastante idoso. Seus anos de criatividade e glória já tinham ficado no passado. Por isso o que temos aqui é até um bom filme, mas que não chega nem perto dos clássicos que dirigiu. Há um certo humor negro nesse roteiro, embora o filme não seja uma comédia. Jack Nicholson está menos carismático do que o habitual. Anjelica Huston está péssima. Cheia de caras e bocas, não age naturalmente. Melhor se sai Kathleen Turner como a loira fatal. Mesmo bonita e elegante, ficou muito longe da classe de uma Grace Kelly, por exemplo. O filme tem seus bons momentos, mas também apresenta uma certa preguiça em sua linha narrativa. A verdade é que o velho Huston já havia perdido a mão para o cinema, por isso o resultado final não é excepcional. O filme realmente não é lá grande coisa.

A Honra do Poderoso Prizzi (Prizzi's Honor, Estados Unidos, 1985)  Direção: John Huston / Roteiro: Richard Condon, Janet Roach / Elenco: Jack Nicholson, Kathleen Turner, Anjelica Huston, Robert Loggia, John Randolph, William Hickey / Sinopse: Assassino profissional da máfia se apaixona por uma mulher de Los Angeles, sem saber que ela na verdade também é uma criminosa. Uma assassina e ladra, que precisa ser eliminada a mando da mesma família mafiosa pela qual ele trabalha.

Pablo Aluísio.

domingo, 21 de março de 2021

O Vento e o Leão

Título no Brasil: O Vento e o Leão
Título Original: The Wind and the Lion
Ano de Produção: 1975
País: Estados Unidos
Estúdio: Columbia Pictures, Metro-Goldwyn-Mayer (MGM)
Direção: John Milius
Roteiro: John Milius
Elenco: Sean Connery, Candice Bergen, Brian Keith, John Huston, Geoffrey Lewis, Steve Kanaly

Sinopse:
Um chefe árabe tribal desencadeia um incidente internacional ao sequestrar uma viúva americana e seus filhos no meio das areias de um deserto sem fim. Filme indicado ao Oscar nas categorias de melhor trilha sonora incidental (Jerry Goldsmith) e melhor som (Harry W. Tetrick). Também indicado ao BAFTA Awards e ao Grammu Awards na categoria de melhor trilha sonora original.

Comentários:
Os tempos de glória da juventude desse ótimo elenco já tinha passado, segundo a crítica da época do lançamento dessa película, mas isso não significava que eles iriam abraçar filmes ou projetos medíocres. Assim, mesmo já um tanto envelhecidos, Sean Connery e Candice Bergen aceitaram o convite para atuar nesse texto clássico. E apesar de seu tom nitidamente teatral, o que temos aqui é sem dúvida, grande cinema. Perceba como o entrosamento desses veteranos é perfeito em cena. Nada mais natural para dois profissionais de longa experiência, tanto no mundo do cinema, como do teatro. Eu acredito inclusive que o texto ganhou ainda mais força quando declamado por esses dois grandes nomes. Fruto de uma fase mais madura da atriz Candice Bergen, esse filme soa como um testemunho inigualável de seu grande talento. Palmas para essa grande dama da atuação. E o que dizer do grande Sean Connery? Assim como os vinhos ele só iria melhorar com o passar dos anos. E iria soterrar de vez aquela opinião de que ele havia sido apenas um excelente James Bond.

Pablo Aluísio.

sábado, 23 de janeiro de 2021

O Bárbaro e a Geisha

O roteiro desse filme é baseado numa história real. O ano é 1856. O primeiro diplomata americano é enviado para o Japão. O país asiático ficou séculos isolado do resto do mundo, com uma grande aversão a estrangeiros em geral. Townsend Harris (John Wayne) assim precisa quebrar muitas barreiras, inclusive culturais. Ele chega numa cidade da costa japonesa acompanhado apenas por um intérprete. Logo nos primeiros dias ele sente toda a hostilidade do governador local. Ele se recusa a reconhecer Harris como agente diplomático e pior do que isso, começa a fazer de tudo para que ele vá embora. As coisas só começam a mudar quando Harris age em favor do povo em um surto de cólera, doença desconhecida pelos japoneses, mas que Harris sabe muito bem como combater - chegando ao ponto de incendiar praticamente toda uma vila para erradicá-la da região.

Esse é um filme muito interessante assinado pelo mestre John Huston. Na época de seu lançamento original alguns fãs de John Wayne não gostaram muito do resultado, afinal o filme de uma maneira em geral não era bem o que Wayne estava acostumado a fazer. É um drama romântico, com ênfase nas primeiras aproximações políticas entre japoneses e americanos. O roteiro trabalhava bem também no relacionamento entre o diplomata americano e uma gueixa japonesa, enviada para servi-lo pelo governador geral.

Outro ponto positivo ao meu ver foi mostrar o primeiro encontro entre o cônsul interpretado por Wayne e o imperador japonês, um jovem de apenas 17 anos de idade! O choque cultural se tornou inevitável. Harris (Wayne) quer que o imperador assine um tratado de mútua cooperação internacional entre os dois países, o que desperta a ira dos poderosos que rejeitam completamente a ideia. Bem fotografado, com ótima produção, esse filme pode até ser um ponto fora da linha do tipo de filme que John Wayne era acostumado a estrelar, porém suas qualidade cinematográficas (e diria até históricas) são inegáveis. Mais um excelente filme de John Huston, um dos grandes diretores da história de Hollywood. Era um gênio da sétima arte.

O Bárbaro e a Geisha (The Barbarian and the Geisha, Estados Unidos, 1958) Direção: John Huston / Roteiro: Charles Grayson, Ellis St. Joseph / Elenco: John Wayne, Eiko Ando, Sam Jaffe, Sô Yamamura / Sinopse: O filme conta a história do diplomata Townsend Harris (John Wayne). No século XIX ele se torna o primeiro agente diplomático dos Estados Unidos a chegar ao Japão. Seu objetivo é instalar um consulado, fazendo com que o imperador japonês assine um tratado de aproximação com o governo de seu país, só que desde o primeiro dia em que chega em solo japonês, Harris começa a ser hostilizado pelo povo e pelas autoridades da região, inclusive pelo governador Tamura (Sô Yamamura) que fará de tudo para ele ir embora.

Pablo Aluísio.

quinta-feira, 21 de janeiro de 2021

A Noite do Iguana

Mais um excelente filme assinado pelo mestre John Huston. O projeto foi inicialmente desenvolvido para ser estrelado por Marlon Brando, mas esse desistiu de assumir o personagem do reverendo perturbado por estar envolvido em muitos problemas pessoais na época. Uma pena pois o filme parecia muito adequado a ele já que o roteiro era baseado em mais uma peça do genial Tennessee Williams. Como se sabe esse grande autor da dramaturgia americana gostava de colocar todos os seus personagens em situações quase banais, mas que seduzia o espectador basicamente pela grande força de seus diálogos inteligentes e instigantes, discutindo as grandes questões universais. A fórmula havia dado tão certo em outros grandes textos de Williams e voltava a funcionar maravilhosamente bem aqui, tudo abrilhantado pelas ótimas atuações de Richard Burton (em grande forma profissional) e Ava Gardner (praticamente uma força da natureza). Dois grandes astros do cinema americano, bem populares, que a despeito da fama aceitaram interpretar esses personagens um tanto marginais no meu ponto de vista. Não era algo fácil de se fazer, ainda mais partindo de atores que tinham que manter uma certa imagem limpa para a sociedade. Atravessar a linha oposta poderia significar muito em termos de bilheteria. Eles porém foram em frente.

A trama se passa em uma pousada decadente localizada em um distante vilarejo. É lá que vai parar o Reverendo Shannon (Richard Burton). Em crise de fé, ele acaba tendo que lidar com as três fortes mulheres que convivem no local. A primeira é Maxine (Ava Gardner). Independente, liberada sexualmente, não consegue transpor esse espírito livre para sua personalidade emocional que muitas vezes se revela sem força. Sue Lyon (a atriz que ficou famosa internacionalmente em “Lolita”) interpreta Charlotte Goodall, uma jovem sexualmente atraente que não se importa muito com as consequências de suas atitudes irresponsáveis. Por fim há Hannah Jelkes (Deborah Kerr), uma artista que deseja viver de sua arte, misturando geralmente sua obra com sua própria vida pessoal. “A Noite do Iguana” não nega sua origem teatral em nenhum momento. A força do filme vem justamente dos diálogos que vão dissecando as pequenas e grandes hipocrisias da sociedade como um todo. Um filme belamente bem escrito que merece ser redescoberto pelos amantes da sétima arte.

A Noite do Iguana (The Night of the Iguana, Estados Unidos, 1964) Direção: John Huston / Roteiro: Anthony Veiller, baseado na peça escrita por Tennessee Williams / Elenco: Richard Burton, Ava Gardner, Deborah Kerr, Sue Lyon, Grayson Hall / Sinopse: Em uma pousada decadente de um balneário isolado quatro personagens se enfrentam entre si, discutindo sobre as pequenas e grandes questões da existência humana. Filme vencedor do Oscar na categoria de Melhor Figurino. Também indicado nas categorias de Melhor Direção de Arte, Melhor Fotografia e Melhor Atriz Coadjuvante (Grayson Hall).

Pablo Aluísio.

domingo, 25 de outubro de 2020

Uma Aventura na África

Clássico do cinema, dirigido pelo mestre John Huston, esse filme se tornou uma espécie de modelo para os filmes de aventura que viriam a seguir. Na história o astro Humphrey Bogart interpretava um veterano capitão de barco chamado Charlie Allnutt. Ele comandava sua pequena embarcação chamada The African Queen pelos rios e riachos de uma África ainda bem selvagem e inexplorada. Ele acaba sendo contratado por uma missionária estrangeira, Rose Sayer (Katharine Hepburn). Ela acabara de enterrar seu irmão naquela terra esquecida por Deus. Após aceitar fazer essa viagem, que logo se percebe ser bem perigosa, atravessando rios com enormes correntezas, o capitão interpretado por Bogart acaba percebendo que está na verdade em uma "missão" não oficial para atacar as forças alemãs no continente. A história do filme se passa em 1914, quando a primeira guerra mundial começava a eclodir na Europa, com reflexos violentos nas colônias africanas das grandes potências da época.

Além de ser ótimo com cinema, o filme também ficou famoso pelos bastidores de filmagens. O diretor John Huston ficou obcecado com uma caçada bem no meio da produção. Isso atrasou o cronograma de filmagens, causando atrasos e prejuízos para o estúdio. Enquanto John Huston seguia sua caça, o resto do elenco e da equipe técnica ficaram no meio do nada, em regiões distantes da África, esperando pelo retorno do diretor. Esses fatos  dariam origem a um outro filme bem famoso, décadas depois, com Clint Eastwood, chamado "Coração de Caçador". A história dessas conturbadas filmagens foram registradas na época pelo roteirista do filme, dando origem a um ótimo livro sobre os bastidores do cinema americano.  

Essa aventura acabou se tornando o último filme em que trabalharam juntos Humphrey Bogart e Katharine Hepburn. Eles eram parte do primeiro escalão de astros e estrelas em Hollywood. Seus filmes na época eram sucessos tanto de público como de crítica. Eram da realeza da indústria do cinema. Mesmo com todos os problemas que tiveram de enfrentar na África, acabaram se tornando bons amigos. As filmagens nem sempre trouxeram o conforto esperado por eles, sendo que muitas vezes ficaram ao capricho de John Huston, cada vez mais obsessivo com suas caçadas. Mesmo assim, com todas as dificuldades, toda essa experiência acabaria deixando boas histórias para se contar. O próprio Bogart adorava relembrar tudo o que havia passado nas filmagens desse clássico. O mais estranho de tudo é que depois de um tempo na África, John Huston decidiu que todo mundo iria voltar para Hollywood, para finalizar o filme. Essa segunda parte, filmada dentro de estúdio, com os atores atuando na frente de uma tela exibindo as imagens da África selvagem, destoam da outra parte da produção; Isso criou um certo problema visual ao filme como um todo. Nem sempre a técnica se revela convincente, fazendo com que o espectador perceba o truque.

De uma forma ou outra o público atual deve tentar ignorar tal aspecto negativo ou erro técnico, pois o que vale mesmo é a ótima parceria entre Bogart e Hepburn que dão um banho de carisma na tela. Aliás para grande surpresa do próprio Bogart, ele foi premiado com o Oscar por sua atuação! Dizem que o Oscar lhe foi dado como um reconhecimento de sua obra e não pelo que faz em cena. Faz certo sentido, pois todos em Hollywood já sabiam naquele momento que ele estava com um câncer terminal. Com isso a premiação também ganhou contornos de homenagem e agradecimento por tudo que ele fez ao longo de décadas de carreira.

Uma Aventura na África (The African Queen, Estados Unidos, 1951) Direção: John Huston / Roteiro: James Agee e John Huston, a partir do romance "African Queen" de C.S. Forester / Elenco: Humphrey Bogart, Katharine Hepburn, Robert Morley, Peter Bull, Theodore Bikel / Sinopse: Charlie Allnutt (Bogart) é um capitão veterano e aventureiro, que aceita participar de uma viagem perigosa e cheia de desafios pelos rios da África Oriental. Filme vencedor do Oscar na categoria de Melhor Ator (Humphrey Bogart). Também indicado ao Oscar nas categorias de Melhor Direção (John Huston),  Melhor Roteiro Adaptado e Melhor Atriz (Katharine Hepburn).

Pablo Aluísio

terça-feira, 10 de dezembro de 2019

O Céu é Testemunha

Segunda Guerra Mundial. Após ter seu navio afundado por japoneses o cabo americano dos fuzileiros navais Allison (Mitchum) consegue sobreviver, ficando dias à deriva em alto-mar. Para sua sorte sua pequena embarcação é levada até uma ilha no meio do Pacífico Sul. Ao desembarcar ele acaba descobrindo que só há uma pessoa naquele lugar distante e esquecido por Deus, a freira Angela (Deborah Kerr). Ela é a única sobrevivente da comunidade. Seu superior, o padre Phillips, está morto. Agora juntos terão que sobreviver. Não será uma tarefa fácil, por causa da escassez de alimentos e pela provável ocupação das tropas japonesas que estão chegando para transformar a ilha em um posto avançado das forças imperiais de seu país. Caberá ao militar e à freira a complicada tarefa de não serem descobertos e presos pelos violentos soldados japoneses. Para isso Allison usará de todo o seu treinamento de fuzileiro naval enquanto protege a irmã Angela de mais uma tragédia em sua vida.

John Huston aqui realiza mais uma de suas obras primas. Baseado em um roteiro que foi parcialmente inspirado em fatos reais, Huston explora duas figuras completamente diferentes entre si (um militar e uma religiosa) que se encontram em uma situação limite pela sobrevivência. O mais curioso é que Huston ousou até mesmo ultrapassar certos limites, criando uma atração entre o personagem de Robert Mitchum e a jovem e bonita irmã, interpretada por Deborah Kerr. A tensão sexual que se cria entre eles é uma das melhores coisas desse argumento. Outro fato digno de aplausos é a técnica que Huston explora para desenvolver sua história. Com basicamente dois personagens centrais ele desenvolve diversos temas interessantes, como a força da fé, os limites éticos que caem na luta pela sobrevivência e o que não poderia faltar em uma produção como essa, o senso de aventura.

O militar de Robert Mitchum é um tipo que, apesar de crer em Deus, nunca foi muito preocupado com essa questão religiosa. Órfão, criado em abrigos a vida inteira, chegou a se tornar um delinquente juvenil antes de decidir entrar nos fuzileiros navais e finalmente se encontrar na vida, trilhando um caminho seguro. Já a freira de Kerr é jovem, bela e ainda não fez os seus votos definitivos de castidade, o que abre uma pequena margem de esperanças para o militar, que claramente fica apaixonado por ela. Assim temos um ótimo filme, baseado em uma história que prende a atenção do começo ao fim. Nada mais normal para um gênio do cinema como John Huston.

O Céu é Testemunha (Heaven Knows, Mr. Allison, Estados Unidos, 1957) Direção: John Huston / Roteiro: John Huston, John Lee Mahin / Elenco: Robert Mitchum, Deborah Kerr / Sinopse: Um fuzlileiro naval dos Estados Unidos (Mitchum) consegue sobreviver a um ataque japonês ao seu navio durante a batalha do Pacífico, no auge da II Guerra Mundial. Ele acaba indo parar numa ilha onde conhece a bela e jovem freira irmã Angela (Kerr). Juntos vão tentar sobreviver ao mundo em chamas e à fúria da natureza do lugar. Filme indicado ao Oscar nas categorias de Melhor Atriz (Deborah Kerr) e Melhor Roteiro Adaptado (John Huston e John Lee Mahin). Indicado ao Globo de Ouro na categoria de Melhor Atriz - Drama (Deborah Kerr). Também indicado ao BAFTA Awards nas categorias de Melhor Filme - Estados Unidos e Melhor Ator (Robert Mitchum),

Pablo Aluísio. 

quarta-feira, 11 de setembro de 2019

Fuga Para a Vitória

Título no Brasil: Fuga Para a Vitória
Título Original: Victory
Ano de Produção: 1981
País: Estados Unidos
Estúdio: Lorimar Film Entertainment
Direção: John Huston
Roteiro: Yabo Yablonsky, Djordje Milicevic
Elenco: Michael Caine, Sylvester Stallone, Max von Sydow, Pelé, Bobby Moore, Osvaldo Ardiles, Paul Van Himst,

Sinopse:
Na Segunda Guerra Mundial, um grupo de oficiais nazistas cria um evento de propaganda no qual um time nazista de estrelas jogará contra um time composto por prisioneiros de guerra aliados. Os prisioneiros concordam, planejando usar o jogo como um meio de escapar do campo.

Comentários:
"Fuga Para a Vitória" de 1981 foi um caso curioso dentro da filmografia de Sylvester Stallone. Ele abriu mão de ser o ator principal do filme para ter a oportunidade de trabalhar ao lado do grande mestre do cinema John Huston. Embora já fosse um astro de grandes bilheterias em Hollywood, Stallone não queria perder a oportunidade de ver um dos diretores de cinema mais aclamados da história trabalhando em um set de filmagem. Como mero coadjuvante, ele não teve um papel de destaque dentro do filme, isso coube a Michael Caine, mas o fato de ter ficado em segundo plano não foi visto pelo ator como algo ruim. Além disso duas outras razões o convenceram a fazer o filme: o fato de não ter a responsabilidade do sucesso da produção em seus ombros e a chance de atuar com o Rei do futebol, Pelé! No final de tudo, como ele próprio diria anos depois em entrevistas, valeu bastante a experiência. Lançado em julho de 1981 nos cinemas, "Fuga Para a Vitória" não se tornou um grande sucesso de bilheteria, mas conseguiu gerar lucro para o estúdio. Com orçamento de pouco mais de 10 milhões de dólares consegui render nos cinemas meros 27 milhões. Um bom número, mas nada comparado com os grandes sucessos que Stallone vinha colecionando em sua carreira cinematográfica.

Pablo Aluísio.

sexta-feira, 6 de setembro de 2019

Chinatown

Título no Brasil: Chinatown
Título Original: Chinatown
Ano de Produção: 1974
País: Estados Unidos
Estúdio: Paramount Pictures
Direção: Roman Polanski
Roteiro: Robert Towne
Elenco: Jack Nicholson, Faye Dunaway, John Huston, Perry Lopez, John Hillerman, Darrell Zwerling

Sinopse:

Década de 1940. O detetive particular J.J. Gittes (Jack Nicholson) é contratado para resolver mais um caso de rotina em sua profissão, mas que na verdade esconde uma imensa rede de crimes, mortes e corrupção entre as altas esferas do poder. Filme premiado com o Oscar na categoria de Melhor Roteiro Original (Robert Towne).

Comentários:
Recentemente um grupo de renomados críticos de cinema dos Estados Unidos elegeu esse filme como o segundo melhor dos anos 70, ficando atrás apenas de "O Poderoso Chefão". De fato é um clássico do cinema, um dos melhores trabalhos da carreira de Jack Nicholson, aqui sendo dirigido pelo mestre Roman Polanski. O interessante é que a ideia do diretor era apenas homenagear os antigos filmes de detetives dos anos 40. Aqueles com roteiros intrigados, mulheres fatais e protagonistas que eram acima de tudo anti-heróis. O cinema noir foi uma grande fonte de inspiração para Polanski. Assim temos um filme dos anos 70 com todo o estilo dos velhos filmes de Humphrey Bogart. O roteirista Robert Towne foi muito feliz nesse aspecto porque esses filmes sempre tinham um ponto de partida banal que aos poucos ia se tornando cada vez mais complexos até que o personagem principal (geralmente um detetive particular decadente) se via envolvido numa teia enorme de crimes e corrupção, envolvendo até mesmo altas figuras da política. Jack Nicholson está perfeito como J.J. Gittes. Poderia ser um papel para Bogart, mas com o bom e velho Jack tudo fica muito bem caracterizado. Enfim, se ainda não assistiu a essa joia cinematográfica não vá mais perder seu tempo. Corra atrás que é um filme essencial e obrigatório para cinéfilos em geral. Uma verdadeira obra prima cinematográfica.

Pablo Aluísio.

segunda-feira, 20 de maio de 2019

Moby Dick

O livro original foi escrito por Herman Melville em 1851. Curiosamente não foi um grande sucesso de vendas em seu lançamento, mas ao longo dos anos foi sendo redescoberto pelos estudiosos de literatura. Hoje é considerada uma obra prima. O filme nasceu da insistência pessoal de John Huston que viu no texto várias características com as quais ele próprio se identificava. A adaptação para as telas realmente ficou excelente, fruto de seu trabalho como grande cineasta que sempre foi. Muita gente pensa que se trata apenas de um filme de aventura que mostra um capitão alucinado na caça de uma baleia cachalote albina. Não é bem isso. Bom, isso é a superfície, na realidade Moby Dick é uma grande metáfora sobre a obsessão que corrói a mente dos homens. Basta trocarmos a baleia por qualquer outra coisa que cause a obsessão ao ser humano para entendermos muito bem o que o autor do livro quis passar. No fundo é a história de um homem disposto a sacrificar tudo (até sua vida) para ir atrás de um objetivo, nem que isso leve ele e seus tripulantes à ruína completa.

Existem outras versões de Moby Dick, mas nenhuma delas sequer conseguem chegar ao nível dessa de 1956 que foi dirigida por John Huston. Não é surpresa nenhuma que ele tenha feito esse filme. O tema era muito próximo a Huston que se empenhou em uma história parecida quando estava filmando na África (assistam “Coração de Caçador” de Clint Eastwood para entender). Outro ponto que conta muito a favor nessa versão é a dupla de atores: Gregory Peck (como o obcecado capitão e sua voz de trovão) e Orson Welles (em uma ótima cena passada num culto religioso). Os diálogos são ricos e declamados com eloquência, então é garantido o show de interpretação desses atores. Até os efeitos ainda são charmosos, mesmo com mais de 50 anos de sua realização. Enfim, Moby Dick é excelente, uma viagem em busca do monstro interior de cada um de nós.

Moby Dick (EUA, 1956) Direção: John Huston / Roteiro: John Huston, Ray Bradbury baseado na obra de Herman Mellvile / Elenco: Gregory Peck, Orson Welles, Richard Basehart, Leo Genn / Sinopse: O Capitão Ahab (Gregory Peck) é um velho homem do mar que se torna obcecado em encontrar e matar uma baleia branca cachalote conhecida como Moby Dick. Para isso não medirá esforços exigindo severamente o máximo dos homens de sua tripulação. A obsessão da caça se torna sua ruína pessoal.

Pablo Aluísio.

quarta-feira, 21 de março de 2018

O Bárbaro e a Geisha

O roteiro desse filme é baseado numa história real. O ano é 1856. O primeiro diplomata americano é enviado para o Japão. O país asiático ficou séculos isolado do resto do mundo, com uma grande aversão a estrangeiros em geral. Townsend Harris (John Wayne) assim precisa quebrar muitas barreiras, inclusive culturais. Ele chega numa cidade da costa japonesa acompanhado apenas por um intérprete. Logo nos primeiros dias ele sente toda a hostilidade do governador local. Ele se recusa a reconhecer Harris como agente diplomático e pior do que isso, começa a fazer de tudo para que ele vá embora. As coisas só começam a mudar quando Harris age em favor do povo em um surto de cólera, doença desconhecida pelos japoneses, mas que Harris sabe muito bem como combater - chegando ao ponto de incendiar praticamente toda uma vila para erradicá-la da região.

Esse é um filme muito interessante assinado pelo mestre John Huston. Na época de seu lançamento original alguns fãs de John Wayne não gostaram muito do resultado, afinal o filme de uma maneira em geral não era bem o que Wayne estava acostumado a fazer. É um drama romântico, com ênfase nas primeiras aproximações políticas entre japoneses e americanos. O roteiro trabalhava bem também no relacionamento entre o diplomata americano e uma gueixa japonesa, enviada para servi-lo pelo governador geral. Outro ponto positivo ao meu ver foi mostrar o primeiro encontro entre o cônsul interpretado por Wayne e o imperador japonês, um jovem de apenas 17 anos de idade! O choque cultural se tornou inevitável. Harris (Wayne) quer que o imperador assine um tratado de mútua cooperação internacional entre os dois países, o que desperta a ira dos poderosos que rejeitam completamente a ideia. Bem fotografado, com ótima produção, esse filme pode até ser um ponto fora da linha do tipo de filme que John Wayne era acostumado a estrelar, porém suas qualidade cinematográficas (e diria até históricas) são inegáveis. Mais um excelente filme de John Huston, um dos grandes diretores da história de Hollywood. Era um gênio da sétima arte.

O Bárbaro e a Geisha (The Barbarian and the Geisha, Estados Unidos, 1958) Direção: John Huston / Roteiro: Charles Grayson, Ellis St. Joseph / Elenco: John Wayne, Eiko Ando, Sam Jaffe, Sô Yamamura / Sinopse: O filme conta a história do diplomata Townsend Harris (John Wayne). No século XIX ele se torna o primeiro agente diplomático dos Estados Unidos a chegar ao Japão. Seu objetivo é instalar um consulado, fazendo com que o imperador japonês assine um tratado de aproximação com o governo de seu país, só que desde o primeiro dia em que chega em solo japonês, Harris começa a ser hostilizado pelo povo e pelas autoridades da região, inclusive pelo governador Tamura (Sô Yamamura) que fará de tudo para ele ir embora.

Pablo Aluísio.

sexta-feira, 20 de outubro de 2017

O Céu é Testemunha

Segunda Guerra Mundial. Após ter seu navio afundado por japoneses o cabo americano dos fuzileiros navais Allison (Mitchum) consegue sobreviver, ficando dias à deriva em alto-mar. Para sua sorte sua pequena embarcação é levada até uma ilha no meio do Pacífico Sul. Ao desembarcar ele acaba descobrindo que só há uma pessoa naquele lugar distante e esquecido por Deus, a freira Angela (Deborah Kerr). Ela é a única sobrevivente da comunidade. Seu superior, o padre Phillips, está morto. Agora juntos terão que sobreviver. Não será uma tarefa fácil, por causa da escassez de alimentos e pela provável ocupação das tropas japonesas que estão chegando para transformar a ilha em um posto avançado das forças imperiais de seu país. Caberá ao militar e à freira a complicada tarefa de não serem descobertos e presos pelos violentos soldados japoneses. Para isso Allison usará de todo o seu treinamento de fuzileiro naval enquanto protege a irmã Angela de mais uma tragédia em sua vida.

John Huston aqui realiza mais uma de suas obras primas. Baseado em um roteiro que foi parcialmente inspirado em fatos reais, Huston explora duas figuras completamente diferentes entre si (um militar e uma religiosa) que se encontram em uma situação limite pela sobrevivência. O mais curioso é que Huston ousou até mesmo ultrapassar certos limites, criando uma atração entre o personagem de Robert Mitchum e a jovem e bonita irmã, interpretada por Deborah Kerr. A tensão sexual que se cria entre eles é uma das melhores coisas desse argumento. Outro fato digno de aplausos é a técnica que Huston explora para desenvolver sua história. Com basicamente dois personagens centrais ele desenvolve diversos temas interessantes, como a força da fé, os limites éticos que caem na luta pela sobrevivência e o que não poderia faltar em uma produção como essa, o senso de aventura.

O militar de Robert Mitchum é um tipo que, apesar de crer em Deus, nunca foi muito preocupado com essa questão religiosa. Órfão, criado em abrigos a vida inteira, chegou a se tornar um delinquente juvenil antes de decidir entrar nos fuzileiros navais e finalmente se encontrar na vida, trilhando um caminho seguro. Já a freira de Kerr é jovem, bela e ainda não fez os seus votos definitivos de castidade, o que abre uma pequena margem de esperanças para o militar, que claramente fica apaixonado por ela. Assim temos um ótimo filme, baseado em uma história que prende a atenção do começo ao fim. Nada mais normal para um gênio do cinema como John Huston.

O Céu é Testemunha (Heaven Knows, Mr. Allison, Estados Unidos, 1957) Direção: John Huston / Roteiro: John Huston, John Lee Mahin / Elenco: Robert Mitchum, Deborah Kerr / Sinopse: Um fuzlileiro naval dos Estados Unidos (Mitchum) consegue sobreviver a um ataque japonês ao seu navio durante a batalha do Pacífico, no auge da II Guerra Mundial. Ele acaba indo parar numa ilha onde conhece a bela e jovem freira irmã Angela (Kerr). Juntos vão tentar sobreviver ao mundo em chamas e à fúria da natureza do lugar. Filme indicado ao Oscar nas categorias de Melhor Atriz (Deborah Kerr) e Melhor Roteiro Adaptado (John Huston e John Lee Mahin). Indicado ao Globo de Ouro na categoria de Melhor Atriz - Drama (Deborah Kerr). Também indicado ao BAFTA Awards nas categorias de Melhor Filme - Estados Unidos e Melhor Ator (Robert Mitchum),

Pablo Aluísio.

segunda-feira, 16 de outubro de 2017

O Passado Não Perdoa

Título no Brasil: O Passado Não Perdoa
Título Original: The Unforgiven
Ano de Produção: 1960
País: Estados Unidos
Estúdio: United Artists
Direção: John Huston
Roteiro: Ben Maddow, baseado no livro de Alan Le May
Elenco: Burt Lancaster, Audrey Hepburn, Audie Murphy, Lillian Gish
  
Sinopse:
O filme narra as lutas do clã Zachary. O patriarca foi morto há muitos anos pela tribo Kiowa. Agora a liderança da família pertence ao irmão mais velho, Ben Zachary (Burt Lancaster). Ao mesmo tempo em que negocia gado ele precisa manter a salvos seus irmãos mais jovens, entre eles Cash (Audie Murphy) e Rachel (Audrey Hepburn). Essa última tem traços indígenas, o que leva algumas pessoas da região a desconfiarem de que ela na verdade seria Kiowa. A relativa tranquilidade dos Zacharys muda completamente quando guerreiros nativos voltam para seu rancho. Eles querem Rachel, o que dará origem a uma nova guerra entre brancos e índios.

Comentários:
Só o simples fato de ter sido dirigido pelo mestre John Huston já chama a atenção. Quem conhece a obra desse cineasta sabe muito bem que ele nunca rodou filmes banais, que caíssem no lugar comum. É verdade que Huston não realizou muitos filmes de faroeste ao longo de sua carreira, mas quando o fez certamente caprichou. Não há outra qualificação para essa produção, trata-se de mais uma obra prima da filmografia desse talentoso diretor. O roteiro mostra a vida da família Zachary. Eles vivem há décadas em um rancho em um território dominado pela tribo Kiowa. De tempos em tempos ocorrem matanças entre brancos e nativos. Depois de um longo período de paz eles retornam. Querem Rachel (Hepburn) que eles alegam ter sido raptada de sua tribo no passado. Acontece que Rachel já é uma mulher adulta, plenamente integrada à sociedade civilizada. Ela jamais seria levada de volta para as montanhas onde vivem os Kiowas. Para Ben (Lancaster) essa hipótese jamais poderia ser nem ao menos cogitada. A recusa dele para os Kiowas eleva à tensão ao máximo, o que desencadeia uma nova era de conflitos entre os brancos e índios da região. 

Huston não se contenta em apenas contar um filme onde nativos são vilões e colonizadores brancos são mocinhos. Ele procura desenvolver cada personagem, cada membro da família Zachary. Com um elenco maravilhoso em mãos, Huston criou um filme que é considerado um dos melhores da década de 1960. Além dos familiares protagonistas da estória, Huston inseriu um personagem por demais interessante, um homem velho em roupas de soldado confederado que passa de tempos em tempos proclamando profecias e trechos do velho testamento, tal como se fosse um profeta do velho oeste. Outro aspecto que chama a atenção é o tema do racismo. Em pleno auge da luta pelos direitos civis nos Estados Unidos, Huston soube como poucos tratar sobre o tema racial de uma forma extremamente inteligente. Se formos analisar atentamente veremos que esse faroeste tem como tema central justamente a diferença de raças e o preconceito sempre latente na mente humana. Em conclusão, temos aqui um excelente filme, genial realmente. Tudo acontece no seu devido tempo e Huston se mostra mais uma vez como um verdadeiro artesão da sétima arte. "The Unforgiven" é item obrigatório em qualquer coleção de western de respeito. Não deixe de assistir.

Pablo Aluísio.

quarta-feira, 4 de julho de 2012

O Homem Que Queria Ser Rei

Realmente é uma produção de encher os olhos sob a sempre preciosa direção de John Huston. O roteiro e o argumento levam a várias reflexões. A primeira e mais óbvia é o limite da ganância humana. No filme dois trambiqueiros e ladrões resolvem ir a uma região esquecida e selvagem para literalmente fazer fortuna em cima da ignorância daquele povo. Para tanto não medem esforços ao enganar, roubar e fraudar. O ápice surge justamente quando Connery (em ótima interpretação) é confundido com um Deus, que seria filho do lendário Alexandre, o Grande, que conquistou a mesma região séculos antes. O mais curioso é que o larápio é pego justamente quando tenta ser ético e trabalhar em prol do povo local. Maior ironia do que essa desconheço na história do cinema.

Ao lado de Connery dois outros ótimos atores se destacam. Michael Caine, como seu companheiro de trambiques, está em excelente forma, indo do trágico ao cômico em segundos. Esse papel dele inclusive tem certa semelhança com Zulu, um belo filme sobre o colonialismo inglês em terras distantes. Além da mesma época o figurino é praticamente o mesmo, por isso ao ver Caine vestido com uniforme militar britânico me lembrei imediatamente de seu papel em Zulu. Outro destaque é o sempre competente Christopher Plummer, aqui sob pesada maquiagem de caracterização. Enfim, "O Homem Que Queria Ser Rei" demonstra bem o talento do grande John Huston em conduzir, fotografar e dirigir excelentes filmes. Um talento que faz falta hoje em dia.

O Homem Que Queria Ser Rei (The Man Who Would Be King, Estados Unidos, 1975) Direção: John Huston / Roteiro: John Huston, Gladys Hill / Elenco: Sean Connery, Michael Caine, Christopher Plummer / Sinopse: Aventureiro inglês é confundido com uma divindade por um povo nativo que o coroa Rei.

Pablo Aluísio.

domingo, 6 de maio de 2012

Os Assassinos

Há muito tempo eu percebi que os filmes da década de 40 são bem mais realistas do que os que foram realizados nos anos 50. Na década de 50 os personagens são muito mais definidos (os mocinhos são verdadeiros poços de virtude e os bandidos são malvadões sem coração). Nos anos 40 isso não era bem assim. Veja o caso desse "Os Assassinos". Os tipos que desfilam pela tela possuem dubiedade moral, não se sabendo ao certo se na realidade são vilões ou mocinhos. Na realidade eles passeiam em um campo cinzento, sem se posicionar completamente em um lado ou outro, igual à vida real.

Na trama alguns personagens são centrais. O "Sueco", vivido por Burt Lancaster, é um boxeador fracassado que após o fim de sua carreira vive de pequenos golpes até que se une ao bando de Big Jim. De todos os envolvidos a que mais destaca essa dubiedade moral dos anos 40 é a personagem Kitty, interpretada por Ava Gardner (no auge da juventude e beleza). Femme Fatale por excelência ela será o centro de toda a trama passada no filme. "Os Assassinos" é um ótimo exemplo do cinema maduro e cínico da década de 40. Não existem propriamente bandidos ou mocinhos e seu roteiro estruturado em vários flashbacks acentua ainda mais isso. Um belo exemplar noir que deve ser conhecido pela geração cinéfila mais jovem. Filme indicado a quatro categorias no Oscar: Melhor direção, roteiro, edição e música.

Os Assassinos (The Killers, Estados Unidos, 1948) Direção: Robert Siodmak / Roteiro: Anthony Veiller, Elwood Bredell, Ernest Hemingway, John Huston, Richard Brooks / Elenco: Burt Lancaster, Ava Gardner, Edmond O'Brien, Albert Dekker / Sinopse: Através de flashbacks o filme narra a intrigante estória do "Sueco" (Burt Lancaster), um sujeito de passado nebuloso envolvido com o submundo do crime.

Pablo Aluísio.

quinta-feira, 12 de abril de 2012

Coração de Caçador

Um diretor excêntrico leva toda uma equipe de cinema de Hollywood para a África onde pretende rodar um filme de sucesso para pagar seus inúmeros credores. Chegando no continente selvagem ele se torna obcecado em caçar um elefante africano nas extensas savanas da região. O filme foi baseado numa história real. O diretor de cinema que Clint Eastwood interpreta é na realidade o famoso John Huston e o filme que eles tentam concluir é na verdade o clássico "Uma Aventura na África" com Katherine Hepburn e Humphrey Bogart. De tão conturbadas essas filmagens na África selvagem entraram para a mitologia de Hollywood. O roteirista do filme escreveu seu próprio diário das filmagens que acabaria dando origem a um popular romance (do qual esse filme é baseado). Até mesmo Katherine Hepburn resolveu colocar no papel todas as aventuras que passou ao lado de Huston. Material do que se passou realmente não falta. Para quem não sabe John Huston foi um dos maiores diretores da era de ouro do cinema americano. Gênio na direção era também um cineasta complicado de se lidar. Geralmente comprava brigas com produtores e estúdios e colocava seu elenco em situações de saia justa durante as filmagens. Huston colecionou tantos sucessos como inimizades no meio e por isso era uma personalidade controvertida. Mais de uma vez largou um filme pela metade e abandonou tudo sem maiores explicações. Seus projetos inacabados são geralmente citados em várias passagens da história de Hollywood. "Adeus às Armas" é um exemplo disso. Um belo dia se encheu das exigências do estúdio, pegou seu chapéu e simplesmente foi embora sem dar satisfação. Geralmente era processado depois, perdia fortunas em indenizações mas não mudava seu jeito de ser. Se auto denominava um autêntico artista e odiava os aspectos comercias de seus filmes.

Coração de Caçador é seguramente um dos filmes mais inspirados do cineasta Clint Eastwood, um inteligente exercício de metalinguagem que passeia pela história do cinema americano. Também é sua homenagem muito particular a John Huston, diretor que ele sempre admirou e procurou seguir seus passos. Clint certamente aprendeu muito com o mestre. Sua direção aqui é um exemplo, firme, segura e muito correta mas não é só. Quem acha que Eastwood é um ator limitado, de poucas caracterizações, precisa ver o filme para assistir uma de suas melhores interpretações. Compondo um tipo bem diferente do habitual Clint traz de volta à tona todas as nuances de John Huston: suas excentricidades, seu jeito despojado de ser e sua incrível sede de viver intensamente. Recentemente vi cenas de Huston captadas por membros de sua equipe dentro dos sets de filmagens. Basta assistir a essas imagens para entender como Clint foi feliz em sua caracterização. Até nos pequenos gestos, no cigarro eternamente acesso no canto da boca, no olhar fixo e penetrante, Clint recriou a personalidade de John Huston com extrema fidelidade. Enfim, "White Hunter, Black Heart" (Caçador Branco, Coração Negro) é seguramente uma das melhores obras da filmografia de Clint Eastwood. Uma homenagem mais do que sincera de um cineasta para outro. Simplesmente imperdível.

Coração de Caçador (White Hunter, Black Heart, Estados Unidos, 1990) Direção: Clint Eastwood / Roteiro: Peter Viertel basedo no livro "White Hunter Black Heart" / Elenco: Clint Eastwood, Jeff Fahey, Charlotte Cornwell / Sinopse: John Wilson (Clint Eastwood) é um excêntrico diretor americano que decide filmar seu próximo filme em pleno coração do continente africano. Uma vez lá resolve partir para um safári em busca de um elefante. Logo isso se torna uma obsessão pessoal em sua vida.

Pablo Aluísio.

domingo, 15 de janeiro de 2012

O Pecado de Todos Nós

"O Pecado de Todos Nós" definitivamente não é uma obra para todos os públicos, um filme que vá agradar a todos os setores, muito pelo contrário. O diretor John Huston não fez nenhuma concessão e entregou uma obra crua, visceral, sem nenhum tipo de amenização. Marlon Brando, como sempre, se destaca. Acho esse um de seus personagens mais corajosos. O ator joga a imagem de galã fora e encara um papel extremamente complexo e polêmico. Aqui ele interpreta um Major do exército americano com o casamento em crise, em frangalhos. Sua esposa, interpretada por Elizabeth Taylor, em mais uma de seus excelentes caracterizações, é uma fútil dona de casa que passa os dias em longas cavalgadas ao lado de seu amante, um oficial que mora vizinho ao casal na vila militar onde residem. Isso já bastaria para caracterizar esse casamento como disfuncional mas isso não é tudo.

O problema básico do Major Weldon Penderton (Marlon Brando) é que ele não tem mais nenhum desejo sexual pela esposa, pois na realidade é um homossexual enrustido que não consegue exteriorizar e vivenciar sua verdadeira orientação sexual. Após ver um soldado cavalgando nu pelo bosque, o Major acaba ficando obcecado por ele. Tudo caminha então para um clímax ao melhor estilo do diretor Huston, com muitas nuances psicológicas e tensão entre os principais personagens. A hipocrisia do núcleo familiar considerado ideal pela moralista sociedade norte-americana também é exposta sem receios. O grande número de homossexuais escondidos no armário dentro da vida militar também é explorada. O roteiro do filme acerta em cheio na hipocrisia reinante nesse meio.

O argumento soa na realidade como uma provocação por parte de John Huston para com toda a sociedade norte-americana. A família tradicional e o sistema militar são obviamente seus principais alvos. Na porta de entrada dos Estados Unidos na guerra do Vietnã, ele ousou colocar um tema tabu em cena: o homossexualismo dentro das casernas militares. Mais explosivo do que isso impossível. Além disso expõe os problemas que existiam por baixo da imagem impecável das famílias conservadoras daquele país. O marido que posa de cidadão exemplar na verdade despreza sua esposa e esconde seus desejos sexuais mais inconfessáveis. A esposa é infiel, sem conteúdo, rasa, vazia, materialista e tola. Um retrato demolidor de um modelo que nos anos 1960 vinha abaixo.

"Reflections in a Golden Eye" foi baseado na obra da escritora Carson McCullers, uma autora que não tinha receio de tocar nas feridas mais profundas da América. Aqui ao lado de Huston, Liz Taylor e Marlon Brando, ela finalmente encontrou a transposição perfeita de sua obra para as telas de cinema. Em conclusão, "O Pecado de Todos Nós" é uma produção nada confortável e nem amenizadora. No fundo é um retrato controvertido que coloca na berlinda alguns dos pilares mais prezados pelos conservadores americanos. Não deixe de assistir.

O Pecado de Todos Nós (Reflections in a Golden Eye, Estados Unidos, 1967) Direção: John Huston / Roteiro: Chapman Mortimer, Gladys Hill baseados na obra "Reflections in a Golden Eye" de Carson McCullers / Elenco: Elizabeth Taylor, Marlon Brando, Brian Keith, Julie Harris / Sinopse: O Major do exército americano Weldon Penderton (Marlon Brando) se torna obcecado por um jovem soldado da tropa que ele vê nu, cavalgando no bosque. Com fortes inclinações homossexuais, ele não consegue mais conter seus desejos ao mesmo tempo em que negligencia sua esposa Leonora (Elizabeth Taylor), uma dona de casa vazia e fútil, em um casamento de aparências, de fachada.

Pablo Aluísio.

domingo, 1 de janeiro de 2012

Adeus às Armas

Frederick Henry (Rock Hudson), um jovem voluntário americano, se alista no exército italiano onde acaba ferido em combate. No hospital acaba conhecendo a enfermeira Catherine Barkley (Jennifer Jones) se tornando perdidamente apaixonado por ela. Em suas memórias Rock Hudson se lembra com pesar da adaptação do famoso livro "A Farewell to Arms" de Ernst Heningway. Na ocasião o estúdio havia lhe oferecido três projetos: o primeiro era "Ben-Hur", o segundo "Sayonara" e por fim essa adaptação que seria dirigida pelo grande diretor John Huston. Rock escolheu "Adeus às Armas" pois segundo sua opinião "não havia como dar errado, tudo se encaixava muito bem, seria um grande sucesso certamente". Pois bem, as previsões de Hudson não se confirmaram. Logo após começarem as filmagens o diretor John Huston brigou com o produtor do filme, David O. Selznick. Às pressas foi convocado o diretor Charles Vidor que não conseguiu adaptar o romance literário com sucesso. Some-se a isso as dificuldades das filmagens que foram realizadas nos alpes italianos que não tinham estrutura para receber um filme daquele porte. No final das contas tanto "Ben-Hur" como "Sayonara" se tornaram grandes sucessos de bilheteria bem ao contrário de "Adeus às Armas" que não agradou nem ao público e nem à crítica. O que deu errado?

Assistindo ao filme percebemos vários problemas na produção. O primeiro deles é que o roteiro não conseguiu encontrar um tom ideal para contar a estória. Tudo ficou excessivamente melodramático. A obra de Hemingway foi de certa forma alterada, tudo com o objetivo de explorar o lado galã de Hudson. Além disso exageraram no corte final, tornando "Adeus ás Armas" muito longo e cansativo. Embora não seja interessante apenas especular penso que se John Huston tivesse se mantido na direção teríamos um filme mais fluente, leve, com belas cenas do conflito em que o personagem principal se envolve. O próprio Rock Hudson não gostou de sua atuação no filme, achou tudo muito superficial, sem emoção. Curiosamente o ator durante as filmagens concorreu ao Oscar por "Assim Caminha a Humanidade". Impossibilitado de ir aos EUA para a cerimônia foi homenageado na pequenina cidade italiana onde o filme estava sendo feito. Os moradores locais ergueram uma imensa estátua de gelo no formato do Oscar e a colocaram na frente do hotel onde Rock estava hospedado. A intenção era fazer uma enorme festa caso o ator ganhasse o prêmio. Infelizmente como não ganhou o Oscar, Rock teve que no dia seguinte se contentar em ver a imensa obra gelada se derretendo pelo calor do sol - o que não deixou de ser uma metáfora de ver seu sonho de vencer a cobiçada estatueta da Academia indo por água abaixo. De qualquer forma o filme merece uma revisão hoje em dia. Vale a pena conhecer, mesmo que não esteja à altura da obra do grande escritor.

Adeus às Armas (A Farewell to Arms, Estados Unidos, 1957) Direção de Charles Vidor e John Huston (não creditado) / Roteiro: Ben Hecht baseado na obra de Ernest Hemingway / Elenco: Rock Hudson, Jennifer Jones, Vittorio De Sica, Alberto Sordi / Sinopse: Frederick Henry (Rock Hudson), um jovem voluntário americano, se alista no exército italiano onde acaba ferido em combate. No hospital acaba conhecendo a enfermeira Catherine Barkley (Jennifer Jones) e acaba se apaixonando por ela.

Pablo Aluísio.

terça-feira, 18 de dezembro de 2007

Sargento York

Roteiro e Argumento: O filme é baseado na história real do soldado Alvin York. Ele era um simples fazendeiro do Estado rural do Tennessee que foi convocado para lutar na I Guerra Mundial. Religioso passou por uma crise de consciência por ter que ir lutar e matar inimigos na Europa. O interessante é que sua vida no campo foi vital para seu sucesso no conflito pois era exímio atirador. Acabou se tornando conhecido nacionalmente e virou herói após ter matado vários atiradores alemães na França e ao lado de apenas sete homens de seu batalhão ter conseguido a façanha de render quase 140 soldados inimigos. O feito lhe valeu uma medalha do congresso americano e uma notoriedade sem precedentes entre o povo americano. O roteiro explora a vida pacata de York antes do conflito e depois na sua chegada nas trincheiras do front. Em ambas as situações o filme é extremamente bem realizado e sucedido. Provavelmente a riqueza de detalhes do roteiro se deva ao fato dele ter sido adaptado do diário pessoal de York que ele escreveu durante o conflito.

Elenco: O grande destaque do elenco de "Sargento York" é a ótima interpretação de Gary Cooper no papel principal. Aqui ele consegue com grande êxito captar a personalidade simplória do personagem. Um sujeito caipira, sem estudo, que tinha como único objetivo maior na vida comprar uma pequena faixa de terras em sua cidade para se casar com Gracie Williams (interpretada pela bela e simpática Joan Leslie). O fato de Cooper ter nascido em outro Estado interiorano (Montana) certamente lhe ajudou muito nessa caracterização. A excelente atuação de Cooper acabou lhe valendo o Oscar de melhor ator daquele ano. Mais do que merecido, é bom frisar.

Produção: A produção da Warner não mediu esforços para que contar bem a história do famoso Alvin York. Como o clima de patriotismo estava na ordem do dia em razão da II Guerra Mundial o estúdio sabia que tinha um potencial grande sucesso nas mãos e por isso caprichou na produção, investindo nos melhores profissionais disponíveis no mercado. Isso se vê bem nos detalhes da produção, figurino, cenários, equipamentos militares, tudo recriado de acordo com o contexto histórico da I Guerra Mundial.. Embora grande parte do filme tenha sido realizada em estúdio (principalmente nas cenas no Tennessee) o resultado é no final das contas excepcional. Nas cenas de batalha tudo é extremamente bem feito. As trincheiras típicas da I Guerra Mundial foram recriadas com extrema veracidade e fidelidade histórica.

Direção: O filme foi dirigido pelo excelente cineasta Howard Hawks. O que mais chama atenção nesse diretor era sua extrema versatilidade. Hawks passeava com grande êxito pelos mais diferentes gêneros cinematográficos. Realizava ótimas comédias musicais (como "Os Homens Preferem as Loiras") ao mesmo tempo em que revisitava lendas do velho oeste (sua parceria ao lado de John Wayne foi longa e produtiva). Nesse "Sargento York" ele volta a dirigir uma cinebiografia, algo que havia conseguido com grande sucesso na década de 30 com "Scarface, a Vergonha de uma Nação". Sua boa técnica e precisão podem ser conferidas nas duas partes básicas em que "Sargento York" se divide. Na primeira parte, quando York é apenas um caipirão do interior e o filme tem mais toques dramáticos. Já na segunda quando York vai para o front temos nitidamente um filme de guerra. Em ambas as divisões Hawks se sai extremamente bem sucedido, o que reforça bem sua versatilidade na direção. O resultado final é de alto nível.

Sargento York (Sergeant York, EUA, 1941) / Direção: Howard Hawks / Roteiro: John Huston, Howard Koch, Abem Finkel, Harry Chandlee e Tom Skeyhill / Com Gary Cooper, Walter Brennan e Joan Leslie / Sinopse: Cinebiografia de Alvin Cullum York (Gary Cooper) , condecorado soldado americano na I Guerra Mundial. O filme foi vencedor dos Oscar de Melhor Ator (Gary Cooper) e Melhor Montagem, sendo indicado a nove outras categorias.

Pablo Aluísio.