quinta-feira, 30 de agosto de 2012

Entrevista Com o Vampiro

O primeiro filme de terror da carreira de Tom Cruise. Aqui ele interpreta Lestat, um dos personagens mais disputados em Hollywood na época. Baseado no famoso livro da escritora Anne Rice o filme era considerado êxito certo por causa da popularidade dos livros nos quais era baseado. A produção porém foi conturbada para o ator. Logo no começo ele teve que enfrentar a oposição da própria Anne Rice que o achava totalmente inadequado para o papel. Fato que ela revelou publicamente, colocando em dúvida a capacidade de Cruise em fazer seu famoso personagem vampiro com a sofisticação necessária. Além de ter que lidar com Rice, Cruise ainda encontrou problemas dentro do próprio set. Ele não se deu bem com seu parceiro em cena, Brad Pitt. Ambos começaram a disputar entre si para ver quem roubaria o filme de quem. O diretor Neil Jordan, que vinha do sucesso cult "Traídos Pelo Desejo" não conseguiu se impor aos astros em plena guerra de egos inflados.

No final, apesar dos problemas o filme se tornou um grande sucesso e Cruise, para surpresa de todos, recebeu diversos elogios por sua caracterização de Lestat de Lioncourt. Para coroar ainda mais o bom momento a própria Rice acabou dando o braço a torcer e se desculpou (também publicamente) por ter criticado Cruise antes mesmo de ver seu trabalho em cena. O filme também foi bem recebido pela crítica em geral que considerou a adaptação correta e em bom tom. De certa forma a produção acabaria revivendo o mito do vampiro no cinema o que iria desandar nos tempos atuais onde os seres noturnos parecem estar em todos os lugares: seriados de TV, franquias de sucesso no cinema, jogos de videogame, best sellers, etc. Anne Rice pode ser considerada a verdadeira responsável por essa onda de vampirismo na cultura pop que vivemos atualmente. Ela trouxe o velho monstro de volta à moda. Se isso foi bom ou ruim já é tema para outro tipo de discussão.

Entrevista Com o Vampiro (Interview With the Vampire, Estados Unidos, 1994) Direção: Neil Jordan / Roteiro: Neil Jordan, Michael Cristofer, Anne Rice / Elenco: Tom Cruise, Brad Pitt, Antonio Banderas, Christian Slater, Kirsten Dunst, Stephen Rea / Sinopse: "Entrevista Com o Vampiro" foi baaseado no famoso livro de mesmo nome da autora Anne Rice. Nele acompanhamos Louis (Brad Pitt), um vampiro secular que resolve contar sua história para um jovem repórter (Christian Slater).

Pablo Aluísio.

quarta-feira, 29 de agosto de 2012

Fogo Contra Fogo

Quando "Fogo Contra Fogo" chegou nas telas a crítica especializada torceu o nariz. Afinal qual era a lógica em se reunir no mesmo elenco dois monstros sagrados como Al Pacino e Robert De Niro se o roteiro não lhes davam a oportunidade de atuar bem? O que causou estranheza foi o foco centrado na ação e violência em um roteiro que foi considerado sem sutileza ou sofisticação. Além disso muitos reclamaram da falta de uma interação maior entre os atores em cena pois era justamente isso que muitos queriam ver. Não era todo dia que o público podia pagar uma só entrada de cinema para assistir aos dois mais consagrados atores em atividade na época. De fato ninguém queria ver Pacino com metralhadoras atirando para todos os lados - já existia toda uma casta de astros de filmes de ação que faziam isso (Stallone e cia). As primeiras reações por isso foram bem negativas. Penso que houve um certo preconceito dos críticos americanos sobre essa questão. Filmes de ação não são em essência inferiores aos dramas, por exemplo. O fato é que o estúdio gastou muito na contratação dos dois atores e o retorno em bilheteria teria que vir de qualquer jeito. 

Como naquela época os grandes sucessos eram justamente no gênero ação então resolveu-se reunir ambos nesse tipo de produção. Foi um desperdício de talento? De certa forma sim, mas não podíamos também esperar que um novo "Godfather" fosse escrito para unir Pacino e De Niro nas telas. Aquele tipo de material surge uma vez na vida, não é algo corriqueiro e nem comum. É excepcional. Diante dessas circunstâncias até que "Fogo Contra Fogo" não foi tão mal. A Warner até encontrou espaço para encaixar Val Kilmer no elenco. Prestes a vestir o uniforme do Batman no novo filme da franquia seu personagem aqui nada acrescenta de muito relevante mas também não aborrece. No saldo final podemos dizer que "Fogo Contra Fogo" certamente não foi o melhor filme de ação da década de 90 mas com certeza foi o que teve o melhor elenco jamais reunido. Não é excepcional em nenhum momento mas como diversão se sai muito bem.  

Fogo Contra Fogo (Heat, Estados Unidos, 1995) Direção: Michael Mann / Roteiro: Michael Mann / Elenco: Al Pacino, Robert De Niro, Val Kilmer, Jon Voight, Tom Sizemore, Diane Venora, Jeremy Piven, Begonya Plaza, Natalie Portman, Ashley Judd / Sinopse: Neil McCauley (Robert De Niro) é um refinado ladrão que começa a ser investigado e perseguido pelo policial Vincent Hanna (Al Pacino) que está decidido a acabar com a carreira do criminoso. O confronto entre os dois se tornará inevitável.  

Pablo Aluísio.

O Casamento do Meu Ex

Ok, vamos aos fatos: esse filme é realmente muito fraco. O roteiro dá voltas e voltas e praticamente não chega a lugar nenhum. Basicamente toda a estória se passa nas 48 horas que antecedem o casamento da personagem interpretada pela Anna Paquin. O problema principal desse filme é que os personagens não tem carisma nenhum e o espectador dificilmente vai se identificar ou torcer por qualquer um deles. Lila (Paquin) é chata, aborrecida e passa o filme inteiro agindo feito criança mimada. Laura (Katie Holmes) é indecisa, fraca e se coloca todo o tempo no lugar de "coitadinha". O noivo é sem sal, sem motivação e finalmente Chip (Elijah Wood) é vazio, muito afeminado e mal explicado (não se sabe por exemplo porque ele prestou serviços comunitários).

Fiquei surpreso em ver como o Elijah Wood está envelhecido e jogado para escanteio. Incrível entender como um ator que estrelou uma das franquias mais lucrativas da história aceita fazer um papel tão sem graça e sem importância. Outro problema é que nada de muito importante acontece. Os amigos ficam por ali, ao redor da casa onde vai acontecer o casamento, e falam, falam, falam... ficam pelados, bebem, usam cocaína e nada mais. Ninguém nem transa, para vocês verem como esse pessoal é chatinho. Enfim, se fosse qualificar diria que "The Romantics" é uma imitação baratinha dos filmes do Woody Allen. Não tem o carisma desse diretor e nem os diálogos inspirados que estamos acostumados. Em compensação tem uma das atuações mais medíocres que já vi da Katie Holmes, que não consegue nem ao menos chorar com veracidade (coisa básica que se aprende em escola de teatro do bairro). Que coisa feia senhora Cruise...

O Casamento do Meu Ex (The Romantics, Estados Unidos, 2010) Direção: Galt Niederhoffer / Roteiro: Galt Niederhoffer / Elenco: Katie Holmes, Josh Duhamel, Anna Paquin, Elijah Wood, Malin Akerman, Adam Brody, Jeremy Strong, Rebecca Lawrence, Candice Bergen./ Sinopse: Amigas de faculdade se reúnem novamente para o casamento de uma delas, Lila (Anna Paquin). O problema é que as demais, que estão como dama de honra do casamento são apaixonadas pelo novio, Tom (Josh Duhamel).

Pablo Aluísio.

terça-feira, 28 de agosto de 2012

Miami Vice

Dupla de detetives formada por James Crockett (Colin Farrell) e Ricardo Tubbs (Jamie Foxx) se envolvem numa complicada investigação sobre tráfico de drogas na cidade de Miami. "Miami Vice" foi um grande sucesso da TV americana durante a década de 80 (aqui no Brasil foi exibida pelo canal SBT). Como em Hollywood existe um certo deserto de idéias novas os produtores resolveram transpor as aventuras policiais desses detetives para o cinema. Os mais nostálgicos da antiga série certamente reclamaram do resultado, principalmente pelo uso excessivo de violência no filme. De certo forma eles tem razão uma vez que essa produção não captou o charme do produto original. Os atores também não repetem os bons desempenhos que vimos na telinha. Colin Farrell não consegue em nenhum momento recuperar o estilo e jeito cool de ser de Don Johnson. A única boa novidade é que o figurino exagerado da série foi aposentado. Quem ainda se lembra dos ternos brancos enormes que Don Johnson desfilava em cena? E do terror estético de seu parceiro? Felizmente aqui em termos de elegância a coisa melhora um pouco. 

Já o roteiro segue basicamente a mesma premissa. Miami é como New Orleans, uma cidade com muita personalidade, em que a mistura étnica deu um colorido todo especial para aquela comunidade, bem diferente das selvas de pedra do resto dos EUA, com suas arquiteturas maçantes e sem brilho. Miami aliás hoje brilha em outro seriado de grande sucesso atual, "Dexter" sobre o serial killer mais famoso da história da TV americana. "Miami Vice", o remake, foi dirigido pelo cineasta Michael Mann. Ele tem fama de durão e de jogar duro com os estúdios impondo sua visão em cada filme que participa. Aqui em "Miami Vice" por outro lado não vemos muito desse seu toque autoral pois tudo soa como produto embalado mesmo. A impressão que tive ao ver o filme foi que Mann colocou pouco de sua visão na tela em detrimento da busca de um grande sucesso de bilheteria. Se essa foi sua real intenção não deu muito certo. Produção cara - com custo superior a mais de 100 milhões de dólares - "Miami Vice" não conseguiu se tornar um grande sucesso. 

Miami Vice (Miami Vice, Estados Unidos, 2006) Direção: Michael Mann / Roteiro: Michael Mann, Anthony Yerkovich / Elenco: Colin Farrell, Jamie Foxx, Naomie Harris, Barry Shabaka Henley, Ciarán Hinds, Jon Jacobs, Domenick Lombardozzi, Elizabeth Rodriguez, Justin Theroux / Sinopse: Dupla de detetives formada por James Crockett (Colin Farrell) e Ricardo Tubbs (Jamie Foxx) se envolvem numa complicada investigação sobre tráfico de drogas na cidade de Miami. 

Pablo Aluísio.

007 - Os Diamantes São Eternos

Sean Connery já havia abandonado o personagem quando em razão da fraca repercussão do primeiro Bond sem ele (007 a Serviço de Sua Majestade) os produtores ofereceram uma verdadeira fortuna para ele retornar ao papel de agente britânico Bond, James Bond. Já um pouco velho para as cenas de ação e usando uma indisfarçável peruca, Connery retornou às telas nesse "007 Os Diamantes São Eternos". O filme em resumo é apenas uma repetição de todos os outros filmes de Bond com Sean Connery. Ele inclusive está visivelmente no controle remoto numa interpretação nada empolgante. Mas talvez ele nem seja tão culpado pelas poucas qualidades dessa aventura fora do tom. O próprio clima em que foi realizado o filme foi ruim. Connery não queria mais fazer o personagem pois tinha pretensões de se livrar de Bond para estrelar outros tipos de filmes. Assim voltou a encarnar o agente apenas pelo dinheiro, com má vontade de atuar melhor, de trabalhar bem.

A realidade é que na minha opinião os primeiros filmes de Bond estão datados demais. Os vilões geralmente são ridículos e as cenas de "destruição do mundo" mais lembram desenhos infantis da saudosa Hanna Barbera. Não há como encarar um filme desses, onde um caricato vilão com seu gatinho no colo quer simplesmente explodir o mundo usando um satélite com diamantes. Não há motivação e como sempre temos uma estrutura do mal (aqui nesse caso uma estação de extração de petróleo) para Bond explodir no final. Tudo muito repetitivo, deja vu e ruim. Sinceramente, não gostei nem um pouco. Definitivamente os diamantes desse Bond são do Paraguai.

007 - Os Diamantes São Eternos (Diamonds Are Forever, Inglaterra, Estados Unidos, 1971) Direção: Guy Hamilton / Elenco: Sean Connery, Jill St. John, Charles Gray, Lana Wood, Jimmy Dean, Bruce Cabot, Desmond Llewelyn, Lois Maxwell, Desmond Llewelyn./ Roteiro: Richard Maibaum, Tom Mankiewicz / James Bond (Sean Connery) enfrenta Ernst Stavro Blofeld (Charles Gray), um vilão que deseja destruir o mundo.

Pablo Aluísio.

O Bem Amado

Eu sempre gostei do trabalho de Guel Arraes. Acho ele um diretor com muita imaginação e com uma linguagem de narração dinâmica, bem humorada e inovadora. Por isso fiquei bastante surpreso ao assistir esse "O Bem Amado". O filme é bem menos inovador e ousado que seus trabalhos anteriores. A impressão que tive foi que o diretor não teve a liberdade necessária para inovar como sempre faz. O roteiro segue os passos do original de Dias Gomes mas não consegue alcançar maiores vôos, ficando no chão onde outros filmes nacionais medianos estão, o que não deixa de ser uma frustração já que esperava qualquer coisa, menos que o filme fosse tão "quadradinho" em sua linha narrativa.

Em relação ao elenco temos altos e baixos. Marco Nanini é um grande ator e se sai muito bem na pele de Odorico, um personagem que no fundo é uma sátira em cima de todos os nossos políticos. Sua caracterização segue de certo modo os passos do trabalho que Paulo Gracindo fez na TV (e que diga-se de passagem era brilhante). Já José Wilker mudou o tom do famoso Zeca Diabo. Sai o humor que definia o personagem na interpretação de Lima Duarte e entra em cena uma caracterização bem mais sombria. Agora fraco mesmo é o trabalho que Matheus Nachtergaele fez em cima de Dirceu Borboleta. Sem graça e apático, não convence. Enfim, não adianta levar as comparações mais em frente. Só é necessário saber que essa nova versão de O Bem Amado não é tão boa quanto poderia ser e nem tão ruim como alguns imaginam. É apenas mediano, o que em se tratando de Guel Arraes é pouco, muito pouco.

O Bem Amado (Brasil, 2010) Direção: Guel Arraes / Roteiro: Guel Arraes, Claudio Paiva / Elenco: Marco Nanini, José Wilker, Caio Blat, Maria Flor, Matheus Nachtergaele, Zezé Polessa, Andréa Beltrão, Tonico Pereira, Drica Moraes, Bruno Garcia, Edmilson Barros / Sinopse: Baseado na obra "Odorico, o bem amado, os mistérios do amor e da morte" de Dias Gomes, o filme narra a estória do prefeito Odorico Paraguaçu (Marco Nanini) da pequenina cidade de Sucupira. Falastrão, corrupto e enganador o prefeito tem como plataforma de governo a inauguração do cemitério da cidade.

Pablo Aluísio.

Hannah e Suas Irmãs

O mais interessante em "Hannah e Suas Irmãs" é que temos aqui um roteiro que discute sobre assuntos que geralmente são pesados (traições, a existência de Deus, o fracasso pessoal) mas de uma forma tão leve e divertida que nem percebemos isso. O elenco é todo bom, a começar pelo Michael Caine, um ator que só vim a apreciar bem mais tarde pois antigamente o achava muito "pau para toda obra" (pois ele fazia qualquer coisa que lhe ofereciam). Felizmente aqui ele tem um papel muito bom, o de um sujeito que se aventura com a própria irmã da esposa Hannah (interpretada com muita delicadeza por Mia Farrow). Embora esse triângulo amoroso proporcione bons momentos no filme certamente não é a melhor parte do roteiro. O melhor do filme realmente é o papel de Woody Allen (na pele do hipocondríaco e hilário Mickey). O Allen me passa a impressão de que se cerca de ótimos atores para "segurar" as partes mais tensas do filme enquanto ele aproveita para literalmente "passear" em cena em alguns momentos realmente muito divertidos.

O humor do Woody Allen como todos sabem é um humor mais intelectualizado mas isso não vem ao caso já que ele obviamente rouba todas as cenas. A sua tentativa de conversão ao catolicismo rende boas risadas e seus momentos no médico também são pequenas pérolas de humor refinado, muito embora sejam bem pontuais e cirurgicamente colocadas no decorrer de todo o filme. Parece até um jogo: quando o filme vai ficando melodramático demais, Allen entra em cena para aliviar tudo. Achei ótima essa idéia porque afinal o filme fica leve sem perder sua carga dramática. A Academia também parece ter gostado bastante do resultado final e o filme foi vencedor de 3 Oscars: Melhor Ator Coadjuvante (Michael Caine), Melhor Atriz Coadjuvante (Dianne Wiest) e Melhor Roteiro Original (Woody Allen). Ele obviamente não apareceu na premiação para receber seu prêmio. Preferiu passar a noite tocando jazz em um clube de Nova Iorque. Mais Woody Allen do que isso impossível. Enfim, "Hannah e Suas Irmãs" é divertido e inteligente na medida certa. Não deixe de assistir.

Hannah e Suas Irmãs (Hannah and her Sisters, Estados Unidos, 1986) Direção: Woody Allen / Roteiro: Woody Allen / Elenco: Woody Allen, Barbara Hershey, Carrie Fisher, Michael Caine, Mia Farrow, Dianne Wiest, Maureen O'Sullivan, Lloyd Nolan, Max von Sydow, Lewis Black / Sinopse: A estória gira em torno da vida, dos romances e dos problemas cotidianos de Hannah (Mia Farrow) e suas duas irmãs, Holly (Dianne Wiest) e Lee (Barbara Hershey). Na Nova Iorque da década de 1980 elas tentam encontrar o equilíbrio e a felicidade em suas vidas.

Pablo Aluísio.

segunda-feira, 27 de agosto de 2012

Monty Python - E Agora Algo Completamente Diferente!

O grupo Monty Python revolucionou o humor inglês quando surgiu na segunda metade da década de 1960. Debochados, anárquicos e inteligentes eles apareceram em um momento interessante da cultura britânica. Sob sua verve cômica nada era poupado, nenhuma instituição real escapava das brincadeiras e sátiras. Em 1969 conseguiram seu próprio programa de TV chamado "Monty Python's Flying Circus" e a comédia televisiva jamais seria a mesma. O sucesso e a influência da trupe foram tamanhas que chegou até mesmo aqui no Brasil. Programas com nonsense, cheio de situações absurdas, como o extinto "TV Pirata" da Rede Globo era nitidamente uma tentativa brasileira de copiar o humor dos ingleses. Esse "Monty Python - E agora, Algo Completamente Diferente" foi o primeiro filme deles para o cinema. Na verdade trata-se em essência da sucessão de diversos quadros que ficaram célebres no programa de TV. Entre os mais divertidos estão o do homem de visão binocular, em ótima caracterização de John Cleese, e o da gangue das velhinhas inglesas. 

Além do humor negro, tipicamente britânico, o filme ainda traz animações dirigidas e criadas por Terry Gilliam. Dentro do grupo ele era o responsável pela parte dos desenhos que vão interligando as sequências de humor. Seu traço é muito característico, sem paralelos com nada na época. Geralmente feito de recortes de ilustrações clássicas, pinturas famosas e mosaicos da era vitoriana, Gilliam conseguia unir admiração e espanto, desconforto e humor, tudo na mesma panela de referências. Excelente. Depois do sucesso desse "And Now For Something Completely Different" o Monty Pyhton seguiu em frente no cinema realizando filmes cada vez mais ousados e divertidos como "A Vida de Brian" (onde satirizavam passagens bíblicas) e "Em Busca do Cálice Sagrado" (onde fazia humor em cima dos costumes históricos dos britânicos). Como vivemos uma falta de boas comédias atuais nada melhor do que revisitar a obra dessa trupe tão inteligente, engraçada e inovadora do fino humor inglês. Diversão garantida.  

Monty Python - E Agora Algo Completamente Diferente! (And Now For Something Completely Different, Inglaterra, 1972) Direção: Ian MacNaughton / Roteiro: Graham Chapman, John Cleese, Terry Gilliam, Eric Idle, Terry Jones, Michael Palin / Elenco: Graham Chapman, John Cleese, Terry Gilliam, Eric Idle, Terry Jones, Michael Palin, Carol Cleveland, Connie Booth, Lesley Judd / Sinopse: Série de quadros cômicos do programa "Monty Python's Flying Circus" transpostos para o cinema.  

Pablo Aluísio.

Um Parto de Viagem

A comédia americana anda numa fase bem ruinzinha. Um exemplo é esse "Um Parto de Viagem", que basicamente é uma comédia sem graça! Isso mesmo. O roteiro tenta (e muito) injetar boas doses de humor nas cenas mas tudo o que consegue é arrancar raros sorrisos amarelos do público. O problema é que na falta de inteligência e sutileza os roteiristas partiram logo para a apelação de cenas vulgares e grotescas (como a da masturbação) ou de violência física (que surgem em profusão ao longo do filme). O pior é que nem com todo arsenal o filme consegue ter a menor graça - e quando uma comédia não tem graça tudo o que sobra é a vergonha alheia e o constrangimento.

Na minha opinião o grande problema do filme é o ator Robert Downey Jr e seu personagem. Basicamente o Robert está lá como escada de Zach Galifianakis, mas seu personagem é tão antipático, grosseiro e chato que leva o humor do filme para o ralo. O Zach é bom ator, bom comediante, mas o problema é que pelo menos aqui não teve material decente para trabalhar. E fica muito complicado tirar humor contracenando com o Downey Jr. Enfim, não tenho outro termo para "Um Parto de Viagem" a não ser o de road movie de humor sem graça. Se você quiser se divertir e rir muito sugiro outro filme, porque com esse aqui não vai dar pé.

Um Parto de Viagem (Due Date, Estados Unidos, 2010) Direção: Todd Phillips / Roteiro: Alan R. Cohen, Alan Freedland, Adam Sztykiel, Todd Phillips / Elenco: Robert Downey Jr., Zach Galifianakis, Michelle Monaghan, Juliette Lewis, Jamie Foxx, Alan Arkin, Matt Walsh, RZA, James Martin Kelly, Mimi Kennedy, Rhoda Griffis. / Sinopse: Peter Highman (Robert Downey Jr.) acaba tendo que viajar ao lado do espalhafatoso e estranho Ethan Tremblay (Zach Galifianakis), o que irá gerar muitas confusões durante a viagem.

Pablo Aluísio.

Homeboy

Lutador fracassado de boxe tenta se redimir em sua vida profissional e afetiva participando de uma última luta decisiva em sua vida. "Homeboy" é provavelmente o filme mais pessoal da carreira de Mickey Rourke mas é pouquíssimo conhecido entre o público em geral. O roteiro foi escrito por ele usando de um pseudônimo (Eddie Cook). Quem apreciou "O Lutador" com o ator vai certamente apreciar também "Homeboy". Eu tenho uma entrevista antiga do ator feita no lançamento de "Coração Satânico" em que ele diz que seu próximo filme seria a realização de um de seus sonhos, um roteiro que mostrava a vida de um lutador de boxe fracassado que queria mostrar seu valor mas ao mesmo tempo era manipulado por um sujeito que queria ganhar as apostas das lutas que ele fazia. Pois bem era justamente de "Homeboy" que Rourke se referia naquela ocasião. Porque Mickey Rourke teve tanto interesse em filmar "Homeboy"? Ora. por causa da própria vida do ator. Ele tinha sido lutador de boxe antes de estourar como intérprete e tinha esse desejo de ter vencido no esporte que adorava. Infelizmente os palcos trouxeram a Rourke um meio de vida que o boxe não lhe proporcionava. Interessante é que após filmar "Homeboy" ele ficou tão influenciado pelo personagem que resolveu voltar aos rinques na vida real, volta essa que só durou algumas lutas já que sua idade não permitia continuar. 

O ritmo de "Homeboy" é lento, bastante contemplativo. Rourke desfila seu estilo próprio numa caracterização bem sutil. O filme foi dirigido por Michael Seresin, que havia trabalhado como diretor de fotografia de "Coração Satânico". O curioso é que esse aliás foi o único filme dirigido por Seresin pois ele na verdade sempre preferiu trabalhar como diretor de fotografia. Talvez essa falta de intimidade com a direção de atores tenha deixado "Homeboy" um pouco mais lento do que seria adequado mas mesmo assim nada que comprometa o resultado final. O elenco de apoio conta com a sempre interessante participação de Christopher Walken. Debra Feuer, a atriz que contracena com Rourke era sua namorada na época. Enfim fica a dica para os fãs de Rourke."Homeboy", um filme que diz muito sobre a vida e a personalidade do próprio ator. Uma produção pouco conhecida que merece ser redescoberta.  

Homeboy - Chance de Vencer (Homeboy, Estados Unidos, 1988) Direção: Michael Seresin / Roteiro: Mickey Rourke sob o pseudônimo de Eddie Cook / Elenco: Mickey Rourke, Debra Feuer, Chrisopher Walken / Sinopse: Johnny Walker (Mickey Rourke) é um boxeador fracassado que tenta redenção em sua carreira e vida emocional. Para isso ele terá que superar enormes desafios.  

Pablo Aluísio.

domingo, 26 de agosto de 2012

The Runaways - Garotas do Rock

Cinebiografia da banda de rock The Runaways. Hoje em dia o grupo já não é mais tão lembrado sendo mais conhecido atualmente por pessoas que gostam de ler sobre a história do rock. O auge desse grupo formado apenas por garotas aconteceu por volta de 1975 a 1977. O conjunto era liderado por Cherie Currie (Dakota Fanning) e contava ainda em sua formação com Joan Jett (Kristen Stewart), Lita Ford (Scout Taylor-Compton) e Sandy West (Stella Maeve). O filme procura mostrar sua formação, desenvolvimento e depois sua separação. As garotas eram radicais, explosivas, bem intensas. Faziam um som bem cru e direto e talvez por isso mesmo tenha alcançado um bom sucesso entre as jovens da época. Sinceramente gostei do filme mas sou suspeito para falar porque sou fã de música e cinema, então geralmente quando essas coisas se unem acabo gostando. Confesso que o grupo The Runaways nunca foi dos meus preferidos mas acabei simpatizando com a proposta delas, formar um grupo de adolescentes que faziam um som com garra e determinação.

O grande atrativo do filme é a própria vida das roqueiras. Eu realmente me interessei pela trajetória que elas percorreram, sua origem, suas vidas familiares disfuncionais, o gostinho da fama que experimentaram e a vida na estrada. Em determinado momento do filme até me solidarizei com as personagens, pois no fundo não passavam de garotas jovens demais para entender tudo o que acontecia ao seu redor. Assim caíram logo no vício em drogas o que literalmente acabou implodindo o grupo colocando um fim em suas carreiras. No tocante as atrizes, todas estão bem, sem exceção, até mesmo a Kristen Stewart mostra serviço, bem distante da passividade de Crepúsculo. A diretora Floria Sigismondi conseguiu extrair dela sua melhor atuação no cinema até hoje em minha opinião. O filme porém pertence à Dakota Fanning, se destacando bem nessa nova fase mais "adulta" de sua carreira. Se continuar nesse rumo provavelmente fará uma boa transição da fase infantil para a adulta, algo que nem todos os astros mirns conseguem fazer com êxito. Em conclusão podemos dizer que "The Runaways" não é nada excepcional mas que agrada de uma forma em geral.

The Runaways - Garotas do Rock (The Runaways, Estados Unidos, 2010) Direção: Floria Sigismondi / Roteiro: Floria Sigismondi / Elenco: Kristen Stewart, Dakota Fanning, Alia Shawkat, Scout Taylor-Compton, Michael Shannon, Tatum O'Neal, Johnny Lewis, Robert Romanus. / Sinopse: História do grupo feminino de rock The Runaways. O filme mostra a formação, escalada ao sucesso e queda das jovens roqueiras, tudo embalado com ótima trilha sonora da década de 1970.

Pablo Aluísio.

A Garota Morta

Tive uma grata surpresa com esse "A Garota Morta". É a tal coisa, por mais que a pessoa assista muitos filmes ao longo do ano sempre escapam uma ou outra preciosidade. É o caso desse aqui. Assisti sem maiores expectativas. Isso porque a falecida Brittany Murphy fez muitos filmes tolinhos ao longo da carreira e nunca coloquei muita fé em seu talento como atriz. Que pena, logo quando ela começava a despontar aconteceu aquela tragédia em sua vida. Interpretando a jovem prostituta Krista, Brittany dá um show de interpretação. O filme obviamente gira em torno de sua estória - a Garota Morta do título - e seu segmento, o último, joga por terra a impressão negativa que tinha dela. Em um papel muito forte Murphy mostra muito talento e controle em cena. Surpresa completa. 

O enredo mostra uma jovem tendo que lidar com vários problemas em sua vida. Além da destruição de seus laços familiares ela ainda tem que sobreviver na dureza das ruas onde prevalece realmente a chamada Lei da Selva, onde apenas os mais fortes sobrevivem. Como já foi dito o roteiro segue aquele esquema que tanto conhecemos: várias estórias são contadas de forma independente para no final entendermos que todas elas estão interligadas. O argumento, ótimo por sinal, não poupa o espectador das misérias humanas, das condições de dor e sofrimento que certas pessoas passam em sua vidas. A direção é da atriz e cineasta Karen Moncrieff, o que é muito bem-vindo por causa do tema do filme. Na realidade o tema central dessa produção é a vida de mulheres que vivem em situação de risco, prostitutas, adolescentes grávidas e outras situações que as deixam à mercê de sofrerem todo tipo de violência física, mental ou sexual. É um retrato cru da vida de jovens que se colocam numa posição que as deixam extremamente vulneráveis. Assim nada melhor do que uma mulher para dar sua visão feminina aos aspectos mostrados no filme. Com um elenco de apoio todo bom (Toni Collete, Rosie Byrne e até James Franco) "A Garota Morta" é uma bela obra que deve ser redescoberta pelos cinéfilos que gostam de temas fortes com interpretações edificantes. Está mais do que recomendado.  

A Garota Morta (The Dead Girl, Estados Unidos, 2006) Direção: Karen Moncrieff / Roteiro: Karen Moncrieff / Elenco: Toni Collette, Brittany Murphy, Marcia Gay Harden, Piper Laurie, Rose Byrne, Mary Steenburgen, Bruce Davison, James Franco, Giovanni Ribisi / Sinopse: O filme mostra um mosaico de momentos de várias vidas de mulheres que se encontram em situações de risco.  

Pablo Aluísio.

O Homem das Sombras

Escrever sobre esse filme é complicado. Isso porque ele tem muitas nuances que se eu fosse comentar revelaria grande parte de seu impacto. A trama começa como filme de terror mas depois há uma reviravolta no argumento e descobrimos que se trata de algo mais complexo. A premissa é a seguinte: Numa cidade pobre e estagnada do interior dos EUA ocorre uma onda de desaparecimentos de crianças. Não se sabe o que exatamente acontece com elas, simplesmente desaparecem sem deixar vestígios. De comum apenas a proliferação de relatos de testemunhas afirmando terem visto um homem alto nas sombras se dirigindo para o meio da floresta com as crianças a tiracolo. É o Tall Man do título original, que na tradução literal significa “Homem Alto”. Mas ficam as dúvidas: Quem é esse homem alto? Um serial killer? Uma entidade espiritual que vive na floresta sombria? Ou tudo não passa de mero folclore ao estilo lobisomen, tão comum em cidades interioranas como aquela? Verdade ou lenda? É óbvio que não vou contar nada aqui mas de antemão posso dizer que a verdadeira razão dos desaparecimentos vai deixar você surpreendido. Falando francamente poucas vezes vi o tema do desaparecimento de crianças mostrado no cinema de forma tão original.

O subtexto dessa solução vai incomodar alguns. Como se sabe a crise econômica nos EUA tem sido mais forte e persistente do que muitos julgavam. O nível de miséria e pobreza aumenta a cada dia jogando milhares de pessoas em uma situação muito difícil naquele país. Grande parte dos americanos hoje vive abaixo da linha de pobreza. Com a crise aumenta a exclusão social, a criminalidade e a destruição dos laços familiares. A sociedade obviamente fica doente e os freios morais se vão. Penso que de certa forma há um toque de preconceito na proposta do roteiro e isso certamente vai deixar algumas pessoas de cabelo em pé. Mais do que isso não vale a pena comentar. O segredo do filme é sua solução final. No geral a produção é boa, (a atriz Jéssica Biel é uma das produtoras) e a direção consegue manter o suspense até o final. O elenco é correto, nenhum grande destaque surge em cena mas mantém o bom nível. O diferencial de “The Tall Man” realmente é seu roteiro intrigante. Dessa nova safra de produções de terror esse se revelou um dos mais interessantes. Não deixe de assistir mesmo que você venha depois a não gostar da solução da trama. De uma coisa tenho certeza você não ficará indiferente ao que acontece no filme. Vale a indicação para o público em geral.

O Homem das Sombras (The Tall Man, Estados Unidos, 2012) Direção: Pascal Laugier / Roteiro: Pascal Laugier / Elenco: Jessica Biel, Jodelle Ferland, Stephen McHattie, William B. Davis / Sinopse: Numa cidade corroída pela crise da economia americana várias crianças desaparecem. A polícia investiga os desaparecimentos mas não consegue chegar numa solução dos eventos. A única pista vem dos depoimentos de testemunhas que afirmam ter visto um homem alto, de capuz, levando as crianças para o meio da floresta! Verdade ou pura lenda?

Pablo Aluísio.

sábado, 25 de agosto de 2012

Desafio à Corrupção

"Desafio à Corrupção" é uma crônica sobre o fracasso pessoal. O personagem principal, Eddie Felson (Paul Newman), é em essência um pequeno golpista que leva sua vida em espeluncas de sinuca onde engana os desavisados. Ele se faz passar por um idiota que não sabe jogar, perdendo algumas partidas fáceis. Seu papel de "pato" atrai outros jogadores que aceitam apostar quantias vultuosas pensando ganhar um dinheiro fácil. Uma vez apostado somas altas Eddie finalmente se revela mostrando toda sua grande habilidade no jogo. Sem emprego, casa ou destino, Eddie vai levando sua vida partida após partida, até enfrentar um grande jogador como ele, Minnesota Fats (Jackie Gleason) . O destino desse confronto vai mudar os rumos de sua vida. Eddie pretende vencer o grande mestre para provar a si mesmo que é um vencedor e não um fracassado como foi definido por Bert Gordon (George C. Scott), um agenciador de apostas e escroque local. 

É impressionante a quantidade de grandes filmes na carreira de Paul Newman. Aqui ele realiza uma de suas atuações mais brilhantes, tanto que foi indicado ao Oscar de Melhor ator. Injustamente não venceu o prêmio mas a justiça se faria anos depois quando Newman retornaria ao mesmo personagem em "A Cor do Dinheiro" ao lado de Tom Cruise. Após tanto tempo Paul Newman finalmente sairia vencedor na categoria. Justiça tardia mas bem-vinda certamente. Outro atrativo do elenco é a presença de Jackie Gleason como Minnesota Fats. O comediante se revela um ator dramático de mão cheia. "Desafio à Corrupção" foi indicado a vários prêmios, inclusive Melhor Filme, mostrando sua imensa qualidade cinematográfica. O roteiro, muito bem escrito, disseca a tênue linha existente entre a vitória e a derrota. A vida é representada pela mesa de bilhar, onde destinos parecem fluir ao sabor das tacadas, resultando numa excelente metáfora sobre a vida e morte dos personagens. "The Hustler" é uma obra prima do cinema. Simplesmente obrigatório.  

Desafio à Corrupção (The Hustler, Estados Unidos, 1961) Direção: Robert Rossen / Roteiro: Sidney Carroll, Robert Rosset baseado na obra de Walter Tevis / Elenco: Paul Newman, Jackie Gleason, Piper Laurie, George C. Scott, Murray Hamilton / Sinopse: Eddie Felson (Paul Newman) é um "Hustler", um enganador de mesas de sinuca. Se fazendo passar por um "pato" ele leva pessoas a apostarem grandes somas de dinheiro com ele. Após apostado todo o dinheiro ele finalmente se revela como o grande jogador que é, ganhando a aposta.  

Pablo Aluísio.

A Casa Silenciosa

Jovem garota, seu tio e seu pai vão até uma casa antiga pertencente à sua família com a finalidade de consertar algumas coisas para coloca-la à venda. O local é escuro e está em mal estado. O que eles não contavam é que estranhos acontecimentos rondam a velha construção. Bem interessante esse “A Casa Silenciosa”. Na verdade se trata do remake americano do filme "La casa muda" que conseguiu uma boa repercussão quando foi lançado. Para quem já viu o original nenhuma surpresa porém o filme pode ser uma boa opção para os que não conhecem a estória e nem o mistério que ronda a casa na floresta. Particularmente gostei do desfecho dos acontecimentos pois acabamos descobrindo que nada é o que aparenta ser. O enredo também foge dos velhos clichês de filmes de casas mal assombradas e aposta numa abordagem mais pé no chão, explorando com bastante eficiência o tema do abuso infantil. Comentar mais seria temerário então cesso por aqui os comentários sobre o roteiro e o argumento do filme.

“A Casa Silenciosa” joga muito com os sustos que se encontram na penumbra do ambiente. Não esqueço uma frase muito inteligente do Stephen King afirmando que a raiz de todos os medos do ser humano se acentua muito quando nos deparamos com uma porta entreaberta para um quarto escuro. Ele tem razão e esse filme explora muito bem esse tipo de situação. A garota passa quase todo o tempo indo de quarto e quarto da casa, totalmente escura ou com iluminação insuficiente. Só esse jogo de sombras já equivale a mais da metade do suspense e terror de “Silent House”. Outro aspecto curioso é o fato de que mesmo os clichês são justificáveis pelo estado de terror com que se encontra a garota. Nesse ponto não há trégua, a tensão realmente está presente da primeira à última cena e nada do que surge em cena é gratuito. A Casa Silenciosa foi dirigido pelo casal Chris Kentis e sua esposa Laura Lau. Seu filme mais famoso até o momento é o singular “Mar Aberto”, onde jovens turistas são esquecidos em alto mar, cercados por tubarões famintos por todos os lados. Lembro que essa produção causou reações extremas na época de seu lançamento, sendo que alguns amaram e outros odiaram o resultado. Certamente “A Casa Silenciosa” vai pelo mesmo caminho. De qualquer forma recomendo pois o filme consegue ser eficiente naquilo que se propõe sem ofender a inteligência do espectador.

A Casa Silenciosa (Silent House, Estados Unidos, 2011) Direção: Chris Kentis e Laura Lau / Roteiro: Gustavo Hernández, Laura Lau / Elenco: Elizabeth Olsen, Adam Trese, Eric Sheffer / Sinopse: Jovem garota (Elizabeth Olsen), seu tio e seu pai vão até uma casa antiga pertencente à sua família com a finalidade de consertar algumas coisas para coloca-la à venda. O local é escuro e está em mal estado. O que eles não contavam é que estranhos acontecimentos rondam a velha construção.

Pablo Aluísio.

Vítimas de Uma Paixão

Uma série de mortes ligadas a anúncios pessoais em jornais acaba levando o policial Frank Keller (Al Pacino) a uma suspeita muito bonita e sensual, Helen (Ellen Barkin). Não demora muito para o policial se apaixonar por ela. Resolvi rever recentemente "Sea of Love". Fazia tanto tempo que tinha assistido pela última vez que resolvi recordar esse verdadeiro revival da carreira do mito Pacino. O ator aqui está em seu habitat natural interpretando um tira com problemas pessoais (um casamento destruído justamente por um colega de trabalho e um indisfarçável problema com bebidas). Esse tipo de caracterização sempre fica ótima na pele do Al. Ele, como grande ator que é, sabe como poucos fazer esse tipo (muito provavelmente porque cresceu ao redor de tiras assim em Nova Iorque, caras que viviam no limite). Ao seu lado ainda temos o simpático comediante bonachão John Godman, ainda ganhando destaque dentro do cinema na época. A produção na época foi encarada como um retorno de Pacino aos filmes comerciais. Ele havia de certa forma se queimado com o fracasso monumental do filme "Revolução" mas aos poucos foi retomando o rumo do sucesso.

Por fim como seu interesse romântico temos em cena a atriz Ellen Barkin, muito charmosa e sensual, aqui esbanjando no visual exagerado tipicamente 80´s (com muito laquê no cabelo e maquiagem pesada). O filme não chega aos pés de outros clássicos policiais da carreira de Al Pacino como o sempre lembrado "Serpico" mas consegue manter o interesse e o suspense durante toda a sua duração. A trilha sonora e os momentos calientes ajudam muito nesse aspecto. Pena que o diretor Harold Becker não tenha feito nada de muito relevante depois desse filme. Digno de nota mesmo apenas sua outra bem sucedida parceria ao lado de Pacino em "City Hall". Muito pouco para quem prometia tanto. De qualquer modo assista "Sea of Love" caso não tenha visto ainda, certamente você não vai se arrepender.

Vítimas de Uma Paixão (Sea Of Love, Estados Unidos, 1989) Direção: Harold Becker / Roteiro: Richard Price / Elenco: Al Pacino, Ellen Barkin, John Goodman, Michael Rooker, Richard Jekins, William Hickey, Samuel L. Jackson. / Sinopse: Uma série de mortes ligadas a anúncios pessoais em jornais acaba levando o policial Frank Keller (Al Pacino) a uma suspeita muito bonita e sensual, Helen (Ellen Barkin). Não demora muito para o policial se apaixonar por ela.

Pablo Aluísio.

X-Men: Primeira Classe

Certamente Hollywood não iria deixar essa franquia de lado. Embora o último filme tenha sido de certa forma definitivo, fechando inclusive a estória, não restavam dúvidas que mais cedo ou mais tarde os mutantes de Stan Lee voltariam às telas. Vivemos atualmente uma verdadeira moda de filmes baseados em personagens de quadrinhos e sendo X-Men um dos mais populares desse universo era certo que eles voltariam de um jeito ou de outro. A solução aqui foi recomeçar tudo praticamente do zero. "X-Men: Primeira Classe", como seu próprio nome sugere, é o começo de uma nova série de filmes, com novos atores e nova proposta. A boa notícia é que esse primeiro filme é divertido, tem bons efeitos, um roteiro bem bolado e bom elenco. Dito isso é interessante salientar também que não é, na minha opinião, um filme isento de falhas. 

O filme caminha bem mas não consegue fugir da fórmula dos demais da franquia X-Men. Essa inclusive foi uma das decepções que tive. Após ler sobre ele antes de assistir fiquei com a impressão que esse seria o mais singular da série, algo mais inovador, mas isso definitivamente não acontece. Claro que seu diferencial é explicar a origem de muitos dos principais personagens da série porém não foge do formulaico para isso. Um pouco mais de ousadia dos realizadores cairia bem. Assim acabamos ficando com sabor de Deja Vu. Perceba que as coisas meio que se repetem. O grupo é formado, eles se conhecem, há um período de treinamento, etc, etc. Nesse quesito mais do mesmo. O grande mérito de First Class é realmente seu elenco (com muitos atores de seriados americanos como Damages, Mad Men, etc). O destaque obviamente vai para a estrela adolescente Jennifer Lawrence. Bonita e talentosa ela rouba todas as cenas em que aparece. O vilão interpretado por Kevin Bacon é outro ponto positivo. De certa forma ele me lembrou muito os primeiros vilões da franquia 007 e como a trama do filme é passada nos anos 60 então encaixou bem. Já Magneto e Xavier são personagens tão carismáticos que funcionam por si mesmos. Então é isso. First Class é um bom filme? Certamente. É inovador dentro da franquia? Não. De qualquer forma vale a pena assistir.  

X-Men: Primeira Classe (X-Men: First Class, Estados Unidos, 2011) Direção: Matthew Vaughn / Roteiro: Ashley Miller, Zack Stentz baseados nos personagens criados por Stan Lee para a Marvel Comics / Elenco: James McAvoy, Michael Fassbender, Jennifer Lawrence, Kevin Bacon, Rose Byrne, January Jones / Sinopse: Grupo de mutantes são reunidos em uma mesma instituição para ensino e treinamento liderados pelo professor Charles Xavier (James McAvoy). 

Pablo Aluísio.

sexta-feira, 24 de agosto de 2012

Professora Sem Classe

Mas o que aconteceu com os filmes juvenis?! Nos anos 80 os filmes eram divertidos, engraçados, bem escritos. Basta lembrar de John Hughes para entender do que estou falando. O humor hoje surge com tintas ofensivas, geralmente querendo rebaixar as demais pessoas. Além disso a vulgaridade de certas produções chegam a dar vergonha alheia. É um deserto de idéias sem fim. Nem me lembro mais quando assisti um bom filme desse estilo pela última vez. Definitivamente "Bad Teacher" não é um deles. Usando e abusando de clichês o roteiro dessa comédia adolescente além de ser sem graça consegue ser extremamente ofensivo, em especial para com os professores de uma forma em geral. A personagem principal é uma péssima profissional, odeia o que faz e quer mais é se dar bem com algum marido rico (e de preferência idiota) que encontrar pela frente. Ela não tem a menor vocação para ensinar nada e passa o filme inteiro pensando em formas de ganhar dinheiro fácil. Toda a sua motivação se resume a isso: dinheiro. Acontece que a moça quer fazer uma cirurgia de implante de silicone nos seios a todo custo. 

Para atingir esse objetivo a professora interpretada por Cameron Diaz não mede esforços. E aí está o principal problema do filme. Não há como se identificar com uma personagem tão antipática, vazia e imbecil. Os professores que gostam de lecionar são retratados como idiotas pelo roteiro (em especial Justin Timberlake fazendo um professor nerd e boboca). Então para que torcer por uma completa "bitch" como aquela?! Para finalizar a ruindade ainda tem uma cena totalmente nonsense entre Diaz e Timberlake fazendo sexo "vestidos"! Não consegui mesmo entender o proposito daquilo! Enfim, fraco, chato e o pior... sem graça. Ai que saudades do Hughes...]

Professora Sem Classe (Bad Teacher, Estados Unidos, 2011) Direção: Jake Kasdan / Roteiro: Lee Eisenberg, Gene Stupnitsky / Elenco: Cameron Diaz, Jason Segel, Justin Timberlake, Thomas Lennon, Molly Shannon, John Michael Higgins, John Michael Higgins, Jerry Lambert / Sinopse: Elizabeth Halsey (Cameron Diaz) é uma professora colegial nos EUA que odeia sua profissão. Decidida a mudar de vida fará de tudo para conseguir o dinheiro para pagar uma cirurgia de implante de seios. O objetivo é arranjar um marido rico para viver de pernas pro ar.  

Pablo Aluísio.

Um Homem Misterioso

Americano (George Clooney) chega numa pequena cidade italiana e começa a despertar a curiosidade dos moradores locais. Discreto, agindo quase sempre nas sombras, ninguém ao certo sabe quem realmente ele é e a razão dele estar na região. O roteiro desse filme é bem curioso. Para se ter uma idéia nunca descobrimos qual é o nome verdadeiro do personagem de George Clooney. Na maior parte do tempo ele é apenas "O Americano", que inclusive dá origem ao título original em inglês. O estranho sujeito parece não ter quaisquer laços familiares e nem afetivos (seu relacionamento mais sério é com uma prostituta italiana do qual ele não tem certeza se deve confiar). Também não descobrimos ao certo qual era o tipo de serviço que fazia antes de sua chegada na vila italiana e nem exatamente o que ele deveria fazer por lá. Tudo leva a uma determinada direção mas sempre fica a dúvida pairando no ar. Tudo o que o espectador pode fazer nesse filme é simplesmente especular pois certeza não terá de nada! Esse é o aspecto que mais me chamou a atenção em "Um Homem Misterioso" pois o enredo, fazendo jus ao título do filme, também deixa tudo em mais profundo mistério. 

A produção é mais uma na interessante filmografia de George Clooney. Ultimamente o ator tem se dedicado a várias causas humanitárias ao redor do globo e quando encontra tempo nessa sua cruzada para salvar o mundo volta aos bons filmes. De sua safra mais recente esse é certamente um dos filmes mais interessantes. Além do misterioso personagem título o filme ainda apresenta uma bela fotografia que tira todo o proveito das belas locações italianas. Curiosamente a pequenina cidade onde foi rodado o filme (Castel del Monte, L'Aquila, Abruzzo) lembra bastante o clima de certas cidades interioranas do Brasil, principalmente do interior de Minas Gerais e São Paulo. Os imigrantes italianos que chegaram em nosso país certamente trouxeram também sua arquitetura, costumes, cultura e tradições da Itália. O que se vê na tela nos parece bem familiar justamente por isso. O filme foi dirigido por Anton Corbijn com experiência em vídeos musicais (em especial com a banda U2). Como sempre acontece Clooney geralmente escolhe amigos para dirigir seus filmes, algo que novamente acontece aqui. O resultado é bom, interessante e de certo modo até mesmo inteligente. Vale a pena assistir nem que seja pelo menos uma vez. 

 Um Homem Misterioso (The American, Estados Unidos, 2010) Direção: Anton Corbijn / Roteiro: Rowan Joffe, Martin Booth / Elenco: George Clooney, Thekla Reuten, Irina Björklund, Bruce Altman / Sinopse: Americano (George Clooney) chega numa pequena cidade italiana e começa a despertar a curiosidade dos moradores locais. Discreto, agindo quase sempre nas sombras, ninguém ao certo sabe quem realmente ele é e a razão dele estar na região.  

Pablo Aluísio.

Tropas Estelares: Invasion

Uma equipe de elite é enviado para um setor distante do universo para investigar o que teria acontecido com uma nave que perdeu contato com a terra. Sem sinais e vagando pelo espaço os soldados liderados pelo Major Henry 'Hero' Varro acabam descobrindo uma situação terrível. Animação conjunta entre Estados Unidos e Japão com produção da Sony Pictures. Esse foi o caminho encontrado pelos produtores da franquia Tropas Estelares para levar em frente a série, saem os atores de carne e osso e entra a tecnologia digital. Em termos puramente técnicos o resultado é satisfatório mas não impressionante. O problema que mais incomoda aqui é a falta de uma maior expressividade no rosto dos personagens – todos ficam com expressões típicas de videogame. Já nas cenas de ação onde não se foca muito nas expressões dos soldados o resultado é bem melhor. Para inovar um pouco novos tipos de insetos foram acrescentados na franquia, alguns bem curiosos.

Outra coisa que chama a atenção em “Tropas Estelares – Invasion” é a escolha de uma postura mais adulta. Há cenas de nudismo, com as militares de seios à mostra andando nuas para lá e para cá. Por essa razão não é recomendado aos pais de crianças menores que comprem o DVD para seus filhos. O roteiro é redondinho, fechando bem a trama em si. Personagens da franquia original retornam aqui bem mais velhos e com patentes mais elevadas como Johnny Rico. A maior parte da equipe técnica é formada por japoneses. A animação foi dirigida por Shinji Aramaki, especialista em animações e animes nipônicos. No saldo final é um bom passatempo. Talvez daqui para frente Tropas Estelares sobreviva como produto justamente nesse tipo de formato. Não deixa de ser interessante. Os fãs da franquia agradecem.

Tropas Estelares: Invasion (Starship Troopers: Invasion, Estados Unidos, 2012) Direção: Shinji Aramaki / Roteiro: Robert A. Heinlein, Flint Dille / Elenco: Leraldo Anzaldua, Luci Christian, Melissa Davis / Sinopse: Uma equipe de elite é enviado para um setor distante do universo para investigar o que teria acontecido com uma nave que perdeu contato com a terra. Sem sinais e vagando pelo espaço os soldados liderados pelo Major Henry 'Hero' Varro acabam descobrindo uma situação terrível.

Pablo Aluísio.

quinta-feira, 23 de agosto de 2012

O Amor Pede Passagem

Mike (Steve Zahn) é um solteirão que trabalha no hotel de beira de estrada de seus pais. Sem perspectivas na vida profissional e afetiva ele acaba conhecendo a executiva bem sucedida Sue Claussen (Jennifer Aniston) e fica completamente apaixonado por ela. Além de ter um amor à primeira vista típico de adolescentes ele ainda sofre de um amor platônico sem amarras. Será que duas pessoas tão diferentes poderiam realmente dar certo? "O Amor Pede Passagem" é mais uma daquelas comédias românticas que apostam na chamada atração dos opostos. O filme para falar a verdade não é de todo mal, tem jeito de produção independente (apesar de não ser), um ritmo leve, um jeito despretensioso e uma vontade enorme de ser alternativo. Bom, ficou na intenção. Apesar de tudo tem seus pontos positivos. 

A Jennifer Aniston, por exemplo, começa o filme fazendo algo um pouquinho diferente de seus personagens habituais. Aqui ela aparece na pele de uma mulher um tanto quanto calculista, fria e sistemática. Pelo menos nas cenas iniciais. A caracterização cai bem em uma personagem que é uma executiva do mundo dos negócios. Steve Zhan repete seu personagem padrão. Quase sempre ele interpreta adultos que psicologicamente nunca conseguem sair da adolescência. Até em trabalhos mais consistentes como a ótima série "Treme" da HBO Zhan repete esse tipo de papel. Não é ruim, apenas repetitivo em excesso. O roteiro lida com situações que se sucedem meio que por acaso ao longo do filme e mais coisas implausíveis vão acontecendo (como o cara ir atrás dela pelo país afora e ela não ficar nem um pouco assustada com esse comportamento totalmente freak!). De fato se algo assim realmente acontecesse na vida real era bem possível que a executiva entrasse com uma ordem de restrição contra o pobre rapaz. O que antigamente eram simples caso de paixões platônicas hoje em dia virou caso de justiça. Aliás o grande problema do filme é esse, tem muita coisa implausível acontecendo, a maior delas é justamente o romance dos dois, algo que na vida real muito provavelmente jamais aconteceria. Recomendo mais para as fãs de comédias românticas já que o filme é assim mesmo, "bonitinho" em demasia e com "final fofo". Se faz o seu estilo então desligue o bom senso e se divirta.  

O Amor Pede Passagem (Management, Estados Unidos, 2008) Direção: Stephen Belber / Roteiro: Stephen Belber / Elenco: Jennifer Aniston, Woody Harrelson, Steve Zahn, Margo Martindale, Fred Ward, Tzi Ma / Sinopse: Mike (Steve Zahn) é um solteirão que trabalha no hotel de beira de estrada de seus pais. Sem perspectivas na vida profissional e afetiva ele acaba conhecendo a executiva bem sucedida Sue Claussen (Jennifer Aniston) e fica completamente apaixonado por ela. Além de ter um amor à primeira vista típico de adolescentes ele ainda sofre de um amor platônico sem amarras. 

Pablo Aluísio.

Brigitte Bardot e o Biquíni Proibido!

Brigitte Bardot foi um dos grandes símbolos sexuais do cinema mundial durante as décadas de 50 e 60. De óbvios atributos estéticos a atriz causou frisson não apenas pela sua extrema beleza mas também por várias atitudes de independência que a fez ser amada e odiada nas mesma proporções. Em uma época em que a mulher tinha que seguir rígidos padrões morais e sexuais Bardot ousou ir mais além. A forma como ela se tornou ícone sexual de uma geração foi no mínimo curioso. Tudo começou quando a adolescente Bardot conheceu Roger Vadim. Ele era bem mais velho do que ela, com fama de conquistador inveterado. Na época em que o conheceu Brigitte tinha apenas 15 anos e ainda era apenas uma aspirante à carreira de modelo. Conforme Vadim foi lutando por sua carreira a aproximação amorosa se tornou inevitável. Para escândalo da tradicional família Bardot ela resolveu assumir seu romance. Para seus pais foi como uma declaração de guerra familiar, embora para Brigitte tudo soasse apenas como uma mulher que lutava para se relacionar com quem bem entendesse.

Aos 17 anos finalmente se casou com Vadim, a contragosto dos pais que desaprovavam de forma veemente o casamento. O auge dos atritos envolvendo Brigitte e sua família aconteceria na ocasião do lançamento de seu primeiro filme. A produção se chamava "Manina, la fille sans voile" e não economizava na sensualidade, trazendo fartas cenas de Bardot de biquíni, na praia, em cenas ousadas. Quando o filme foi lançado o clã Bardot perdeu a paciência e tentando preservar sua "reputação moral" resolveu tomar medidas duras, levando todos, de produtores ao diretor Vadim, aos tribunais. Tentando a todo custo proibir a exibição do filme os advogados da família Bardot alegavam que a produção ia contra todos os valores morais e religiosos do povo francês, contra a ética, contra o pudor e chegava ao ponto de acusar os realizadores de anticristãos e lascivos pois estariam pisando nos dogmas religiosos mais vitais ao sentimento da nação francesa! O caso acabou virando um carnaval e o filme acabou se tornando dez vezes mais famoso por causa do inusitado processo judicial. A polêmica logo chegou aos EUA e o filme acabou sendo comprado por um grande estúdio americano para distribuição no país sob o sugestivo nome "The Girl In the Bikini". O tiro da família Bardot obviamente saiu pela culatra pois trouxe uma publicidade impensada para um pequenino filme como aquele!

Nem é preciso dizer que em pouco tempo Bardot virou símbolo sexual também para os americanos. Afinal ela era além de linda muito interessante em seu estilo de vida livre e exótico, caindo como uma luva na imagem que os ianques tinham sobre os hábitos sexuais dos franceses, geralmente vistos como libertinos incorrigíveis. Após uma longa batalha judicial o tribunal deu ganho de causa para os produtores do filme. Não havia sentido em aplicar censura em um filme que no final de contas só mostrava uma linda adolescente de biquíni passeando pela praia. Aliás ela estava mais maravilhosa do que nunca. Por que proibir a beleza feminina afinal? O caso fez jurisprudência na justiça francesa e em vários outros países o exemplo foi seguido. Não havia como proibir uma obra de cinema apenas por uma questão moral de foro íntimo, pois a decência varia de pessoa para pessoa. O que pode ser considerado imoral para alguns pode não ser para outros. Na nova década não havia mais espaço para moralismos caducos e retrógrados como aquele. O biquíni de Bardot enfim vencera e ela, linda e graciosa, iria a partir daí iniciar um reinado nas telas mundiais que duraria vários anos para deleite de todos os cinéfilos ao redor do mundo.

Pablo Aluísio.

terça-feira, 21 de agosto de 2012

Raul - O Início, o Fim e o Meio

Raul Seixas foi um sujeito incomum. Nascido na Bahia gostava mesmo era de Rock Americano. Artista brasileiro, não ligava e nem dava a menor bola para movimentos da época como o tropicalismo e a Bossa Nova. Em plena ditadura militar propôs a criação de uma sociedade alternativa, algo completamente subversivo. Espiritualista, não seguia a religião dominante, preferindo se dedicar a estudos esotéricos baseados em um mago inglês meio maluco. Raul definitivamente não seguia padrões em sua vida e nem muito menos na sua música. Foi uma pessoa e artista ímpar, singular. Esse novo documentário procura trazer uma luz sobre a história desse personagem muito interessante da nossa cultura. O retrato que salta da tela é de uma pessoa que não se enquadrava em nenhum rótulo ou tentativa de classificação. Não é á toa que Raul gostava de dizer que era acima de tudo um “Raulseixista”!. Em pouco mais de duas horas o filme tenta destrinchar a vida de Raul, desde sua infância até sua morte. 

Raul sempre foi original. Garotinho já surge de topete, gola levantada para cima, fã de carteirinha de Elvis Presley. Junto com amigos decidiu abrir um fã clube próprio do cantor, o Elvis Rock Club em Salvador. Depois já adulto vemos sua paixão pela música virar profissão. Na década de 60 formou seu próprio grupo de Ié, Ié, Ié, chamado “Rauzlito e os Panteras”. Após mudar-se para o Rio de Janeiro se tornou produtor da CBS e trabalhou ao lado de artistas como Jerry Adriani e Renato e Seus Blue Caps. Mas isso era pouco e nos anos seguintes Raul chutou o balde e resolveu se assumir como cantor, impondo seu estilo único na MPB. Sua parceria com Paulo Coelho rendeu os maiores clássicos de sua carreira. Uma amizade complicada marcada pela competição interna. O próprio Coelho dá longo depoimento e é interrompido justamente por uma mosca bem na hora da entrevista! A associação com o sucesso “Mosca na Sopa” de Raul obviamente é imediata, sendo esse um dos momentos mais divertidos do documentário. Um dos grandes méritos de “Raul - O Início, o Fim e o Meio” é que embora busque louvar a genialidade do artista jamais joga para debaixo do tapete os problemas do homem Raul. Casado várias vezes (suas ex-mulheres dão ótimos depoimentos) Raul teve sérios problemas com drogas e álcool ao longo da vida. O alcoolismo aliás foi o grande pesadelo na vida do artista em seus últimos anos. Completamente embriagado não conseguia mais se apresentar ao vivo – há no documentário o registro que mostra Raul completamente bêbado em cima de um palco sem saber o que fazer. Retirado do palco o público começa a jogar latas e outros objetos em direção aos músicos e a apresentadora tenta acalmar os ânimos. A cena final, reconstruindo a noite da morte de Raul e seu enterro é tocante. 

Raul viveu como quis e ao morrer acabou se aproximando ainda mais de seu ídolo de infância, Elvis. Tal como Presley ele mantém um público fiel e devoto. Nada mal para esse baiano que tascou uma mosca na sopa da música brasileira. Claro que uma vida tão rica não seria retratada integralmente apenas em um documentário mas o resultado final é muito bom. O roteiro tenta explicar Raul mas isso é desnecessário. Raul não é para ser entendido mesmo. O maluco beleza detestava essa coisa de ter explicação para tudo. Assista, ouça e conheça esse grande nome da nossa música.  

Raul - O Início, o Fim e o Meio (Brasil, 2012) Direção: Walter Carvalho, Leonardo Gudel / Roteiro: Leonardo Gudel / Elenco: Depoimentos de Paulo Coelho, Tárik de Souza, Caetano Veloso, Kika Seixas, Sylvio Passos entre outros / Sinopse: Documentário que mostra a vida profissional e pessoal do cantor e compositor Raul Seixas, um dos grandes nomes do rock brasileiro.  

Pablo Aluísio.

segunda-feira, 20 de agosto de 2012

Fome de Viver

Hoje o mundo foi surpreendido com a morte do diretor Tony Scott. Isso me recordou um de seus pequenos clássicos, um filme sobre vampiros que causou sensação na década de 80. "Fome de Viver" é puro estilo. É o típico caso de filme em que a forma é muito mais importante do que o conteúdo. Isso porque do ponto de vista de seu conteúdo o filme não traz nada de muito relevante ou surpreendente. O enredo é bem criado, mas não foge demais da mitologia dos vampiros que todos conhecemos. De certa forma é até simples. O grande diferencial é realmente sua forma. Nenhuma cena do filme parece ter sido filmada de forma gratuita. Tudo é pensado, ultra produzido, sofisticado. O diretor Tony Scott não deixa de criar ambientações singulares para cada tomada de cena (usando fartamente de cortinas brancas ao vento, sombras, luz, arquitetura clássica, enquadramentos ousados etc).

Em certos momentos me lembrou muito Blade Runner (inclusive com o uso de pombas brancas voando ao fundo). O elenco todo está bem, desde o cantor David Bowie (usando uma ótima maquiagem simulando o passar do tempo) até Susan Sarandon (mesmo que tenha sido maquiada de forma pesada que escureceu seus marcantes olhos). Já Catherine Deneuve esbanja elegância e sofisticação, até mesmo nas cenas mais violentas. Enfim, quem for assistir "Fome de Viver" esperando um filme de vampiros tradicional vai ter uma bela surpresa. O filme é em sua essência um exercício de estilo, onde tudo é muito chic, com cara de videoclip dos anos 80.

Fome de Viver (The Hunger, Estados Unidos, 1983) Direção: Tony Scott / Roteiro: Ivan Davis, Michael Thomas / Elenco: Catherine Deneuve, David Bowie, Susan Sarandon / Sinopse: Um casal de vampiros tenta manter seu estilo de vida em uma grande cidade americana do século XX

Pablo Aluísio.

Chernobyl

Não é de hoje que Hollywood se aproveita da paranoia que envolve a energia nuclear para criar seus monstros radioativos. Esse "Chernobyl Diaries" se utiliza da velha fórmula que tanto foi usada na década de 50. Aqui temos novamente um grupo de jovens americanos e russos que resolvem fazer um turismo radical: ir até a cidade de Chernobyl na Rússia para conhecer o local. Para quem não se lembra Chernobyl foi palco do maior desastre nuclear da história quando um dos reatores da usina nuclear local explodiu contaminando tudo em um raio de quilômetros. A população que morava próxima à usina teve que sair às pressas da região, deixando tudo para trás, casas, móveis e objetos pessoais. É justamente nesse local abandonado que os turistas vão conhecer. O plano inicial é de passar apenas duas horas em Chernobyl, tirar algumas fotos da cidade fantasma e ir embora. Não precisa ser gênio para saber de antemão que alguma coisa vai acontecer e eles vão ficar presos no local sem possibilidade de ir embora.

"Chernobyl Diaries" até tem um começo promissor. O problema é o roteiro que é bem ruim. Assim que o carro pifa começam os sustos de meia tigela. Algo surge na escuridão e começa a atacar todos só que ninguém sabe ao certo do que se trata. Podem ser outras pessoas mas podem ser também apenas alguns animais selvagens. Em certo momento do filme um dos personagens solta a pérola “Eu não estou conseguindo ver nada” – de fato, não é só ele que não consegue ver nada já que o filme é totalmente escuro e ninguém vê absolutamente nada do que está acontecendo em cena. Muitos gritos, gente correndo pra lá e pra cá, e lanternas caindo na escuridão. Isso é tudo. Os que gostam de ver monstros em filmes de terror podem ir tirando o cavalinho da chuva porque se eles existem não aparecem nunca! Há relances apenas. Embora não seja um Mockumentary (falso documentário), "Chernobyl Diaries" usa e abusa da câmera subjetiva, tremida, desfocada e nervosa. Chega a dar dor de cabeça. Assim o espectador é jogado no meio da escuridão com um monte de gente gritando sem se saber ao certo o que diabos está acontecendo. No final fica o gosto de decepção. Prefiro os monstros radioativos da década de 50 porque apesar da roupa de borracha eles eram divertidos e o mais importante: o espectador conseguia vê-los! Aqui em "Chernobyl Diaries" não se vê nada, apenas seu dinheiro do ingresso indo embora á toa. Enfim não caia nesse abacaxi de urânio.

Chernobyl - Sinta a Radiação (Chernobyl Diaries, Estados Unidos, 2012) Direção: Bradley Parker / Roteiro: Oren Peli, Carey Van Dyke, Shane Van Dyke / Elenco: Jesse McCartney,Jonathan Sadowski, Nathan Phillips, Olivia Dudley, Ingrid Bolsø Berdal / Sinopse: Grupo de turistas resolve ir na cidade radiotiva de Chernobyl para fazer o chamado turismo radical. O que não contevam é que haveria vida no local.

Pablo Aluísio.

sábado, 18 de agosto de 2012

Filmografia Comentada: Steve McQueen

Steve McQueen foi um dos atores mais populares da década de 60. Estreiou no cinema em "Marcado Pela Sarjeta" em uma participação não creditada. Seu tipo não se enquadrava nos galãs românticos da época e por isso ele aos poucos foi se especializando em filmes de muita ação e emoção, criando seu próprio estilo. Sua sorte mudou ao estrelar um filme de orçamento modesto da companhia Mirisch, especializada em produções B. O western "Sete Homens e Um Destino" se tornou um grande sucesso de bilheteria e assim Steve McQueen se tornou um astro de primeira grandeza. Os sucessos se sucederam, "Fugindo do Inferno", "Bullit". "O Canhoneiro do Yang-,Tsé", "Crown, O Magnífico", "Papillon", "O Inferno na Torre" e tantos outros. McQueen formou seu próprio público e estilo se tornando rapidamente um campeão absoluto de bilheterias. Louco por carros e corridas McQueen procurava sempre fazer suas próprias cenas de perseguição nos filmes. Seu último filme, "Caçador Implacável" mostrava que apesar dos anos McQueen continuava fiel ao tipo de produção que lhe trouxe fama e fortuna. O ator morreu em 1980, aos 50 anos, deixando toda uma legião de fãs órfãos de seu talento e carisma.

Papillon
Henri 'Papillon' Charriere (Steve McQueen) é condenado por assassinar um gigolô e é enviado para a terrível penintenciária de Saint Laurent na Guiana Francesa. A prisão era conhecida por seu regime de trabalhos forçados em pântanos e pela rígida disciplina interna. Na viagem para o local acaba conhecendo Louis Dega (Dustin Hoffman) um falsificador de bônus de guerra que acumulou grande riqueza com sua atividade ilegal. Papillon lhe oferece proteção em relação a outros prisioneiros que já sabem que Dega tem uma verdadeira fortuna pessoal e certamente vão querer tirar algum proveito disso. O que começa como um simples acordo de proteção acaba ao longo dos anos se tornando uma sólida amizade pessoal entre ambos. "Papillon" é um filme visceral. O roteiro foi baseado no relato autobiográfico de Henri Charrière que foi mandado para a Ilha do Diabo na década de 1930. Seu teor cru e realista até hoje impressiona. Não poderia ser diferente. Aqui temos um dos maiores roteiristas da história de Hollywood, Dalton Trumbo, o mesmo de Spartacus que foi perseguido durante o macartismo e que foi trazido de volta do ostracismo por Kirk Douglas. Seu texto é brilhante, um grande estudo e denúncia sobre as péssimas condições que existiam no local. Um claro atentado aos direitos mais básicos dos apenados.

Para se ter uma pequena idéia da rigidez do sistema prisional basta citar o fato de que era prática constante o envio de prisioneiros para a solitária durante longos anos. O próprio Papillon passou cinco anos encarcerado no chamado "buraco" por ter agredido um guarda da prisão que estava espancando seu amigo Dega. Isolado, sem luz e com comida racionada ele aos poucos vai perdendo o senso de realidade chegando ao ponto de saciar sua fome comendo pequenos insetos que infestam sua cela como baratas e centopeias. Essas cenas passadas na solitária aliás são as melhores de todo o filme, mostrando de forma inequívoca o grande talento de Steve McQueen, um ator que sempre achei muito subestimado pela crítica. Outro ponto muito marcante é a obstinação de seu personagem que nunca se rende e está sempre em busca de sua liberdade. Sua frase "Estou vivo desgraçados!" é muito significativa nesse ponto. Papillon é uma pessoa que não se rende, que não desiste. No fundo o filme é uma crônica sobre a perseverança humana que a despeito de todas as adversidades jamais se dobra ao que o destino parece lhe impor. Um grande momento do cinema americano da década de 70 e uma obra essencial para todos os cinéfilos.

Sete Homens e Um Destino
Moradores de um pacato vilarejo mexicano pedem ajuda a um grupo de pistoleiros liderados por Chris (Yul Brynner) e Vin (Steve McQueen) para que os protejam do terrível bando de bandidos e assassinos do pistoleiro Calvera (Eli Wallach). Refilmagem americana do filme "Os Sete Samurais" de Akira Kurosawa. Uma das grandes idéias dos roteiristas foi transpor a estória para o velho oeste, pois essa é a verdadeira mitologia americana. Saem os samurais e entram os pistoleiros e cowboys do filme. Nada mais adequado. Mas não foi apenas por essa adaptação que a produção se tornou um clássico. Provavelmente esse seja o western com a mais lembrada e famosa música tema da história do cinema. Muito evocativa e tocada várias vezes ao longo do filme em diversas versões diferentes logo fica claro porque se tornou um marco no estilo. Elmer Bernstein era realmente um grande compositor como bem demonstrado aqui. Basta a música tocar para o espectador entrar imediatamente no clima do gênero western.

Outro ponto muito forte de "The Magnificent Seven" é seu elenco acima da média, liderado pelos carismas de Yul Brynner e Steve McQueen, ambos estrelas em ascensão em Hollywood na época. Os sete pistoleiros contratados para defender a pequena vila são variações do velho mito do cavalheiro solitário e errante (como bem resume uma cena em que eles discutem sobre os prós e contras da vida que levam). O elenco de apoio é excepcionalmente bom, com destaque para Charles Bronson (ainda em sua fase de coadjuvante), Robert Vaughn (que iria virar astro da TV anos depois) e James Coburn (um dos atores que melhor personificou pistoleiros em filmes de faroeste). Produzido pela Mirisch cia, a produção não é muito rica (essa empresa era especializada em fitas B que depois eram distribuídas pelos grandes estúdios como Universal e MGM) mas esse pequeno detalhe não compromete o filme em nenhum momento. Já a direção do veterano John Sturges é eficiente (embora um corte na duração final cairia bem). De qualquer forma não há como negar que para quem gosta de western esse é sem dúvida um filme obrigatório.

24 Horas de Le Mans
Assisti hoje esse curioso filme da filmografia do Steve McQueen. O fato é que ele era louco por corridas e carros velozes, assim quando estava no auge de seu sucesso resolveu bancar um projeto pessoal: realizar um filme durante as 24 horas de Le Mans (uma das corridas mais famosas da Europa). Embora tenha sido aconselhado a não estrelar o filme Steve bateu o pé e levou uma enorme equipe de Hollywood para filmar o grande evento esportivo. O problema é que em sua ansiedade de fazer o filme McQueen esqueceu de que todo filme tem que ter um roteiro e não basta apenas filmar carros à toda velocidade.

Aí é que está todo o problema de Le Mans: ele não tem roteiro! Não é que o roteiro do filme seja ruim, nada disso, ele simplesmente não existe! Isso mesmo. Tudo se passa nas próprias 24 horas de Le Mans. Tudo o que se vê durante o filme inteiro é a própria corrida e nada mais. É quase um documentário. Para não dizer que McQueen não interpreta nada ele tem duas cenas onde troca diálogos rápidos com outros personagens (que nem mesmo possuem nomes!). Tecnicamente a verdade seja dita: o filme é muito bem editado e tem ótimas sequências de pista... mas também só tem isso. Enfim, o resultado de tudo isso é que o filme foi um tremendo fracasso de bilheteria e o McQueen perdeu uma verdadeira fortuna com isso. Bem feito, só assim ele nunca mais estrelaria um filme sem roteiro.

Fugindo do Inferno
Um grupo de prisioneiros ingleses e americanos tenta de todas as formas fugir de um campo de prisão alemão durante a II Guerra Mundial. O local foi especialmente construído pelo Terceiro Reich para abrigar os maiores mestres em fugas sob custódia no conflito. Esse é certamente um dos filmes mais lembrados quando se trata de fitas sobre fugas espetaculares. Além disso é considerado uma das produções mais populares estreladas pelo carismático Steve McQueen, na época no auge de sua popularidade como astro de filmes de ação. Embora pouca gente perceba isso o fato é que "The Great Escape" tem grande "parentesco" com outro clássico estrelado por McQueen, "Sete Homens e Um Destino". Ambos foram dirigidos pelo mesmo cineasta e conta com praticamente a mesma equipe no mesmo estúdio. Se compararmos os dois porém veremos que "Fugindo do Inferno" conta com uma produção bem acima do anterior, fruto é óbvio do grande sucesso do famoso western. Por trás das câmeras se sobressai o trabalho do excelente (e subestimado) John Sturges, que aqui entrega uma pequena obra prima dos filmes de guerra.

O roteiro foi baseado no livro de memórias de um participante da fuga (que foi real e aconteceu em 1944, já na fase final da II Guerra Mundial). Claro que o filme toma enormes liberdades com o material original, o livro de Paul Brickhill. O túnel que vemos em cena certamente é irreal, tal o seu grau de sofisticação. Obviamente que a escavação real mais parecia com um mero buraco do que qualquer outra coisa, muito longe do que vemos na tela. Aliás essa falta de veracidade seria satirizada anos depois na comédia "Top Secret" de 1984. O fato é que "Fugindo do Inferno" é acima de tudo uma obra de entretenimento e não esconde isso, principalmente em seus letreiros iniciais quando deixa claro que embora baseado em história real houve várias mudanças nos personagens, locais e tempo em que aconteceram os fatos reais. Longo em sua duração o filme não cansa o espectador pois a trama é muito bem amarrada e mantém o interesse. O roteiro também causa surpresa por ter basicamente dois finais, o primeiro na fuga e o segundo nos acontecimentos que ocorreram após a mesma ter sido levado a cabo. De qualquer forma "Fugindo do Inferno" é certamente um dos melhores filmes de guerra já feitos. Movimentado, bem escrito e com muito suspense e emoção. Se não conhece ainda não deixe de assistir.

O Inferno é Para os Heróis
Steve McQueen foi o grande nome do cinema de ação dos anos 60. Seus filmes iam direto ao assunto e não havia espaço para sutilezas ou abobrinhas dramáticas. Quem comprava o ingresso para ver um filme seu já sabia o que iria encontrar. Falando de forma crua o ator fazia filmes "pra macho", ou seja, muita ação, porrada e mortes. E é justamente isso que encontramos em "O Inferno é para os heróis". No roteiro não há lugar para melodramas, pelo contrário, o que vemos é um autêntico filme de guerra, com muita ação da primeira à última cena. Os personagens do batalhão são rapidamente apresentados e todos logo partem para o front onde tropas alemãs os esperam.

O elenco é muito interessante. Além de McQueen fazendo seu estilo caladão e durão temos ainda Bobby Darin, o cantor, fazendo um recruta mais preocupado em juntar cacarecos do que lutar e Nick Adams fazendo um refugiado polaco tentando ganhar uma viagem para os EUA com o objetivo de fugir da guerra e tentar um novo recomeço. Esse ator inclusive hoje é mais lembrado por suas amizades (foi grande amigo de James Dean e Elvis Presley) do que por sua carreira propriamente dita. E para terminar o elenco ainda traz o futuro durão dos filmes de western, James Coburn, interpretando um soldado nerd (vejam só que ironia). É isso, o filme é realmente um autêntico "war movie" com direito inclusive a uma muito bem feita cena de destruição de uma casamata alemã (devidamente copiada por Spielberg em Soldado Ryan). Coloque o capacete e divirta-se.

Pablo Aluísio.

O Segredo da Cabana

Muito bizarro esse novo “The Cabin in the Woods”. Isso é o mínimo que eu posso dizer. O filme começa de forma muito convencional. Um grupo de jovens decide passar um fim de semana numa cabana localizada numa distante floresta. Bom, se você já assistiu a pelo menos um filme de terror na vida sabe que esse enredo não tem nada de original. Todos sabemos que os jovens estão ali só para serem trucidados, um por um, e que a floresta esconde um terrível e macabro segredo. Até aí realmente tudo mais do mesmo. Agora logo no começo da estória notamos que no meio desse argumento clichê há algo de diferente. Um grupo de executivos e funcionários do que parece ser uma empresa monitora tudo o que acontece na cabana com os jovens. Estranho não é mesmo? Eles se comportam como em toda corporação, batem papo, tomam cafezinho, contam piadas, enquanto isso o grupo na cabana é atacado por uma família de zumbis caipiras! Isso mesmo! Sentiu o tamanho da bizarrice? Mas isso, por mais incrível que possa parecer, é apenas o começo de tudo porque por trás de toda aquela situação está um contexto ainda mais bizarro, estranho e inacreditável. Uma realidade nada comum que não convém revelar aqui para não estragar a surpresa de quem ainda não assistiu ao filme.

A verdade é a seguinte, quando tudo for revelado e explicado você poderá ter apenas duas reações possíveis: vai abrir um sorriso e adorar, achando tudo muito inventivo e bem bolado, diferente, além de extremamente fantasioso ou vai odiar e se sentir enganado por ter pensado tanto tempo estar assistindo a um tipo de filme para depois descobrir que não é bem aquilo que você pensava ser. “O Segredo da Cabana” é um filme bem radical nesse ponto. Particularmente acompanhei tudo com atenção e quando cheguei ao clímax da produção acabei me divertido pelo inusitado de tudo. A conclusão é um tanto absurda, mas boa ou ruim pelo menos é diferente do que estamos acostumados a assistir. A produção no final das contas mistura elementos de tudo o que você possa imaginar, fazendo um caldeirão gigante de cultura pop onde convive todo tipo de personagem, desde os antigos monstros da Universal até os bons e velhos zumbis comedores de carne humana. Eu vou recomendar o filme com certeza pois você, amando ou odiando o resultado final, pelo menos no final das contas vai assistir algo diferente – coisa que andava faltando nos filmes de terror recentes. Assista e (se possível) se divirta com tudo o que acontece na tela. Bizarro é pouco para definir.

O Segredo da Cabana (The Cabin in the Woods, Estados Unidos, 2011) Direção: Drew Goddard / Roteiro: Joss Whedon, Drew Goddard / Elenco: Sigourney Weaver, Kristen Connolly, Chris Hemsworth, Anna Hutchison / Sinopse: Um grupo de jovens decide passar o fim de semana em uma cabana isolada no meio de uma floresta. O que começa como pura diversão acaba virando um terrível ataque de monstros sedentos por sangue humano.

Pablo Aluísio.