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segunda-feira, 13 de março de 2023

A Dama de Shanghai

Título no Brasil: A Dama de Shanghai
Título Original:  The Lady from Shanghai
Ano de Lançamento: 1947
País: Estados Unidos
Estúdio: Columbia Pictures
Direção: Orson Welles
Roteiro: Sherwood King, Orson Welles, William Castle
Elenco: Rita Hayworth, Orson Welles, Everett Sloane, Glenn Anders, Ted de Corsia, Erskine Sanford

Sinopse:
Bela mulher, de moralidade mais do que questionável, se envolve ao lado do marido, um advogado enrolado com atos de corrupção, e um marinheiro com ampla fica criminal, na morte de uma pessoa que eles querem ver eliminada. E isso será o começo de uma série de fatos criminosos que eles não terão mais controle conforme o tempo for passando. 

Comentários:
Esse filme quase não foi produzido. A razão é que nenhum grande estúdio queria mais contratar Orson Welles. Ele era considerado um diretor muito complicado de se trabalhar, ao mesmo tempo seus filmes não faziam sucesso de bilheteria. Assim foi necessário contar com o apoio de uma pequena companhia cinematográfica da época, a Mercury Productions, para que o filme finalmente saísse do papel. Eles queriam muito trabalhar ao lado do diretor e por essa razão garantiram ao estúdio Columbia que iriam controlar o cineasta. O filme é muito bom, sem dúvida, mas de maneira em geral valoriza mais a forma como se conta a história do que a história propriamente dita. Além disso o diretor quis mesmo provocar Hollywood ao mandar cortar os longos cabelos negros da atriz Rita Hayworth, que era um símbolo sexual e do glamour da capital do cinema. Ela surgiu no filme com cabelos curtinhos e platinados e praticamente desagradou todo mundo da época. Ao longo dos anos, esse filme foi ganhando status de cult e segue nesse patamar até os dias atuais. Mais um registo da genialidade incompreendida de Orson Welles que tentava, naqueles anos, fazer um tipo de cinema muito à frente de seu próprio tempo. 

Pablo Aluísio.

segunda-feira, 13 de fevereiro de 2023

Monsieur Verdoux

Título no Brasil: Monsieur Verdoux
Título Original: Monsieur Verdoux
Ano de Lançamento: 1947
País: Estados Unidos
Estúdio: Charles Chaplin Productions
Direção: Charles Chaplin
Roteiro: Charles Chaplin
Elenco: Charles Chaplin, Mady Correll, Allison Roddan, Robert Lewis, Martha Raye, Isobel Elsom

Sinopse:
Após trabalhar 30 anos como bancário, Monsieur Verdoux (Charles Chaplin) é demitido do banco onde trabalha. Desesperado e desempregado, ele passa a seduzir mulheres mais velhas, ricas e solitárias. Ele planeja ficar com suas fortunas pessoais. Assim, o bancário honesto e digno do passado logo se torna um criminoso. Um assassino de mulheres. Filme com roteiro baseado em uma história real.

Comentários:
Orson Welles deu a ideia para Chaplin dirigir e atuar nesse filme. Tudo era baseado na história de um assassino conhecido em Paris como o Barba Azul. Ele cometeu seus crimes durante a primeira guerra mundial. Não foi um bom conselho de Orson Welles para Chaplin. O público não queria ver o ator que havia atuado por tanto tempo como o adorado Carlitos na pele de um criminoso, um assassino frio. A recepção, tanto de público como de crítica, foi a pior possível. Chegou-se ao ponto do filme ser boicotado. Apesar de ter defendido seu filme com veemência na imprensa, Chaplin não conseguiu salvar Monsieur Verdoux do fracasso comercial. Ele acreditava pessoalmente que o filme seria interessante. Uma mudança de ares no tipo de personagem que encarnava no cinema. A verdade é que o público não queria essa mudança. Nessa mesma época, ele foi também acusado de patrocinar atos antiamericanos, de ser um comunista. Ele ficou tão irritado com tudo o que aconteceu, que decidiu ir embora dos Estados Unidos. Decidiu que iria passar sua velhice na distante e fria Suíça, onde não teria que responder processos que o acusavam de ser um membro do partido socialista. E assim foi feito, apesar de sua boa qualidade, esse filme é considerado um de seus grandes fracassos comerciais. Só com o passar dos anos é que ele finalmente foi sendo reconhecido por seus méritos cinematográficos. Antes tarde do que nunca.

Pablo Aluísio.

quinta-feira, 25 de agosto de 2022

O Mercador de Almas

Em "O Mercador de Almas" temos várias características que fizeram o cinema americano se tornar o melhor do mundo durante a década de 1950 . O elenco é fenomenal. Além de Paul Newman em ótima forma (tanto do ponto de vista de talento como de presença) temos um personagem à prova de falhas interpretado pelo, ora vejam só, o mito do cinema Orson Welles. Nem precisa dizer que ele é realmente a alma de todo o filme. Gorducho, malvado, esbanjando rabugice em cada cena, Welles toma conta de tudo, literalmente. Com filmes como esse percebemos que além de grande cineasta ele também era um ator fantástico. Sua voz de trovão ecoa em cada cena, fazendo os atores que contracenaram com ele sumirem lentamente.

Em termos de roteiro e argumento o filme se parece bastante com outro clássico da filmografia de Newman, "Gata em Teto de Zinco Quente". Esse, assim como aquele, também é ambientado numa típica fazenda do Sul dos EUA. O enredo também gira em torno dos filhos de um rico fazendeiro, seus problemas familiares e as complicações cotidianas dessas famílias. Para completar o "Mercador de Almas" também é inspirado na obra de um grande autor, a novela "The Hamlet" de William Faulkner. A única diferença mais nítida é que "Gata em Teto de Zinco Quente" é bem mais teatral do que esse, mas fora isso são extremamente parecidos. De qualquer forma uma coisa é certa: Ambos os filmes são fundados em excelentes diálogos e interpretações inspiradas. Por essa época Paul Newman havia se tornado um dos grandes atores do cinema, mostrando de forma excepcional que passava muito longe do rótulo vazio de galã, muito pelo contrário, Newman estava sempre se arriscando em personagens com muita profundidade psicológica, complexos, muitas vezes anti-heróis, crápulas, sem o menor remorso moral. Nesse "Mercador de Almas" ele novamente encontra um papel à sua altura. Uma obra cinematográfica do mais alto nível que merece ser redescoberta.

O Mercador de Almas (The Long Hot Summer, Estados Unidos, 1958) Direção: Martin Ritt / Elenco: Paul Newman, Joanne Woodward, Anthony Franciosa, Orson Welles, Lee Remick / Sinopse: Ben Quick (Paul Newman) deixa uma cidade após suspeitarem, sem provas, que é um incendiário. Ele põe o pé na estrada e consegue carona com Eula Varner (Lee Remick) e Clara Varner (Joanne Woodward). Eula é casada com Jody Varner (Anthony Franciosa), cujo pai, Will Varner (Orson Welles), é "dono" de Frenchman's Bend, uma pequena cidade do Mississipi. Já Clara, a filha solteira de Will, trabalha como professora. Ben se estabelece lá e logo consegue uma ascensão meteórica, indo morar na casa do seu patrão, Will. Ele se torna um sério candidato para casar-se com Clara, pois Will não tolera a idéia que ela não lhe deixe herdeiros.

Pablo Aluísio.

sexta-feira, 24 de junho de 2022

O Favorito dos Bórgias

Todo rodado na Itália, nos mesmos castelos e locais onde aconteceram os fatos da história real, esse "O Favorito dos Borgias" tem uma produção de encher os olhos. Tudo foi minuciosamente reconstituído, as armaduras, o figurino, tudo de muito bom gosto. Até o estilo ornamental do renascimento foi recriado para o filme. A direção de Henry King é segura, pontual, detalhista e não desperdiça nada em um roteiro muito bem escrito, com ótimos e inspirados diálogos. E por falar em bons diálogos o que é necessário para que eles funcionem perfeitamente? Sim, grandes atores. E é justamente no elenco que esse épico se destaca.

Embora Tyrone Power seja apenas mais um galã (que marcou época mas que mesmo assim não passava disso), temos para contrabalançar suas limitações o grande Orson Welles. Incrível, mas Welles interpreta tudo com uma naturalidade, uma genialidade que me deixou admirado. Enquanto outros atores em cena exageram nas caras e bocas (uma certa característica da época), Orson desfila em cena todas as nuances de seu personagem sem o menor esforço. Consegue ser sutil em meio ao exagero dramático de outros em sua atuação. Ele literalmente rouba todas as cenas ao interpretar Cesare Bórgia, o famoso déspota da história. A atriz Wanda Hendrix, a mocinha do filme, embora fosse linda era inexpressiva do ponto de vista dramático. Mas isso é o de menos. No conjunto esse "O Favorito dos Borgias" é bem acima da média, uma grande diversão que em nenhum momento ofende a inteligência do espectador, mostrando já na década de 40 que diversão não precisa ser necessariamente burra ou idiota, pelo contrário, pode ser muito instrutiva e rica.

O Favorito dos Bórgias (Prince of Foxes, Estados Unidos, 1949) Direção de Henry King / Roteiro: Milton Krims / Elenco: Tyrone Power, Orson Welles, Wanda Hendrix, Marina Berti / Sinopse: Andrea Orsini (Tyrone Power) se envolve nas disputas familiares da famosa família Borgia. Em seu caminho tem que encontrar e lidar com o famigerado Cesare Borgia (Orson Welles) que tem grande sede de poder e riqueza.

Pablo Aluísio.

domingo, 21 de março de 2021

Cidadão Kane

Esse clássico do cinema é até hoje considerado por muitos críticos de cinema como o melhor filme já realizado na história. Um título que poucos filmes conseguiram sustentar por décadas e décadas. O interessante é que o filme acabou sendo ao mesmo tempo a obra-prima de Orson Welles e também sua maior desgraça profissional. O roteiro, brilhantemente escrito por Herman J. Mankiewicz, era na verdade uma versão nada lisonjeira da vida do magnata das comunicações William Randolph Hearst, que ficou indignado quando soube da existência do filme. Ele então usou de todo o seu poder e dinheiro para destruir o filme de Orson Welles. Dono de centenas de jornais ao redor dos Estados Unidos, ele colocou seus jornalistas numa ampla campanha de destruição do filme. Também pressionou pessoalmente para que donos de cinemas não exibissem "Cidadão Kane". A campanha surtiu efeitos. O filme não conseguiu fazer sucesso de bilheteria, sequer conseguindo recuperar seus custos. A consagração só viria mesmo muitos anos depois quando o filme foi redescoberto por estudiosos da sétima arte. Inovador em vários aspectos, seu reconhecimento, ainda que tardio, veio para consagrar a genialidade de seus realizadores.

"Cidadão Kane" é uma experiência única dentro da historia do cinema, com ótimas e inovadoras tomadas de cena, ângulos inusitados e todos os tipos de experimentação imaginada. Não havia nada parecido assim na década de 1940. Consagrado para sempre como o ápice da vida de Orson Welles também se concretizou em sua ruína pessoal. Dito como maldito pelos grandes estúdios de Hollywood, ele viu sua carreira praticamente ser destruída. De qualquer forma, mesmo com todas as adversidades, boicotes e artimanhas que foram feitas contra o filme, o fato é que no final de tudo a arte venceu. A sétima arte venceu.

Cidadão Kane (Citizen Kane, Estados Unidos, 1941) Direção: Orson Welles / Roteiro: Herman J. Mankiewicz, Orson Welles / Elenco: Orson Welles, Joseph Cotten, Dorothy Comingore, Agnes Moorehead, Ruth Warrick  / Sinopse: Após a morte do magnata editorial Charles Foster Kane (Orson Welles), jornalistas audaciosos lutam para descobrir o significado de sua declaração final; 'Rosebud'. Filme vencedor do Oscar na categoria de melhor roteiro original. Filme indicado ao Oscar nas categorias de melhor filme, melhor ator (Orson Welles), melhor direção (Orson Welles), melhor direção de fotografia (Gregg Toland), melhor direção de arte, melhor som, edição e música (Bernard Herrmann).

Pablo Aluísio.

sábado, 22 de agosto de 2020

O Homem Que Não Vendeu Sua Alma

O rei inglês Henrique VIII (1491 - 1547) foi o símbolo máximo do absolutismo. Sua palavra era lei e não importava a natureza de seus atos pois havia o dogma de que o Rei nunca poderia estar errado em suas decisões. Partindo dessa premissa, ele ainda hoje é lembrado pelos diversos crimes que cometeu ao longo da vida, inclusive contra muitas de suas esposas, que ao menor sinal de atrito com o rei eram levadas para a forca, para a decapitação ou então isoladas na famigerada Torre de Londres, uma masmorra medieval. Um dos atos mais conhecidos de seu reinado foi o rompimento definitivo com a Igreja Católica e o Papa. Henrique VIII era casado com Catarina de Aragão, da casa de Espanha. Era uma mulher virtuosa, católica fervorosa, mas tinha dificuldades em gerar o filho varão que iria herdar o trono inglês. Desesperado com a falta do nascimento de um filho homem, que lhe sucedesse, o rei Henrique VIII resolveu então pedir a anulação de seu matrimônio ao Vaticano, mas encontrou forte oposição do Papa e seu clero que consideravam o casamento feito sob as leis da igreja uma união indissolúvel. Após tentar por longos anos pela anulação, Henrique resolveu então tomar uma decisão radical. Rompeu com o Papa e expulsou a Igreja da Inglaterra, tornando propriedade do reino todas as terras, mosteiros, igrejas e bens que pertenciam à Igreja Católica.

É justamente a história dessa ruptura o tema central de “O Homem Que Não Vendeu Sua Alma”. Assim nasceu a Igreja Anglicana, fundada por Henrique VIII, uma nova religião para os ingleses, fortemente atrelada ao Estado absolutista, tendo o próprio rei como autoridade religiosa suprema. Dentro de sua nova instituição anglicana, Henrique poderia casar e se separar quantas vezes quisesse, sem precisar pedir autorização papal, uma vez que ele era o líder espiritual máximo da nova Igreja que fundara. Como todo monarca absolutista daquele período histórico, não haveria mais barreiras para sua vonade pessoal. O casamento seria nulo, se ele assim desejasse. Ele iria se separar quantas vezes quisesse e também mandaria para a morte todas as esposas que ele assim sentenciasse. Obviamente que nem todos aceitaram livremente essa nova postura real. Em uma época em que qualquer oposição poderia ser entendida como alta traição, um influente membro da corte, Thomas Moore (Paul Scofield), resolveu se opor aos desmandos do monarca. Católico praticante, não aceitou a expulsão da Igreja papista de seu país. Esse termo passaria a ser uma ofensa dentro da corte. Sua postura lhe valeu a alcunha de ser o homem que não teria vendido sua alma nesse momento particularmente complicado da história britânica. Thomas Moore era um intelectual de seu tempo e estava ciente de que um monarca com poderes plenos e sem limites levaria a Inglaterra a um impasse histórico. E suas previsões iriam se tornar verdadeiras, como bem foi provado pela história.

Aqui temos um filme historicamente fiel, com ótimas interpretações e reconstituição histórica precisa que inclusive lhe valeram vários prêmios, dentre eles os principais da Academia. Produção requintada, de luxo, com excelente nível técnico e cultural, “O Homem Que Não Vendeu Sua Alma” é além de uma bela aula de história, um ótimo entretenimento, mostrando sem receios os perigos que rondam o chamado Estado absolutista, onde toda uma nação ficava refém dos meros caprichos de um poder real sem freios ou limites. Afinal, como todos bem sabemos, o poder corrompe e o poder absoluto corrompe de forma absoluta àquele que o exerce.

O Homem Que Não Vendeu Sua Alma (A Man for All Seasons, Inglaterra, 1966) Direção: Fred Zinnemann / Roteiro: Robert Bolt / Elenco: Paul Scofield, Wendy Hiller, Leo McKern, Robert Shaw, Orson Welles, Susannah York, John Hurt, Vanessa Redgrave / Sinopse: Henrique VIII (Robert Shaw) resolve romper com a Igreja Católica após o Papa se negar a anular seu casamento com Catarina de Aragão. Seu ato encontra forte resistência do influente nobre e intelectual Thomas Moore (Paul Scofield). Filme vencedor do Oscar nas categorias de melhor filme, melhor diretor, melhor ator (Paul Scofield), melhor roteiro adaptado, melhor fotografia e melhor figurino. Vencedor do Globo de Ouro nas categorias melhor filme - drama, melhor diretor, melhor ator - drama (Paul Scofield) e melhor roteiro.

Pablo Aluísio. 

sexta-feira, 13 de dezembro de 2019

Waterloo - A Batalha de Napoleão

Depois de praticamente conquistar toda a Europa com seu formidável exército o imperador Napoleão Bonaparte (Rod Steiger) se vê encurralado em sua própria capital, Paris. Com os ingleses e prussianos chegando ele acaba renunciando ao seu poder imperial. Preso, é enviado para a distante ilha de Elba. Após conspirar para fugir de sua prisão consegue finalmente chegar no continente com apenas mil homens. Em pouco tempo cai novamente nas graças do povo de seu país e consegue reassumir o trono. Agora Napoleão deseja vingança contra todos os seus inimigos, algo que se dará de forma definitiva na batalha de Waterloo onde enfrentará mais uma vez o hábil general britânico Duque de Wellington (Christopher Plummer) que se encontra pronto para destruir de uma vez por todas com as ambições militares do imperador francês.

Em minha opinião essa produção segue sendo, ainda nos dias de hoje, o melhor filme já realizado sobre os últimos dias do Imperador Napoleão Bonaparte (1769 - 1821). Produzido por Dino de Laurentiis é um daqueles filmes grandiosos, com milhares de extras, figurinos deslumbrantes e cenas do campo de batalha praticamente impecáveis. O roteiro é muito bem escrito e tenta mostrar em detalhes os dois lados desse conflito que decidiu os rumos da Europa de forma definitiva. O Imperador Napoleão é interpretado por Rod Steiger. Que grande ator! Ele tem aqui um dos grandes trabalhos de atuação de sua carreira. Seu Napoleão é um sujeito envelhecido, doente e completamente alucinado em se agarrar nos últimos fiapos de suas glórias passadas. Após retornar da ilha prisão de Elba ele consegue voltar ao poder, mas agora está cercado de inimigos por todos os lados, em especial os ingleses e os prussianos. Egomaníaco e convencido de sua própria lenda, o velho Napoleão decide ousar, indo diretamente para o ataque contra os exércitos inimigos, para surpresa de todos os seus generais. Nada de ficar na defensiva.

Embora tenha há muito tempo perdido no front a possibilidade de conquistar toda a Europa (ainda mais depois da desastrosa campanha na Rússia), o envelhecido general resolve dar a cartada final de sua vida ao encontrar no campo lamacento de Waterloo o poderoso exército comandado pelo comandante inglês Wellington (Christopher Plummer). O que se segue é uma das batalhas mais sangrentas da história, algo que só se repetiria em solo europeu com a eclosão da II Guerra Mundial mais de um século depois. O filme se apoia basicamente em dois atos. No primeiro conta o contexto histórico que antecedeu a grande batalha (a prisão e fuga de Elba e o retorno triunfante de Napoleão pelas mãos do povo ao poder).

No segundo ato (que dura mais do que 60 minutos de filme) a própria batalha é desvendada em detalhes, mostrando as estratégias usadas pelas duas forças inimigas. Para quem gosta de história militar é certamente um prato cheio, tudo muito bem realizado, com centenas de milhares de figurantes em cena (todos pertencentes ao exército russo que colaborou na época com as filmagens). Um dos momentos mais significativos do filme acontece justamente após a carnificina. Montado em seu cavalo, Wellington fita o campo cheio de soldados mortos, alguns bem jovens, ainda na flor da idade. O cenário é de completa desolação. Então ele diz uma de suas frases mais famosas, que entrou inclusive para a história: "Não existe nada mais desolador em um campo de batalha do que a vitória, exceto, é claro, a própria derrota".

Waterloo - A Batalha de Napoleão (Waterloo, Inglaterra, Rússia, Itália, 1970) Estúdio: Dino de Laurentiis Cinematografica / Direção: Sergey Bondarchuk / Roteiro: Sergey Bondarchuk, H.A.L. Craig / Elenco: Rod Steiger, Christopher Plummer, Orson Welles / Sinopse: O filme recria a famosa batalha de Waterloo onde finalmente o Imperador Napoleão Bonaparte foi vencido pelos exércitos da Inglaterra. Filme vencedor do BAFTA Awards nas categorias de Melhor Figurino e Melhor Direção de Arte. Também indicado na categoria de Melhor Fotografia.

Pablo Aluísio.

segunda-feira, 20 de maio de 2019

Moby Dick

O livro original foi escrito por Herman Melville em 1851. Curiosamente não foi um grande sucesso de vendas em seu lançamento, mas ao longo dos anos foi sendo redescoberto pelos estudiosos de literatura. Hoje é considerada uma obra prima. O filme nasceu da insistência pessoal de John Huston que viu no texto várias características com as quais ele próprio se identificava. A adaptação para as telas realmente ficou excelente, fruto de seu trabalho como grande cineasta que sempre foi. Muita gente pensa que se trata apenas de um filme de aventura que mostra um capitão alucinado na caça de uma baleia cachalote albina. Não é bem isso. Bom, isso é a superfície, na realidade Moby Dick é uma grande metáfora sobre a obsessão que corrói a mente dos homens. Basta trocarmos a baleia por qualquer outra coisa que cause a obsessão ao ser humano para entendermos muito bem o que o autor do livro quis passar. No fundo é a história de um homem disposto a sacrificar tudo (até sua vida) para ir atrás de um objetivo, nem que isso leve ele e seus tripulantes à ruína completa.

Existem outras versões de Moby Dick, mas nenhuma delas sequer conseguem chegar ao nível dessa de 1956 que foi dirigida por John Huston. Não é surpresa nenhuma que ele tenha feito esse filme. O tema era muito próximo a Huston que se empenhou em uma história parecida quando estava filmando na África (assistam “Coração de Caçador” de Clint Eastwood para entender). Outro ponto que conta muito a favor nessa versão é a dupla de atores: Gregory Peck (como o obcecado capitão e sua voz de trovão) e Orson Welles (em uma ótima cena passada num culto religioso). Os diálogos são ricos e declamados com eloquência, então é garantido o show de interpretação desses atores. Até os efeitos ainda são charmosos, mesmo com mais de 50 anos de sua realização. Enfim, Moby Dick é excelente, uma viagem em busca do monstro interior de cada um de nós.

Moby Dick (EUA, 1956) Direção: John Huston / Roteiro: John Huston, Ray Bradbury baseado na obra de Herman Mellvile / Elenco: Gregory Peck, Orson Welles, Richard Basehart, Leo Genn / Sinopse: O Capitão Ahab (Gregory Peck) é um velho homem do mar que se torna obcecado em encontrar e matar uma baleia branca cachalote conhecida como Moby Dick. Para isso não medirá esforços exigindo severamente o máximo dos homens de sua tripulação. A obsessão da caça se torna sua ruína pessoal.

Pablo Aluísio.

domingo, 22 de julho de 2018

Jane Eyre

Título no Brasil: Jane Eyre
Título Original: Jane Eyre
Ano de Produção: 1943
País: Estados Unidos
Estúdio: Twentieth Century Fox
Direção: Robert Stevenson
Roteiro: Aldous Huxley
Elenco: Orson Welles, Joan Fontaine, Margaret O'Brien, Elizabeth Taylor

Sinopse:
Depois de uma infância dura, a órfã Jane Eyre é contratada por Edward Rochester, o dono e senhor de uma mansão misteriosa, para cuidar de sua filha. Não demora muito e ela logo se sente atraída pelo inteligente, vibrante e energético Mr. Rochester, um homem com o dobro de sua idade.

Comentários:
Mais uma bela versão para o clássico livro "Jane Eyre" de autoria da escritora inglesa Charlotte Brontë (1816 - 1855) que publicou seu romance pela primeira vez em 1847. Nesse filme temos algumas coisas relevantes para os amantes da sétima arte. A primeira delas é o fato de termos um elenco realmente excepcional, em especial o grande diretor Orson Welles no papel de Edward Rochester. Sua voz de trovão e maravilhosa presença cênica já vale o filme inteiro. Some-se a isso a bela atuação de Joan Fontaine como Jane Eyre e você terá seguramente um dos melhores elencos já reunidos para essa adaptação. Como brinde o cinéfilo ainda será presenteado pela atuação da pequena Elizabeth Taylor como Helen Burns. A atriz tinha apenas 11 anos quando realizou o filme, mas já mostrava todo seu talento em cena, não se intimidando com os monstros da sétima arte que contracenavam com ela. Algumas pessoas realmente já nascem como estrelas, independente da idade, que o diga a pequena Liz nesse "Jane Eyre".

Pablo Aluísio.

terça-feira, 16 de janeiro de 2018

O Soldo do Diabo

Título no Brasil: O Soldo do Diabo
Título Original: Man in the Shadow
Ano de Produção: 1957
País: Estados Unidos
Estúdio: Universal Pictures
Direção: Jack Arnold
Roteiro: Gene L. Coon
Elenco: Jeff Chandler, Orson Welles, Colleen Miller, Ben Alexander
  
Sinopse:
Ben Sadler (Jeff Chandler) é o xerife de uma pequena cidade do oeste americano. Por lá não costumam ocorrer muitos crimes, na maioria das vezes são apenas bebedeiras e pequenos incidentes que acontecem no saloon da rua principal. Não há nada mesmo de muito  grave para se fazer na vida de um homem da lei. As coisas mudam quando um trabalhador mexicano vai até a delegacia de Ben e lhe denuncia um assassinato ocorrido justamente no maior rancho da região, o Império Dourado. Um jovem capataz teria sido brutalmente espancado e morto após ficar muito próximo da filha do patrão, o poderoso rancheiro Virgil Renchler (Orson Welles). Agora Ben precisará investigar o suposto crime ao mesmo tempo em que sofrerá todo tipo de pressão para não seguir em frente com seu trabalho.

Comentários:
"Man in the Shadow" se passa no moderno oeste americano. Em certos momentos me lembrou muito do clássico "Matar ou Morrer", memorável filme de western dirigido por Fred Zinnemann e estrelado por Gary Cooper. As semelhanças existem porque ambos os enredos mostram um honesto xerife precisando lidar praticamente sozinho com a aplicação da lei e da ordem numa cidadezinha perdida no oeste. Para o protagonista interpretado por Jeff Chandler a situação é ainda mais delicada porque o alvo de suas investigações é justamente o homem mais rico e poderoso da região, Virgil Renchler (Orson Welles). Arrogante e se considerando acima da lei, ele não aceita que suas imensas terras se tornem o palco das investigações do xerife. Para piorar o homem da lei não consegue encontrar maiores pistas a não ser o testemunho de uma velho empregado do rancho que teria visto tudo. Depois que ele também é encontrado morto não existem mais dúvidas que um grande plano de acobertamento está mesmo sendo feito, tudo para que os verdadeiros assassinos não sejam punidos. 

Gostei bastante de "O Soldo do Diabo " pois é um filme de curta duração (com pouco mais de 70 minutos) que consegue contar muito bem sua história. O elenco tem dois grandes destaques. O primeiro é o galã de cabelos grisalhos Jeff Chandler. O xerife que interpreta é um homem honesto e íntegro que precisa lidar até mesmo com a hipocrisia da sociedade na cidade onde trabalha. Mesmo todos sabendo que algo muito errado aconteceu no rancho eles não querem que nada seja investigado, uma vez que a maioria deles dependem economicamente de seu proprietário. O outro grande destaque vem com a presença do grande Orson Welles. Consagrado como cineasta de grande talento sempre achei seu trabalho como ator muito subestimado. Seu personagem nesse filme é um achado. Ele é um sujeito que acredita que sua riqueza e poder o deixam completamente imune a qualquer tipo de lei. Violento com as pessoas se mostra particularmente vulnerável quando se trata de sua única filha. Esse excesso de proteção em relação a ela acaba sendo seu grande erro pois seus capangas acabam cometendo um erro fatal. Em suma, bom faroeste que vai fundo sobre a culpa coletiva que muitas vezes surge dentro de uma sociedade assolada pelo crime e pela morte.

Pablo Aluísio.

domingo, 17 de dezembro de 2017

A Marca da Maldade

Título no Brasil: A Marca da Maldade
Título Original: Touch of Evil
Ano de Produção: 1958
País: Estados Unidos
Estúdio: Universal International Pictures
Direção: Orson Welles
Roteiro: Orson Welles, Whit Masterson
Elenco: Charlton Heston, Orson Welles, Janet Leigh
  
Sinopse:
Mike Vargas (Charlton Heston) é um oficial do departamento de narcóticos que acaba tendo que interromper sua lua de mel na fronteira entre Estados Unidos e México, após um empreiteiro americano ser morto por uma bomba colocada em seu carro. Ao que tudo indica, embora a explosão tenha ocorrido dentro do território americano, ela foi plantada no México. As investigações do policial logo revelarão um sórdido caso envolvendo corrupção, tráfico de drogas e de influência nos altos escalões do poder. Filme vencedor do prêmio de Melhor Filme da Los Angeles Film Critics Association Awards. Também premiado pela National Society of Film Critics Awards e New York Film Critics Circle Awards.

Comentários:
"Touch of Evil" foi o último grande filme de Orson Welles para muitos especialistas em sua obra cinematográfica. Embora fosse um gênio da sétima arte, Welles era também um artista complicado de se lidar. Os estúdios não queriam mais bancar seus filmes e a simples menção de seu nome fazia com que muitos produtores fossem embora. O fato é que embora aclamado pela imprensa e pela crítica de sua época, os seus filmes geralmente se tornavam produções caras, problemáticas e mal sucedidas comercialmente. Welles também tinha fama de abandonar projetos no meio do caminho. Ele queimou sua reputação entre os grandes estúdios após entrar em vários filmes, para depois de algumas semanas os abandonarem, sem mais nem menos. Isso acabou destruindo sua carreira como cineasta em Hollywood, onde o profissionalismo exigido sempre veio em primeiro lugar. Assim Orson Welles precisou de muito jogo de cintura para realizar esse filme. Usando da boa vontade do ator Charlton Heston, que praticamente financiou o filme com seu próprio dinheiro, ele conseguiu acabar a película. É de fato uma obra prima, um de seus melhores trabalhos, só superado talvez pelo seu grande clássico "Cidadão Kane". Nele o diretor procurava mostrar toda a extensão do seu talento, uma tentativa de levantar sua reputação como realizador. Infelizmente, embora hoje seja realmente reconhecida como uma produção que marcou época, em seu lançamento não se tornou lucrativo a ponto de tornar Welles um nome novamente viável. Assim ele acabou de certa maneira se despedindo do cinema com essa jóia da sétima arte. Uma pena, pois ele de fato foi realmente um gênio incompreendido.

Pablo Aluísio.

terça-feira, 18 de setembro de 2007

Orson Welles e Rita Hayworth

Orson Welles e Rita Hayworth
Um casamento improvável que uniu a bela morena e o gênio do cinema. Até hoje não se sabe ao certo o que os uniu, mas de qualquer forma Welles se apaixonou por Rita após, segundo ele, tê-la visto em uma revista enquanto estava filmando um dos seus inúmeros filmes inacabados no México.

Rita havia sido moldada pelos produtores para ser a nova diva exótica do cinema americano, com longos cabelos negros e muita sensualidade. Pois foi justamente essa imagem que Welles quis destruir. Assim que se casou com Rita ele a ordenou que pintasse os cabelos de loiros, o que ficou péssimo, segundo as colunistas da época. A opinião delas porém pouco importava para Orson, para ele não havia limites. No fundo ele queria mesmo destruir esse símbolo sexual fabricado por Hollywood.

E como era de se esperar o casamento não foi feliz. Apesar dos poucos filmes que fizeram juntos a cumplicidade do casal logo se acabou. A carreira do diretor entrou em declínio rapidamente porque ele não conseguia ter a disciplina necessária para terminar os filmes. Embora tenha dirigido aquele que foi para muitos o "melhor filme de todos os tempos", o clássico "Cidadão Kane", ele era considerado um profissional ruim de se trabalhar. Seus filmes custavam muito caro, ele nunca respeitava o prazo certo para terminar as filmagens e quase sempre decepcionava nas bilheterias. Também costumava brigar muito com os produtores. Uma combinação mortal para qualquer diretor de cinema. Em pouco tempo seu nome estava fora da lista de todos os grandes estúdios de cinema.

Assim o casamento acabou afundando, junto com os fracassos cinematográficos de Orson Welles. A diva do passado Rita Hayworth também viu sua carreira afundar após ficar mais velha e menos sensual para as lentes das câmeras. Como ela era vista como uma modelo travestida de atriz, quando a beleza se foi por causa da idade os convites para novos filmes também se acabaram. No fim o matrimônio só durou quatro anos. Acabou sendo uma experiência ruim tanto para a bela, como para o gênio. "Ninguém ganhou nada com isso!" - resumiria anos depois o diretor.

Pablo Aluísio.

domingo, 18 de fevereiro de 2007

O Feiticeiro

Título no Brasil: O Feiticeiro
Título Original: Necromancy
Ano de Produção: 1972
País: Estados Unidos
Estúdio: Zenith International
Direção: Bert I. Gordon
Roteiro: Bert I. Gordon, Gail March
Elenco: Orson Welles, Pamela Franklin, Lee Purcell, Michael Ontkean, Harvey Jason, Lisa James

Sinopse:
Homem envolvido com uma estranha seita de cultos satânicos resolve convencer a própria mulher a mudar para uma comunidade no interior, dominada por mãos de ferro pelo líder da estranha religião. Lá ela acabará descobrindo que Mr. Cato (Orson Welles) não se considera apenas dono da cidade, mas das pessoas que por lá moram também.

Comentários:
Nos anos 70, com os convites rareando, o grande gênio e monstro do cinema Orson Welles precisou encarar o que havia disponível no mercado. Assim ele acabou estrelando essa fitinha B, sem nenhum atrativo, sobre um bruxo ou mago da magia negra em uma cidadezinha perdida no meio oeste americano. Obviamente que para os amantes da sétima arte haverá um toque de melancolia em ver o mestre Welles envolvido em tamanho abacaxi, por outro lado para os apreciadores de filmes trash certamente será muito divertido ver o criador do grande clássico "Cidadão Kane" dando uma de bruxão malvado, deitando e rolando em suas vilanices. No geral a fita é bem medíocre e estaria completamente descartada nos dias de hoje se não fosse a presença de Orson Welles, aqui lutando para pagar seu aluguel. Pois é, a vida nunca foi fácil para ninguém.

Pablo Aluísio.

sexta-feira, 2 de fevereiro de 2007

O Feiticeiro

Título no Brasil: O Feiticeiro
Título Original: Necromancy
Ano de Produção: 1972
País: Estados Unidos
Estúdio: Zenith International
Direção: Bert I. Gordon
Roteiro: Bert I. Gordon, Gail March
Elenco: Orson Welles, Pamela Franklin, Lee Purcell

Sinopse:
Homem envolvido com uma estranha seita de cultos satânicos resolve convencer a própria mulher a mudar para uma comunidade no interior, dominada por mãos de ferro pelo líder da estranha religião. Lá ela acabará descobrindo que Mr. Cato (Orson Welles) não se considera apenas dono da cidade, mas das pessoas que por lá moram também.

Comentários:
Nos anos 70, com os convites rareando, o grande gênio e monstro do cinema Orson Welles precisou encarar o que havia disponível no mercado. Assim ele acabou estrelando essa fitinha B, sem nenhum atrativo, sobre um bruxo ou mago da magia negra em uma cidadezinha perdida no meio oeste americano. Obviamente que para os amantes da sétima arte haverá um toque de melancolia em ver o mestre Welles envolvido em tamanho abacaxi, por outro lado para os apreciadores de filmes trash certamente será muito divertido ver o criador do grande clássico "Cidadão Kane" dando uma de bruxão malvado, deitando e rolando em suas vilanices. No geral a fita é bem medíocre e estaria completamente descartada nos dias de hoje se não fosse a presença de Orson Welles, aqui lutando para pagar seu aluguel. Pois é, a vida nunca foi fácil para ninguém.

Pablo Aluísio.