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quarta-feira, 29 de novembro de 2023

Pink Floyd - A Saucerful of Secrets

Pink Floyd - A Saucerful of Secrets
O fundador e criador do grupo Syd Barrett usou tantas drogas que embarcou numa viagem sem retorno. Com sua saída os demais membros do Pink Floyd ficaram meio perdidos, sem saber para onde iriam. Esse foi o segundo álbum do Floyd e o primeiro sem Barrett, imerso em sua própria loucura. Uma das boas decisões que o novo líder do Floyd Roger Waters tomou foi trazer o guitarrista David Gilmour para as gravações do disco. Além de músico extremamente talentoso, um dos maiores guitarristas da história do rock, ele também ajudou muito na composição e arranjo de novas músicas para o disco. Era sem dúvida o músico certo naquele momento mais do que complicado do Pink Floyd. Afinal eles corriam o risco até mesmo de serem demitidos pela direção da gravadora EMI. 

O mais curioso é que o grupo pensou seriamente em se tornar uma banda especializada em temas incidentais para trilhas sonoras de filmes. Pois é, com a saída de Barrett eles ficaram inseguros sobre o futuro, achavam que o Pink Floyd estava com os dias contados. Uma saída para sobrevivência seria tocar e compor músicas para filmes. O destino porém iria levar eles para outra direção, bem mais promissora e de sucesso. Em relação ao resultado final desse disco o considero bom. Não é uma obra-prima do grupo e tem seus deslizes, mas serviu para manter o Pink Floyd vivo, planejando um futuro. Eles ainda não tinham encontrado o caminho certo, mas já estavam indo em uma boa direção. 

Pink Floyd - A Saucerful of Secrets (1968)
Let There Be More Light
Remember a Day
Set the Controls for the Heart of the Sun
Corporal Clegg
A Saucerful of Secrets
See-Saw
Jugband Blues

Pablo Aluísio. 

sexta-feira, 6 de outubro de 2023

Pink Floyd - More

Pink Floyd - More
Durante um tempo o Pink Floyd ficou meio perdido. Não tinham ainda um disco de sucesso e nem eram muito conhecidos na Inglaterra. Para sobreviver como banda eles decidiram ingressar no mercado de trilhas sonoras. Para isso era preciso ter originalidade, inspiração e talento para músicas instrumentais. E nisso eles eram muito bons. Outro aspecto a se considerar é que naquele momento, logo após a saída de Syd Barrett, eles ainda não tinham decidido quem seria o vocalista principal do grupo. Tampouco sabiam quem iria escrever as letras das músicas. Então era mesmo um momento de indefinição e também de uma certa insegurança sobre os caminhos que o Pink Floyd iria tomar dali em diante. 

A partir desse álbum o Pink Floyd iria chegar de forma definitiva em sua formação clássica básica com David Gilmour, Roger Waters, Nick Mason e Richard Wright. Eles apenas não queriam que o Pink Floyd chegasse a um fim prematuro. Era além de tudo uma questão de pura sobrevivência no mercado. Mal sabiam eles que estavam prestes a criar um novo movimento dentro do grande universo do rock. Eles seriam os pioneiros do que depois seria chamado de Rock Progressivo, dando origem a um estilo musical que seria seguido por dezenas e dezenas de grandes conjuntos da época. Isso realmente aconteceu involuntariamente enquanto eles iniciavam uma nova revolução cultural no mundo da música inglesa. 

Pink Floyd - More (1969)
Cirrus Minor
The Nile Song
Crying Song
Up The Khyber
Green Is The Colour
Cymbaline
Party Sequence
Main Theme
Ibiza Bar
More Blues
Quicksilver
A Spanish Piece
Dramatic Theme

Pablo Aluísio. 

quinta-feira, 24 de dezembro de 2015

Pink Floyd - Meddle

Esse disco faz parte daquela seleta lista dos maiores álbuns da discografia do Pink Floyd. É um dos dinossauros sagrados do grupo. E o seu status cult começa logo na capa, com longas e intermináveis discussões em fóruns de internet. O que seria isso na capa? A orelha de uma vaca? O traseiro de um porco de raça? Quem sabe... o mistério faz parte do jogo, não é mesmo? Se fosse óbvio não teria graça. Tirando todo esses detalhes periféricos de lado, vamos para as músicas que é no final das contas o que realmente importa.

São apenas seis faixas. Eu particularmente não diria que esse é um dos meus discos preferidos do Pink Floyd, porém negar sua importância histórica seria um erro absurdo. A minha música preferida aqui é justamente a que abre o disco, "One of These Days" do David Gilmour. Ele sempre foi o meu guitarrista preferido e aqui prova que grandes clássicos muitas vezes nascem de pequenos detalhes, com poucas notas musicais. Essa música inclusive seria uma das poucas do repertório que o David Gilmour iria usar no palco, nos memoráveis concertos do Pink Floyd ao vivo nos anos 80. Já para quem aprecia o lado mais experimental do grupo, o lado B inteiro tem apenas uma faixa, "Echoes". Um grande retalho musical para o ouvinte viajar pelo universo do Pink Floyd.

Pink Floyd - Meddle (1971)
One of These Days
A Pillow of Winds
Fearless
San Tropez
Seamus
Echoes

Pablo Aluísio.

Pink Floyd - Wall in Progress

Com o surgimento da internet o mercado de bootlegs explodiu! O número de títulos segue a cada ano cada vez maior. E os títulos são muitos. Para quem gosta de rock clássico e rock progressivo não poderia haver melhor notícia. Muito material assim segue sendo lançado. Aqui temos um bootleg criado a partir de demos e takes alternativos do clássico álbum "The Wall" do Pink Floyd. Como bem sabemos "The Wall" foi um disco concebido, criado e idealizado por Roger Waters. Antes de entrar no estúdio ele gravou diversas faixas demo para apresentar as canções ao resto do grupo (não havia dito que tudo veio de sua mente criativa?).

Pois então parte desse material foi resgatado nesse CD. É um material cru, sem muito trabalho de finalização, de arte final. Tudo soa quase como foi composto. Water é provavelmente o músico mais egocêntrico do universo, mas aqui vemos parte de sua incrível genialidade. Não digo que esse tipo de material vá interessar para quem não é fã do Pink Floyd, mas certamente será de extremo interesse para os fãs de carteirinha. O álbum "The Wall" segue sendo bem debatido até nos dias de hoje, já para quem deseja apenas ouvir uma semente do disco, poucos títulos podem ser tão interessantes como esse. Recomendado? Certamente sim.

Pink Floyd - Wall in Progress (1978-1979)
01. In The Flesh?  02. The Thin Ice 03. Another Brick In The Wall Part 1  04. The Happiest Days Of Our Lives 05. Another Brick In The Wall Part 2 06. Mother 07. Goodbye Blue Sky 08. Empty Spaces Part 1 09. Young Lust 10. One Of My Turns 11. Don't Leave Me Now 12. Empty Spaces Part 2 13. What Shall We Do Now? 14. Another Brick In The Wall Part 3 15. Goodbye Cruel World 16. Nobody Home 17. Vera 18. Bring The Boys Back Home 19. Is There Anybody Out There? Part 1 20. Is There Anybody Out There? Part 2 21. Comfortably Numb 22. Hey You 23. The Show Must Go On  24. In The Flesh 25. Run Like Hell 26. Wating For The Worms 27. Stop 28. The Trial  29. Outside The Wall.

Pablo Aluísio.

quarta-feira, 23 de dezembro de 2015

Pink Floyd - The Endless River

Já que o Rock está mesmo morto e enterrado de uma vez por todas, nada melhor do que esse "lançamento" do Pink Floyd, que promete ser o último CD de uma das maiores bandas de rock progressivo da história. O título "The Endless River" é mais do que adequado já que se refere a um infinito fluir sonoro, algo bem de acordo com o grupo, já que o Pink Floyd, assim como os Beatles, não tem idade e nem ponto fixo na história, pois a cada geração conquista novos fãs, muitos deles nem nascidos quando o grupo inglês desfrutava de seu auge nos anos 1970. Claro que apesar de ser atemporal, o Pink Floyd hoje leva consigo as marcas do tempo. Com um membro falecido, outro aposentado e dois ex-líderes que se odeiam, o Floyd está mais para uma marca comercial do que para um efetivo grupo de amigos tocando juntos novamente.

Por falar nisso a alcunha de "novo álbum do Pink Floyd" não é muito correta, já que a maioria do material presente aqui data dos anos 1990. Não chegaria a chamar o disco de "restos do The Division Bell" como muitos andam escrevendo por aí, mas também não vou qualificar nada de "The Endless River" como novo ou novidade. Em minha forma de entender o Pink Floyd acabou definitivamente em 2008 com a morte do tecladista Rick Wright. Depois disso não há retorno, algo parecido que ocorre com os Beatles, depois da morte de Lennon e Harrison, simplesmente não há mais retorno possível. A história impôs sua força, acabando com velhos sonhos. O tempo é o senhor de tudo é ninguém pode lutar contra esse fato.

David Gilmour sabe muito bem disso e não tem sido desonesto com o público. O disco que é basicamente instrumental (como nos bons velhos tempos do grupo) foi definido por ele como uma "mera conversa musical" entre seus antigos membros em um tempo passado, perdido na memória. A faixa de abertura, "Things Left Unsaid", dá o tom desse ponto de vista. Os teclados de Wright passeiam pelo ar, enquanto a guitarra melodiosa de Gilmour preenche os espaços vazios. Pura "conversação" realmente, só que ao invés de palavras são usadas notas musicais (maravilhosas, diga-se de passagem). Nick Mason também contribui com seu talento. Hoje ele está completamente aposentado, mais preocupado com sua coleção de carros de luxo do que com música. Os registros porém mostram como ele foi um dos melhores bateras da história do rock. "O rio sem fim" do Pink Floyd é isso, um afago nos ouvidos dos ouvintes de fino trato. Em tempos de lixo pipocando nas rádios o tempo todo, o Pink Floyd prova mais uma vez que talento não se encontra em todo lugar, nem em qualquer época.


Pink Floyd - The Endless River (2014)
Things Left Unsaid     
It's What We Do
Ebb and Flow
Sum
Skins    
Unsung     
Anisina    
The Lost Art of Conversation
On Noodle Street
Night Light
Allons-y (1)     
Autumn '68   
Allons-y   
Talkin Hawkin    
Calling
Eyes to Pearls
Surfacing
Louder Than Words
TBS9
TBS14
Nervana

Pablo Aluísio.

terça-feira, 22 de dezembro de 2015

Pink Floyd - The Division Bell

Quem acompanha o mundo da música por longos anos acaba descobrindo que certas coisas simplesmente não fazem muito sentido. Recentemente chegou no mercado com grande sucesso de crítica e público o CD "The Endless River" do Pink Floyd. Até aí tudo bem. O problema é que esse álbum é basicamente um resgate do material que foi gravado e deixado de lado na elaboração do disco "The Division Bell" de 1994. Então se as "sobras" andam tão elogiadas era de se esperar que a melhor parte dessas sessões, que foram incorporadas ao disco original há vinte anos, também fossem tratadas como obras primas do Floyd. Nada mais longe da realidade. Quando "The Division Bell" chegou nas lojas há duas décadas levou pauladas de todos os lados, principalmente da imprensa especializada da Inglaterra. Para muitos o álbum não passava de um trabalho solo de David Gilmour usando o nome mágico da banda por motivos puramente comerciais. As viúvas de Roger Waters nunca vociferaram tão forte como no lançamento de "The Division Bell". Hoje, ironicamente, declamam rios de elogios para o "novo" Pink Floyd que está fazendo bonito nas paradas de sucesso inglesas.

Particularmente confesso, sigo a linha daqueles que nunca tiveram esse CD como referência em termos de sonoridade Floydiana. Algo não me parece bem nessas faixas. Sempre considerei "A Momentary Lapse Of Reason" um trabalho mais enxuto, com mais qualidade e melhor bem conceituado. Foi o melhor disco da banda em sua fase Gilmour. "The Division Bell" sofre por ser excessivo! Talvez por receios ou insegurança o produtor Bob Ezrin acabou criando um monstro musical, exagerado, barroco e cansativo. São onze faixas (muito em termos de Floyd), dezenas de músicos de estúdio contratados, centenas de horas de gravação e muito excesso nos arranjos finais. O que era simples e altamente eficiente em "A Momentary Lapse Of Reason" aqui se tornou pesado, exaustivo, paquidérmico! As letras também não evocam em nada os grandes momentos do Pink Floyd em seu passado glorioso. E para piorar tudo, quando se pensa que se ouvirá maravilhosos solos de guitarra do mestre David Gilmour, nada surge nos ouvidos que nos faça lembrar o grande instrumentista que ele sempre foi. "The Division Bell" foi um disco que ouvi em meus tempos de universidade, mas que pouco cativou, não deixando marcas na alma. Assim com o tempo foi sendo deixado de lado. É de surpreender agora que todos estejam fazendo louvações aos seus resquícios sonoros deixados pelo chão da sala de edição de Bob Ezrin! Vai entender a cabeça dessa gente...

Pink Floyd - The Division Bell (1994)
Cluster One
What Do You Want from Me
Poles Apart
Marooned
A Great Day for Freedom
Wearing the Inside Out
Take It Back
Coming Back to Life
Keep Talking
Lost for Words
High Hopes

Pablo Aluísio.


Pink Floyd - PULSE

O Pink Floyd morreu e ressuscitou várias vezes. Morreu quando Syd Barrett resolveu abandonar o grupo, enlouquecido com LSD. Renasceu pela primeira vez logo depois quando Roger Waters e David Gilmour decidiram levar o Floyd em frente o transformando em um conjunto de rock progressivo (o maior de todos os tempos é bom dizer). Voltou a morrer quando Waters declarou o fim depois do fracasso do álbum "The Final Cut". Amargurado deixou a banda batendo a porta atrás de si. Pois bem, o segundo renascimento deu-se logo após a saída de Waters. Gilmour e os demais decidiram continuar mais uma vez. PULSE é justamente um dos últimos suspiros dessa última fase da banda. O disco foi gravado ao vivo durante a turnê de promoção do álbum "The Division Bell" na Europa e nos Estados Unidos nos meses de março a outubro de 1994. Escrevo as palavras "últimos suspiros" porque realmente foi um dos últimos projetos concluídos da história do Pink Floyd. Foi o canto do cisne. Acontece que "The Division Bell" foi bem criticado em seu lançamento. Acusaram até mesmo de não ser um disco legítimo do Pink Floyd mas sim um trabalho solo de Gilmour que utilizou o nome da banda apenas por motivos comerciais. Sem dúvida uma visão exagerada, diria até preconceituosa contra Gilmour e o resto do grupo.

Acuado, o líder do Floyd resolveu responder às acusações colocando mais um álbum na praça, que foi justamente esse, todo gravado ao vivo. Justamente para calar a boca de quem dizia não ser o Pink Floyd verdadeiro. Para isso Gilmour resolveu colocar em prática um velho sonho que tinha: gravar ao vivo todas as canções do disco "The Dark Side of the Moon"! Sinceramente, quem é fã do Pink Floyd de longa data (como eu) pode dizer que ouvir pela primeira um show com esse histórico álbum tocado da primeira à última faixa ao vivo foi realmente de arrepiar. E se engana quem pensa que foi algo fácil de reproduzir. Como todos sabemos "Dark Side" foi fruto de um longo processo de gravação, que durou meses, usando as melhores técnicas sonoras da época. Trazer aquele som único gravado em Abbey Road (o histórico estúdio inglês da EMI Odeon) para o palco foi realmente um feito digno dos maiores aplausos. É incrível inclusive notar a extrema perfeição dos músicos da banda em cada detalhe. Eu sempre digo, em termos de virtuose instrumental poucos grupos de rock da história podem rivalizar com o Pink Floyd porque eles sempre foram grandes músicos, talentosos e perfeitos ao vivo (para tirar suas dúvidas ouça qualquer registro do Floyd ao vivo para conferir). Quando PULSE foi lançado muitos esnobes torceram o nariz desmerecendo o disco, o qualificando apenas como "mais um disco ao vivo de uma banda decadente". Bom, quem pensou assim certamente reveu seus conceitos uma vez que PULSE realmente mexeu com o mundo da música. Infelizmente  depois de PULSE o Pink Floyd nada mais fez de relevante. Ficaram anos hibernando até que alguns anos atrás David Gilmour finalmente decretou o fim do maior grupo de rock progressivo da história. É uma grande pena. De qualquer forma é como diz o ditado, nada dura para sempre.

Pink Floyd - PULSE (1995)
Shine On You Crazy Diamond
Astronomy Domine
What Do You Want From Me
Learning to Fly
Keep Talking
Coming Back to Life
Hey You
A Great Day for Freedom
Sorrow
High Hopes
Another Brick in the Wall (Part Two)
Speak to Me
Breathe
On the Run
Time
The Great Gig in the Sky
Money
Us and Them
Any Colour You Like
Brain Damage
Eclipse
Wish You Were Here
Comfortably Numb
Run Like Hell

Pablo Aluísio.

segunda-feira, 21 de dezembro de 2015

Pink Floyd – The Final Cut

Algumas bandas de rock não conseguiram sobreviver a certos discos. O Pink Floyd, por exemplo, saiu destruído de “The Final Cut”, a mais louca egotrip da vida de Roger Waters. Essa história na realidade começa com o álbum anterior da banda, o famoso “The Wall”. Nesse projeto Roger Waters já tinha dominado completamente o poder dentro do grupo. Ele fazia as composições, os arranjos e se enfurecia com qualquer sugestão que não fosse de seu agrado. Por essa época ele passou a hostilizar abertamente o tecladista Richard Wright, que enfrentava problemas pessoais e de saúde. Sua dependência química o impedia de ser um membro mais produtivo e assim Waters se viu no direito de literalmente o expulsar do grupo, embora ele fosse um dos fundadores do Pink Floyd. Mesmo com tantos problemas “The Wall” se tornou um enorme sucesso popular, louvado e reverenciado pela crítica especializada trazendo assim um  enorme poder a Waters dentro do grupo, que a partir daí não poderia mais ser contestado. Os executivos da gravadora só tinham ouvidos a ele e assim o músico começou a se sentir o verdadeiro “dono” do Pink Floyd. Quando começaram as sessões de “The Final Cut” os demais membros restantes do Floyd encontraram um Roger Waters ainda mais alucinado, egocêntrico, centralizador, agindo como um verdadeiro ditador, nem um pouco disposto a ouvir os demais integrantes. Assim como havia feito em “The Wall” ele começou a destratar na frente de todos o guitarrista David Gilmour e o baterista Nick Mason. Sua opinião sobre a forma como as músicas deveriam ser gravadas tinham ganhado status de lei dentro do estúdio. As brigas eram enormes e violentas e Waters não queria ouvir mais ninguém. Ele trouxe todo o repertório do disco já previamente composto, avisou aos demais membros que iria cantar todas as músicas e teria a direção musical completa do novo álbum. Aos demais só restava seguir suas instruções ao pé da letra. Obviamente que Mason e Gilmour se uniram contra tamanha dominação. Não adiantou muito.

“The Final Cut” foi gravado praticamente como um disco solo de Roger Waters. Aproveitando algumas canções do “The Wall” que tinham sido arquivadas com material novo que ele compôs, Waters criou uma homenagem ao seu pai que havia morrido durante a II Guerra Mundial. A própria capa era significativa nesse ponto, reproduzindo as medalhas que seu pai havia recebido por bravura no campo de batalha. Tratando os demais membros do Floyd como seus meros empregadinhos, Waters teve mais uma vez a certeza que estava gravando outra obra prima suprema do rock progressivo inglês. Estava enganado. O disco se mostrou desastroso, considerado um dos piores do grupo em muitos anos. O vocal de Waters surgia mais insuportável do que nunca e como ele havia colocado Gilmour para escanteio o resultado final em termos de instrumentação e arranjos soavam ridículos. Desesperado pela péssima reação de público e crítica, Waters surpreendeu a todos com o anúncio do fim do Pink Floyd! A declaração era um absurdo pois Wright, Gilmour e Mason jamais tinham sido consultados sobre isso! O que se seguiu foi a implosão do Pink Floyd. Gilmour, Mason e Wright de um lado e Waters do outro. Eles foram à imprensa para informar que o grupo seguia em frente, agora sem Roger Waters. Como não poderia deixar de ser tudo foi parar nos tribunais com todos processando a todos. Seria o fim da maior banda de rock progressivo da história? Felizmente não. Os três integrantes unidos venceram Waters no processo em que se discutia a propriedade do nome Pink Floyd. Apesar de Waters pensar que era o proprietário e dono da marca a justiça decidiu que ela pertenceria na verdade aos três remanescentes membros do conjunto. Ainda bem, pois começava ali uma nova fase, mais democrática e mais igualitária, com David Gilmour como líder. Sim, Roger Waters tentou destruir a banda com “The Final Cut” mas eles conseguiram sobreviver, mais uma vez.

Pink Floyd - The Final Cut (1983)
The Post War Dream
Your Possible Pasts
One of the Few
The Hero's Return
The Gunner's Dream
Paranoid Eyes
Get Your Filthy Hands Off My Desert
The Fletcher Memorial Home
Southampton Dock
The Final Cut
Not Now John
Two Suns in the Sunset

Pablo Aluísio.

Pink Floyd - Animals

Em 1977 o Pink Floyd lançou seu álbum mais político, “Animals”. O disco tinha todo um conceito levemente inspirado na obra de George Orwell e se utilizava de várias metáforas para criticar abertamente o capitalismo selvagem que imperava dentro da Inglaterra. A idéia foi de Roger Waters que pensou numa forma de fazer o Floyd se pronunciar através de sua música sobre os problemas sociais e políticos pelos quais vinha passando a Grã-Bretanha na época. Desemprego, pobreza e toda uma nova geração de jovens que não pareciam ter qualquer perspectiva, qualquer futuro pela frente. Assim Waters dividiu a sociedade de seu país em basicamente três tipos de animais. Primeiro havia os cães, que dominavam os demais setores da sociedade com violência e intimidação. Obviamente aqui o Pink Floyd estava se referindo ao governo inglês e sua burocracia sem limites. Além é óbvio de seu poder militar. Suas garras estavam fincadas em todos os cantos do pais. Logo abaixo vinham os porcos – mais uma metáfora bem clara sobre os grandes empresários, industriais que junto aos setores dominantes (cães) sugavam todas as riquezas em seu próprio beneficio. A própria capa trazia um porco gigante atrelado a uma grande indústria. Por fim havia as ovelhas, ou de maneira mais clara, o próprio povo que apenas servia aos demais animais dentro dessa sociedade capitalista selvagem cada vez mais desigual. E como ovelhas todas iam de forma mansa e pacífica para o abate generalizado.

A critica gostou de “Animals” mas quase entendeu a mensagem do Pink Floyd como um manifesto socialista! Havia toda aquela retórica que parecia sair da mente de algum esquerdista rançoso. Waters resolveu não dar maiores explicações, já que há tempos vinha percebendo uma mudança dentro do cenário musical inglês. Por essa época ganhava espaço o chamado movimento Punk. Composto basicamente por jovens desempregados ingleses o Punk surgiu com novas propostas, incentivando uma sonoridade muito básica, com poucos acordes e letras diretas e viscerais – tudo o que o Pink Floyd não era! Não tardou para que o Rock Progressivo e o próprio Pink Floyd virassem alvo de críticas por parte das bandas punks. O grupo foi tachado de chato, incompreensível e pretensioso. Os músicos punks abominavam o som extremamente bem trabalhado do Floyd e suas letras enigmáticas e abertas a inúmeras interpretações. Foi dentro desse verdadeiro cenário de guerra dentro da música britânica que “Animals” chegou nas lojas. Os membros do Pink Floyd por sua vez preferiram evitar a polemica e o bate boca desnecessários. Fizeram muito bem. Hoje em dia “Animals” é reverenciado como um dos melhores álbuns da história do rock inglês. Mais um marco de imensa qualidade e inteligência do Pink Floyd que conseguiu resistir a tudo, até mesmo aos ataques do movimento Punk que aos poucos foi se esvaziando e sumindo. Já “Animals” ficou, demonstrando toda a virtuose desse grupo de músicos fantástico que foi o Pink Floyd.

Pink Floyd – Animals (1977)
Pigs on the Wing (Part I)
Dogs
Pigs (Three Different Ones)
Sheep
Pigs on the Wing (Part II)

Pablo Aluísio.

domingo, 25 de novembro de 2012

Pink Floyd - The Wall

Escrever para esse blog Music é bem terapêutico. Como escrevo resenhas de discos vou recordando aspectos de minha vida através da música. Poucas pessoas percebem isso mas a música cria um grande vínculo sentimental conosco. Ouvir música é uma das melhores formas para recordamos de certos momentos de nossas vidas. Fazia tempo que tinha ouvido o álbum The Wall do Pink Floyd. Só resolvi escutar agora para escrever essa resenha para você, prezado leitor. Assim que coloquei para tocar tive um choque de lembranças da minha época na universidade - sim, a trilha sonora dos meus anos universitários foi ao som do bom e velho Pink Floyd. É maravilhosa a capacidade da música em nos transportar para anos passados - e nesse processo nos lembramos de pessoas, fatos e sentimentos que há muito tempo estavam esquecidos. Maravilha mesmo. Mas voltemos ao The Wall. Esse é o disco da egotrip suprema de Roger Waters. É o momento em que ele olhou com desdém para o resto da banda e proclamou: "Sinto que estou me transformando em um Deus!" Isso mesmo, Waters foi o mais egomaníaco rockstar da história. Seu ego não tem qualquer semelhança com nenhum outro artista. De fato Roger Waters ama Roger Waters apaixonadamente (e loucamente).

The Wall nasceu assim. O disco é Waters da primeira à última faixa. Os demais integrantes do Floyd aqui não passam de uma banda de apoio. O auto proclamado Deus supremo do Rock Progressivo escreveu as canções, fez seus arranjos e só não tocou tudo sozinho porque aí seria demais. Em suas letras Roger Waters se expõe como nunca antes na história da banda. Ele é o personagem principal de todas as faixas - os sentimentos são deles, a visão de mundo é dele... um exercício de egolatria... nisso se resume The Wall. Ironicamente é um dos trabalhos mais conhecidos do grupo (talvez só perca para The Dark Side of The Moon). Assim temos um tremendo paradoxo pois ao mesmo tempo em que é uma das obras mais populares do Pink Floyd também é o menos coletivo álbum do grupo. Rpger Waters, completamente enlouquecido, entra em uma viagem dentro de si mesmo sem limites, sem pudores, beirando à insanidade total.

Até hoje The Wall é louvado por público e crítica. Não advogo dessa opinião. Embora haja clássicos absolutos entre suas faixas considero o resultado final irregular. Em um mesmo espaço convivem obras de arte eternas da história da música ("Another Brick in the Wall", "Comfortably Numb", "In the Flesh?","Hey You") com bobagens absolutas ("Goodbye Cruel World", "One of My Turns"). Hoje em dia não é mais aquele disco que eu pare para ouvir da primeira à última música. Apenas pincelo suas obras primas e o resto deixo pra lá. Waters é um artista que admiro profundamente, mas ele é sem dúvida uma pessoa de extremos - quando está inspirado, é ótimo, excelente, quando não, se torna insuportável. De qualquer modo fecho o texto deixando claro: The Wall é um marco absoluto. De certa forma é o último grande momento da carreira do Pink Floyd, mas não é infalível e nem isento de críticas. Agora que você leu tudo corra para ouvir The Wall e tente se possível sair para fora do muro. Is There Anybody Out There?

Pink Floyd - The Wall (1979)
In the Flesh? 
The Thin Ice 
Another Brick in the Wall (Parte 1) 
The Happiest Days of Our Lives 
Another Brick in the Wall (Parte 2) 
Mother 
Goodbye Blue Sky 
Empty Spaces 
Young Lust 
One of My Turns 
Don't Leave Me Now
Another Brick in the Wall (Parte 3) 
Goodbye Cruel World 
Hey You 
Is There Anybody Out There? 
Nobody Home 
Vera 
Bring the Boys Back Home 
Comfortably Numb
The Show Must Go On 
In the Flesh 
Run Like Hell 
Waiting for the Worms 
Stop 
The Trial 
Outside the Wall 

Pablo Aluísio.

sábado, 15 de outubro de 2011

Pink Floyd - Wish You Were Here

Wish You Were Here foi o disco sucessor do grande sucesso do Pink Floyd, The Dark Side Of The Moon. Por essa razão as expectativas em torno de seu lançamento eram enormes. De qualquer forma havia por parte da banda e público uma certa confiança que o fantástico trabalho desenvolvido em Dark Side teria um sucessor à altura. Realmente era consenso entre todos que o Pink Floyd havia finalmente encontrado seu caminho. Depois da saída do líder Syd Barrett o grupo ficou meio perdido, sem saber que rumo tomar. Em razão disso participou de projetos experimentais, compôs trilhas sonoras para filmes etc, mas depois do grande sucesso do álbum The Dark Side Of The Moon o caminho estava definido. Foi justamente na década de 70 em que o Pink Floyd finalmente entrou na galeria das grandes bandas de rock. Abraçando o Rock Progressivo definitivamente (embora alguns neguem que o Pink Floyd seja na essência um grupo dessa vertente do rock), o Floyd iria seguir uma linha de trabalho nesses anos que era de certo modo à prova de falhas, tanto do ponto de vista comercial como artístico. O álbum da virada talvez tenha sido Atom Heart Mother, ainda um tanto experimental, mas mostrando claramente uma coerência de estilo. O disco fez sucesso, embora hoje Roger Waters e David Gilmour não o considere isento de críticas. Depois dele Meddle consolidou esse novo estilo musical do grupo o que desembocaria na consagração com Dark Side.

Com Wish You Were Here o grupo deu continuidade aos trabalhos. O álbum só possui 5 faixas, o que era o número médio de músicas utilizadas em EPs (compactos duplos) na época. Além dessa singularidade as canções eram de longa duração, o que para o convencionalismo reinante naqueles anos era sinal de morte nas paradas, pois nenhuma rádio iria tocar canções tão longas como aquelas em sua programação. Para bandas comerciais todas essas regras eram seguidas à risca, mas não para o Pink Floyd, que já trazia há tempos em seus discos faixas nesse estilo. Afinal ser Progressivo era prezar pela virtuose, pela minuciosa elaboração de arranjos, numa simbiose bem próxima ao gênero erudito e clássico. O grande destaque do disco é a canção Shine On You Crazy Diamond, que abre e fecha o álbum. Dividido em partes, tal como acontece nas músicas e peças eruditas, a música virou símbolo da melhor fase do grupo. A canção havia sido composta em homenagem a Syd Barrett, naquela altura completamente entregue à doença mental que o levou a sair da banda. Reza a lenda que Syd chegou a aparecer nos estúdios durante a gravação de um dos álbuns do Pink Floyd, completamente careca e fora de si. O fato chocou tanto os membros do grupo que eles resolveram homenagear seu antigo líder com essa faixa.

Já a canção título do álbum não foi, como alguns pensam, também composta para Syd. O próprio Roger Waters esclareceu que Wish You Were Here foi na realidade composta em homenagem a seu pai, morto em combate. Embora esse fato tenha dado origem a um dos mais fracos trabalhos do grupo, com The Final Cut, aqui tudo soa maravilhosamente bem e coeso. Sem dúvida a canção é um dos clássicos absolutos da banda britânica. O álbum fecha seu ciclo com duas outras ótimas canções, Welcome To The Machine (uma crítica à indústria musical e à sociedade industrial como um todo) e Have a Cigar (outra canção com temática crítica em relação ao chamado Show Business). Embora tenha sido rotulado como um álbum conceitual baseado em perda e saudade, Wish é muito mais do que isso. É um trabalho complexo, extremamente rico do ponto de vista musical e que deve ser conhecido por quem gosta de boa música. Um sucessor digno da grandiosidade de The Dark Side of The Moon.

Wish You Were Here (1975)
1. Shine On You Crazy Diamond (Parts I–V)
2. Welcome to the Machine
3. Have a Cigar
4. Wish You Were Here
5. Shine On You Crazy Diamond (Parts VI–IX)

Pablo Aluísio.

Pink Floyd - The Dark Side Of The Moon

Esse álbum é a obra prima do Pink Floyd. Até hoje impressiona pela criatividade, inovação e som atemporal. Fruto de um trabalho verdadeiramente coletivo, onde todos os membros da banda colaboraram de igual para igual, o Dark Side representa finalmente o caminho que o Floyd vinha procurando desde a saída de seu fundador e mentor Syb Barrett. Enlouquecido pelo abuso de drogas o primeiro líder do Pink Floyd saiu muito cedo de cena deixando os demais membros perdidos, sem saber qual rumo tomar. Nos primeiros anos sem Barrett o Floyd tentou trilhar vários caminhos, gravou trilhas sonoras, flertou com a música puramente instrumental e tentou unir música erudita com Rock. Todas essas experimentações levaram o grupo a ter um som único, inigualável, diferente de tudo o que havia na época. Experimentalismo como dogma musical. 

Foi quando o Rock Progressivo cruzou o caminho dos rapazes do Floyd que eles finalmente entenderam por onde deveriam seguir. E foi justamente lá, no ladro escuro da Lua, que eles finalmente se encontraram musicalmente. O disco nasceu do trabalho árduo de todos os músicos. Antes de Roger Waters enlouquecer com acessos de egomania, a banda conseguiu trabalhar como nunca antes (ou depois). Durante seis meses eles tentaram tudo, experimentaram de tudo, até chegarem a um material que consideravam o ideal para a composição de seu novo disco. O resultado dessa ajuda mútua e solidariedade é um dos discos mais importantes da história do rock. Se há algum trabalho que mereça o adjetivo de “perfeito” esse é certamente “Dark Side of The Moon” do Pink Floyd.

Depois de vários meses de ensaio e gravação o disco finalmente chegou nas lojas em março de 1973. Sua sonoridade ímpar caiu como uma bomba nuclear no mercado fonográfico. Os críticos levaram meses para entender a proposta do disco (alguns não entenderam até hoje) e o Dark finalmente ganhou status de grande arte. Não é para menos, temos aqui um álbum para ser digerido aos poucos, em camadas, sem pressa nenhuma. É como degustar aquele vinho raro de sua adega. Não cabem interpretações superficiais e rasteiras em um trabalho dessa envergadura. Até hoje o disco levanta debates acalorados. Até questões básicas, como por exemplo, qual seria seu tema principal, levanta debates sem fim. Afinal qual é o conceito por trás de “The Dark Side Of The Moon”? É um disco sobre o enlouquecimento de Syd Barrett? É uma sonorização do filme “O Mágico de Oz”? É uma apologia ao uso de drogas lisérgicas? É uma busca de autoconhecimento através da música? Do que diabos o álbum trata? Bom, não responderei a essas perguntas pois cabe a cada ouvinte formular sua própria tese baseado na experiência de ouvir o disco. Tirando as questões metafísicas e filosóficas de lado e focando apenas na questão puramente comercial (Money?), é importante dizer que esse é um dos trabalhos musicais mais bem sucedidos da história com mais de 50 milhões de cópias vendidas após todos esses anos. Sinceramente falando? Esqueça tudo isso e o coloque para tocar – “The Dark Side Of The Moon” é aquele tipo de obra que deve ser mais sentida do que explicada. O sentimento supera a razão nesse caso. Palavras são tão insuficientes. Ouça e embarque em sua própria jornada pessoal. Boa viagem! 

Pink Floyd - The Dark Side Of The Moon (1973)
Speak to Me
Breathe
On the Run
Time
The Great Gig in the Sky
Money
Us and Them
Any Colour You Like
Brain Damage
Eclipse

Pablo Aluísio.

Pink Floyd - The Piper at the Gates of Dawn

A genialidade e a loucura são as duas faces de uma mesma moeda e o fundador e líder do Pink Floyd, Syd Barrett, comprovou isso com sua própria vida. Antes de enlouquecer completamente pelo uso abusivo das drogas lisérgicas tão em moda na época, ele teve tempo de registrar seu talento para a posteridade gravando o primeiro álbum de seu grupo chamado The Piper at the Gates of Dawn. O grupo formado em 1965 já tinha longa tradição no underground britânico, explorando um som inovador e de vanguarda, estando à frente de seu tempo com um som extremamente experimental e ousado. Syd Barrett, à frente do Floyd, não teve medo de arriscar, testando sonoridades, acrescentando sons eletrônicos, fazendo com que o Pink Floyd se tornasse uma experiência única, sem paralelos com nenhum outro grupo de rock da época. Tanto experimentalismo fez com o conjunto só tivesse a oportunidade de gravar seu primeiro disco no final de 1967. Nos estúdios, com todas as possibilidades da tecnologia de gravação à disposição, Barrett levou até as últimas consequências suas idéias.

Na maioria das músicas foi extremamente feliz, embora o excesso de psicodelismo e experimentalismo tenha prejudicado algumas das faixas, como por exemplo "Pow R. Toc H.", maluca demais até mesmo para um sujeito com um parafuso a menos como Barrett. Entre os destaques do disco temos "Astronomy Domine" que iria definir para sempre o som do grupo britânico, trazendo influência a todos os seus álbuns posteriores, com destaque para a obra prima Dark Side Of The Moon; "Interstellar Overdrive" que mostraria o virtuosismo instrumental dos membros da banda, "Chapter 24", uma das faixas mais acessíveis aos ouvintes e a ultra psicodélica "Bike", lembrando muito faixas do disco Sgt Peppers dos Beatles como "Being For The Benefit Of Mr Kite". Infelizmente a fase Syd Barrett iria durar pouco. O líder do Pink Floyd logo iria perder o sentido de realidade, sendo afastado do grupo meses depois. Sem a mente pensante de Barrett os membros restantes do Floyd iriam passar por uma fase de transição, sem saber direito que rumo tomar. Com Roger Waters e David Gilmour à frente do grupo, o Pink Floyd só iria reencontrar seu rumo definitivo anos depois, em plenos anos 70, onde se consagraria com alguns dos discos mais essenciais da história da música, gerando o nascimento do Rock Progressivo. Mas essa é uma outra história, que começou bem antes, aqui nesse álbum, fruto dos delírios geniais de Syd Barrett.

Pink Floyd - The Piper at the Gates of Dawn
Astronomy Domine
Lucifer Sam
Matilda Mother
Flaming
Pow R. Toc H.
Take Up Thy Stethoscope and Walk
Interstellar Overdrive
The Gnome
Chapter 24
Scarecrow
Bike

Pablo Aluísio.

quarta-feira, 28 de setembro de 2011

Pink Floyd - Delicate Sound Of Thunder

Com o sucesso do disco A Momentary Lapse Of Reason, David Gilmour resolveu colocar o pé na estrada ao lado de seus companheiros de banda. Para fazer jus ao nome mitológico do Pink Floyd, Gilmour não mediu esforços e resolveu trazer para os shows ao vivo do grupo o que de melhor havia no mercado em termos de aparatos técnicos e sonoros. A volta do conjunto aos palcos deveria acontecer em grande estilo e ele estava completamente concentrado em provar que o Floyd funcionaria bem, mesmo sem a presença de Waters. A ideia ganhou grandes dimensões conforme as apresentações iam acontecendo e Gilmour então resolveu transformar tudo em um grande projeto multimídia trazendo os novos lançamentos do Pink Floyd ao mercado em todas os segmentos culturais possíveis (na época Delicate foi lançado não apenas como álbum duplo, mas também em filme VHS para venda direta e K7). A idéia era não só ressuscitar a banda mas também conquistar uma nova legião de fãs entre os mais jovens, que apenas conheciam o Floyd de nome. Para isso os concertos ao vivo deveriam ser marcantes. E acredite, Gilmour conseguiu alcançar todos os objetivos que havia traçado.

Delicate Sound of Thunder foi gravado em Long Island, Nova Iorque, numa série de cinco concertos que o grupo fez no Nassau Coliseum. No repertório David Gilmour resolveu não arriscar muito e investiu nos maiores sucessos do Pink Floyd da década anterior. Três das maiores obras do conjunto serviram de referência no projeto ao vivo: Dark Side Of The Moon, Wish You Were Here e The Wall. As novas canções do último disco também foram lembradas, para dar um toque de contemporaneidade aos shows em si. O álbum abre com uma das melhores versões ao vivo de Shine On You Crazy Diamond, canção do disco Wish You Were Here. Como todos sabem essa música havia sido composta em homenagem ao ex-líder Syd Barrett. Depois desse pequeno momento revival somos apresentados ao novo material do disco A Momentary Lapse of Reason. Interessante notar que Gilmour não se fez de rogado e levou as novas faixas em peso para os concertos. Isso prova que ele não teve nenhum receio ou medo com as críticas e comparações que poderiam ser feitas após a saída de Waters. Seguro de si, Gilmour apresentou com orgulho praticamente todo o repertório novo do recém lançado trabalho do Pink Floyd. O destaque fica mais uma vez com On The Turning Away, extremamente bem executada por Gilmour e o grupo de apoio (que contava não apenas com Wright e Mason, mas com uma verdadeira equipe de músicos talentosos que em muito acrescentaram na sonoridade dos novos arranjos).

O ciclo se fecha com as canções da época de ouro do Pink Floyd: Money e Time fazem uma dobradinha deliciosa, lembrando seu maior sucesso, Dark Side of The Moon (que depois seria levado na íntegra ao vivo no disco PULSE, outro marco da era David Gilmour). One of These Days por sua vez ganha um nova roupagem sonora, mudança que pode ser sentida também no hit Another Brick in the Wall (Part 2). De todas as releituras porém nenhuma se compara a Comfortably Numb, faixa impecável onde David Gilmour demonstra sem rodeios porque é considerado um dos maiores guitarristas da história do Rock. Um fantástico momento de êxtase sonoro. Delicate Sound of Thunder veio coroar o incrível trabalho de renascimento do Pink Floyd promovido por David Gilmour. Uma iniciativa que merece todos os nossos aplausos. Através de seu esforço pessoal Gilmour mostrou que o Pink Floyd não havia morrido e que ainda era capaz de emitir um delicado som de trovão por onde passasse.

Pink Floyd - A Momentary Lapse of Reason - Parte 1
Dos escombros de uma briga judicial que parecia nunca ter fim o Pink Floyd finalmente ressuscitou na segunda metade dos anos 80. Agora liderados única e exclusivamente por David Gilmour, o novo grupo tinha a proposta de levantar o nome da banda, tão desgastada por causa das brigas entre Gilmour e Roger Waters. Esse último tentou impedir nos tribunais ingleses o uso do nome "Pink Floyd" pelos demais membros do conjunto. Assim David Gilmour precisou lutar muito para que ele e seus companheiros Nick Mason e Richard Wright tivessem o direito de usar o nome em um novo álbum. Esse disco acabou sendo chamado de "A Momentary Lapse of Reason". Apesar de todas as críticas, inclusive de Waters que jamais reconheceu esse LP como sendo do Pink Floyd realmente, devo dizer que gostei bastante da nova proposta. David Gilmour, um dos maiores instrumentistas da história do rock, realmente realizou um trabalho bem sofisticado, muito bom de se ouvir. Não era em absoluto revolucionário, ou qualquer outra coisa do tipo, porém era digno de se usar o mitológico nome da maior banda de rock progressivo da história. O resto são lágrimas ao vento de um ressentido Roger Waters, que deveria ter ficado mesmo calado.

Pink Floyd - A Momentary Lapse of Reason - Parte 2
Poucas coisas podem ser mais chatas do que aquele grupo de fãs do Pink Floyd que vivem de ridicularizar a fase anos 80 de David Gilmour. Eu acho a opinião dessas pessoas completamente bizarra, uma vez que alguns dos meus discos preferidos da banda são dessa época. Aqueles que dizem não haver uma sonoridade genuína do Pink Floyd nesses discos precisa reavaliar urgentemente seus conceitos. "Signs of Life" que abre o álbum "A Momentary Lapse of Reason" é um exemplo disso. É uma música puramente instrumental, que começa com sons de um remo de barco. O que estaria por trás disso. Simples de explicar. Esse disco foi gravado em um estúdio flutuante mantido por Gilmour chamado Astoria. Foi uma forma que o guitarrista e novo líder do Pink Floyd encontrou de trabalhar em paz, longe das pressões do público e da crítica. A melodia foi escrita por Gilmour e o produtor Ezrin e as vozes ao fundo são as do baterista Nick Mason. A voz dele foi duplicada, como se ele estivesse conversando com ele mesmo. Essa faixa me lembra muito a sonoridade de "Atom Heart Mother". É uma lembrança óbvia dos tempos em que o Pink Floyd criava trilhas sonoras incidentais para filmes. Uma ligação com o passado mais do que pertinente.

"The Dogs of War" continuava dividindo opiniões. Eu pessoalmente considero uma faixa forte, lembrando os bons tempos do auge da criatividade do rock progressivo inglês. Muitos a consideram um momento de fragilidade de David Gilmour nesse álbum. Que tolice! A música se revelou ótima para ser tocada ao vivo por causa de sua introdução de impacto. Composta ao lado de Anthony Moore, a letra não era uma referência aos advogados que trabalharam nos inúmeros processos envolvendo Gilmour e Roger Waters como muitos disseram na época de lançamento. Na verdade os tais cães de guerra são os políticos ingleses envolvidos em casos de corrupção. É assim uma composição mais política por parte de Gilmour. Imaginem se ele conhecesse o nível de corrupção da política brasileira! Aí sim ele veria o que é de verdade um mundo cão! Para os que reclamavam dessa nova sonoridade da banda, provavelmente "One Slip" era um prato cheio! Lançada no último single extraído do disco "A Momentary Lapse of Reason" a canção nunca foi uma unanimidade. Já ouvi todo tipo de crítica contra essa música, desde que ela seria um popzinho safado dos anos 80, até que seria "latina demais", principalmente em sua introdução! Provavelmente resolveram pegar no pé do compositor Phil Manzanera, pensando se tratar de algum músico latino. Não é! Phil é inglês e escreveu a música ao lado de Gilmour durante a pré-produção do disco. Enfim, de bobagens e tolices esse mundo de fãs mais radicais do Pink Floyd está realmente bem cheio!

Pink Floyd - Delicate Sound of Thunder
Quando os primeiros acordes de "Shine on You Crazy Diamond" ecoam nesse álbum você fica até mesmo em dúvida se está mesmo ouvindo uma versão ao vivo do clássico absoluto do Pink Floyd lançado originalmente no disco "Wish You Were Here" de 1975. É tão perfeita que ficamos em dúvida se ela foi executada ao vivo. David Gilmour que nunca foi bobo nem nada, só levou feras ao palco dessa turnê. Juntando isso ao fato dele próprio ser um dos maiores guitarristas da história da música, não poderia dar em outra coisa. O registro é perfeito e arrebatador. Essa canção é uma das mais importantes da discografia do grupo. Durante anos a versão oficial foi que ela foi composta após uma visita inesperada de "Syd" Barrett ao estúdio onde os demais membros do grupo estavam gravando um novo disco. O estado de Barrett era tão ruim nesse momento, com cabelos escorrendo uma espécie de óleo, que Gilmour e Waters teriam ficado chocados com o que viram. O uso de ácido lisérgico (LSD) e outras drogas destruíram Syd do ponto de vista psicológico. Logo ele, o fundador do grupo, aquele que havia idealizado todas as bases e fundamentos do Pink Floyd, ia sendo engolido pela loucura. Uma bad trip sem volta, sem retorno. O resto do grupo sabia da sua dívida impagável com Syd e por essa razão resolveu lhe prestar essa homenagem, o que resultou em uma das músicas mais imortais do Pink Floyd. Depois desse apogeu sonoro, as coisas se acalmam um pouco e o Pink Floyd aproveita para mostrar uma música nova, "Learning to Fly" do disco "A Momentary Lapse of Reason". As viúvas de Roger Waters nunca perdoaram o fato de David Gilmour continuar com a banda após a saída de Waters. Por isso gostam de malhar todas as faixas de álbum, afirmando que o álbum nunca foi um legítimo LP do Pink Floyd, mas sim um disco solo de David Glimour que apenas usou o nome comercial do Pink Floyd. Acho essa visão tão provinciana e boboca que me recuso até mesmo a perder tempo argumentando. Esse disco é um legítimo trabalho do Pink Floyd. Estavam lá além de David Gilmour, o baterista Nick Mason e o tecladista Richard Wright. Do quinteto só faltava Syd Barret que havia enlouquecido e que não estava lá por motivos óbvios e Roger Waters, por ser um egocêntrico incurável. Por isso os fãs dessa linha mais radical deveriam baixar a bola antes de criticar um disco tão bom!

"The Dogs of War" foi lançada no disco "A Momentary Lapse of Reason". Como sabemos esse álbum foi severamente criticado pelos fãs de Roger Waters. Para eles esse não é um verdadeiro trabalho do Pink Floyd, mas sim uma picaretagem de David Gilmour que apenas usou o nome do grupo em um trabalho solo. Verdade? Não, pura bobagem. Além de ser realmente um trabalho do Pink Floyd (sem Waters, obviamente), também tem grande qualidade sonora e artística. A música foi composta como uma crítica contra determinados políticos britânicos, absurdamente submissos à política externa dos Estados Unidos. Clamando para que os cães de guerra entrem em campo sempre que Tio Sam ordenasse. Onde estaria o velho orgulho do povo inglês? Os arranjos da música também se destacam porque Gilmour trouxe um clima épico, como se você, ouvinte, estivesse dentro de um calabouço, onde monstros caninos estivessem prontos para o ataque. Talvez por forçar um pouco essa barra, parecendo em certos aspectos com uma trilha sonora, a canção tenha sido acusada de chata e pretensiosa demais. Só esqueceram esses críticos que o Pink Floyd, por muitos anos, também se especializou em compor trilhas sonoras. Eles não estavam fugindo muito do que sempre fizeram ao longo de todos esses anos. Menos criticada e muito mais bonita do ponto de vista melódico é a bela baladinha "On the Turning Away". OK, poderia certamente fazer parte de algum trabalho solo de David Gilmour, mas isso é um pouco óbvio demais. Opiniões banais devem ser descartadas. Não foi de um disco solo de David, mas sim parte de um bom LP do Pink Floyd, lançado em plenos anos 80. Por falar em anos 80... Admito que aquela sonoridade comprometeu um pouco (só um pouquinho) o resultado final desse já citado disco, o "A Momentary Lapse of Reason". Há intervenções de sax ao estilo Kenny G, que fez muitos fãs do Pink Floyd arrancarem os fios de cabelo da cabeça. O que tenho a dizer a essas pessoas é que elas precisam, acima de tudo, relaxarem para curtir melhor essa bela composição de David Gilmour. Só assim vão entender e apreciar a beleza da música como um todo. Que tal ser menos chato e apreciar uma música apenas pelas suas qualidades musicais, sem preconceitos ou visões cimentadas?

A música "Yet Another Movie" é muitas vezes criticada por não ser "uma autêntica música" do Pink Floyd! O que exatamente seria isso? Ninguém sabe responder ao certo. O que me parece é que essa má vontade vem do fato da canção ter sido parte do álbum "A Momentary Lapse of Reason", que como sabemos não contou com Roger Waters. Sem Waters, sem Pink Floyd autêntico. Essa parece ser a conclusão dessas pessoas. Em minha opinião esse pensamento é pura bobagem e até mesmo um tanto infantil. Grupos de rock se modificam ao longo dos anos. É natural que sua sonoridade também sofra mudanças, algumas vezes para melhor e outras para pior. Processo natural e completamente esperado. Essa crítica de que não faz parte do verdadeiro Pink Floyd já não pode ser dirigida para o clássico "One of These Days". Originalmente essa música fez parte do repertório consagrado do disco "Meddle". Não foi uma música que o grupo levou com frequência para os palcos nos tempos de Roger Waters, mas tem sua importância inegável dentro da discografia da banda. No vinil original do "Delicate Sound of Thunder" foi usada para abrir o disco 2 do pacote, mostrando a importância dela como mola propulsora dos shows do Pink Floyd nessa era quase que exclusivamente David Gilmour. Em relação a "Time" do "The Dark side of the Moon" já tive fases de gostar muito da música e fases de saturação dela. Também é inegável que sua harmonia pode causar um certo cansaço no ouvinte, depois de ouvi-la por anos e anos. Cansaço vai bater, seguramente. Porém, é a tal coisa, nada que tenha feito parte do "Dark Side" pode ser relegado a um segundo plano. Disco mais vendido da banda, é até hoje reverenciado como uma obra prima absoluta. De certa maneira temos que respeitar esse status das músicas desse LP.

Delicate Sound Of Thunder (1988)
01. Shine On You Crazy Diamond
02. Learning to Fly
03. Yet Another Movie
04. Round and Around
05. Sorrow
06. The Dogs of War
07. On the Turning Away
08. One of These Days
09. Time
10. Money
11. Another Brick in the Wall (Part 2)
12. Wish You Were Here
13. Comfortably Numb
14. Run Like Hell

Pablo Aluísio.

Pink Floyd - A Momentary Lapse of Reason

Quando o Pink Floyd lançou o disco The Final Cut muitos previram o seu fim. A obra não agradou ao público, encalhou nas lojas e foi impiedosamente criticada pela imprensa especializada. A mais pura verdade era que The Final Cut não era bem um projeto do Pink Floyd, mas sim de Roger Waters, naquela altura com a egomania completamente descontrolada. Com o sucesso de The Wall, Waters acreditou piamente que poderia fazer o que bem entendesse e que o restante do grupo deveria apenas seguir suas ordens cegamente. Demitiu Richard Wright do Floyd e levou até as últimas consequências sua megalomania galopante. Quando The Final Cut naufragou ele literalmente declarou à imprensa que o Pink Floyd havia chegado ao fim e ponto final.

Embora Roger Waters acreditasse nisso a ideia de colocar um fim na história do Floyd simplesmente não foi aceita pelos demais membros que começaram então uma longa batalha judicial pelo nome do grupo, para assim continuar o legado da banda britânica sozinhos, sem a presença egocêntrica de Roger Waters. Finalmente em 1987 eles conseguiram vencer a luta jurídica e liderados por David Gilmour resolveram arrumar a casa e retomar as redeas do Pink Floyd, sendo o primeiro projeto da era pós Roger Waters justamente a gravação desse belissimo LP, A Momentary Lapse of Reason. Antes de mais nada é bom avisar que Momentary não é unanimidade entre os fãs, muito menos entre as chamadas "viúvas" de Roger Waters. Para esse grupo o disco é totalmente ruim, falso, desprovido de alma, uma invenção completamente bastarda de David Gilmour para ganhar dinheiro em cima do nome mitológico do Pink Floyd. Besteira. Contando com três dos membros originais do grupo (Gilmour, Mason e Wright, reabilitado de seu vício em drogas e participante do disco como músico contratado) o LP é um sopro mais do que bem-vindo para o ressurgimento de um dos melhores conjuntos de rock da história.

Momentary Lapse or Reason abre com uma interessante colagem sonora na faixa Signs of Life. A tentativa aqui é óbvia. Gilmour tenta através de elaborada peça instrumental reviver os antigos bons momentos do Pink Floyd nos anos 70 (não faltou nem a parte de vozes ao fundo, como bem podemos ouvir em discos como Dark Side of The Moon). Learning To Fly mostra o que Gilmour tinha de melhor a oferecer ao grupo naquele momento: a sua tão conhecida habilidade em lidar com belas harmonias, fato amplamente consolidado na linda On The Turning Away. Claro que o disco não é isento de críticas: The Dogs of War, por exemplo, provavelmente não entraria nos melhores discos do Floyd na década de 70. De qualquer forma o disco conseguiu seu objetivo: fez sucesso e evitou que o Pink Floyd morresse após o lançamento de The Final Cut. Pela história e pela importância certamente o Floyd não merecia ter um fim tão inglório. Assim Momentary Lapse of Reason marca o nascimento da chamada fase Gilmour, com shows fantásticos ao redor do mundo, belos arranjos, revitalização do nome do grupo, muito sucesso comercial e consagração do grande público. Para ser sincero a única diferença realmente foi a ausência de Roger Waters, se bem que após The Final Cut poucos lamentaram sua saída. É isso, o momentâneo lapso de razão prevaleceu e nos legou mais um grande momento Floydiano. Obrigado por isso, David.
 
Pink Floyd - A Momentary Lapse of Reason - Parte 1
Dos escombros de uma briga judicial que parecia nunca ter fim o Pink Floyd finalmente ressuscitou na segunda metade dos anos 80. Agora liderados única e exclusivamente por David Gilmour, o novo grupo tinha a proposta de levantar o nome da banda, tão desgastada por causa das brigas entre Gilmour e Roger Waters. Esse último tentou impedir nos tribunais ingleses o uso do nome "Pink Floyd" pelos demais membros do conjunto. Assim David Gilmour precisou lutar muito para que ele e seus companheiros Nick Mason e Richard Wright tivessem o direito de usar o nome em um novo álbum. Esse disco acabou sendo chamado de "A Momentary Lapse of Reason". Apesar de todas as críticas, inclusive de Waters que jamais reconheceu esse LP como sendo do Pink Floyd realmente, devo dizer que gostei bastante da nova proposta. David Gilmour, um dos maiores instrumentistas da história do rock, realmente realizou um trabalho bem sofisticado, muito bom de se ouvir. Não era em absoluto revolucionário, ou qualquer outra coisa do tipo, porém era digno de se usar o mitológico nome da maior banda de rock progressivo da história. O resto são lágrimas ao vento de um ressentido Roger Waters, que deveria ter ficado mesmo calado.

Pink Floyd - A Momentary Lapse of Reason - Parte 2
Poucas coisas podem ser mais chatas do que aquele grupo de fãs do Pink Floyd que vivem de ridicularizar a fase anos 80 de David Gilmour. Eu acho a opinião dessas pessoas completamente bizarra, uma vez que alguns dos meus discos preferidos da banda são dessa época. Aqueles que dizem não haver uma sonoridade genuína do Pink Floyd nesses discos precisa reavaliar urgentemente seus conceitos. "Signs of Life" que abre o álbum "A Momentary Lapse of Reason" é um exemplo disso. É uma música puramente instrumental, que começa com sons de um remo de barco. O que estaria por trás disso. Simples de explicar. Esse disco foi gravado em um estúdio flutuante mantido por Gilmour chamado Astoria. Foi uma forma que o guitarrista e novo líder do Pink Floyd encontrou de trabalhar em paz, longe das pressões do público e da crítica. A melodia foi escrita por Gilmour e o produtor Ezrin e as vozes ao fundo são as do baterista Nick Mason. A voz dele foi duplicada, como se ele estivesse conversando com ele mesmo. Essa faixa me lembra muito a sonoridade de "Atom Heart Mother". É uma lembrança óbvia dos tempos em que o Pink Floyd criava trilhas sonoras incidentais para filmes. Uma ligação com o passado mais do que pertinente.

"The Dogs of War" continuava dividindo opiniões. Eu pessoalmente considero uma faixa forte, lembrando os bons tempos do auge da criatividade do rock progressivo inglês. Muitos a consideram um momento de fragilidade de David Gilmour nesse álbum. Que tolice! A música se revelou ótima para ser tocada ao vivo por causa de sua introdução de impacto. Composta ao lado de Anthony Moore, a letra não era uma referência aos advogados que trabalharam nos inúmeros processos envolvendo Gilmour e Roger Waters como muitos disseram na época de lançamento. Na verdade os tais cães de guerra são os políticos ingleses envolvidos em casos de corrupção. É assim uma composição mais política por parte de Gilmour. Imaginem se ele conhecesse o nível de corrupção da política brasileira! Aí sim ele veria o que é de verdade um mundo cão! Para os que reclamavam dessa nova sonoridade da banda, provavelmente "One Slip" era um prato cheio! Lançada no último single extraído do disco "A Momentary Lapse of Reason" a canção nunca foi uma unanimidade. Já ouvi todo tipo de crítica contra essa música, desde que ela seria um popzinho safado dos anos 80, até que seria "latina demais", principalmente em sua introdução! Provavelmente resolveram pegar no pé do compositor Phil Manzanera, pensando se tratar de algum músico latino. Não é! Phil é inglês e escreveu a música ao lado de Gilmour durante a pré-produção do disco. Enfim, de bobagens e tolices esse mundo de fãs mais radicais do Pink Floyd está realmente bem cheio!

Pink Floyd - A Momentary Lapse of Reason (1987)
01. Signs of Life
02. Learning to Fly
03. The Dogs of War
04. One Slip
05. On the Turning Away
06. Yet Another Movie" / "Round and Around
07. A New Machine (Part 1)
08. Terminal Frost
09. A New Machine (Part 2)
10. Sorrow

Pablo Aluísio.

sábado, 17 de setembro de 2011

Pink Floyd - Atom Heart Mother

Para muitos “Atom Heart Mother” foi verdadeiramente o primeiro disco de rock progressivo da história. Uma tentativa do grupo inglês Pink Floyd em levar o rock a patamares sequer imaginados em seu modesto inicio. De uma música simples, com poucos acordes, tocada por apenas quatro ou cinco músicos para uma perfeita junção com a grandiosidade da música clássica. O que mais impressiona o ouvinte aqui é o grau de experimentalismo e ousadia da banda que não teve receio nenhum de inovar, buscar outros caminhos, trilhar uma sonoridade ainda inédita dentro do rock mundial. Nesse aspecto o Pink Floyd foi completamente revolucionário. Os membros do grupo usaram tudo o que tinham em mãos, sua experiência na fase Syd Barrett e as tentativas posteriores de criar um som próprio, único. O álbum é um impacto ao ouvinte. A primeira faixa (que ocupava todo o lado A do vinil) é uma overdose de arranjos, sons e peças instrumentais. São 23 minutos de perfeita união entre conceitos eruditos e rock! Aqui o Pink Floyd usou de tudo, desde instrumentos clássicos a vocais de ópera. Posso afirmar sem receios que nenhum conjunto de rock tinha sido tão inovador, nem mesmo os Beatles. Genialidade em notas musicais.

Já o Lado B do antigo vinil era um pouco mais familiar e convencional aos ouvidos. “If”, por exemplo, é uma linda balada com melódico dedilhado de violão. Tudo muito suave em ótima vocalização, quase sussurrada. Soa quase como uma proposta de relaxamento após o monumental Lado A do disco. Sendo sincero se não fosse as guitarras ao fundo, “If” poderia ser até mesmo classificada como uma doce cantiga de ninar, tamanha sua suavidade. O tom segue na faixa seguinte, “Summer 69” onde Richard Wright mostra todo o seu talento de compositor, pianista e vocalista. Uma canção evocativa que nos transporta imediatamente para aqueles anos maravilhosos. Considero Wright um subestimado dentro da música do Pink Floyd. Não teve o reconhecimento devido. A última canção mais, digamos, convencional do álbum é “"Fat Old Sun" onde quem dá as cartas é o guitarrista David Gilmour. Encerrando esse grande disco temos a psicodélica e cinematográfica "Alan's Psychedelic Breakfast”, uma canção que só poderia ser lançada pelo Pink Floyd mesmo. A palavra chave aqui é vanguarda. Curiosamente o disco passa por uma revisão atualmente. Gilmour e Waters divergem sobre o resultado do álbum em determinados pontos. Para Gilmour o conceito era de fato fantástico mas faltava maior experiência para o Floyd naquele momento histórico. Em sua forma de pensar poderia ter saído melhor. Para Waters o disco é um marco mas não atendeu as suas expectativas. No fundo isso é um exercício de retórica vazia. O disco é um dos mais fantásticos da história do rock, dando inicio a toda uma nova era no gênero. Todo o resto se torna secundário.

Pink Floyd - Atom Heart Mother (1970)
Atom Heart Mother
If
Summer '68
Fat Old Sun
Alan's Psychedelic Breakfast

Pablo Aluísio.

sábado, 2 de julho de 2011

David Gilmour, o Som Absoluto

Hoje David Gilmour é considerado com toda razão um dos maiores guitarristas do mundo. Curiosamente ele só entrou na lendária banda Pink Floyd porque seu fundador e criador, o genial Syd Barrett, entrou em um processo sem volta rumo à loucura e insanidade. "Cheguei a participar de poucas sessões com Barrett. Ele não estava bem. Era questão de tempo sua saída" - recorda Gilmour. Depois que Syd foi afastado de uma vez por todas o grupo passou a contar com dois elos fortes, ele, Gilmour, e o talentoso mas genioso Roger Waters. "No começo fiz o que pude para melhorar o som da banda. Waters tinha planos de transformar o grupo em uma banda especializada em trilhas sonoras para cinema mas isso aos poucos foi sendo deixado de lado embora o Pink Floyd tenha feito bons trabalhos nessa direção".

A busca por uma nova direção, baseada em música instrumental, fez com que Gilmour aprofundasse os estudos para ser um guitarrista acima da média, pronto para executar qualquer solo que fosse pedido, afinal era questão de sobrevivência para ele. Sua marca preferida em termos de instrumento sempre foi a leve e prática Fender Stratocaster. Sobre essa escolha Gilmour explicou: "Quando você passa muitas horas dentro de um estúdio, tentando criar algo ao lado de seus colegas é necessário ter uma guitarra leve, compacta e que execute todas as sonoridades que você necessite. A guitarra tem que se tornar uma extensão do seu corpo, sem atrapalhar. Leveza por isso é fundamental. A Fender cumpre todas essas funções. Gravei os grandes álbuns do Pink Floyd com ela. Adoro o design, a leveza e a simplicidade. Não gosto de guitarras grandes, pesadas e pouco práticas. Podem ser bonitas mas para mim não funcionam, não me ajudam a criar, afinal não uso guitarras para tirar fotos mas sim para tocar!".

Para Gilmour o ponto de mudança ocorreu durante as gravações do mitológico disco "The Dark Side of the Moon". "Foi um grande processo de gravação. Queríamos criar algo marcante. As sessões eram feitas na base da improvisação onde cada um dava um palpite para melhorar as canções. Os solos surgiram na minha mente nessa longa jam session! Eu raramente escrevo meus solos numa partitura. Eles saem na base do sentimento durante as sessões de gravação. Assim que eu gosto de trabalhar e produzir". O resultado foi maravilhoso e desde o começo foi elogiado pela crítica que logo o qualificou como obra prima. O guitarrista recebeu um título muito honroso da imprensa britânica que começou a lhe chamar de "David Gilmour, o Som Absoluto". Todos estavam impressionados com as experiências do Pink Floyd, com aquela brilhante fusão entre música instrumental, clássica e rock. Esse tipo de sonoridade logo ganhou a alcunha de "Rock Progressivo" - um rock evoluído, em progresso, que ia além do feijão com arroz das bandas dos anos 60 como Beatles e Rolling Stones.

Para espanto de muitos porém esse não é considerado o álbum favorito de David Gilmour, o Som Absoluto. Para ele o melhor trabalho do grupo só viria muitos anos depois com "A Momentary Lapse of Reason". Para ele o grande diferencial foi a experiência conquistada após tantos anos. "A experiência como músico só vem com anos e anos de muita prática e estudo. A prática diária ajuda você a descobrir sons que passam despercebidos em seus ouvidos. Só nas sessões de A Momentary Lapse of Reason que eu me senti completamente seguro de tudo o que fazia em estúdio. Tenho muito orgulho desse álbum". Quem poderia discordar? Afinal David Gilmour levou o rock, antes considerado um ritmo pobre, com poucos acordes e muitos clichês, a um novo patamar musical. Uma revolução no estilo que ecoa até os nossos dias.
 
Roger Waters - Pink Floyd
Vejo pessoas reclamando das posições políticas e ideológicas do baixista Roger Waters, Ex-Pink Floyd, e percebo que essas mesmas pessoas apresentam total desconhecimento de sua vida. Roger tem uma posição política mais progressista porque é um roqueiro dos anos 60 e também porque seu pai morreu durante a II Guerra Mundial. Ele lutava contra o nazismo. Qualquer coisa que cheire ou que venha a se parecer com algum tipo de regime totalitário já deixará o músico de cabelos em pé.

O termo "progressista" aqui não tem nada a ver com ser de esquerda, ou pior, ser comunista. Dentro da polaridade em que vivemos muitos são taxados de comunistas sem nunca o terem sido. Waters passa longe disso. Ele é um capitalista que sabe jogar muito bem o jogo do mercado. Tanto que coloca seu show na estrada e o vende. Quer algo mais empreendedor do que isso? Não há.

Assim em seus shows no Brasil Roger Waters chegou a ser chamado de esquerdista, comuna e outras besteiras. Algo parecido acontece com o Papa Francisco, dito por radicais como um comunista no Vaticano. Gente, vamos pensar melhor. Tanto Roger Waters como o Papa Francisco são acima de tudo humanistas. Eles vão combater qualquer ideologia política que venha surgir que pareça minimamente radical. Eles viveram na pele e em seus passados a brutalidade de regimes de exceção. Esperar algo diferente de pessoas como eles é simplesmente fechar os olhos para a realidade (e a história).

Pablo Aluísio.