terça-feira, 25 de maio de 2010

Elvis Presley - Elvis Today - Parte 1-2

Vamos começar pelo pior. Se eu tivesse que escolher a canção mais fraca desse disco certamente minha escolha seria a balada romântica "Woman Without Love", O que levou Elvis a gravar essa faixa segue sendo um mistério. Não era uma canção conhecida no meio e nem tinha nada a ver com o tipo de sonoridade que Elvis vinha desenvolvendo nessas sessões. Muito piegas, tinha uma mensagem que nos dias de hoje poderia ser qualificada como "embaraçosa".

A letra é bem antiquada, nada condizente com a nova mulher que surgia no mundo, principalmente a partir dos anos 60. Há um trecho na letra que diz que um homem sem amor seria apenas a metade de um homem, porém uma mulher sem amor seria absolutamente nada! Que coisa mais cafona! Elvis poderia passar sem essa. Mensagem totalmente fora de moda. Se fosse nos dias atuais, com esse texto politicamente incorreto, as feministas iriam pedir a cabeça de Elvis em uma lança!

"I Can Help" tem até um bom refrão, porém sua repetição à exaustão cansa um pouco o ouvinte. No meio de tantas letras tristes e melancólicas, que tinham se tornado uma espécie de padrão dentro da discografia de Elvis, essa ia pela contramão, trazendo algo de positivo, com o autor em primeira pessoa dizendo que sim, ele poderia ajudar. Em certos aspectos me lembrou até mesmo de "Bridge Over Troubled Water", porém sem ser dramática em excesso. A mensagem que Elvis passava aqui era bem direta, do tipo "Você tem um problema? Não precisa se preocupar! Seja lá o que for, bom, eu posso ajudar!". Bacana, ponto positivo no disco, afinal uma mensagem para cima, alto astral, sempre seria muito bem-vinda - principalmente para Elvis que parecia ter entrado numa roda viva de depressão e auto piedade destruída.

Do country "Susan When She Tried" eu particularmente gosto bastante. É um som bem Dixieland, próprio para os sulistas (do sul dos Estados Unidos, obviamente). Penso até que a letra, levemente truncada, não faria muito sentido para os nortistas, nova-iorquinos, etc. É uma coisa bem milho, bem campo. Claro há um subtexto compreensível, porém se formos pensar bem essa forma de falar era típica mesmo dos "confederados" do sul. E Elvis como um típico homem do sul, captou muito bem essa mensagem, diríamos, "cifrada". Dizem que Elvis cogitou promover mais a música em concertos pelas cidades sulistas, mas se isso for verdade tudo ficou mesmo apenas na intenção pois ele definitivamente não fez qualquer esforço para cantá-la em suas longas, estafantes e cansativas turnês pelas terras de Dixie.

O álbum "Elvis Today" não foi um sucesso de vendas. Na realidade ele passou meio ignorado pelo mercado. Naquela época a sonoridade que fazia sucesso era a da discoteca e o próprio Rock que ainda sobrevivia nas paradas era muito diferente do tipo de som que Elvis vinha apresentando em seus álbuns. O cantor havia optado por cantar baladas ao estilo country and western de Nashville, além de se concentrar em baladas românticas dolorosas, de dor de cotovelo. Dificilmente um jovem que curtia Pink Floyd ou Led Zepellin nos anos 70 iria se interessar por um material desses.

Assim Elvis entrou numa espécie de mundo próprio, onde ele cultivava suas dores emocionais. O repertório das músicas escolhidas por ele mesmo refletiam esse estado de espírito em que ele vivia. Cada gravação, cada letra, tinha algo em comum com o que ele sentia. Algumas músicas eram claros recados indiretos que Elvis insistia em mandar para sua ex-esposa Priscilla. Com isso Elvis foi se tornando cada vez mais pessoal em seus discos, ao mesmo tempo em que as vendas iam piorando. Apenas um seleto grupo de fãs de sua carreira seguiram fiéis aos seus álbuns. O resto do público tinha a tendência de ignorar o que ele vinha produzindo em estúdio.

"Elvis Today" por isso não foge do tipo de disco que Elvis vinha apresentando nos últimos anos. Há muito country, bastante baladas românticas e um ou outro momento que podemos chamar de rock, só para lembrar que ele ainda era o aclamado "Rei do Rock", embora na prática fosse venerado à distância pela nova geração de roqueiros. Todos o elogiavam pelo seu passado, pelo que tinha feito no surgimento da popularização do rock, mas não estavam mais interessados nas viagens de ego ferido do cantor. Era tão pessoal que parecia importar apenas a Elvis e seu público sulista country mais próximo.

A boa notícia, pelo menos para os fãs brasileiros, foi que o disco foi lançado em nosso país no mesmo ano de seu lançamento nos Estados Unidos. A filial da RCA no Brasil havia deixado de lançar vários LPs de Elvis nos anos 70. "Elvis Country", "Love Letters", "Good Times" e até mesmo o disco ao vivo em Memphis em 1974 não tiveram edições nacionais. Assim não deixou de ser uma boa surpresa encontrar esse álbum nas lojas brasileiras, onde finalmente o fã tinha acesso a material mais recente gravado pelo cantor.

Pablo Aluísio.

Elvis Presley - Elvis Today - Parte 3

"T-R-O-U-B-L-E" abria o álbum em sua edição original. Uma bela faixa, bem movimentada, um rock com sabor dos bons clássicos do gênero. É interessante porque assim como Elvis abria o disco anterior, "Promised land", com a famosa canção escrita por Chuck Berry, no mais puro estilo roqueiro em seus primeiros anos, aqui ele repetia a dose, mandando ver em uma música muito bem gravada, com pique, fazendo jus ao seu título de "Rei do Rock". Seria uma resposta de Elvis a todos aqueles que o criticavam por ter deixado o gênero musical que o consagrou nos anos 50? É bem provável que sim.

Outro aspecto curioso sobre essa faixa é que ela acabava gerando confusão entre os que não conheciam muito bem a carreira e a discografia de Elvis. Muitos pensavam que era uma regravação da antiga "Trouble" do filme "King Creole" (Balada Sangrenta, no Brasil). Um erro absurdo, mas que muita gente cometeu na época. Quando chegavam em casa e colocavam o vinil para rodar tinham uma surpresa e tanto, pois era outra música, completamente diferente, nada tendo a ver com o clássico dos anos 50.

Outra canção que gosto desse disco é "Shake A Hand". Claro, nunca foi unanimidade entre os fãs de Elvis. Alguns acham que apesar do bom começo o uso excessivo do refrão a desgasta. Não penso assim. A música tem obviamente um claro sabor gospel. Afinal em cultos evangélicos americanos, principalmente no sul, a busca por um sentimento de comunhão entre os fiéis fazia com que todos batessem palmas e cantassem em coro. Era uma forma de todos os crentes se sentirem unidos numa só voz, em um sentimento forte de fé coletiva.

O diferencial é que a letra não era religiosa, mas sim romântica. Elvis aqui canta sobre um homem apaixonado que tenta acalmar sua mulher amada, trazendo palavras de apoio, dizendo que tudo ficará bem, que ela não precisa se preocupar, basta apenas dar as mãos. Elvis, o bom samaritano apaixonado, surgia claramente em versos como: "Basta deixar isso comigo / Nunca fique envergonhada / Basta me dar uma chance / Eu vou cuidar de tudo / Seus problemas vou compartilhar / Deixe que eu saiba e eu estarei lá / Eu vou ficar perto de você / Em qualquer lugar e em todo lugar". A cumplicidade apaixonada sugerida entre o casal ficava ainda mais clara em trechos como "Seja sincera comigo / Eu vou ser sincero com você / Eu estou tão apaixonado por você / Até não saber o que fazer". O ritmo é cadenciado, trazendo até um sentimento também do bom e velho blues. Ou seja, uma verdadeira mistura de ritmos e intenções. Nada mais típico em se tratando de Elvis Presley.

Pablo Aluísio.

segunda-feira, 24 de maio de 2010

Elvis Presley - Elvis Today - Parte 4

Para muitos fãs de Elvis a melhor música desse álbum é a romântica "And I Love You So". Não tiro a razão de quem pensa assim. Certamente a canção é uma das melhores do álbum, uma gravação tecnicamente perfeita, com Elvis colocando toda a emoção em sua performance. O produtor Felton Jarvis também caprichou, colocando instrumentos adicionais, embelezando ainda mais a faixa. Também seguia sendo uma das preferidas de Elvis, a tal ponto que ele a cantou várias vezes no palco durante suas turnês dos anos 70.

Essa música romântica só não fez maior sucesso na voz de Elvis porque ela havia sido recentemente gravada por outro cantor da RCA, Perry Como, que inclusive deu seu nome como título para seu LP. Composta pelo cantor e compositor folk Don McLean, a música já havia de certa forma esgotado seu potencial de virar um hit nas rádios. Elvis sabia que ela não iria se tornar um sucesso na sua voz, mas a gravou simplesmente porque a considerava uma bela melodia. Melhor para seus fãs, pois o cantor legou para eles uma de suas melhores interpretações nessa fase final de sua carreira.

"Pieces Of My Life" também tinha um excelente arranjo. Essa música era seguramente uma das mais tristes do disco, por causa de sua harmonia e sua letra. Essa era uma conversa ou melhor dizendo, um momento de confissão, de um homem que olhava para seu passado e seu presente e não se orgulhava dele. O primeiro estrofe deixava bem claro que o autor está em uma espécie de bordel, bebendo e se lamentando da decadência moral de sua vida.

Os versos são de lamento e arrependimento, como no começo da canção onde Elvis canta frases como essas: "Um copo de vidro cheio de whiskey / E mulheres que eu nunca conheci muito bem /  Deus, as coisas que eu tenho visto e feito / A maioria delas eu ficaria envergonhado de dizer / Eu não sei como isto começou / Mas é isto que faz de um homem, "um homem" - eu acredito! / Agora eu estou agarrado ao "nada", tentando esquecer do resto". Provavelmente algum jornalista mais desavisado deve ter ouvido essa música e chegado na "brilhante" conclusão de que Elvis era um alcoólatra, como muitas vezes li em matérias publicadas por ai. Nada mais longe da verdade. Puro fruto de desinformação e ignorância da chamada "grande imprensa".

Pablo Aluísio. 

Elvis Presley - Elvis Today - Parte 5

"Fairytale" é o country do conto de fadas. Eu sempre considerei uma música agradável de se ouvir, onde Elvis incorporava mesmo o caipira do sul dos Estados Unidos. Um fato curioso é que segundo as pessoas mais próximas a ele, inclusive sua turma da máfia de Memphis, Elvis sempre sintonizava nas estações de música country quando estava em seu carro, saindo de um show ou então indo para algum hotel após seu avião pousar no aeroporto. Isso demonstrava que ele estava mais interessado no cenário da música country da época do que em rock.

Aliás Elvis parece ter parado de acompanhar os grupos de rock nos anos 60. Os discos dos Beatles tinham sido a última coisa que havia lhe chamado a atenção. Depois nos anos 70 ele passou a ouvir basicamente música religiosa e música country. Nada mais. Por isso não é de se admirar que seus discos quase sempre fossem nessa direção. Assim uma faixa como "Fairytale" soava muito natural em seu repertório de estúdio, muito embora fizesse os roqueiros torcerem o nariz quando ouviam esse tipo de sonoridade.

Um fato interessante sobre esse disco é que Elvis até demonstrou muita boa vontade em promover as faixas em seus shows, algo que não vinha acontecendo com LPs anteriores. A RCA Victor também decidiu se mover um pouco melhor, já que as vendas de cópias vinham caindo progressivamente nos últimos anos. Afinal Elvis sempre foi um dos grandes vendedores do selo, o seu maior astro comercial e não havia mesmo sentido em tratar com tanto descaso seus últimos lançamentos. Assim a faixa "Bringin' It Back" foi até bem trabalhada pela RCA, reforçando sua promoção nas estações de rádio. Só que todo o esforço foi em vão. Embora seja uma bela música ela nunca chegou a ser um sucesso, um hit.

E de todas as canções do estilo country desse álbum nenhuma era mais nostálgica e saudosista do que a bonita "Green Green Grass Of Home". Aqui Elvis não escondeu todo o seu sentimento de orgulho sulista. É curioso que mesmo após ficar rico e famoso, Elvis não abriu mão de continuar morando em Memphis, sua adorada cidade. Ele poderia ir morar em Nova Iorque, Los Angeles ou qualquer outra grande cidade dos Estados Unidos, mas não quis deixar de lado suas raízes. Sempre preferiu a suburbana e secundária Memphis de seus anos de infância e adolescência. Assim fica plenamente justificada a gravação de uma música como essa. Era o mais puro estilo do sul que Elvis tanto adorava.

Pablo Aluísio.

domingo, 23 de maio de 2010

Elvis Presley - Promised Land - Parte 1

Esse disco "Promised Land" fez parte da última fase da carreira de Elvis. No ano em que esse álbum chegou no mercado Elvis completou 40 anos de idade. Ele se sentia velho! Era algo que dizia abertamente para pessoas próximas, algo que o preocupava muito. Elvis achava que sua carreira não teria mais muitos anos pela frente. Os amigos lhe tranquilizavam dizendo que outros artistas mais velhos, como Frank Sinatra, continuavam na ativa, fazendo shows e gravando discos, mas Elvis não parecia convencido. "Eu não sou mais um garoto!" - costumava repetir.

No dia em que Elvis completou 40 anos ele decidiu se isolar em Graceland. Não queria receber ninguém, não dar entrevistas, apenas ficar em reclusão completa. A imprensa americana não ajudou. Inúmeras reportagens atacavam Elvis. Dizendo que ele estava acima do peso, chegando numa fase da vida em que não fazia mais sentido ser roqueiro. Como aquele cantor, que havia sido o ídolo da juventude, iria se comportar agora que estava com 40 anos? Hoje em dia achar que alguém com essa idade já é um velho soa como algo completamente absurdo. Porém o preconceito naquela época era bem maior.

O disco chegou nas lojas nesse ambiente meio hostil. A imprensa atacando, Elvis com a auto estima em baixa, críticas ruins por todos os lados. Era complicado manter uma postura otimista. Mesmo assim o álbum abria com um rock vibrante de Chuck Berry. A versão original de "Promised Land" era de 1964. Em pleno auge da Beatlemania, Berry mostrava porque era considerado um dos grandes nomes do rock ´n´ roll, um verdadeiro pioneiro do estilo. O curioso é que a faixa chegava no mercado através do disco "St. Louis to Liverpool", uma maneira marota de Chuck Berry em chamar a atenção para sua música em uma época em que todo mundo só falava dos Beatles.

A gravação de Elvis e a TCB Band era mais vibrante do que a própria gravação original de Berry. Mais bem tocada, melhor gravada. Elvis deu total liberdade para seu guitarrista James Burton, que improvisou como nunca. O grupo estava muito entrosado, fruto de anos de trabalho em estrada. Por isso não houve maiores problemas em estúdio. Elvis cantou a música com a letra na mão. Berry era um grande letrista, geralmente impondo uma narrativa quase cinematográfica em suas músicas. O saldo final foi excelente. Muitos fãs inclusive queriam que Elvis gravasse mais rocks nessa fase de sua vida, já que ele parecia muito concentrado em gravar música country e baladas românticas. A versão dele desse clássico de Chuck Berry acabou sendo a resposta que todos esperavam.

Pablo Aluísio. 

Elvis Presley - Promised Land - Parte 2

Eu gosto muito da melodia de "Mr. Songman". Essa é uma música para se cantar em coro, de forma coletiva. Elvis sabia disso e acabou fazendo uma excelente performance vocal. Qualquer fã de Elvis sabe que no final da carreira ele se aproximou muito desse estilo mais gospel, tentando de certa maneira voltar aos tempos de criança, aos cultos evangélicos em Memphis.

A canção havia sido escrito por Donnie Sumner e logo chamou a atenção do cantor que nem demorou muito para gravar sua própria versão. Quem escuta percebe que Elvis estava adorando tudo ali. Era bem o estilo de música que ele queria cantar no período final de sua vida.

Eu costumo afirmar que esse álbum "Promised Land" foi uma bela coleção de faixas românticas que acabou sendo ignorada pelo grande público. Os fãs de Elvis estavam sempre apreciando seus trabalhos em disco, mas como muitas dessas canções não fizeram sucesso acabaram sendo ignoradas pelas pessoas em geral. Uma pena pela qualidade envolvida no material.

"There's a Honky Tonk Angel" é um exemplo de belo momento que passou despercebido por muitos. A melodia é bem melancólica, temos que admitir, provavelmente teria poucas chances de ser um hit, um sucesso nas rádios, mas mesmo assim é um grande momento do álbum. Foi lançada pela primeira vez pelo cantor country Conway Twitty. Era a primeira música de trabalho do disco, chamado oportunamente de "Honky Tonk Angel". Dentro do universo country de Nashville até que acabou chamando um pouco de atenção, o que diminuiu ainda mais as chances de se destacar na voz de Elvis porque afinal não era mais uma novidade quando foi finalmente lançada pela RCA Victor. E é bom frisar que mais uma vez a versão de Elvis ficou bem superior. Basta ouvir as duas gravações para perceber bem isso.

Pablo Aluísio.

sábado, 22 de maio de 2010

Elvis Presley - Promised Land - Parte 3

"Love Song of the Year" foi composta pelo  compositor e produtor musical texano Chris Christian. É uma das canções mais melancólicas desse álbum. A letra tem uma frase muito expressiva que diz: "Então, eu confesso a minha solidão". É justamente esse o tema da canção, a solidão. Em primeira pessoa o autor olha para o passado e faz uma espécie de comparação com o seu presente, admitindo seus erros para a pessoa amada. É uma tristeza de cortar coração, para ser bem sincero. Imagino Elvis no estúdio cantando com a alma sobre esse tema tão triste, cantando sobre a solidão, o amor perdido, a percepção que deixou seus melhores anos para trás.

A canção acabou sendo recebida como uma original por Elvis Presley, pois não havia sido gravada por ninguém antes. O curioso é que nem Elvis e nem a RCA Victor não fizeram nenhum esforço pela faixa nos meses seguintes após sua gravação. Elvis não se interessou em levar a música para os palcos, talvez por ser intimista demais e a RCA, por sua vez, a lançou no disco "Promised Land" como um autêntico Lado B, ou seja, uma faixa para completar o álbum e nada mais. Uma pena, pois pela beleza triste de sua melodia poderia ter alcançado maior repercussão nas rádios, nem que fosse apenas para o público country e fã de Elvis, naqueles estados sulistas onde ele tinha seu fan club mais leal e apaixonado.

"You Asked Me To", escolhida para ser a última música da edição original do disco (em sua versão americana), também não mereceu destaque. Outro Lado B autêntico dentro da discografia de Elvis. Originalmente ela foi lançada como single, na voz de seu autor Waylon Jennings. Ele e Elvis gravaram praticamente na mesma época, mas Elvis teve sua versão arquivada pela RCA Victor por dois longos anos. Quando chegou no mercado o impacto já havia passado. Já Waylon Jennings colheu melhores frutos. A música fez sucesso no circuito de Nashville e ele alcançou um honroso oitavo lugar entre os mais vendidos da parada country. Isso significava não apenas um bom dinheiro vindo das vendas do compacto, como também oportunidade de fazer mais shows em rodeios de gado e festivais pelo sul.

Já a versão de Elvis gravada no Stax Records studios, em Memphis, era bem mais convencional. Como Elvis andava procurando letras com que se identificasse essa também viria bem a calhar, pois trazia o sentimento mais verdadeiro do homem comum, trabalhador, que resolvia, mesmo sendo um sujeito durão, confessar para seu amor tudo o que pensava após anos de relacionamento. Era um desabafo emocional. Alguém apaixonado (até mesmo tolo, como confessa) que ainda estaria disposto a fazer de tudo por esse amor desde que ela lhe pedisse. É a declaração de um homem sem medo de ser piegas no mundo rural em que vivia. Enfim, uma balada country bem enraizada. Ficou muito bom, inclusive com os devidos créditos aos solos de James Burton, aqui relembrando um pouco os tempos em que tocava na banda de Ricky Nelson.

Pablo Aluísio.

Elvis Presley - Promised Land - Parte 4

"It's Midnight"  é a mais bela música romântica desse disco. Para alguns a canção pode até soar melancólica e triste em doses excessivas, mas particularmente gosto muito. Além disso é uma letra que tem muito a ver com o próprio Elvis. Não é segredo para ninguém que ele sofria de insônia desde a juventude. Isso o levava a ficar muitas horas acordado durante à noite, enquanto todos estavam dormindo. É uma situação solitária por si mesma. Algo que Elvis poderia se identificar facilmente.

As coisas pioravam ainda mais quando se sabe que Elvis não conseguia esquecer Priscilla. Certo, ele sempre tinha uma mulher por perto, em especial Linda, mas nem isso parecia acalmar seu lado emocional, algo que fica bastante claro em versos como esses: "Eu deveria tentar dormir / Descansar a minha cabeça e tentar esquecer você / Oh mas é meia-noite e eu sinto a sua falta!". Então podemos imaginar Elvis revirando em sua cama, tentando dormir, mas sem conseguir, sempre pensando na ex-esposa, na traição que sofreu, no novo relacionamento dela. Certamente era uma situação aflitiva para Elvis. Isso talvez explique também o constante uso de remédios para dormir em doses cada vez maiores ao longo dos anos. Não deve ter sido fácil.

E então vem de certa forma o pedido de ajuda, o pedido de socorro em "Help Me". É curioso porque essa canção, com seu bom ritmo gospel e boa performance vocal de Elvis, nunca me deixou um sentimento de melancolia. Ao invés disso sempre achei seu ritmo de bom astral, de boa índole. Elvis a usou bastante ao vivo, coisa rara em se tratando de músicas desse álbum. No geral ele gravou as faixas aqui em estúdio e depois não as utilizou em sua agenda de concertos. "Help Me" é uma exceção. Inclusive ela surgiria novamente em sua discografia no disco gravado ao vivo em Memphis, aquele mesmo que trazia a mansão Graceland na capa.

A letra é uma confissão, ou melhor dizendo, um diálogo com Deus. Elvis canta com o coração aberto em versos diretos como esses: "Senhor, ajude-me a caminhar / Outra milha, só mais uma milha / Estou cansado de andar sozinho / Senhor, ajude-me a sorrir / Outro sorriso, só mais um / Eu sei que não posso fazer isso sozinho". E ele continua, admitindo que já não pode mais resolver tudo sozinho, por ele mesmo: "Eu nunca pensei que precisasse de ajuda antes / Eu pensei que eu poderia fazer as coisas sozinho / Agora eu sei que eu não aguento mais / Com um coração humilde, de joelhos / Eu estou implorando, por favor, me ajude!". Eis aqui uma mensagem bem sincera por parte de Elvis. Juntando seu lado mais religioso com a coonfissão de seus anseios, medos e angústias. Ficou tudo muito sincero e bonito.

Pablo Aluísio.

Elvis Presley - Promised Land - Parte 5

A primeira vez que ouvi o country "You Love's Been a Long Time Coming" não foi através desse disco, mas sim de outro, intitulado "Our Memories of Elvis" que trazia as músicas em versões mais limpas, cruas, tais como tinham sido gravadas em estúdio por Elvis. Não havia o dito "embelezamento" das gravações através do trabalho posterior do produtor Felton Jarvis.

Dito isso devo dizer que é uma daquelas canções do estilo country que mais aprecio por parte de Elvis. Certo, não há nada de muito especial em termos de letra ou melodia, mas aqui a performance vocal de Elvis faz toda a diferença do mundo. Ele parecia gostar mesmo da canção e se empenhou para dar o melhor de si em seu trabalho no estúdio.

"Thinking About You" é outro country do álbum. Essa já sempre achei apenas mediana, na média mesmo. Um autêntico Lado B da carreira de Elvis Presley, muito embora ele a cante com firmeza e concentração.  Ouvindo esse tipo de faixa gravada por Elvis nos anos 1970 fico com a sensação de que ele basicamente escolhia dois tipos de músicas para seus discos. O primeiro tipo era aquele que visava ser usado em shows, tentando transformar essas músicas em hits, sucessos. O segundo tipo - categoria que essa canção se enquadra - era gravado mais para ganhar a simpatia dos críticos de música. Era uma canção mais introspectiva, mais cadenciada. Provavelmente nunca fariam sucesso em cima de um palco e Elvis sabia disso.

Muita gente boa por aí, grandes fãs de Elvis ao redor do mundo, admiram bastante a música "If You Talk in Your Sleep". Para esses é uma das melhores do disco "Promised Land". Com influência até mesmo da black music de Nashville e Memphis, esse seria um dos pontos altos do LP. Penso um pouco diferente. Não nego as qualidades inerentes nesse tipo de canção dentro da discografia de Elvis, porém a considero apenas regular. OK, era um sopro de renovação dentro de seu repertório, porém Felton Jarvis a prejudicou um pouco depois ao acrescentar um arranjo mais exagerado, expressivo em demasia. Penso até que nem Elvis pensaria em colocar tantos instrumentos assim. Algo mais cru ficaria mais autêntico e vibrante.

Pablo Aluísio.

sexta-feira, 21 de maio de 2010

Elvis Presley - Elvis as Recorded Live on Stage in Memphis - Parte 1

Esse disco de Elvis Presley só chegou no Brasil nos anos 1990. Originalmente ele foi lançado nos Estados Unidos em 1974. É um disco oficial, ao vivo, muito lembrado por trazer na capa a fachada de Graceland e na contracapa os portões musicais. Tudo de muito bom gosto, em minha opinião. Só que nunca foi lançado em nosso país na época (da discoteca), fruto, claro, do atraso que havia no Brasil aliado a uma filial da RCA Victor que não estava muito interessada com a discografia de Elvis no mercado americano. Uma lástima.

Pois bem, confesso que quando encontrei o disco finalmente nas lojas brasileiras (isso deve ter sido lá por volta de 1992), não fiquei muito animado em adquirir o disco. Havia outro fator interessante: a versão em CD (compact-disc) também estava sendo lançada. Assim o colecionador de Elvis ficava na dúvida entre comprar o vinil, um formato que comercialmente estava morrendo naquele momento ou então o tão elogiado CD.

Acabei comprando o vinil. Foi uma decisão que hoje em dia nem me recordo mais como explicar. A cópia em LP tenho até hoje. Provavelmente a capa maior e mais rica em detalhes me levou a tomar essa decisão, mas nada muito claro em minhas lembranças. O conteúdo também se revelou muito bom, acima das expectativas. Elvis estava com o vozeirão mais encorpado, mais poderoso. Isso deu um sabor extra ao disco. Provavelmente Elvis cantou tão bem por estar em Memphis, sua cidade do coração. Havia na plateia muitas pessoas próximas dele e ele queria obviamente mostrar todo o seu talento. Um rei não pode fraquejar diante de sua corte. Além disso ele queria provar que santo de casa também faz milagres!

Também foram inseridos efeitos sonoros, com o aumento da presença do público no disco. O que antes eram palmas mais contidas no final de cada música agora soava mais como um grande e ininterrupto delírio coletivo. O curioso é que muitos ainda afirmam que o disco não passou realmente por esse, digamos, potencializado efeito de áudio da reação dos fãs, mas em minha opinião houve sim por parte dos engenheiros de som da RCA uma mexida, uma balançada para deixar o disco mais vibrante, mais feroz! O resultado me agrada ainda hoje. Sempre que quero ouvir um disco mais forte ao vivo, o Memphis 74 sempre acaba sendo o escolhido. Prova que fizeram mesmo um bom trabalho na mesa de som.

Pablo Aluísio.

Elvis Presley - Elvis as Recorded Live on Stage in Memphis - Parte 2

Vou me concentrar basicamente na edição original americana da década de 1970. Como se sabe esse álbum de Elvis teve várias edições posteriores, inclusive trazendo diversas músicas que não estavam no LP original. A era do CD trouxe mais espaço do que o antigo vinil, além é claro de que nas edições posteriores os interesses da RCA Victor eram bem outros, assim como o marketing também havia mudado, etc.

Pois bem, para quem era colecionador na época de seu lançamento original o que importava era ter novas canções, novas faixas, gravadas por Elvis ao vivo. Os LPs trazendo material "live" já tinham se tornado rotina dentro de sua discografia, então era natural que as novidades de palco se tornavam grandes atrativos de vendas nas lojas de discos. O problema é que Elvis vinha com um repertório mais engessado, desde que retornara aos shows em 1969. Assim a gravadora estava sempre sugerindo ao cantor para que ele inovasse mais na lista de músicas, pois assim o selo teria material mais atrativo para o colecionador de sua discografia.

Nesse quesito de novidades o disco trazia uma versão inédita e pouco conhecida da música "Help Me". Era uma canção gospel ainda não lançada nos discos do cantor. Só depois ela iria chegar ao mercado em sua versão de estúdio no álbum "Promised Land". Era conhecido o fato de que Elvis sempre procurava encaixar alguma canção com letra religiosa em seus concertos. Fazia parte de sua formação musical e de sua personalidade como homem de fé. E esse gospel em particular tinha bom ritmo, boa pegada, para apresentações ao vivo. A letra, como já comentei, era um diálogo pessoal entre ele e Deus, onde de forma humilde pedia por ajuda, uma vez que havia chegado na conclusão de que já não tinha forças suficientes para resolver todos os problemas de sua vida sozinho.

Outra novidade era esse medley de pouco mais de três minutos trazendo "Blueberry Hill / I Can't Stop Loving You", A primeira tinha sido gravada por Elvis nos anos 1950, fazendo parte de seus disco "Loving You" e a segunda era figurinha fácil desde que Elvis voltara aos palcos em 1969 no International Hotel. Ficou muito boa a junção dessas faixas, principalmente nos primeiros acordes de "Blueberry Hill", um clássico do surgimento do rock nos Estados Unidos, ainda na voz de Fats Domino. O piano sempre foi o grande diferencial, trazendo uma harmonia que era pouco explorada em discos de rock naqueles tempos pioneiros.

Pablo Aluísio.

quinta-feira, 20 de maio de 2010

Elvis Presley - Elvis as Recorded Live on Stage in Memphis - Parte 3

Esse disco ao vivo tem uma boa quantidade de músicas dos anos 50 e Elvis usou o mesmo estilo de cantar daquela época, o que deu um sabor bem nostálgico em sua interpretação. Algo fácil de perceber em faixas como "My Baby Left Me", canção que marcou bastante a carreira do cantor em seus anos iniciais. A versão de 74 não dura muito, é verdade, mas serve como lembrete ao público que aquele que estava no palco naquele momento era conhecido como o Rei do Rock.

"Lawdy, Miss Clawdy" chegou na discografia de álbuns ou LPs da RCA Victor no "For LP Fans Only", uma coleção de músicas que a gravadora lançou enquanto Elvis cumpria serviço militar na Alemanha, no final dos anos 50. Na capa Elvis aparecia com seu cabelo na cor natural, loiro, o que surpreendeu muita gente na época que pensava ser o preto seu cabelo real. Na verdade Elvis vinha pintando o cabelo desde muito cedo. Ele não gostava muito do amarelo de sua mechas e preferia ser aquele cara de olhos azuis e cabelo bem preto, aliás uma combinação que Elvis parecia preferir também nas mulheres. Priscilla, por exemplo, tinha essa combinação, O que talvez explique sua paixão por ela.

"I Got A Woman" também era dos anos 50, de seu primeiro disco na RCA Victor. Nos anos 70 Elvis a modificou bem, fazendo uma dobradinha com "Amen", canção gospel. Havia virado uma rotina em seus concertos, um pequeno medley que ele cantava sempre no começo dos shows. Inicialmente era interessante, Elvis aproveitava para provocar um pouco o público feminino, porém com o passar dos anos esse momento foi ficando saturado, principalmente para os músicos de sua banda, tendo sempre que tocar a mesma partitura. E Elvis foi também "avacalhando" ainda mais, a transformando quase em uma paródia. Hoje em dia já passou da saturação excessiva, principalmente para quem gosta de colecionar seus trabalhos ao vivo. Cansou completamente.

Uma boa surpresa para o colecionador da época vinha com o extenso medley de rocks dos anos 50 trazendo "Long Tall Sally / Whole Lot-ta Shakin' Goin' On / Mama Don't Dance / Flip Flop And Fly / Jailhouse Rock / Hound Dog". É a tal coisa. Todos sabem que Elvis já não tinha mais muita paciência para essas músicas, não depois de as interpretar por anos a fio. Porém o público queria ouvir ele cantando esses momentos. Não havia saída, Elvis tinha que cantar seus clássicos. Assim ele acabou juntando tudo em um medley. Isso me faz lembrar também de um conselho de Frank Sinatra que havia dito a Elvis que não mudasse muito a lista das músicas de seus concertos, que apostasse nos sucessos para ninguém sair decepcionado de suas apresentações.

Pablo Aluísio.

Elvis Presley - Elvis as Recorded Live on Stage in Memphis - Parte 4

A primeira vez que um fã de Elvis, ainda nos anos 70, ouviu em disco a música "See See Rider" foi no bom álbum "On Stage - February 1970". Depois a música iria passar um tempo sem aparecer em seus discos ao vivo. A RCA Victor evitava repetir uma mesma faixa várias vezes. Ela retornaria em sua discografia aqui nesse álbum de Memphis. A voz de Elvis estava bem mais encorpada, poderosa na opinião de alguns fãs. E a música, mesmo sendo usada por Elvis nos palcos à exaustão, não perdia o brilho. De certa maneira fácil de cantar, com letra simples e bom balanço, para levantar mesmo o público, era mesmo uma canção à prova de falhas no palco.

Já "Why Me Lord" era novidade, uma das inéditas que levaram os fãs a comprar o disco de todo jeito, mesmo se não estivessem muito a fim de ter outro disco ao vivo de Elvis. Sempre que a RCA mostrava interesse de lançar algum disco "Live" de Elvis no mercado lhe era sugerido que fossem colocadas músicas novas em seu repertório. Era a isca, o jeito de fisgar o colecionador. Em termos de interpretação nada o que criticar. Elvis em músicas religiosas colocava o coração em cada sílaba. Era impressionante ver como ele conseguia atingir notas altas, impossíveis mesmo para alguns cantores. Sempre que o gospel chegava no palco Elvis procurava dar tudo de si. Ele tinha realmente um grande sentimento religioso em seu alma. Era um homem de fé. Ninguém pode negar isso.

"How Great Thou Art" também estreava em álbuns na versão ao vivo, o que deve ter deixado muita gente surpresa. É fato bem claro que Elvis havia elevado o grau de dramaticidade nessa música quando a cantava em seus concertos. O refrão havia se tornado forte, bem mais espetacular do que se ouvia no disco original. Um crítico chegou a dizer que havia dado um pulo da cadeira quando Elvis soltou o vozeirão nessa canção em um concerto realizado no sul. Imagine, nesse lugares, na região conhecida como o "cinturão bíblico" dos Estados Unidos, Elvis realmente procurava caprichar pois sabia que o público era praticamente todo protestante.

"Let Me Be There" também era outra música que aparecia pela primeira vez na discografia de Elvis na época. O curioso dessa faixa é que a RCA Victor iria utilizá-la novamente no álbum "Moody Blue", inclusive usando da mesma gravação, da mesma faixa. Foi um caso bem único na discografia oficial de Elvis. Será que eles achavam que esse country iria passar como algo novo tendo em vista que o disco de Memphis não chegou a vender muito bem? Se foi esse o pensamento, então é mesmo de se lamentar tamanha artimanha para enganar os fãs. Afinal até parecia que não havia material inédito nenhum dentro da gravadora, algo que os anos iriam mostrar ser uma inverdade. De qualquer forma fica o registro. A música que você ouve no "Moody Blue" é a mesma que foi lançada inicialmente nesse disco. Um oportunismo não justificável por parte da gravadora de Elvis nos anos 70. Lamentável mesmo.

Pablo Aluísio.

Elvis Presley - Elvis as Recorded Live on Stage in Memphis - Parte 5

Já que o show foi realizado em Memphis nada mais natural do que Elvis trazer bastante country music em seu repertório. E se fosse do começo de sua carreira, melhor ainda. Havia um toque de nostalgia envolvida nessa apresentação, até porque apos tantos anos, voltar a se apresentar em Memphis, a cidade que Elvis considerava seu lar, era muito importante para ele. Assim ele colocou "Trying To Get To You" na seleção musical do concerto. Ele de fato gostava mesmo dessa música, tanto que ela foi figurinha fácil em suas turnês durante os anos 70. Dentro de sua discografia ela fez parte de seu primeiro álbum na RCA Victor. Era uma volta ao passado.

E também por Memphis ser uma das cidades sulistas mais importantes dos Estados Unidos, Elvis não poderia jamais deixar de cantar "An American Trilogy" para esse público. Essa foi uma música histórica, na verdade um medley, que unia músicas tradicionais, ainda dos tempos da guerra civil americana. Como se sabe esse conflito foi um dos mais devastadores da história dos Estados Unidos. E dentro da tragédia sempre a arte se faz presente para captar corações e mentes daqueles que viveram esses tempos difíceis.

Nessa guerra havia dois exércitos. O do sul, chamado confederado (porque eles defendiam a ideia de uma confederação, onde os estados poderiam deixar os Estados Unidos, se assim quisessem) e o do norte (que defendia que a secessão, a saída dos estados da união, não era possível). Os soldados do sul, com casacos cinzas, cantavam sobre Dixieland nos campos de batalha. Dixieland era um lugar utópico, nostálgico, que no fundo representava todo o sul dos Estados Unidos. Memphis era Dixieland, assim como Atlanta, Nashville, também eram Dixieland. Qualquer cidadezinha do sul, por menor que fosse, era Dixieland. Dixieland era o sul inteiro. Era um sentimento de paixão pelas origens, não um lugar bem delimitado geograficamente. Por isso Elvis jamais poderia deixar essa canção de fora em seu concerto de Memphis.

Por fim, fechando o show, Elvis não saiu do que costumeiramente fazia em outras turnês. Ele sempre encerrava seus concertos com a balada do filme Blue Hawaii chamada "Can´t Help Falling In Love". Eu sempre fiquei com um pé atrás de todas as execuções dessa balada em shows ao vivo. Acontece que ela deveria ser executada de uma forma terna, romântica. Só que no excesso de adrenalina dos concertos Elvis e banda sempre a aceleravam demais. Com isso a canção perdia parte de sua beleza em termos de harmonia e desenvolvimento. Assim sempre preferi mesmo a versão de estúdio da trilha sonora original. Foi a melhor performance de Elvis em toda a sua carreira. Nada supera aqueles belos arranjos e aquela bela vocalização por parte do cantor.

Pablo Aluísio.

quarta-feira, 19 de maio de 2010

Elvis Presley - Good Times - Parte 1

O LP "Good Times" não foi lançado no Brasil na época. Absurdo completo, mas essa era a nossa realidade em 1974. Nem tudo que era lançado nos Estados Unidos chegava nas mãos dos fãs brasileiros. Uma pena porque o disco era bom. Trazia finalmente material novo, inédito, gravado por Elvis no Stax Recording Studio, em Memphis. Como se sabe Elvis já não tinha mais a mesma disposição de ir até Nashville para fazer novas gravações. Preferia ficar por ali mesmo, nos arredores de Graceland. Era algo mais confortável para ele. Sem outra saída, a RCA Victor concordou com a mudança.

Esse é um álbum de boas baladas, country e um ou outro flerte com a black music, principalmente a produzida em Memphis. O Stax tinha longa tradição em gravações de artistas negros locais. Elvis que sempre bebeu dessa fonte ficou muito à vontade por ali. Reuniu basicamente sua banda de palco e foi para o estúdio em busca de material novo para seus discos. A primeira rodada de gravações aconteceu em julho de 1973.

"Good Time Charlie's Got The Blues" é certamente uma das músicas que mais aprecio dessa fase. Tecnicamente seria um blues com sabor country, escrito por Danny O'Keefe. Fez parte do primeiro álbum desse cantor e compositor em 1967. Ele era tipicamente um artista daquela época, do flower power, do chamado verão do amor. A guerra do Vietnã começava sua escalada rumo ao desastre e ele compôs essa balada de letra e harmonia bem melancólicas. Curiosamente o guitarrista James Burton diria anos depois que a faixa tinha sido um dos seus melhores trabalhos ao lado de Elvis, onde ele tocou seu instrumento apenas com a inspiração do momento, sem se importar muito com as partituras à sua frente. O solo ficou realmente muito bonito. Em seu lançamento original a canção chegou a um honroso nono lugar na parada Billboard Hot 100. Excelente posição!

Já "Spanish Eyes" era mais uma aproximação de Elvis com a música europeia. Ela havia sido gravada pela primeira vez em 1965 com seu título original, "Moon Over Naples". Al Martino foi quem a apresentou com sucesso pela primeira vez ao público americano. Andy Williams também conseguiu grande êxito de vendas com sua própria versão. Quando a música finalmente chegou nas mãos de Elvis já tinha outro nome, "Spanish Eyes", algo que atraiu Elvis desde que a conheceu anteriormente. É uma canção muito tradicional entre os descendentes latinos que vivem na América. Elvis realizou uma bela versão em estúdio, chegando a cantá-la também em concertos ao vivo. Em ambas as situações sua performance sempre foi das melhores. Era algo que claramente o inspirava a cantar bem.

Pablo Aluísio.

Elvis Presley - Good Times - Parte 2

Certa vez li um artigo escrito por um crítico de música inglês em que ele dizia que "Loving Arms" era o mais próximo que Elvis tinha chegado de gravar uma valsa. Uma valsinha com sabor country. Essa opinião não deixou de ter seu fundo de verdade. A canção realmente tinha um pouco dessa antiga e tradicional escola musical. Se bem que ela não foi composta em Viena, mas sim em Yakima, uma cidadezinha do estado de Washington. Foi lá que nasceu Tom Jans, cantor e compositor folk, country, que acabou tendo sua obra gravada por Elvis alguns anos depois.

A versão de Elvis foi obviamente inspirada não na gravação original de Tom Jans, mas sim na que saiu no disco de Kris Kristofferson. Elvis já havia gravado antes músicas desse talentoso ator e cantor, em especial "Help Me Make It Through The Night" que já tinha sido lançada no álbum "Elvis Now" de 1972.

O grande sucesso do disco "Good Times" porém foi inegavelmente a canção "My Boy". Era uma versão em língua inglesa da música original francesa que havia sido composta pela dupla Jean-Pierre Bourtayre e Claude François. Para muitos autores a canção mexeu com Elvis por causa da letra, versando sobre um pai e seu filho, após o fim de seu casamento. Algo bem próximo do que Elvis vinha passando em sua vida pessoal. Embora tenha se divorciado de Priscilla em 1972, o fim desse relacionamento jamais foi superado por Elvis. Pior era saber que Lisa Marie, sua filha, iria crescer em um lar desfeito. Elvis jamais conseguiu se conformar com isso. Era algo muito doloroso para ele do ponto de vista emocional. Assim a canção vinha como uma forma de mensagem sincera para sua filha.

"If That Isn't Love" sempre achei um pouco coadjuvante, sem brilho próprio. Um autêntico Lado B da discografia de Elvis. É uma canção romântica, uma declaração de amor com versos até simples. "Se isso não for amor / Então o oceano está seco / E não há estrelas no céu / E os pássaros não podem voar / Sim, se isso não for amor / Então o céu é um mito / Não há sensação como esta", Como se pode perceber pelos seus versos é uma canção romântica bem singela, novamente com claro estilo country, onde o autor tenta trazer esse sentimento amoroso bucólico, misturando seus sentimentos com aspectos da natureza. Um autêntico poema da primeira geração romântica. De uma forma ou outra chamou a atenção de Elvis que quis gravar sua versão da música.

Pablo Aluísio.

terça-feira, 18 de maio de 2010

Elvis Presley - Good Times - Parte 3

Pois é, quem disse que a vida ia ser fácil? Elvis em 1974 tentava ainda superar o fim de seu casamento. O divórcio tinha acabado com seu sonho de casal feliz um ano antes. O cantor ainda procurava justificativas, fazia reflexões e tentava superar a depressão. Muitas vezes aproveitava para mandar mensagens do que pensava nas letras das músicas dos discos que gravava.

Em "She Wears My Ring" Elvis cantava uma letra que ia direto ao ponto, se referindo ao anel de casamento. Só que o seu matrimônio havia sido uma experiência ruim. Como ele poderia ser ao mesmo tempo nostálgico sobre tudo o que aconteceu? Provavelmente chorava por uma idealização que nunca chegou a se concretizar. Diante de tudo isso sempre achei a música a mais baixo astral do álbum. Não empolga e no fim das contas chega a cair na monotonia em alguns trechos.

Ainda falando sobre os bons e velhos tempos, Elvis soava mais uma vez como pura nostalgia em "Talk About The Good Times". Esse country rock de maravilhosa melodia deveria ter se tornado um dos grandes sucessos de Elvis nos anos 70. Também deveria ter sido explorada mais por Elvis em seus concertos. Iria funcionar muito bem, principalmente por causa de seu ritmo contagiante. Infelizmente nada disso aconteceu. A RCA Victor nunca promoveu a gravação e Elvis não a levou para seu repertório de shows. Com isso acabou muito restrita, sendo conhecida basicamente apenas por seus fãs de longa data. Que desperdício!

"Take Good Care of Her" voltava para a melancolia. Cantar essa letra deve ter sido um martírio psicológico para Elvis. Nela um homem apaixonado se lamentava pelo fim de seu relacionamento. Sem ter chance de fazer nada sobre isso apenas dizia para o novo casal (sua ex-mulher e o novo homem dela) que eles deveriam se cuidar mutuamente, para serem felizes. Desiludido, chegava ao ponto de dar parabéns ao novo casal! Que dureza hein? Era como se Elvis se dirigisse a Mike Stone para dizer a ele que cuidasse bem de Priscilla, porque ela havia sido o maior amor de sua vida! Resignação completa, um homem de joelhos por causa da nova situação, tentando superar tudo da melhor forma possível! Psicologicamente tenho certeza não foi nada bom para ele gravar uma canção como essa! Não me admira a depressão ir aumentando dia a dia, tornando a doença uma companheira constante e nada agradável em sua vida.

Pablo Aluísio.

Elvis Presley - Good Times - Parte 4

"I Got a Feelin' in My Body" é uma das melhores músicas do álbum "Good Times". Em um disco de músicas mais voltadas para o romantismo, em um repertório de baladas country, essa faixa realmente se destacava por ser diferente. Ela foi composta por Dennis Linde, e oferecida quase que imediatamente para Elvis gravar. Para quem tinha composto o hit "Burning Love" era mais do que bem-vinda.

Porém como já havia virado tradição (negativa, é bom frisar) a gravadora RCA Victor nada fez para promovê-la nas rádios. Mal promovida, acabou não fazendo o sucesso que todos esperavam. O que é uma pena, já que ela tinha potencial, quase no mesmo nível que "Burning Love".

O curioso é que em 1979, já depois da morte de Elvis, a RCA decidiu relançá-la como lado A de um single com "There's a Honky Tonk Angel (Who Will Take Me Back In)". O resultado? Chegou ao sexto lugar na Billboard, parada country! Veja como a RCA cometia erros dentro da discografia de Elvis. Por que não a divulgaram em 1974? Sem palavras...

Do estilo mais dançante dentro do disco eu ainda prefiro "I've Got a Thing About You Baby". Nem preciso me repetir aqui. Essa é outra gravação ótima de Elvis que a RCA Victor não fez a menor questão de promover. O incrível é saber que a RCA (Radio Corporation of America) tinha centenas de estações de rádio ao seu dispor, fazia parte da mesma empresa. Só era necessário o envio de acetatos para essas rádios espalhadas por todos os Estados Unidos para transformar qualquer canção gravada por Elvis em sucesso instantâneo, mas ao invés disso a gravadora do cantor nada fez, não promoveu, não fez nada pelo disco. Assim ficava mesmo complicado se destacar nas paradas musicais da época.

Pablo Aluísio.

segunda-feira, 17 de maio de 2010

Elvis Presley - Raised on Rock - Parte 1

O disco "Raised on Rock" não foi muito bem sucedido do ponto de vista comercial. Só conseguiu chegar entre os 50 álbuns mais vendidos, segundo a parada da Billboard. Uma posição bem ruim para um astro do porte e da fama de Elvis Presley. Pior do que isso, era um álbum de gravações inéditas, o que deixou a RCA Victor perplexa pela falta de interesse dos próprios fãs de Elvis. Ninguém pareceu se interessar. Muito se criticou também na época de lançamento que era um LP muito curto (não chegava nem a 30 minutos de duração), sem grandes sucessos e músicas de impacto. Faltava uma "Burning Love", por exemplo, para puxar as vendas para cima. Sem hits, acabou ficando no vácuo.

E isso não deixava de ser algo a se lamentar, porque havia sim boas faixas em seu repertório. Nenhuma delas se tornou muito relevante para a carreira de Elvis, isso era verdade, mas inegavelmente havia boa música ali. Talvez o disco tenha se prejudicado por problemas pessoais de Elvis. A gravadora queria realizar uma nova maratona de gravações, como a que havia acontecido em 1969 e 1970, mas Elvis sucumbiu no meio dos trabalhos. Ele chegava atrasado no estúdio, aparentando desinteresse (um efeito da depressão pelo qual vinha passando) e isso desanimava os demais músicos da banda. O produtor Felton Jarvis acabou tendo muito trabalho com o grupo. Um baixista foi demitido por tocar deitado no chão, entediado pelo estado desanimador de Elvis. Tudo muito baixo astral.

Parte desse clima passou para algumas das canções. Um exemplo era "Are You Sincere", uma música muito melancólica, depressiva mesmo, que Elvis gravou com dificuldades. A letra, extremamente simples e emocional, com estrofes pequenos e repetitivos, criava um clima de desamparo completo no ouvinte. Quando Elvis morreu e a RCA lançou o disco "Our Memories of Elvis" essa canção foi a que abriu o disco. A diferença é que ela vinha na sua versão crua, tal como fora gravado em estúdio. No disco oficial "Raised On Rock" ela aparecia com os diversos tratamentos sonoros colocados pelo produtor Felton Jarvis. Muitos fãs preferem ouvir as faixas limpas, apenas com Elvis e banda tocando em estúdio, porém penso que não é sempre o caso. "Are You Sincere", por exemplo, ganhou bastante em beleza pelas mãos talentosas do produtor Jarvis. Sem overdub ela só conseguia se parecer mais tristonha e depressiva do que já era e isso não era bem uma qualidade a se louvar.

Pablo Aluísio.

domingo, 16 de maio de 2010

Elvis Presley - Raised on Rock - Parte 2

Muitos criticam a canção "Girl of Mine" afirmando que seria uma performance preguiçosa por parte de Elvis Presley. Há uma certa dose de verdade nisso. Elvis que já não vinha muito bem no aspecto psicológico (a depressão ia aumentando a cada dia) apenas levou a música em um certo tom, diria no controle remoto. A melodia e a harmonia da música também não ajudavam. Ele é bem assim mesmo, composta dessa forma. O que salva é a sonoridade country bem característica de Nashville nos anos 70. Particularmente gosto da letra. Tem versos bem construídos como os que seguem: "Quando você dorme ao meu lado, eu fico olhando você deitada / Suas mãos sobre o travesseiro e o luar em seu cabelo / Eu sinto uma sensação tão boa, tão boa que quase choro / Eu beijo seus lábios sonolentos e digo, eu te amarei até o fim dos meus dias." Como se pode ver a "sonolência" da música em si se justifica em parte por seus próprios versos.

Já "Find Out What's Happening" tem um ótimo balanço. Essa é obviamente influenciada pela black music, inclusive o clima do Stax Recording Studios se fez mais presente do que em qualquer outra faixa desse disco. Aqui o produtor Felton Jarvis abriu muito mais espaço para os músicos da banda de Elvis, com vários solos (todos ótimos) e uma valorização ainda maior do baixo, que no estúdio contou com três baixistas (Tommy Cogbill, Donald Dunn e Thomas Hensley) que foram se revezando no decorrer das gravações. A letra também é boa. Ao invés de Elvis se colocar como o homem que foi abandonado pela mulher amada (tema recorrente em seus discos dos anos 70) aqui é ele que vai embora. Uma mudança de astral bem-vinda. Fossa demais ninguém aguenta, não é mesmo? Aqui Elvis pelo menos canta versos mais auto afirmativos como: "Baby, você me conhece bem / Você sabe que eu quero dizer, o que eu digo / Antes de dizer adeus / Eu vou dar-lhe apenas mais um dia / É melhor descobrir o que está acontecendo / Descubra o que está acontecendo antes de tempo, Oh yeah / Se você não descobrir o que está acontecendo / Você vai descobrir que eu estou indo embora agora, Oh yeah"

Se  Find Out What's Happening" valorizou a banda de Elvis, dando destaque a eles como solistas, a canção "I Miss You" veio para valorizar seu grupo de vocalistas de apoio. J.D.Summer e The Stamps, e o Grupo Voice ganharam destaque. O curioso é que o produtor Felton Jarvis achava excessivo o número de vocalistas que Elvis levava para o estúdio. Todos os seus álbuns estariam bem servidos apenas com o grupo liderado por J.D.Summer, mas Elvis resolveu formar ele próprio um outro grupo vocal, o Voice, com cantores que estavam desempregados na época. Além de ser um ato de generosidade do cantor, era também a forma dele ter sempre eles por perto, para cantar nas suítes depois dos shows ou como grupo de aquecimento antes das gravações de seus discos em estúdio. No mais a letra de "I Miss You" era outro recado para Priscilla, com Elvis abrindo seu coração em versos como: "Então eu relembro todos os bons tempos juntos... / O amor que repartimos, a alegria e os sorrisos... / Como eu quero que você sinta o que meu coração diz esta noite querida... / Eu sinto sua falta e eu quero você aqui.. / Sonhos que eu tinha, eles acabaram-se num instante... / Os planos que eu fiz, as esperanças para o amanhã... / Se eu pudesse, eu diria como estou sozinho esta noite, querida...  / Eu sinto sua falta e eu quero você aqui..". Pois é, definitivamente ele ainda não havia superado a separação e o fim de seu casamento.

Pablo Aluísio.

Elvis Presley - Raised on Rock - Parte 3

Na segunda edição de seu livro "Elvis" o escritor Albert Goldman defendeu a tese de que Elvis havia se matado em 16 de agosto de 1977. Para o autor essa teoria poderia ser confirmada não apenas pela depressão que acompanhou Elvis em seus últimos anos, como também por seus discos, sempre com faixas melancólicas e tristes. Pessoalmente eu jamais concordei com essa visão. A única coisa que Goldman tinha razão era sobre o repertório de muitos dos discos gravados por Elvis nos anos 70. Realmente há bastante música romântica neles, mas não do romantismo que vinha acompanhando Elvis desde seus primeiros trabalhos. As baladas de Elvis nos anos 50 e 60 eram ternas, com temas geralmente falando sobre o amor adolescente, o amor na juventude.

Já nos discos dos anos 70 a coisa muda de estilo. Aqui grande parte das baladas falam sobre a angústia, a tristeza e em muitos casos até mesmo o desespero do fim de um amor idealizado, perfeito. Ora, quando se perde o amor de sua vida a tendência é realmente entrar em um estado de desespero mesmo... Assim as letras com que Elvis se identificava nesse período de sua carreira eram bem soturnas, sem esperança, puro torpor. Era algo maravilhoso que havia ficado para trás para sempre. Não tinha mais volta. O amor chegara ao fim, tragicamente.

Havia também espaço para tentativas de reconciliação. Em "For Ol' Times Sake", a segunda música mais importante do disco, ele tentava convencer, em um último esforço, sua amada a voltar para seus braços após um rompimento doloroso. Tudo feito de alma aberta, de maneira sincera. Isso fica bem claro em versos como "Antes que você vá embora e me abandone / Dê uma olhada ao redor e me diga o que você vê / Aqui eu me encontro, como um livro aberto". Um trechos mais significativos dessa balada é a parte em que Elvis cantava: "Então, uma vez mais, em nome dos velhos tempos / Venha e deite sua cabeça sobre meu peito / Por favor, não jogue fora este momento / Nós podemos esquecer o lado ruim e considerar os melhores / Se você não tem nada mais a dizer / Me deixe pelo menos te abraçar uma vez mais, em nome dos velhos tempos".

Elvis tentou voltar para Priscilla inúmeras vezes, mas sempre encontrou resistência na ex-esposa. Em determinado momento ele se despiu de sua vaidade e suplicou para que Priscilla voltasse dizendo "Eu quero minha família de volta!".  Para Albert Goldman tudo isso serviu para destruir ainda mais o ego de Elvis, sua própria auto imagem. Ele de certa maneira se humilhava por um recomeço, mas no final todos os seus esforços foram em vão. Em seus discos Elvis aproveitava para passar mensagens mais do que claras para Priscilla. Enquanto ele tentava de tudo, Priscilla só parecia mais interessada em colocar o divórcio pra frente. Nem pelos velhos tempos ela parecia disposta a voltar para Elvis.

Pablo Aluísio.

sábado, 15 de maio de 2010

Elvis Presley - Raised on Rock - Parte 4

"Sweet Angeline" é uma balada muito triste e chorosa, mas sua melodia melancólica tem seu charme. Essa canção quase não foi gravada por Elvis porque durante essas sessões ele teve muitos problemas de saúde. O abuso de drogas estava cobrando seu preço, atrapalhando o cantor agora no aspecto profissional. Ele apresentou alguns problemas respiratórios que o impediam de trabalhar normalmente. Também se aborreceu com o clima de tédio e descaso que se instalou nos estúdios durante as gravações. Um baixista foi inclusive demitido por tocar deitado no chão, cansado de esperar por Elvis.

Outro fato é que Elvis estava armado. Quando entrou para gravar resolveu retirar duas pistolas da cintura, bem na frente dos outros músicos da banda. Isso criou um certo mal-estar. Ninguém falou nada, mas ficou meio ruim o clima. Diante de tantos problemas a produtividade de Elvis decaiu muito.

Ele que conseguia gravar quase um álbum inteiro numa noite (como nos anos 60) agora encontrava problemas para terminar uma faixa apenas! Era incrível o declínio físico e psicológico que vinha atravessando. "Sweet Angeline" foi gravada talvez em um dos seus piores momentos, por isso ficamos com a sensação de que Elvis está bem indisposto e cansado em sua performance. Não é uma música feliz, o que talvez tenha piorado ainda mais o estado de espírito do cantor.

"Three Corn Patches" era mais alegrinha. Uma canção mais para cima, uma das poucas nesse estilo presentes no disco. Essa era uma velha canção da dupla Leiber e Stoller. Eles tinham firmado uma parceria maravilhosa com Elvis nos anos 50, resultando daí vários sucessos imortais como "Hound Dog", entre outros. O problema é que o Coronel Parker começou a achar que os direitos de suas músicas estavam caros demais. Assim riscou a dupla da carreira de Elvis. Um erro absurdo. Qualidade não tem preço. Assim a gravação dessa faixa foi um verdadeiro reencontro de Elvis com os compositores. Eles não voltaram a se encontrar novamente, mas o fato de Elvis gravar uma de suas músicas demonstravam uma certa gratidão por parte do cantor para com seus velhos parceiros de discografia.

Pablo Aluísio.

Elvis Presley - Raised on Rock - Parte 5

Dando continuidade na análise do álbum "Raised On Rock" de 1973 vamos tecer mais alguns comentários sobre as músicas desse disco. Uma das faixas mais lembradas desse repertório é "If You Don't Come Back". Embora alguns observadores tenham dito que se tratava de um genuíno momento da black music na discografia de Elvis, o fato é que a música foi composta pela dupla Jerry Leiber e Mike Stoller. Bom, quem conhece a história de Elvis Presley sabe muito bem que esses compositores estiveram ao lado de Elvis desde os primeiros álbuns na RCA Victor. Era uma parceria antiga.

Depois de uma certa desavença que eles tiveram com o Coronel Parker ficaram anos fora dos discos de Elvis. O retorno - esperado retorno - acabou acontecendo aqui, nesse agradável momento do LP original. Essa criação da dupla é, digamos, um "funk de brancos" (afinal foi escrita por uma dupla de compositores judeus de Nova Iorque). Ela tem uma letra curiosa, quase uma tragicomédia de um homem que simplesmente acorda pela manhã e descobre que sua vida está virada de cabeça para baixo, pois sua esposa o deixou. Dá a se entender, pela linguagem utilizada, que se trata de um casal de negros vivendo em um bairro da periferia. O coro feminino, exclusivamente black das vocalistas de apoio de Elvis, reforça ainda mais esse clima. É um bom momento de Elvis no disco, uma boa gravação, tanto que muitos anos depois da morte do cantor chegou a dar origem até mesmo a uma versão remix (que eu pessoalmente não gostei).

Outra que tem um estilo muito parecido, bem o som do Stax Studios, é "Just a Little Bit". Diria ate´que são músicas irmãs dentro do disco. Essa música tem uma paradinha bem característica, reforçada pela bateria. É aquele tipo de som que gruda na sua mente desde a primeira vez que a ouve. Também por ser tão própria pode criar facilmente uma certa saturação, justamente por causa desse som bem peculiar. É claramente um R&B ao estilo blues. Aqui Elvis voltou ao tempo, mais exatamente a 1959, ano em que a música foi lançada originalmente pelo pianista e compositor negro Rosco Gordon. A gravadora foi a pequena Vee-Jay que alguns anos depois compraria os direitos autorais para os Estados Unidos de um grupo de jovens ingleses desconhecidos de Liverpool. Eles mesmos, os Beatles! Imagine você que ironia do destino!

Pois bem, depois do single original de Rosco, a música voltou a ser gravada mais duas vezes. A primeira por Roy Head em 1965 e a segunda por Little Milton em 1969. Como Elvis sempre foi um ouvinte de rádios de blues e como ele também era um colecionador de discos antigos, era óbvio que já a conhecia de muitos anos. Assim quando entrou em estúdio já estava com essa velha música em seus planos. A versão, apesar dos problemas de saúde que Elvis vinha enfrentando na época de sua gravação, ficou muito boa, praticamente irretocável.

Pablo Aluísio.

sexta-feira, 14 de maio de 2010

Elvis Presley - Elvis (1973) - Parte 4

Eu não considero  "Where Do I Go From Here" uma das melhores faixas desse disco, porém aprecio muito seu arranjo que começa intimista, introspectivo, para logo após explodir em termos de grandiosidade no refrão da canção. Muitas pessoas ainda preferem as gravações mais cruas de Elvis, sem os exageros (principalmente de metais) que após as gravações sofriam, com a orquestração colocada pelo produtor Felton Jarvis. No caso dessa música há os dois lados da moeda. Em um primeiro momento tudo soa bem ameno, íntimo, apenas com Elvis e seu grupo de apoio. No momento do refrão podemos perceber bem a mão (pesada, para muitos) de seu produtor na RCA Victor. Faça sua escolha.

"It's Still Here" é a terceira e última música ao estilo "Elvis sozinho ao piano" desse álbum. Essa é uma velha canção composta por Ivory Joe Hunter, um dos preferidos de Elvis. O cantor adorava realmente sentar sozinho ao piano em Graceland para relembrar velhas músicas de Joe Hunter. Curioso que apesar dessa música ser bem triste, o seu autor era conhecido como o "Barão do Boogie" e não raro era apresentado nos programas de rádio da época como "O homem vivo mais feliz da América". Isso porque tinha uma personalidade alegre, extrovertida, contador de piadas, sempre com um sorriso acolhedor no rosto. Sua especialidade nem era esse tipo de balada romântica, melancólica, como essa gravada por Elvis, mas sim o bom e velho rhythm-and-blues. Elvis deveria ter gravado mais algumas das criações desse texano talentoso.

A faixa é bem simples, com Elvis tocando o piano em estúdio, pausando cada sílaba, tudo feito com uma forte carga emocional de sua parte. A letra era obviamente auto referente para Elvis. Conta a história de um homem que foi abandonado, que acreditou quando a mulher amada lhe disse que iria ficar com ele para sempre, mas que logo depois foi traído, com ela quebrando sua promessa da pior forma possível. Em minha visão a letra pegou Elvis de jeito porque havia até mesmo uma referência temporal nela, quando a letra dizia: "Faz um ano que você foi embora / E eu não me esqueci querida / O amor que eu tive por você há tanto tempo / Ainda está aqui". Ora havia exatamente um ano que Priscilla havia ido embora, acabando com seu casamento com Elvis. Coincidências não existem! Elvis não deixaria uma música com algo tão pessoal assim escapar. Foi uma necessidade para ele gravar essa música. Era mais um recado que ele dava para Priscilla através de seus discos. Recado bem direto, é bom salientar.

Por fim para completar o disco a RCA Victor resgatou uma gravação ao vivo de "It's Impossible" para colocar no álbum. Uma sábia decisão pois além da música ser ainda inédita nos discos oficiais de Elvis da época, ainda era brilhantemente interpretada pelo cantor em seu habitat natural, Las Vegas. A música foi gravada no dia 16 de fevereiro de 1972, durante uma de suas temporadas na cidade. Em termos de gravação ela não é tecnicamente perfeita, mas a performance de Elvis compensa qualquer deslize nos problemas de equalização que ocorreram durante seu registro. A versão original da música foi lançada em 1970 por um cantor mexicano chamado Armando Manzanero. Nessa ocasião ela foi lançada com o título de "Somos Novios". A versão em língua inglesa foi composta por Sid Wayne, velho conhecido de Elvis dos tempos das trilhas sonoras dos anos 60. Ele escreveu dezenas de canções para filmes do cantor em Hollywood.  O resultado ficou muito bom, acima de média, merecia inclusive uma versão em estúdio por causa de sua beleza.

Pablo Aluísio.

Elvis Presley - Elvis (1973) - Parte 3

O tema desse álbum "Elvis" de 1973 é a melancolia que atravessa praticamente todas as faixas do disco. Uma das baladas onde isso se torna mais evidente é a canção chamada "Love Me, Love The Life I Lead". A letra é bem interessante, um desabafo emocional de um homem que vê sua amada indo embora por causa da vida que ele leva. O refrão é de uma sinceridade atroz, onde Elvis afirma que aquela que deseja ser feliz ao seu lado terá que não apenas amá-lo, mas também amar (ou pelo menos entender) seu estilo de vida! Impossível não perceber a dose de sinceridade de Elvis ao cantar essa letra. Claro, ele não a compôs, mas tudo soa como mais um recado em forma de pedido de desculpas a Priscilla. Fica claro que em algum momento de sua vida Elvis foi criticado pela ex-esposa, muito provavelmente por causa de seus excessos, pelas drogas que consumia, por tudo, por quem ele era e pela vida que levava.

Isso tudo fica claro em trechos como: "Não sou um sábio, tampouco um louco / Mas sou da forma que o bom Deus me fez / Embora eu precise muito de você / Mais do que você possa entender / Preciso também das coisas de que necessito / Não tente me mudar / Se vai me amar, me aceite do jeito que sou / Não posso ser outro homem e não posso deixar de ser livre / Se vai me amar, ame a vida que levo!". Fica óbvio o recado de Elvis para Priscilla nessa música. Infelizmente a canção, embora tenha uma beleza inegável, nunca foi trabalhada por Elvis. É outra que caiu rapidamente no esquecimento, não se destacando em nada dentro da sua discografia. Provavelmente a RCA Victor tenha achado que ela era pessoal demais, longe de ter potencial para fazer sucesso nas paradas.

"(That's What You Get) For Lovin' Me"  eram bem mais leve. Esse era um country simpático, agradável de se ouvir, sem dramas pessoais ou recados desesperados de desculpas. Claro, a letra novamente batia no mesmo tema: a separação de um amor que acabou, que se foi, porém em uma pegada bem mais substancialmente calcada na leveza. Nada de amarguras desnecessárias. Esse tipo de canção lembra um casal do interior dos Estados Unidos que se separa e que depois casualmente se encontra. Ele olha para ela e dispara: "Como pode ver, tudo o que tínhamos se foi. É o que você ganha por me amar!". Meio amargo, não é mesmo? Quase uma acusação! Porém também bem sincero. Essa canção poderia fazer bonito nos palcos, principalmente quando Elvis passava por todas aquelas cidadezinhas interioranas do sul dos Estados Unidos, porém ele também a deixou de lado, nunca chegando a trabalhar nela. Ao invés de revitalizar seu repertório com novas canções preferiu repetir as mesmas versões saturadas de "I Got a Woman" e "CC Rider"... vai entender o que se passava na mente do cantor.

Bom, esse disco como já escrevi antes, trazia algumas faixas com Elvis tocando sozinho ao piano, bem inspirado. Uma dessas faixas gravadas pela RCA Victor nesse momento de rara introspecção foi a bonita  "I Will Be True". É curioso porque quando você ouve o álbum inteiro, sem pular nenhuma faixa, fica com a impressão (puramente metal e inconsciente) de que essa música seria na verdade uma continuação da bela "I'll Take You Home Again, Kathleen", afinal de contas segue basicamente o mesmo esquema: Elvis ao piano, tocando para si mesmo, em momento de inspiração interior extrema. O tema da música? A mesma de sempre. Um homem abandonado, ferido, entristecido pela separação daquela que ele considera o amor de sua vida. Podemos até mesmo visualizar esse solitário ser com lágrimas nos olhos declamando versos como: "Eu serei verdadeiro / Não interessa o que eles possam lhe dizer / Embora você esteja tão distante / Todas as noites eu rezo / Para que um dia eu possa abrir minha porta e você esteja lá!" Pois é, Elvis realmente sonhava com o dia em que Priscilla voltaria para ele, um dia que nunca aconteceu.

Pablo Aluísio.

quinta-feira, 13 de maio de 2010

Elvis Presley - Elvis (1973) - Parte 2

Durante o lançamento desse disco falou-se muito da faixa  "I'll Take You Home Again, Kathleen". A gravação trazia Elvis ao piano, sozinho, em belo momento de introspecção. Sem querer desmerecer o trabalho de Elvis, o fato é que essa música foi registrada quase por acaso, um ensaio, que aos poucos Elvis foi se empenhando. Era uma antiga canção que Elvis gostava de tocar ao piano desde os anos 50. Ele a tocou bastante inclusive nos tempos do exército, quando estava prestando serviço militar na Alemanha.

O produtor Felton Jarvis reconheceu os esforços de Elvis para soar diferente dentro do estúdio e resolveu intervir o mínimo possível, deixando de lado todos aqueles arranjos orquestrais, que para muitos, soava exagerados, tirando a atenção do ouvinte daquilo que era o mais importante ao se ouvir um disco do cantor, sua bela voz e a emoção que procurava transmitir em cada sílaba, em cada momento da canção. O curioso é que apesar de Elvis apreciar bastante essa música nunca a levou para os palcos, nem para dar uma canja ao piano, como fazia com "Unchained Melody". Qual era o problema? Será que tinha receios de falhar nas teclas? Não sabemos.

A faixa "Don't Think Twice, It's All Right" também foi uma espécie de ensaio que deu certo, que a RCA Victor decidiu aproveitar no álbum. Na verdade tudo se tratava de um momento ao melhor estilo Jam Session, com Elvis interagindo e brincando com a sua banda, a famosa TCB Band (a sigla TCB vinha do lema de Elvis, "Tomando conta dos negócios" que para os mais cínicos era uma auto ironia, pois Elvis nem sempre tomava mesmo conta de seus negócios). Mas enfim, na realidade só depois de muitos anos os fãs puderam ouvir a gravação inteira, com quase 8 minutos de duração. Aqui no disco oficial a RCA aproveitou apenas um pequeno trecho, quase como se fosse uma amostra grátis (ou não tão grátis) do que havia sido gravado mesmo dentro do estúdio.

"Padre" por sua vez era uma baladona ultra sentimental, com aquele tipo de sentimentalismo despudorado que Elvis algumas vezes gostava de trazer aos seus discos, principalmente nos anos 70, quando finalmente se sentiu mais livre para escolher as músicas que iria cantar. A letra, tremendo dramalhão, inicialmente contava a estorinha de um homem que relembrava seu casamento, os momentos felizes no altar e depois na primeira casa em que moravam. Tudo lindo e maravilhoso. Depois disso o drama, o desastre. Ele chorava o fim do casamento pois ela a trocara por um outro homem! Semelhanças demais com a própria vida pessoal de Elvis, não é mesmo? Era um desabafo de um homem traído para com o padre que o havia casado! Ora, ora, quem diria...

Pablo Aluísio e Erick Steve.

Elvis Presley - Elvis (1973) - Parte 1

Esse álbum "Elvis" de 1973 foi o primeiro de estúdio a ser lançado após o sucesso do "Aloha From Hawaii". A trilha sonora do especial de TV via satélite vendeu muito, chegou ao primeiro lugar das paradas e foi um marco na carreira e na discografia de Elvis. Assim havia um clima de fim de festa quando esse disco chegou timidamente nas lojas de discos.em julho daquele ano. A RCA Victor não trabalhou muito por sua divulgação e em razão disso nenhuma das faixas chegou a se tornar um grande sucesso. Era mais uma vez a velha estratégia de reunir gravações esparsas, que estavam arquivadas, para compor um novo título do cantor no mercado.

O curioso é que a RCA resolveu chamar o disco apenas de "Elvis". O problema é que já havia um álbum com esse nome, justamente o segundo da discografia do cantor, lançado em 1956. Por isso ao longo do tempo os próprios fãs acabaram apelidando esse álbum de "The Fool Album", por causa da primeira faixa do lado A, que foi a que teve maior repercussão nas estações de rádio da época. Nada de muito espetacular, foi um sucesso tímido e limitado, como tudo o que dizia respeito a esse LP. Curiosamente a direção de arte que iria ser usada no "Aloha" foi reaproveitada aqui. É uma capa mais bonita do que a do próprio disco oficial do show no Havaí, que para muitos pegou Elvis em um ângulo ruim.

Pois bem, "Elvis" (1973) apresentava dez faixas, o que iria se tornar padrão nessa fase da carreira de Elvis. Ao longo dos anos seus álbuns traziam geralmente 12 músicas (ou até mais em certos casos), mas como Elvis já não vinha mais entrando tanto em estúdio como antigamente a RCA resolveu limitar o número de músicas para dez. Afinal com os problemas que ele vinha enfrentando na sua vida pessoal, a RCA não apostava mais em maratonas de gravações como havia acontecido no começo da década de 1970. Agora as coisas pareciam bem mais complicadas. Elvis sempre surgia com alguma desculpa para não ir gravar. Assim a RCA começou a literalmente economizar em seus novos lançamentos.

O álbum começava com a já citada "Fool". Os primeiros versos soavam tão pessoais que a letra poderia mesmo ter sido composta pelo próprio Elvis. Numa reflexão de arrependimento ele cantava: "Tolo, você não tinha que machucá-la / Tolo, você não tinha que perdê-la / Tolo, você tinha somente que amá-la / Mas agora o amor dela acabou...". Era bem óbvio que Elvis se identificava com esses versos. Ele se culpava de certo modo pelo fim de seu casamento com Priscilla, se colocando como um homem que errou em seu relacionamento, que não foi tão presente e amoroso como deveria ter sido... Um aspecto curioso é que depois do fim do casamento com Priscilla os discos de Elvis iriam apresentar músicas cada vez mais melancólicas, tristes, diria até mesmo depressivas. Tudo fruto do terrível momento emocional pelo qual ele vinha passando.

Pablo Aluísio.

quarta-feira, 12 de maio de 2010

Elvis Presley - Aloha From Hawaii - Parte 1

Esse álbum duplo "Aloha From Hawaii" foi importante para Elvis por diversos motivos. Comercialmente foi o último LP de sua carreira a chegar ao topo da Billboard Hot 100. Por uma semana foi o disco mais vendido dos Estados Unidos. Também foi relevante por causa do próprio evento em si, colocando Elvis cantando numa transmissão ao vivo para vários países do mundo. Hoje em dia as transmissões ao vivo são banais, vide os grandes jogos de futebol e demais eventos esportivos. Já em 1973 isso era algo reservado para grandes momentos da TV, como a chegada do homem à Lua.

Em termos artísticos o disco também foi muito bem sucedido. Como se tratava de um concerto ao vivo importante, Elvis procurou dar o melhor de si, se empenhando na performance. Certas músicas tiveram a concentração própria de uma gravação de estúdio. Elvis que vinha sendo criticado pelo excesso de brincadeiras em Las Vegas adotou uma postura mais condizente com a importância do concerto. Em "My Way" ele demonstrou bem isso. Embora essa música seja mais associada a Frank Sinatra, que gravou a primeira versão em língua inglesa com grande sucesso, o fato é que Elvis se empenhou bastante em cantá-la corretamente, com cuidado na letra, de complicada memorização. O curioso é que Sinatra não queria gravar a música, pois tinha certos problemas pessoais com Paul Anka. Só depois de muita insistência é que topou fazer a gravação. Nancy Sinatra depois diria que era praticamente um auto retrato de seu pai. O mesmo poderia ser dito de Elvis. A letra igualmente se encaixava em sua trajetória de vida.

Com Elvis a música também ganhou grandiosidade. Por essa época ele queria ter acima de tudo o reconhecimento como grande cantor e grande artista. Por anos ele fora colocado para gravar um material de pouca qualidade, em especial suas trilhas sonoras Made in Hollywood. Depois que o advento dos filmes acabou, quando ele finalmente se viu livre dos contratos com os estúdios de cinema, ela finalmente conseguiu gravar material de qualidade novamente, músicas em que acreditava. Embora "My Way" tenha sido um marco para Sinatra, Elvis não se sentiu constrangido em gravar sua versão. Ele queria também demonstrar o que poderia fazer com a música. 

Para a RCA Victor a inclusão de "My Way" no disco foi excelente. Era a primeira vez que a música na voz de Elvis chegava ao mercado, era inédita em sua discografia. Algo que certamente iria ajudar na promoção do disco como um todo. Aliás é interessante notar que a RCA sempre sugeria novas músicas a ser adicionadas no repertório de seus discos ao vivo. Só assim o colecionador de discos de Elvis se sentia mais encorajado para comprar o LP. Uma jogada de marketing que se revelou certeira.

Pablo Aluísio.

Elvis Presley - Aloha From Hawaii - Parte 2

Elvis continuou nessa levada de não levar à sério nenhum de seus grandes sucessos do passado, mesmo no "Aloha From Hawaii". A versão de "Blue Suede Shoes" de Carl Perkins que ouvimos aqui é bem fraca. Aliás nunca ouvi uma boa versão desse clássico do rock dos anos 50 ser bem executada por ele nos anos 70. Talvez a última vez que Elvis a tenha cantado bem tenha sido em Las Vegas em 1969. Ali, na temporada do retorno de Elvis aos palcos depois de muitos anos, ouvimos versões de verdade da música, onde o cantor procurava dar o melhor de si, resgatando seu legado e o título de Rei do Rock. Depois da virada dos anos 70 Elvis continuou a cantá-la, mas em versões cada vez piores, preguiçosas, desleixadas.

Na década de 1970 Elvis foi se voltando mesmo para o country. Seus álbuns ficaram cheios de country music e no palco ele procurou também resgatar essa música mais regional do sul dos Estados Unidos. Nesse álbum do Aloha Elvis trouxe uma novidade ao repertório, o clássico de Hank Williams, a bonita "I'm So Lonesome I Could Cry".

Era a primeira vez que a canção aparecia em um disco do cantor. Ele nunca a havia gravado em estúdio antes. É uma bela aquisição so repertório do disco, o valorizando bastante, principalmente para os colecionadores da época que estavam sempre em busca de novidades na voz de Elvis. A versão original foi gravada em 1949, ou seja, era uma música nostálgica para Elvis, dos tempos em que ele menino ficava ouvindo rádio ao lado da mãe na varanda de sua pequena casa. Elvis a canta respeitosamente, concentrado. Uma bela homenagem a Hank Williams, ícone da country musica, falecido prematuramente.

Outra inédita era "Welcome to My World", bela melodia composta pela dupla John Hathcock e Ray Winkler. Essa faixa (essa mesma versão) acabou sendo utilizada novamente pela RCA Victor alguns anos depois no álbum de mesmo nome. Apenas capricharam numa nova capa (um belo desenho de Elvis) e intitularam o álbum de "Welcome to My World", alcançando um bom resultado comercial. Era uma coletânea, mas disfarçada, para atrair os menos avisados. Essa canção havia sido lançada originalmente em 1962, sendo gravada por diversos cantores ao longo dos anos. A versão que mais fez sucesso foi a de Jim Reeves. A versão de Elvis foi um pouco tardia, mas ainda conveniente e bem-vinda. No geral Elvis apenas pegava carona no sucesso da canção.

Pablo Aluísio.

terça-feira, 11 de maio de 2010

Elvis Presley - Aloha From Hawaii - Parte 3

Sempre considerei o som do disco original (vinil americano de 1973) muito abafado. Depois pensei que poderia ser um problema de prensagem da época. As edições posteriores do álbum, tanto em vinil como em CD, porém confirmaram as minhas suspeitas de que na verdade a gravação original é que apresentou falhas. Acredito que a acústica do lugar onde o concerto foi realizado não contribuiu para uma sonoridade melhor. Também pode ter sido algo relacionado ao equipamento de gravação da RCA Victor.

De uma forma ou outra o problema se ouve em todas as faixas, mas fica ainda mais evidente em "Something" de George Harrison. A canção, como todos sabemos, foi lançada no disco "Abbey Road" dos Beatles em 1969. A interpretação de Elvis é boa, mas poderia ter sido mais realçada se o arranjo fosse mais simples, sem tantos exageros, principalmente nos metais. O ponto positivo é que a performance por parte de Elvis demonstrava bem que ele gostava bastante do som dos Beatles, não prosperando aquela velha lenda de que ele tinha uma rixa pessoal com o quarteto inglês.

Já a versão de "You Gave Me a Mountain" de Marty Robbins era o extremo oposto de "Something". Enquanto o clássico dos Beatles ficaria melhor sem tanta orquestração, essa outra necessitava mesmo de um arranjo glamoroso, excessivo, bem de acordo com a letra que era por si só bem dramática e pomposa. A música nunca foi lançada em versão de estúdio na discografia oficial de Elvis. A versão ao vivo acabou sendo a oficial  E a do Aloha é seguramente uma das melhores do cantor, no palco.

O clássico "Johnny B. Goode" de Chuck Berry também foi levado ao repertório do show, justamente para lembrar a todos que Elvis Presley havia sido um dos maiores nomes do surgimento do rock nos Estados Unidos. Primeira geração roqueira, os pioneiros. O destaque vai obviamente para James Burton recriando o famoso solo de guitarra do mestre Berry. Um dos grandes hinos da história do rock porém nunca foi gravada por Elvis em estúdio. Acredito que Elvis sabia que a música era por demais associada a Berry, por isso a utilizou apenas como destaque em concertos.

Pablo Aluísio.