quarta-feira, 30 de dezembro de 2015

George Harrison - Verdades e Mentiras

Por que George Harrison ficou conhecido como o "Beatle Quieto"? George sempre adotava uma postura muito discreta e quase nunca falava com jornalistas. As atenções pareciam sempre estar focadas em Paul McCartney e principalmente em John Lennon por esse ser sempre uma pessoa muito polêmica. Conforme explicou anos depois o próprio George não parecia muito interessado em jornais, matérias ou publicidade. A parte que realmente lhe interessava na carreira era a musical, nada mais. Criar polêmicas, soltar frases de efeitos ou aparecer em demasia na mídia não faziam sua cabeça, tanto que após se separar dos Beatles raramente voltou a conceder entrevistas. Raras foram as vezes que abriu espaço para jornalistas em sua carreira solo, nem quando ia aos Estados Unidos realizar turnês que precisavam desse tipo de publicidade. Lidar com a imprensa definitivamente não era com George. Por ter colaborado tão pouco nesse aspecto passou a ser chamado pelo órgãos de imprensa como "O Beatle Quieto".

George Harrison foi traído por Eric Clapton?
Sim, a primeira esposa de George o traiu com Eric Clapton. George Harrison conheceu Pattie Boyd quando ela foi convidada para cortar o cabelo dos Beatles ao lado de outras modelos para a matéria de uma popular revista inglesa. Tudo fazia parte do material promocional do filme "A Hard Day´s Night". George ficou encantado com sua beleza e semelhança com a atriz Brigitte Bardot. Deixando a timidez de lado ele a convidou para jantar fora. O namoro foi breve e após um relativamente curto período de relacionamento, se casaram. Poucos meses depois do fim dos Beatles o casamento entrou em crise. George começou a se dedicar a cada vez mais em se aprofundar na sua religião e negligenciou sua esposa. Passando longos períodos fora de casa o relacionamento esfriou. Pattie viu que o casamento estava falido e começou a procurar amantes, a maioria deles músicos, entre eles o Rolling Stone Ronnie Wood. Depois conheceu pessoalmente Eric Clapton e se apaixonou por ele perdidamente. George havia se tornado apenas um farto em sua vida e ela, sem pensar muito e nem olhar para trás, trocou Harrison por Clapton. Anos depois se casaria com ele.

Como era o relacionamento entre George Harrison e John Lennon?
No começo John Lennon tratava George Harrison praticamente como um pupilo. Havia uma diferença de idade entre eles e Harrison tratava Lennon quase como a um mestre a ser seguido. No fundo o admirava tanto que quase o idolatrava. O próprio John lembrou disso quando anos depois criticou a autobiografia do colega de banda. Com o tempo George começou a se sentir deixado de lado e criou-se uma tensão entre eles, principalmente por causa dos rumos que os Beatles trilhavam na época. Harrison queria mais espaço nos discos, mas John estava sempre tirando muitas de suas composições do repertório final dos álbuns. Quando Yoko Ono entrou na vida do grupo as coisas azedaram de vez. George não gostava de Yoko e a criticava abertamente o que enfurecia John. Para George era um absurdo ter Yoko dentro dos estúdios, por exemplo. John Lennon que sempre fora muito brigão comprou a briga e ambos começaram a ter discussões furiosas durante as sessões de gravação. Chegaram ao ponto de ficarem sem se falar por meses. O ápice das brigas aconteceu justamente quando John Lennon sugeriu que Yoko se tornasse uma Beatle, algo que George considerava uma maluquice sem tamanho.

George tinha ressentimentos da dupla Lennon e McCartney?
No começo dos Beatles, George não sentia necessidade de participar mais ativamente dos discos. Ele ficava feliz e satisfeito em fazer os principais solos do grupo. Porém quando começou a fazer suas próprias composições começou a ficar muito insatisfeito quando as músicas eram tiradas dos álbuns por John Lennon. Sempre muito ácido o líder dos Beatles geralmente tinha coisas amargas ou críticas destrutivas para desqualificar as criações de George. Quando alguma música ganhava destaque, como "Taxman", John corria para a imprensa para dizer que havia composto pelo menos metade da canção o que deixava George muito chateado e muitas vezes até humilhado com esse tipo de declaração pública. Quando o grupo finalmente atingiu a maturidade musical George começou a brigar por mais espaço nos discos o que acabou se tornando mais um foco de brigas entre os membros da banda.

O que matou George Harrison?
Durante toda a vida George Harrison foi um fumante inveterado. Sua média era dois maços de cigarro por dia e isso era um hábito que o acompanhava desde os tempos da adolescência, quando era apenas um jovem colegial. O tabagismo descontrolado acabou sendo a causa do surgimento de um fulminante câncer de pulmão que George tentou de todas as formas combater, mas que em estado avançado já havia se tornado incurável. Nos momentos finais George ainda teve a intenção de participar de uma campanha nacional contra o fumo e o tabagismo, porém já não tinha saúde suficiente para isso. Ele morreu se lamentando por seu vício em cigarros, o que acabou lhe custando a própria vida.

Como era George Harrison fisicamente?
George Harrison era o mais jovem dos Beatles, porém era um dos mais altos. Ele tinha 1.77m de altura. Outra característica física que chamava a atenção era o fato de George ser também muito magro, chegando a ter no máximo 62 quilos. Harrison não cultivava uma vida muito saudável pois era fumante e usava drogas, porém geneticamente parecia predisposto a ser magro. Também não era um homem de exageros na mesa, procurando na maioria das vezes consumir apenas frutas e alimentos leves, algo que foi reforçado quando foi para a Índia nos anos 60.

George Harrison era viciado em drogas?
Como todos os demais Beatles, George também foi um usuário contumaz de drogas. No começo a maconha, que acompanhava os Beatles desde os primeiros tempos na estrada, na Alemanha, quando ainda eram desconhecidos. Depois vieram a cocaína e a LSD na fase lisérgica do grupo. A heroína entrou em sua vida após o fim dos Beatles. As drogas inclusive foram apontadas pela primeira esposa de George, Pattie Boyd, como uma das causas do fim do casamento. Ela revelou que por volta de 1970 o consumo de drogas por parte de George Harrison havia fugido do controle. Ele passava o tempo todo cheirando carreiras e mais carreiras de cocaína, algo que nem sequer a religião conseguiu colocar um freio. O vício de George se tornou bem mais notório ao público após uma apresentação desastrosa quando subiu ao palco completamente "alto" em uma de suas turnês americanas durante a década de 1970.

Como George Harrison via o movimento hippie?
George Harrison foi convidado para participar de um festival de música, com ampla participações de jovens hippies e depois que chegou lá não se conteve. George confessou que havia ficado chocado ao chegar no local e constatar que tudo o que havia lá era um bando de jovens drogados rolando pela lama. Harrison havia ido fazer um show pela paz, mas não encontrou ninguém muito interessado em sua mensagem. Ao invés disso viu um mercado aberto de vendas de drogas. A partir desse evento George Harrison, nas poucas declarações que fez, sempre se mostrou disposto a criticar o movimento hippie que havia perdido seu caminho original.

Quantos filhos teve George Harrison?
George Harrison teve apenas um filho, Dhani Harrison, fruto de seu casamento com Olivia Harrison. Ele nasceu em 1978, durante o segundo casamento do cantor. O interessante é que essa segunda união acabou trazendo uma certa calmaria na vida de Harrison. Ao contrário de seu complicado casamento com Pattie Boyd, aqui George parecia finalmente ter encontrado uma mulher que tinha uma personalidade mais calma e discreta, tal como ele. Esse acabou sendo talvez o grande segredo de seu matrimônio feliz e estável ao lado da segunda esposa.

George Harrison foi processado por plágio?
Sim, várias vezes e perdeu vários dos processos. Em sua defesa Harrison alegava que era muito complicado determinar o que seria um plágio ou não, já que a música, formada de notas musicais, tinha a natural tendência de seguir uma certa linha, uma certa tradição. Assim as semelhanças que por acaso surgiam em suas composições nada mais eram do que coincidências vindas desse tipo de memória musical. Sua defesa porém não foi acolhida no tribunal. O caso mais prejudicial aconteceu com a canção "My Sweet Lord" do álbum "All Things Must Pass" onde George precisou pagar uma pesada indenização por plágio aos autores originais.

George Harrison foi esfaqueado por um fã?
Não exatamente... Em 1999 um drogado invadiu sua casa para roubar objetos da mansão. George que não tinha qualquer tipo de segurança em sua casa (apesar da morte brutal de John Lennon) ouviu barulhos na parte de baixo da casa. Ao ir até a sala encontrou o assaltante (um homem de 33 anos, viciado em drogas, chamado Michael Abram). George e o criminoso começaram a lutar e esse deferiu uma facada em George. Desesperada a mulher de Harrison, Olivia, jogou um pesado objeto na cabeça de Abram que foi imediatamente ao chão. Aquela tinha sido uma péssima semana para o casal pois George havia sido informado poucos dias antes que seu câncer havia se espalhado em seu organismo, tornando seu tratamento praticamente inútil. O agressor não era fã dos Beatles (ao contrário do assassino de John Lennon).

Qual era o principal hobby de George Harrison?
George adorava passar horas e horas em seu jardim. Era um apaixonado por flores e jardinagem em geral. Também sentia enorme prazer em participar de eventos que reuniam admiradores de jardins como ele. Chegou a registrar em várias filmagens amadoras esse hobby que tanto adorava. Passava dias e dias preocupado com as novas e raras orquídeas que plantara em seu quintal.

Como era a relação entre George Harrison e Paul McCartney?
Foi Paul quem trouxe George para os Beatles. Eles se conheceram ainda bem adolescentes pois pegavam o mesmo ônibus quando retornavam da escola. A música foi o interesse em comum que os uniu. Paul logo foi convidado por George para ir até sua casa onde ele queria mostrar alguns acordes que tinha criado. Depois de ver o colega tocar Paul percebeu que ele poderia fazer parte de sua nova bandinha que estava montando com um cara mais velho, John Lennon. Quando Paul levou George para conhecer John esse não ficou muito impressionado. Achou George jovem demais para ser levado à sério, mesmo assim concordou com sua entrada nos Beatles. O resto é história. Os Beatles se tornaram o grupo de rock mais popular da história. Com o tempo o sempre presente perfeccionismo de Paul começou a irritar George. A velha amizade também foi abalada por processos judiciais após o fim da banda. Quando surgiu a ideia do projeto "Anthology" o maior problema era realmente reconciliar Paul e George já que eles passaram anos e anos sem se falarem. A amizade nunca mais foi a mesma.

Qual era a música preferida de George em sua fase Beatles?
George Harrison considerava "Something" sua maior obra prima, seguida de "Here Comes The Sun", ambos do disco "Abbey Road". É interessante que o auge da criatividade de Harrison tenha se dado justamente na fase final do grupo quando os Beatles já estavam prestes a se separar. Durante seus anos nos Beatles, George Harrison compôs centenas e centenas de músicas que não conseguiam encontrar espaço nos discos do conjunto. Assim quando os Beatles finalmente chegaram ao fim George juntou todo esse material e acabou gravando o disco de sua vida, "All Things Must Pass", considerado o grande trabalho de sua carreira solo.

Pablo Aluísio.

George Harrison 1963

 

terça-feira, 29 de dezembro de 2015

George Harrison – All Things Must Pass

Todos sabem que era muito complicado para George Harrison ter algum espaço dentro dos álbuns dos Beatles. Competir com dois gênios musicais como John Lennon e Paul McCartney era algo quase impossível. Assim geralmente o grupo dava o espaço de uma ou duas canções para Harrison dentro dos discos. Era muito pouco para alguém que havia alcançado uma maturidade inegável como compositor e arranjador como George. Sua sina criativa estava sendo reprimida. Essa era uma situação tão evidente que até mesmo John Lennon, com toda a sua arrogância e ar de superioridade, reconhecia. Em relação a Harrison chegou a reconhecer isso ao dizer que “Os discos dos Beatles eram muito limitantes, especialmente para George”. Para se ter uma idéia a própria música que dá título a esse maravilhoso álbum, “All Things Must Pass”, foi vedada pelos demais Beatles. O plano de Harrison era encaixar a canção no álbum “Let it Be” mas ela ficou de fora! Inclusive toda a solidão de George nesse aspecto pode ser conferido no projeto Anthology. Lá o ouvinte encontra uma gravação de George da canção durante os trabalhos de “Let it Be”. Ele surge sozinho, tocando sua guitarra de forma chorosa, numa clara tentativa de chamar a atenção de Paul e John para a música. Não deu certo e ele foi ignorado.

As coisas mudaram quando os Beatles deixaram de existir. Com o fim do conjunto George Harrison teve finalmente toda a liberdade que queria. Ele juntou todas as músicas que tinham sido rejeitadas pelos Beatles por anos a fio e jogou aqui nesse excelente álbum. Afinal se todas as coisas passavam, os Beatles também passariam. Mesmo após tantos anos essa é ainda hoje considerada a obra prima de George Harrison. O disco em que ele colocou tudo o que havia sido reprimido em tantos anos ao lado dos Beatles. Há de tudo na seleção musical, rock da melhor estirpe, músicas instrumentais, letras religiosas e espirituais (não poderia ser diferente em se tratando do mais espiritual Beatle) e uma série de boas canções, algumas brilhantes, outras inofensivas. De brinde algumas composições que George havia criado ao lado de Bob Dylan e que jamais poderiam entrar nos discos dos Beatles por questões contratuais. Para dar uma mão na parte instrumental o cantor trouxe o mágico guitarrista Eric Clapton, que abrilhantou ainda mais o resultado final. “All Things Must Pass” é isso, um belo retrato de um artista ciente de seu talento, seguro de sua musicalidade, mesmo após anos vivendo à sombra da dupla Lennon e McCartney.

George Harrison – All Things Must Pass (1970)
I'd Have You Anytime
My Sweet Lord
Wah-Wah
Isn't It a Pity (Version One)
What Is Life
If Not for You
Behind That Locked Door
Let It Down
Run of the Mill
Beware of Darkness
Apple Scruffs
Ballad of Sir Frankie Crisp (Let It Roll)
Awaiting on You All
All Things Must Pass
I Dig Love
Art of Dying
Isn't it a Pity (Version Two)
Hear Me Lord
Out of the Blue
It's Johnny's Birthday
Plug Me In
I Remember Jeep
Thanks for the Pepperoni

Pablo Aluísio.

segunda-feira, 28 de dezembro de 2015

Jeff Bridges - Jeff Bridges (2011)

Não é novidade nenhuma ver astros de Hollywood lançando discos, tentando quem saber levantar uma carreira no mundo da música, muitos inclusive são cantores e instrumentistas frustados como por exemplo Johnny Depp. Em relação a Jeff Bridges a boa notícia é que ele tem realmente talento. Cercado por uma banda de feras o ator conseguiu realizar um disco muito agradável de ouvir, com uma farta seleção de excelentes canções na linha rock - country. Várias faixas inclusive foram escritas pelo próprio Bridges como "Falling Short", "Tumbling Vine" e "Slow Boat". Algumas dessas canções possuem uma leve melancolia que é muito característica da nova geração do gênero nos Estados Unidos. Em certos aspectos o atual country americano trilha caminhos de maior introspecção que muitos estilos musicais mais fortemente ligados a esse tipo de sentimento como o Blues, por exemplo.

Tudo embalado por ótimos arranjos de fundo, com destaque até mesmo para orquestrações ricas e detalhistas em seus menores aspectos (palmas para o produtor T-Bone Burnett, que trouxe muita riqueza para as composições de Bridges dentro dos estúdios). Dando uma ajuda a Bridges nos vocais temos a presença dos ótimos Ryan Bingham, Rosanne Cash, Sam Phillips e Benji Hughes, numa contribuição essencial para dar a estrutura melódica ideal ao trabalho como um todo. Um disco que supera todas as expectativas, mostrando acima de tudo que qualquer tipo de preconceito pelo fato de ser um álbum gravado por um ator de cinema deve ser deixado de lado. Boa música, arranjos elegantes e qualidade musical garantem uma excelente audição. Realmente acima da média. Que venham outros discos do Bridges.

Jeff Bridges - Jeff Bridges (2011)
What a Little Bit of Love Can Do
Falling Short
Everything But Love
Tumbling Vine
Nothing Yet
Blue Car
Maybe I Missed the Point
Slow Boat
Either Way
The Quest

Pablo Aluísio. 

domingo, 27 de dezembro de 2015

Ringo Starr - Sentimental Journey

Ringo Starr - Sentimental Journey - Certa vez uma jornalista perguntou a John Lennon se ele achava que Ringo era o melhor baterista do mundo! John pensou um pouco e disparou: "Ele não é nem o melhor baterista dos Beatles!". Todos riram. Penso que o único que não riu de verdade foi o próprio Ringo. Por anos e anos ele sempre foi subestimado. Era sempre visto como o baterista mais sortudo do mundo por fazer parte do grupo mais famoso da história do rock e nada mais. Isso porém não conseguiu abalar sua bem humorada personalidade. Hoje em dia o Ringo pode até parecer meio ranzinza e mal humorado (como quando pediu aos fãs dos Beatles que parassem de lhe enviar cartas pois a Beatlemania já havia acabado há mais de cinquenta anos), mas a verdade é que quando jovem ele realmente tinha um bom humor à toda prova, o que sempre lhe valeu a alcunha de ser o alívio cômico dentro do grupo (enquanto os outros tentavam se matar dentro do estúdio ele mantinha a calma, procurando manter um clima ao menos respirável dentro da banda). Quando isso não foi mais possível e os Beatles explodiram ele, como os demais, também partiu para uma carreira solo. "Sentimental Journey", lançado em março de 1970, foi sua primeira tentativa de seguir por esse caminho.

Um disco solo de Ringo Starr tinha que superar dois grandes problemas: O primeiro é que ele nunca foi um compositor consolidado enquanto fez parte dos Beatles. De fato Ringo nunca conseguiu se sobressair no meio de todos aqueles gênios. Ele sabia disso e para falar a verdade nunca tentou. Ao contrário de George Harrison, que com muito esforço conseguiu colocar a cabeça por um breve momento em um ponto pouco acima da genialidade de Lennon e McCartney, Ringo nunca se destacou. O segundo problema para Ringo era mais complicado: ele também nunca foi um bom cantor. Então como segurar as pontas em um disco todo cantado por alguém que nunca foi considerado um bom cantor? Ele certamente não iria passar todo o seu disco solo tocando bateria. Para piorar ele também não era arranjador e nem produtor. Para superar tantos problemas Ringo apelou para seus amigos. Assim Paul McCartney, Quincy Jones, Les Reed, George Martin e até Maurice Gibb (do Bee Gees) ajudaram o Ringão nesse projeto. As canções foram escolhidas pelo próprio Ringo e para não errar ele escolheu apenas a nata, como Cole Porter, Johnny Mercer e Les Brown. O resultado é bom, interessante, mas também nada brilhante. No fundo tudo não passa de um esforço honesto por parte de Ringo em sobreviver musicalmente.

Ringo Starr - Sentimental Journey (1970)
1. Sentimental Journey
2. Night and Day
3. Whispering Grass (Don't Tell the Trees)
4. Bye Bye Blackbird
5. I'm a Fool to Care
6. Stardust
7. Blue, Turning Grey Over You
8. Love Is a Many Splendoured Thing
9. Dream
10. You Always Hurt the One You Love
11. Have I Told You Lately That I Love You?
12. Let the Rest of the World Go By

Pablo Aluísio.

sábado, 26 de dezembro de 2015

Paul McCartney - Give Ireland Back to the Irish

Paul McCartney nunca foi um artista politicamente engajado! Enquanto John Lennon passava a impressão de estar sempre falando sobre política, Paul seguia compondo suas belas baladas de amor. Esse rótulo de baladeiro começou a incomodar Paul quando John o usou para lhe rebaixar artisticamente. Lennon dizia a jornalistas americanos que Paul só sabia fazer canções de amor vazias, do tipo "Ela ama você, você me ama, todos nós te amamos". Era uma piada, mas uma piada bem ofensiva.

Para rebater esse tipo de ataque de John Lennon, Paul então resolveu também escrever sua própria canção de protesto, "Give Ireland Back to the Irish"! O próprio título já era uma afirmação perigosa para um inglês, pois se colocava ao lado dos irlandeses que naquela época lutavam para se livrar da dominação inglesa em seu país. Paul estava ao lado de sua causa, propondo que a Irlanda fosse devolvida aos irlandeses! Nem John Lennon havia sido tão direto antes!

Paul sabia que a música iria sofrer represálias por parte do governo inglês e assim resolveu lançar a canção em um single, pois se estivesse em um álbum as consequências comerciais poderiam ser bem ruins. O compacto chegou nas lojas em fevereiro de 1972 e causou um impacto maior do que Paul previa. A canção foi simplesmente banida da programação de certas emissoras e Paul foi chamado pelo presidente da EMI, que preocupado, tinha receios que ele e a gravadora fossem processados criminalmente por traição ao império britânico. Paul manteve-se firme e aguentou o tranco. No final das contas Paul achou a experiência de se declarar politicamente sobre algo como válida, apesar dos problemas.

Ele resumiu a questão ao afirmar: "Do nosso ponto de vista foi a primeira vez que as pessoas questionaram sobre o que estávamos fazendo na Irlanda. Era tão chocante pensar sobre isso. Fico feliz que a canção tenha trazido o assunto para dentro dos lares do povo inglês". Assim "Give Ireland Back to the Irish" acabou sendo uma das poucas experiências de Paul nesse campo político, pois ele logo se retiraria de assuntos polêmicos como esse para voltar ao seu velho (e bom) estilo romântico. O mundo já tinha John Lennon para protestar e essa nunca tinha sido mesmo a praia de Paul. Sábia decisão.

Pablo Aluísio.

sexta-feira, 25 de dezembro de 2015

Paul McCartney

Paul McCartney esteve recentemente no Brasil novamente e devo dizer que ele sempre foi meu Beatle preferido. Sou fã confesso do Macca (como seus fãs carinhosamente o chamam), e isso por várias razões, não só por ter assinado junto a Lennon algumas das melhores músicas já compostas mas também por ter uma carreira solo maravilhosa, com discos que nunca deixaram de tocar nas minhas caixas de som. Paul realmente é um talento fantástico, desses raros de se encontrar por aí. Aliás um dado curioso: meu primeiro vinil foi do Paul. Tive sorte nessa questão pois "Tug Of War" é um clássico absoluto da sua discografia e foi justamente com esse álbum que comecei a criar gosto por música e me interessei a criar esse hobby que jamais abandonei, a de colecionar discos (primeiramente os antigos bolachões de vinil e atualmente CDs).

Outro aspecto que sempre me levou a ser fã de Paul McCartney é a sua personalidade. Paul sempre foi o ponto de equilibrio dentro dos Beatles. John Lennon era explosivo demais, George Harrison muito tímido e retraído e Ringo, ora, Ringão era apenas o baterista. Paul era o ponto que manteve o quarteto unido por anos. Viciado em trabalho era sempre ele o responsável a unir a trupe para novas gravações. Por isso caro colega beatlemaníaco agradeça a ele por termos tantas gravações do grupo. Existe até mesmo uma história muito engraçada sobre John realmente abismado com a capacidade de trabalho do parceiro. Enquanto Lennon lutava para trazer duas ou três novas músicas para os discos dos Beatles, Paul já entrava em estúdio com oito ou dez canções prontas para gravação. Realmente, Macca literalmente nunca brincou em serviço. É um workaholic assumido. E o mais incrível é que ele simplesmente não abandonou essa característica nem com a chegada da idade, pois ainda atravessa o oceano para realizar concertos, como essa recente turnê que fez no Brasil. Aposentadoria? Nem pensar.

Hoje tenho orgulho em dizer que tenho toda a discografia de Sir Paul McCartney. No mundo do CD isso facilitou e muito a aquisição de antigos álbuns, até mesmo porque ele próprio relançou toda a obra alguns anos atrás, mas nos anos 80 quando coloquei na cabeça de completar a coleção de Paul era bem diferente, tinha que fuçar em sebos atrás de discos dele dos anos 70, alguns em péssimo estado de conservação. Ainda bem que a tecnologia veio e mudou completamente esse quadro. Menos mal para um apaixonado por sua música como eu. Pretendo depois ir escrevendo um pouco mais sobre seus discos, suas grandes parcerias na carreira solo (Michael Jackson, Steve Wonder, Elvis Costello, entre outros). Acredito inclusive que esse cidadão ainda vai trazer grandes alegrias aos amantes da boa música por muitos anos ainda. Vida longa ao Macca!

Pablo Aluísio.

quinta-feira, 24 de dezembro de 2015

Pink Floyd - Meddle

Esse disco faz parte daquela seleta lista dos maiores álbuns da discografia do Pink Floyd. É um dos dinossauros sagrados do grupo. E o seu status cult começa logo na capa, com longas e intermináveis discussões em fóruns de internet. O que seria isso na capa? A orelha de uma vaca? O traseiro de um porco de raça? Quem sabe... o mistério faz parte do jogo, não é mesmo? Se fosse óbvio não teria graça. Tirando todo esses detalhes periféricos de lado, vamos para as músicas que é no final das contas o que realmente importa.

São apenas seis faixas. Eu particularmente não diria que esse é um dos meus discos preferidos do Pink Floyd, porém negar sua importância histórica seria um erro absurdo. A minha música preferida aqui é justamente a que abre o disco, "One of These Days" do David Gilmour. Ele sempre foi o meu guitarrista preferido e aqui prova que grandes clássicos muitas vezes nascem de pequenos detalhes, com poucas notas musicais. Essa música inclusive seria uma das poucas do repertório que o David Gilmour iria usar no palco, nos memoráveis concertos do Pink Floyd ao vivo nos anos 80. Já para quem aprecia o lado mais experimental do grupo, o lado B inteiro tem apenas uma faixa, "Echoes". Um grande retalho musical para o ouvinte viajar pelo universo do Pink Floyd.

Pink Floyd - Meddle (1971)
One of These Days
A Pillow of Winds
Fearless
San Tropez
Seamus
Echoes

Pablo Aluísio.

Pink Floyd - Wall in Progress

Com o surgimento da internet o mercado de bootlegs explodiu! O número de títulos segue a cada ano cada vez maior. E os títulos são muitos. Para quem gosta de rock clássico e rock progressivo não poderia haver melhor notícia. Muito material assim segue sendo lançado. Aqui temos um bootleg criado a partir de demos e takes alternativos do clássico álbum "The Wall" do Pink Floyd. Como bem sabemos "The Wall" foi um disco concebido, criado e idealizado por Roger Waters. Antes de entrar no estúdio ele gravou diversas faixas demo para apresentar as canções ao resto do grupo (não havia dito que tudo veio de sua mente criativa?).

Pois então parte desse material foi resgatado nesse CD. É um material cru, sem muito trabalho de finalização, de arte final. Tudo soa quase como foi composto. Water é provavelmente o músico mais egocêntrico do universo, mas aqui vemos parte de sua incrível genialidade. Não digo que esse tipo de material vá interessar para quem não é fã do Pink Floyd, mas certamente será de extremo interesse para os fãs de carteirinha. O álbum "The Wall" segue sendo bem debatido até nos dias de hoje, já para quem deseja apenas ouvir uma semente do disco, poucos títulos podem ser tão interessantes como esse. Recomendado? Certamente sim.

Pink Floyd - Wall in Progress (1978-1979)
01. In The Flesh?  02. The Thin Ice 03. Another Brick In The Wall Part 1  04. The Happiest Days Of Our Lives 05. Another Brick In The Wall Part 2 06. Mother 07. Goodbye Blue Sky 08. Empty Spaces Part 1 09. Young Lust 10. One Of My Turns 11. Don't Leave Me Now 12. Empty Spaces Part 2 13. What Shall We Do Now? 14. Another Brick In The Wall Part 3 15. Goodbye Cruel World 16. Nobody Home 17. Vera 18. Bring The Boys Back Home 19. Is There Anybody Out There? Part 1 20. Is There Anybody Out There? Part 2 21. Comfortably Numb 22. Hey You 23. The Show Must Go On  24. In The Flesh 25. Run Like Hell 26. Wating For The Worms 27. Stop 28. The Trial  29. Outside The Wall.

Pablo Aluísio.

quarta-feira, 23 de dezembro de 2015

Pink Floyd - The Endless River

Já que o Rock está mesmo morto e enterrado de uma vez por todas, nada melhor do que esse "lançamento" do Pink Floyd, que promete ser o último CD de uma das maiores bandas de rock progressivo da história. O título "The Endless River" é mais do que adequado já que se refere a um infinito fluir sonoro, algo bem de acordo com o grupo, já que o Pink Floyd, assim como os Beatles, não tem idade e nem ponto fixo na história, pois a cada geração conquista novos fãs, muitos deles nem nascidos quando o grupo inglês desfrutava de seu auge nos anos 1970. Claro que apesar de ser atemporal, o Pink Floyd hoje leva consigo as marcas do tempo. Com um membro falecido, outro aposentado e dois ex-líderes que se odeiam, o Floyd está mais para uma marca comercial do que para um efetivo grupo de amigos tocando juntos novamente.

Por falar nisso a alcunha de "novo álbum do Pink Floyd" não é muito correta, já que a maioria do material presente aqui data dos anos 1990. Não chegaria a chamar o disco de "restos do The Division Bell" como muitos andam escrevendo por aí, mas também não vou qualificar nada de "The Endless River" como novo ou novidade. Em minha forma de entender o Pink Floyd acabou definitivamente em 2008 com a morte do tecladista Rick Wright. Depois disso não há retorno, algo parecido que ocorre com os Beatles, depois da morte de Lennon e Harrison, simplesmente não há mais retorno possível. A história impôs sua força, acabando com velhos sonhos. O tempo é o senhor de tudo é ninguém pode lutar contra esse fato.

David Gilmour sabe muito bem disso e não tem sido desonesto com o público. O disco que é basicamente instrumental (como nos bons velhos tempos do grupo) foi definido por ele como uma "mera conversa musical" entre seus antigos membros em um tempo passado, perdido na memória. A faixa de abertura, "Things Left Unsaid", dá o tom desse ponto de vista. Os teclados de Wright passeiam pelo ar, enquanto a guitarra melodiosa de Gilmour preenche os espaços vazios. Pura "conversação" realmente, só que ao invés de palavras são usadas notas musicais (maravilhosas, diga-se de passagem). Nick Mason também contribui com seu talento. Hoje ele está completamente aposentado, mais preocupado com sua coleção de carros de luxo do que com música. Os registros porém mostram como ele foi um dos melhores bateras da história do rock. "O rio sem fim" do Pink Floyd é isso, um afago nos ouvidos dos ouvintes de fino trato. Em tempos de lixo pipocando nas rádios o tempo todo, o Pink Floyd prova mais uma vez que talento não se encontra em todo lugar, nem em qualquer época.


Pink Floyd - The Endless River (2014)
Things Left Unsaid     
It's What We Do
Ebb and Flow
Sum
Skins    
Unsung     
Anisina    
The Lost Art of Conversation
On Noodle Street
Night Light
Allons-y (1)     
Autumn '68   
Allons-y   
Talkin Hawkin    
Calling
Eyes to Pearls
Surfacing
Louder Than Words
TBS9
TBS14
Nervana

Pablo Aluísio.

terça-feira, 22 de dezembro de 2015

Pink Floyd - The Division Bell

Quem acompanha o mundo da música por longos anos acaba descobrindo que certas coisas simplesmente não fazem muito sentido. Recentemente chegou no mercado com grande sucesso de crítica e público o CD "The Endless River" do Pink Floyd. Até aí tudo bem. O problema é que esse álbum é basicamente um resgate do material que foi gravado e deixado de lado na elaboração do disco "The Division Bell" de 1994. Então se as "sobras" andam tão elogiadas era de se esperar que a melhor parte dessas sessões, que foram incorporadas ao disco original há vinte anos, também fossem tratadas como obras primas do Floyd. Nada mais longe da realidade. Quando "The Division Bell" chegou nas lojas há duas décadas levou pauladas de todos os lados, principalmente da imprensa especializada da Inglaterra. Para muitos o álbum não passava de um trabalho solo de David Gilmour usando o nome mágico da banda por motivos puramente comerciais. As viúvas de Roger Waters nunca vociferaram tão forte como no lançamento de "The Division Bell". Hoje, ironicamente, declamam rios de elogios para o "novo" Pink Floyd que está fazendo bonito nas paradas de sucesso inglesas.

Particularmente confesso, sigo a linha daqueles que nunca tiveram esse CD como referência em termos de sonoridade Floydiana. Algo não me parece bem nessas faixas. Sempre considerei "A Momentary Lapse Of Reason" um trabalho mais enxuto, com mais qualidade e melhor bem conceituado. Foi o melhor disco da banda em sua fase Gilmour. "The Division Bell" sofre por ser excessivo! Talvez por receios ou insegurança o produtor Bob Ezrin acabou criando um monstro musical, exagerado, barroco e cansativo. São onze faixas (muito em termos de Floyd), dezenas de músicos de estúdio contratados, centenas de horas de gravação e muito excesso nos arranjos finais. O que era simples e altamente eficiente em "A Momentary Lapse Of Reason" aqui se tornou pesado, exaustivo, paquidérmico! As letras também não evocam em nada os grandes momentos do Pink Floyd em seu passado glorioso. E para piorar tudo, quando se pensa que se ouvirá maravilhosos solos de guitarra do mestre David Gilmour, nada surge nos ouvidos que nos faça lembrar o grande instrumentista que ele sempre foi. "The Division Bell" foi um disco que ouvi em meus tempos de universidade, mas que pouco cativou, não deixando marcas na alma. Assim com o tempo foi sendo deixado de lado. É de surpreender agora que todos estejam fazendo louvações aos seus resquícios sonoros deixados pelo chão da sala de edição de Bob Ezrin! Vai entender a cabeça dessa gente...

Pink Floyd - The Division Bell (1994)
Cluster One
What Do You Want from Me
Poles Apart
Marooned
A Great Day for Freedom
Wearing the Inside Out
Take It Back
Coming Back to Life
Keep Talking
Lost for Words
High Hopes

Pablo Aluísio.


Pink Floyd - PULSE

O Pink Floyd morreu e ressuscitou várias vezes. Morreu quando Syd Barrett resolveu abandonar o grupo, enlouquecido com LSD. Renasceu pela primeira vez logo depois quando Roger Waters e David Gilmour decidiram levar o Floyd em frente o transformando em um conjunto de rock progressivo (o maior de todos os tempos é bom dizer). Voltou a morrer quando Waters declarou o fim depois do fracasso do álbum "The Final Cut". Amargurado deixou a banda batendo a porta atrás de si. Pois bem, o segundo renascimento deu-se logo após a saída de Waters. Gilmour e os demais decidiram continuar mais uma vez. PULSE é justamente um dos últimos suspiros dessa última fase da banda. O disco foi gravado ao vivo durante a turnê de promoção do álbum "The Division Bell" na Europa e nos Estados Unidos nos meses de março a outubro de 1994. Escrevo as palavras "últimos suspiros" porque realmente foi um dos últimos projetos concluídos da história do Pink Floyd. Foi o canto do cisne. Acontece que "The Division Bell" foi bem criticado em seu lançamento. Acusaram até mesmo de não ser um disco legítimo do Pink Floyd mas sim um trabalho solo de Gilmour que utilizou o nome da banda apenas por motivos comerciais. Sem dúvida uma visão exagerada, diria até preconceituosa contra Gilmour e o resto do grupo.

Acuado, o líder do Floyd resolveu responder às acusações colocando mais um álbum na praça, que foi justamente esse, todo gravado ao vivo. Justamente para calar a boca de quem dizia não ser o Pink Floyd verdadeiro. Para isso Gilmour resolveu colocar em prática um velho sonho que tinha: gravar ao vivo todas as canções do disco "The Dark Side of the Moon"! Sinceramente, quem é fã do Pink Floyd de longa data (como eu) pode dizer que ouvir pela primeira um show com esse histórico álbum tocado da primeira à última faixa ao vivo foi realmente de arrepiar. E se engana quem pensa que foi algo fácil de reproduzir. Como todos sabemos "Dark Side" foi fruto de um longo processo de gravação, que durou meses, usando as melhores técnicas sonoras da época. Trazer aquele som único gravado em Abbey Road (o histórico estúdio inglês da EMI Odeon) para o palco foi realmente um feito digno dos maiores aplausos. É incrível inclusive notar a extrema perfeição dos músicos da banda em cada detalhe. Eu sempre digo, em termos de virtuose instrumental poucos grupos de rock da história podem rivalizar com o Pink Floyd porque eles sempre foram grandes músicos, talentosos e perfeitos ao vivo (para tirar suas dúvidas ouça qualquer registro do Floyd ao vivo para conferir). Quando PULSE foi lançado muitos esnobes torceram o nariz desmerecendo o disco, o qualificando apenas como "mais um disco ao vivo de uma banda decadente". Bom, quem pensou assim certamente reveu seus conceitos uma vez que PULSE realmente mexeu com o mundo da música. Infelizmente  depois de PULSE o Pink Floyd nada mais fez de relevante. Ficaram anos hibernando até que alguns anos atrás David Gilmour finalmente decretou o fim do maior grupo de rock progressivo da história. É uma grande pena. De qualquer forma é como diz o ditado, nada dura para sempre.

Pink Floyd - PULSE (1995)
Shine On You Crazy Diamond
Astronomy Domine
What Do You Want From Me
Learning to Fly
Keep Talking
Coming Back to Life
Hey You
A Great Day for Freedom
Sorrow
High Hopes
Another Brick in the Wall (Part Two)
Speak to Me
Breathe
On the Run
Time
The Great Gig in the Sky
Money
Us and Them
Any Colour You Like
Brain Damage
Eclipse
Wish You Were Here
Comfortably Numb
Run Like Hell

Pablo Aluísio.

segunda-feira, 21 de dezembro de 2015

Pink Floyd – The Final Cut

Algumas bandas de rock não conseguiram sobreviver a certos discos. O Pink Floyd, por exemplo, saiu destruído de “The Final Cut”, a mais louca egotrip da vida de Roger Waters. Essa história na realidade começa com o álbum anterior da banda, o famoso “The Wall”. Nesse projeto Roger Waters já tinha dominado completamente o poder dentro do grupo. Ele fazia as composições, os arranjos e se enfurecia com qualquer sugestão que não fosse de seu agrado. Por essa época ele passou a hostilizar abertamente o tecladista Richard Wright, que enfrentava problemas pessoais e de saúde. Sua dependência química o impedia de ser um membro mais produtivo e assim Waters se viu no direito de literalmente o expulsar do grupo, embora ele fosse um dos fundadores do Pink Floyd. Mesmo com tantos problemas “The Wall” se tornou um enorme sucesso popular, louvado e reverenciado pela crítica especializada trazendo assim um  enorme poder a Waters dentro do grupo, que a partir daí não poderia mais ser contestado. Os executivos da gravadora só tinham ouvidos a ele e assim o músico começou a se sentir o verdadeiro “dono” do Pink Floyd. Quando começaram as sessões de “The Final Cut” os demais membros restantes do Floyd encontraram um Roger Waters ainda mais alucinado, egocêntrico, centralizador, agindo como um verdadeiro ditador, nem um pouco disposto a ouvir os demais integrantes. Assim como havia feito em “The Wall” ele começou a destratar na frente de todos o guitarrista David Gilmour e o baterista Nick Mason. Sua opinião sobre a forma como as músicas deveriam ser gravadas tinham ganhado status de lei dentro do estúdio. As brigas eram enormes e violentas e Waters não queria ouvir mais ninguém. Ele trouxe todo o repertório do disco já previamente composto, avisou aos demais membros que iria cantar todas as músicas e teria a direção musical completa do novo álbum. Aos demais só restava seguir suas instruções ao pé da letra. Obviamente que Mason e Gilmour se uniram contra tamanha dominação. Não adiantou muito.

“The Final Cut” foi gravado praticamente como um disco solo de Roger Waters. Aproveitando algumas canções do “The Wall” que tinham sido arquivadas com material novo que ele compôs, Waters criou uma homenagem ao seu pai que havia morrido durante a II Guerra Mundial. A própria capa era significativa nesse ponto, reproduzindo as medalhas que seu pai havia recebido por bravura no campo de batalha. Tratando os demais membros do Floyd como seus meros empregadinhos, Waters teve mais uma vez a certeza que estava gravando outra obra prima suprema do rock progressivo inglês. Estava enganado. O disco se mostrou desastroso, considerado um dos piores do grupo em muitos anos. O vocal de Waters surgia mais insuportável do que nunca e como ele havia colocado Gilmour para escanteio o resultado final em termos de instrumentação e arranjos soavam ridículos. Desesperado pela péssima reação de público e crítica, Waters surpreendeu a todos com o anúncio do fim do Pink Floyd! A declaração era um absurdo pois Wright, Gilmour e Mason jamais tinham sido consultados sobre isso! O que se seguiu foi a implosão do Pink Floyd. Gilmour, Mason e Wright de um lado e Waters do outro. Eles foram à imprensa para informar que o grupo seguia em frente, agora sem Roger Waters. Como não poderia deixar de ser tudo foi parar nos tribunais com todos processando a todos. Seria o fim da maior banda de rock progressivo da história? Felizmente não. Os três integrantes unidos venceram Waters no processo em que se discutia a propriedade do nome Pink Floyd. Apesar de Waters pensar que era o proprietário e dono da marca a justiça decidiu que ela pertenceria na verdade aos três remanescentes membros do conjunto. Ainda bem, pois começava ali uma nova fase, mais democrática e mais igualitária, com David Gilmour como líder. Sim, Roger Waters tentou destruir a banda com “The Final Cut” mas eles conseguiram sobreviver, mais uma vez.

Pink Floyd - The Final Cut (1983)
The Post War Dream
Your Possible Pasts
One of the Few
The Hero's Return
The Gunner's Dream
Paranoid Eyes
Get Your Filthy Hands Off My Desert
The Fletcher Memorial Home
Southampton Dock
The Final Cut
Not Now John
Two Suns in the Sunset

Pablo Aluísio.

Pink Floyd - Animals

Em 1977 o Pink Floyd lançou seu álbum mais político, “Animals”. O disco tinha todo um conceito levemente inspirado na obra de George Orwell e se utilizava de várias metáforas para criticar abertamente o capitalismo selvagem que imperava dentro da Inglaterra. A idéia foi de Roger Waters que pensou numa forma de fazer o Floyd se pronunciar através de sua música sobre os problemas sociais e políticos pelos quais vinha passando a Grã-Bretanha na época. Desemprego, pobreza e toda uma nova geração de jovens que não pareciam ter qualquer perspectiva, qualquer futuro pela frente. Assim Waters dividiu a sociedade de seu país em basicamente três tipos de animais. Primeiro havia os cães, que dominavam os demais setores da sociedade com violência e intimidação. Obviamente aqui o Pink Floyd estava se referindo ao governo inglês e sua burocracia sem limites. Além é óbvio de seu poder militar. Suas garras estavam fincadas em todos os cantos do pais. Logo abaixo vinham os porcos – mais uma metáfora bem clara sobre os grandes empresários, industriais que junto aos setores dominantes (cães) sugavam todas as riquezas em seu próprio beneficio. A própria capa trazia um porco gigante atrelado a uma grande indústria. Por fim havia as ovelhas, ou de maneira mais clara, o próprio povo que apenas servia aos demais animais dentro dessa sociedade capitalista selvagem cada vez mais desigual. E como ovelhas todas iam de forma mansa e pacífica para o abate generalizado.

A critica gostou de “Animals” mas quase entendeu a mensagem do Pink Floyd como um manifesto socialista! Havia toda aquela retórica que parecia sair da mente de algum esquerdista rançoso. Waters resolveu não dar maiores explicações, já que há tempos vinha percebendo uma mudança dentro do cenário musical inglês. Por essa época ganhava espaço o chamado movimento Punk. Composto basicamente por jovens desempregados ingleses o Punk surgiu com novas propostas, incentivando uma sonoridade muito básica, com poucos acordes e letras diretas e viscerais – tudo o que o Pink Floyd não era! Não tardou para que o Rock Progressivo e o próprio Pink Floyd virassem alvo de críticas por parte das bandas punks. O grupo foi tachado de chato, incompreensível e pretensioso. Os músicos punks abominavam o som extremamente bem trabalhado do Floyd e suas letras enigmáticas e abertas a inúmeras interpretações. Foi dentro desse verdadeiro cenário de guerra dentro da música britânica que “Animals” chegou nas lojas. Os membros do Pink Floyd por sua vez preferiram evitar a polemica e o bate boca desnecessários. Fizeram muito bem. Hoje em dia “Animals” é reverenciado como um dos melhores álbuns da história do rock inglês. Mais um marco de imensa qualidade e inteligência do Pink Floyd que conseguiu resistir a tudo, até mesmo aos ataques do movimento Punk que aos poucos foi se esvaziando e sumindo. Já “Animals” ficou, demonstrando toda a virtuose desse grupo de músicos fantástico que foi o Pink Floyd.

Pink Floyd – Animals (1977)
Pigs on the Wing (Part I)
Dogs
Pigs (Three Different Ones)
Sheep
Pigs on the Wing (Part II)

Pablo Aluísio.

domingo, 20 de dezembro de 2015

John Lennon - John, o músico

É curioso que John Lennon sempre teve uma postura de modéstia em relação aos seus talentos como instrumentista. Em várias entrevistas ele deixou claro que não se considerava um grande músico, um grande guitarrista e nem muito menos um pianista talentoso. Na verdade se considerava bem sofrível. Em um momento de rara sinceridade disparou: "Eu não sou um grande instrumentista. Eu não sei tocar guitarra maravilhosamente bem, meu ritmo é estranho mas mesmo assim consigo fazer uma banda de rock pulsar!". Sobre o piano ele declarou: "Eu sou pior pianista do que guitarrista. Eu mal sei as notas de um piano por isso minhas composições ao piano sempre saem diferentes das que faço no violão. É como um pintor que tem menos cores para pintar um quadro. Acho que por isso que saem tão boas as músicas que faço no piano! rsrs"

Na maior parte de sua vida Lennon compôs usando piano e violão. Ele explicou que suas canções no álbum branco tinham sido todas compostas ao violão pois esse era o único instrumento que ele dispunha quando estava na Índia quando os Beatles foram para lá fazer um curso com o Maharishi Mahesh Yogi. Já o álbum "Imagine", seu grande êxito na carreira solo, foi composto totalmente em piano pois Lennon mantinha um belo instrumento de calda, todo branco, em seu apartamento de Nova Iorque.

Essa sua suposta falta de habilidade se tornava mais clara nos shows dos Beatles nos EUA como ele próprio confessou. "Os shows dos Beatles eram muito ruins. Não tínhamos como ouvir o retorno por causa da gritaria e por isso na maioria das vezes tocávamos qualquer coisa... eu olhava para o George e sabíamos que estava uma merda. Era algo do tipo bleng, bleng, não dava para tocar bem". Curiosamente quando a platéia era mais calma as coisas também não iam bem para John. "Em Paris o público era bem mais calmo. A gente subia no palco e ouvíamos palmas comportadas. De vez em quando alguns caras gritavam, acho que eram bichas ao lado do palco mas as coisas também não iam bem pois o público podia notar todos os nossos erros".

Talvez por isso os Beatles decidiram cair fora das turnês. "As turnês eram horríveis. A imprensa divulgou que George gostava de jujubas (um tipo de balinha) e os fãs começaram a jogar jujubas em nós no palco. O problema é que nos EUA essas balas eram duras como pedras e nos machucavam". Para John o maior show da história dos Beatles aconteceu no Shea Stadium em Nova Iorque. "O Paul estava se cagando de medo nos bastidores. Mas foi um show para entrar na história. Não sabíamos que podíamos lotar um estádio inteiro, foi um marco". No fim da vida John tencionava voltar aos shows ao vivo. "Quero lançar mais um disco antes de contratar aqueles músicos caros para cair na estrada. Não quero subir no palco para cantar Yesterday ou outras velharias dos Beatles. Penso em me apresentar em lugares menores mesmo sabendo que os caras vão dizer que eu não tinha mais condições de lotar um grande lugar". Infelizmente nenhum desses planos foi em frente pois Lennon foi assassinado antes que isso tudo se concretizasse.

Pablo Aluísio.

sábado, 19 de dezembro de 2015

John Lennon - (Just Like) Starting Over

Esse foi o último single da carreira de John Lennon. Em poucas semanas ele seria morto na frente do prédio Dakota onde morava em Nova Iorque. A letra resume tudo muito bem. Depois de ficar cinco anos fora dos estúdios de gravação e da vida pública para se dedicar a criação de seu filho Sean, ele retornou para gravar o disco "Double Fantasy" ao lado de Yoko Ono. A maioria das letras são bucólicas, falando de um sujeito normal que curtia a vida de casado ao lado da esposa e do pequeno filho. Para Lennon os Beatles tinham sido maravilhosos, mas naquela altura de sua vida ele não tinha mais nada a ver com aquele jovem de vinte e poucos anos de franjinha e terninho que virou um ídolo internacional. E por falar em ídolos, Lennon também afastava esse rótulo sempre que era possível pois ele literalmente achava uma bobagem se espelhar em ídolos, fossem da música, da política ou de qualquer outro setor da vida. A figura do ídolo era sinal de imaturidade e de uma mente pouco desenvolvida, como bem salientou em várias entrevistas. Lennon não queria também mais saber das tietes gritantes dos tempos dos Beatles. Em sua forma de ver ele agora cantava para casais adultos, como ele e Yoko e não mais adolescentes ruidosas. Isso ficara para trás definitivamente.

Para John Lennon o que importava naquela fase de sua vida era ficar o mais distante possível desse tipo de gente louca que cultuava ídolos em geral. Ironicamente e desgraçadamente acabou sendo morto por tudo aquilo que tanto rejeitava. De uma forma ou outra o que importava era mesmo ter uma família e viver feliz. Aqui temos também outra ironia do destino. Os Beatles foram considerados por anos os símbolos de uma mudança de perspectiva, de novos tempos, da ideologia hippie e do amor livre, sem culpas e sem amarras. Era a contracultura a todo vapor. Mas os próprios membros do grupo demonstraram que havia muita bobagem nesse tipo de pensamento, uma vez que assim que se estabeleceram nas carreiras foram atrás de vidas completamente conservadoras e quadradas. John se casou ao velho estilo com Yoko e depois foi levar uma vidinha completamente comum de todo Nova Iorquino, indo em restaurantes e andando pelo Central Park de vez em quando. Nada de loucuras, nada de exageros ou maluquices, como pregava a ideologia do Flower Power. No final das contas a tia Mimi e seus conselhos conservadores prevaleceram em sua vida!

Pablo Aluísio.

John Lennon - Contradições de um Beatle

John Lennon - Contradições de um Mito
John Lennon nunca foi um cara muito amável. Ele mesmo não queria e nem tinha interesse de passar a imagem errada. Fruto de um relacionamento complicado de seus pais, John só veio a desfrutar de uma vida estável quando foi morar com sua tia. A mãe morreu jovem, vítima de um motorista embriagado. O pai sumiu, marinheiro não queria problemas e nem responsabilidades. Assim John foi meio que criado solto, sem muitos exemplos familiares positivos a seguir. Essa sua personalidade complicada acabou também sendo passada para seus filhos. Não faz muito tempo vazou na internet um longo e revelador depoimento de seu filho, Julian. Nele o filho de John resolveu falar de alguns aspectos nada lisonjeiros de seu pai. Lennon é retratado como um pai distante, insensível e nas poucas vezes que conviveu com o filho, muito áspero e até mesmo raivoso. Nada parecido com a imagem de paz e amor que tantos se acostumaram a associar a ele. Na verdade John Lennon nunca foi uma pessoa muito fácil de conviver. Segundo as próprias palavras de Paul McCartney: "John Lennon era um gênio, mas não um santo!"

Dentro dos Beatles John também não foi de convivência muito fácil. O fato é que inegavelmente a fama lhe subiu à cabeça, o que fez com que John começasse a uma competição de falar bobagem. Mal lhe colocavam um microfone em sua frente John começava a opinar sobre tudo e todos, muito embora não tivesse preparo intelectual e técnico para emitir esse tipo de opinião sobre os mais variados assuntos. Por isso também acabou ficando em maus lençóis, principalmente quando desandava a falar de religião. Sua frase mais infame nesse aspecto foi "Os Beatles são mais populares do que Jesus Cristo". Isso irritou meio mundo e causou tamanho problema que o próprio John depois teve que vir a público pedir desculpas, afirmando que havia sido mal interpretado.

Sim, John era um ser humano e como tal tinha defeitos e muitos. A despeito de tudo isso também se tornou um artista genial. Muitas vezes a personalidade contraditória e cheia de complexidades acaba dando origem a manifestações culturais e artísticas maravilhosas. Seres humanos torturados acabam se tornando artistas geniais. John tinha traumas pela morte precoce da mãe, rancor pelo abandono de seu pai e indiferença com seu filho. Isso tudo porém gerou o caldeirão de sinceridade na qual Lennon iria escrever algumas de suas melhores canções, algumas realmente imortais. Certamente John Lennon não era bem um exemplo de pessoa, gostava de brigar em bares e boates, fumava, bebia e usava drogas. Mesmo assim, com tanta coisa contra, jamais deixou de ser um artista genial. Afinal de contas como ele mesmo dizia a "genialidade é uma espécie de loucura". É mesmo John, concordo plenamente.

Pablo Aluísio. 

sexta-feira, 18 de dezembro de 2015

John Lennon - The Collected Artwork

John Lennon: The Collected Artwork
Desde que John Lennon morreu muitos de seus desenhos e gravuras viraram ícones da indústria de consumo. Seus rabiscos estão em cartões, camisetas, livros, discos e até mesmo brinquedos. Agora procurando levar mais a sério a produção artística visual de Lennon um livro chamado "John Lennon: The Collected Artwork" pretende reunir o melhor de sua produção em suas 204 páginas. A reunião dos esboços vai até o passado, na infância de John, e resgata alguns de seus desenhos mais antigos, vários inspirados em Ivanhoe e outras obras literárias juvenis que fizeram a cabeça do garoto de Liverpool. No começo da década de 1960 ele ousou até mesmo a tentar uma carreira como chargista, mas a ideia ficou pelo meio do caminho por causa da música e de sua banda, os Beatles. Seus desenhos porém sobreviveram ao tempo e estão na publicação. Fechando a exposição o livro ainda traz desenhos feitos por Lennon nos anos 1970, quando ele retratou seu casamento com Yoko Ono e aspectos cotidianos de seu filho Sean.

Essa insistência em pintar e desenhar vem de longe. Na juventude John Lennon foi um dos alunos do Liverpool College of Art onde ele procurou desenvolver seu gosto pelos desenhos e quadros de artes plásticas. Foi justamente lá que ele desenvolveria uma grande amizade com outro jovem entusiasta dos pincéis, Stu Sutcliffe. Ele, mais do que qualquer outra amizade que John tenha feito nessa época em sua vida, foi o mais querido amigo de seu ciclo de pessoas próximas naqueles tempos pioneiros. Os especialistas porém concordam que ao contrário de Stu, que era realmente um bom pintor, John Lennon na verdade não tinha tanto jeito assim para desenhar e pintar. Por isso a guitarra acabou sendo a grande válvula de escape. Se ele não era nenhum Picasso podia ao menos tentar seguir os passos de seus ídolos na música. O importante era viver expressando sua arte de alguma forma. Deu no que deu.


Em sua "obra" John Lennon poderia ser considerado um minimalista. Ele procurava o máximo de efeito com o mínimo de traços e linhas. Seus temas eram geralmente sentimentais, tristes ou até mesmo bobos. O importante para John era se sentir conectado com o desenho ou a pintura que acabara de produzir. Era uma forma também de aliviar o stress depois de demoradas sessões de gravações ou composições que exigiam muito dele, tanto do ponto de vista físico como emocional. Em muitas ocasiões John mandava cartas visuais para seus amigos, praticamente sem texto, apenas com figuras. Era uma forma diferente de se expressar. O livro é muito bom no geral, mas como foi financiado em parte por Yoko Ono há um certo exagero em seu texto, que tenta colocar John Lennon como algum tipo de gênio dos pincéis. Não vamos chegar a tanto, não é mesmo?

Pablo Aluísio.

John Lennon - Happy Xmas (War Is Over)

1971 foi um ano e tanto para John Lennon no mercado porque ele conseguiu emplacar três singles de sucesso na parada. "Power to the People" foi o primeiro. Depois veio "Imagine", seu single mais vendido na carreira solo. No final do ano Lennon emplacou mais um enorme sucesso, a canção "Happy Xmas (War Is Over)", uma canção sobre os rumos que o mundo vinha tomando, com muitas guerras e pouco espírito natalino de paz e amor para com o próximo. Aqui vale duas observações interessantes. Lennon não se considerava um cristão, isso tomando essa palavra no mais estrito sentido dela.

Lennon oscilava entre declarações polêmicas e brigas com religiosos e sempre que era perguntado sobre qual seria sua verdadeira religião dizia que era na realidade um adepto do zen budismo (seja lá o que isso queira dizer). Quando seu single natalino chegou nas lojas muitos ficaram intrigados, pois não era comum ver uma pessoa que não se considerava um cristão colocando no mercado uma gravação natalina. Era uma contradição certamente.

Outro fato que chamou a atenção foi a campanha que Lennon levou para as ruas chamada "War Is Over" que tinha como lema a frase "A Guerra termina se você quiser!". Nem é necessário explicar que isso mexeu com muita gente poderosa. Para os republicanos Lennon deveria ficar de bico calado, afinal de contas ele não passava de um estrangeiro com visto provisório nos Estados Unidos. Por que ficava se metendo a toda hora nos assuntos internos dos americanos, já que era inglês? Essa foi uma das razões que sua barra iria pesar nos anos seguintes. Além disso John Lennon, sempre polêmico, resolveu que não precisava de estúdio nenhum para gravar o disco. Chamou o coro da comunidade negra do Harlem e mandou ver, quase de forma amadora.

E por incrível que pareça a gravação ficou realmente ótima! O produtor excêntrico Phil Spector foi contratado para embelezar ainda mais a faixa. No lado B o single trazia outra faixa natalina, "Listen, the Snow Is Falling". Depois que o compacto chegou nas lojas Lennon teve que encarar todas aquelas críticas venenosas, inclusive algumas o chamando de "tolo" e "palhaço" por promover tão singela campanha de paz. John deu de ombros e de seu modo característico declarou: "Não me importo de ser um palhaço em um mundo onde as pessoas ditas sérias estão enviando jovens para morrerem em guerras sem sentido".

Pablo Aluísio.

quinta-feira, 17 de dezembro de 2015

The Beatles - Words of Love

Durante essa época de sua carreira os Beatles estavam com agenda cheia, muitos shows, gravações de singles e viagens. Para cumprir contrato com a Emi Odeon eles tiveram que recorrer novamente a covers, algo que sempre fizeram ao longo da carreira, mas que foi deixado de lado, pelo menos provisoriamente, na trilha sonora de "A Hard Day´s Night". Quando entraram novamente em estúdio para a produção de mais um LP não houve saída. Eles tiveram mesmo que usar material alheio pois simplesmente não tinham músicas próprias suficientes para completar o disco. Entre as canções escolhidas estava justamente essa linda, terna e romântica "Words of Love", ótima composição de Buddy Holly. Provavelmente se você gosta de conhecer a história do rock se lembrará de Buddy. Ele foi um compositor excepcional que morreu muito jovem durante aquele trágico acidente de avião que também vitimou Ritchie Valens (De "La Bamba" entre outros clássicos da primeira geração roqueira). Como convinha a um artista de seu estilo e época, Buddy cantava as coisas simples de um namoro entre adolescentes. Em suas letras pequenos momentos a dois ganhavam um significado todo especial. Junte-se a isso a própria inocência da idade e você terá uma bela obra prima escrita por ele. A letra é tão simples, direta, como afetuosa.

A versão dos Beatles veio somente cinco anos depois da morte precoce de Buddy Holly. Esse fato demonstrou duas grandes qualidades do grupo inglês. O primeiro é que eles não estavam interessados apenas em apresentar músicas vocacionadas para o sucesso imediato. "Words of Love" já tinha esgotado sua capacidade de causar impacto nas rádios. Isso também demonstrava em segundo plano que os Beatles eram bem conscientes de suas influências e as respeitava muito, a tal ponto de gravar em um disco oficial uma faixa como essa. Isso jamais deixou a mentalidade do grupo. Ao longo dos anos John Lennon estava sempre se referindo aos velhos discos de rock de sua juventude, afirmando que os Beatles sempre tentaram captar aquele sentimento que havia de certa forma se perdido no tempo. Aliás basta pegar qualquer CD de Paul nos tempos atuais para perceber que isso ainda segue muito válido. Sempre que possível o ex-beatle traz de volta à vida velhas canções roqueiras dos anos 1950. Além de homenagear todos aqueles artistas também é uma maneira de apresentar esse material para as novas gerações que muitas vezes sequer sabem o nome desses pioneiros do rock ´n´ roll. Então fica aqui minha dica de uma ótima baladinha, escrita por um jovem para sua namorada de colégio, tudo tão despretensioso, mas que a despeito de tudo contra, conseguiu vencer a barreira do tempo e do espaço.

Words of Love
(Buddy Holly).
Hold me close and tell me how you feel
Tell me love is real
Words of love you whisper soft and true
Darling, I love you

Let me hear you say the words I long to hear
Darling, when you're near
Words of love you whisper soft and true
Darling, I love you

Pablo Aluísio. 

The Beatles - Ed Sullivan Presents The Beatles

Título no Brasil: Ed Sullivan Presents The Beatles
Título Original: Ed Sullivan Presents The Beatles
Ano de Produção: 2003
País: Estados Unidos
Estúdio: CBS Productions
Direção: Andrew Solt
Roteiro: Ed Sullivan, Rick Starkey
Elenco: John Lennon, Paul McCartney, Ringo Starr, George Harrison, Ed Sullivan

Sinopse:
Esse DVD reúne as quatro apresentações históricas que os Beatles realizaram no programa americano "Toast of the Town", apresentado por Ed Sullivan. Na ocasião todos os recordes de audiência da TV americana foram batidos, por causa do enorme interesse despertado no país pela turnê do famoso grupo inglês.

Comentários:
Para quem é fã dos Beatles esse é um item indispensável. O DVD traz as famosas apresentações dos Beatles no programa de Ed Sullivan nos anos de 1964 e 1965, ou seja, bem no auge da Beatlemania. É curioso notar que esse é aquele tipo de evento que foi mais comentado do que efetivamente assistido durante muitos anos, fruto da dificuldade de ter acesso aos shows por meios oficiais (na pirataria certos trechos vinham sendo comercializados há anos). Finalmente após um intenso trabalho de pesquisa na emissora os tapes originais foram encontrados e passaram por um trabalho de restauração e aprimoramento. O resultado se vê logo na tela, um dos melhores DVDs sobre a história do rock que já tive o prazer de assistir. Todo o clima e empolgação da presença dos Beatles em Nova Iorque foi captado pelas câmeras. Um registro muito importante que merece fazer parte de toda coleção dos Beatles que se preze.

Pablo Aluísio.

The Beatles - All You Need is Love

Em 1967 ocorreu a primeira transmissão ao vivo por satélite da história. O evento contou com a presença dos Beatles que naquela ocasião cantaram uma música inteiramente composta apenas para a apresentação: All You Need is Love. A canção pacifista e lírica trazia uma mensagem positiva por parte do grupo britânico ao mundo. A transmissão foi gerada diretamente pela BBC de Londres para 26 países ao redor do mundo. Anos depois Elvis Presley utilizaria da mesma tecnologia para cantar ao vivo ao mundo em seu show Aloha From Hawaii. Vendo a repercussão da transmissão a Capitol correu e colocou no mercado o single "All You Need Is Love / Baby You're a Rich Man". O lado B fazia parte da trilha sonora do telefilme "Magical Mystery Tour". A mensagem dos Beatles certamente repercutiu, pois foi justamente em 1967 que aconteceu o famoso verão do amor (The Summer of Love). Em poucos meses de intervalo um grande grupo de artistas surgiu e outros, já consagrados, lançaram discos fenomenais, gerando na música mundial uma verdadeira transformação cultural. O Rock deixou seu lado mais juvenil de lado e investiu pesado no psicodelismo. O álbum primordial nessa transformação foi justamente o antológico LP dos Beatles, Sgt Peppers Lonely Hearts Club Band. Esse disco certamente mudou o mundo da música para sempre, pois da noite para o dia o Rock, antes um gênero visto com reservas pela crítica musical, passou a servir de referência e paradigma do bom gosto e qualidade sonora. Porém a revolução não parou no quarteto britânico. Outros grupos essenciais ao psicodelismo surgiram com seus primeiros álbuns comerciais nas lojas: Pink Floyd e The Doors.

O Pink Floyd, liderado pelo enigmático (e alucinado) líder Syd Barrett, chegava aos ouvidos do grande público com um disco diferente de tudo o que havia no mercado: The Piper At The Gates of Dawn. Embora o grupo se tornasse nos anos que viriam o maior símbolo do Rock Progressivo, em 1967 ele ainda era na essência um grupo psicodélico por excelência. Outro grupo também rompeu barreiras sonoras: Os Doors. Investindo fundo em poesia, o grupo de Jim Morrison trazia em suas letras temas que jamais antes havia sido explorado pelo mundo do Rock. Para muitos críticos 1967 significou antes do que qualquer coisa uma verdadeira virada artistica do mundo da música. A lista de grandes astros que surgiu nesse ano fala por si: Jimi Hendrix, Janis Joplin, The Velvet Underground, David Bowie, Jimi Hendrix, Bee Gees, Creedence Clearwater Revival e Genesis. Em poucos períodos da história tivemos a oportunidade de ver tanta gente talentosa surgindo ao mesmo tempo. Realmente 1967 foi um ano especial que jamais será esquecido pelos fãs do bom e velho rock´n´roll..

Pablo Aluísio.

quarta-feira, 16 de dezembro de 2015

The Beatles - With The Beatles

A primeira composição de George Harrison a entrar em um álbum dos Beatles foi justamente essa gravação de "Don't Bother Me" que ouvimos nesse disco. Claro que com os anos George iria melhorar muito em termos de melodia e letra, mas aqui já demonstra bons sinais de seu talento. Não é uma grande canção, diria que é até mesmo uma criação básica, mas que serviu para quebrar o gelo. Além disso trazia em sua letra aspectos da própria personalidade do "Beatle quieto", afinal uma música que tinha uma mensagem de "Não me perturbe" não poderia ser mais característica do Beatle. Enquanto Paul sempre trazia o lado mais romântico e otimista e John surgia com o rock mais ácido e pessimista, George fazia contrabalanço aos dois, tentando aparecer e se esconder ao mesmo tempo no meio dos dois gênios.

"All My Loving" provavelmente seja uma das canções mais populares desse álbum. Embora muitos a associem a Paul exclusivamente, essa foi uma criação a quatro mãos, com Paul e John trocando ideias face a face. Claro que a letra foi criada quase que exclusivamente por McCartney, baseada em seu relacionamento com a atriz Jane Asher, porém John apareceu dando importantes dicas no desenvolvimento da melodia em si. Para John a canção tal como fora apresentada pela primeira vez por Paul nos estúdios Abbey Road ainda não tinha o pique necessário. Foi John então que a acelerou um pouco, trazendo mais vida para a música. Ficou excelente após a colaboração de Lennon. George Martin decretou após ouvir o primeiro ensaio: "É isso, está perfeita, vamos gravar!". Voltando para a letra seria interessante dar uma olhada em seus versos: "Feche os olhos e eu te beijarei / Amanhã sentirei sua falta / Lembre-se que sempre serei verdadeiro / E quando eu estiver longe / Vou te escrever todo dia / E mandar todo meu amor pra você / Vou fingir que estou beijando / Os lábios dos quais sinto falta / E torcer para meus sonhos virarem realidade".

Eu poderia classificar esse tipo de sentimento presente na letra como um amor adolescente, algo que poderia ter sido escrito por um colegial apaixonado pela garota da escola. Não estou escrevendo isso para desmerecer Paul como letrista, mas sim para salientar como é também arriscado escrever canções de amor para o público jovem. Paul, como bem demonstrou o sucesso da balada, acabou acertando em cheio. Até porque o público dos Beatles por essa época era formado basicamente por jovens histéricas que gritavam pelos membros do grupo nos shows. Foi justamente para essas fãs que Paul escreveu essas palavras. Nada mais complicado do que captar o sentimento dessas garotas em versos e melodia.

Desde o primeiro álbum os Beatles sempre deixavam uma música, geralmente a mais simples, para o baterista Ringo Starr cantar. Virou uma tradição que foi sendo seguida até o último disco. Embora Ringo não tivesse um grande talento vocal, seu timbre de voz era interessante, ideal para rocks mais agitados ou então músicas com sabor country and western. No caso do "With The Beatles" Paul e John reservaram para ele a agitada "I Wanna Be Your Man" que inclusive acabou virando um ponto alto também nos concertos ao vivo do grupo. Ringo sempre muito animado criava um verdadeiro frisson entre as fãs quando mandava ver na apresentação dessa canção. O interessante é que os Beatles não foram os primeiros a gravarem a canção. John Lennon havia dado de presente aos Rolling Stones a música. Eles a gravaram e a lançaram em fins de 1963.

O single com "Not Fade Away" no Lado A foi um dos primeiros sucessos do grupo de Mick Jagger. Talvez esse sucesso todo tenha incomodado um pouco John que resolveu que os Beatles iriam colocá-la em seu novo álbum, algo que os Stones não esperavam. Em entrevistas feitas anos depois John Lennon deixou escapar um certo ressentimento pelo fato dos Rolling Stones terem feito sucesso com uma canção escrita por ele. Chegou até mesmo a desmerecer a música, dizendo que nunca daria algo realmente bom para os Stones gravarem. Foi algo meio rude de sua parte.

"Roll Over Beethoven" era um cover dos Beatles para um velho sucesso de Chuck Berry. Não era surpresa para ninguém que os Beatles adoravam a primeira geração do rock americano, com destaque para Elvis Presley, Little Richard, Buddy Holly e claro o próprio Chuck Berry. A letra era uma gozação de Berry para com os críticos da época que diziam que o Rock ´n´ Roll era um tipo de música muito simples, com letras fracas e melodias primárias. Tudo isso era compensado com a vibração da canção. O interessante é que os Beatles poderiam ter incluído nas faixas do disco dois dos maiores sucessos da banda na época como "She Loves You" e "I Want To Hold Your Hand". O problema é que as gravadoras não incluíam músicas lançadas em singles nos álbuns, nos LPs. Um erro que atingiu a discografia não apenas dos Beatles, mas de outros grandes artistas do rock também. Uma forma de pensar equivocada. Sem ter músicas originais inéditas para tantos lançamentos o jeito foi mesmo gravar esse cover, que aliás ficou excelente, recebendo elogios do próprio Chuck Berry.

"Little Child" era uma composição de Paul McCartney, ou como gostava de dizer John Lennon "Uma filha de Paul". O tema romântico, com temática adolescente, era bem a marca registrada do baixista dos Beatles por essa época. Inicialmente Paul pensou em dar a música para Ringo cantar, mas depois desistiu. A letra começa simples, com o autor em primeira pessoa pedindo para dançar com uma garota. Letra simples, bem derivativa dos temas da época. Poderia ter contado com alguma contribuição de John, mas para falar a verdade ele era cínico demais para temas tão pueris como esse."Hold Me Tight" tinha uma pegada bem mais forte. Outra faixa que muitos autores atribuem ao próprio Paul McCartney, muito embora aqui John Lennon também tenha contribuído mais intensamente. Nessa época os Beatles estavam preocupados mesmo em escrever sucessos de rádio, por isso as músicas seguiam uma certa fórmula. Nessa faixa em particular eles repetiram o uso de palmas pontuando o ritmo da canção. O vocal de Paul intercala com John, dividindo o mesmo microfone. Uma música que sempre me agradou, tendo inclusive feito parte também do raro disco "Beatles Again".

"You Really Got a Hold on Me" era um cover. Nesses primeiros álbuns do grupo havia mesmo a necessidade de cantar canções de outros artistas já que os Beatles não tinham tantas músicas prontas para fazer parte do repertório. Paul e John eram até muito produtivos, o que significavam que compunham muitas músicas juntos, mas também tinham um senso crítico muito forte o que deixavam muitas delas fora dos discos. Só entrava o que eles consideravam ter qualidade. A faixa começa com George solando sua guitarra. O ritmo é cadenciado, com toques mais românticos. Algo até esperado já que a música original dos Miracles vinha da safra de artistas negros da Motown, um verdadeiro celeiro de talentos de Detroit, uma gravadora que os Beatles particularmente gostavam muito. A letra é praticamente uma carta de amor de alguém apaixonado por uma garota que não corresponde a esse sentimento (bem adolescente). "Você realmente me pegou" é uma frase que resume. Eu não deveria amar você por tudo, mas quem controla as próprias emoções? Pois é... complicada a situação.

Esse álbum "With The Beatles" tem uma sonoridade tão agradável de se ouvir. Mesmo após tantos anos ainda considero um prazer colocar esse álbum para apreciar as músicas. O grupo também parecia extremamente entrosado, efeito, é claro, de uma banda que vivia na estrada fazendo shows ao vivo. A prática, já dizia o sábio, leva à perfeição. A excelente qualidade do conjunto, do repertório das músicas, começava já desde a primeira faixa. Bastava colocar a agulha no LP, no vinil, para começar a ouvir os primeiros acordes. "It Won't Be Long" é um reflexo desse entrosamento do quarteto. Eles gravaram essa música, que pode até ser considerada um pouco complicada de tocar, em poucos takes. Sua estrutura rítmica sui generis levou um crítico americano a dizer que a canção tinha "cadências elóicas"

A estranha designação virou uma piada dentro da banda, entre os próprios Beatles. John e Paul, autores da música, não tinham a menor ideia do que isso significava. Brincando sobre o fato Paul ironizou, muitos anos depois, dizendo que a crítica não fazia o menor sentido e que ele, mesmo após anos de carreira, continuava sem saber do que se tratava! Brincadeiras à parte, é inegável reconhecer que se trata de uma excelente gravação do grupo. Eles estavam tinindo nos estúdios Abbey Road quando gravaram essa canção. Já "Please Mister Postman" era um cover do som da Motown. Quem diria, os ingleses brancos revisitando a música negra americana. Eles curtiam muito a sonoridade dos artistas da gravadora de Detroit. A música já vinha sendo apresentada pelo grupo desde os primeiros shows na Alemanha, em Hamburgo, sendo por isso uma opção natural para compor esse segundo álbum dos Beatles. Seria mais fácil de gravá-la após tantos anos e era uma maneira de agradar os americanos, pois o empresário Brian Epstein já estava de olho no mercado dos Estados Unidos. Se os Beatles conquistassem seu lugar ao sol dentro da terra do Tio Sam nada mais poderia parar seu sucesso. Algo que se confirmaria no ano seguinte quando o grupo finalmente aterrissou no país de forma gloriosa para dar o pontapé inicial na Beatlemania que conquistaria o mundo.

Essa canção "All I've Got To Do" fez parte do disco "With The Beatles", o segundo álbum do grupo na Europa. Já nos Estados Unidos ela foi lançada como parte do LP "Meet The Beatles". Como se sabe no começo da carreira dos Beatles havia uma diferença entre a discografia inglesa e americana. Só tempos depois é que tudo foi unificado, sendo os discos lançados na Inglaterra considerados os oficiais. A canção conta com o vocal principal de John Lennon, com aquela voz bem característica que todos os fãs conhecem. O curioso é que Lennon explicaria anos depois que a música tinha sido uma influência do chamado "som da Motown", a gravadora americana especializada em música negra. John diria que ele estava tentando trazer um pouco da sonoridade de Smokey Robinson, do grupo The Miracles, para os discos dos Beatles. Penso que embora tenha sido esse o objetivo, essa canção romântica tem identidade própria, que resultou igualmente numa boa gravação por parte do quarteto. É simples, romântica e muito eficiente, funcionando muito bem dentro do repertório do disco.

De autoria do compositor Meredith Willson temos "Till There Was You". Ele era conhecido na época de sua auge de sucesso como o "The Music Man" pois era conhecido por escrever grandes sucessos musicais para a Broadway em Nova Iorque e para a indústria do cinema americano na costa oeste. Ele era talentoso e muito solicitado. Acabou se tornando um dos compositores mais ricos da indústria fonográfica americana. Quem trouxe essa bela balada para o disco dos Beatles? Certamente foi Paul McCartney que adorava seu estilo mais Old School. Lembrando que ela ganhou também um belo arranjo nos estúdios Abbey Road, com destaque para o inspirado violão solado por George Harrison e a percussão providenciada por Ringo Starr.

De certa maneira tem um estilo que nos lembra os antigos boleros caribenhos, que naquela época, não podemos deixar de lembrar, estavam em alta, inclusive na Europa e Estados Unidos. Havia muitas boates de sucesso que apelavam justamente para esse lado mais hispânico, caliente, algo que se pode ver em qualquer registro cinematográfico daquele período. Basta lembrar de casas noturnas de sucesso por todos os Estados Unidos como a Tropicana. a Copacabana e a Tropical de Nova Iorque. Será que os Beatles estavam de olho nesse tipo de mercado? Afinal eles vinham de Hamburgo onde trocaram em muitos locais parecidos. É de se pensar nessa hipótese.

Esse segundo disco dos Beatles foi gravado em uma época que o grupo estava cumprindo uma série de obrigações contratuais. Além dos shows havia um contrato onde os Beatles tocavam na rádio BBC de Londres. Assim, para que tudo coubesse dentro dessa agenda apertada, os Beatles decidiram facilitar as coisas. E isso significava usar algumas músicas covers que eles estavam tocando na BBC em seu novo disco. Afinal essas músicas já estavam ensaiadas e os Beatles devidamente familiarizados com essas faixas, poderiam gravar tudo de forma mais rápida. No estúdio não haveria tanto problema em finalizá-las.

"Devil in Her Heart" era um cover nessa linha. Quem sugeriu a gravação foi Paul McCartney. Esse tipo de música os Beatles utilizavam em suas apresentações, pois tinha aquele jeitão de bolero, ideal para os clubes em que os Beatles se apresentavam em seus primeiros anos de carreira. Era aquele tipo de baladona usada para que todos dançassem de rostinho colado. Bem de acordo com os clubes noturnos por onde eles passavam. Tempos duros, mas também de aprendizado nesse tipo de palco. Se a música anterior era romântica e nostálgica, essa "Money" era puro rock ´n´roll, ideal para John Lennon desfilar sua marra de rebelde ao estilo James Dean. Com letra cortante e direta, era aquele tipo de som usado nos shows em inferninhos, quando os Beatles queriam incendiar a apresentação, colocando todos para dançar. Curiosamente "Money" acabou sendo comparada a "Twist and Shout" do primeiro disco. Realmente havia muitas semelhanças. Além de ser um rock pra cima, ainda contava com uma vocalização bem parecida com John Lennon cantando com a voz bem rouca e surrada.

"Not a Second Time" era uma original dos rapazes, com autêntico selo de originalidade da dupla Lennon e McCartney. Houve uma certa discussão dentro do estúdio sobre qual seria o melhor arranjo para a música. Nesse caso George Martin, o produtor das sessões, foi figura importante, dando dicas e contribuindo pessoalmente na seleção de instrumentos, inclusive ajudando em um belo solo no meio da música, algo que a marcou muito. Basta ouvir essas notas, seja tocada em piano ou violão, para reconhecer imediatamente a faixa. O vocal principal ficou com John Lennon, embora a música também fosse ideal para Paul McCartney, caso ele quisesse cantar a música no estúdio.

Panlo Aluísio.