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segunda-feira, 19 de junho de 2023

Do Mundo Nada se Leva

Do Mundo Nada se Leva
Outro grande clássico da filmografia do diretor Frank Capra. Ao lado de "A Felicidade não se Compra" é considerada uma obra-prima do cineasta. Lançado em plena grande depressão trazia aquele tipo de otimismo que era bem característico nos filmes de Capra. A história mostra James Stewart (bem jovem) interpretando o filho único de um milionário de Wall Street. O pai quer ver o filho como novo presidente de seu grupo financeiro, mas o filho tem uma outra visão de mundo. Ele está apaixonado por uma moça muito carismática e bonita que trabalha como secretária. Claro que o preconceito social dos pais dele (principalmente de sua mãe) chega forte contra esse namoro. E as coisas só pioram quando eles conhecem a família da jovem. São pessoas completamente diferentes, que priorizam outros valores, que não ligam para dinheiro ou poder, mas apenas para sua felicidade. 

Frank Capra passa inúmeras mensagens subliminares ao contar essa história que parece simples. É simples apenas no exterior, pois em sua essência passa mensagens importantes, como por exemplo, o valor da própria felicidade, a busca por algo que se gosta e não necessariamente por aquilo que vai lhe fazer rico e a rejeição da ganância como valor principal de uma vida. A família da jovem assim se contrapõe diretamente contra a família do personagem de James Stewart. Enquanto os seus pais são preconceituosos e gananciosos, a família dela é feita de pessoas que são felizes e isso é seguramente o mais importante. Em suma, um filme realmente muito bom que ajudou o povo norte-americano a passar pelas agruras e dificuldades da grande depressão naquele momento histórico terrível para os Estados Unidos. 

Do Mundo Nada se Leva (You Can't Take It with You, Estados Unidos, 1938) Direção: Frank Capra / Roteiro: Robert Riskin, George S. Kaufman / Elenco: Jean Arthur, James Stewart, Lionel Barrymore / Sinopse: O amor entre o filho de um milionário de Wall Street e uma jovem secretária precisa superar o preconceito social que sofre o casal apaixonado. Filme vencedor do Oscar nas categorias de melhor filme e melhor direção. 

Pablo Aluísio.

terça-feira, 14 de fevereiro de 2023

James Stewart e o Western - Parte 3

Em 1946 James Stewart estrelou um dos filmes mais importantes de sua carreira: "A Felicidade Não Se Compra". Dirigido pelo mestre Frank Capra essa produção foi um marco no cinema americano, um dos clássicos mais amados da história de Hollywood. James Stewart foi indicado ao Oscar, assim como o próprio filme que injustamente não foi premiado naquele ano apesar de ter sido indicado aos principais prêmios da noite. Essa ainda hoje é considerada uma das maiores injustiças da academia, em todos os tempos.

Outro filme que marcou demais a carreira de James Stewart nessa mesma época foi "Festim Diabólico", de outro grande mestre e gênio da sétima arte, o diretor Alfred Hitchcock. O filme tinha uma trama absolutamente inovadora, além de uma linguagem dita por muitos como revolucionária, onde Stewart tinha que lidar com longos planos sem interrupção. Era praticamente um teatro filmado, com diálogos complexos e trama bem elaborada.  Essa parceria entre James Stewart e Alfred Hitchcock iria legar para a história do cinema alguns dos melhores filmes da era de ouro de Hollywood. O mestre do suspense achava Stewart o ator ideal para interpretar o homem comum, que se via em situações excepcionais.

Depois de tantos clássicos absolutos da sétima arte era de se supor que Stewart iria seguir em frente nesse tipo de produção, mas ele resolveu dar uma pausa para rodar dois faroestes em seguida. O primeiro foi "Winchester '73" de Anthony Mann. Trabalhar ao lado desse cineasta era ao mesmo tempo uma oportunidade de atuar em grandes filmes, mas também de ter grandes dores de cabeça. Isso porque Mann era um sujeito perfeccionista que exigia dose extra de paciência para os atores que trabalhavam ao seu lado. Juntos fizeram grandes filmes, mas também tiveram grandes brigas no set de filmagens. Era uma luta criativa, acima de tudo. Dois aspectos se destacam nesse faroeste: seu roteiro fora dos padrões, com várias histórias sendo contadas, tendo como referencial um rifle e o excelente elenco de apoio que contava com atores e futuros astros como Rock Hudson, Tony Curtis e Shelley Winters.

Depois desse faroeste que foi sucesso de público e crítica, James Stewart voltou ao velho oeste na produção seguinte. O filme se chamou "Flechas de Fogo" do especialista em filmes de western Delmer Daves. Ao lado de Jeff Chandler e Debra Paget, Stewart atuou nessa produção mais convencional, que contava uma história passada durante as chamadas guerras indígenas. Nesse roteiro James Stewart atuava como um cowboy que encontrava um índio muito ferido no meio das pradarias. Ao ajudá-lo acabava se tornando amigo dos indígenas da região. Em plena guerra entre os nativos e a cavalaria americana, ele se colocava à disposição para negociar um tratado de paz. Um bom faroeste, ainda hoje bem lembrado pelos fãs do gênero.

Pablo Aluísio. 

terça-feira, 27 de dezembro de 2022

James Stewart e o Western - Parte 2

Como eram muito populares, os filmes de faroeste logo se tornaram o caminho natural para muitos atores de Hollywood durante a era de ouro do cinema clássico americano. Assim foi o caso de James Stewart. Ele começou sua carreira interpretando homens comuns, em filmes ambientados no meio urbano. Algumas comédias românticas, alguns dramas, nada muito especial. Seu começo na indústria foi bem modesto para dizer a verdade.

Seu primeiro grande sucesso nas telas de cinema veio em 1938 com "Do Mundo Nada se Leva". Esse foi o primeiro clássico do ator ao lado do diretor Frank Capra. Esse cineasta queria levantar a moral de uma América abalada pela grande depressão. Por isso seus filmes nesse período tinham uma clara mensagem positiva, de otimismo, de esperança no futuro. James Stewart com sua imagem de homem íntegro do interior, do meio oeste, se encaixava perfeitamente nesse tipo de personagem. Depois de "A Mulher Faz o Homem", também assinado por Capra, foi que James Stewart atuou em seu primeiro western.

O filme se chamava "Atire a Primeira Pedra". Lançado em 1939, com direção do especialista em filmes de faroeste George Marshall (um dos maiores nomes do gênero em todos os tempos), o filme contava ainda com a estrela Marlene Dietrich. Na época de seu lançamento houve algumas críticas pelo fato do filme não ser um western tão tradicional como todos esperavam. Na verdade a presença de Marlene Dietrich exigia algumas concessões no roteiro como a inclusão de músicas e um espaço maior para o romance entre os principais personagens. O público que lotava os cinemas para assistir filmes de western naquela época queria ver pistoleiros durões, duelos em ruas empoeiradas e muita ação, com tiroteios e batalhas entre soldados e nativos. Nada disso havia no filme. O sucesso acabou sendo apenas mediano.

A década de 1940 começou e James Stewart voltou para o tipo de filme que havia se tornado habitual em sua carreira. Atuou no simpático "A Loja da Esquina", no drama "Tempestades d'Alma", no divertido musical em tom de humor "A Vida é uma Comédia" e finalmente no maior sucesso de sua carreira até aquele momento, "Núpcias de Escândalo". Esse filme dirigido por George Cukor tinha um roteiro primoroso e um elenco acima da média, com os imortais  Cary Grant e Katharine Hepburn atuando ao seu lado. O ator foi inclusive premiado pelo Oscar. Era o auge, pensava ele. Durante uma entrevista declarou: "Eu cheguei ao pico da minha carreira. Nada mais poderei fazer para superar isso!". Quando o jornalista perguntou sobre a possibilidade dele fazer novos filmes de faroeste, Stewart respondeu: "Eu quero fazer! Tudo o que posso dizer é que ainda não encontrei um roteiro que me interesse. Isso é questão de tempo. Pretendo atuar ao lado de John Wayne em um futuro próximo!". Ele tinha razão sobre isso. Em alguns anos ele faria ao lado de Wayne um dos maiores clássicos do western de todos os tempos.

Pablo Aluísio.

segunda-feira, 26 de dezembro de 2022

A Felicidade Não se Compra

O diretor Frank Capra passou sua carreira tentando levantar a moral do povo americano. Isso em uma época de grande crise econômica. Estou me referindo a grande depressão que assolou os Estados Unidos. Diante de milhões de desempregados e pessoas sem esperança ele abraçou o otimismo perante a vida. Ele tentou trazer uma mensagem nova e poitiva em seus filmes. Esse é um dos seus clássicos natalinos, sempre reprisado nos Estados Unidos nessa época do ano. Conta a história de um homem que sempre sonhou em ir embora da pequena cidadezinha onde nasceu. Ele tinha planos de ir para a universidade e dali ir para o mundo, viver uma vida sem limites e sem fronteiras. Só que conforme o tempo passa, seus planos vão fracassando em série. Ele não consegue ir embora da cidade por causa do pai, que falece precocemente. Ele precisa então tomar conta desse seu negócio que nunca esteve indo muito bem. Também conhece uma jovem da região e se casa com ela tendo filhos. Então seus sonhos de grandeza, que cultivou na juventude, vão desaparecendo com o tempo. 

Quando a idade vai chegando, ele vai percebendo que nada daquilo que havia planejado deu certo. Ele continua na mesma cidade, onde sempre esteve, levando uma vida de certa forma medíocre. Seu irmão mais jovem acaba realizando seus sonhos, pois consegue ir para universidade e acaba se tornando um herói de guerra. Quando o negócio que herdou de seu pai finalmente vai à falência, ele pensa em acabar com tudo, pensa em se matar. Neste momento crucial de sua vida, surge um desconhecido. Ele é na realidade um anjo, mas não se parece em nada com aqueles anjos loiros de cabelos encaracolados que vemos nas igrejas. É um senhorzinho que quer apenas ganhar suas asas e para isso deve ajudar aquele homem desesperado. Então ele mostra como seria o mundo sem a sua existência. Mostra que ele torna a vida das demais pessoas melhores e que faria muita falta neste mundo. Um filme bonito, simpático e, de certa forma, bem inocente. Mas cuja mensagem conseguiu sobreviver à prova do tempo.

A Felicidade Não se Compra (It's a Wonderful Life, Estados Unidos, 1946) Direção: Frank Capra / Roteiro: Frank Capra / Elenco: James Stewart, Donna Reed, Lionel Barrymore / Sinopse: O filme conta a história de um homem que tenta se matar na noite de Natal. Em sua visão, sua vida não deu muito certo e todos os seus planos foram por água abaixo. Então, surge em sua vida um anjo que vai tentar evitar que isso aconteça e mostrar a ele que sua existência tem valor e importância, principalmente para as outras pessoas que vivem ao seu lado.

Pablo Aluísio.

sexta-feira, 9 de dezembro de 2022

James Stewart e o Western - Parte 1

James Stewart foi a prova que o homem comum também poderia se tornar um astro em Hollywood. Ele não tinha a altura e a beleza de um Rock Hudson, nem a coragem de um John Wayne, mesmo assim brilhou nas telas e teve uma filmografia tão ou mais rica do que esses dois mitos da era de ouro do cinema americano. Na verdade Stewart era um sujeito bem simples, comum, interiorano, que teve a rara sorte de trabalhar com alguns dos melhores cineastas de todos os tempos em filmes clássicos que jamais serão esquecidos. Provavelmente o diretor que o tornou imortal foi Frank Capra. Quando Stewart chegou em Hollywood, vindo do interior, sendo filho de um dono de lojas de ferragens, ele não encontrou as portas dos estúdios abertas para ele.

Na verdade Stewart amargou um bom tempo como figurante e depois como coadjuvante em filmes de pouca expressão. Sua sorte mudou quando Capra viu nele justamente aquela que era sua maior marca registrada: o jeito e a imagem do homem comum, do trabalhador operário de bom coração. Eram os tempos da grande depressão, a economia americana estava arruinada, com muito desemprego e pobreza. Para o otimista Capra a única forma de levantar a nação era levantando sua autoestima, sua moral. Por isso ele resolveu filmar uma série de roteiros que traziam mensagens positivas ao povo americano, sempre levando seu ânimo, trazendo uma carga única de esperança. Para interpretar seus protagonistas Capra não poderia ter encontrado ator mais ideal. Assim James Stewart começou a virar um astro com "Do Mundo Nada se Leva", uma verdadeira ode ao pensamento positivo. Depois vieram mais clássicos absolutos como "A Felicidade Não Se Compra" e "A Mulher Faz o Homem". Todos esses filmes são verdadeiras obras primas do cinema.

Em busca da mesma empatia outros mestres do cinema resolveram escalar James Stewart em seus filmes, especialmente o mestre do suspense Alfred Hitchcock. Sempre que surgia o personagem do cidadão comum, honesto e trabalhador, que se via numa situação excepcional, o velho Hitch telefonava ao ator sabendo se ele estava disponível. "Festim Diabólico", "Janela Indiscreta" (talvez a grande obra prima ao lado de Hitchcock), "O Homem que Sabia Demais" e "Um Corpo que Cai" são obras primas que por si só já valeriam a imortalidade de Stewart na sétima arte. Isso porém foi apenas uma parte de sua carreira, quando interpretava tipos urbanos em tramas de suspense que até hoje seguem insuperáveis.

Por fim, como se já não bastasse realizar tantos clássicos ao lado de Capra e Hitchcock, James Stewart também brilhou no mais americano de todos os gêneros cinematográficos: o Western. Ele foi um dos mais regulares atores do estilo, participando de inúmeras produções com destaque para os filmes que rodou ao lado de John Ford e Anthony Mann. Com esse último tinha uma relação de amizade e ódio. De todos os diretores com quem trabalhou foi o que mais gostou de atuar, segundo suas próprias palavras. Certamente ao lado de Mann ele não chegou ao ponto de estrelar filmes tão importantes como "O Homem que Matou o Facínora" (considerado um dos dez melhores faroestes de todos os tempos), mas rodou produções que ficaram na memória como "Winchester 73" e "Um Certo Capitão Lockhart". Foi realmente uma dupla inesquecível. Embora tenha concorrido por cinco vezes ao Oscar só foi premiado uma única vez, por "Núpcias do Escândalo". James Stewart faleceu em 1997 deixando uma filmografia realmente inigualável. Provavelmente tenha sido o ator que mais participou de obras primas do cinema ao longo da história. Nesse quesito ele realmente foi único. Nada mal para alguém que se dizia ser apenas um homem comum, com bons sentimentos.

Pablo Aluísio.

terça-feira, 6 de dezembro de 2022

10 Curiosidades - O Homem Que Matou o Facínora

1. Dirigido por John Ford, o filme é considerado um patrimônio cultural nos Estados Unidos, tendo sua cópia original preservada pela Biblioteca Oficial do Congresso Nacional em Washington.

2. John Ford inicialmente queria rodar o filme em cores, mas a Paramount só liberou orçamento para a realização de um filme em preto e branco. Anos depois Ford comentaria a decisão afirmando que ela acabou sendo a correta já que esconderia melhor a verdadeira idade de James Stewart que tinha que interpretar um jovem advogado idealista.

3. O primeiro ator contratado por John Ford foi John Wayne, quando o roteiro nem ainda estava pronto. Foi Wayne que sugeriu a Ford que contratasse James Stewart e Lee Marvin, com quem já tinha trabalhado. Depois de pensar alguns dias John Ford acabou aceitando ambas as sugestões.

4. Apesar de ter sido aclamado por público e crítica, o diretor John Ford, mesmo contente com os resultados, afirmou que jamais voltaria a filmar em preto e branco, uma vez que o sistema de cores já era padrão no cinema americano. Na visão de Ford o filme poderia ter sido mais bem sucedido nas bilheterias caso fosse lançado em cores.

5. Logo no começo das filmagens John Ford deixou claro para todo o elenco que ele era o diretor e por essa razão não admitiria intervenções em nenhum aspecto do filme. Virando-se para o ator Lee Marvin, Ford falou: "Eu sei que você foi dirigido por John Wayne recentemente no filme "Os Comancheros", porém saiba que ele aqui não manda em absolutamente nada!". Ao ouvir aquilo Wayne caiu na gargalhada.

6. A advertência de que ele, John Ford, era o diretor e senhor absoluto do filme, parece não ter surtido efeitos em John Wayne. Ele começou a querer mudar determinadas cenas, reescrevendo parte dos diálogos, o que acabou criando uma grande tensão entre eles. Chegaram a discutir com vigor perante toda a equipe técnica e elenco. Depois de uma briga séria Ford saiu anunciando: "Jamais voltarei a trabalhar com John Wayne em minha carreira!"

7. Com John Wayne e John Ford trocando farpas no set de filmagens, o ator James Stewart acabou se tornando um poço de tranquilidade, para onde todos iam durante as brigas entre o ator e diretor. Quando era perguntado sobre o que acontecia Stewart simplesmente ria dizendo: "Eu não tenho nada a ver com isso!"

8. Para os jornalistas que visitavam o set, o diretor John Ford explicava: "Filmar em preto e branco é uma arte. A direção tem que ser mais cuidadosa, mais carinhosa. Você tem que fazer tudo com extremo cuidado, sabendo jogar com luzes e sombras de uma forma única!"

9. Durante uma cena de diligência o ator James Stewart foi incentivado por John Ford para fazer ele mesmo a perigosa cena. No alto falante gritou: "Vá lá James, pule, mostre que você não é um covarde, não é um covarde!"

10. John Ford avisou ao seu elenco que queria realizar poucos takes de cada cena. Ele queria que os atores improvisassem até um certo limite, trazendo espontaneidade para cada momento. Dito isso virou para John Wayne e disparou: "Todos podem improvisar, menos John Wayne!". Todos riram.

Pablo Aluísio.

sexta-feira, 9 de setembro de 2022

Um Certo Capitão Lockhart

Última parceria entre James Stewart e o diretor Anthony Mann, "The Man From Laramie" é um faroeste dos bons. O filme é uma adaptação do conto do escritor Thomas T. Flint que publicou originalmente seu texto nas páginas do Saturday Evening Post. Nos anos 50 era comum a publicação de textos com estórias do velho oeste nos grandes jornais americanos. O sucesso foi tão bom que eles depois começaram a publicar esses textos em forma de livros de bolso (até aqui no Brasil os livrinhos de faroeste de bolso foram extremamente populares). O roteiro também aproveita para se inspirar levemente na peça Rei Lear - o que fica evidente nas relações familiares em torno da família do rico fazendeiro Alec Waggoman (Donald Crisp). Idoso, extremamente rico e ficando cego, ele se preocupa sobre sua sucessão pois seu filho, Dave, é um mimado irresponsável que não sabe lidar com o poder que tem.

James Stewart novamente nos brinda com uma excelente interpretação. Seus personagens em faroestes sempre foram cowboys menos viris do que os interpretados pelo Duke (John Wayne) mas não eram menos éticos e virtuosos. Aqui ele faz um ex capitão do exército americano que acaba se envolvendo em um conflito contra Dave, o herdeiro do clã Waggoman. O curioso é que o roteiro, muito bem trabalhado, traz inúmeras reviravoltas e uma sub trama muito interessante envolvendo contrabando de rifles automáticos para a tribo Apache. O filme é bem cadenciado, com preocupação de se desenvolver todos os personagens e o resultado final é muito eficiente, o que surpreende pois a duração é curta, pouco mais de 90 minutos, o que demonstra que para se contar uma boa estória não é necessário encher a paciência do espectador com filmes longos demais.

Um Certo Capitão Lockhart (Man From Laramie, The, 1955) Direção: Anthony Mann / Roteiro: Philip Yordan, Frank Burt, Thomas T. Flynn / Elenco: James Stewart, Arthur Kennedy e Donald Crisp / Sinopse: Will Lockhart (James Stewart) chega a uma pequena cidade do Novo México para descarregar uma carga de mantimentos para o comércio local. Na volta resolve retirar de uma salina próxima um novo carregamento mas é impedido de forma violenta por Dave Waggoman (Alex Nicol), filho de um rico fazendeiro da região.

Pablo Aluúsio.

sexta-feira, 24 de junho de 2022

O Homem que Sabia Demais

Assisti a esse filme pela primeira vez há muitos anos. Ele foi lançado, ao lado de vários outros do diretor Alfred Hitchcock em uma coleção do selo CIC vídeo. É um dos mais conhecidos filmes do mestre do suspense, mas é justamente no suspense que esse filme tem suas maiores falhas. Os filmes de Hitchcock geralmente seguiam por uma linha mais forte, mais sombria até. Esse filme é bem mais leve. Inclusive a presença de Doris Day no elenco, com sua imagem doce e até inocente, destoa do tipo básico de produções que Hitchcock dirigia na época. Ela chega a cantar em cena um de seus sucessos, uma música romântica bem de acordo com a inocência daqueles anos. Nada mais fora da rota de um filme de Hitchcock que poderia se imaginar.

A história é até interessante, quando um casal de turistas no Marrocos (Norte da África) se envolve em uma trama de intriga internacional que nem eles sabem direito como surgiu ou quem estaria por trás de tudo. James Stewart segura bem as pontas. Ele foi um ator recorrente em clássicos do diretor, em especial "Um Corpo que Cai" e "Janela Indiscreta", mas aqui, em um roteiro mais convencional e dentro dos padrões moralistas da época, não se destaca tanto. No final das contas as lembranças que ficam desse filme é exatamente da cantoria de Doris Day. O que para um filme que deveria ser de suspense, não é lá grande coisa. Tudo muito pueril para um filme que deveria causar medo e apreensão no espectador.

O Homem que Sabia Demais (The Man Who Knew Too Much, Estados Unidos, 1954) Direção: Alfred Hitchcock / Roteiro: John Michael Hayes / Elenco: James Stewart, Doris Day, Brenda de Banzie / Sinopse: Casal de turistas dos Estados Unidos é atacado em suas férias no Marrocos. E sem nem entender direito as razões, se envolve em uma intriga internacional envolvendo países inimigos, em plena guerra fria.

Pablo Aluísio.

terça-feira, 26 de abril de 2022

Crepúsculo de Uma Raça

Quando o filme começa vemos um posto avançado da cavalaria do exército dos Estados Unidos em território demarcado como reserva indígena do povo Cheyenne. Aos poucos milhares de nativos chegam ali. Eles querem se encontrar com um senador que está chegando da capital. Querem mostrar para ele como as terras daquele lugar são desertas, sem água e nem comida. Que viver ali não seria possível. Os índios chegam pela manhã e ficam em pé esperando o senador que parece nunca chegar. Depois de horas de espera eles cansam de esperar e vão embora. Estão ofendidos e com razão. E decidem ir embora da reserva. O problema é que o comandante da tropa da cavalaria, o capitão Thomas Archer (Richard Widmark) tem ordens para evitar isso, usando de violência, se necessário for. Mas como ele vai atirar em crianças, idosos e mulheres indefesas?

Esse filme de John Ford foi uma espécie de pedidos de desculpas do cineasta para com o povo nativo dos Estados Unidos. Durante anos ele filmou filmes de western usando os indígenas como vilões e selvagens. Nesse filme ele decidiu que também iria mostrar o outro lado, o lado das nações nativas da América. O filme é assim dividido em três atos bem claros. No primeiro temos a fuga dos Cheyennes da reserva deserta e hostil para onde foram levados. No segundo ato, passado na cidade de Dodge City, há um pânico quando moradores descobrem que os índios estão chegando a na última parte vemos o desfecho, a conclusão da história.

Embora seja um filme muito bom ele se torna irregular por causa do segundo ato, em Dodge City. James Stewart aqui interpreta o xerife Wyatt Earp, mas tudo em tom de comédia, de humor, o que destoa do restante do filme. Quando eles saem em perseguição dos índios no deserto tudo parece um episódio de Corrida Maluca. Algo que quebra o ritmo sério e concentrado do restante do filme. O que diabos tinha John Ford na cabeça quando rodou esse segundo ato? Felizmente o filme retoma sua seriedade inicial na terceira e última parte, quando os indígenas chegam em um forte do exército americano. Ali eles esperam um tratamento adequado para seres humanos. Esperam que o governo americano encontre uma solução para eles. Quem se destaca nessa última parte é o veterano ator Edward G. Robinson. Ele interpreta o secretário do interior Carl Schurz, um homem justo e humano.

Então é isso. Temos aqui um filme que quase foi estragado pelo próprio John Ford na sua equivocada decisão de inserir humor em um filme com temática séria demais para esse tipo de coisa. O western assim se vale das duas partes (inicial e final) para se assumir como grande obra cinematográfica. Há elementos demais a se pensar nesse roteiro, de como o governo dos Estados Unidos foi injusto e cruel com os índios daquele país. Uma dívida história que pensando bem até hoje não foi devidamente paga!

Crepúsculo de Uma Raça (Cheyenne Autumn, Estados Unidos, 1964) Direção: John Ford / Roteiro: James R. Webb, Howard Fast / Elenco: Richard Widmark, James Stewart, Edward G. Robinson, Karl Malden, Ricardo Montalban, Carroll Baker, Sal Mineo, Dolores del Rio, Patrick Wayne, Gilbert Roland / Sinopse: O filme conta a história da fuga de um enorme grupo de índios da nação Cheyenne de uma reserva deserta dada pelo governo dos Estados Unidos. Assim que eles deixam a reserva passam a ser perseguidos pela cavalaria, dando origem a diversos confrontos e conflitos. Filme indicado ao Oscar na categoria de melhor direção de fotografia (William H. Clothier). Também indicado ao Globo de Ouro na categoria de melhor ator coadjuvante (Gilbert Roland).

Pablo Aluísio. 


terça-feira, 25 de janeiro de 2022

Crepúsculo de uma Raça

Título no Brasil: Crepúsculo de uma Raça
Título Original: Cheyenne Autumn
Ano de Produção: 1964
País: Estados Unidos
Estúdio: Warner Bros
Direção: John Ford
Roteiro: Mari Sandoz, James R. Webb
Elenco: James Stewart, Richard Widmark, Karl Malden, Sal Mineo, Edward G. Robinson, Ricardo Montalban

Sinopse:
No ano de 1878, o governo decide deixar de doar os suprimentos e alimentos necessários para a sobrevivência da nação indígena Cheyenne, levando centenas de milhares de índios a saírem da reserva em Oklahoma até o Wyoming, local onde sempre viveram. Thomas Archer, Capitão da Cavalaria, recebe a tormentosa missão de vigiar e conter os anseios de guerra dos índios, mas durante esse processo de convivência durante o percurso, passa a nutrir um grande respeito pelos nativos americanos.

Comentários:
Foi um dos últimos filmes da carreira do diretor John Ford. Nessa produção ele novamente decidiu reunir um grande elenco para contar esse lado menos heroico da conquista do velho oeste dos Estados Unidos. Ao lado de grandes cenas, explorando novamente a beleza natural de lugares como o Monument Valley, o mestre do cinema também cometeu alguns erros. Não é um filme perfeito, tem suas falhas. Uma delas é a longa duração. Esse faroeste assim acaba parecendo mais longo do que deveria ser, com excesso de tramas secundárias que não adicionam muito ao resultado final. Há uma longa parte no meio do filme com James Stewart que exagera nas doses de humor, quebrando o ritmo de um filme que deveria ter um tom mais sério. John Ford sempre tentou trazer algum tipo de alívio cômico em seus filmes, mas aqui ele definitivamente errou a mão. De qualquer forma esse último western assinado por Ford se mantém relevante por causa do teor de seu roteiro que procurou trazer uma visão mais consciente e humana em relação aos nativos americanos. Salvo por suas boas intenções, prejudicado um pouco por alguns deslizes de seu diretor, o filme ainda é um marco importante nesse gênero cinematográfico tão importante dentro do cinema americano. Filme indicado ao Oscar na categoria de melhor direção de fotografia (William H. Clothier).

Pablo Aluísio.

quinta-feira, 25 de março de 2021

Música e Lágrimas

Glenn Miller foi um dos nomes mais importantes da história da música norte-americana. Ele morreu muito jovem, com apenas 40 anos de idade em um acidente de avião, algo que chocou a todos na época. Esse filme se propôs a contar sua história, por isso seu título original era mais do que adequado, The Glenn Miller Story. Há aspectos romanceados de sua vida nesse roteiro, mas de maneira em geral temos um bom retrato desse instrumentista e compositor talentoso. A sinopse explica tudo. Glenn Miller (James Stewart) é um músico e maestro de sucesso que resolve fundar ele mesmo uma big band para tocar em bailes e clubes pelos Estados Unidos. O sucesso de suas gravações o levam ao topo da carreira, mas a entrada de sua país na Segunda Guerra Mundial muda completamente seu planos. Após entrar para o esforço de guerra, na força aérea, Miller vê seu destino mudar para sempre nos céus da Europa sob chamas.

Esse "Música e Lágrimas" é sem dúvida um filme muito charmoso e elegante, que se propõe a contar a história do maestro Glenn Miller, que morreu de forma precoce e misteriosa durante a Segunda Guerra Mundial. Outro aspecto que chama muito a atenção é vermos essa parceria entre o cineasta Anthony Mann e o seu ator preferido, James Stewart, funcionar tão bem nesse gênero que não era bem a praia de ambos. Como se sabe a dupla Mann e Stewart brilhou mesmo nos filmes de faroeste, alguns inclusive estão entre as melhores obras primas do estilo. Aqui Stewart deixou seu velho chapéu surrado de cowboy de lado para dublar o talento extraordinário desse famoso músico.

Claro que sendo uma obra dos anos 1950, tudo surge bem romanceado na tela. Aspectos negativos de Miller que surgiram em biografias mais recentes, como o fato de que ele explorava excessivamente os músicos de sua orquestra, pagando baixos salários, por exemplo, são deixados completamente de fora do roteiro. Esse excesso de romantização porém nem pode ser considerado algo completamente negativo, pois, vamos convir, esse tipo de linha do texto do roteiro era comum na época e soa totalmente nostálgico nos dias atuais. Assim deixo a dica para conferir esse "The Glenn Miller Story", a história real de um talentoso artista cuja música certamente nunca morrerá.

Música e Lágrimas (The Glenn Miller Story, Estados Unidos, 1954) Estúdio: Universal Pictures / Direção: Anthony Mann / Roteiro: Valentine Davies, Oscar Brodney / Elenco: James Stewart, June Allyson, Harry Morgan / Sinopse: Essa cinebiograifa histórica conta a história do talentoso música norte-americano Glenn Miller, falecido tragicamente durante a II Guerra Mundial. Filme vencedor do Oscar de Melhor Som. Também indicado nas categorias de Melhor Roteiro e Melhor Música.

Pablo Aluísio.

quarta-feira, 24 de março de 2021

Sortilégio do Amor

Clássico do cinema americano estrelado pelo ótimo James Stewart, aqui acompanhado da beleza e talento da atriz Kim Novak. Vamos voltar ao passado? Qual história nos conta esse filme? Shepherd 'Shep' Henderson (James Stewart) é um editor de livros solteirão que decide se casar com a bela Merle Kittridge (Janice Rule). Seus planos porém sofrem uma mudança brusca um dia antes disso acontecer. Casualmente ele entra numa loja exótica de produtos africanos e acaba conhecendo a dona do estabelecimento, a linda, mas igualmente misteriosa Gillian 'Gil' Holroyd (Kim Novak). O que Shep não sabe é que Gil é na verdade uma bruxa que joga um feitiço de paixão sobre ele, justamente na noite anterior de seu casamento. E isso vai criar muitos problemas em sua vida.

Essa produção dos anos 1950 é um simpática comédia romântica que uniu novamente nas telas a dupla James Stewart e Kim Novak, que tanto sucesso fizeram no clássico de Alfred Hitchcock, "Um Corpo Que Cai". A diferença é que se aquele era um suspense da melhor safra do grande diretor, sendo esse filme aqui é apenas uma simpática estória de romance entre duas pessoas completamente diferentes que acabam se apaixonando. James Stewart está em seu tipo habitual, a do sujeito comum que se vê envolvido numa situação completamente nova em sua pacata vida.

A bela atriz Kim Novak está mais linda do que nunca no papel de Gil, uma bruxa dos tempos modernos. Usando um figurino naturalmente sensual, ela seduz não apenas o personagem de James Stewart, mas o público também, com seu jeito sedutor de falar e agir. Sempre com um gato nas mãos e andando descalça o tempo todo, ela acaba roubando o filme do sempre ótimo James Stewart. O elenco de apoio também é de luxo, com destaque para Jack Lemmon, interpretando o papel do irmão de Novak. Deliciosamente ingênuo e com roteiro bem redondinho (baseado na peça teatral de John Van Druten) esse é um daqueles filmes docemente românticos que ainda divertem e seduzem. Um ótimo programa certamente, principalmente para o público feminino mais nostálgico.

Sortilégio do Amor (Bell Book and Candle, Estados Unidos, 1958) Estúdio: Columbia Pictures / Direção: Richard Quine / Roteiro: John Van Druten, Daniel Taradash / Elenco: James Stewart, Kim Novak, Jack Lemmon, Ernie Kovacs, Janice Rule / Sinopse: James Stewart interpreta o solteirão que após muitos anos decide-se casar. O problema é que na véspera de seu casamento ele é fisgado por uma estranha e exótica mulher que literalmente o enfeitiça de amor. Filme indicado ao Oscar nas categorias Melhor Direção de Arte e Figurino. Filme indicado ao Globo de Ouro na categoria Melhor Filme - Comédia.

Pablo Aluísio.

segunda-feira, 26 de outubro de 2020

Radiomania

Bill Lawrence (James Stewart) é um trabalhador comum. Ao lado da esposa e dois filhos, ele leva uma vida bem rotineira e pacata. Todas as manhãs ele acorda e segue para o trabalho numa grande loja de magazine de sua cidade. Sua vida começa a mudar quando recebe o telefonema de uma estação de rádio local. A atendente lhe avisa que à noite, durante um popular programa, ele terá que responder a uma pergunta que vale 24 mil dólares. No começo Bill não leva nada muito à sério e resolve juntar todos os seus amigos para ouvirem o rádio juntos. Tudo acaba virando uma grande festa. Quando a grande hora chega e a pergunta é feita Bill, ele acaba acertando, se tornando o vencedor do cobiçado prêmio. O que ele não contava é que o prêmio vai lhe trazer uma série de dores de cabeça, virando sua vida literalmente de cabeça para baixo. Para começo de conversa os 24 mil dólares não surgem em dinheiro vivo, mas sim em vários produtos que são enviados pelos patrocinadores do programa. De repente sua casa é invadida por uma série de entregadores, que lhe trazem desde pôneis, até uma quantidade enorme de carne de bezerro, dezenas de vasos de plantas, centenas de relógios e tudo o mais que você possa imaginar. Para piorar o fisco americano acaba ficando de olho em sua premiação, o enchendo de cobranças de taxas e impostos dos mais variados tipos! Sua vida acaba assim virando um verdadeiro caos da noite para o dia.

"Radiomania" é muito divertido. Uma comédia hilariante que se encaixa perfeitamente no tipo de personagem que era ideal na pele de James Stewart. O sujeito comum, simples, que de repente se vê tendo que lidar com coisas que nunca fizeram parte de sua rotina, como um decorador esnobe (que joga fora toda a sua mobília) e até uma bela artista que vem pintar seu retrato como parte do prêmio ganho. A questão é que a grande maioria dos prêmios não tem a menor serventia na vida de Bill e sua família. Tudo acaba virando uma grande metáfora sobre a inutilidade de um sonho consumista sem sentido.

O roteiro, além de ser muito divertido, é muito bem escrito pois não deixa a bola cair em nenhum momento. Como o filme é relativamente curto (algo em torno de 80 minutos) o espectador nem percebe o tempo passando pois o personagem de Stewart se envolve numa série de confusões, uma mais engraçada do que a outra. Para os fãs da atriz Natalie Wood o filme ainda traz um atrativo extra, pois ela está no elenco, interpretando a jovem filha de Stewart. Incrível, mas ela deveria ter uns 12 anos quando fez o filme. Enfim, mais um belo momento da carreira do sempre ótimo James Stewart. Uma comédia leve, simpática, que deixará você com um inevitável sorriso no rosto após terminar de assistir.

Radiomania (The Jackpot, Estados Unidos, 1950) Direção: Walter Lang / Roteiro: John McNulty, Phoebe Ephron / Elenco: James Stewart, Barbara Hale, James Gleason, Natalie Wood / Sinopse: Bill (Stewart) é um sujeito comum que de repente vê sua vida virada de ponta cabeça após ganhar um prêmio em um programa de rádio!

Pablo Aluísio.

domingo, 23 de agosto de 2020

E o Sangue Semeou a Terra

Título no Brasil: E o Sangue Semeou a Terra
Título Original: Bend of the River
Ano de Produção: 1952
País: Estados Unidos
Estúdio: Universal Pictures
Direção: Anthony Mann
Roteiro: Borden Chase
Elenco:  James Stewart, Rock Hudson, Arthur Kennedy,  Jay C. Flippen, Julie Adams, Lori Nelson

Sinopse:
Baseado no romance de western escrito por William Gulick, o filme "E o Sangue Semeou a Terra" conta a história de um grupo de pioneiros que vão para o Oeste selvagem em uma caravana de carroças com a intenção de começar uma nova vida em terras distantes. Para vencer em sua jornada eles terão que lutar contra tribos indígenas hostis e comerciantes de provisões desonestos.

Comentários:
Clássico de faroeste da parceria entre o diretor Anthony Mann e o ator James Stewart. Juntos fizeram alguns dos melhores filmes de western da história do cinema americano. E não era uma parceria isenta de conflitos. Eles brigavam muito no set de filmagem, mas quem ganhava no final de tudo era o espectador, que era presenteado com grandes e inesquecíveis filmes do gênero. O filme tem uma linda fotografia, pois foi todo rodado em locações naturais, em parques nacionais de preservação dos Estados Unidos, com destaque para as cenas rodadas nas montanhas do Oregon e do Rio Columbia, onde várias tomadas foram feitas, usando até mesmo de um antigo barco histórico, o “The Queen River”. No excelente elenco temos dois destaques. O primeiro é o próprio James Stewart, aqui interpretando um personagem mais complexo. Ao contrário dos homens honrados que sempre interpretou no cinema, aqui seu personagem tem um passado nebuloso que ele precisava superar. Proteger a caravana que vai para o oeste vai significar sua redenção pessoal nesse sentido. Já o galã Rock Hudson, em começo de carreira, dá vida a um jogador de cartas, um tipo cheio de lábia, que se destaca na multidão por causa  de seu figurino exótico. Com um roteiro que louva a coragem dos pioneiros que foram para o velho oeste, esse clássico é um daqueles itens para se ter na coleção de filmes. Excelente em todos os aspectos.

Pablo Aluísio.

segunda-feira, 25 de maio de 2020

O Último Pistoleiro

Na década de 1970 o ator John Wayne entrou na fase final de sua longa carreira. Tentando se renovar para o público mais jovem, tentou ir por novos caminhos. Se adequando aos novos tempos, flertou com novos gêneros e estilos. Uma dessas experiências ocorreu com "McQ, Um Detetive Fora da Lei ". Wayne faz o papel de um policial que após a morte de um companheiro, investigava um caso de tráfico de drogas cujas pistas acabavam indicando uma conexão com a própria polícia. O diretor Struges deixou aqui os espaços amplos do faroeste, estilo que o consagrou, para mostrar o mundo da criminalidade no grandes centros urbanos. Apesar da tentativa de mudança, seu lar era mesmo o western e o ator acabou retornando ao personagem que o fez ganhar o Oscar. Assim Wayne estrelou "Justiceiro Implacável" onde a filha de um pastor conta com a ajuda de um delegado federal beberrão para tentar encontrar os homens que mataram seu pai. Era a tão esperada continuação de "Bravura Indômita", com roteiro que lembrava o famoso "Uma Aventura na África". Ao seu lado em cena contracenava uma das atrizes mais premiadas da história, Katherine Hepburn. Este foi o penúltimo filme de John Wayne. Mesmo doente nunca pensou em se aposentar: Sobre isso declarou: "A única que sei fazer é trabalhar. A aposentadoria vai me matar".

Após ser diagnosticado com um câncer agressivo partiu para aquele que seria seu último filme. Novamente um western, novamente a mitologia do pistoleiro famoso que não consegue encontrar paz em sua vida. Antes do começo das filmagens falou sinceramente a um jornalista. Já velho e cansado desabafou: "É possível que não se interessem mais pelos serviços deste cavalo velho e o larguem no pasto, mas trabalharei até isso acontecer" Também brincou com o fato de algumas revistas afirmarem que estava ficando sem cabelos: "Não tenho vergonha da minha careca, mas não vejo por que obrigar as pessoas a vê-la". Em 1976 finalmente John Wayne se despediu das telas e fez sua última aparição nas telas nesse faroeste chamado "O Último Pistoleiro". Era o fim da estrada para o velho cowboy. O mais interessante é que seu personagem também aparecia envelhecido e doente, tentando lutar para se manter vivo com a dignidade que sempre o caracterizou. O roteiro, que tinha muito a ver com a própria vida do ator, trazia a história de um velho e lendário pistoleiro que sofria de câncer e procurava um local onde pudesse morrer em paz. Mas não conseguia escapar de sua reputação. Sempre havia alguém tentando desafiá-lo para um duelo final.

Era baseado em um romance de Glendon Swarthout e caía como uma luva para a despedida do lendário ator. Para contracenar ao seu lado, dois veteranos e amigos de longa data foram contratados pelo estúdio, James Stewart e Lauren Bacall. Velhos mitos do cinema se reencontrando pela última vez. O clima de despedida se torna óbvio ao longo do filme. John Wayne pressentiu que não mais voltaria ao cinema. Ele já estava abatido e abalado pelo tratamento que vinha fazendo e estava pronto para se aposentar definitivamente. Após concluir as filmagens começou uma batalha incansável contra o mal que o abatera. Com coragem ainda conseguiu lutar por heroicos três anos. Isso deixou os médicos surpresos pois seu tumor era bastante agressivo. O velho cowboy não se rendeu facilmente. Infelizmente em 11 de junho de 1979, o homem que melhor se identificou com os heróis da colonização americana e da mitologia do velho oeste, finalmente morreu de câncer nos pulmões. O homem se foi, mas a lenda está imortalizada para sempre em seus filmes. John Wayne, o eterno cowboy, estará para sempre no Olimpo dos deuses da sétima arte.

O Último Pistoleiro (The Shootist, Estados Unidos, 1976) Direção: Don Siegel / Roteiro: Glendon Swarthout, Miles Hood Swarthout / Elenco: John Wayne, James Stewart, Lauren Bacall, Ron Howard, John Carradine  / Sinopse: Velho pistoleiro no fim de sua vida tem que enfrentar um último grande desafio. Lutando contra uma doença grave, tem que responder por sua reputação de rápido no gatilho por onde quer que vá. Filme indicado ao Oscar na categoria de melhor direção de arte (Robert F. Boyle e Arthur Jeph Parker). Também indicado ao Globo de Ouro na categoria de melhor ator coadjuvante (Ron Howard).

Pablo Aluísio.

domingo, 16 de fevereiro de 2020

A Conquista do Oeste

Quando a Metro anunciou "A Conquista do Oeste" o estúdio deixou claro suas intenções: realizar o filme definitivo sobre a expansão da civilização norte-americana em direção ao oeste selvagem.  Para isso não mediu esforços colocando à disposição do filme tudo o que estúdio tinha de mais importante na época. Atores, diretores, roteiristas, tudo do bom e do melhor foi direcionado para esse projeto. Os grandes nomes do western foram contratados. John Wayne e James Stewart logo assinaram para participarem do elenco. Os diretores consagrados John Ford e George Marshall também entraram no projeto sem receios. Era uma grande equipe reunida. Além do capital humano a Metro resolveu investir em um novo formato de exibição onde três telas enormes projetavam cenas do filme. A técnica conhecida como Cinerama visava proporcionar ao espectador uma sensação única de imersão dentro do filme. Para isso há uso de longas tomadas abertas, tudo para dar a sensação ao público de que realmente está lá, no velho oeste. Era claramente uma tentativa da Metro em barrar o avanço da televisão que naquele ano havia tirado uma grande parte da bilheteria dos filmes. Assim "A Conquista do Oeste" chegava para marcar a história do cinema... bom, pelo menos essa era a intenção.

Realmente é uma produção de encher os olhos, com três diretores e um elenco fenomenal. O resultado de tanto pretensão porém ficou pelo meio do caminho. "A Conquista do Oeste" passa longe de ser o filme definitivo do western americano. Na realidade é uma produção muito megalomaníaca que a despeito dos grandes nomes envolvidos não passa de uma fita convencional, pouco memorável. O problema é definitivamente de seu roteiro. São vários episódios com linhas narrativas que as ligam numa unidade, mas nenhuma delas é bem desenvolvida. Tudo soa bem superficial.

O grande elenco também é outro problema. Apesar dos mitos envolvidos nenhum deles tem oportunidade de disponibilizar um bom trabalho, realmente marcante. John Wayne, por exemplo, só tem praticamente duas cenas sem maior importância. Ele interpreta o famoso general Sherman, mas isso faz pouca diferença pois tão rápido como aparece, desaparece do filme, deixando desolados seus fãs que esperavam por algo mais substancioso. James Stewart tem um papel um pouquinho melhor, de um pioneiro que vive nas montanhas, mas é outro grande nome que também é desperdiçado. A única que faz parte de todos os segmentos é a personagem de Debbie Reynolds, porém ela não é uma figura de ponta no mundo do faroeste. Quem não gosta dela certamente não se importará com sua personagem. Assim, em conclusão, podemos definir "A Conquista do Oeste" como um filme grande, mas não um grande filme. Faltou um melhor equilíbrio.

A Conquista do Oeste  (How the West Was Won, Estados Unidos, 1962)  Direção: John Ford ("The Civil War") / Henry Hathaway ("The Rivers", "The Plains", "The Outlaws") / George Marshall ("The Railroad") / Roteiro: James R. Webb, John Gay / Elenco: Debbie Reynolds, James Stewart, Lee J. Cobb, Henry Fonda, Carolyn Jones, Karl Malden, Gregory Peck, George Peppard, Richard Widmark, Eli Wallach, John Wayne / Sinopse: A saga de uma família de pioneiros cujos descendentes participarão dos grandes eventos que marcaram a história do oeste americano.Filme vencedor do Oscar nas categorias de Melhor Roteiro (James R. Webb), Melhor Som (Franklin Milton) e Melhor Edição (Harold F. Kress).

Pablo Aluísio. 

terça-feira, 14 de janeiro de 2020

Cheyenne

The Cheyenne Social Club é um western diferente, mais leve e com muito bom humor. Só o fato de reunir esses dois mitos, James Stewart e Henry Fonda, já o tornaria obrigatório a qualquer fã de cinema, mas ainda tem mais, outro grande nome na direção: Gene Kelly! Muitos podem torcer o nariz para o fato do filme ter sido dirigido por um ator e dançarino especialista em musicais, mas podem ficar tranquilos, o resultado é muito satisfatório. Obviamente que a ação fica em segundo plano, revelando-se o roteiro uma fina comédia de humor de costumes, mas isso não é um empecilho. O filme foi lançado em 1970, quando o gênero faroeste já estava saindo de moda, mas vamos convir que tudo aqui se encaixa perfeitamente, até mesmo na idade mais avançada dos atores, que interpretam cowboys velhos de guerra que são surpreendidos por uma "herança" no mínimo inusitada. Imagine herdar um bordel numa cidade do velho oeste! É justamente em cima dessa situação curiosa e cômica que o roteiro se desenvolve.

James Stewart novamente faz o papel de um personagem com grande virtude e valores morais. Embora inicialmente isso não fique muito claro, logo o roteiro toma rumos para reafirmar essa característica que de uma forma ou outra sempre marcou todos os seus personagens de sua carreira. Já Henry Fonda está ótimo. Fazendo um cowboy casca grossa, o ator está mais carismático do que nunca. Realmente adorei sua caracterização ao estilo interiorano esperto. Na trama ele funciona como escada para o amigo James Stewart, mas isso em nenhum momento é um problema pois ambos sempre trabalharam excepcionalmente bem juntos. A dupla está perfeita em todas as cenas, demonstrando mesmo como eram bons atores, na verdade eram grandes amigos na vida real e isso passa para a tela. Enfim é isso, embora não seja tão conhecido "The Cheyenne Social Club" é no final das contas uma excelente diversão, com tudo o que o estilo western pede: bom humor, cenas de duelo, tiroteios e grandes atores em cena. Quem precisa de mais do que isso?

The Cheyenne Social Club (Estados Unidos, 1970) Direção: Gene Kelly / Roteiro: James Lee Barrett baseado na novela de Davis Grubb / Elenco: James Stewart, Henry Fonda e Shirley Jones / Sinopse: John O´Hallan (James Stewart) é um cowboy que é surpreendido pela notícia de que recebera de herança um bordel numa cidade do velho oeste. Ao lado do amigo Harley Sullivan (Henry Fonda) resolve ir conhecer o local para colocá-lo à venda, o que não contava era com a resistência das mulheres do estabelecimento que não querem que o "club" seja vendido!

Pablo Aluísio.

sexta-feira, 20 de dezembro de 2019

Raça Brava

Martha Price (Maureen O'Hara) é uma viúva que ao lado de sua filha, Hilary (Juliet Mills), e do cowboy Sam Burnett (James Stewart) resolve partir para o distante Texas com o objetivo de implantar a criação de gado da raça Hereford na região. A iniciativa dela esbarra na mentalidade dos fazendeiros texanos que acham o animal inapropriado para criação por causa do clima hostil e inóspito."Raça Brava" é um "Western de pecuária", ou seja, um faroeste diferente que lida com um tema pouco comum no gênero - a implantação do gado Hereford nas fazendas do oeste, A raça Hereford é natural da Inglaterra e só chegou nos EUA no século XIX. Forte e resistente hoje domina as fazendas americanas, o que não deixa de ser irônico pois quando chegou na América encontrou grande resistência no mercado pecuarista. Embora baseado em fatos reais o filme toma várias liberdades, preferindo deixar o tom mais sério de lado para abraçar um desenvolvimento mais soft, leve, de pura diversão. Há cenas cômicas (como a luta inicial dentro de um curral) e uma abordagem mais romântica na fase final da produção mas no saldo final, mesmo não sendo um produto historicamente fiel aos fatos, vale como diversão familiar descompromissada.

O elenco é liderado por James Stewart. Aqui ele prefere uma caracterização bem mais caricata pois seu personagem, um cowboy caipira, fala com forte sotaque. Stewart parece seguir o tom mais cômico do roteiro. A grande surpresa no elenco feminino vem com a dama Maureen O´Hara de tantos filmes clássicos. Preferida de grandes diretores como John Ford, Henry King e Alfred Hitchcock aqui ela tenta se adaptar a um tipo de produção diferente. A elegante atriz empresta muito glamour à sua personagem, uma britânica viúva que tenta a sorte no velho oeste. Na direção temos o também britânico Andrew V. McLaglen que iria nos anos seguintes iniciar uma produtiva parceria ao lado de um de seus atores preferidos, John Wayne. Em suma, “The Rare Breed” é um faroeste bucólico, levemente bem humorado, com muitas paisagens de cartão postal e um elenco carismático. Uma produção bonita e bem fotografada que vai interessar em especial os criadores de gado da raça Hereford.

Raça Brava (The Rare Breed, Estados Unidos, 1966) Direção: Andrew V Mclaglen / Roteiro. Ric Hardman / Elenco: James Stewart, Maureen O'Hara, Brian Keith, Juliet Mills, Don Galloway, Jack Elam, Ben Johnson / Sinopse: Martha Price (Maureen O'Hara) é uma viúva que ao lado de sua filha, Hilary (Juliet Mills), e do cowboy Sam Burnett (James Stewart) resolve partir para o distante Texas com o objetivo de implantar a criação de gado da raça Hereford na região. A iniciativa dela esbarra na mentalidade dos fazendeiros texanos que acham o animal inapropriado para criação por causa do clima hostil e inóspito.

Pablo Aluísio.

quinta-feira, 19 de dezembro de 2019

Hollywood vai à guerra!

Quando os Estados Unidos finalmente decidiram entrar na II Guerra Mundial, após o ataque em Pearl Harbor, no Havaí, muitos atores, atrizes e diretores americanos atenderam ao chamado da pátria. Para grandes nomes do cinema o exército americano dava a opção de serviço militar visando apenas o entretenimento das tropas no front, mas nem todos os artistas da época aceitaram esse papel secundário. Eles queriam mesmo combater, ir para o campo de batalha e fazer sua parte em nome de seu país. Tudo faria parte do amplo e irrestrito esforço de guerra patrocinado pelos grandes estúdios de Hollywood.

Um dos maiores exemplos de patriotismo veio de James Stewart. Criado no interior, com fortes valores cívicos, Stewart resolveu se apresentar nas forças armadas como um cidadão comum, desprovido de qualquer privilégio. Para tanto acabou entrando nas fileiras de sua tropa como um simples militar da força aérea. Depois, aos poucos, foi subindo dentro da hierarquia militar. Sua boa postura acabou elevando o ator a uma posição de destaque. James Stewart participou de muitas operações e viu de perto algumas das principais batalhas da guerra. Quando deu baixa recebeu a honrosa patente de Coronel, pois havia se tornado piloto de bombardeiros americanos na Europa ocupada pelos nazistas. O curioso é que ele voltaria a interpretar esse mesmo papel em um conhecido filme de guerra chamado "Comando do Ar" que era praticamente uma versão para o cinema do que ele teria vivido durante seu serviço militar na Segunda Guerra Mundial. 

Outro que também entrou de cabeça no conflito foi Clark Gable. Ele foi logo designado como piloto de bombardeiros americanos que iam até a Alemanha de Hitler para despejar toneladas de bombas nas grandes cidades do eixo. Essa verdadeira guerra de propaganda acabou enervando Hitler que resolveu até mesmo dar uma recompensa para quem conseguisse abater o avião de Gable, que apesar disso conseguiu terminar a guerra ileso de qualquer ferimento. Infelizmente sua esposa, Carole Lombard, não teve a mesma sorte pois morreu quando o avião que a levava se chocou contra uma montanha. Clark Gable ficou tão devastado com essa tragédia que passou a pedir mais e mais missões perigosas, para muitos um retrato de que havia perdido o gosto pela vida. Mesmo assim, agindo muitas vezes com imprudência, conseguiu chegar são e salvo ao final da guerra. Psicologicamente porém ele nunca superou os traumas da morte de sua querida Carole. 

Os diretores também entraram no esforço de guerra. Um dos mais famosos, John Ford, logo entrou no campo de documentação e filmagem do exército americano, participando dos registros de várias operações famosas, inclusive do Dia D, quando os países aliados finalmente invadiram a França ocupada por tropas nazistas. Enquanto as tropas aliadas desembarcavam nas praias da Normandia sob fogo pesado dos alemães, a equipe de Ford corajosamente filmava tudo, deixando importantes registros históricos reais do maior conflito da humanidade.

John Wayne já tinha passado da idade certa para prestar o serviço militar, mas participou da guerra vendendo bônus e fazendo publicidade das tropas americanas, em um vasto trabalho para levantar o moral dos soldados americanos no campo de batalha. Ele também decidiu deixar os filmes de western de lado para se engajar numa série de filmes de teor nacionalista a patriótico como os famosos "Tigres Voadores" e "Fomos os Sacrificados".  E depois que a guerra acabou, John Wayne continuou a estrelar filmes que reverenciavam a bravura dos militares americanos, como um de seus maiores sucessos, "Iwo Jima - O Portal da Glória" que recriava uma das mais sangrentas lutas da guerra no Pacífico. Ainda hoje esse é considerado um dos maiores e melhores filmes de guerra já feitos por Hollywood.

Se atores famosos foram para a guerra para se tornarem combatentes comuns, o inverso também se deu. Audie Murphy foi o soldado mais condecorado da guerra. Salvou companheiros de pelotão e realizou missões de alta periculosidade. Mesmo assim também sobreviveu à guerra e após retornar aos EUA começou uma bem sucedida carreira de ator em filmes de faroeste. Infelizmente Murphy trouxe também inúmeros traumas do conflito, tanto que anos depois numa crise suicida, tiraria sua própria vida com um tiro na cabeça. Foi um final trágico e melancólico para um dos grandes heróis americanos da II Guerra Mundial.

Já o chamado trio rebelde de Hollywood conseguiu escapar da guerra. Marlon Brando não conseguiu ser habilitado para o serviço militar por ter o joelho destroçado em seus anos como jogador de futebol americano no colégio militar onde estudou. Jovem e na idade certa para servir à guerra, Brando foi dispensado e ficou em Nova Iorque para dar inicio a uma das carreiras mais marcantes da história do cinema. Outro que escapou do front foi o rebelde James Dean. Até hoje pairam dúvidas sobre a razão da dispensa de Dean das forças armadas, mas em biografias recentes o mistério foi desvendado. James Dean abriu o jogo para o agente de convocação e disse que era gay e que morava com um homem em um apartamento de Nova Iorque. A guerra já havia acabado e ele se viu livre do serviço militar. Diante de sua opção declarada logo foi descartado pelo exército americano.

Outro que escapou foi Montgomery Clift. Ele odiava guerras, era um pacifista de coração, mas isso por si não seria motivo para ser dispensado do serviço militar. Ele se apresentou nas fileiras e seguiu todos os procedimentos de alistamento. O que afinal salvou Clift da guerra foi seu corpo franzino e frágil, que foi considerado inadequado para o corpo de fuzileiros navais. Isso aliás não deixou de ser uma grande ironia pois anos mais tarde Clift faria dois grandes clássicos dos filmes de guerra, "A Um Passo da Eternidade" e "Os Deuses Vencidos" mostrando que nem sempre a vida realmente imitava a arte. Afinal se não foi um militar na vida real se tornou um excelente soldado das telas.

Frank Sinatra também enfrentou problemas semelhantes, mas no caso dele parece que sua fuga do exército foi proposital. O ator alegou que tinha problemas de saúde e usando de influência entre militares de alta patente conseguiu ser dispensado. A imprensa porém pegou no seu pé imediatamente. Com pavor de ser chamado de covarde ele começou a trabalhar em prol da venda de bônus de guerra. Já atrizes como Shirley Temple e Judy Garland se dedicaram a fazer shows para os soldados. Elas foram para a Europa e se apresentavam em campos para soldados que estavam na linha de frente do campo de batalha. Já Marilyn Monroe era apenas uma mocinha na época. Mesmo assim conseguiu colher frutos positivos em sua vida. Trabalhando como operária numa fábrica de aviões militares em Los Angeles sua beleza chamou a atenção de um fotógrafo que tirou algumas fotos dela em seu macacão de fábrica. As fotografias foram publicadas em grandes revistas de circulação nacional e isso deu o pontapé inicial em sua carreira de modelo. Em suma, a guerra mudou a vida de muitos astros e estrelas de Hollywood. Foi um acontecimento histórico que marcou toda uma geração. 

Pablo Aluísio.

segunda-feira, 16 de dezembro de 2019

Janela Indiscreta

Outro clássico absoluto da filmografia do mestre Alfred Hitchcock. O enredo é relativamente bem simples. Depois de sofrer um acidente durante um trabalho, onde acaba quebrando sua perna, o fotógrafo L.B. 'Jeff' Jefferies (James Stewart) fica imobilizado em seu apartamento em Nova Iorque. Para passar o tempo e matar o tédio ele começa a observar de sua janela a rotina de seus vizinhos. Há de tudo. Uma solteirona desesperada e deprimida para arranjar o amor de sua vida; um casal em pleno fogo de lua de mel; uma bailarina bonita que é cortejada por vários pretendentes; um compositor que passa os seus dias ao piano e... um vendedor que supostamente teria matado a própria esposa durante a madrugada! Após presenciar atos bem estranhos dele, Jeff se convence que ele matou a mulher, a esquartejou e colocou partes de seu corpo numa mala. Realidade ou pura ilusão de sua mente?

Após ler um conto de suspense e mistério escrito por Cornell Woolrich, o diretor Alfred Hitchcock decidiu que iria realizar uma versão cinematográfica daquela estória. Obviamente não seria algo fácil. O texto era pequeno, simples e se baseava em apenas uma situação: a de um homem imobilizado, por estar com a perna engessada, que descobria, por acaso, um suposto assassinato no prédio vizinho onde morava. Não havia mesmo muito enredo a se desenvolver, mas Hitchcock era um gênio e acabou realizando uma verdadeira obra prima do cinema. A simplicidade do texto original foi mantida, mas Hitchcock começou a jogar com as situações vividas por seu protagonista, tirando dos pequenos detalhes as maiores qualidades do filme.

Tudo está lá. A atitude voyeur do fotógrafo, sua bisbilhotice inconveniente e condenável, sua hesitação em casar com a noiva, uma jovem linda, rica e maravilhosa (interpretada por Grace Kelly) e por fim sua incapacidade de controlar as situações que vão acontecendo diante de seus olhos. Jeff (o personagem de James Stewart) é um homem de ação, que viveu toda a sua carreira viajando para os lugares mais distantes. Agora ele está impedido de agir por causa da situação em que se encontra. Hitchcock assim mistura ansiedade, imobilismo e suspense em um mesmo caldeirão. O resultado é primoroso. Em termos de linguagem cinematográfica o diretor conseguiu trazer o melhor de si para o espectador. Ele utiliza de todas as formas de narrativa disponíveis na época para deixar o público se sentindo como parte de tudo o que acontece na tela.

Também usa, com muita competência, a linguagem subjetiva, principalmente quando o protagonista Jeff espia o que está acontecendo ao redor de sua janela. Nesse caso a visão do personagem é a mesma do público. A ideia é dar a todos as mesmas sensações que o fotógrafo sente, onde tudo vê, mas nada pode realmente fazer. Uma posição passiva que causa o desconforto que o cineasta quer passar. Por tudo isso e muito mais esse é um clássico da filmografia de Alfred Hitchcock que merece ser sempre revisto. E para aqueles que gostam de achar as pequenas pontas que o próprio Hitchcock gostava de fazer em seus filmes, repare no quarto do compositor. Bem ao lado do pianista lá está a figura inconfundível do grande mestre do suspense. Mais divertido, impossível.

Janela Indiscreta (Rear Window, Estados Unidos, 1954) Estúdio: Paramount Pictures / Direção: Alfred Hitchcock / Roteiro: John Michael Hayes / Elenco: James Stewart, Grace Kelly, Wendell Corey, Thelma Ritter, Raymond Burr, Georgine Darcy / Sinopse: O filme acompanha L.B. 'Jeff' Jefferies (James Stewart). Imobilizado em uma cadeira de rodas após sofrer um acidente ele começa a espiar seus vizinhos, apenas para matar o tédio. Só que acaba descobrindo algo terrível acontecendo do lado de fora de sua janela. Filme indicado ao Oscar nas categorias de Melhor Direção (Alfred Hitchcock), Roteiro (John Michael Hayes), Fotografia (Robert Burks) e Som (Loren L. Ryder).

Pablo Aluísio.