quarta-feira, 26 de junho de 2019

Crônicas de Marlon Brando - Parte 10

Depois do aclamado "O Último Tango em Paris", Marlon Brando surpreendeu a todos ao aceitar participar do novo filme de Arthur Penn chamado de "The Missouri Breaks" (Duelo de Gigantes, no Brasil). Era realmente de cair o queixo o fato do grande ator aceitar trabalhar em um filme menos pretensioso, menos artístico. Além disso era um western, gênero que ninguém pensava que Brando voltaria a atuar.

Na realidade o ator queria mesmo relaxar. Ele tinha atuado em filmes fortes, verdadeiros clássicos e estava de certa forma exausto da repercussão que essas obras tinham provocado. Era impossível para Brando encarar mais uma obra de grande magnitude pela frente. Assim ele optou por algo mais comercial, mas simples, menos estressante. Some-se a isso o fato de Brando ter a chance de atuar ao lado de seu amigo e vizinho Jack Nicholson, um sujeito de quem ele gostava bastante, algo raro dentro da comunidade de cinema em Los Angeles, onde todos pareciam competir ferozmente entre si.

Um fato curioso aconteceu durante as filmagens desse filme. O estúdio começou a atrasar os depósitos dos pagamentos de Brando em sua conta corrente. Isso irritou o ator. Nada parecia menos profissional do que atrasar o cachê de um astro de seu porte. Assim Brando começou a jogar também. Ele de repente começou a esquecer sua falas, atrasando completamente o cronograma de filmagens. Os dias iam passando e nada de Brando acertar suas cenas. O amigo Jack Nicholson logo entendeu as intenções de Marlon e se divertiu muito com o fato. O impasse durou até o produtor Elliott Kastner resolver ir pessoalmente até o trailer do ator. Brando, com aquele seu jeito único, explicou a situação então ao produtor: "Sabe Elliot, talvez se não esquecerem mais de me pagar, eu consiga me lembrar das minhas falas!". Recado dado e entendido, a Paramount nunca mais atrasou os pagamentos de Marlon.

Outra coisa que chamou a atenção foi o fato de Brando novamente resolver improvisar. Ele achava que o roteiro não era grande coisa, por isso começou a criar coisas absurdas para seu personagem. Em seu livro de memórias o ator explicou que seu personagem era um pistoleiro genérico, sem muitos atrativos. Então ele resolveu se vestir de mulher, ter um comportamento excêntrico e fazer coisas impensáveis para um assassino profissional no velho oeste. O diretor Arthur Penn gostou das inovações e assim Brando imprimiu sua marca autoral nesse faroeste que tinha tudo para ser mais uma fita banal do gênero.

Pablo Aluísio.

Crônicas de Marlon Brando - Parte 9

As filmagens de "O Último Tango em Paris" foram mais complicadas do que todos poderiam prever. O diretor Bernardo Bertolucci não falava inglês, Marlon Brando não falava italiano e a atriz Maria Schneider era francesa. Por isso não havia como se comunicarem direito. Em seu livro de memórias Brando explica que na maioria das vezes se comunicava através de mímica com o diretor ou então nas poucas palavras em francês que ele dominava. Também não havia um script e o roteiro era completamente aberto. 

Toda a liberdade que Brando procurou por anos lhe foi dada. Ele poderia dizer o texto que quisesse, falar o que bem entendesse, sem seguir nenhuma regra. Assim Brando improvisou praticamente em todas as cenas, revivendo antigas lembranças de sua infância, falando dos pais, da mãe alcoólatra, de seus primeiros anos em uma cidade rural do meio oeste americano. Isso acabou virando uma verdadeira terapia para o ator. Sua atuação foi a mais íntima e pessoal de toda a sua carreira. Algo inédito em sua vida profissional.

Isso levou Brando a também ter um esgotamento emocional nas filmagens. Tamanho esforço lhe deixou exausto a tal ponto que depois o próprio Brando acabou renegando o filme. Ele só o assistiu uma única vez, depois nunca mais quis rever a obra. Em seu livro ele chegou a admitir que jamais chegou a entender completamente a proposta de "O Último Tango em Paris" e creditou ao acaso o sucesso de crítica da produção. Resenhas altamente elogiosas, como a da famosa Pauline Kael, eram exageradas, na visão pessoal de Brando.

Recentemente o filme voltou a criar polêmica quando o diretor Bernardo Bertolucci declarou que as cenas de sexo tinham sido reais e sem a prévia autorização da atriz Maria Schneider. Por isso muitos jornalistas chegaram até a acusar Bertolucci e Brando de terem promovido um estupro durante as filmagens. Não era verdade. Em seu livro Brando deixou claro que não houve sexo real nas cenas, que tudo havia sido apenas simulado, encenado. Ele nunca teve relações sexuais com a atriz. Assim a tese de que teria havido um estupro nunca fez o menor sentido. De sua parte Marlon Brando deixou claro que depois desse filme jamais iria se despir emocionalmente como fez. Era doloroso demais, relembrar os traumas do passado e tudo mais. Dali em diante o próprio Brando só aceitaria participar de filmes com scripts devidamente escritos, em roteiros mais tradicionais. A liberdade completa, pelo visto, não lhe fez muito bem.

Pablo Aluísio.

terça-feira, 25 de junho de 2019

Crônicas de Marlon Brando - Parte 8

Logo no começo de sua carreira Brando conheceu a atriz Anna Kashfi. Ela era indiana e tinha ido até Hollywood em busca do sucesso no cinema americano. Kashfi tinha uma beleza exótica, bem diferente das loiras americanas. Brando sempre foi atraído por esse tipo de mulher e o fato dela ser muito independente, de forte personalidade, fez com que Marlon ficasse ainda mais caído por ela. Desde seus primeiros amores Marlon Brando sempre se interessou por mulheres de etnias diferentes da sua. Ele tinha intensa predileção por mulatas, negras e latinas. Também se interessava muito por taitianas. Assim em termos de visual Kashfi tinha tudo o que precisava para seduzir Brando. Apaixonado, o ator a pediu em namoro, mas ela, para sua completa surpresa, o recusou. Isso atiçou ainda mais o lado conquistador de Brando que estava decidido a conquistá-la de todas as formas. Depois de muitas recusas ela finalmente cedeu. Brando ficou completamente encantado a ponto de pensar pela primeira vez em sua vida no casamento. Sabendo que poderia ganhar o grande prêmio na capital mundial do cinema ela acabou manipulando o ator e em pouco tempo estavam casados.

Infelizmente a união passou longe de ser um casamento feliz. Marlon Brando não estava disposto a deixar suas inúmeras amantes. Nunca havia sido fiel em sua vida e não seria agora que as coisas mudariam. As traições viraram rotina. Brando estava sempre dando alguma desculpa para ficar longe de sua casa e se divertia a valer com as muitas mulheres (e dizem, homens) que frequentavam sua cama. Anna Kashfi ficou furiosa com seu comportamento. Mulher de gênio forte jamais iria aceitar esse tipo de humilhação pública (sim, Brando surgia com suas amantes em restaurantes e festas, na frente de todos, sem um pingo de arrependimento). Seu comportamento não iria dar em algo bom e realmente não deu.

Numa noite Brando chegou de madrugada em casa logo após uma noite de farras. Anna Kashfi o estava esperando na cozinha, fora de si, com uma faca na mão. Assim que Marlon entrou no recinto ela tentou lhe esfaquear. A agilidade salvou o ator da morte certa. Ele conseguiu se desviar no último segundo. Com a faca na mão Anna não desistiu e saiu correndo atrás de Brando que correu com toda a velocidade para a piscina. Agora imaginem a cena, o ator mais bem pago de Hollywood dando voltas em sua piscina com sua mulher enfurecida com uma faca na mão decidida a matá-lo! No outro dia empregados de Marlon e Anna abriram a boca e em pouco tempo o escândalo já tinha se tornado público e notório. O que ninguém sabia e nem Marlon é que Anna era bipolar, sofria de problemas mentais e em sua família várias mulheres tinham apresentado esse problema ao longo dos anos.

Depois disso Brando resolveu dar um basta, pediu divórcio e começou uma longa, custosa e penosa briga na justiça pela guarda do filho Christian Brando (anos depois seu filho seria condenado pela morte do marido da própria irmã e condenado, cumpriria uma longa pena de prisão por assassinato em primeiro grau). As custas judiciais pelo divórcio e pela guarda definitiva e exclusiva de seu único filho custaram muito a Brando. Ele gastou milhões com advogados e teve que conviver com o assédio implacável da imprensa. Para piorar a carreira começou a ir mal, a má publicidade nos jornais influenciou o público que deixou de ir conferir seus últimos filmes. De repente Brando via sua vida profissional e sentimental em frangalhos. Muito bem humorado o ator dizia que nada disso importava, o que mais lhe preocupava era o fato de estar ficando rapidamente careca! Pelo visto Brando jamais perdeu uma das coisas mais importantes de sua personalidade, o bom humor!

Pablo Aluísio.

Crônicas de Marlon Brando - Parte 7

Hoje em dia as pessoas conhecem muito mais o filme "Uma Rua Chamada Pecado" do que propriamente a peça teatral que lhe deu origem. Escrita pelo genial autor Tennessee Williams, a obra ficou longos anos em cartaz nos mais concorridos teatros de Nova Iorque. Na primeira versão montada o próprio Marlon Brando interpretou o rude Stanley Kowalski. Se no filme a atriz escalada para viver Blanche DuBois foi Vivien Leigh (em ótima performance), no teatro coube a Jessica Tandy viver a complexa personagem.

Em sua autobiografia Brando deu sua opinião sobre as duas atrizes. Para ele Jessica Tandy nunca se mostrou adequada para interpretar Blanche. Brando relembra que nas apresentações da peça ela adotava uma maneira muito caricata de dar vida ao confuso mundo interior de Blanche. Isso criava até mesmo um humor involuntário que era péssimo para a montagem. Já Vivien Leigh se mostrava muito mais sutil, elegante até! Brando foi além e afirmou que em certos aspectos Vivien Leigh era Blanche, pois tinha uma vida tão complexa e confusa do ponto de vista mental e emocional quanto à sua personagem que interpretava nas telas.

Outro aspecto interessante confessado pelo ator em seu livro foi o fato de reconhecer que muitas vezes ficava entediado com as várias apresentações de teatro. Obviamente nem sempre seu personagem estava em cena e quando isso acontecia Brando ficava nos bastidores tentando matar o tempo. Como estava muito preocupado em sua forma física ficava o tempo todo levantando peso até a hora de entrar no palco novamente. Certo dia resolveu fazer algo diferente e começou a treinar boxe. Má ideia. Em pouco tempo Brando havia sido colocado à nocaute por um funcionário do teatro, um negão de quase dois metros de altura. O pior é que tudo aquilo aconteceu bem no meio da apresentação da peça!

Como o show não podia parar, Brando resolveu entrar no palco mesmo assim, ferido. Com a camisa encharcada de sangue ele entrou na sua deixa e assustou Jessica Tandy que estava no palco! Curiosamente quem acabou não notando nada de diferente foi o próprio público que pensou estar vendo todo aquele sangue como parte da cena. Depois de terminar suas falas Brando se retirou e foi direto para o hospital onde os médicos diagnosticaram a quebra de seu nariz em vários pontos. Esse incidente convenceu Brando que o teatro já não era mais sua praia. Ele queria mesmo era ir para Hollywood onde os cachês eram enormes e o trabalho bem mais leve. Assim logo após ter alta o ator fez sua malas, pediu demissão, fechou seu apartamento em Nova Iorque e foi embora para Los Angeles. Uma nova carreira estava começando para ele! Hollywood era o caminho.

Pablo Aluísio.

segunda-feira, 24 de junho de 2019

Crônicas de Marlon Brando - Parte 6

Desde os primeiros dias em Hollywood Marlon Brando sabia que a pior parte de ser um ator de cinema era ter que lidar com a imprensa da costa oeste. Marlon estava acostumado com os grandes órgãos de notícias de Nova Iorque, que eram sérios e tratavam de temas relevantes. Em Los Angeles a coisa era bem diferente.

O mundo das celebridades já estava a mil quando ele chegou por lá. Os principais nomes dos jornais que tratavam sobre cinema não eram de jornalistas consagrados, mas de senhoras que eram mais conhecidas por seus fuxicos e fofocas do que por qualquer outra coisa. Entre elas havia Hedda Hopper, ex-atriz que se destacava mais por publicar mexericos em sua coluna do que produzir algo que prestasse.

Brando achava aquilo de uma futilidade sem tamanho. Até porque ele queria ser um ator sério e não uma celebridade respondendo perguntas idiotas como se ele dormia nu, se gostava de beber ou se era tão namorador como diziam. O problema é que Brando tinha que dar entrevistas por obrigação contratual, como parte do esforço de divulgar seus novos filmes e assim lá ia ele se encontrar com essa gente que tanto desprezava. Geralmente Brando dava respostas absurdas nessas entrevistas maçantes. Quando perguntado por seus pais, Brando dizia: "Morreram no Titanic!". Onde havia nascido? "Em Kuala Lumpur". O que gostava de fazer nas horas vagas? "Plantar bananeira" e por aí vai.

Tão entediado e aborrecido ficava nesses momentos que a partir do momento em que virou um astro em Hollywood Brando disse a seu agente que retirasse de seus contratos toda e qualquer obrigação de ter que falar com a imprensa de Hollywood. Para Brando os seus filmes falavam por ele, tudo o que precisavam saber sobre Marlon Brando, o ator, estava em suas atuações. Nos anos que seguiram isso aumentou a fama de rebelde de Marlon Brando ao mesmo tempo em que o transformou em um alvo da imprensa. Qualquer deslize em sua vida pessoal era logo tratado como um grande escândalo pelas jornalistas fofoqueiras de Los Angeles. Havia um preço a se pagar ao não fazer o jogo daquela gente e Brando pagou muito bem esse preço.

Pablo Aluísio.

Crônicas de Marlon Brando - Parte 5

Em 1949 Marlon Brando apareceu em um episódio da série Actor's Studio. Essa foi uma série televisiva muito interessante produzida pelo canal ABC que tinha como objetivo levar adaptações de textos teatrais para a TV. O material era escrito, dirigido e interpretado por professores e alunos do famoso Actor's Studio de Nova Iorque. Como Brando estudava lá, também participou de um dos episódios chamado "I'm No Hero".

Aqui Brando interpreta um jovem e inexperiente médico que é forçado a mão armada a operar um gangster ferido após uma intensa troca de tiros com a polícia, interpretado por Harry Bellaver, numa adaptação de uma história de Henry Kane. O curioso é que o programa era feito ao vivo e em seu livro de memórias Brando relembra que trabalhar dessa maneira era muito complicado para um ator como ele. 

Numa das cenas do episódio Brando tinha que entrar debaixo de um chuveiro, ficar pensativo e receoso pois seu personagem estava o tempo todo sob a mira de uma arma de fogo. Na hora em que estava atuando o contraregra abriu a água e Brando foi surpreendido por um verdadeiro dilúvio em sua cara. O problema é que a água estava fria como o pólo norte e Brando não aguentou e soltou um grito dizendo: "Mas que diabos?!"

O mais divertido de tudo é que no dia seguinte o New York Times elogiou a intensidade da "atuação" de Brando, só que na verdade aquela tinha sido apenas uma reação natural diante de uma situação de completa surpresa! Pelo visto a estrela de Brando já brilhava desde o começo de sua carreira!

Pablo Aluísio.

domingo, 23 de junho de 2019

Crônicas de Marlon Brando - Parte 4

A carreira e a vida pessoal de Marlon Brando enfrentaram diversos problemas nos anos 1960. O ator não parecia mais se entender com os estúdios, brigava com diretores e para piorar um quadro complicado começou a escolher os roteiros errados. Muitos de seus filmes fracassaram nas bilheterias, gerando um mal estar geral entre o ator, seu empresário e a indústria cinematográfica. De repente o grande astro da década anterior parecia não ter mais importância. Não gerava mais lucro para Hollywood.

Na vida pessoal do ator imperava o caos. Ele havia se casado com a atriz Anna Kashfi. Mulher de temperamento forte, não aceitava o modo de ser do marido. Brando era conhecido como um mulherengo e invariavelmente traía todas as mulheres com quem se envolvia. Com Anna não seria diferente. Ele tinha inúmeras amantes e muitas vezes não tinha nem a preocupação de esconder isso. Obviamente a imprensa de fofocas fazia a festa.

Só que Anna Kashf não estava disposta a ser humilhada publicamente. Após mais uma reportagem noticiando um dos casos amorosos do marido ela resolveu confrontá-lo em uma de suas casas em Los Angeles. A discussão foi ficando cada vez mais acalorada e insana, até que Anna resolveu que iria matar Brando. Ela pegou uma faca de cozinha e foi para cima dele. O ator recuou, mas quase foi esfaqueado. A polícia foi chamada. O escândalo ganhou grandes proporções na imprensa marrom. Isso em nada iria ajudar na carreira de Brando, naquela altura bem em baixa em Hollywood.

O casal acabou se separando, mas isso não foi o fim dos problemas. Marlon e Anna ficariam anos brigando nos tribunais na luta pela guarda do filho Christian. Ela também pediu uma fortuna de milhões de dólares para assinar o divórcio. As finanças do ator foram à bancarrota. Ele tinha que pagar advogados, investigadores, detetives particulares. E Anna não parecia disposta a deixar de lutar com fúria, o ameaçando de morte por anos a fio. Quando muitos anos depois Marlon Brando aceitou escrever sua autobiografia ele só pediu uma exigência, a de que não iria falar dos problemas enfrentados em seus casamentos. Era tanta confusão e baixaria que o livro iria correr o risco de virar uma novela mexicana, daquelas bem bregas!

Pablo Aluísio. 

Crônicas de Marlon Brando - Parte 3

Em sua autobiografia "Canções Que Minha Mãe Me Ensinou" Marlon Brando relembrou como foram terríveis as filmagens de "Vidas em Fuga". O problema básico foi o comportamento da atriz Anna Magnani no set de filmagens. Diva do cinema italiano Anna estava entrando numa idade em que papéis rareavam e ela perdia espaço para beldades mais jovens.

Com receio de aparecer velha nas cenas mandou seu maquiador literalmente esticar seu rosto com esparadrapos atrás de sua cabeça, o que a deixava com uma expressão facial constrangedora. Brando fez de tudo para não criar problemas nas filmagens, mas foi impossível. Anna Magnani estava obcecada em ter um caso amoroso com ele e queria a todo custo levar o ator para a cama. Brando não tinha o menor interesse nela, mas não queria dispensá-la frontalmente pois sabia que seria um insulto tremendo para a atriz.

Em um jogo de sedução nada sutil Anna começou a agarrar o ator pelo set de filmagem. No começo Brando tentou levar na brincadeira e na esportiva, mas a situação foi ficando cada vez mais complicada. Nas cenas de beijo de seus personagens a atriz italiana perdia a compostura, beijando de forma violenta, chegando até mesmo a rasgar os lábios de Brando. Para cessar o assédio o ator resolveu radicalizar e começou a comer alhos e cebolas para ficar com um hálito insuportável. Não adiantou, Magnani continuou com suas investidas.

Tudo continuava na mesma até que um dia Brando resolveu deixar claro que não queria nada mesmo com Magnani. Falou com a atriz abertamente sobre isso, porém a italiana pareceu entrar em um transe e agarrou o ator com força para lhe dar outros daqueles beijos selvagens. Acuado, Brando sem alternativas, a empurrou com força e deu um apertão em seu nariz... a atriz ficou espantada com a reação do ator e saiu do set vociferando palavrões contra Brando! No livro Marlon diz ter se lembrado daqueles ataques de viúvas negras que após acasalarem com seus machos os devoravam vivos! Algo que o ator definitivamente não queria pagar pra ver.

Pablo Aluísio.

sábado, 22 de junho de 2019

Crônicas de Marlon Brando - Parte 2

"Sindicato de Ladrões" foi de certa maneira uma forma que o diretor Elia Kazan encontrou de se justificar aos seus colegas de profissão após ter dedurado uma série de profissionais do cinema e teatro para o comitê de atividades anti americanas. Parte dessas pessoas tinham participado do Partido Comunista americano e isso era algo muito sério naquela época. Para escapar da prisão ou talvez até mesmo de ser banido de Hollywood, Kazan resolveu entregar todos aqueles que ele sabia serem membros do Partido. Obviamente que aquilo tudo pegou muito mal e da noite para o dia Kazan passou a ser um nome a ser evitado. Como contornar uma situação dessas? A resposta caiu no colo de Kazan poucas semanas depois.

No roteiro desse filme também havia um sujeito que fora forçado pela situação para entregar os nomes de pessoas que tinham se envolvido em esquemas de corrupção. Quando Marlon Brando foi convidado para o papel de Terry Malloy ele imediatamente disse não, mas depois acabou sendo convencido que seria mais uma boa oportunidade de realizar um grande filme - e isso era a mais absoluta verdade. As filmagens se concentraram entre Nova Iorque e Hoboken, New Jersey e foram muito duras. Com baixas temperaturas, Brando precisou aprender parte da manha dos trabalhadores braçais do porto da cidade. Acabou fazendo amizades entre eles e em pouco tempo estava completamente à vontade em seu papel.

Por ser uma obra delicada que serviria a um propósito maior, Kazan queria seguir o script à risca, mas isso definitivamente não aconteceria com Marlon Brando no elenco. Numa cena com Rod Steiger e ele, o diretor sugeriu uma determinada situação de confronto no banco de trás de um carro. Brando achou que duas pessoas tão próximas como eram os personagens deles nunca se tratariam daquele jeito e por isso sugeriu mudanças. Ao invés de acontecer uma luta insana e feroz, o personagem de Brando apenas olharia com rosto chocado quando Steiger lhe apontasse uma arma. Era uma reação mais natural. Após um longo combate criativo Kazan finalmente se convenceu que Brando estava mesmo com a razão. Para Brando a resposta positiva por parte de Kazan confirmava o que ele pensava do diretor: que ele era de fato um dos cineastas mais brilhantes da história de Hollywood. Por seu engajamento no filme e principalmente por sua ótima atuação, Brando mais uma vez acabou sendo indicado ao Oscar de Melhor Ator.

Hoje em dia, depois que Brando recusou seu Oscar por "O Poderoso Chefão", todos conhecem a extrema ojeriza que o ator sentia pela Academia, mas naquela época, ainda um jovem talento em ascensão, Brando decidiu que compareceria à premiação. Para sua surpresa seu nome foi anunciado e ele, pela primeira vez em sua carreira, seria premiado com a estatueta mais cobiçada do cinema americano. Usando um comportado terno, todos sorrisos, Brando subiu ao palco e recebeu seu Oscar das mãos de uma princesa, Grace Kellly. Estaria o mais famoso selvagem de Hollywood devidamente domado? Pelo menos naquela noite memorável sim. Brando foi um perfeito gentleman. Agradeceu até emocionado pelo reconhecimento e depois fez um discurso bem nos moldes que todos esperavam, sem atropelos ou escândalos. Anos depois o Oscar de Brando foi parar numa casa de leilões. Em seu livro o ator reconheceu não se lembrar mais onde ele havia ido parar, mas depois de um ou dois minutos admitiu que o havia dado de presente - só não lembrava direito a quem! Imagine, o prêmio mais desejado de Hollywood indo parar nas mãos de qualquer um... enfim, coisas de Marlon Brando...

Pablo Aluísio.

Crônicas de Marlon Brando - Parte 1

Em 1953 Marlon Brando entrou no set de seu novo filme, "The Wild One" que no Brasil seria intitulado "O Selvagem". Brando, já naquela altura considerado o maior rebelde de Hollywood, iria interpretar o papel de um jovem motoqueiro chamado Johnny Strabler. A direção seria do cineasta húngaro Laslo Benedek que havia dirigido a adaptação para o cinema do clássico da literatura "A Morte do Caixeiro Viajante" dois anos antes. Inicialmente Brando não viu grande coisa no roteiro. Para ele seria um filme apenas para cumprir contrato com o produtor Stanley Kramer. Como era um filme pequeno, de curta duração e com enredo simples, não haveria muito trabalho à vista.

Nada que poderia se comparar com os filmes anteriores do ator, verdadeiras obras primas como "Espíritos Indômitos", "Uma Rua Chamada Pecado", "Viva Zapata!" e principalmente "Júlio César" que havia exigido muito dele em termos de atuação. Afinal de contas Brando havia suado a camisa para se sair bem em seus primeiros filmes, em especial o último, uma complicada adaptação para o cinema da famosa peça escrita por William Shakespeare, sob direção do austero Joseph L. Mankiewicz. Assim interpretar Johnny era quase como um passeio no parque. Além do mais Brando adorava motos e o universo que as cercava, então foi mesmo a união de algo que gostava de fazer em sua vida pessoal com a possibilidade de dar um tempo nos filmes mais sérios e desafiadores.

Para sua surpresa porém o filme virou um dos maiores cult movies da história. Inicialmente Brando não gostou da película. Como ele próprio recordou em suas memórias a primeira vez que assistiu a "O Selvagem", logo após sua estreia nos cinemas, não gostou mesmo do que viu. Achou o filme violento e sem conteúdo. Curiosamente a fita acabou virando o estopim de uma série de revoluções comportamentais ocorridas na juventude americana nos anos 1950, desembocando na revolução cultural que iria estourar nos anos 1960. Para Brando foi tudo uma grande surpresa. Ele não tinha consciência na época que havia todo um sentimento reprimido por parte dos jovens e que seu filme seria usado para aprofundar todos esses anseios. Johnny, na visão de Brando, era apenas mais um personagem a interpretar. A juventude da época porém viu de outro modo. Aquele motoqueiro, vestido de couro preto da cabeça aos pés, era a personificação da liberdade. O roteiro dava a ele uma conotação ruim, algo que não poderia ser usado como modelo, mas como um aviso contra a delinquência juvenil. Para reforçar isso o estúdio colocou um texto avisando sobre os males de se seguir o exemplo dos personagens. Brando percebeu que o tiro sairia pela culatra. A juventude em geral ignorou a mensagem moralista quadrada e obsoleta e abraçou o personagem como um ícone, um mito, um exemplo a seguir. Para Brando não poderia ser melhor e ele foi elevado à altura de símbolo máximo entre os jovens da época.

Realmente, do ponto de vista puramente cinematográfico "O Selvagem" não pode ser comparado aos demais clássicos que Brando rodou por essa época em sua carreira. Já do ponto de vista meramente cultural e sociológico é de fato um dos mais marcantes momentos de sua carreira no cinema. Isso porque o filme não pode ser visto apenas sob a ótica do que se vê na tela, e sim muito mais além disso, pois teve enorme influência dentro da sociedade, principalmente entre os jovens, que viram ali um modelo de liberdade incrível. Numa época em que havia grande repressão e os controles morais eram extremos, ver Johnny atravessando a América de moto, sem dar satisfações a ninguém, e vivendo com um grupo de rebeldes como ele, era de fato um impacto para o jovem americano típico dos anos 1950. Depois que Brando surgiu com aquela imagem ícone, nasceu toda uma cultura jovem no país, até porque a juventude de um modo em geral era completamente ignorada dentro da sociedade até então, sendo considerada apenas uma transição entre a infância e a vida adulta. Depois de Brando vieram James Dean - o maior símbolo de juventude que o cinema jamais produziu - o Rock ´n´ Roll, Elvis Presley e toda a iconografia da cultura jovem que conhecemos hoje em dia.

Para Brando o filme passou logo, mas os efeitos dele se tornaram duradouros. Assim que terminou as filmagens da fita ele foi procurado novamente por Elia Kazan. Ele o convidou para participar do filme "On the Waterfront" (no Brasil, "Sindicato de Ladrões"). Assim que leu o roteiro Brando entendeu do que se tratava. Era uma grande metáfora em forma de película, que justificava de certa forma o comportamento do próprio Kazan durante o Macartismo, onde ele havia dedurado vários colegas de profissão. Depois disso a biografia do cineasta havia sido manchada para sempre. Ele tencionava com o filme resgatar parte de seu prestígio dentro da comunidade cinematográfica, ao mesmo tempo em que justificava seu ato e pedia desculpas pelo que fez. No começo Brando relutou em fazer o filme. Desde sempre ele se considerava um liberal e o que Kazan havia feito era realmente algo desprezível. A vontade porém de realizar mais uma obra prima foi maior do que seus escrúpulos pessoais. Assim, ainda vestido de Johnny, ele se encontrou nos corredores da MGM e assinou o contrato com Kazan. Mal sabia que estaria prestes a realizar um dos maiores filmes de toda a sua carreira.

Pablo Aluísio.

sexta-feira, 21 de junho de 2019

A História de Rock Hudson - Parte 10

Rock Hudson e Doris Day brilharam nas telas durante a década de 60. Juntos realizaram três filmes de grande sucesso: "Confidências a Meia Noite", "Volta Meu Amor" e "Não Me Mande Flores". Além dos sucessos de bilheteria se deram muito bem também fora das telas. Rock e Doris se divertiram muito nos sets de filmagens. O ator relembra: "Fazer filmes com Doris Day era um enorme prazer. Para mim aquilo não era trabalho. Não havia um único dia em que eu não me divertia muito! Ela era espirituosa, alegre, animada e tinha um talento para comédias como eu nunca tinha visto antes".

Fazer comédias ao lado de Doris Day era naquela altura de sua carreira uma mudança e tanto. Rock vinha de vários sucessos em aventuras, alguns faroestes e principalmente em dramas dirigidos por Douglas Sirk. De ator dramático e sério para comediante era grande reviravolta nos rumos de sua filmografia mas Rock topou o desafio e não se arrependeu. De fato os filmes que realizou ao lado de Doris deram tão certo que o ator resolveu investir na década de 60 em filmes nessa linha como "Quando Setembro Vier", "O Esporte Favorito do Homem" e "Um Favor Muito Especial". De repente Rock havia se tornado o ator número 1 de Hollywood para comédias românticas e maliciosas.

Rock e Doris continuaram amigos até o fim de suas vidas. Na década de 80 Doris estava falida após diversos divórcios com homens que acabaram levando tudo o que ela tinha ganho em anos de trabalho. Tentando uma saída ela migrou para a TV. Na estreia de um de seus novos programas chamado "Doris Day and Friends" resolveu convidar o amigo Rock Hudson para dar uma força em sua audiência. Ela não sabia porém que Rock estava seriamente doente naquela ocasião. Corroído pela AIDS, muito magro e abatido se surpreendeu com o convite da amiga. Rock sabia que surgir publicamente com aquele aspecto físico seria terrível para sua imagem mas mesmo assim não recuou. Querendo ajudar Doris Day de todas as formas apareceu para gravar ao lado da amiga. Foi a última aparição pública de Rock Hudson. Um gesto de coragem sem dúvida, mas muito mais uma atitude de carinho e devoção para com sua querida amiga Doris Day. Foi um belo final para uma amizade muito especial.

Pablo Aluísio.

A História de Rock Hudson - Parte 9

Junho é sempre uma boa oportunidade para colocar a leitura em dia. Nesse período de férias resolvi me dedicar a ler as biografias de dois mitos de Hollywood do passado: Marilyn Monroe e Rock Hudson. Sobre o livro 'A Deusa", que mostra detalhes da vida de Marilyn, ainda tecerei comentários futuramente aqui mesmo no blog. Agora quero falar um pouco sobre a autobiografia de Rock Hudson intitulada "História de sua vida". Em um texto muito bom somos apresentados a uma das trajetórias mais marcantes dos anos dourados do cinema americano. A ascensão e a queda de um dos grandes ídolos do passado são desvendados sem o glamour que tanto conhecemos. Rock desvenda sem pudores os grandes segredos dos estúdios, as intrigas e o star system. Logo no começo do livro o ator deixa bem claro que não devemos acreditar em nada do que nos é repassado pelos grandes estúdios. Tudo não passava de uma grande mentira.

A própria vida de Rock Hudson foi de certa forma construída em cima de uma mentira. Após passar alguns anos na Marinha, Roy Fitzgerald Scherer (seu verdadeiro nome) foi para Hollywood tentar a carreira de ator. Boa pinta, com mais de 1.90 de altura, Roy sabia que poderia encontrar uma boa oportunidade na terra do cinema. Lá começou os primeiros passos rumo ao estrelado. Através de bons contatos profissionais o ator conseguiu ser aceito na "fábrica de atores" da Universal e começou a aparecer numa série de pequenos filmes do estúdio. Era o chamado Star System. As companhias de cinema treinavam, ensinavam como se comportar em eventos sociais e promoviam determinados atores para depois os transformarem em grandes astros. Até mesmo seus nomes eram mudados e transformados, tudo num rígido e bem pensado sistema de promoção à prova de falhas. E foi assim que nasceu "Rock Hudson", um verdadeiro galã americano que em poucos meses já havia se transformado no sonho de todas as mulheres daquele tempo. Rock era considerado o "homem ideal" e o "marido perfeito" e assim foi construído todo o seu mito. Durante mais de uma década foi o ator mais popular de Hollywood, conquistando um sucesso de bilheteria atrás do outro. Era definitivamente a personificação do Sonho Americano. Só havia um pequeno detalhe nessa história de sucesso que era guardado a sete chaves pela Universal: Rock era gay!

A autobiografia de Rock foi escrita quando o ator estava em seu leito de morte, corroído pela AIDS. Com receio de sua história ser distorcida por outros, Rock contratou uma escritora profissional (Sara Davidson) e resolveu contar o seu lado da história. Mesmo debilitado resolveu abrir o jogo sobre a verdade obscura atrás da cortinas douradas de Hollywood. O retrato descrito por ele é demolidor. Rock conta vários segredos de bastidores que deixariam qualquer um de seu fãs dos tempos áureos de queixo caído. Em pouco mais de 400 páginas o ator fala sobre o mecanismo de fabricação de ídolos e revela fatos até então nunca revelados. Entre eles admite que só conseguiu o grande papel de sua carreira, no filme Assim Caminha a Humanidade, após dormir com um dos principais executivos da Universal. O sujeito, casado e pai da família, depois encontraria Rock em um jantar social e sussurraria em seu ouvido que "ainda o amava"!

O homossexualismo de Rock é mostrado sem rodeios. Os vários amantes e companheiros de sua vida são nomeados e descritos sem qualquer problema. Não poderia ser diferente, como Rock morreu antes da conclusão da autobiografia ele pediu aos seus amores do passado que contassem toda a verdade sobre os anos que viveram juntos. Essa parte do livro pode incomodar algumas pessoas pela franqueza. As várias tentativas de encobrir sua vida pessoal também são mostradas em detalhes. Entre elas a maior de todas: o casamento de fachada entre ele e uma secretária de um dos seus agentes. Rock se casou com ela justamente quando os boatos de que era gay ganhavam maior destaque na mídia. Apesar de sempre haver dúvidas Rock conseguiu, a duras penas, manter sua fama de "homem ideal" por várias décadas, tanto que o mundo recebeu com grande surpresa em 1985 a notícia de que estava com AIDS por ser homossexual.

Outro aspecto interessante do livro é mostrar a nítida transição que o cinema sofreu no final dos anos 60 e começo dos anos 70. Rock descreve a dificuldade de se manter trabalhando nesse período, quando os filmes passaram a retratar uma realidade concreta da vida e não apenas uma realidade idealizada dos grandes filmes do passado. Foi a época em que uma nova geração de atores surgiu, como Al Pacino, Robert De Niro e outros. Astros com cara de gente comum, pessoas do povo, bem distante da imagem de galã impecável do qual Rock era o símbolo maior. Sem trabalho Rock teve que se contentar em fazer TV (que odiava) e Teatro (que amava). Enfim, o livro é um excelente retrato de uma período que marcou a história do cinema. Rock é mostrado não apenas como um grande ator desse tempo mas também como uma pessoa muito humana que tentou sobreviver em Hollywood da melhor maneira que podia. Sua coragem no final de sua vida ao revelar todos os seus segredos diz muito sobre sua personalidade. Com sua morte Rock chamou a atenção da grande mídia para a AIDS, que naquele momento ainda era uma doença relativamente desconhecida do grande público. No final da vida soube utilizar bem o maior segredo de sua vida para algo definitivamente positivo, pois despertou o mundo para os perigos que a nova doença trazia. Seu livro é um testemunho de vida e deve ser conhecido por todos.

Pablo Aluísio.

quinta-feira, 20 de junho de 2019

A História de Rock Hudson - Parte 8

Além de ser o galã número 1 de Hollywood em sua fase de ouro, em plena era do cinema clássico americano, o ator Rock Hudson também tinha que procurar preservar sua vida pessoal de todas as maneiras possíveis. Rock cultivava hábitos que poderiam manchar sua imagem perante o grande público. Além da homossexualidade, que ele tinha verdadeiro pavor que fosse revelada (afinal uma revelação escandalosa dessas em plenos anos 1950 poderia destruir sua carreira), Rock ainda tinha sérios problemas com a bebida. Ele era muito bom de copo e desenvolveu um alcoolismo que com o tempo começou a afetar seriamente seu prestigio em Hollywood.

Rock veio de uma família de bebedores de whisky. Nascido no meio oeste americano ele viu desde cedo o hábito de beber muito como algo natural. Quando foi para a Marinha, durante a II Guerra, o problema só piorou. Para aguentar as intermináveis jornadas de trabalho nos navios, ele e seus colegas de farda afogavam o stress e a exaustão em bebedeiras homéricas nos bares dos portos onde chegavam. Rock Hudson foi um marinheiro ao velho estilo, onde seus camaradas se reuniam em bando para brigar em bares ao longo da costa. Geralmente as brigas eram contra soldados do exército ou Força Aérea. Bastavam se encontrar para a briga começar. Esse tipo de rivalidade era algo comum nas forças armadas americanas e invariavelmente terminava com todos bêbados, cantando pelas ruas pela  madrugada adentro.

Depois da guerra Rock resolveu que iria tentar realizar seu velho sonho de se tornar um astro de cinema. No começo era apenas um sonho quase impossível de realizar. Como era boa pinta, alto e bonito, as portas dos grandes estúdios logo se abriram para ele. Rock então aproveitou como poucos a boa vida de um galã de Hollywood. Praticamente dava festas todas as noites para colegas de profissão, diretores e amantes ocasionais. A farra não tinha hora para parar e nem havia previsão de terminar a bebedeira. Rock não perdia a chance de encher a cara nessas ocasiões festivas. Geralmente terminava a noite desmaiado na piscina ou no sofá de sua sala ricamente decorada.

Com o tempo todos foram percebendo que o consumo de álcool aumentou e fugiu do controle. Rock começou a beber todas as noites, ficando embriagado com regularidade. Dono de uma maravilhosa coleção de discos de vinil, Rock passava a noite ouvindo música e bebendo até cair, mesmo que estivesse sozinho. Em fins da década de 1960 ele começou um longo e complicado caso amoroso com um sujeito chamado Tom Clark que trabalhava como publicitário da MGM. Clark bebia tanto quanto Rock e juntos eles protagonizaram bebedeiras que entraram na história de Hollywood. Em uma dessas festas Rock ficou tão bêbado que apareceu vestido de bebê, com fralda e tudo. Em outra começou uma violenta briga com Clark que terminou em socos e pontapés na frente de todos os convidados.

Sua carreira começou a ficar prejudicada. Como Rock não se parava de beber todas as noites, ele começou a aparecer arrasado nos estúdios no dia seguinte. Seu semblante de ressaca atrapalhava a sua imagem e seu estado deplorável o impedia de decorar corretamente suas falas. Não era fácil ficar bebendo até as quatro da manhã para depois aparecer para trabalhar, posando de galã, as oito da manhã. Seu alcoolismo ficou tão sério que Rock começou a perder seu bem mais precioso: sua imagem, que se deteriorou rapidamente. Ele ficou com a pele ruim, cinzenta, e seu aspecto era a de um homem acabado. Com isso os papéis para o cinema começaram a sumir, afinal ele sempre fora um galã e galãs precisam aparecer bonitos e impecáveis em cena.

Rock Hudson bebeu sem parar até a morte. Na década de 1980 ele sofreu um infarto e o médico atribuiu isso ao alcoolismo e ao tabagismo desenfreado de Rock. Depois disso ele só viveria poucos anos. Quando contraiu AIDS isso lhe pareceu como uma sentença de morte, afinal ele nunca fora um homem de hábitos saudáveis e agora doente isso iria lhe custar um alto preço. Com o organismo debilitado pelo alcoolismo e fumo, ele não conseguiu encontrar forças para fazer frente à terrível doença. Rock morreu em 1985, naquela que foi considerada a primeira morte de AIDS de uma celebridade internacional. Em seus últimos dias de vida ainda bebia muito whisky sem gelo. Dizia que era um dos poucos prazeres que ainda lhe restavam.

Pablo Aluísio. 

A História de Rock Hudson - Parte 7

Rock Hudson nunca havia feito comédias antes. Ele sempre havia se dado muito bem com dramas românticos. Até que em 1959 seu agente lhe disse que o estúdio Universal estava interessado nele para atuar junto de Doris Day numa comédia romântica intitulada "Pillow Talk". Rock ficou receoso em um primeiro momento. Fazer comédia era algo muito específico. Será que ele conseguiria soar engraçado na tela?

No primeiro encontro com o diretor Michael Gordon, o ator lhe disse justamente isso. "Eu não sou comediante! Não saberia fazer humor!". Gordon então lhe deu uma resposta que Rock jamais esqueceu. Ele disse: "Não tente ser engraçado na tela. Não faça caretas, nem nada disso. Seja apenas você! Atue como sempre atuou! O humor está no roteiro, no texto do filme e não em você!".Com essas palavras Rock então resolveu embarcar no projeto. Ele aceitou o convite e disse a Gordon: "Bem, se é o que você diz, vamos fazer esse filme e ver no que tudo isso vai dar!".

As filmagens foram realizadas em tom muito ameno, divertido, o que ajudou ainda mais ao filme. Rock e Doris se deram imediatamente bem. Eles tinham o mesmo tipo de humor e sabiam se comunicar entre si, mesmo quando não falavam uma única palavra. Foi simpatia à primeira vista. Seguindo os conselhos do diretor, Rock não exagerou, não quis soar engraçado. Talvez só um pouquinho quando imitava o lado mais caipira de seu personagem, mas nunca foi algo forçado, exagerado. No filme ele interpretava um playboy arrogante que estava sempre brigando com sua vizinha, pois ambos dividiam a mesma linha de telefone. Certo dia ele ouve ela falando do tipo de homem ideal que gostaria de conhecer. Para passar um trote nela ele então decide assumir todas as características que Doris Day gostaria de encontrar em um pretendente. O resto era pura diversão.

O filme foi um grande sucesso de público e crítica e abriu as portas para uma nova fase na carreira de Rock Hudson. Ele que sempre havia se destacado nos dramas de Douglas Sirk, agora podia ser visto em comédias picantes, bem humoradas, com roteiros versando sobre a guerra dos sexos entre homens e mulheres. Para Rock foi duplamente satisfatório. Ele não apenas encontrou um novo nicho a explorar dentro da indústria cinematográfica, como também viu seu cachê voltar a fazer parte da lista dos dez atores mais bem pagos de Hollywood. Era um outro nível e uma nova fase de sucesso que iria atravessar toda a década de 1960. Rock Hudson havia se reinventado, para a alegria de suas fãs ao redor do mundo.

Confidências à Meia Noite (Pillow Talk, EUA, 1959) Direção de Michael Gordon / Roteiro de Stanley Shapiro e Maurice Richlin / Elenco: Rock Hudson, Doris Day, Tony Randall / Sinopse: Brad Allen (Rock Hudson) é um machista playboy que se faz passar por uma caipirão para conquistar sua vizinha Jan Morrow (Doris Day) que implica com ele por causa da linha de telefone que ambos dividem. Filme vencedor do Oscar na categoria de Melhor Roteiro. Também indicado nas categorias de Melhor Atriz (Doris Day), Melhor Atriz Coadjuvante (Thelma Ritter), Melhor Direção de Arte (Richard H. Riedel) e Melhor Música (Frank De Vol).

Pablo Aluísio.

quarta-feira, 19 de junho de 2019

-A História de Rock Hudson - Parte 6

Enquanto Paul Newman ia abrindo os caminhos para sua própria carreira, um ator se destacava no Olimpo de Hollywood na mesma época: Rock Hudson! Ele foi seguramente um dos mais bem sucedidos galãs do cinema americano de todos os tempos. Com ótimo visual, bem de acordo com a época, Hudson encarnava nas telas o melhor do homem americano viril, o sonho de todas as mulheres, praticamente um príncipe encantado da sétima arte. Por debaixo dos panos porém Rock era gay e isso ainda era mantido em segredo, a sete chaves, durante os anos 1950. Até porque se o público soubesse de algo assim simplesmente deixaria de ver seus filmes e os prejuízos alcançariam alguns milhões de dólares.

Poucos meses antes de morrer de AIDS, em 1985, Rock escreveu sua autobiografia onde contava amenidades e lembrava de casos ocorridos com ele na capital do cinema durante sua vida. Entre as curiosidades está um pequeno esboço de comportamento que todo grande astro de Hollywood deveria manter naqueles anos. Como se sabe Rock Hudson foi uma cria do departamento de publicidade e treinamento de atores do estúdio Universal. Era a época de ouro do chamado Star System, onde astros eram produzidos e lapidados dentro dos próprios estúdios para se tornaram heróis nas telas de cinema de todo o mundo. Alto, bonitão e dono de uma voz maravilhosa, Rock, um ex-marinheiro nascido no meio oeste, que sonhava se tornar um ator de sucesso, caiu como uma luva nas pretensões da Universal em fabricar mais um campeão de bilheteria.

Dentro do Star System havia um modo de operar. Os atores assinavam contratos leoninos (bem vantajosos apenas para os estúdios) e em contrapartida entregavam-se de corpo e alma aos departamentos de publicidade dessas empresas. Obviamente que grande parte do lucro dos filmes acabavam indo mesmo para os cofres da Universal, mas tudo isso era compensado pela vida de luxo e glamour para o qual os atores eram literalmente jogados. Hotéis de primeira classe, roupas dos mais prestigiados estilistas europeus, viagens por todo o mundo, tudo era bancado pelo estúdio, o que fazia com que os astros vivessem literalmente uma vida de eterna diversão e prazer. As mansões, os carros, nada era por acaso. A construção da imagem de um ator rico e famoso passava pelos planos de cada grande estúdio de Hollywood.

Aos poucos Rock foi aprendendo como deveria agir um autêntico astro de Hollywood. Pequenos detalhes do cotidiano eram essenciais e o estúdio ficava de olho em qualquer deslize. Por exemplo, um autêntico astro de Hollywood jamais poderia atender seu próprio telefone. Isso era considerado uma falha grave. Ele teria que ter um mordomo (de preferência inglês), devidamente fardado e treinado para esse tipo de situação. Da mesma maneira não podia se dar ao luxo de atender a sua própria porta da casa. Outros conselhos eram importantes: um astro de cinema não poderia perguntar o preço das coisas, não deveria assumir um namoro com quem quer que seja e nem tampouco expressar suas opiniões políticas. Também era expressamente proibido pelo estúdio o uso de uma mesma roupa duas vezes em público. O curioso é que se hoje em dia isso parece sem noção na época era levado muito à sério. Aliás nem todas essas regras banais caíram em desuso. Muitos astros de cinema da atualidade ainda seguem a velha cartilha à risca, afinal de contas ser um astro em Hollywood exige um padrão de comportamento bem diferente das demais pessoas comuns.

Pablo Aluísio.

A História de Rock Hudson - Parte 5

Rock Hudson nunca foi uma pessoa muito disciplinada. A coisa piorava quando se tratava de sua saúde. Após ser diagnosticado com AIDS ele foi até Paris para participar de um tratamento experimental e de fato após tomar todas as novas drogas teve uma aparente melhora em sua saúde. O problema é que Rock interpretou isso como uma espécie de cura, de que a AIDS enfim não era tão terrível como todos diziam. Em pouco tempo começou a beber muito novamente e a fumar - duas coisas que os médicos franceses tinham proibido.

A indisciplina em relação ao modo de vida piorou seu quadro de saúde e em pouco tempo Rock perdeu muito peso, ficou com aspecto doentio e aparência envelhecida. Mal se podia reconhecer a imagem do galã de Hollywood do passado. Pior do que isso, Rock deixou de lado a disciplina em relação aos remédios e isso consolidou novamente uma brusca queda em sua saúde. Decidiu ir até o deserto de Nevada, para tirar férias próximo a Las Vegas, mas a viagem foi interrompida pois ele passou muito mal, não conseguindo mais se alimentar direito. Ele havia alugado um velho jipe, para ter uma aventura, mas quase foi parar no hospital por causa disso. Ele não tinha mais condições físicas de fazer algo como aquilo.

De volta a Los Angeles Rock recebeu um telefonema de sua velha amiga Doris Day. Ela queria que ele se apresentasse em seu novo programa de TV. Ter Rock como convidado era seguramente uma garantia de audiência. Além disso reviver a antiga dupla que tanto sucesso havia feito nas telas de cinema no passado certamente iria despertar bastante atenção. O problema é que Rock estava com um aspecto péssimo na época. Muito magro, com olhar doentio, ele mal conseguia andar direito. Doris Day não sabia de seu estado de saúde e fez o convite. Rock não conseguiu dizer não, pois ele considerava Doris sua grande amiga no meio do show business. Ele aceitou o convite e as filmagens foram marcadas.

Quando Rock apareceu no estúdio Doris ficou alarmada com seu estado. Ela não sabia que Rock estava com AIDS e imediatamente pensou que todos aqueles boatos de que ele estaria com câncer eram verdadeiros. O roteiro do programa dizia que Rock deveria chegar e sentar ao lado de Doris Day em um cenário que parecia um belo jardim florido. A cena foi feita e exibida na mesma semana. Acabou sendo o último trabalho de Rock, sua última aparição pública. O aspecto ruim do ator logo alarmou os espectadores e a imprensa sensacionalista começou a suspeitar de que Rock tinha algo muito grave, algum problema de saúde ainda mantido em segredo. Em pouco tempo o boato de que ele seria portador do vírus da AIDS começou a se espalhar. Rock não se preocupou. Ele deveria voltar para Paris para uma nova fase de tratamento, mas não estava com vontade de fazer a longa viagem. Teria o ator desistido de lutar pela vida?

Pablo Aluísio.

terça-feira, 18 de junho de 2019

A História de Rock Hudson - Parte 4

Em meados dos anos 1950 Rock Hudson finalmente assinou seu primeiro contrato com a Universal Pictures. Segundo ele próprio disse a amigos, essa havia sido a sorte grande de sua vida. O contrato tinha duração de sete anos. O estúdio se prontificava a cuidar de tudo no que se referia à carreira de Rock em Hollywood. Ele não precisaria ir mais atrás de filmes ou testes. Os roteiros já seriam enviados para ele com sua escalação no elenco. Com salário fixo e bons rendimentos, Rock ficou eufórico.

Claro que como todo contrato também havia prós e contras. Rock jamais poderia recusar um roteiro ou uma escalação da Universal. Enviado o roteiro era necessário estudá-lo, decorar as falas e começar a trabalhar. Nada de dizer "não" aos executivos. Rock também não poderia recusar entrevistas com a imprensa, viagens promocionais e tudo o mais que a Universal mandasse ele fazer. Para Hudson, que fora marinheiro por longos anos na Marinha americana não havia nenhum problema em seguir ordens. Ele tinha uma disciplina que era mesmo militar. Jamais causou problemas ou criou casos. Pelo contrário, parecia feliz em poder atuar com a Universal, que ele iria considerar dali para frente sua segunda casa.

Uma das primeiras providências de Rock após assinar seu contrato foi comprar uma casa nas colinas de Hollywood. Era uma casa pequena, até simples, mas plenamente satisfatória para ele que era solteiro, sem compromisso ou exigente demais. Rock adorava o lugar, tanto que não perdia tempo em ficar relaxando em sua residência nas horas vagas. Na verdade ele era um sujeito bem caseiro. Só ia a festas, baladas ou premiações quando a Universal exigia sua presença. Quando isso não acontecia Rock gostava mesmo de ficar em casa ouvindo sua coleção de discos (no final da vida Rock iria ter milhares de discos de vinil, dos mais variados artistas em sua discoteca particular).

Outro luxo a que se deu foi a compra de um pequeno veleiro para navegar na costa da Califórnia. Ele havia sido marinheiro a maior parte de sua vida adulta e não queria abrir mão do amor ao mar que havia criado durante os anos na Marinha. Além disso Rock era um expert no que dizia a navios em geral, tanto que sempre dispensou tripulações nas embarcações que comprava. O ideal para ele era mesmo fazer tudo sozinho, para matar as saudades dos tempos em que cruzou os sete mares em um destróier da poderosa marinha de guerra dos Estados Unidos.

Pablo Aluísio.

A História de Rock Hudson - Parte 3

No começo de sua carreira Roy Harold Scherer Jr queria adotar o nome artístico de Roy Fitzgerald. Soava como algo aristocrático para ele. Seu agente Henry Wilson por outro lado achava o nome horrível. "Não há como imaginar um nome desses na marquise de um cinema de Nova Iorque. Vamos procurar por outra coisa". Henry Wilson era muito bom em criar nomes artísticos. Ele havia criado os nomes de Tyrone Power, John Saxon, Dean Jagger - todos nomes viris que ajudaram seus atores a se tornarem famosos.

Olhando para Roy, um homem alto e atlético, Henry pensou imediatamente no nome Rock (rocha). Era algo viril, muito adequado. Depois para o sobrenome lembrou do Rio Hudson, majestoso, indomável. Era assim que ele via Roy, um homem forte como uma rocha, uma força da natureza. E foi assim, no meio de uma reunião no escritório de Henry Wilson, que foi criado o nome de Rock Hudson, que seria uma das obras primas do agente. O próprio Rock inventaria outras versões divertidas sobre a criação de seu nome artístico, mas o fato é que tudo foi pensado mesmo por seu astuto e inteligente empresário.

Henry Wilson sabia que Rock era gay. Ao criar um nome tão masculino e viril ele deixou claro para Rock que ele jamais poderia tornar público sua opção sexual. "Isso está fora de cogitação. Vou tornar você um astro de Hollywood ao velho estilo. Um galã para as mulheres suspirarem no cinema! Tenha seus casos e seus amores, mas tudo escondido, sem jamais baixar a guarda para o público e a imprensa!". Esses conselhos de Henry Wilson seriam seguidos por Rock até praticamente o fim de sua vida. Só quando resolveu dizer publicamente que estava com AIDS, em 1985, com pouco tempo de vida pela frente, é que Rock resolveu assumir publicamente sua homossexualidade.

Em pouco tempo a fórmula criada por Henry Wilson deu certo. Rock Hudson acabou se tornando o ator de maior bilheteria dos estúdios Universal. Naquela época a popularidade de um astro era medida pelo número de cartas que recebia de seus fãs ao redor do mundo. Em uma publicação sobre cinema Rock tirou uma foto em cima de uma montanha de cartas enviadas até ele. Era uma prova de seu sucesso! Curiosamente um dos aspectos mais louváveis da personalidade de Rock também se sobressaiu nessa época: sua generosidade. No natal de seu primeiro grande ano como superstar ele comprou dezenas de presentes para distribuir a todos os empregados da Universal, desde os mais simples funcionários como porteiros e pessoal da limpeza, até os produtores, executivos da companhia. Na dia de natal Rock chegou no estúdio com um grande saco de presentes e tal como se fosse um Papai Noel moderno saiu dando presentes para todo mundo. Ele era o ator mais querido dos funcionários do estúdio e todos torciam para que seus filmes fizessem cada vez mais sucesso. Rock era considerado uma ótima pessoa com quem trabalhava ao seu lado.

Pablo Aluísio.

segunda-feira, 17 de junho de 2019

A História de Rock Hudson - Parte 2

O primeiro teste cinematográfico de Rock Hudson na Universal foi tão ruim e desastroso que o estúdio o exibiu por anos para novos aspirantes à astros. A ideia era demonstrar que mesmo um teste inicial horroroso não significava o fim de uma promissora carreira no futuro. Mesmo não convencendo em nada a Universal resolveu contratar Rock, lhe dando um contrato de sete anos e meio (o padrão da época). Qual foi a razão para Rock ser contratado, mesmo não indo bem em seus testes iniciais de câmera? Muito simples, a Universal sabia que Rock tinha um belo futuro, de gordas bilheterias, pela frente! Bastava olhar para ele, com sua imagem impecável de galã, para entender bem isso.

Então Rock começou a aparecer em pequenos papéis, só para ir se acostumando. Seu primeiro filme foi o drama de guerra "Sangue, Suor e Lágrimas" de 1948. O personagem de Rock só tinha uma linha de diálogo. Ele aparecia numa cena de reunião de militares no QG da Força Aérea. Interpretava um oficial, um segundo tenente. Não foi nada espetacular, porém demonstrou que Rock levava muito jeito, pois fica ótimo na tela de cinema. Um executivo comentou: "Rock e as câmeras se amavam. Era amor à primeira vista! Bastava aparecer por alguns segundos para que todos prestassem atenção nele, inclusive as mulheres, que ficavam loucas por aquele homem alto, bonito e muito másculo".

Rock também assinou um contrato com o agente Henry Willson. Ele era considerado um dos melhores agentes de atores de Hollywood na época. Muito bem articulado, bem relacionado dentro da indústria. Henry, um velho homossexual, era visto como um grande fazedor de astros. Vários galãs já tinham passado por sua agência. No fundo ele sabia que Rock ainda era uma joia bruta, que precisava ser lapidada, trabalhada, por isso não mediu esforços para promovê-lo.

Henry começou a levar Rock para as principais festas de Hollywood, onde frequentavam os grandes executivos, diretores, donos de estúdio. Eram justamente nessas festas que elencos inteiros de grandes produções eram escalados. Fazer sucesso na carreira em Hollywood significava também fazer sucesso no meio social da cidade. Você tinha que fazer um certo jogo, um certo charme, em determinados lugares. Então algum diretor ou produtor iria se interessar por você e um novo filme estaria ao seu alcance. Rock logo entendeu isso e jogou o jogo. E acabou se dando muito bem...

Pablo Aluísio. 

A História de Rock Hudson - Parte 1

Na década de 1950 os padrões morais eram tão rígidos que era quase impossível para a sociedade aceitar que uma mulher viúva, mais velha, viesse a ter uma nova paixão em sua vida, ainda mais se fosse com um rapaz mais jovem e de classe social inferior. É justamente nesse tema bem espinhoso que se desenvolve a trama do filme "Tudo o Que o Céu Permite" (All That Heaven Allows, EUA, 1955). O filme foi dirigido pelo excelente cineasta Douglas Sirk, especialistas em dramas como esse e estrelado pelo astro máximo da Universal na época, Rock Hudson.

Rock estava ainda se firmando na carreira. Ele já havia chamado a atenção antes em filmes de western e de guerra, mas havia encontrado mesmo seu nicho em filmes românticos, dramáticos e com temas edificantes, geralmente baseados em livros de sucesso. Sua fase de êxito de bilheteria em comédia românticas, como as que realizou ao lado de Doris Day só viria depois. Aqui ele exercita seu lado galã, o tipo ideal para interpretar personagens assim na opinião de Sirk. Ele queria um tipo que representasse o americano médio, alto, honesto e de bom visual. Não havia ninguém melhor que Rock para o papel.

Ao seu lado atua a atriz Jane Wyman. Ela já era uma veterana da telas quando o filme foi realizado e por isso procurou ajudar Rock que ainda tinha momentos de puro amadorismo, fruto de sua falta de experiência. O interessante é que Jane até mesmo se sentiu atraído pelo jovem galã no set de filmagens, mas obviamente não deu em nada. Rock era gay e escondia sua condição para não atrapalhar sua carreira, afinal de contas seu desempenho era baseado também na incrível força de atração que exercia nas mulheres que iam assistir aos seus filmes. Se elas descobrissem que ele era na realidade gay o encanto iria se desfazer no ar e nenhum produtor o chamaria mais para trabalhar. Seria o fim de sua carreira. Talvez por isso Jane tenha procurado por outros pretendentes, entre eles o ator Ronald Reagan que iria se tornar o Presidente dos Estados Unidos na década de 1980.

Revendo esse filme hoje em dia várias coisas chamam a atenção, mas uma delas se destaca. Douglas Sirk trabalhou com fotografia em cores (algo que ainda era considerada uma novidade na época, só se tornando padrão depois). Diante da nova tecnologia ele criou um filme muito bonito de se assistir, com cores fortes e intenso aproveitamento dos cenários naturais, tudo filmado em locações reais (outra novidade já que naqueles tempos as empresas cinematográficas preferiam rodar tudo em seus enormes estúdios de Hollywood). Diante disso se há algo que ficará em sua mente após assistir ao filme será justamente o tom de pintura natural que Douglas Sirk imprimiu à sua obra. É certamente o aspecto mais marcante de todo o filme.

Pablo Aluísio.

domingo, 16 de junho de 2019

Victoria - Terceira Temporada

Victoria 3.01 - Uneasy Lies the Head That Wears the Crown
É a melhor coisa da TV inglesa no momento. Essa série resgata a história da Rainha Victoria (ou Vitória, como é conhecida no Brasil). Soberana que mais tempo ficou no trono britânico, até porque quando ela foi coroada não passava de uma jovenzinha cheia de sonhos e pensamentos românticos sobre sua vida. Agora, nessa terceira temporada, ela já é uma monarca mais madura, tendo que lidar inclusive com a onda de revoluções que se abateram sobre as cabeças coroadas da Europa. Basta lembrar do trágico fim de Maria Antonieta para entender bem do que se tratava. Aqui o perigo vem do movimento republicano que exigia maiores direitos políticos ao povo, ao homem comum. Sob o lema "Um Homem, um voto" a Rainha teve que pela primeira vez enfrentar um grupo organizado que exigia eleições populares, algo que ia contra o chamado direito divino dos reis. Se bem que na época a Inglaterra já era uma monarquia constitucional, com parlamento e primeiro-ministro. Nada parecido com o passado absolutista de reis como Henrique VIII, onde sua vontade pessoal era lei. / Victoria 3.01 - Uneasy Lies the Head That Wears the Crown (Inglaterra, 2019) Direção: Geoffrey Sax / Roteiro:  Daisy Goodwin, Daisy Goodwin / Elenco: Vincent Regan, Jenna Coleman, Tom Hughes.

Victoria 3.02 - London Bridge Is Falling Down 
Nesse segundo episódio da terceira temporada o problema com o movimento republicano continua. Seus principais conselheiros políticos acreditam que apenas uma repressão violenta, com uso do exército, vai parar o novo grupo político de oposição. As suspeitas de uma iminente revolução se intensificam ainda mais depois que 500 rifles são encontrados com os rebeldes. A Rainha também é aconselhada e ir embora de Londres, pois os rebeldes poderiam colocar sua vida em risco, mas na última hora ela decide recuar, mandando o exército deixar passar a manifestação do grupo que pretendia entregar ao parlamento uma petição pedindo por maior espaço político do povo, dos plebeus, ou seja, os que não tinham título de nobreza. Aspectos da vida pessoal de Vitória também são bem explorados nesse episódio, mostrando a crescente tensão que tinha com a irmã e o delicado problema de ter em seu palácio um monarca destronado, justamente o rei da França, Louis Philippe. E a família, que ia crescendo a cada ano, contava agora também com problemas, inclusive com o pequeno filho da rainha, agora com medo de um dia se tornar rei e perder sua cabeça na guilhotina. Pois é, a revolução francesa levou mesmo muito medo para todas as dinastias da Europa. / Victoria 3.02 - London Bridge Is Falling Down (Inglaterra, 2019) Direção: Geoffrey Sax / Roteiro:  Daisy Goodwin, Daisy Goodwin / Elenco:  Daisy Goodwin, Daisy Goodwin.

Victoria 3.03 - Et in Arcadia 
Nesse episódio é mostrado alguns aspectos bem íntimos da rainha Victoria. É engraçado ver como as pessoas do século XIX iam tomar banho de mar. Era necessário umas casinhas para que elas não fossem vistas entrando na água. As roupas de banho também mais se pareciam vestidos de baile de tão grandes que eram! E Victoria, pouco acostumada com as ondas da praia quase morre afogada! No mais ela tem também alguns atritos com o marido e com o ministro das relações exteriores que acaba dando espaço demais para um húngaro revolucionário que prega o fim de todas as monarquias! Para uma monarca como Victoria não poderia haver coisa pior, tudo cheirando a uma quase traição dentro do palácio. Os inimigos da coroa pelo visto nem estão ao portão real, mas já dentro dele! Maria Antonieta, a trágica rainha francesa, é uma lembrança para Victoria temer bastante esse tipo de movimento político. / Victoria 3.03 - Et in Arcadia (Inglaterra, 2019) Direção: Geoffrey Sax / Roteiro: Daisy Goodwin, Guy Andrews / Elenco: Jenna Coleman, Tom Hughes,  Laurie Shepherd, Laurence Fox, John Sessions.

Victoria 3.05 - A Show of Unity

Há um surto de cólera em Londres. Na época, numa medicina e ciência ainda tentando encontrar uma cura, não se sabia as causas dessa terrível doença. Um diagnóstico era uma verdadeira sentença de morte. Até que um médico sem muito nome, sem expressão dentro da academia, começa a desconfiar que a água seria o meio de transmissão da doença. Victoria acredita em sua tese e o chama até a corte. De fato era esse o segredo, uma fonte estava contaminando todas as pessoas que dela utilizavam. Infelizmente para a rainha as respostas vieram tarde demais pois sua prezada dama de companhia acaba sucumbindo, vindo a falecer. Uma triste notícia pois a monarca gostava realmente dela. E a jovem estava para se casar, ter filhos, o que tornava o quadro ainda mais lamentável. E o Príncipe Albert? Enquanto Londres sofria com a doença, ele tentava emplacar uma vaga de chanceler na prestigiada universidade de Cambridge, não sem antes enfrentar pesada resistência. / Victoria 3.05 - A Show of Unity (Inglaterra, 2019) Direção:  Chloe Thomas / Roteiro:  Daisy Goodwin, Guy Andrews / Elenco:  Jenna Coleman, Tom Hughes, Laurie Shepherd, Laurence Fox, John Sessions.

Victoria 3.07 - A Public Inconvenience
Antes de qualquer coisa cabem alguns elogios. A atriz Jenna Coleman é tão carismática e classuda que você vai mesmo acreditar que ela é uma rainha inglesa do século XIX, com um monte de filhos, considerada a mãe das monarquias europeias da época. E isso sem perder um pingo de sua beleza e juventude. Nesse episódio ela volta a brilhar. Aqui a lendária monarca precisa lidar com problemas internos e externos. Dentro do palácio precisa controlar as brigas e desavenças entre os membros da família real. Em relação ao próprio marido as coisas são ainda mais complicadas, já que ele se sente um tanto inútil, uma figura decorativa, feito para ser pai de futuros reis e rainhas, mas sem função nenhuma dentro do sistema político da monarquia parlamentarista britânica. A irmã também é um foco de preocupação. Ela parece estar sempre conspirando pelos corredores do palácio, procurando uma forma de trair a rainha. Coisas de toda monarquia. E quando uma série de gravuras privadas feitas pela própria rainha (que era ótima desenhista) cai em domínio público por causa de um jornal, tudo parece estar fora de controle. Agora, realmente é de se louvar que a rainha Vitória tenha passado por tantas desavenças e revoluções republicanas, tantos tronos derrubados por toda a Europa e conseguido se manter numa postura impecável. De fato o reino inglês deve muito a essa histórica rainha. / Victoria 3.07 - A Public Inconvenience (Inglaterra, 2019) Direção: Delyth Thomas / Roteiro:  Daisy Goodwin, Ottilie Wilford / Elenco: Jenna Coleman, Tom Hughes, David Newman.

Victoria 3.08 - The White Elephant
Esse é o último episódio da temporada. O nome do episódio em português é "O Elefante Branco". E qual seria esse elefante branco? A imprensa inglesa chamou assim o palácio de cristal criado pelo príncipe Albert (Tom Hughes) para uma exposição mundial que seria realizada em Londres. Ora, isso colocou o marido da rainha numa situação delicada. Se o evento fosse um fracasso o parlamento iria cair em sua cabeça por causa dos gastos envolvidos. Porém ao contrário do que a imprensa apostava a exposição acaba se tornando um sucesso. A própria rainha Victoria (Jenna Coleman) decide comparecer para prestigiar. Enquanto a coroa faz sucesso na exposição mundial o mesmo não se pode dizer de seu ministro de relações exteriores, o Lord Palmerston. Sem consultar o parlamento e nem a monarca ele decide enviar um telegrama de parabenização para a ascensão do novo imperador da França, um descendente de Napoleão Bonaparte. Algo que pega muito mal entre o povo inglês, uma vez que Napoleão foi um inimigo histórico da Inglaterra. Sua falta de estratégia política acaba lhe custando o cargo. Por fim na última cena Albert cai desmaiado nos corredores do palácio. Bem sabemos que a rainha Victoria se tornou viúva muito cedo. Por isso esse primeiro ataque do consorte deixa um gosto de "quero mais" para a próxima temporada. E que venha logo a quarta temporada dessa ótima série histórica. / Victoria 3.08 - The White Elephant (Inglaterra, 2019) Direção: Delyth Thomas / Roteiro: Daisy Goodwin, Daisy Goodwin / Elenco: Jenna Coleman, Tom Hughes, David Newman,.

Pablo Aluísio.

sábado, 15 de junho de 2019

Shameless - Oitava Temporada

Shameless 8.08 - Frank's Northern Shuttle Express
Quem diria que eu iria tão longe nessa série... Pois é, oitava temporada e ainda sigo assistindo às sem vergonhices da família Gallagher. Inegavelmente a série é muito divertida e depois de um tempo você acaba criando familiaridade com todos os personagens. Nesse episódio Frank resolve ganhar dinheiro de uma forma nada usual. Ele recebe para levar imigrantes muçulmanos para o Canadá! Isso mesmo, todos eles querem uma boquinha no sistema de estado de bem estar social daquele país gelado do norte. Claro, todos imigrantes ilegais, para entrar em solo canadense sem autorização para tal. E os outros membros da família? Cada um vai se virando como pode. Debbs coloca na cabeça que está grávida de novo! Um problemão já que ela é mãe solteira e não tem nem como criar a própria filha. Ian entra em choque com um pastor do bairro que está implantando uma cura gay em seus cultos. Ele resolve enfrentar o religioso usando versículos da própria Bíblia. Por fim Fiona acaba se apaixonando pelo cara que vai consertar uma porta no residencial onde ela trabalha. Bom episódio, como sempre. Estou retomando a série depois de um tempo afastado. Vou procurar ser mais regular agora! / Shameless 8.08 - Frank's Northern Shuttle Express (Estados Unidos, 2017) Estúdio: Warner Bros. Television / Direção: Emmy Rossum / Roteiro: John Wells, Paul Abbott / Elenco: William H. Macy, Emmy Rossum, Jeremy Allen White, Ethan Cutkosky, Shanola Hampton, Steve Howey.

Shameless 8.09 - The Fugees
Para Frank o que importa é se dar bem. Assim se existe um grupo de muçulmanos, imigrantes ilegais, que querem atravessar a fronteira rumo ao Canadá, então ele vai dar um jeito. Claro, isso se for devidamente bem pago. Só que no lado de lá da fronteira ele acaba se dando mal, caindo nas mãos da polícia montada. Sua sorte é que o carro dos tiras acaba pifando e Frank dá no pé, de volta aos Estados Unidos. Já Ian começa uma verdadeira "cruzada" contra igrejas que promovem a cura gay. Ele, que também é gay, sai pregando que Jesus não seria contra os homossexuais, que ele seria na verdade puro amor ao próximo. Claro que algo assim acaba levantando uma polêmica que viraliza na internet. Por fim aqui vai uma curiosidade interessante: o episódio foi co-dirigido pela atriz Emmy Rossum, ela mesma, a Fiona! Quem diria, a gatinha anda virando cineasta... / Shameless 8.09 - The Fugees (Estados Unidos, 2018) Direção: Jeffrey Reiner / Roteiro:  John Wells, Paul Abbott / Elenco: William H. Macy, Emmy Rossum, Jeremy Allen White.

 Shameless 8.10 - Church of Gay Jesus
Fiona se dá muito mal ao abrigar uma família de sem tetos. Ela os abriga por uma noite, para que não ficassem ao relento, mas ao invés de agradecimentos leva um processo de seis milhões de dólares por parte deles. Claro, puro golpe. A família quer agora tomar posse definitiva do apartamento onde entraram. Punhalada nas costas. Ian também pira. Ele decide fundar a "Igreja de Jesus Gay", um delírio que ele tem por não estar tomando sua medicação. Só que o mundo é mais doido do que ele. Em pouco tempo, turbinado pela internet, acaba criando um rebanho de gente insana ao seu lado. O jovem Gallagher se casa com a ruivinha (por falar em gente doida) e Lipe sofre a perda de seu professor, um homem que havia lhe dado a mão antes. Uma pena. No lado cômico da série a russa tenta achar um marido rico para bancar seus gastos. Tudo depois que ela viu uma antiga conhecida se dar bem ao se casar com um velho decrépito e rico da cidade. Interesse pouco é bobagem! / Shameless 8.10 - Church of Gay Jesus (Estados Unidos, 201 ) Direção: Anna Mastro / Roteiro: John Wells, Paul Abbott / Elenco: William H. Macy, Emmy Rossum, Jeremy Allen White.

Shameless 8.11 - A Gallagher Pedicure  
Esse episódio tem a pior e mais asquerosa cena de toda a série, quando Frank corta os dedos da filha! Dá nos nervos! A ruivinha estava com os dedos necrosados após um acidente de trabalho! Terrible! Já Ian pirou de vez. Sem tomar os remédios ele se torna um ativista radical do movimento gay, criando uma série de confusões com os conservadores de Chicago, algo que piora e muito quando ele decreta que o próprio Jesus teria sido gay! É de revirar o estômago. Fiona passa por apuros para expulsar uma família que tomou posse de um de seus apartamentos. Ela não contava em encontrar gente picareta daquela magnitude! Por fim o caçula Gallagher passa sufoco com sua jovem esposa, uma menina completamente maluca! Não é mole não! / Shameless 8.11 - A Gallagher Pedicure (Estados Unidos, 2018) Direção: Iain B. MacDonald / Roteiro: John Wells, Paul Abbott / Elenco: William H. Macy, Emmy Rossum, Jeremy Allen White.

Shameless 8.12 - Sleepwalking
Episódio final da oitava temporada. É a tal coisa, apesar de ser exibida no canal Showtime essa série (que eu gosto bastante) nunca ganhou o gosto dos brasileiros. Nunca fez sucesso no Brasil. Já nos Estados Unidos segue firme e forte. Claro você tem que entrar na onda, no espírito da série, para gostar mesmo de sua essência, de seus personagens, etc. Uma vez porém que isso aconteça tudo flui com muita naturalidade, isso em relação a tudo, até mesmo às barbaridades vivenciadas pela família Gallagher. Confie em mim, não é pouca coisa não! Nesse último episódio Fiona consegue expulsar os espertinhos que queriam ganhar na justiça um de seus apartamentos. Esperteza com esperteza se paga assim!. Frank vai em frente, fazendo das suas suas, aproveitando-se agora do pai rico de um amiguinho da escola de seu filho. O sujeito definitivamente não toma jeito! / Shameless 8.12 - Sleepwalking  (Estados Unidos, 2018) Direção: John Wells / Roteiro: John Wells, Paul Abbott / Elenco: William H. Macy, Emmy Rossum, Jeremy Allen White.

Pablo Aluísio.

The Girlfriend Experience

Essa série foi lançada em 2016. A primeira temporada contou com treze episódios. O roteiro conta a história de Christine Reade (Riley Keough). Ela tem uma vida dupla. De dia assiste aulas na faculdade de direito. Pela tarde faz estágio em um escritório de advocacia. Durante à noite ganha a vida como garota de programa. Na realidade a série é uma adaptação para a TV de um filme que contava basicamente a mesma história. É uma realidade que cada vez mais tem sido frequente entre jovens garotas que procuram por um meio de bancar sua universidade e estudos, até se formarem. O problema é que geralmente acabam se viciando na profissão de garota de programa porque é um serviço muito bem remunerado. Sair dessa vida é que se torna uma dificuldade depois de alguns anos. É uma boa série, com um clima mais cult, mais sofisticado. Há cenas de nudez, mas não de vulgaridade. Tudo é bem sutil. Abaixo seguem comentários de alguns episódios. Assisti a todos, porém só escrevi resenhas aos que constam na lista. Fica como registro de arquivo.  

The Girlfriend Experience 1.01 - Entry
Episódio piloto dessa nova série. A primeira coisa que chama a atenção é que os episódios só duram em média 30 minutos, algo típico de sitcoms, embora "The Girlfriend Experience" seja uma série dramática. Nesse piloto somos apresentados a Christine Reade (Riley Keough, sim, a própria neta de Elvis Presley em sua primeira série como atriz). Ela é uma estudante de direito lutando pela sua primeira vaga como estagiária em um grande escritório de advocacia. Depois de muitas entrevistas e várias recusas ela finalmente consegue sua vaga. O cotidiano do trabalho porém não é dos melhores. Seu chefe é um sujeito meio insuportável, o trabalho é excessivo e o pagamento nada satisfatório. Melhor se sai sua amiga que após encontrar um "sugar daddy" rico lhe coloca em uma bela casa, com carrões na garagem e muita mordomia. Durante um jantar ela acaba sendo seduzida por dinheiro fácil, ao acompanhar um homem mais velho em um restaurante. Sem nem sentir direito o que está acontecendo o fato é que Reade começa a entrar dentro do ramo de prostitutas de luxo, algo que lhe renderia muito mais dinheiro do que como uma simples funcionária de um escritório de advocacia. Gostei do que vi. Ainda é cedo para julgar, porém é aquele tipo de série que ao menos deixa a sensação de ser muito promissora, de ser ao menos bem interessante. Vou acompanhar com certeza. /  The Girlfriend Experience 1.01 - Entry (EUA, 2016) Direção: Amy Seimetz / Roteiro: Lodge Kerrigan, Amy Seimetz / Elenco: Riley Keough, Paul Sparks, Mary Lynn Rajskub.

The Girlfriend Experience 1.02 - A Friend
Segundo episódio. Aqui a jovem estudante de direito Christine (Riley Keough, a neta do cantor Elvis Presley) resolve ceder, aceitando o convite para fazer parte da lista de garotas de programa de luxo de uma madame de Nova Iorque. Como ela tem potencial nesse meio sua nova "empresária" resolve alugar uma bela casa para ela. Patrocinada, com a caução do aluguel pago, Christine começa a sair com os clientes. A maioria deles homens de meia idade, alguns com problemas psicológicos ou traumas emocionais. Tudo na fachada faz parecer algo até sofisticado, com encontros em belos hotéis e tudo mais. Porém tudo isso não disfarça o fato de que Christine é apenas mais uma jovem prostituta no mercado. Nesse episódio vemos ela atendendo seus primeiros clientes, começando a entrar de vez nesse tipo de situação, fazendo até mesmo que ela o compare com o serviço que tem um escritório de advocacia, onde é mal paga e precisa lidar com um chefe estressado, ou seja, boa coisa definitivamente não vem pela frente. / The Girlfriend Experience 1.02 - A Friend (Estados Unidos, 2016 ) Direção: Lodge Kerrigan / Roteiro: Lodge Kerrigan, Amy Seimetz  / Elenco: Riley Keough, Paul Sparks, Mary Lynn Rajskub.

The Girlfriend Experience 1.13 - Separation  
Esse é o último episódio da primeira temporada. É o final da história da jovem estudante e garota de programa Christine Reade (Riley Keough). Depois de todos os problemas, tanto profissionais como familiares, ela tenta reorganizar melhor sua vida, mas tudo o que consegue é ficar na mesma, insistindo no velho círculo vicioso da prostituição. Nesse último episódio vemos como Reade não parece mais ter esperanças de sair disso. Se bem que a falta de vida em seu olhar mostra também que ela não parece mais se importar. De fato aos poucos ela foi ficando mais à vontade nesse mundo, procurando inclusive ser dona de seu próprio "negócio", sem precisar prestar favores a cafetinas. Os homens continuam os mesmos, facilmente manipuláveis, ainda mais quando ela topa entrar em suas depravações pessoais. Em sua mente Reade vê tudo como uma maneira rápida e fácil de ganhar dinheiro. Nada pessoal, apenas negócios. O final dessa temporada foi deixado em aberto, o que me fez pensar que a mesma personagem voltaria na segunda temporada. Porém não é isso o que acontece. Na segunda leva de episódios mudou-se tudo, não é mais a história pessoal de Christine e nem tampouco tivermos o retorno da atriz Riley Keough. Por isso me desinteressei de continuar acompanhando. No que diz respeito a "The Girlfriend Experience" acabei ficando por aqui mesmo. / The Girlfriend Experience 1.13 - Separation (Estados Unidos, 2016) Direção:  Lodge Kerrigan / Roteiro: Lodge Kerrigan, Amy Seimetz / Elenco: Riley Keough, John Hoogenakker, Brock Cuchna.

Pablo Aluísio.

sexta-feira, 14 de junho de 2019

The Fall

The Fall 1.01 - Dark Descent
Episódio piloto dessa nova série policial. A trama é estrelada pela atriz Gillian Anderson (a agente Dana Scully da famosa série "Arquivo X", que dizem retornará em breve). Pois bem, ela é uma investigadora inglesa que é enviada para a Irlanda para ajudar nas investigações da morte de várias mulheres que, ao que tudo indica, estão sendo brutalmente assassinadas por um novo serial killer em atividade. O sujeito aparenta ter queda pelo mesmo tipo de vítima, jovens bem sucedidas, independentes e promissoras na carreira. Logo no primeiro episódio o espectador é apresentado ao assassino, um jovem calado e introspectivo, pai de família, com dois filhos pequenos e uma bela esposa. Aparentemente um homem normal, acima de qualquer suspeita. Um retrato bem realizado do poder de camuflagem desse tipo de criminoso. De fato, se você parar para ler sobre a história de muitos dos mais infames assassinos em série da história perceberá que na maioria dos casos eles realmente levavam uma vida acima de qualquer suspeita dentro da sociedade. Muitos eram conceituados em suas comunidades, considerados bons maridos e pais, alguns até exemplos de vida cristã em suas denominações religiosas. Por baixo de toda a fachada porém se encontravam predadores e assassinos frios. Ponto positivo para o roteiro que explora muito bem esse aspecto desse tipo de criminoso. No mais ainda é cedo para avaliar melhor. A personagem interpretada por Gillian Anderson parece ser fria, calculista e objetiva, infelizmente também pouco carismática. Possa ser que venha a melhorar nos episódios seguintes, só nos restando acompanhar para ver no que isso tudo vai dar. De qualquer maneira deixo a recomendação, pois a série realmente promete. / The Fall 1.01 - Dark Descent (Inglaterra, 2013) Direção: Jakob Verbruggen / Roteiro:  Allan Cubitt / Elenco: Gillian Anderson, Jamie Dornan, Laura Donnelly.

The Fall 1.02 - Darkness Visible
No primeiro episódio um serial killer volta a matar. Dessa vez a vítima é uma jovem que vive sozinha. O psicopata tem seu próprio ritual, asfixiando sua presa, para depois pintar suas unhas, a colocando em posições sensuais em sua própria cama. Tudo com o objetivo de tirar fotos... Pois é, a mente desses assassinos realmente pode ser um lugar bem estranho! Nesse segundo episódio ela é encontrada morta por sua irmã. Imediatamente o departamento de polícia é chamado e Stella Gibson (Gillian Anderson) vê que está no caminho certo em sua tese criminal. Ela defende a teoria de que há realmente um assassino em série à solta, matando mulheres com o mesmo perfil. Seu superior não quer que esse tipo de coisa vaze para a imprensa, pois colocaria em má situação o chefe de polícia. Interesses corporativos acabam atrapalhando a busca pelo assassino. De uma maneira ou outra, Stella, depois de muito jogo de cintura, acaba sendo nomeada a chefe das investigações, o que lhe trará maior controle sobre tudo, desde as cenas dos crimes até os desdobramentos das apurações. E como também ficou claro no primeiro episódio o assassino é um pai da família aparentemente normal, com esposa e filhos. O que começa a perturbar sua fachada de suposta normalidade é que sua filha pequena, uma garotinha de pouco mais de sete anos, começa a desenhar figuras sinistras nos trabalhos da escola, obviamente revelando indiretamente um reflexo da personalidade doentia de seu próprio pai. Sigo assistindo a série. Ela me lembra muito até uma outra série americana com temática bem parecida, com o mesmo clima soturno, "The Killing". Se você gosta daquela série policial então recomendo essa aqui também, pois são em certos aspectos bem semelhantes. / The Fall 1.02 - Darkness Visible (EUA - Inglaterra, 2013) Direção: Jakob Verbruggen / Roteiro:  Allan Cubitt, Allan Cubitt/ Elenco: Gillian Anderson, Ben Peel, Michael McElhatton.

The Fall 1.03 - Insolence & Wine
A base dessa série é a busca por um serial killer de mulheres. Após a morte de várias delas o departamento de polícia começa a contar com a preciosa ajuda da investigadora especializada em assassinos em série, Stella Gibson (Gillian Anderson). Como quase sempre acontece nesse tipo de situação o criminoso, no caso o psicopata, cria uma verdadeira camuflagem em torno de si mesmo para surgir perante a sociedade como um sujeito acima de qualquer suspeita. O assassino dessa série é considerado um bom homem por sua vizinhança, com vida familiar estabelecida, filhos e uma esposa maravilhosa. O tipo de carapuça ideal para muitos psicopatas assassinos da vida real. O que muitas vezes pode levar tudo a perder é exatamente a perda do controle sobre seus instintos mais básicos e violentos. É justamente o que ocorre aqui nesse episódio. Depois de matar mais uma de suas vítimas, em um ritual bizarro onde após matar as mulheres ele as embeleza, dá banho, corta seus cabelos e pinta suas unhas, o criminoso resolve ficar algum tempo fora de vista, longe de garotas que despertem sua insana vontade de matar! O problema é quando a vítima em potencial vai até sua própria casa, faz um jogo de sedução e o provoca. Como resistir? No caso, sem saber de absolutamente nada, uma adolescente resolve seduzir o próprio assassino, pensando que ele não passa de um pai de família quadradão e meio boboca! Muitas pessoas realmente não sabem reconhecer o perigo iminente quando ele surge em sua frente! / The Fall 1.03 - Insolence & Wine (Inglaterra, 2013) Direção: Jakob Verbruggen / Roteiro:  Allan Cubitt / Elenco: Gillian Anderson, Sarah Beattie, Jamie Dornan, Nick Lee.

The Fall 1.04 - My Adventurous Song
A série "The Fall" gira em torno de uma investigação liderada pela especialista em serial killers Stella Gibson (Gillian Anderson). Ela tenta descobrir a identidade do assassino em série, um criminoso que sempre mata garotas jovens que possuem um mesmo biotipo: cabelos negros e curtinhos e pele branca. O mais curioso é que o assassino na realidade é um psicoterapeuta, respeitado cidadão, pais de família, que de dia realiza sessões de acompanhamento com mulheres que sofrem abusos de seus namorados e maridos e de noite vira um matador frio e desalmado em busca de jovenzinhas. Nem Freud explica. Antes de matar as meninas ele cria todo um ritual, pintando suas unhas, a colocando em determinadas posições na cama, ouvindo música clássica, como aliás é de praxe no modus operandi desse tipo de psicopata. Nesse episódio o assassino não resiste o longo período que ficou sem matar (por causa do cerco policial ele resolveu dar um tempo) e resolve fazer mais uma vítima. O problema é que tudo acaba dando errado. Quando a vítima entra em seu apartamento o serial killer descobre que ela está acompanhado de um outro jovem como ela. Algo que nunca havia acontecido antes. Mesmo assim ele resolve atacar a ambos. Com extrema violência ele tenta neutralizar o sujeito, mas a briga se torna brutal. Ele definitivamente não esperava por isso. Ao perceber que está perdendo o controle da situação resolve fugir pulando a grade do lado de fora, mas acaba tendo outro azar ao se deparar com um grupo de jovens no meio da rua. Sob o ponto de vista do criminoso aquele certamente foi um dos piores ataques que já fez. Para completar o cerco Stella consegue localizar uma mulher que no passado teria conseguido escapar das garras desse mesmo assassino. Claro que esse depoimento acabará trazendo inúmeras pistas valiosas para o caso. Mais um bom episódio de "The Fall". Com em média 50 minutos ou mais de duração para cada programa essa série vale bastante a pena, ainda mais se você gosta do tema, investigações envolvendo assassinos seriais de jovens adolescentes. / The Fall 1.04 - My Adventurous Song (Inglaterra, 2013) Direção: Jakob Verbruggen / Roteiro: Allan Cubitt / Elenco: Gillian Anderson, John Lynch, Michael McElhatton.

The Fall 1.05 - The Vast Abyss
O texto a seguir contém spoiler. Assim se você ainda não assistiu ao episódio não continue com a leitura. Enquanto a nova versão de "Arquivo x" não chega na TV uma boa dica é acompanhar pelo menos a primeira temporada dessa série "The Fall" estrelada pela atriz Gillian Anderson. Esse é o episódio final da primeira temporada (que sim, é bem curtinha, com apenas cinco episódios no total). O enredo, conforme já escrevi antes, gira em torno da caçada de um serial killer de jovens garotas. Aqui temos o desfecho de tudo. O assassino, como é praxe nesses casos, é um cidadão acima de todas as suspeitas, pai de família, bem casado, etc. Geralmente psicopatas são ótimos em se disfarçar dentro da sociedade. Pois bem, em seu último assassinato tudo deu errado. A garota que ele seguiu até seu apartamento estava acompanhada do irmão, houve uma luta violenta entre eles (algo que ele não previa) e para piorar tudo ao sair do local ele acabou sendo visto por um grupo de jovens que passavam pela rua. Isso acaba levando a polícia até sua casa. Após ser convocado para um depoimento no distrito policial ele faz o que se esperaria de um assassino serial como ele, mente, inventando uma história qualquer. Afirma que estava ao lado da esposa na noite do crime (e essa assustada acaba confirmando tudo para os policiais). Um álibi quase perfeito se não fosse pelo fato da esposa o colocar contra a parede para dizer a verdade dos fatos. O melhor momento do episódio acontece quando Stella Gibson (Gillian Anderson) o desafia a entrar em contato com ela, por telefone. A chamada e o diálogo entre a policial e o assassino se torna seguramente a melhor cena da série até o momento. Apesar de "The Fall" ser uma boa pedida acredito que vou ficando por aqui. Os episódios são bem longos e na maioria das vezes ficamos com aquela sensação de que não há um bom ritmo. Espero rever Gillian Anderson agora apenas na nova temporada de "Arquivo x" (que tanto pode ser uma maravilha, como um abacaxi tremendo). Vamos aguardar. / The Fall 1.05 - The Vast Abyss (Inglaterra, Irlanda, 2013) Direção: Jakob Verbruggen / Roteiro: Allan Cubitt / Elenco: Gillian Anderson, Niamh McGrady, Jamie Dornan.

Pablo Aluísio.