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quinta-feira, 18 de agosto de 2022

A um Passo da Eternidade

Título no Brasil: A um Passo da Eternidade
Título Original: From Here to Eternity
Ano de Produção: 1953
País: Estados Unidos
Estúdio: Columbia Pictures
Direção: Fred Zinnemann
Roteiro: Daniel Taradash, James Jones
Elenco: Burt Lancaster, Montgomery Clift, Deborah Kerr, Donna Reed, Frank Sinatra, Philip Ober

Sinopse:
Um grupo de militares americanos, a maioria deles da Marinha (U.S. Navy) estão levando suas vidas enquanto trabalham em navios ancorados no porto de Pearl Harbor, no Havaí. Então. sem nenhum aviso, são surpreendidos por um ataque massivo da Força Aérea Imperial do Japão, se tornando o estopim da entrada dos Estados Unidos na II Guerra Mundial.

Comentários:
Esse clássico do cinema americano é até hoje considerado o filme definitivo do ataque japonês ao porto militar de Pearl Harbor. Até aquele momento o governo americano não tinha intenção de entrar na Guerra. Depois do ataque, que matou milhares de militares dos Estados Unidos, a entrada se tornou inevitável. O grande mérito desse roteiro não foi apenas mostrar o ataque em si, em cenas realmente memoráveis, algumas tiradas de arquivo, filmagens reais, mas também de individualizar aqueles militares, mostrando a vida deles antes do ataque, suas paixões, planos, a vida que ia seguindo normal até aquele dia que o próprio presidente Roosevelt diria que "entraria para a infâmia". Dando rosto e história a cada um desses personagens o filme humanizou a face das vítimas do ataque. O filme foi um grande sucesso de público e crítica, sendo premiado em 8 categorias do Oscar. Até hoje é considerado um dos maiores clássicos da história de Hollywood.

Pablo Aluísio. 

 

quinta-feira, 21 de janeiro de 2021

A Noite do Iguana

Mais um excelente filme assinado pelo mestre John Huston. O projeto foi inicialmente desenvolvido para ser estrelado por Marlon Brando, mas esse desistiu de assumir o personagem do reverendo perturbado por estar envolvido em muitos problemas pessoais na época. Uma pena pois o filme parecia muito adequado a ele já que o roteiro era baseado em mais uma peça do genial Tennessee Williams. Como se sabe esse grande autor da dramaturgia americana gostava de colocar todos os seus personagens em situações quase banais, mas que seduzia o espectador basicamente pela grande força de seus diálogos inteligentes e instigantes, discutindo as grandes questões universais. A fórmula havia dado tão certo em outros grandes textos de Williams e voltava a funcionar maravilhosamente bem aqui, tudo abrilhantado pelas ótimas atuações de Richard Burton (em grande forma profissional) e Ava Gardner (praticamente uma força da natureza). Dois grandes astros do cinema americano, bem populares, que a despeito da fama aceitaram interpretar esses personagens um tanto marginais no meu ponto de vista. Não era algo fácil de se fazer, ainda mais partindo de atores que tinham que manter uma certa imagem limpa para a sociedade. Atravessar a linha oposta poderia significar muito em termos de bilheteria. Eles porém foram em frente.

A trama se passa em uma pousada decadente localizada em um distante vilarejo. É lá que vai parar o Reverendo Shannon (Richard Burton). Em crise de fé, ele acaba tendo que lidar com as três fortes mulheres que convivem no local. A primeira é Maxine (Ava Gardner). Independente, liberada sexualmente, não consegue transpor esse espírito livre para sua personalidade emocional que muitas vezes se revela sem força. Sue Lyon (a atriz que ficou famosa internacionalmente em “Lolita”) interpreta Charlotte Goodall, uma jovem sexualmente atraente que não se importa muito com as consequências de suas atitudes irresponsáveis. Por fim há Hannah Jelkes (Deborah Kerr), uma artista que deseja viver de sua arte, misturando geralmente sua obra com sua própria vida pessoal. “A Noite do Iguana” não nega sua origem teatral em nenhum momento. A força do filme vem justamente dos diálogos que vão dissecando as pequenas e grandes hipocrisias da sociedade como um todo. Um filme belamente bem escrito que merece ser redescoberto pelos amantes da sétima arte.

A Noite do Iguana (The Night of the Iguana, Estados Unidos, 1964) Direção: John Huston / Roteiro: Anthony Veiller, baseado na peça escrita por Tennessee Williams / Elenco: Richard Burton, Ava Gardner, Deborah Kerr, Sue Lyon, Grayson Hall / Sinopse: Em uma pousada decadente de um balneário isolado quatro personagens se enfrentam entre si, discutindo sobre as pequenas e grandes questões da existência humana. Filme vencedor do Oscar na categoria de Melhor Figurino. Também indicado nas categorias de Melhor Direção de Arte, Melhor Fotografia e Melhor Atriz Coadjuvante (Grayson Hall).

Pablo Aluísio.

domingo, 22 de novembro de 2020

Narciso Negro

Esse filme é um grande clássico da história do cinema. A história é das mais interessantes. Uma ordem de freiras católicas envia um grupo de cinco irmãs para uma região remota, nas proximidades do Himalaia, com a missão de construir uma escola para crianças e um hospital para a população local. Numa altitude de mais de 2.800 metros acima do mar, elas tentarão estabelecer as bases de evangelização de um povo que ainda não conhece o cristianismo. As freiras são jovens e chegam numa antiga casa abandonada onde lá viviam as esposas do rei em um passado distante. É justamente nesse local que fundam um novo convento de assistência e educação para a população da região. "Narciso Negro" é um filme magnífico. Mostra bem um dos aspectos mais louváveis da igreja católica que é a evangelização em lugares remotos, situados numa verdadeira fronteira da fé cristã. Nessas regiões só existem escolas e hospitais por causa da força missionária da Igreja. No caso aqui temos cinco freiras da ordem das irmãs de Maria que vão até esse distante local para ajudar no que for possível a população local. Em termos religiosos há um templo budista também localizado nas encostas montanhosas, além de um enigmático "homem santo" que passa seus dias contemplando o horizonte em meditação. Apesar de sua profundidade espiritual nada fazem em prol do povo local. Apenas as freiras católicas se esforçam para educar e trazer assistência médica para aquelas populações. O filme mostra bem como foi complicado tentar evangelizar uma cultura tão diferente da ocidental como aquela. Nesse aspecto conseguimos entender muito bem como a Igreja Católica atuou como ponta de lança em países distantes, bem longe do mundo civilizado ocidental.

A produção é excelente, com fotografia belíssima, afinal a região do Himalaia é naturalmente linda, com suas altas montanhas com picos de neve eterna. O roteiro é extremamente bem escrito, com todas as personagens muito bem desenvolvidas. O destaque obviamente vai para Deborah Kerr que interpreta a irmã Clodagh. Apesar de jovem ela é designada como chefe da missão de evangelização, o que representará um grande desafio em sua vida religiosa. Outro destaque vai para David Farrar que interpreta um agente inglês que preserva os interesses do império britânico no local. Como único ocidental na região, ele se torna um amigo e um apoio para as freiras católicas. Essa aproximação inclusive acaba criando uma tensão sexual entre ele e as religiosas, fazendo com que o roteiro discuta ainda que sutilmente a questão do celibato dentro da Igreja católica.

"Narciso Negro" é considerado um dos melhores dramas da década de 1940, fruto é claro de seu ótimo roteiro, das atuações de excelente nível e da marcante produção. O filme até hoje chama a atenção por ter todos os elementos em perfeita harmonia. Um bom exemplo disso encontramos no clímax quando umas das freiras, esgotada pela austeridade e trabalho duro a que é submetida, tem um surto de loucura. A cena que se desenvolve ao pé do precipício, no badalar dos sinos, me fez recordar inclusive do mestre Hitchcock, por causa do ótimo clima de suspense e tensão que se desenrola nesse momento. Um primor cinematográfico. Em suma, eis aqui mais uma obra-prima que não pode faltar na coleção de nenhum cinéfilo que se preze. "Narciso Negro" é um filme que realmente merece o título de clássico da sétima arte.

Narciso Negro (Black Narcissus, Estados Unidos, Inglaterra, 1947) Estúdio: Universal Pictures / Direção: Michael Powell, Emeric Pressburger / Roteiro: Rumer Godden, Michael Powell / Elenco: Deborah Kerr, David Farrar, Flora Robson / Sinopse: Um grupo de freiras é enviada pela Igreja Católica para aturar numa ordem religiosa instalada no Himalaia, região distante, onde a população local sequer conhecer o cristianismo. Filme vencedor do Oscar nas categorias de melhor direção de fotografia (Jack Cardiff) e melhor direção de arte (Alfred Junge). Filme premiado pelo Globo de Ouro na categoria de  melhor direção de fotografia (Jack Cardiff).

Pablo Aluísio.

sábado, 14 de dezembro de 2019

A Um Passo da Eternidade

O soldado Robert E. Lee Prewitt (Montgomery Clift) é transferido para uma base militar no Havaí após ter alguns problemas com oficiais no quartel onde servia. Lá ele fica sob o comando do Sargento Milton Warden (Burt Lancaster). Prewitt tem fama de bom boxeador, mas não quer voltar aos ringues. Como o Comandante do grupo é fã do esporte ele tenta convencer o soldado a lutar de qualquer jeito ao lhe impor uma rígida disciplina militar. Seu objetivo é forçar Previtt a lutar na competição militar, mas ele resiste bravamente. Nesse ínterim, o Sargento Milton decide começar um caso extraconjugal com a bela Karen Holmes (Deborah Kerr); O problema é que ela é a esposa de seu Capitão!

"A Um Passo da Eternidade" é um dos clássicos mais famosos da história do cinema americano. O que o distingue dos demais filmes de guerra da época é que o roteiro do filme procura desenvolver o máximo possível o aspecto mais humano dos personagens em cena. O papel de Clift é um exemplo. Ele é um novato que sofre todos os tipos de humilhações dentro da base. Mesmo assim resiste ás provocações para demonstrar seu ponto de vista. Ao se envolver com a dançarina de cabaré Lorene Burke (Donna Reed) ele procura acima de tudo uma redenção em sua vida, algo que valha a pena lutar. O enredo gira em torno dele, mas o filme não se resume a isso pois tem como pano de fundo o grande ataque japonês ao porto americano de Pearl Harbor, fato que ocasionou a entrada dos EUA na II Guerra Mundial. O argumento assim tenta dar um rosto e uma história para os milhares de militares americanos que estavam no Havaí nesse grande bombardeio das forças do império japonês.

Baseado no romance best-seller de James Jones, "A Um Passo da Eternidade" é, em essência, um filme sobre relacionamentos humanos, paixões, rivalidades nas vésperas de um dos maiores acontecimentos da história norte-americana. Além do filme em si ser um marco, a produção ficou conhecida também por várias histórias de bastidores. Uma das mais conhecidas envolveu o cantor Frank Sinatra. Na época ele estava em um péssimo momento na carreira. Após ter um problema vocal suas vendas despencaram e assim Sinatra ficou sem muitas alternativas. Ao descobrir que a Columbia faria "A um Passo da Eternidade" resolveu lutar pelo papel de Angelo Maggio, um soldado boa praça que é vítima de um guarda sádico (interpretado pelo sempre ótimo Ernest Borgnine). O drama para Sinatra começou quando o diretor Fred Zinnemann o recusou para o filme. Segundo afirmam alguns livros o chefão mafioso Sam Giancana, atendendo a um pedido desesperado de Sinatra, colocou Zinnemann contra a parede para que ele escalasse o cantor em decadência. O fato acabou sendo utilizado em "O Poderoso Chefão" em uma cena em que um cantor italiano pede ajuda a Don Vito Corleone para que ele fosse escalado para um filme importante.  A cena é impactante quando uma cabeça de cavalo decepada é colocada ao lado da cama de um cineasta famoso.

De qualquer modo, seja lá como entrou no filme, o fato é que Sinatra conseguiu voltar ao auge. Ele venceu o Oscar de melhor ator coadjuvante por sua atuação e o filme acabou se tornando o grande premiado de seu ano, levando para casa ainda mais sete prêmios. Uma consagração praticamente completa na mais prestigiada premiação do cinema mundial. Burt Lancaster também foi indicado ao Oscar de melhor ator, mas não venceu. Havia um certo preconceito contra ele, por ser um astro de filmes de ação e aventura na época. Já Montgomery Clift foi completamente esquecido em mais uma daquelas famosas injustiças da Academia. A consolação para Lancaster veio pelo fato de ter feito a cena mais famosa de sua carreira, quando beija Deborah Kerr na beira da praia. Um momento considerado extremamente ousado para a época, com sensualidade à flor da pele.

A Um Passo da Eternidade (From Here to Eternity, Estados Unidos, 1953) Direção: Fred Zinnemann / Roteiro: Daniel Taradash baseado no romance de James Jones / Elenco: Burt Lancaster, Montgomery Clift, Deborah Kerr, Frank Sinatra, Donna Reed, Ernest Borgnine, Philip Ober / Sinopse: Nas vésperas do ataque japonês à base de Pearl Harbor, fato que levou os Estados Unidos a entrarem na II Guerra Mundial, um grupo de soldados vivem seus dramas pessoais em um regimento do Havaí. Filme vencedor do Oscar nas categorias de Melhor Filme, Melhor Direção (Fred Zinnemann), Melhor Roteiro (Daniel Taradash), Melhor Ator Coadjuvante (Frank Sinatra), Melhor Atriz Coadjuvante (Donna Reed), Melhor Fotografia em Preto e Branco (Burnett Guffey), Melhor Som (John P. Livadary) e Melhor Edição (William A. Lyon). Filme vencedor do Globo de Ouro nas categorias de Melhor Direção (Fred Zinnemann) e Melhor Ator Coadjuvante (Frank Sinatra),  

Pablo Aluísio. 

terça-feira, 10 de dezembro de 2019

O Céu é Testemunha

Segunda Guerra Mundial. Após ter seu navio afundado por japoneses o cabo americano dos fuzileiros navais Allison (Mitchum) consegue sobreviver, ficando dias à deriva em alto-mar. Para sua sorte sua pequena embarcação é levada até uma ilha no meio do Pacífico Sul. Ao desembarcar ele acaba descobrindo que só há uma pessoa naquele lugar distante e esquecido por Deus, a freira Angela (Deborah Kerr). Ela é a única sobrevivente da comunidade. Seu superior, o padre Phillips, está morto. Agora juntos terão que sobreviver. Não será uma tarefa fácil, por causa da escassez de alimentos e pela provável ocupação das tropas japonesas que estão chegando para transformar a ilha em um posto avançado das forças imperiais de seu país. Caberá ao militar e à freira a complicada tarefa de não serem descobertos e presos pelos violentos soldados japoneses. Para isso Allison usará de todo o seu treinamento de fuzileiro naval enquanto protege a irmã Angela de mais uma tragédia em sua vida.

John Huston aqui realiza mais uma de suas obras primas. Baseado em um roteiro que foi parcialmente inspirado em fatos reais, Huston explora duas figuras completamente diferentes entre si (um militar e uma religiosa) que se encontram em uma situação limite pela sobrevivência. O mais curioso é que Huston ousou até mesmo ultrapassar certos limites, criando uma atração entre o personagem de Robert Mitchum e a jovem e bonita irmã, interpretada por Deborah Kerr. A tensão sexual que se cria entre eles é uma das melhores coisas desse argumento. Outro fato digno de aplausos é a técnica que Huston explora para desenvolver sua história. Com basicamente dois personagens centrais ele desenvolve diversos temas interessantes, como a força da fé, os limites éticos que caem na luta pela sobrevivência e o que não poderia faltar em uma produção como essa, o senso de aventura.

O militar de Robert Mitchum é um tipo que, apesar de crer em Deus, nunca foi muito preocupado com essa questão religiosa. Órfão, criado em abrigos a vida inteira, chegou a se tornar um delinquente juvenil antes de decidir entrar nos fuzileiros navais e finalmente se encontrar na vida, trilhando um caminho seguro. Já a freira de Kerr é jovem, bela e ainda não fez os seus votos definitivos de castidade, o que abre uma pequena margem de esperanças para o militar, que claramente fica apaixonado por ela. Assim temos um ótimo filme, baseado em uma história que prende a atenção do começo ao fim. Nada mais normal para um gênio do cinema como John Huston.

O Céu é Testemunha (Heaven Knows, Mr. Allison, Estados Unidos, 1957) Direção: John Huston / Roteiro: John Huston, John Lee Mahin / Elenco: Robert Mitchum, Deborah Kerr / Sinopse: Um fuzlileiro naval dos Estados Unidos (Mitchum) consegue sobreviver a um ataque japonês ao seu navio durante a batalha do Pacífico, no auge da II Guerra Mundial. Ele acaba indo parar numa ilha onde conhece a bela e jovem freira irmã Angela (Kerr). Juntos vão tentar sobreviver ao mundo em chamas e à fúria da natureza do lugar. Filme indicado ao Oscar nas categorias de Melhor Atriz (Deborah Kerr) e Melhor Roteiro Adaptado (John Huston e John Lee Mahin). Indicado ao Globo de Ouro na categoria de Melhor Atriz - Drama (Deborah Kerr). Também indicado ao BAFTA Awards nas categorias de Melhor Filme - Estados Unidos e Melhor Ator (Robert Mitchum),

Pablo Aluísio. 

quarta-feira, 25 de julho de 2018

Quo Vadis

Título no Brasil: Quo Vadis
Título Original: Quo Vadis
Ano de Produção: 1951
País: Estados Unidos
Estúdio: Metro-Goldwyn-Mayer (MGM)
Direção: Mervyn LeRoy
Roteiro: John Lee Mahin, S.N. Behrman
Elenco: Robert Taylor, Deborah Kerr, Peter Ustinov, Leo Genn
  
Sinopse:
Durante o governo do sanguinário e louco imperador romano Nero uma nova doutrina religiosa chamada Cristianismo avança entre a sociedade de Roma. Pregada por pessoas como o apóstolo Pedro e seus seguidores, a nova religião trazia uma mensagem de esperança, fé e amor ao próximo. Logo a nova crença em um Messias da Judeia chamado Jesus se torna um problema para o império e seus deuses pagãos, dando origem a uma série de perseguições violentas. Épico histórico baseado em fatos reais ocorridos nos primeiros anos do cristianismo em Roma.

Comentários:
Filme indicado a oito prêmios Oscar, incluindo melhor filme, ator (Peter Ustinov), fotografia, edição e música (a cargo do grande compositor Miklós Rózsa). Não restam dúvidas que é uma obra prima de Hollywood. Fazia bastante tempo que havia assistido "Quo Vadis" pela última vez, por isso resolvi rever essa grande produção épica dos estúdios Metro. Realmente o filme continua muito bom. Ele é um precursor dos vários filmes que seriam produzidos sobre a Roma imperial nos anos seguintes. Tem uma produção muito bonita e rica. Naquela época não havia como fazer nada por computador, então nas grandes cenas se utilizavam realmente de centenas de milhares de figurantes, dando um tom de grandiosidade a tudo que se via na tela. De fato tudo é impressionante, inclusive sua duração: mais de duas horas e quarenta minutos de metragem! É um épico típico de Hollywood naquela época. Tudo soa superlativo, inclusive a trilha sonora que é completamente suntuosa. Os personagens desfilam em cena com toda a pompa e a circunstância devidas.

Muito do que se vê na tela é pura ficção, embora haja também grandes trechos adaptados do novo testamento em sua parte chamada "Atos dos Apóstolos", ou seja, o filme se passa nos anos imediatamente posteriores à morte de Jesus Cristo, justamente quando seus seguidores se espalharam pelo mundo afora divulgando a boa nova (o Evangelho). Em termos gerais um dos grande atrativos em "Quo Vadis" vem da presença de um elenco muito bom, acima da média. Robert Taylor e Deborah Kerr estão bem, embora seus personagens não fujam muito do lugar comum. Quem brilha realmente é Peter Ustinov como Nero. Fazendo um imperador mimado, abobalhado, tirano, sanguinário e com ares de grandeza artística, Ustinov marcou para sempre o personagem, tanto que todos os atores que depois interpretaram o imperador louco de Roma foram pelo mesmo caminho desenvolvido por ele. Outro destaque vem da inspirada atuação do ator Finlay Currie como Pedro, o apóstolo pescador, dando toda a dignidade que o papel merece. Em conclusão é um grande épico da história do cinema americano, sempre lembrado, o que é justo haja visto sua excelente qualidade. "Quo Vadis" realmente merece ser descoberto (e redescoberto) sempre que possível, principalmente para quem gosta de épicos clássicos. Imperdível.

Pablo Aluísio.

sexta-feira, 20 de outubro de 2017

O Céu é Testemunha

Segunda Guerra Mundial. Após ter seu navio afundado por japoneses o cabo americano dos fuzileiros navais Allison (Mitchum) consegue sobreviver, ficando dias à deriva em alto-mar. Para sua sorte sua pequena embarcação é levada até uma ilha no meio do Pacífico Sul. Ao desembarcar ele acaba descobrindo que só há uma pessoa naquele lugar distante e esquecido por Deus, a freira Angela (Deborah Kerr). Ela é a única sobrevivente da comunidade. Seu superior, o padre Phillips, está morto. Agora juntos terão que sobreviver. Não será uma tarefa fácil, por causa da escassez de alimentos e pela provável ocupação das tropas japonesas que estão chegando para transformar a ilha em um posto avançado das forças imperiais de seu país. Caberá ao militar e à freira a complicada tarefa de não serem descobertos e presos pelos violentos soldados japoneses. Para isso Allison usará de todo o seu treinamento de fuzileiro naval enquanto protege a irmã Angela de mais uma tragédia em sua vida.

John Huston aqui realiza mais uma de suas obras primas. Baseado em um roteiro que foi parcialmente inspirado em fatos reais, Huston explora duas figuras completamente diferentes entre si (um militar e uma religiosa) que se encontram em uma situação limite pela sobrevivência. O mais curioso é que Huston ousou até mesmo ultrapassar certos limites, criando uma atração entre o personagem de Robert Mitchum e a jovem e bonita irmã, interpretada por Deborah Kerr. A tensão sexual que se cria entre eles é uma das melhores coisas desse argumento. Outro fato digno de aplausos é a técnica que Huston explora para desenvolver sua história. Com basicamente dois personagens centrais ele desenvolve diversos temas interessantes, como a força da fé, os limites éticos que caem na luta pela sobrevivência e o que não poderia faltar em uma produção como essa, o senso de aventura.

O militar de Robert Mitchum é um tipo que, apesar de crer em Deus, nunca foi muito preocupado com essa questão religiosa. Órfão, criado em abrigos a vida inteira, chegou a se tornar um delinquente juvenil antes de decidir entrar nos fuzileiros navais e finalmente se encontrar na vida, trilhando um caminho seguro. Já a freira de Kerr é jovem, bela e ainda não fez os seus votos definitivos de castidade, o que abre uma pequena margem de esperanças para o militar, que claramente fica apaixonado por ela. Assim temos um ótimo filme, baseado em uma história que prende a atenção do começo ao fim. Nada mais normal para um gênio do cinema como John Huston.

O Céu é Testemunha (Heaven Knows, Mr. Allison, Estados Unidos, 1957) Direção: John Huston / Roteiro: John Huston, John Lee Mahin / Elenco: Robert Mitchum, Deborah Kerr / Sinopse: Um fuzlileiro naval dos Estados Unidos (Mitchum) consegue sobreviver a um ataque japonês ao seu navio durante a batalha do Pacífico, no auge da II Guerra Mundial. Ele acaba indo parar numa ilha onde conhece a bela e jovem freira irmã Angela (Kerr). Juntos vão tentar sobreviver ao mundo em chamas e à fúria da natureza do lugar. Filme indicado ao Oscar nas categorias de Melhor Atriz (Deborah Kerr) e Melhor Roteiro Adaptado (John Huston e John Lee Mahin). Indicado ao Globo de Ouro na categoria de Melhor Atriz - Drama (Deborah Kerr). Também indicado ao BAFTA Awards nas categorias de Melhor Filme - Estados Unidos e Melhor Ator (Robert Mitchum),

Pablo Aluísio.

segunda-feira, 25 de setembro de 2017

As Minas do Rei Salomão

Título no Brasil: As Minas do Rei Salomão
Título Original: King Solomon's Mines
Ano de Produção: 1950
País: Estados Unidos
Estúdio: Metro-Goldwyn-Mayer (MGM)
Direção: Compton Bennett e Andrew Marton
Roteiro: Helen Deutsch, baseada no livro de H. Rider Haggard
Elenco: Deborah Kerr, Stewart Granger, Richard Carlson, Lowell Gilmore
  
Sinopse:
Uma aristocrata britânica chamada Elizabeth Curtis (Deborah Kerr) decide contratar os serviços do explorador e caçador Allan Quatermain (Stewart Granger) para localizar seu marido desaparecido em terras desconhecidas do continente africano. Filme indicado ao Oscar na categoria de Melhor Filme. Vencedor do Oscar nas categorias de Melhor Direção de Fotografia (Robert Surtees) e Melhor Edição (Ralph E. Winters e Conrad A. Nervig). Também vencedor do Globo de Ouro na categoria de Melhor Direção de Fotografia.

Comentários:
Ontem assisti a versão de 1950 para a clássica história de "As Minas do Rei Salomão" de H. Rider Haggard. Na literatura esse livro é considerado um dos grandes ícones da aventura e no cinema temos várias versões interessantes sobre as aventuras de Allan Quatermain pelo continente africano selvagem. Nessa produção temos como estrelas o grande caçador branco Stewart Granger e Deborah Kerr. Ela interpreta Elizabeth Curtis, uma inglesa que desesperada após o desaparecimento do próprio marido na África, resolve procurá-lo indo até a região onde ele foi visto pela última vez. O sujeito estava com a ideia fixa de encontrar as mitológicas e lendárias minas de diamantes que um dia pertenceram ao Rei Salomão. Em posse de um mapa antigo resolveu encarar uma expedição em território hostil e nunca antes explorado por homens brancos. Depois que entrou naquele lugar simplesmente sumiu sem deixar vestígios. Assim Elizabeth resolve contratar os serviços do caçador, explorador e aventureiro Allan Quatermain (Stewart Granger). Há muitos anos vivendo na África ele ganha a vida organizando safáris para britânicos endinheirados em busca de alguma aventura em suas vidas. A exploração que Elizabeth pensa fazer porém é algo bem diferente. Significa ir em terras distantes, inexploradas e sem mapeamento confiável. Inicialmente Allan recusa a oferta porém cinco mil libras o fazem mudar de ideia. Ele que pretende um dia voltar para a Inglaterra vê aquele dinheiro como uma saída da África para voltar a Londres onde pode ajudar seu filho. Juntos, Allan Quatermain e Elizabeth Curtis, saem então em direção ao desconhecido, começando uma aventura inesquecível.

Essa versão clássica de "As Minas do Rei Salomão" tem vários aspectos interessantes que não deixaram o filme em si envelhecer tanto como era esperado. O roteiro, sempre com um pé no chão, apostando no realismo (ao contrário da boba versão dos anos 80 estrelada por Richard Chamberlain), aposta no exótico da natureza selvagem africana, no relacionamento dos protagonistas e nas maravilhosas cenas tomadas em locações reais. Esse aliás é o grande diferencial do filme como um todo. Se os produtores tivessem filmado a produção em estúdio, na velha Hollywood, certamente teríamos uma sensação ruim, de coisa falsa. Ao contrário disso toda a equipe técnica e elenco foram realmente para a África, com cenários naturais reais, tudo feito in loco. Isso tornou o filme de certa maneira imune ao tempo. Afinal de contas excelentes cenas naturais nunca envelhecem. Talvez o que realmente envelheceu e saiu de moda seja o próprio personagem Allan Quatermain. Ele é um caçador de animais e hoje em dia nada é mais odiado pela mentalidade ecológica predominante do que caçadores em geral (vide aquele recente caso envolvendo a caça e morte daquele leão em um santuário africano que ganhou todas as manchetes mundo afora). E como agravante o filme traz a morte real de um elefante logo nas suas primeiras cenas. O magnífico animal foi comprado pelos produtores e morto de fato para impressionar o público na época. A cena aliás é tristemente realista pois após levar o tiro certeiro o elefante cai no chão, tremendo, em estado de choque, tentando sobreviver enquanto outros elefantes fazem de tudo para levantá-lo do chão. Sob o ponto de vista moderno foi algo desprezível de se fazer, chocante mesmo! Provavelmente cenas como essa deixem o filme com um selo ruim, de algo maldito, que não deve ser mais refeito nos dias de hoje. Em minha visão isso é um olhar que não leva em conta o contexto histórico do momento em que o filme foi lançado, há mais de 60 anos atrás. Afinal de contas naquela época ser um caçador na África ainda era visto como algo heroico e altamente engrandecedor. Os tempos mudam.

Pablo Aluísio.

segunda-feira, 19 de dezembro de 2016

A Tortura da Suspeita

Título no Brasil: A Tortura da Suspeita
Título Original: The Naked Edge
Ano de Produção: 1961
País: Estados Unidos
Estúdio: United Artists
Direção: Michael Anderson
Roteiro: Joseph Stefano, Max Ehrlich
Elenco: Gary Cooper, Deborah Kerr, Peter Cushing, Eric Portman
  
Sinopse:
George Radcliffe (Gary Cooper) se torna a única testemunha de um assassinato na empresa em que trabalha. Durante uma noite seu patrão é morto com uma facada. Além disso o criminoso foge com mais de 60 mil libras. Para George o autor do assassinato é Donald Heath (Ray McAnally), também funcionário da empresa. Ele é preso, julgado e condenado com a ajuda do testemunho de George. O dinheiro roubado porém desaparece. Pouco tempo depois desse crime a sorte muda para George. De simples empregado ele consegue montar sua própria empresa que cresce a cada ano. Em pouco tempo se torna um homem rico e bem sucedido. Sua esposa Martha (Deborah Kerr) começa a desconfiar que George teria algo a ver com o crime, principalmente após receber uma carta denunciando sua participação na noite da morte de seu patrão. Além disso fica a dúvida: como conseguiu se tornar um homem rico da noite para o dia? Seria George inocente ou culpado pelas acusações?

Comentários:
Thriller de suspense que se notabiliza por dois aspectos. O primeiro é que foi o último filme da carreira do grande ator Gary Cooper. Ele viria a falecer no mesmo ano de lançamento dessa sua última produção. O segundo vem do fato do filme ter sido produzido pela companhia de Marlon Brando, uma empresa que ele havia fundado para a realização de filmes que fugissem um pouco do lado mais comercial de Hollywood. O ator chamou sua nova companhia cinematográfica de Pennebaker Productions e colocou seu próprio pai como presidente. Por essa razão nos créditos desse filme você encontrará a indicação de Marlon Brando Sr como produtor. No geral é um bom filme de suspense que segue em certos momentos o estilo do gênio Alfred Hitchcock. O diretor Michael Anderson deixa isso bem claro em vários momentos, seja nas tomadas ousadas de câmera, seja no uso de uma trilha sonora bem marcante (que em determinados pontos me fez lembrar até mesmo do clássico "Psicose"). O enredo se aproveita de uma linha básica, as suspeitas de Martha (Kerr) em relação ao seu marido George (Cooper). Ele testemunha em um caso de assassinato ocorrido em sua empresa onde uma pequena fortuna foi roubada. O dinheiro desapareceu. 

Algum tempo depois o próprio George, que era apenas um empregado, surge endinheirado o suficiente para fundar sua própria companhia. Tudo muito suspeito. Para piorar ele começa a apresentar um comportamento suspeito, meio paranoico, com o passado que ressurge para lhe atormentar. Em determinado ponto a própria Martha começa a temer por sua vida pois George deixa claro que não deixará nada atrapalhar seu recém conquistado sucesso empresarial. Seria George o verdadeiro assassino ou apenas um bom homem envolvido numa rede de coincidências que o incriminariam pelo crime? Teria ele mandado com seu testemunho no tribunal um homem inocente para a prisão perpétua por um crime cometido por ele mesmo? Como conseguiu ficar rico tão rapidamente após o crime e o roubo do dinheiro na empresa em que trabalhava? As respostas a todas essas perguntas só surgem na última cena, deixando o espectador o tempo todo tentando decifrar o enigma. Tudo muito bem realizado e montado. O roteiro manipula o tempo todo a situação, ora dando margem para suspeitarmos mesmo do personagem de Cooper, ora nos convencendo a deixarmos de lado esse tipo de suspeita. Curiosamente no final, quando os créditos finais já foram exibidos, um pedido dos realizadores do filme pede aos que já assistiram que não contem a identidade real do assassino para ninguém. Um conselho mais do que adequado para que a surpresa não seja estragada. Em suma, "A Tortura da Suspeita" foi uma bela despedida do mito Gary Cooper ao cinema, bem à altura de sua importância. 

Pablo Aluísio.

quinta-feira, 19 de janeiro de 2012

Júlio César

Em sua autobiografia Marlon Brando tirou duas conclusões sobre o filme “Júlio César”. A primeira foi que ele era ainda muito jovem e inexperiente para assumir um papel tão complexo em um texto tão rico (e muito fiel ao original escrito por William Shakespeare). O ator ficou inseguro durante as filmagens, também pudera, rodeado de monstros da arte de interpretação, Brando teve que se esforçar muito mais do que o habitual para não só decorar o rebuscado texto como também compreender o que ele significava. A segunda conclusão que Brando chegou é a de que filmes assim não encontram muita recepção e ressonância entre a cultura americana que em essência é a cultura do chiclete e da Coca-Cola, uma cultura que nem chega perto da milenar cultura europeia do qual provém essa maravilhosa peça.

Durante a exibição do filme fiquei pensando na opinião do ator e cheguei na conclusão pessoal de que ele estava certo apenas em termos. Realmente o ator está muito jovem, até inexperiente, para recitar Shakespeare. Atores ingleses obviamente se saem melhor nesse aspecto. Porém é impossível não reconhecer seu talento em duas grandes cenas do filme. A primeira ocorre quando Marco Antônio (Brando) encontra o corpo esfaqueado de César no senado. Se nos primeiros minutos de filme ele está em segundo plano aqui nesse momento assume posição de destaque no desenrolar dos acontecimentos. A segunda grande cena do ator no filme surge depois quando ele discursa para a multidão. Levando o corpo de César nos braços ele joga com as palavras de forma maravilhosa. Essa segunda cena é seguramente um dos maiores momentos de Brando no cinema. Esqueça seus famosos resmungos, aqui ele surge com uma dicção perfeita e uma oratória ímpar (mostrando que sua passagem pelo Actors Studio não foi em vão). Com pleno domínio ele instiga o povo contra os senadores que mataram César. Brando está perfeito no discurso, em um momento realmente de arrepiar.

Sobre o segundo aspecto realmente devo dar razão à opinião do ator. O público americano provavelmente estranhou a forma do filme. A cultura americana (e a nossa, diga-se de passagem) não abre muitas brechas para um texto tão bem escrito e profundo como esse. Os diálogos são declamados com grande eloqüência, por maravilhosos atores. O texto obviamente é riquíssimo em todos os sentidos e ao final de cada grande diálogo o espectador mais atento certamente ficará impressionado pela grandeza que a palavra escrita alcançava nas mãos de Shakespeare. Por se tratar de tão culto autor o filme exige uma certa erudição do público.

O espectador deve entender principalmente o contexto histórico do que se passa na tela (o fim da República Romana e o surgimento do Império). Deve também entender que Brutus (brilhantemente interpretado por James Mason) não é um vilão em cena mas sim um cidadão romano que acreditava no sistema político de então. Aliás é bom frisar que o tempo acabaria de certa forma dando razão a ele e aos senadores que mataram César. Os ideais republicanos de Roma tiveram muito mais influência nos séculos seguintes do que o arcaico e corrupto sistema que foi implantado pelos imperadores que iriam suceder César no poder. O legado do Império acabou mas as fundações do republicanismo que tanto foram defendidas por Brutus seguem firme até os dias de hoje. Enfim, Júlio César é um excelente filme, uma aula de cultura em todos os aspectos. Brando não está menos do que magnífico, apesar de ter ficado inseguro no resultado final. Em tempos de sub-cultura que vivemos “Júlio César” é não menos do que obrigatório

Júlio César (Julius Caesar, Estados Unidos, 1953) Diretor: Joseph L. Mankiewicz / Roteiro: Joseph L. Mankiewicz baseado na obra de William Shakespeare / Elenco: Marlon Brando, James Mason, John Gielgud, Deborah Kerr, Alan Napier./ Sinopse: Júlio César (Louis Calhern) é um habilitoso político e general romano que é assassinado no senado nos idos de março. Após sua morte duas facções se formam, os que querem a morte dos assassinos liderados por Marco Antônio (Marlon Brando) e Otáviano e os que comemoram sua morte liderados por Brutus (James Mason) e Cícero (Alan Napier). O palco da guerra civil está armado.

Pablo Aluísio.

sábado, 15 de dezembro de 2007

Tarde Demais Para Esquecer

Um dos filmes românticos mais famosos de Hollywood. "Tarde Demais Para Esquecer" marcou época por causa de sua trama romântica e cheia de charme. Junte a isso um casal muito entrosado em cena e uma trilha sonora simplesmente inesquecível (cantada pelo ótimo cantor Vic Damone). A estória quase todo mundo já conhece: Playboy conquistador (Cary Grant) se apaixona por uma espirituosa passageira (Deborah Kerr) durante uma viagem de navio entre a Europa e os Estados Unidos. O problema é que ambos estão comprometidos. Ele com uma rica herdeira nova-iorquina e ela por um homem bem sucedido que a venera. Quando a viagem chega ao fim resolvem criar um pacto: Caso não se casem em seis meses com seus respectivos e atuais pares se encontrarão no alto do prédio Empire State (um dos cartões postais de Nova Iorque) para firmarem compromisso entre si.

O roteiro criou escola no cinema americano, tanto que o filme acabou sendo refeito duas vezes nos anos seguintes (versões com Tom Hanks e Warren Beatty). O que pouco gente sabe é que o próprio "Tarde Demais Para Esquecer" era o remake de um clássico da década de 1930 chamado "Duas Vidas" estrelado pela atriz Irene Dunne (hoje injustamente esquecida). Em termos práticos podemos notar duas partes bem distintas na produção. Na primeira acompanhamos o casal se conhecendo e finalmente se apaixonando dentro do transatlântico. Em minha opinião é a melhor parte do filme. Cary Grant com todo seu charme tenta superar sua fama de "conquistador barato" para conquistar a bela e madura Deborah Kerr (muito bonita no filme, elegante e vestida com alta costura). A aproximação entre eles é sutil, feita de pequenos momentos - como convém a um romance passado na década de 50. Já a segunda parte mostra os encontros e desencontros do casal em terra firme (e que não seria adequado comentar detalhes aqui para não atrapalhar os que ainda não assistiram). Esse segundo ato é um pouco inferior ao primeiro. Sub-tramas desnecessárias aparecem (como o grupo infantil) e números musicais se alongam além do razoável. Mesmo assim o clímax, apesar de um pouco apressado, fecha com chave de ouro a trama.

Infelizmente nos dias atuais já não temos tantos filmes assim. Os próprios relacionamentos mudaram, a moralidade que movia os personagens de "Tarde Demais Para Esquecer", com toda a culpa pela suposta infidelidade, não existe mais. As pessoas hoje em dia simplesmente traem, sem necessidade de encontros marcados em noites chuvosas! Os romances são mais rasos e passageiros e quanto menos envolvimento existir, melhor. De qualquer forma para quem ainda gosta de um boa estória de amor o filme vai cair muito bem. Não há como negar que ele envelheceu um pouco, podendo soar meloso para os mais jovens, mas mesmo assim isso é o de menos pois seu saudosismo acabou virando um charme a mais em um filme já tão charmoso, mesmo após tantos anos de seu lançamento.

Tarde Demais Para Esquecer (An Affair to Remember, 1957) Direção de Leo McCarey / Roteiro de Delmer Davis e Leo McCarey / Elenco: Cary Grant, Deborah Kerr e Richard Danning / Sinopse: Playboy conhece bela mulher durante um cruzeiro atlântico. Após se enamorarem decidem marcar um encontro no prédio Empire Builiding de Nova Iorque.

Pablo Aluísio.

sexta-feira, 16 de março de 2007

Cary Grant: An Affair to Remember

Nickie Ferrante (Cary Grant) é um playboy conquistador que se apaixona por uma espirituosa passageira, Terry McKay (Deborah Kerr), durante uma viagem de navio entre a Europa e os Estados Unidos. O problema é que ambos estão comprometidos. Ele com uma rica herdeira nova-iorquina e ela por um homem bem sucedido que a venera. Quando a viagem chega ao fim resolvem criar um pacto romântico. Caso não se casem em seis meses com seus respectivos e atuais pares, se encontrarão no alto do prédio Empire State (um dos cartões postais de Nova Iorque) para firmarem compromisso entre si.

Um dos filmes românticos mais famosos de Hollywood. "Tarde Demais Para Esquecer" marcou época por causa de sua trama romântica e cheia de charme. Junte a isso um casal muito entrosado em cena e uma trilha sonora simplesmente inesquecível (cantada pelo ótimo cantor Vic Damone). O roteiro criou escola no cinema americano, tanto que o filme acabou sendo refeito duas vezes nos anos seguintes (versões com Tom Hanks e Warren Beatty). O que poucos sabem é que o próprio "Tarde Demais Para Esquecer" era o remake de um clássico da década de 1930 chamado "Duas Vidas" estrelado pela atriz Irene Dunne (hoje injustamente esquecida). Em termos práticos podemos notar duas partes bem distintas na produção. Na primeira acompanhamos o casal se conhecendo e finalmente se apaixonando dentro do transatlântico. Em minha opinião é o melhor momento do filme. Cary Grant com todo seu charme tenta superar sua fama de "conquistador barato" para conquistar a bela e madura Deborah Kerr (muito bonita no filme, elegante e vestida com alta costura).

A aproximação entre eles é sutil, feita de pequenos momentos - como convém a um romance passado na década de 50. Já a segunda parte mostra os encontros e desencontros do casal em terra firme (e que não seria adequado comentar detalhes aqui para não atrapalhar os que ainda não assistiram). Esse segundo ato é um pouco inferior ao primeiro. Subtramas desnecessárias aparecem (como o grupo infantil) e números musicais se alongam além do razoável. Mesmo assim o clímax, apesar de um pouco apressado, fecha com chave de ouro a trama. Infelizmente nos dias atuais já não temos tantos filmes assim. Os próprios relacionamentos mudaram, a moralidade que movia os personagens de "Tarde Demais Para Esquecer", com toda a culpa pela suposta infidelidade, não existe mais. As pessoas hoje em dia simplesmente traem, sem necessidade de encontros marcados em noites chuvosas! Os romances são mais rasos e passageiros e quanto menos envolvimento existir, melhor. De qualquer forma para quem ainda gosta de um boa estória de amor o filme vai cair muito bem. Não há como negar que ele envelheceu um pouco, podendo soar meloso para os mais jovens, mas mesmo assim isso é o de menos pois seu saudosismo acabou virando um charme a mais em um filme já tão charmoso, mesmo após tantos anos de seu lançamento.

Tarde Demais Para Esquecer (An Affair to Remember, Estados Unidos, 1957) Estúdio:  Twentieth Century Fox / Direção: Leo McCarey / Roteiro: Delmer Davis, Leo McCarey / Elenco: Cary Grant, Deborah Kerr, Richard Danning, Neva Patterson, Cathleen Nesbitt, Robert Q. Lewis / Filme indicado ao Oscar nas categorias de Melhor Fotografia, Melhor Figurino, Melhor Som e Melhor Música Original (An Affair to Remember).

Pablo Aluísio.

domingo, 18 de fevereiro de 2007

Os Inocentes

Eis um belo clássico do suspense e do terror. O filme tem uma história bem interessante. Miss Giddens (Deborah Kerr) é contratada por um rico homem de negócios para cuidar de seus sobrinhos órfãos. Eles vivem em uma isolada e distante mansão no interior inglês. Em estilo vitoriano a estranha casa parece ter personalidade própria, envolvida em uma penumbra perene de mistério e sordidez. No começo o novo emprego se mostra promissor, mas logo Giddens começa a perceber o estranho comportamento das crianças, o que a deixa completamente desconcertada. Será que há alguma ligação entre aquelas pessoas e a forças do sobrenatural tão presentes na casa?

Gostei de praticamente tudo em "Os Inocentes". O roteiro é muito bem escrito, se aproveitando muito bem do clima soturno, do argumento inteligente e das excelentes atuações. Embora muitos críticos não gostem do filme "Os Que Chegam Com a Noite" eu penso que ter assistido ele antes me ajudou muito na compreensão do texto desse "Os Inocentes". Isso porque a estória do filme de Marlon Brando nos mostra tudo o que aconteceu naquela casa antes dos acontecimentos que vemos aqui em "Os Inocentes". Assim já sabemos de antemão como era o relacionamento entre as crianças e Peter Quint (que era interpretado por Brando). Aliás vou além, recomendo que os filmes sejam assistidos em sequência, pois certamente um complementa o outro, deixando tudo mais fluído e bem compreendido para o espectador. São obras cinematográficas que se completam.

 "Os Inocentes" é um terror psicológico que se fundamenta muito no chamado poder de sugestão. Ao invés de mostrar monstros de borracha sem cabeça (como era comum em alguns filmes da época), o filme apenas sugere certas situações, certos momentos, tudo com elegância e sofisticação. Talvez por isso não tenha envelhecido, mesmo tendo sido produzido no começo dos anos 1960. O roteiro também é aberto a várias interpretações. Por exemplo, há uma certa controvérsia até hoje entre os cinéfilos sobre o que teria realmente acontecido com o garoto Miles (interpretado muito bem pelo ator mirim Martin Stephens). Possessão demoníaca? Ou apenas pura maldade e perversidade pessoal do garoto? Cada espectador acaba criando sua própria conclusão, o que demonstra bem como o roteiro é muito bem escrito e imaginativo.

Também não é para menos uma vez que estamos falando de um filme que foi adaptado da obra de um dos maiores escritores da história, Henry James. Por essa razão espere por um excelente suspense de terror mas não por um filme banal, de soluções fáceis e sustos gratuitos. O inteligente argumento no fundo explora o lado mais sombrio da alma humana, dissecando a própria natureza do ser humano, que já nasce corrompida e tendente à maldade pura, como muito bem demonstrado nos garotos de “Os Inocentes”. São crianças, mas nem um pouco inocentes como o próprio título do filme sugere em fina ironia. Enfim, "Os Inocentes" é uma bela obra cinematográfica que mostra que muitas vezes o implícito é bem mais assustador do que o explicito em filmes de suspense e terror. Além disso disseca como poucos a verdadeira natureza humana. Você vai se surpreender com o resultado final.

Os Inocentes (The Innocents, Inglaterra, 1961) Direção: Jack Clayton / Roteiro: John Mortimer baseado no livro de Henry James / Elenco: Deborah Kerr, Peter Wyngarde, Megs Jenkins / Sinopse: Miss Giddens (Deborah Kerr) é contratada por um rico homem de negócios para cuidar de seus sobrinhos órfãos. Eles vivem em uma isolada e distante mansão no interior inglês. Não demora a perceber que algo muito sinistro está ocorrendo no local. Filme indicado ao BAFTA Awards na categoria de melhor filme britânico.

Pablo Aluísio.

domingo, 22 de outubro de 2006

O Passado Não Perdoa

Esse fim de semana aproveitei o tempo livre para assistir a dois clássicos que seguiam inéditos até o momento. Dois excelentes filmes, é bom frisar. O primeiro foi "A Tortura do Silêncio". É um thriller de suspense com um enredo que me lembrou muito os filmes de Alfred Hitchcock. O mitológico Gary Cooper interpreta um empregado de uma empresa em Londres que acaba supostamente testemunhando um assassinato. Seu próprio patrão é esfaqueado e 60 mil libras são roubadas. Mesmo na escuridão o personagem de Cooper acusa um outro funcionário do crime. O sujeito é preso e condenado à prisão perpétua.

Pouco tempo depois o próprio George (Cooper) surge com dinheiro suficiente para abrir sua própria empresa de navegação. O negócio prospera e ele fica rico. Sua esposa Martha (interpretada pela ótima Debora Kerr) começa a ficar desconfiada de tudo. Afinal o dinheiro roubado na empresa jamais fora encontrado. Teria sido ele o real assassino? O roteiro assim aproveita essa situação limite para desenvolver toda a sua trama. Um aspecto interessante é que até a cena final o espectador fica na dúvida sobre ser o personagem de Cooper inocente ou culpado. Extremamente bem escrito, é um ótimo momento da filmografia do ator. Infelizmente Cooper morreria naquele mesmo ano, sendo esse seu último filme.

O outro belo clássico que assisti foi "O Passado Não Perdoa". Esse é um faroeste dirigido por John Huston. Todo cinéfilo sabe que Huston foi um mestre da sétima arte. Ele nunca realizava filmes banais ou que caíssem no lugar comum. Era um cineasta dos mais constantes na realização de obras primas. Esse filme é uma delas. O roteiro começa mostrando o dia a dia de um clã familiar no velho oeste. Eles vivem em um rancho situado no deserto, em pleno território Kiowa. De tempos em temos os nativos guerreiros promovem massacres de colonos brancos na região. O patriarca da família Zachary foi morto em um desses ataques. Agora quem lidera o clã é Ben Zachary (Burt Lancaster), o irmão mais velho. Ele vive de transportar e vender gado pela região. A rotina familiar segue tranquila e feliz até que os Kiowas retornam.

Eles querem que Ben lhes dê a sua própria irmã, a jovem Rachel (interpretada por Audrey Hepburn, maravilhosa como sempre), para que ela seja levada para as montanhas onde vive a tribo. Para os Kiowas ela teria sido raptada de sua aldeia no passado. Um ataque feito pelo próprio patriarca Zachary. Claro que Ben (Lancaster) recusa de forma veemente a possibilidade de Rachel ser entregue de volta aos índios, o que acaba dando origem a uma verdadeira guerra entre brancos e indígenas. Huston mostra maestria na condução do filme. Ele não tem pressa, desenvolvendo cada personagem de forma bem caprichada. O elenco conta ainda com dois outros coadjuvantes bem interessantes para os cinéfilos: a presença da diva do cinema mudo Lilian Gish, como a velha matriarca e Audie Murphy, como o irmão do meio da família Zachary, uma pessoa que ainda não conseguiu superar seus preconceitos de natureza racial. Em suma, um belíssimo trabalho do mestre John Huston, um diretor que jamais me decepcionou.

Pablo Aluísio.