domingo, 4 de outubro de 2020

Maverick

Adaptação para o cinema de uma antiga série de TV que fez muito sucesso na década de 1960. Aqui Mel Gibson se apropriou do personagem que foi consagrado por James Garner, para atuar ao lado de Jodie Foster nesse remake. Ele esbanja humor e simpatia em um western que definitivamente não se leva à sério. E é justamente essa a razão do filme ter recebido uma saraivada de críticas negativas em seu lançamento. Embora a série que lhe deu origem fosse também assumidamente bem humorada, seu tom de comédia não era tão acentuado como aqui nessa produção. E nesse época Mel Gibson era um dos atores mais populares do cinema americano. Ele era conhecido por seus filmes de ação. Ninguém estava esperando um western com toques de humor. 

De fato “Maverick” nas mãos de Mel Gibson virou quase uma paródia, com aquela infinidade de sequências inverossímeis e piadas, muitas delas fora de hora. Faltou o timing certo. O que parece ter acontecido de fato foi uma tentativa do diretor Richard Donner em acrescentar ao filme aquele estilo mais alucinado da série “Máquina Mortífera”. Mel Gibson, por exemplo, repete seus maneirismos da famosa franquia. Atribuo também a má recepção ao fato dos fãs de filmes de western estarem esperando por algum filme que fosse o verdadeiro redentor do gênero, algo que definitivamente “Maverick” passa longe de ser. Esse é o tipo de roteiro que o espectador tem que criar um certo vínculo, embarcar em sua proposta, tomar uma atitude de cumplicidade pois caso contrário tudo vai por água abaixo.

Por outro lado, Mel Gibson e Jodie Foster pareceram estar se divertindo como nunca nas filmagens. Eles se tornaram grandes amigos no set de filmagens, algo que permanece até os dias atuais. Basta lembrar que em premiações como o Oscar ou o Globo de Ouro, eles quase sempre estão juntos. Esse "Maverick" também foi uma interessante experiência para a carreira dos dois. Mel Gibson nunca havia atuado em um faroeste antes. O mesmo podia se dizer de Jodie Foster. Para ela em especial, foi algo muito inusitado, com todo aquele figurino pesado, aqueles grandes vestidos. Interpretar uma mulher de uma época em que as mulheres não tinham o espaço dos dias de hoje, foi para a feminista Foster algo novo, curioso até. No saldo final “Maverick” até que diverte bem. Não é uma obra que vá satisfazer a todos os fãs de Western, principalmente aos mais tradicionalistas, os que gostam dos antigos filmes de John Wayne, mas pode virar um passatempo interessante se não se esperar muito dele. A produção é classe A, com ótimo design de produção. Figurinos, cenários, tudo feito com extremo capricho e bom gosto. Além disso o roteiro abriu espaço para homenagear o Maverick original, ou melhor dizendo, o ator James Garner. Foi um belo reconhecimento para esse veterano das telas de cinema e televisão.

Maverick (Maverick, Estados Unidos, 1994) Direção: Richard Donner / Roteiro: Roy Huggins, William Goldman / Elenco: Mel Gibson, Jodie Foster, James Garner / Sinopse: Maverick (Mel Gibson) é um pistoleiro tão bom com a mira quanto com as cartas. Participando de um torneio de pôquer dos mais competitivos e violentos, ele acaba conhecendo a bonita Annabelle (Jodie Foster), uma garota esperta e inteligente que tentará lhe passar a perna no jogo e no amor. Filme indicado ao Oscar na categoria de melhor figurino (April Ferry).

Pablo Aluísio.

A Vingança de Wyatt Earp

Nem só de filmes clássicos vive o fã de western. De uns tempos pra cá algumas produções novas estão surgindo no mercado, geralmente indo direto para o mercado de venda direta ao consumidor ou então exibição em canais a cabo. São filmes com orçamentos mais modestos, nada comparado aos antigos filmes de faroeste dos grandes estúdios, cheios de grandes astros mas mesmo assim não deixam de ser interessantes. A era de ouro do faroeste americano ficou no passado, mas isso não significa que bons filmes não sejam mais produzidos na atualidade. Entre esses novos filmes de western eu gostaria de destacar aqui esse “A Vingança de Wyatt Earp”. Como se pode perceber o mitológico xerife do velho oeste ainda continua a atrair as atenções para si. É uma das mais fortes mitologias daquele período. Sua história já foi contada e recontada em inúmeros filmes e pelo visto a fonte ainda não secou. Aqui somos transportados para os primeiros anos de Earp como homem da lei. Ele ainda é um jovem idealista tentando trazer justiça não a Tombstone, a cidade onde ficaria célebre anos depois, mas em Dodge City no comecinho de sua carreira.

Ao lado de outro lendário homem da lei, o também xerife Bat Masterson, Earp sai no encalço de um assassino foragido que havia matado o grande amor de sua vida por engano. Um dos aspectos que chamam a atenção aqui é a participação de Val Kilmer interpretando o xerife na velhice. Sentado ao lado de um repórter em um quarto de hotel, ele vai contando toda a estória. Ver Kilmer no papel de Wyatt Earp me deu saudades de um dos melhores filmes já feitos sobre o personagem, “Tombstone”, onde ele, Kilmer, interpretava o pistoleiro e amigo de Earp, Doc Holliday. O ator, envelhecido e ostentando o bigode tão característico de Earp, se torna uma das melhores coisas do filme. Esse não é o tipo de produção em que o espectador vai atrás da veracidade histórica dos acontecimentos mostrados no roteiro. De fato é apenas um western modesto, feito para entreter, que não chega a aborrecer em momento algum. De certa forma até gostei do resultado final, embora obviamente fique a anos luz de distância dos grandes faroestes do passado. De uma forma ou outra merece ser conhecido.

A Vingança de Wyatt Earp (Wyatt Earp's Revenge, Estados Unidos, 2012) Direção: Michael Feifer / Roteiro: Jeffrey Schenck, Darren Benjamin Shepherd / Elenco: Val Kilmer, Shawn Roberts, Daniel Booko / Sinopse: O lendário xerife do velho oeste Wyatt Earp (Val Kilmer) encontra um repórter para relembrar um evento de seu passado como homem da lei em Dodge City, a caçada e captura de um assassino frio e calculista.

Pablo Aluísio.

sábado, 3 de outubro de 2020

Em Nome de Deus

Título no Brasil: Em Nome de Deus
Título Original: The Magdalene Sisters
Ano de Produção: 2002
País: Irlanda, Inglaterra
Estúdio: Scottish Screen, Film Council
Direção: Peter Mullan
Roteiro: Peter Mullan
Elenco: Eileen Walsh, Dorothy Duffy, Nora-Jane Noone, Dorothy Duffy, Eileen Walsh, Mary Murray

Sinopse:
Com história baseada em fatos reais o filme "Em Nome de Deus" conta a história de três jovens irlandesas que são confinadas em um convento católico durante a década de 1960. Elas não possuem nenhuma vocação, porém são levadas até lá por suas próprias famílias, por não se encaixarem nos padrões morais da época.

Comentários:
Filme muito bom. Aqui temos algo que efetivamente aconteceu por décadas na Irlanda. Jovens garotas que ficavam grávidas ou que então apresentavam algum tipo de comportamento moral fora dos padrões eram levadas para conventos católicos. Esse era um costume antigo, vinha desde a Idade Média, mas conforme os séculos foram passando perdeu completamente a razão de ser. Os próprios familiares "internavam" as moças que se tornavam uma "vergonha" em seu meio social, seja porque tinham muitos namorados, seja porque se tornavam mães solteiras ou qualquer outra razão que fugisse dos tais padrões morais daqueles tempos atrasados. E dentro desses conventos essas jovens mulheres eram submetidas a um regime de servidão, trabalhando duro, sem qualquer retribuição salarial pelos serviços que prestavam. Ou seja, tudo errado, desde as razões que as levavam até lá, passando pela exploração de mão obra praticamente servil. O filme assim funciona como denúncia. O tipo de situação abusiva que apenas o pensamento intolerante pode causar. Filme indicado ao BAFTA Awards nas categorias de melhor filme britânico e melhor roteiro original.

Pablo Aluísio.

Dicionário de Cama

Título no Brasil: Dicionário de Cama
Título Original: The Sleeping Dictionary
Ano de Produção: 2003
País: Inglaterra, Estados Unidos
Estúdio: Fine Line Features
Direção: Guy Jenkin
Roteiro: Guy Jenkin
Elenco: Jessica Alba, Brenda Blethyn, Hugh Dancy, Bob Hoskins, Junix Inocian, Emily Mortimer

Sinopse:
Um jovem inglês é enviado para o sudeste da Ásia, na década de 1930, para atuar como representante colonial do Reino Unido na região. Para se familiarizar com as tradições e a cultura daquele povo ele passa a ser auxiliado por uma nativa local e acaba se apaixonando por ela.

Comentários:
Um colonizador se envolvendo com uma jovem mulher da colônia, sob o ponto de vista atual, pode ser considerado facilmente como uma situação de abuso. Pois é, o roteiro desse filme se baseia em uma mentalidade do passado que já não encontra eco nos dias atuais. Além disso o próprio conceito do que seria um "dicionário de cama" soaria bem ofensivo para as pessoas atualmente. E o que seria esse tal dicionário de cama? Ora, aprender o idioma local se envolvendo sexualmente com alguém da região, indo para a cama com ele ou ela (dependendo de suas preferências sexuais, obviamente). Segundo essa expressão essa seria a forma mais fácil de aprender um idioma. Soa machista e absolutamente incorreto para você? Talvez seja realmente, porém o filme tenta se agarrar no argumento romântico para evitar esse outro ponto de vista mais crítico. O filme em si até que é interessante, um drama romântico ao velho estilo, com pitadas sutis de erotismo. Não agradou muito e foi criticado. A despeito disso ainda se revela até que um bom passatempo, isso se você conseguir passar pelas entrelinhas do colonialismo, essas sim bem ofensivas para quem souber ler melhor o que se passa na tela.

Pablo Aluísio.

sexta-feira, 2 de outubro de 2020

Shaft

Título no Brasil: Shaft
Título Original: Shaft
Ano de Produção: 2019
País: Estados Unidos
Estúdio: Netflix, New Line Cinema
Direção: Tim Story
Roteiro: Kenya Barris, Ernest Tidyman
Elenco: Samuel L. Jackson, Jessie T. Usher, Richard Roundtree, Regina Hall, Alexandra Shipp, Matt Lauria

Sinopse:
Depois de ficar 25 anos sem ver o próprio filho, John Shaft (Samuel L. Jackson), fica surpreso quando o rapaz finalmente o preocura no Harlem, em Nova Iorque. Ele quer ajuda para descobrir quem matou seu amigo, que oficialmente foi dado como vítima de uma overdose, mas que tudo indica que houve na verdade um assassinato mesmo, envolvendo tráfico de heroína para os Estados Unidos.

Comentários:
Há vinte anos o ator Samuel L. Jackson interpretou Shaft em um filme até bem interessante. Era um remake. Lembrando que o personagem original surgiu em uma série de TV por volta de 1972. Agora Jackson retorna ao papel em um filme bem mais leve, bem humorado, diria até "family friendly". Agora ele tem que ajudar o filho a resolver um caso. E aí o roteiro encontra o grande mote de interesse desse segundo filme. Grande parte do humor, das piadas, surge da diferença de gerações entre pai e filho. O pai é politicamente incorreto, nada sutil e educado. O filho estudou no MIT, é um tipo da geração atual, sempre preocupado em não ofender as minorias, em não assediar as garotas, em não ser homofóbico ou misógino, praticamente o exato oposto de seu velho, que sai xingando todo mundo sem nem ao menos pensar no que está fazendo. E para misturar ainda mais esse choque de gerações o filme aproveitou para homenagear o ator Richard Roundtree, que foi o ator original que interpretou Shaft lá nos anos 70. Ele é o avô do rapaz. Assim tem Shaft para todos os gostos nesse filme, apresentando o avô, o pai e o filho, cada um com sua diferença de visão de mundo. Enfim, esse novo filme é inofensivo e algumas vezes até bobinho, mas diverte que é uma beleza. Quem diria que o Shaft, aquele tira durão black power dos anos 70, iria se transformar nisso. Sinal dos novos tempos.

Pablo Aluísio.

Coach Carter

Título no Brasil: Coach Carter - Treino para a Vida
Título Original: Coach Carter
Ano de Produção: 2005
País: Estados Unidos
Estúdio: Paramount Pictures
Direção: Thomas Carter
Roteiro: Mark Schwahn, John Gatins
Elenco: Samuel L. Jackson, Rob Brown, Ashanti, Rick Gonzalez, Robert Ri'chard, Antwon Tanner

Sinopse:
Filme baseado em fatos reais. O treinador de basquete Ken Carter (Samuel L. Jackson) é contratado para treinar um time de basquete de uma escola de ensino médio. Ele não se considera um professor convencional e vai provar isso durante a temporada de esportes.

Comentários:
Esse tipo de roteiro não é incomum, pelo contrário, já virou até mesmo um subgênero em dramas esportivos. Temos aqui basicamente um treinador que não é apenas um treinador de esportes. Ele é muito mais. Nas mãos tem um grupo de jovens meio perdidos na vida, alguns envolvidos com crimes. Para os mais indisciplinados resolve partir para a porrada, para provar quem manda naquela quadra de basquete. Claro, o papel caiu como uma luva para o ator Samuel L. Jackson e seu estilo peculiar. O curioso (e até mesmo engraçado) é que seu personagem se apresenta todo bem vestido, com terno e tudo mais, porém ao mesmo tempo sabe muito bem como falar a "linguagem das ruas", para que possa pelo menos salvar alguns daqueles rapazes, quem sabe até transformar alguns deles em esportistas de verdade. Destaque também para o elenco coadjuvante, formado todo por jovens atores negros e bem talentosos. A trilha sonora também é muito boa para quem curte o gênero hip-hop. Enfim, um filme bacana. Velha fórmula que ainda funciona, quem diria...

Pablo Aluísio.

quinta-feira, 1 de outubro de 2020

Um Bom Ano

Título no Brasil: Um Bom Ano
Título Original: A Good Year
Ano de Produção: 2006
País: Estados Unidos
Estúdio: Scott Free Productions
Direção: Ridley Scott
Roteiro: Marc Klein
Elenco: Russell Crowe, Freddie Highmore, Albert Finney, Abbie Cornish, Patrick Kennedy, Richard Coyle

Sinopse:
Baseado no romance escrito por Peter Mayle, o filme "Um Bom Ano" conta a história de Max Skinner (Russell Crowe), um corretor britânico de investimentos, que recebe como herança de seu tio, um vinhedo, que fez parte de sua infância. Nesse lugar ele descobre um novo estilo de vida, novos valores, uma outra visão do mundo.

Comentários:
Esse filme eu vejo como o filme em que Russell Crowe finalmente assumiu sua idade. Até então ele vinha ainda bancando o herói dos filmes de ação. Aqui sob a batuta de Ridley Scott, ele finalmente conseguiu relaxar mais, assumindo os cabelos brancos e até mesmo a barriga grande, mostrada sem problemas em diversas cenas. E o filme é muito bom. Tem um clima mesmo bem relax, valorizando a vida simples do campo. O personagem de Russell Crowe simboliza de certo modo o capitalista selvagem dos grandes centros urbanos, o sujeito que só pensa em ganhar muito dinheiro com investimentos na bolsa de valores e que de repente se vê em um lugar onde isso definitivamente não é o mais importante para ser feliz. As pessoas que moram na região onde fica o vinhedo que ele herdou do tio, são pessoas simples, mas muito mais felizes do que ele já encontrou no mundo das altas finanças, onde a ganância fala mais alto. Aliás esse é o grande ponto de vista desse roteiro, sua mensagem, vamos colocar nesses termos. A mensagem de que a vida vale por si mesma, pelos pequenos momentos, pelos bons sentimentos e não por aquilo que você tem em sua conta bancária.

Pablo Aluísio.

O Menino do Pijama Listrado

Título no Brasil: O Menino do Pijama Listrado
Título Original: The Boy in the Striped Pyjamas
Ano de Produção: 2008
País: Estados Unidos, Inglaterra
Estúdio: Miramax, BBC Films
Direção: Mark Herman
Roteiro: Mark Herman
Elenco: Asa Butterfield, Vera Farmiga, Jack Scanlon, David Hayman, David Thewlis, Cara Horgan

Sinopse:
Baseado no livro escrito por John Boyne, o filme "O Menino do Pijama Listrado" conta a história de um garotinho alemão de 8 anos de idade chamado Bruno (Butterfield). Filho de um oficial da SS, ele e sua família se mudam até uma casa próxima a um campo de concentração e lá ele acaba conhecendo outro menino, um judeu preso no campo de extermínio nazista. Filme premiado pelo British Independent Film Awards e pelo Goya Awards.

Comentários:
Tanto o livro original como essa adaptação do cinema são excelentes. O escritor John Boyne merece todos os meus aplausos. Em cima de uma obra literária que parece simples, que narra uma improvável amizade entre dois meninos, um judeu e um alemão, durante a II Guerra Mundial, ele coloca abaixo todas as falácias e loucuras da ideologia nazista de forma sutil e definitiva. Em cena temos duas crianças, que só pensam em brincar, em fazer novas amizades. Para elas não existe muito sentido nessa coisa de catalogar as pessoas, como judeus, arianos ou qualquer outra qualificação insana de puro preconceito. São apenas crianças. E sob o olhar delas tudo se revela como realmente é, simples, sincero, cheio de bons sentimentos. E nada poderia ser mais longe disso do que a loucura de ira e ódio dos nazistas. Há grandes lições a se aprender com um filme como esse. Como escrevi, embaixo de uma aparente simplicidade se esconde conceitos até mesmo filosóficos bem profundos. Os pequenos atores mirins são excelentes, com destaque para o pequenino Jack Scanlon que interpreta a criança presa no campo chamada Shmuel (na edição nacional do livro era chamado de Samuel). Ele expressa, apenas com seu olhar de criança, muito mais do que muitos atores veteranos por aí. Chega a impressionar. E não poderia encerrar essa breve resenha sem citar, mesmo que de forma indireta, sem revelar nenhum detalhe, sobre o final do filme. É um dos melhores, mais fortes e significativos que já assisti nesses últimos anos. Uma lição poderosa de história e de sabedoria que nasce da estupidez humana. Perfeito, em todos os aspectos.  

Pablo Aluísio.

sexta-feira, 25 de setembro de 2020

O Rei dos Reis

No poster original do filme, da época de seu lançamento original, uma frase explicava bem do que se tratava. No poster estava escrito: "A história de Jesus Cristo baseada nas escrituras sagradas". É basicamente isso. Uma adaptação cinematográfica de Jesus, procurando ser bem fiel ao novo testamento. E a história de Jesus de Nazaré,, todos conhecemos. No brutal e desumano reinado de Augusto César (63 a.C. - 14 d.C) nasce uma criança na distante província romana da Judéia chamado Jesus. Sua mãe Maria e seu pai José partem então para o Egito para fugir das perseguições do tirano rei Herodes que temendo o nascimento de um Messias resolve matar todas as crianças nascidas em Belém.

De volta à pequena vila de Nazaré o jovem Jesus cresce ao lado dos pais, exercendo a profissão de carpinteiro. Já adulto, resolve partir para cumprir sua missão, a de levar o evangelho (a boa nova) aos homens de bom coração. Sua mensagem repleta de paz, amor e fraternidade, logo começa a incomodar as autoridades religiosas e políticas. Preso e torturado, é enfim crucificado nos arredores da cidade santa de Jerusalém, onde morre em agonia na cruz romana. Sepultado, volta do mundo dos mortos, ressuscitando. Glorioso, volta para mostrar aos seus apóstolos que realmente era o filho de Deus! A história de Jesus de Nazaré é certamente a mais conhecida do mundo ocidental. Em torno de seu nome foi criada a religião mais popular e abrangente do planeta com seguidores em todos os países e nações da Terra.

Trazer a trajetória de Jesus para as telas de cinemas certamente nunca foi uma tarefa fácil em razão da complexidade de se lidar com uma figura venerada ao redor do mundo. Assim, no começo da década de 1960, o produtor Samuel Bronston resolveu reunir uma grande equipe para trazer de volta o Nazareno para a sétima arte. Com locações na Espanha, roteiro do aclamado Ray Bradbury (não creditado) e Philip Yordan, trilha sonora marcante assinada por Miklos Rosza, direção do sempre talentoso Nicholas Ray (de “Juventude Transviada” com James Dean) e elenco formado por grandes nomes do cinema da época, tentou-se criar o épico definitivo sobre a vida de Jesus e sua mensagem.

O resultado é realmente de alto nível, embora também tenha alguns problemas pontuais. O filme tem três horas de duração, mas o roteiro, como era de certa forma previsível, não consegue dar conta de todos os detalhes da vida de Jesus. Algumas passagens ficaram de fora do filme, enquanto outras, menos importantes, ganharam espaço em demasia. Há fatos importantes da biografia de Jesus que são completamente ignorados. Uma deles é a revolta que o Messias teria tido no templo ao ver a casa de Deus se transformando num mercado e balcão de negócios. O espaço dado a Herodes, Salomé e a corte do Rei também soam exagerados. Barrabás também surge com espaço excessivo dentro da trama. Teria sido melhor focar mais na palavra de Cristo, nas passagens importantes que deixou aos seus seguidores.

Por outro lado há pontos excelentes no filme. Em minha opinião a escalação do ator Jeffrey Hunter foi um acerto. Ele interpreta um Jesus com imagem mais tradicional. De barbas longas, cabelo repartido ao meio e olhos azuis, é o Jesus que geralmente se encontra nas imagens mais clássicas e antigas do personagem histórico. Ele também tem o ritmo certo de declamar suas falas. E nos momentos de maior tensão não decepciona. Foi o grande papel de sua carreira e o marcou para sempre. Em termos de era de ouro do cinema americano ele foi o Jesus definitivo das telas, não há como negar. Como toda obra de arte esse filme assim apresenta erros e acertos. No saldo geral porém tudo soa como um grande filme. “O Rei dos Reis” é realmente um grande espetáculo, um épico daqueles que apenas Hollywood poderia proporcionar ao grande público. O bom gosto, a elegância e a produção luxuosa garantem o espetáculo. Um épico religioso como poucos.

O Rei dos Reis (King of Kings, Estados Unidos, 1961) Direção: Nicholas Ray / Roteiro: Philip Yordan / Elenco: Jeffrey Hunter, Siobhan McKenna, Hurd Hatfield, Rita Gam, Robert Ryan, Frank Thring, Rip Torn, Brigid Bazlen, Ron Randell, Carmen Sevilla / Sinopse: O filme narra a história de Jesus de Nazaré, homem humilde nascido na província romana da Judéia que revolucionou o mundo com sua mensagem de paz, amor e fraternidade entre os homens, surgindo de sua palavra a religião denominada Cristianismo, a mais popular e abrangente do planeta com mais de um bilhão de seguidores. Filme indicado ao Globo de Ouro na categoria Melhor Trilha Sonora Original (Miklós Rózsa).

Pablo Aluísio. 

 

O Homem do Terno Cinzento

O filme é extremamente bem feito e roteirizado. Basicamente é um retrato de um homem comum que volta da II Guerra Mundial e tenta criar sua família da melhor forma possível nos anos 1950. Ex-capitão do exército americano, Tom Rath (Gregory Peck), sente na pele os problemas após seu retorno aos Estados Unidos. Passando por dificuldades financeiras, com três filhos e uma esposa insatisfeita e infeliz (interpretada pela atriz Jennifer Jones) ele tenta administrar os problemas familiares e profissionais em meio a uma crise de identidade. O contexto histórico do filme é interessante porque enfoca o pós-guerra, quando milhares de americanos precisou se adaptar aos novos tempos.

Gostei bastante do tom da produção, pois é um filme extremamente sério e realista e não joga panos quentes na situação, principalmente quando se descobre anos depois que o capitão teria tido um filho com uma mulher italiana, na Europa, onde servia o exército. Outro aspecto curioso é a forma como é mostrada uma agência de publicidade naquela época - coisa que acabou sendo justamente o foco do seriado de grande sucesso da AMC, Mad Men. Curiosamente o filme se torna bem atual pois muitos ex-militares americanos ainda encontram dificuldades de se inserirem na vida civil após servirem anos nas forças armadas. Falta de qualificação profissional, desemprego ou subempregos ainda são bastante comum na vida dessas pessoas. Pelo visto mesmo após muitos anos a situação ainda permanece a mesma.

Outro ponto positivo de "O Homem do Terno Cinzento" é seu elenco. Gregory Peck novamente repete seu papel de homem íntegro, embora aqui haja fendas no caráter de seu personagem. Seu estilo de interpretação minimalista até hoje causa impacto. Peck era sutil e conseguia transmitir muito bem as emoções de seus personagens sem recorrer a exageros dramáticos. Já Jennifer Jones derrapa um pouco nas caras e bocas, se tornando um pouco exagerada, mas nada que comprometa o filme como um todo. Eu gosto dessa atriz, recentemente a vi em "A Canção de Bernadette" e ela sempre conseguia mostrar um bom trabalho. Aqui seu trabalho ficou um pouco comprometido. O diretor Nunnally Jonhson era na realidade um roteirista conceituado em Hollywood que ganhou a chance de dirigir alguns filmes (nenhum extremamente marcante). Isso talvez explique o alto nível do roteiro de "O Homem do Terno Cinzento" que procura sempre desenvolver todos os personagens em cena, mostrando seus dramas familiares e pessoais. Enfim, aqui temos um excelente drama dos anos 50. Um ótimo exemplo para se conhecer o que era realizado no gênero pelo cinema americano na época

O Homem do Terno Cinzento (The Man in the Gray Flannel Suit, Estados Unidos, 1956) Direção: Nunnally Johnson / Roteiro: Nunnally Johnson baseado no livro de Sloan Wilson / Elenco: Gregory Peck, Jennifer Jones e Fredric March / Sinopse: Após o fim da Segunda Guerra Mundial, Tom Rath (Gregory Peck) tenta retomar a vida normal nos Estados Unidos, mas encontra dificuldades, tanto no aspecto profissional, como também na vida familiar pois sua esposa, Betsy Rath (Jennifer Jones) apresenta problemas emocionais. Filme premiado no Cannes Film Festival.

Pablo Aluísio.