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segunda-feira, 18 de dezembro de 2023

Quando a Mulher Erra

Título no Brasil: Quando a Mulher Erra
Título Original: Stazione Termini
Ano de Lançamento: 1953
País: Estados Unidos
Estúdio: Columbia Pictures
Direção: Vittorio De Sica
Roteiro: Cesare Zavattini, Luigi Chiarini
Elenco: Jennifer Jones, Montgomery Clift, Gino Cervi, Richard Beymer, Gino Anglani, Oscar Blando

Sinopse:
Nesse drama romântico, a atriz Jennifer Jones interpreta uma mulher norte-americana que viaja para Paris e Roma e nessa última cidade conhece e se apaixona por um jovem italiano. O problema é que ela é casada nos Estados Unidos. Com sentimento de culpa, então resolve se encontrar com o amante em uma estação romana para terminar tudo, mas isso vai ser extremamente doloroso para o casal. 

Comentários:
Mais um bom filme da filmografia de Montgomery Clitf, se bem que se formos pensar bem, o filme pertenceu mesmo à Jennifer Jones no quesito atuação. Ela era uma ótima atriz, bonita e talentosa nas medidas certas e soa perfeitamente convincente no seu papel de mulher casada que, corroída pela culpa de ter traído o marido numa viagem de férias pela Europa, tenta colocar um fim em seu caso romântico extraconjugal. O problema é que realmente está apaixonada pelo amante italiano e isso se torna extremamente doloroso emocionalmente para ela. A velha luta entre moralidade, ética e sentimentos passionais. O filme foi dirigido pelo mestre Vittorio De Sica. Foi filmado na Itália, em Roma, e tem jeito de filme europeu, embora fosse produzido por um estúdio de Hollywood. O produtor americano David O. Selznick não gostou muito da primeira versão do diretor e cortou nove minutos do filme. A versão completa só seria lançada muitas década depois em DVD. Pois é, não é de hoje que os cineastas são tolhidos em seus talentos nos filmes autorais em que trabalham, por meras preocupações comerciais dos produtores envolvidos. 

Pablo Aluísio.

sexta-feira, 25 de setembro de 2020

O Homem do Terno Cinzento

O filme é extremamente bem feito e roteirizado. Basicamente é um retrato de um homem comum que volta da II Guerra Mundial e tenta criar sua família da melhor forma possível nos anos 1950. Ex-capitão do exército americano, Tom Rath (Gregory Peck), sente na pele os problemas após seu retorno aos Estados Unidos. Passando por dificuldades financeiras, com três filhos e uma esposa insatisfeita e infeliz (interpretada pela atriz Jennifer Jones) ele tenta administrar os problemas familiares e profissionais em meio a uma crise de identidade. O contexto histórico do filme é interessante porque enfoca o pós-guerra, quando milhares de americanos precisou se adaptar aos novos tempos.

Gostei bastante do tom da produção, pois é um filme extremamente sério e realista e não joga panos quentes na situação, principalmente quando se descobre anos depois que o capitão teria tido um filho com uma mulher italiana, na Europa, onde servia o exército. Outro aspecto curioso é a forma como é mostrada uma agência de publicidade naquela época - coisa que acabou sendo justamente o foco do seriado de grande sucesso da AMC, Mad Men. Curiosamente o filme se torna bem atual pois muitos ex-militares americanos ainda encontram dificuldades de se inserirem na vida civil após servirem anos nas forças armadas. Falta de qualificação profissional, desemprego ou subempregos ainda são bastante comum na vida dessas pessoas. Pelo visto mesmo após muitos anos a situação ainda permanece a mesma.

Outro ponto positivo de "O Homem do Terno Cinzento" é seu elenco. Gregory Peck novamente repete seu papel de homem íntegro, embora aqui haja fendas no caráter de seu personagem. Seu estilo de interpretação minimalista até hoje causa impacto. Peck era sutil e conseguia transmitir muito bem as emoções de seus personagens sem recorrer a exageros dramáticos. Já Jennifer Jones derrapa um pouco nas caras e bocas, se tornando um pouco exagerada, mas nada que comprometa o filme como um todo. Eu gosto dessa atriz, recentemente a vi em "A Canção de Bernadette" e ela sempre conseguia mostrar um bom trabalho. Aqui seu trabalho ficou um pouco comprometido. O diretor Nunnally Jonhson era na realidade um roteirista conceituado em Hollywood que ganhou a chance de dirigir alguns filmes (nenhum extremamente marcante). Isso talvez explique o alto nível do roteiro de "O Homem do Terno Cinzento" que procura sempre desenvolver todos os personagens em cena, mostrando seus dramas familiares e pessoais. Enfim, aqui temos um excelente drama dos anos 50. Um ótimo exemplo para se conhecer o que era realizado no gênero pelo cinema americano na época

O Homem do Terno Cinzento (The Man in the Gray Flannel Suit, Estados Unidos, 1956) Direção: Nunnally Johnson / Roteiro: Nunnally Johnson baseado no livro de Sloan Wilson / Elenco: Gregory Peck, Jennifer Jones e Fredric March / Sinopse: Após o fim da Segunda Guerra Mundial, Tom Rath (Gregory Peck) tenta retomar a vida normal nos Estados Unidos, mas encontra dificuldades, tanto no aspecto profissional, como também na vida familiar pois sua esposa, Betsy Rath (Jennifer Jones) apresenta problemas emocionais. Filme premiado no Cannes Film Festival.

Pablo Aluísio. 

segunda-feira, 11 de maio de 2020

Adeus às Armas

Título no Brasil: Adeus às Armas
Título Original: A Farewell to Arms
Ano de Produção: 1957
País: Estados Unidos
Estúdio: Twentieth Century Fox
Direção: Charles Vidor, John Huston
Roteiro: Ben Hecht
Elenco:  Rock Hudson, Jennifer Jones, Vittorio De Sica, Oskar Homolka, Mercedes McCambridge, Elaine Stritch

Sinopse:
Uma enfermeira inglesa e um soldado americano na frente italiana durante a Primeira Guerra Mundial, se apaixonam, mas os horrores que os cercam testam seu romance ao limite. Filme com roteiro baseado no romance escrito por Ernest Hemingway. Filme indicado ao Oscar na categoria de melhor ator coadjuvante (Vittorio De Sica).

Comentários:
Rock Hudson nunca havia trabalhado na Europa antes. Assim quando apareceu a oportunidade de ir trabalhar no velho continente, ainda mais em um filme baseado na obra de Ernest Hemingway, ele nem pensou duas vezes. Aceitou fazer o filme. O problema, conforme ele mesmo lembrou em sua autobiografia, é que para fazer esse "Adeus às Armas" ele teve que recusar o convite para atuar em "Ben-Hur", um dos maiores clássicos da história do cinema. Claro, foi uma escolha errada. E o pior é que essa adaptação não deu muito certo. Os críticos não gostaram, o público não compareceu para transformar em um sucesso de bilheteria e de forma em geral o filme acabou sendo um revés na carreira de Rock Hudson. O diretor Charles Vidor confundou as coisas. Ao invés de fazer um grande filme, ele fez um filme grande... e bem chato! Arrastado em muitos momentos o estúdio trouxe às pressas o cineasta John Huston para consertar algumas coisas. Foi em vão. Ele nem foi creditado na direção nos créditos originais do filme. No fim tudo resultou em mais uma mal sucedida tentativa de levar para as telas a grandeza da obra literátia de Ernest Hemingway, um dos maiores escritores da história cultural dos Estados Unidos.

Pablo Aluísio.

quarta-feira, 27 de fevereiro de 2019

Suplício de uma Saudade

Em Hong Kong, durante os anos 1950, a médica e viúva Han Suyin (Jennifer Jones) conhece durante uma festa o jornalista americano Mark Elliott (William Holden). Ele é um correspondente de guerra na região, uma vez que a revolução comunista na China se espalhou por todas as grandes cidades daquela nação. Mesmo sendo ele casado, acaba atraindo a atenção da Dra. Suyin que, praticamente da noite para o dia, se vê perdidamente apaixonada por ele. Não será um relacionamento isento de problemas, já que o escândalo de ter um romance  com um homem casado começa a causar uma repercussão negativa em sua vida pessoal e profissional. Mesmo assim ela está decidida a ir em frente para ficar ao seu lado, custe o que custar.

"Suplício de uma Saudade" é um dos grandes clássicos românticos do cinema americano. Baseado em um romance autobiográfico escrito pela médica Han Suyin, a história narra seu breve, mas marcante romance, com um jornalista norte-americano, às portas de dois eventos históricos, a revolução comunista na China e a Guerra da Coreia. O cenário não poderia ser mais inspirador, com as colinas de Hong Kong servindo de cartão postal para os apaixonados encontros entre eles. A música vencedora do Oscar "Love Is a Many-Splendored Thing" está presente em praticamente todas as cenas mais românticas, seja em sua versão tradicional, seja em adaptações incidentais. É uma bela música, sempre muito lembrada e uma das marcas registradas mais conhecidas do filme como um todo.

A atriz Jennifer Jones interpreta a doutora Han Suyin. Ela é uma eurasiana, filha de um inglês com uma chinesa. Por ter essa origem de dupla nacionalidade ele quase sempre se vê dividida entre os valores da cultura ocidental e oriental. Do lado ocidental herdou a ética profissional e a seriedade com a qual trata todos os seus pacientes, que na maioria das vezes pertencem às camadas mais humildes da população. Do lado oriental procurou manter as tradições chinesas, inclusive familiares, mesmo sendo uma mulher independente e dona de seu próprio destino. Já William Holden dá vida ao jornalista Mark Elliott, um bom sujeito, bem intencionado, mas que precisa resolver sua vida pessoal pois já é casado e não poderia seguir em frente com seu romance sem antes acertar todos os problemas legais decorrentes de seu estado civil. Sua esposa porém não está disposta a lhe conceder o divórcio para que ele se case com seu novo amor.

Seu destino muda drasticamente quando explode a Guerra da Coreia e ele é enviado até o front do conflito para cobrir mais essa intervenção americana no exterior. Nos tempos cínicos e muitas vezes insensíveis em que vivemos atualmente, o filme, que poderia ser caracterizado como ultraromântico, perde um pouco de sua força original. Mesmo assim é um belo trabalho cinematográfico, com excelente fotografia e direção de arte. Um retrato de uma época em que o verdadeiro amor tinha que lutar contra todas as diversas convenções sociais para se concretizar plenamente.

Suplício de uma Saudade (Love Is a Many-Splendored Thing, Estados Unidos, 1955) Estúdio: Twentieth Century Fox / Direção: Henry King / Roteiro: John Patrick, baseado no livro de Han Suyin / Elenco: William Holden, Jennifer Jones, Torin Thatcher / Sinopse: O filme conta uma história de amor em tempos de guerra e destruição no Oriente. Filme vencedor do Oscar nas categorias de Melhor Canção Original ("Love Is a Many-Splendored Thing" de Paul Francis Webster e Sammy Fain), Melhor Figurino e Melhor Música (Alfred Newman). Também indicado nas categorias de Melhor Filme, Atriz (Jennifer Jones), Fotografia, Direção de Arte e Som.
  
Pablo Aluísio.

sábado, 27 de maio de 2017

O Ocaso de uma Alma

Título no Brasil: O Ocaso de uma Alma
Título Original: Good Morning, Miss Dove
Ano de Produção: 1955
País: Estados Unidos
Estúdio: Twentieth Century Fox
Direção: Henry Koster
Roteiro: Eleanore Griffin, Frances Gray Patton
Elenco: Jennifer Jones, Robert Stack, Kipp Hamilton, Robert Douglas, Chuck Connors, Peggy Knudsen
  
Sinopse:
O filme narra a história de Miss Dove (Jennifer Jones). Após a morte de seu pai ela se vê em uma situação bem complicada. O pai deixou muitas dívidas com um banco e ela precisa arranjar um trabalho de qualquer maneira e o mais rapidamente possível! Acaba se tornando professora de uma escola para crianças de sua cidade. Os anos passam e Miss Dove acaba se tornando uma das pessoas mais queridas da comunidade, até que um dia, em plena sala de aula, ela passa mal, indo parar em um hospital.

Comentários:
O grande destaque desse filme é a interpretação inspirada da atriz Jennifer Jones. Ela interpreta uma professora desde a sua juventude até sua velhice, quando é internada às pressas em um hospital. No leito de seu quarto ela começa a perceber como é uma pessoa querida dos moradores daquele lugar. Quase todos são ex-alunos dela, desde o médico que a atende, passando pela enfermeira, indo até um jovem pobre que acabou se tornando um policial. Grande parte das histórias de cada um é contada em flashbacks, enquanto Miss Dove espera pelo resultado de seu exame. O filme é nostálgico, mostrando e valorizando a figura de uma professora que dedicou toda a sua vida ao ensino das crianças. De geração em geração, todos acabam prestando uma homenagem a ela no hospital onde está internada. É um filme bonito, com o roteiro valorizando aspectos importantes na vida de uma mulher que abriu mão de muitas coisas, até de parte de sua vida pessoal, para se dedicar à arte de ensinar. É interessante também por mostrar uma outra visão desse tipo de profissional que hoje em dia anda tão desvalorizado. Nas pequenas cidades dos Estados Unidos dos anos 50 a realidade era bem diferente, tanto em disciplina na sala de aula, como também no prestígio dessa professora única interpretada pela talentosa Jennifer Jones. O filme assim fica mais do que recomendado para os cinéfilos que apreciam o cinema clássico em sua fase mais inspiradora.

Pablo Aluísio.

domingo, 21 de maio de 2017

A Sedutora Madame Bovary

Título no Brasil: A Sedutora Madame Bovary
Título Original: Madame Bovary
Ano de Produção: 1949
País: Estados Unidos
Estúdio: Metro-Goldwyn-Mayer (MGM)
Direção: Vincente Minnelli
Roteiro: Robert Ardrey
Elenco: Jennifer Jones, James Mason, Van Heflin, Louis Jourdan
  
Sinopse:
Baseado no romance de Gustave Flaubert o filme "A Sedutora Madame Bovary" conta a história da jovem Emma (Jennifer Jones). Órfã, ela é criada em um convento. Quando chega na idade de se casar ela acaba se interessando pelo médico de província Charles Bovary (Van Heflin). Ele não é dos profissionais mais brilhantes, porém constrói um lar para si e sua esposa. Os primeiros anos de casamento são relativamente felizes, até que Emma, agora Madame Bovary, começa a se interessar por outros homens, mais ricos e poderosos. Ela anseia pelos grandes salões de baile, pelos luxos da aristocracia e pela riqueza, coisas que seu esforçado marido não consegue lhe dar. Filme indicado ao Oscar de Melhor Direção de Arte (Cedric Gibbons e Jack Martin Smith).

Comentários:
O romance Madame Bovary foi publicado originalmente em 1857. Na época que chegou pela primeira vez ao público foi considerada uma obra escandalosa. Seu autor Gustave Flaubert foi acusado de ser um escritor imoral por ter simpatia por sua protagonista, uma mulher fútil, interesseira, perdulária e infiel. A personagem trazia todos esses defeitos, mas ao mesmo tempo Flaubert parecia ter uma insuspeita dose de admiração por ela em seu texto. Essa situação acabou sendo aproveitada logo no começo dessa versão. Em uma das primeiras cenas vemos o autor do livro, aqui interpretado por um ainda bem jovem James Mason, no banco do réus, respondendo pela suposta imoralidade de sua obra. Ao se defender ele começa então a narrar a história de Bovary, dando início a um longo flashback onde toda o enredo do filme se desenvolve. Assisti a muitas adaptações cinematográficas desse romance, inclusive a mais recente de 2014 com Mia Wasikowska no papel principal. O diferencial desse clássico é que ele foi dirigido pelo mestre Vincente Minnelli, considerado um dos maiores diretores de cinema de todos os tempos. Realmente ele realizou um filme muito bonito de se assistir, com ótimos figurinos, um roteiro que procura ser o mais fiel possível ao livro de Gustave Flaubert e uma dose de dramaticidade, que era bem comum em filmes românticos e dramáticos da época. 

A escolha da atriz Jennifer Jones também foi bastante acertada, muito embora a personagem Bovary fosse bem mais jovem do que sua intérprete. Ela desfila um ótimo figurino em cena, pois Bovary era uma consumidora compulsiva e voraz de todos os luxos, arruinando financeiramente seu bem intencionado marido. Embora o final se entregue ao moralismo reinante na sociedade, o fato é que o autor do romance quis provar de forma indireta que nem todas as pessoas são essencialmente más por um ou outro deslize de cunho moral. Na verdade a vida seria complexa demais para se enquadrar em meras convenções sociais. Bovary certamente errou em muitos momentos de sua vida, mas olhando-se sob uma perspectiva mais crítica podemos considerá-la também vítima de uma mentalidade de futilidades e superficialidades, tão comuns em certos setores da sociedade. Sob esse ponto de vista não será tão fácil assim condená-la. Dito isso, deixo aqui a indicação de mais um bom filme, valorizado não apenas por sua boa direção, elenco inspirado e roteiro conciso, mas também pelo próprio conteúdo do romance de Gustave Flaubert. Está mais do que indicado aos cinéfilos.

Pablo Aluísio.


domingo, 1 de janeiro de 2012

Adeus às Armas

Frederick Henry (Rock Hudson), um jovem voluntário americano, se alista no exército italiano onde acaba ferido em combate. No hospital acaba conhecendo a enfermeira Catherine Barkley (Jennifer Jones) se tornando perdidamente apaixonado por ela. Em suas memórias Rock Hudson se lembra com pesar da adaptação do famoso livro "A Farewell to Arms" de Ernst Heningway. Na ocasião o estúdio havia lhe oferecido três projetos: o primeiro era "Ben-Hur", o segundo "Sayonara" e por fim essa adaptação que seria dirigida pelo grande diretor John Huston. Rock escolheu "Adeus às Armas" pois segundo sua opinião "não havia como dar errado, tudo se encaixava muito bem, seria um grande sucesso certamente". Pois bem, as previsões de Hudson não se confirmaram. Logo após começarem as filmagens o diretor John Huston brigou com o produtor do filme, David O. Selznick. Às pressas foi convocado o diretor Charles Vidor que não conseguiu adaptar o romance literário com sucesso. Some-se a isso as dificuldades das filmagens que foram realizadas nos alpes italianos que não tinham estrutura para receber um filme daquele porte. No final das contas tanto "Ben-Hur" como "Sayonara" se tornaram grandes sucessos de bilheteria bem ao contrário de "Adeus às Armas" que não agradou nem ao público e nem à crítica. O que deu errado?

Assistindo ao filme percebemos vários problemas na produção. O primeiro deles é que o roteiro não conseguiu encontrar um tom ideal para contar a estória. Tudo ficou excessivamente melodramático. A obra de Hemingway foi de certa forma alterada, tudo com o objetivo de explorar o lado galã de Hudson. Além disso exageraram no corte final, tornando "Adeus ás Armas" muito longo e cansativo. Embora não seja interessante apenas especular penso que se John Huston tivesse se mantido na direção teríamos um filme mais fluente, leve, com belas cenas do conflito em que o personagem principal se envolve. O próprio Rock Hudson não gostou de sua atuação no filme, achou tudo muito superficial, sem emoção. Curiosamente o ator durante as filmagens concorreu ao Oscar por "Assim Caminha a Humanidade". Impossibilitado de ir aos EUA para a cerimônia foi homenageado na pequenina cidade italiana onde o filme estava sendo feito. Os moradores locais ergueram uma imensa estátua de gelo no formato do Oscar e a colocaram na frente do hotel onde Rock estava hospedado. A intenção era fazer uma enorme festa caso o ator ganhasse o prêmio. Infelizmente como não ganhou o Oscar, Rock teve que no dia seguinte se contentar em ver a imensa obra gelada se derretendo pelo calor do sol - o que não deixou de ser uma metáfora de ver seu sonho de vencer a cobiçada estatueta da Academia indo por água abaixo. De qualquer forma o filme merece uma revisão hoje em dia. Vale a pena conhecer, mesmo que não esteja à altura da obra do grande escritor.

Adeus às Armas (A Farewell to Arms, Estados Unidos, 1957) Direção de Charles Vidor e John Huston (não creditado) / Roteiro: Ben Hecht baseado na obra de Ernest Hemingway / Elenco: Rock Hudson, Jennifer Jones, Vittorio De Sica, Alberto Sordi / Sinopse: Frederick Henry (Rock Hudson), um jovem voluntário americano, se alista no exército italiano onde acaba ferido em combate. No hospital acaba conhecendo a enfermeira Catherine Barkley (Jennifer Jones) e acaba se apaixonando por ela.

Pablo Aluísio.

sexta-feira, 25 de maio de 2007

O Homem do Terno Cinzento

O filme é extremamente bem feito e roteirizado. Basicamente é um retrato de um homem comum que volta da II Guerra Mundial e tenta criar sua família da melhor forma possível nos anos 1950. Ex-capitão do exército americano, Tom Rath (Gregory Peck), sente na pele os problemas após seu retorno aos Estados Unidos. Passando por dificuldades financeiras, com três filhos e uma esposa insatisfeita e infeliz (interpretada pela atriz Jennifer Jones) ele tenta administrar os problemas familiares e profissionais em meio a uma crise de identidade. O contexto histórico do filme é interessante porque enfoca o pós-guerra, quando milhares de americanos precisou se adaptar aos novos tempos.

Gostei bastante do tom da produção, pois é um filme extremamente sério e realista e não joga panos quentes na situação, principalmente quando se descobre anos depois que o capitão teria tido um filho com uma mulher italiana, na Europa, onde servia o exército. Outro aspecto curioso é a forma como é mostrada uma agência de publicidade naquela época - coisa que acabou sendo justamente o foco do seriado de grande sucesso da AMC, Mad Men. Curiosamente o filme se torna bem atual pois muitos ex-militares americanos ainda encontram dificuldades de se inserirem na vida civil após servirem anos nas forças armadas. Falta de qualificação profissional, desemprego ou subempregos ainda são bastante comum na vida dessas pessoas. Pelo visto mesmo após muitos anos a situação ainda permanece a mesma.

Outro ponto positivo de "O Homem do Terno Cinzento" é seu elenco. Gregory Peck novamente repete seu papel de homem íntegro, embora aqui haja fendas no caráter de seu personagem. Seu estilo de interpretação minimalista até hoje causa impacto. Peck era sutil e conseguia transmitir muito bem as emoções de seus personagens sem recorrer a exageros dramáticos. Já Jennifer Jones derrapa um pouco nas caras e bocas, se tornando um pouco exagerada, mas nada que comprometa o filme como um todo. Eu gosto dessa atriz, recentemente a vi em "A Canção de Bernadette" e ela sempre conseguia mostrar um bom trabalho. Aqui seu trabalho ficou um pouco comprometido. O diretor Nunnally Jonhson era na realidade um roteirista conceituado em Hollywood que ganhou a chance de dirigir alguns filmes (nenhum extremamente marcante). Isso talvez explique o alto nível do roteiro de "O Homem do Terno Cinzento" que procura sempre desenvolver todos os personagens em cena, mostrando seus dramas familiares e pessoais. Enfim, aqui temos um excelente drama dos anos 50. Um ótimo exemplo para se conhecer o que era realizado no gênero pelo cinema americano na época

O Homem do Terno Cinzento (The Man in the Gray Flannel Suit, Estados Unidos, 1956) Direção: Nunnally Johnson / Roteiro: Nunnally Johnson baseado no livro de Sloan Wilson / Elenco: Gregory Peck, Jennifer Jones e Fredric March / Sinopse: Após o fim da Segunda Guerra Mundial, Tom Rath (Gregory Peck) tenta retomar a vida normal nos Estados Unidos, mas encontra dificuldades, tanto no aspecto profissional, como também na vida familiar pois sua esposa, Betsy Rath (Jennifer Jones) apresenta problemas emocionais. Filme premiado no Cannes Film Festival.

Pablo Aluísio. 

A Canção de Bernadette

Independente do fato de se acreditar ou não na aparição da virgem Maria na pequena cidade de Lourdes na França o fato é que esse é um grande filme. O mais interessante no inteligente roteiro é que o filme dá voz não apenas aos que acreditaram no fato mas também aos céticos. Toda a situação que ocorreu na cidade após as supostas aparições é mostrada, a reação das autoridades, do clero local e os efeitos que iriam acontecer na cidade com o fluxo enorme de peregrinos em busca de curas milagrosas. Eu particularmente achei totalmente justificado a enxurrada de indicações ao Oscar pois desde a reconstituição do local até os mínimos detalhes tudo foi realizado com grande primor técnico. Destaque também para as locações, figurinos e trilha sonora, essa maravilhosa.

O elenco é todo bom. Do lado dos céticos se destaca o personagem do promotor imperial de Lourdes, interpretado brilhantemente por Vincent Price. Sua cena final, quando se dirige ao local das aparições é certamente um dos melhores momentos do ator no cinema. Já Jennifer Jones no papel de Bernadette enche os olhos. A Atriz foi premiada com o Oscar por sua interpretação e foi mais do que merecida. Ela transparece inocência, pureza e jovialidade num papel complicado, que poderia facilmente cair na caricatura. O diretor Henry King tem uma lista enorme de grandes clássicos em sua filmografia então não foi surpresa nenhuma ao me deparar com a grande qualidade desse "A Canção de Bernadette". Cineasta de mão cheia ele torna o filme obrigatório para todo cinéfilo que se preze. Em resumo temos aqui uma excelente obra prima da década de 40, uma obra que não cai na carolice como era de esperar e que debate fé, fanatismo religioso e crença popular com raro brilhantismo. Excelente clássico que merece ser descoberto (e redescoberto) sempre que possível. Altamente recomendado.

A Canção de Bernadette (The Song of Bernadette, Estados Unidos, 1943) Direção: Henry King / Roteiro: George Seaton (a pertir do romance de Franz Werfel) / Elenco: Jennifer Jones, Charles Bickford, Gladys Cooper, Vincent Price, Lee J. Cobb, Anne Revere./ Sinopse: O filme mostra as supostas aparições da Virgem Maria em Lourdes. Na ocasião uma jovem camponesa chamada Bernadette (Jennifer Jones) afirmou ter visto e falado com a mãe de Jesus Cristo numa gruta próxima onde costumava apanhar lenha com suas irmãs.

Pablo Aluísio.

sexta-feira, 4 de maio de 2007

O Diabo Riu por Último

Já faz um certo tempo que assisti a esse filme clássico, mas ainda não tinha comentado nada sobre ele aqui em nosso blog. Durante certo tempo fez parte da grade de programação do canal Telecine Cult (clássicos). Entretanto não sei se ainda está sendo reprisado, se estiver, não deixe de assistir. De que se trata? A história do filme mostra um grupo de enganadores e trapaceiros profissionais. O que eles desejam mesmo é ganhar dinheiro, enganando as pessoas mais inocentes. E durante uma viagem até o continente africano conhecem um casal, o tipo perfeito para que eles venham a aplicar um golpe.

Produzido em 1952, sendo lançado em 1953 nos cinemas, contou com a preciosa (e sempre ótima) direção do mestre John Huston. Ele foi seguramente o cineasta mais corajoso dos anos de ouro de Hollywood. Nunca fazia concessões ou se rendia a roteiros bobos. Estava sempre em busca de algo instigante, inovador e provocativo. Encontrou o material que queria no romance policial "Beat the Devil", escrito por  Claud Cockburn. Na época de seu lançamento o livro original foi considerado pornográfico e indecente pela crítica. Algo que logo chamou a atenção de Huston. Seu trabalho aqui ficou simplesmente maravilhoso. Com um elenco que contava com, entre outros, Humphrey Bogart e Gina Lollobrigida, ele criou mais um daqueles filmes memoráveis de sua filmografia. Imperdível para quem aprecia cinema clássico.

O Diabo Riu por Último (Beat the Devil, Estados Unidos, 1953) Direção: John Huston / Roteiro: Truman Capote, John Huston / Elenco: Humphrey Bogart, Jennifer Jones, Gina Lollobrigida / Sinopse: Grupo de escroques profissionais tenta passar a perna em um casal de americanos em viagem pelo continente africano.

Pablo Aluísio.