Título no Brasil: Os Incompreendidos
Título Original: Les Quatre Cents Coups
Ano de Produção: 1959
País: França
Estúdio: Les Films du Carrosse, Sédif Productions
Direção: François Truffaut
Roteiro: François Truffaut, Marcel Moussy
Elenco: Claire Maurier, Jean-Pierre Léaud, Albert Rémy
Sinopse:
Antoine Doinel tem apenas quatorze anos. Negligenciado pelos próprios pais ele não tem muito interesse pelos estudos. Seu passatempo preferido é ir ao cinema com seu grupo de amigos. Sua adolescência comum acaba sofrendo um abalo quando descobre que sua mãe tem um amante. A partir daí o garoto fica em uma encruzilhada na vida. Vencedor do prêmio de melhor direção no Festival de Cannes (1959).
Comentários:
Um exemplo do ótimo cinema de François Truffaut. Com rara sensibilidade ele joga um olhar muito poético (embora realista também) sobre os dramas, sonhos e anseios de um garoto entrando na adolescência da forma mais complicado possível. Afinal quando seus modelos caem por terra o que sobra? Nesse sentido o personagem Antoine Doinel é um achado. Mostra muito bem a complexidade de seus pensamentos e sua peculiar visão de vida. François Truffaut, o crítico que virou diretor talentoso, tem aqui o seu melhor filme em minha opinião. Gosto muito do final e da habilidade que François Truffaut mostra nesse momento em especial. Dizem que todo crítico de cinema é na verdade um cineasta frustrado. Bom, François Truffaut provou que esse pensamento é totalmente absurdo e sem noção. Duvida? Então assista a esse maravilhoso 'Os Incompreendidos.
Pablo Aluísio.
segunda-feira, 14 de maio de 2007
Os Incompreendidos
Drácula, O Príncipe das Trevas
Mais uma produção da Hammer, famoso estúdio inglês de filmes de terror. Esse aqui é a sequência do sucesso "Drácula" de 1958 dirigido pelo mesmo diretor nessa mesma produtora com o mesmo Christopher Lee no papel título, aqui fazendo o Conde pela segunda vez em sua carreira. Curiosamente logo no começo de "Drácula - O Príncipe das Trevas" há uma colagem de cenas do filme anterior. Tecnicamente foi uma forma encontrada pelo diretor para situar os espectadores sobre a estória do primeiro filme (que havia sido lançado oito anos antes). A questão é que o Conde havia sido destruído por Van Helsing na cena final daquele, virando pó. Então como trazer de volta o famoso vampiro de volta para essa continuação? Certamente não vou falar aqui para não estragar mas podemos entender bem de onde veio a ideia que fez o psicopata Jason ressuscitar em tantos "Sexta Feira 13" na década de 80. Se deu sucesso e lucro porque não encontrar um jeito de trazer o monstro de volta?
Por falar em monstro o público atual certamente vai estranhar a caracterização de Drácula nesse tipo de filme. Aqui ele não passa de um monstro, que apenas busca sua presa e nada mais. O Drácula interpretado por Christopher Lee entra mudo e sai calado de cena. Não existe nenhum tipo de herói romântico envolvido nas cenas em que aparece e nem muito menos os sinais de galanteio que vimos em tantos filmes sobre o famoso personagem. Para falar a verdade longe da sedução o Conde aqui é simplesmente brutal com as mulheres - quando chega perto delas é apenas para morder ou então dar uns sopapos! O diretor Terence Fischer foi um grande especialista do gênero terror e aqui consegue bons resultados em uma produção até modesta, sem grande orçamento. Na época as produções de terror não eram levados muito à sério e os filmes eram feitos sem grande preocupação com orçamentos de primeira linha. Mesmo assim o resultado se mostra satisfatório. Enfim, "Drácula, O Príncipe das Trevas" é bem interessante pois traz um vampiro que no final das contas é apenas um monstro - bem diferente dos dândis românticos que enchem as telas dos cinemas atualmente.
Drácula, O Príncipe das Trevas (Dracula Prince of Darkness, Inglaterra, 1966) Direção: Terence Fisher / Com Christopher Lee, Barbara Shelley, Andrew Keir, Francis Matthews, Suzan Farmer, Charles 'Bud' / Sinopse: Depois de sua destruição pelo Dr. Van Helsing no filme Vampiro da Noite (1958), a lenda do Conde Drácula ainda aterroriza a população local. Um grupo de turistas ingleses, apesar dos alertas, inclui em seu roteiro pelos Cárpatos a cidade de Carlsbad, nas cercanias do castelo de Drácula.
Pablo Aluísio
Por falar em monstro o público atual certamente vai estranhar a caracterização de Drácula nesse tipo de filme. Aqui ele não passa de um monstro, que apenas busca sua presa e nada mais. O Drácula interpretado por Christopher Lee entra mudo e sai calado de cena. Não existe nenhum tipo de herói romântico envolvido nas cenas em que aparece e nem muito menos os sinais de galanteio que vimos em tantos filmes sobre o famoso personagem. Para falar a verdade longe da sedução o Conde aqui é simplesmente brutal com as mulheres - quando chega perto delas é apenas para morder ou então dar uns sopapos! O diretor Terence Fischer foi um grande especialista do gênero terror e aqui consegue bons resultados em uma produção até modesta, sem grande orçamento. Na época as produções de terror não eram levados muito à sério e os filmes eram feitos sem grande preocupação com orçamentos de primeira linha. Mesmo assim o resultado se mostra satisfatório. Enfim, "Drácula, O Príncipe das Trevas" é bem interessante pois traz um vampiro que no final das contas é apenas um monstro - bem diferente dos dândis românticos que enchem as telas dos cinemas atualmente.
Drácula, O Príncipe das Trevas (Dracula Prince of Darkness, Inglaterra, 1966) Direção: Terence Fisher / Com Christopher Lee, Barbara Shelley, Andrew Keir, Francis Matthews, Suzan Farmer, Charles 'Bud' / Sinopse: Depois de sua destruição pelo Dr. Van Helsing no filme Vampiro da Noite (1958), a lenda do Conde Drácula ainda aterroriza a população local. Um grupo de turistas ingleses, apesar dos alertas, inclui em seu roteiro pelos Cárpatos a cidade de Carlsbad, nas cercanias do castelo de Drácula.
Pablo Aluísio
domingo, 13 de maio de 2007
Rio Violento
Um filme clássico que une o talento de direção de Elia Kazan com a excelente performance de um grande ator como Montgomery Clift só poderia despertar muito o interesse dos cinéfilos. E foi justamente isso o que aconteceu com esse "Rio Violento". O filme procurava responder a uma questão extremamente pertinente: Até que ponto o progresso da sociedade justificava a mudança compulsória do modo de vida das pessoas? Qual era igualmente o limite de intervenção do Estado na existência das pessoas comuns? Até que ponto essa interferência era legítima ou legalmente justificável?
No filme Montgomery Clift (excepcionalmente bem) interpreta o personagem Chuck Glover, um agente do governo dos Estados Unidos que tem a missão de retirar uma senhora idosa que mora em uma ilha no rio Tennessee. Ela se recusa a abandonar o local pois foi ali que nasceu e criou seus filhos, enterrou seu marido e viveu ao lado de negros libertos e demais moradores do local. Lutando por seus valores tradicionais e por aquilo que lhe é mais importante a senhora resolve enfrentar até mesmo o poder do governo americano. E isso obviamente criou uma disputa jurídica que iria repercutir em todo o sistema judiciário norte-americano.
O filme apresente um excelente elenco. Aliás essa sermpre foi uma característica marcante nos filmes de Elia Kazan. A atriz Jo Van Fleet está simplesmente maravilhosa. Interpretando a matriarca Ella Garth, ela tem duas grandes cenas que a fazem ser o grande destaque de todo o filme. Em uma delas explica ao personagem de Montgomery Clift a dignidade de quem viveu e trabalhou no rio Tennessee há gerações. Devo dizer que poucas vezes vi Clift ser superado em cena, mas aqui ele realmente foi colocado de lado, até mesmo pela força do texto que a atriz tem a declamar. Socialmente consciente, tocando em temas tabus para a época (como o racismo do sul dos Estados Unidos), "Rio Violento" é um dos melhores trabalhos de Kazan. Ele foi um diretor que via o cinema como algo a mais e não apenas um mero entretenimento. Por isso seus filmes sempre tinham alguma mensagem a passar ao público.
Rio Violento (Wild River, Estados Unidos, 1957) Direção: Elia Kazan / Elenco: Montgomery Clift, Lee Remick, Jo Van Fleet / Sinopse: Chuck Glover (Clift) é um jovem agente do governo dos Estados Unidos que tem a missão de retirar um grupo de moradores de uma ilha no meio do rio Tennessee. As pessoas não querem ir embora de lá, deixando suas casas e sua história para trás. Porém é do interesse do Estado que elas deixem aquelas terras. Filme indicado no Berlin International Film Festival.
Pablo Aluísio.
No filme Montgomery Clift (excepcionalmente bem) interpreta o personagem Chuck Glover, um agente do governo dos Estados Unidos que tem a missão de retirar uma senhora idosa que mora em uma ilha no rio Tennessee. Ela se recusa a abandonar o local pois foi ali que nasceu e criou seus filhos, enterrou seu marido e viveu ao lado de negros libertos e demais moradores do local. Lutando por seus valores tradicionais e por aquilo que lhe é mais importante a senhora resolve enfrentar até mesmo o poder do governo americano. E isso obviamente criou uma disputa jurídica que iria repercutir em todo o sistema judiciário norte-americano.
O filme apresente um excelente elenco. Aliás essa sermpre foi uma característica marcante nos filmes de Elia Kazan. A atriz Jo Van Fleet está simplesmente maravilhosa. Interpretando a matriarca Ella Garth, ela tem duas grandes cenas que a fazem ser o grande destaque de todo o filme. Em uma delas explica ao personagem de Montgomery Clift a dignidade de quem viveu e trabalhou no rio Tennessee há gerações. Devo dizer que poucas vezes vi Clift ser superado em cena, mas aqui ele realmente foi colocado de lado, até mesmo pela força do texto que a atriz tem a declamar. Socialmente consciente, tocando em temas tabus para a época (como o racismo do sul dos Estados Unidos), "Rio Violento" é um dos melhores trabalhos de Kazan. Ele foi um diretor que via o cinema como algo a mais e não apenas um mero entretenimento. Por isso seus filmes sempre tinham alguma mensagem a passar ao público.
Rio Violento (Wild River, Estados Unidos, 1957) Direção: Elia Kazan / Elenco: Montgomery Clift, Lee Remick, Jo Van Fleet / Sinopse: Chuck Glover (Clift) é um jovem agente do governo dos Estados Unidos que tem a missão de retirar um grupo de moradores de uma ilha no meio do rio Tennessee. As pessoas não querem ir embora de lá, deixando suas casas e sua história para trás. Porém é do interesse do Estado que elas deixem aquelas terras. Filme indicado no Berlin International Film Festival.
Pablo Aluísio.
sábado, 12 de maio de 2007
Sublime Obsessão
O filme é um drama tipicamente dos anos 50. Achei tudo muito melodramático e pesado, sem nenhum traço de qualquer tipo de fina ironia ou algo do tipo. O argumento não suaviza para o espectador, assim se essa não for a sua praia é melhor nem assistir. "Sublime Obsessão" transformou o ator Rock Hudson em um astro. Fez grande sucesso de bilheteria e mostrou que ele tinha capacidade de atrair o público aos cinemas. O mais curioso é que ele só foi escalado porque a Universal estava com problemas financeiros e não tinha dinheiro para contratar um ator do primeiro time de Hollywood, assim teve que se contentar com a chamada "prata da casa" (Hudson era ator contratado da Universal, foi treinado e feito dentro do próprio estúdio, tudo ao estilo do antigo "Star System").
Devo confessar que a atuação de Rock no filme é apenas mediana. Ele, para falar a verdade, não era um grande ator mas simplesmente um galã, que se saía muito melhor em filmes mais leves como as comédias românticas que rodou ao lado de Doris Day. Aqui, principalmente nas cenas mais tensas, faltou um pouco mais de talento. Já a atriz Jane Wyman (primeira esposa do presidente Ronald Reagan) também não era lá essas coisas. Confesso que esperava mais de sua interpretação. Na maioria das cenas ela se limita a fazer o papel de "boazinha". Apesar da dupla central não estar à altura do que o roteiro exige, o filme não deixa de ser interessante. Para falar a verdade é bem didático assistir filmes antigos assim pois nos anos 50 ainda era possível realizar produções como essa, sem nenhum traço do cinismo que hoje impera na sociedade. Se você gosta da cultura vintage fique à vontade para curtir "Sublime Obsessão".
Sublime Obsessão (Magnificent Obsession, Estados Unidos, 1954) Direção: Douglas Sirk / Elenco: Jane Wyman, Rock Hudson, Agnes Moorehead, Barbara Rush, Otto Kruger, Sara Shane, Gregg Palmer, Jack Kelly, Myrna Hansen / Sinopse: Um milionário irresponsável causa um sério acidente em uma mulher. Para se redimir ele tentar restaurar a saúde dela, se tornando especialista médico na área.
Pablo Aluísio.
Devo confessar que a atuação de Rock no filme é apenas mediana. Ele, para falar a verdade, não era um grande ator mas simplesmente um galã, que se saía muito melhor em filmes mais leves como as comédias românticas que rodou ao lado de Doris Day. Aqui, principalmente nas cenas mais tensas, faltou um pouco mais de talento. Já a atriz Jane Wyman (primeira esposa do presidente Ronald Reagan) também não era lá essas coisas. Confesso que esperava mais de sua interpretação. Na maioria das cenas ela se limita a fazer o papel de "boazinha". Apesar da dupla central não estar à altura do que o roteiro exige, o filme não deixa de ser interessante. Para falar a verdade é bem didático assistir filmes antigos assim pois nos anos 50 ainda era possível realizar produções como essa, sem nenhum traço do cinismo que hoje impera na sociedade. Se você gosta da cultura vintage fique à vontade para curtir "Sublime Obsessão".
Sublime Obsessão (Magnificent Obsession, Estados Unidos, 1954) Direção: Douglas Sirk / Elenco: Jane Wyman, Rock Hudson, Agnes Moorehead, Barbara Rush, Otto Kruger, Sara Shane, Gregg Palmer, Jack Kelly, Myrna Hansen / Sinopse: Um milionário irresponsável causa um sério acidente em uma mulher. Para se redimir ele tentar restaurar a saúde dela, se tornando especialista médico na área.
Pablo Aluísio.
A Queda do Império Romano
Produção: Uma das mais ricas que já vi. Na época não existia possibilidade de fazer nada virtual, tudo tinha que realmente existir. Assim tudo o que se vê na tela é real (e impressiona). São multidões de figurantes (acredito que seja o filme com o maior número de figurantes da história), cenários maravilhosos, figurinos deslumbrantes e tudo o que não poderia faltar em um filme épico como esse. Como produção o filme é realmente nota 10.
Direção: Acredito que o diretor Anthony Mann se perdeu com o tamanho da produção. O filme tem três horas de duração mas o enredo fica disperso, sem foco. Mesmo com todo esse tempo ele não conseguiu contar direito a história. Em muitos momentos se percebe que a direção está mais preocupada em explorar os cenários luxuosos do que investir nos personagens do filme. Na minha opinião esse é o típico caso em que a direção foi engolida pela produção do filme.
Elenco: Tem altos e baixos. Entre as interpretações de grande categoria o filme traz Alec Guiness perfeito na pele do Imperador Marco Aurélio. Suas cenas são excelentes, inclusive um inspirado monólogo de grande impacto. Christopher Plummer como o Imperador Comodus também está acima da média. Já do lado ruim no quesito de elenco temos uma Sophia Loren muito bonita mas canastrona até o último fio de cabelo encaracolado e um Livius (o mocinho do filme) muito xoxo interpretado por Stephen Boyd. Ele é tão sem graça que quase coloca todo o filme a perder. E pensar que esse papel seria do Charlton Heston.
Roteiro: Toma grandes liberdades com a história real dos Imperadores retratados no filme. Certamente não é historicamente correto e acredito inclusive que essa nunca foi a intenção dos roteiristas. De qualquer forma consegue, aos trancos e barrancos, prender a atenção do espectador.
A Queda do Império Romano (The Fall of the Roman Empire, Estados Unidos, 1964) Direção de Anthony Mann / Com Alec Guiness, Sophia Loren, Christopher Plummer, Omar Sharif, James Mason e Stephen Boyd / Sinopse: Maior império que o mundo já conheceu o Império Romano começa a entrar em colapso por causa de problemas internos ao qual o filme explora muito bem: corrupção, brigas internas, politicagem e um Imperador frívolo que negligencia a administração do Império em razão de sua obsessão por lutas de gladiadores.
Pablo Aluísio
Direção: Acredito que o diretor Anthony Mann se perdeu com o tamanho da produção. O filme tem três horas de duração mas o enredo fica disperso, sem foco. Mesmo com todo esse tempo ele não conseguiu contar direito a história. Em muitos momentos se percebe que a direção está mais preocupada em explorar os cenários luxuosos do que investir nos personagens do filme. Na minha opinião esse é o típico caso em que a direção foi engolida pela produção do filme.
Elenco: Tem altos e baixos. Entre as interpretações de grande categoria o filme traz Alec Guiness perfeito na pele do Imperador Marco Aurélio. Suas cenas são excelentes, inclusive um inspirado monólogo de grande impacto. Christopher Plummer como o Imperador Comodus também está acima da média. Já do lado ruim no quesito de elenco temos uma Sophia Loren muito bonita mas canastrona até o último fio de cabelo encaracolado e um Livius (o mocinho do filme) muito xoxo interpretado por Stephen Boyd. Ele é tão sem graça que quase coloca todo o filme a perder. E pensar que esse papel seria do Charlton Heston.
Roteiro: Toma grandes liberdades com a história real dos Imperadores retratados no filme. Certamente não é historicamente correto e acredito inclusive que essa nunca foi a intenção dos roteiristas. De qualquer forma consegue, aos trancos e barrancos, prender a atenção do espectador.
A Queda do Império Romano (The Fall of the Roman Empire, Estados Unidos, 1964) Direção de Anthony Mann / Com Alec Guiness, Sophia Loren, Christopher Plummer, Omar Sharif, James Mason e Stephen Boyd / Sinopse: Maior império que o mundo já conheceu o Império Romano começa a entrar em colapso por causa de problemas internos ao qual o filme explora muito bem: corrupção, brigas internas, politicagem e um Imperador frívolo que negligencia a administração do Império em razão de sua obsessão por lutas de gladiadores.
Pablo Aluísio
sexta-feira, 11 de maio de 2007
Uma Rua Chamada Pecado
Passados mais de sessenta anos, o longa "Uma Rua Chamada Pecado" (A Streetcar Named Desire - 1951) ainda mantém no ar e intactos, alguns dos sentimentos mais básicos e primários do Homem: sexo, violência e desejo. Mesmo na época de seu lançamento, e a pedido da Warner - que se via pressionada pela censura - o filme sofreu cortes generosos, para desespero de seu diretor, Elia Kazan, que lutou até o fim para que sua obra-prima não sofresse os cortes já determinados pelos "abutres da censura". Não teve jeito, Kazan foi derrotado. Durante muitos anos (até 1993), o filme foi exibido e comercializado com cinco minutos a menos que faziam total diferença no conjunto da obra. No Brasil não foi diferente. O que poderia ser literalmente traduzido para o português, como: "Um Bonde Chamado Desejo", de repente transformou-se em, "Uma Rua Chamada Pecado". Ou seja: a censura não via com bons olhos a palavra DESEJO. Realmente inacreditável, além de lamentável.
Baseado na obra premiada do dramaturgo americano Thomas Lanier Williams ou simplesmente, Tennessee Williams, a obra trata de um redemoinho alucinante de sentimentos. Tudo começa quando Blanche Du Bois (Vivien Leigh), uma professorinha de alma delicada e decadente do Mississipi, vai passar alguns dias com sua irmã Stella (Kim Hunter), e o cunhado Stanley Kowalski (Marlon Brando) em Nova Orleans. Frágil e sedutora, seu comportamento contrasta com os modos rudes e animalescos de Kowalski. A visita de poucos dias parece não ter mais fim, pois o esforço de Blanche, forçando uma convivência pacífica, irrita profundamente Kowalski que aos poucos vai se transformando numa fera. O pequeno apartamento parece ficar menor a cada minuto, sufocante, claustrofóbico. Uma panela de pressão a ponto de explodir. É justamente toda essa atmosfera, que pôs Marlon Brando em evidência para o mundo. Mal ele podia imaginar que sua atuação como Stanley Kowalski, o tornaria uma espécie de marco fundamental. Um divisor de águas entre o cinema pré e pós Marlon Brando. Ou seja: o cinema, mas, principalmente, os atores que vieram posteriormente, não seriam mais os mesmos.
A influência dos chamados "monstros sagrados" do Actor's Studios, entraria como um vírus, para sempre em suas veias. Brando, na pele do animalesco Kowalski, consegue manifestar toda a sua capacidade interpretativa e criativa. Numa completa desambiguidade o organismo Brando-Kowalski é um corpo incandescente que se move lentamente, com olhos injetados de um animal, transpirando suor, ódio e testosterona, quase sempre na mesma medida. Em uma leitura personalíssima e explosiva da obra, Brando se entrega de corpo e alma a um personagem de maldade e furor acachapantes. Sua atuação majestosa é o que Roland Barthes chamava de "quantificação da qualidade" - "pouco interessa o que se fala, o que interessa mesmo é o suor, o grito, o medo e o ódio". Parece que Uma Rua Chamada Pecado foi feita na medida certa para transformar-se depois num réquiem eterno para o genial Marlon Brando. Nota 10.
Uma Rua Chamada Pecado (A Streetcar Named Desire, EUA, 1951) Direção: Elia Kazan / Roteiro: Oscar Saul baseado na peça de Tennessee Williams / Elenco: Vivien Leigh, Marlon Brando, Kim Hunter,Karl Malden / Sinopse: Blanche (Vivien Leigh) uma problemática mulher resolve ir visitar sua irmã Stella (Kim Hunter) em New Orleans. Lá conhece Stanley (Marlon Brando) o rude e provocativo cunhado. Não tarda a se instalar um clima de tensão entre todos os moradores daquele pequeno apartamento.
Telmo Vilela Jr.
Baseado na obra premiada do dramaturgo americano Thomas Lanier Williams ou simplesmente, Tennessee Williams, a obra trata de um redemoinho alucinante de sentimentos. Tudo começa quando Blanche Du Bois (Vivien Leigh), uma professorinha de alma delicada e decadente do Mississipi, vai passar alguns dias com sua irmã Stella (Kim Hunter), e o cunhado Stanley Kowalski (Marlon Brando) em Nova Orleans. Frágil e sedutora, seu comportamento contrasta com os modos rudes e animalescos de Kowalski. A visita de poucos dias parece não ter mais fim, pois o esforço de Blanche, forçando uma convivência pacífica, irrita profundamente Kowalski que aos poucos vai se transformando numa fera. O pequeno apartamento parece ficar menor a cada minuto, sufocante, claustrofóbico. Uma panela de pressão a ponto de explodir. É justamente toda essa atmosfera, que pôs Marlon Brando em evidência para o mundo. Mal ele podia imaginar que sua atuação como Stanley Kowalski, o tornaria uma espécie de marco fundamental. Um divisor de águas entre o cinema pré e pós Marlon Brando. Ou seja: o cinema, mas, principalmente, os atores que vieram posteriormente, não seriam mais os mesmos.
A influência dos chamados "monstros sagrados" do Actor's Studios, entraria como um vírus, para sempre em suas veias. Brando, na pele do animalesco Kowalski, consegue manifestar toda a sua capacidade interpretativa e criativa. Numa completa desambiguidade o organismo Brando-Kowalski é um corpo incandescente que se move lentamente, com olhos injetados de um animal, transpirando suor, ódio e testosterona, quase sempre na mesma medida. Em uma leitura personalíssima e explosiva da obra, Brando se entrega de corpo e alma a um personagem de maldade e furor acachapantes. Sua atuação majestosa é o que Roland Barthes chamava de "quantificação da qualidade" - "pouco interessa o que se fala, o que interessa mesmo é o suor, o grito, o medo e o ódio". Parece que Uma Rua Chamada Pecado foi feita na medida certa para transformar-se depois num réquiem eterno para o genial Marlon Brando. Nota 10.
Uma Rua Chamada Pecado (A Streetcar Named Desire, EUA, 1951) Direção: Elia Kazan / Roteiro: Oscar Saul baseado na peça de Tennessee Williams / Elenco: Vivien Leigh, Marlon Brando, Kim Hunter,Karl Malden / Sinopse: Blanche (Vivien Leigh) uma problemática mulher resolve ir visitar sua irmã Stella (Kim Hunter) em New Orleans. Lá conhece Stanley (Marlon Brando) o rude e provocativo cunhado. Não tarda a se instalar um clima de tensão entre todos os moradores daquele pequeno apartamento.
Telmo Vilela Jr.
Os Desajustados
Esse foi o último filme completo da Marilyn. Ela ainda chegou a iniciar as filmagens de "Something s Got To Give" ao lado de Dean Martin mas o filme não foi concluído. Seus atrasos, faltas e confusões no set fizeram com que a Fox a despedisse no meio da produção. Pouco tempo depois, pressionada, abandonada e depressiva veio a encontrar sua morte em um quarto solitário de sua casa. Assim Os Desajustados se tornou seu último momento no cinema. Eu acho um filme triste, melancólico e depressivo até. Afirmam algumas biografias da estrela que Arthur Miller escreveu o conto que deu origem ao filme inspirado justamente na sua vida com a Marilyn. Os excessos da vida da atriz aparecem na tela, apesar de Marilyn Monroe ainda aparecer linda nas cenas, ela está bem acima do peso e abatida. Muitas vezes a atriz surge em cena com o olhar perdido no horizonte, sem convicção. Fisicamente ela também mostra sinais de desgaste. Numa cena de praia, por exemplo, em que ela aparece de biquíni a atriz exibe uma barriguinha bem saliente.
As brigas com o marido no set também foram constantes. Em certa ocasião deixou Arthur Miller abandonado no meio do deserto (onde o filme estava sendo filmado) se recusando a deixá-lo entrar em seu carro. O diretor John Huston teve então que voltar para ir pegá-lo, caso contrário morreria naquele lugar seco e inóspito. Marilyn também continuava com seu medo irracional dos sets de filmagens. Antes de entrar em cena ela ficava nervosa, em pânico. Errava muito suas falas e fazia o resto do elenco perder a paciência com suas atitudes. Seu medo de atuar nunca havia desaparecido mesmo após tantos anos de carreira. Interessante é que apesar de Marilyn não sair das revistas e jornais por causa dos acontecimentos ocorridos nas filmagens o filme não conseguiu fazer sucesso o que é uma surpresa e tanto pelo elenco estelar e pela publicidade extra que recebeu dos tablóides. Muitos atribuem o fracasso ao próprio texto de Arthur Miller que não tinha foco e nem uma boa dramaturgia. Aliás desde que se casou com Marilyn o autor parecia ter perdido o toque para bons textos. Tudo soava sem inspiração, sem talento. "Os Desajustados" também foi a última produção com o mito Clark Gable. Envelhecido e decadente sofreu bastante com os problemas do filme, o levando a um esgotamento físico e mental, vindo a falecer pouco depois. Acusada de ter contribuído para o colapso de Gable, Marilyn sentiu-se culpada e ganhou mais um motivo para sua depressão crônica. De qualquer forma só pelo fato de "Os Desajustados" ter sido o último filme de Monroe e Gable já vale sua existência. Não é tecnicamente um excelente filme mas está na história do cinema pelo que representou na vida de todos esses grandes mitos que fizeram parte de sua realização.
Os Desajustados (The Misfits, Estados Unidos, 1960) / Direção de John Huston / Elenco:: Clark Gable, Marilyn Monroe, Montgomery Clift, Thelma Ritter, Eli Wallach / Sinopse: Roslyn Taber (Marilyn Monroe) é uma mulher sensível, que está se divorciando. Gay Langland (Clark Gable) e um cowboy frio, que passou a vida pegando cavalos e mulheres divorciadas. Ela não aceita a captura de cavalos selvagens para virarem comida de cachorro, enquanto que ele não vê nada demais. No meio de tudo isto nasce uma paixão entre os dois.
Pablo Aluísio.
As brigas com o marido no set também foram constantes. Em certa ocasião deixou Arthur Miller abandonado no meio do deserto (onde o filme estava sendo filmado) se recusando a deixá-lo entrar em seu carro. O diretor John Huston teve então que voltar para ir pegá-lo, caso contrário morreria naquele lugar seco e inóspito. Marilyn também continuava com seu medo irracional dos sets de filmagens. Antes de entrar em cena ela ficava nervosa, em pânico. Errava muito suas falas e fazia o resto do elenco perder a paciência com suas atitudes. Seu medo de atuar nunca havia desaparecido mesmo após tantos anos de carreira. Interessante é que apesar de Marilyn não sair das revistas e jornais por causa dos acontecimentos ocorridos nas filmagens o filme não conseguiu fazer sucesso o que é uma surpresa e tanto pelo elenco estelar e pela publicidade extra que recebeu dos tablóides. Muitos atribuem o fracasso ao próprio texto de Arthur Miller que não tinha foco e nem uma boa dramaturgia. Aliás desde que se casou com Marilyn o autor parecia ter perdido o toque para bons textos. Tudo soava sem inspiração, sem talento. "Os Desajustados" também foi a última produção com o mito Clark Gable. Envelhecido e decadente sofreu bastante com os problemas do filme, o levando a um esgotamento físico e mental, vindo a falecer pouco depois. Acusada de ter contribuído para o colapso de Gable, Marilyn sentiu-se culpada e ganhou mais um motivo para sua depressão crônica. De qualquer forma só pelo fato de "Os Desajustados" ter sido o último filme de Monroe e Gable já vale sua existência. Não é tecnicamente um excelente filme mas está na história do cinema pelo que representou na vida de todos esses grandes mitos que fizeram parte de sua realização.
Os Desajustados (The Misfits, Estados Unidos, 1960) / Direção de John Huston / Elenco:: Clark Gable, Marilyn Monroe, Montgomery Clift, Thelma Ritter, Eli Wallach / Sinopse: Roslyn Taber (Marilyn Monroe) é uma mulher sensível, que está se divorciando. Gay Langland (Clark Gable) e um cowboy frio, que passou a vida pegando cavalos e mulheres divorciadas. Ela não aceita a captura de cavalos selvagens para virarem comida de cachorro, enquanto que ele não vê nada demais. No meio de tudo isto nasce uma paixão entre os dois.
Pablo Aluísio.
quinta-feira, 10 de maio de 2007
Filmografia Comentada: Gregory Peck
Gregory Peck representava nas telas a fibra moral do homem honesto. Seus personagens sempre refletiam valores morais elevados, personalidades virtuosas e ideais de honra. Ao longo da carreira construiu uma rica filmografia. Destaco alguns filmes obrigatórios como "O Sol é Para Todos" (linda mensagem sobre padrões éticos de justiça e lei) e "A Hora Final" curiosa parábola da guerra fria. Segue abaixo comentários de filmes de Peck.
O Homem do Terno Cinzento
O filme é extremamente bem feito e roteirizado. Basicamente é um retrato de um homem comum que volta da II Guerra Mundial e tenta criar sua família da melhor forma possível nos anos 50. Ex-capitão do exército americano Tom Rath (Gregory Peck) sente na pele os problemas após seu retorno aos EUA. Passando por dificuldades financeiras, com três filhos e uma esposa insatisfeita e infeliz (Jennifer Jones) ele tenta administrar os problemas familiares e profissionais em meio a uma crise de identidade. Gostei bastante do tom da produção pois é um filme extremamente sério e realista e não joga panos quentes na situação, principalmente quando se descobre anos depois que o capitão teria tido um filho com uma mulher italiana. Outro aspecto curioso é a forma como é mostrada uma agência de publicidade naquela época - coisa que hoje em dia é justamente o foco do seriado de grande sucesso da AMC, Mad Men. Curiosamente o filme se torna bem atual pois muitos ex-militares americanos ainda encontram dificuldades de se inserirem na vida civil após servirem anos nas forças armadas. Falta de qualificação profissional, desemprego ou sub-empregos ainda são bastante comum na vida dessas pessoas. Pelo visto mesmo após muitos anos a situação ainda permanece a mesma. Outro ponto positivo de "O Homem do Terno Cinzento" é seu elenco. Gregory Peck novamente repete seu papel de homem íntegro, embora aqui haja fendas no caráter de seu personagem. Seu estilo de interpretação minimalista até hoje causa impacto. Peck era sutil e conseguia transmitir muito bem as emoções de seus personagens sem recorrer a exageros dramáticos. Já Jennifer Jones derraba um pouco nas caras e bocas mas nada que comprometa. Eu gosto dessa atriz, recentemente a vi em "A Canção de Bernadette" e ela sempre conseguia mostrar um bom trabalho. O diretor Nunnally Jonhson era na realidade um roteirista conceituado em Hollywood que ganhou a chance de dirigir alguns filmes (nenhum extremamente marcante). Isso talvez explique o alto nível do roteiro de "O Homem do Terno Cinzento" que procura sempre desenvolver todos os personagens em cena, mostrando seus dramas familiares e pessoais. Enfim, aqui temos um excelente drama dos anos 50. Um ótimo exemplo para se conhecer o que era realizado no gênero pelo cinema americano na época
A Hora Final
Filme estranhíssimo da carreira de Gregory Peck. Quem pensa que vai assistir um filme convencional de submarinos vai ter uma surpresa e tanto! Para começo de conversa a estória se passa após uma guerra nuclear entre Estados Unidos e União Soviética! Isso mesmo, você não leu errado! Peck é tudo o que sobrou da outrora gloriosa marinha americana e só escapou do hecatombe nuclear justamente porque estava dentro de um submarino! O interessante é que esse cenário pós apocalipse só vai sendo informado ao espectador aos poucos, enquanto se vai acompanhando o estranho flerte entre o Peck e Ava Gardner. Aliás uma das coisas que mais chamam atenção aqui é o elenco. Formado por jovens atores que iria despontar para o estrelado nos anos seguintes (como o estranho Anthony Perkins de Psicose) e veteranos das telas (como Fred Astaire em um papel particularmente melancólico). Mas o principal mérito de “A Hora Final” é realmente a ousadia da proposta do argumento do filme. Claro que em plena guerra fria, onde a paranóia na sociedade americana estava a mil, o filme fazia mais sentido. Hoje em dia se torna muito anacrônico e estranho. O diretor também foca muito em cima das relações pessoais dos personagens que mesmo sabendo que vão morrer em breve tentam seguir com suas vidas, namorando, passeando à beira mar, etc. Confesso que esse clima surreal é uma das coisas mais surpreendentes que já vi, ainda mais em filmes antigos. “A Hora Final” tem pinta e jeito de filme de guerra mas não é. É uma ficção apocalíptica que pode ser considerado o “avô” das produções pós apocalipse como “O Dia Seguinte”. Assista e se surpreenda.
Círculo do Medo / Cabo do Medo
Max Cady (Robert Mitchum) sai da prisão e parte atrás de vingança contra as pessoas que ele considera responsáveis por sua condenação. Entre elas está o advogado Sam Bowden (Gregory Peck) que se vê ameaçado pela presença do criminoso de volta na cidade em que vive. Ele havia sido testemunha no processo que jogou Max durante longos oito anos na prisão. Agora é a hora dele promover o que entende ser o acerto de contas entre ambos. "Círculo do Medo" é um eficiente thriller de suspense dirigido pelo apenas mediano J. Lee Thompson, um diretor que ao longo da carreira alternou filmes bons com abacaxis medíocres. Esse "Círculo do Medo" (que teve o título mudado anos depois no Brasil por causa do famoso remake "Cabo do Medo" de Scorsese) tem como maior destaque e mérito a ótima caracterização do ator Robert Mitchum. Ele passa longe da caricatura feita por De Niro anos depois do mesmo personagem. Se no remake tínhamos um sujeito completamente fora de controle, violento, com ares de delírio completo, aqui Mitchum desenvolve uma caracterização bem mais sutil (e eficiente na minha opinião). A maldade está lá, porém em um nível mais interior, sem profusão de cenas violentas desnecessárias. Obviamente que muitos preferem o filme recente de Martin Scorsese porém não compartilho dessa opinião. "Círculo do Medo" é bem melhor em termos de tensão e clima psicológico. O advogado interpretado por Gregory Peck não tem muito o que fazer já que o filme pertence mesmo a Mitchum e seu personagem. Se limitando a se defender na medida do possível, Peck se mostra competente em sua interpretação, embora pela própria estrutura do roteiro seja limitada. Claro que não podemos aqui comparar com outras atuações brilhantes do ator como a que ele apresentou em "O Sol é Para Todos", por exemplo. É um diferente tipo de atuação, mais ligeira, com propósito específico de entreter e não conscientizar como naquela produção. Mesmo assim o saldo é muito positivo embora se deva reconhecer que o filme perde um pouco de pique justamente no terceiro ato, quando todos vão para um lugar isolado nos pântanos da Flórida (o próprio lugar que dá nome ao filme, cabo do medo). Até esse momento o filme tem um ritmo muito bom, de caçada gato ao rato entre os dois personagens principais. Depois disso a tensão perde espaço para a violência e o filme decai um pouco. De qualquer forma o resultado final é muito bom (e bem melhor que seu famoso remake). Não deixe de conferir para comparar depois com o famoso filme de Martin Scorsese. Eu certamente recomendo
MacArthur
Acabei de assistir esse MacArthur, um excelente filme para quem quer saber mais da história da II Guerra Mundial. Eu tinha assistido há pouco um excelente filme com o Gregory Peck chamado "O Escarlate e o Negro" e assim resolvi conferir mais um filme dele. Peck como sempre está fenomenal, interpretando um personagem que por si só já é muito polêmico, o generalíssimo Douglas MacArthur, um dos comandantes supremos que venceram a guerra contra o Japão no Pacifico. O sujeito por si só já era uma figura: usava um cachimbo feito de espiga de milho e detestava todos os politicos de Washington, especialmente o presidente Truman que acabou sendo o seu grande atrito nos rumos tomados pela política norte americana do pós guerra (MacArthur orientou a reconstrução do Japão e comandou as forças americanas na Guerra da Coreia). Enfim, excelente aula de história, filmado com muita classe e bom gosto. Se tiverem oportunidade de assistir não percam.
A Profecia
Hoje resolvi rever "A Profecia". Na verdade fazia tanto tempo que tinha visto o original que me lembrava de pouca coisa do filme. É o que eu sempre digo: não adianta fazer remake de grandes filmes, fica tudo ridículo. Eu nem vou me alongar muito comparando o original com seu remake picareta, basta apenas citar um nome para destruir a desnecessária versão recente que fizeram: Gregory Peck. Que baita ator ele era! Nunca assisti uma atuação de Peck que não fosse altamente digna. Aqui ele repete a dose, interpretando o embaixador americano que acaba adotando um garotinho pra lá de esquisito. "A Profecia" mostra que para se fazer um bom filme de terror não é preciso encher a tela de monstros sanguinários e efeitos digitais bobocas. Basta um bom roteiro, um argumento interessante e boas atuações. Some-se a isso uma excelente trilha sonora incidental (no caso desse filme a sonoridade dos antigos filmes de terror aparece bem nitidamente em cada cena). O roteiro é bem construído e se fecha muito bem (não era necessária a produção de continuações, pois a trama é muito bem conduzida e finalizada em si mesmo). De qualquer forma é um filme para se assistir e entender porque os filmes de suspense e de terror de antigamente eram bem melhores do que as bobagens de hoje. Assista que você não vai se arrepender.
O Sol é Para Todos
Que filme maravilhoso! Fiquei impressionado como em um só roteiro tantos valores são repassados ao espectador! Não é necessário aqui expor todos os significados importantes dentro do argumento mas um dos que mais me chamou atenção foi o desfecho do julgamento mostrado no filme. Fugindo de clichês baratos a obra mostra a verdadeira face da extrema debilidade do sistema judiciário americano. O argumento também explicita alguns fundamentos jurídicos importantes como o direito ao contraditório e a ampla defesa. Como demonstrado na estória nem sempre a sociedade é a mais adequada para julgar e punir seus pares uma vez que o senso comum é extremamente falho e para dizer a verdade, infantil e tolo. Assim apenas a lei e o direito a um julgamento justo se mostram viáveis para saciar o sentimento de justiça dentro da comunidade. O fato é que Gregory Peck, de uma dignidade fora do comum, mostra claramente que o sistema é falho, injusto e nocivo, principalmente quando a emoção e o preconceito superam a razão. Seu posicionamento como advogado no filme é uma lição de postura, ética e comprometimento com a causa de seu cliente. Nenhuma outra profissão no mundo lida tão de perto com esses valores como a de advogado, que quando bem cumprida e desempenhada pode trazer enorme satisfação pessoal. Tirando esse aspecto outro também me chamou muito a atenção: O lirismo e nostalgia envolvidos. Ao mesmo tempo em que conta o drama de tribunal, "O Sol é Para Todos" também expõe a bucólica vida dos filhos do advogado. Subindo em árvores, brincando pelas redondezas e curiosos em relação a Boo, um vizinho deficiente mental que será vital para o desfecho do filme. Essa visão inocente contrasta exatamente com a mentalidade dos moradores locais: ignorantes, racistas e preconceituosos. Recentemente o presidente Obama promoveu uma exibição do filme na Casa Branca, algo muito significativo sobre a importância dessa obra cinematográfica. Nada mais justo uma vez que "O Sol é Para Todos" é um filme grandioso, maravilhoso. Um dos melhores que vi esse ano. Mais do que recomendado.
Moby Dick
O Capitão Ahab (Gregory Peck) é um velho homem do mar que se torna obcecado em encontrar e matar uma baleia branca cachalote conhecida como Moby Dick. Para isso não medirá esforços exigindo severamente o máximo dos homens de sua tripulação. O livro original foi escrito por Herman Melville em 1851. Curiosamente não foi um grande sucesso de vendas em seu lançamento mas ao longo dos anos foi sendo redescoberto pelos estudiosos de literatura. Hoje é considerada uma obra prima. O filme nasceu da insistência pessoal de John Huston que viu no texto várias características com as quais ele próprio se identificou. A adaptação para as telas realmente é excelente. Muita gente pensa que se trata apenas de um filme de aventura que mostra um capitão alucinado na caça de uma baleia cachalote albina. Bom, isso é a superfície, na realidade Moby Dick é uma grande metáfora sobre a obsessão que corrói a mente dos homens. Basta trocarmos a baleia por qualquer outra coisa que cause a obsessão ao ser humano para entendermos muito bem o que o autor do livro quis passar. No fundo é a história de um homem disposto a sacrificar tudo (até sua vida) para ir atrás de um objetivo, nem que isso leve ele e seus tripulantes à ruína completa. Existem outras versões de Moby Dick mas nenhuma delas sequer conseguem chegar ao nível dessa de 1956 que foi dirigida por John Huston. Não é surpresa nenhuma que ele tenha feito esse filme. O tema era muito próximo a Huston que se empenhou em uma história parecida quando estava filmando na África (assistam “Coração de Caçador” de Clint Eastwood para entender). Outro ponto que conta muito a favor nessa versão é a dupla de atores: Gregory Peck (como o obcecado capitão e sua voz de trovão) e Orson Welles (em uma ótima cena passada num culto religioso). Os diálogos são ricos e declamados com eloquência então é garantido o show de interpretação desses atores. Até os efeitos ainda são charmosos, mesmo com mais de 50 anos de sua realização. Enfim, Moby Dick é excelente, uma viagem em busca do monstro interior de cada um de nós.
Almas em Chamas
Oficial General linha dura (Gregory Peck) é designado para comandar uma esquadrilha de bombardeiros da força aérea americana durante a II Guerra Mundial. Sua missão é realizar várias excursões sobre as instalações industriais do Terceiro Reich visando destruí-las, quebrando assim o eixo econômico do inimigo. Para isso deveriam realizar operações diurnas que eram extremamente perigosas para os pilotos que participavam dessas incursões ao território inimigo. "Almas em Chamas" é um excelente filme de guerra que foi realizado apenas quatro anos depois do fim do maior conflito armado da história da humanidade. Essa proximidade temporal permitiu aos realizadores do filme se utilizarem dos mesmos aviões reais que participarem dessas missões. Além disso a maioria dos figurantes eram aviadores da USAF que inclusive estiveram lá no front, no campo de batalha, a começar pelo próprio Peck que foi educado em colégio militar e se alistou durante a Guerra indo para a Europa enfrentar as forças nazistas. Com tanto grau de veracidade o resultado não poderia ser melhor. As cenas de batalha que surgem no filme com a guerra nos ares entre os pesadões bombardeiros americanos e os caças alemães são todas verídicas, reais, como é informado ao espectador logo no começo do filme. "Almas em Chamas" tem além das excelentes cenas de guerra um bônus a mais. Seu roteiro é extremamente bem escrito com muito cuidado no desenvolvimento dos personagens em terra. Cada membro da equipe é cuidadosamente construído. O General Frank Savage, personagem de Peck, por exemplo, é mostrado como um militar que sabe que tem que cumprir uma perigosa missão e vai fazer de tudo para cumpri-la da melhor forma possível. Ao contrário do comandante anterior ele não tinha a menor intenção de ser popular entre seus pilotos, pelo contrário, logo impõe respeito e ordem à esquadrilha. Em outras palavras é um sujeito realmente "Caxias" que não se importa de ser assim, pelo contrário, faz questão de ser. "Almas em Chamas" foi dirigido pelo ótimo Henry King de tantas aventuras medievais. Apesar de veterano nas telas esse foi apenas seu segundo filme de guerra (curiosamente o anterior, "Um Americano na Aviação", também focava em membros da força aérea). Seu grande mérito aqui realmente foi não cair na armadilha de fazer um filme vazio de ação e nada mais. Seu cuidado com os personagens em cena fez toda a diferença. Em suma "Almas em Chamas" é quase um documentário dessas missões de destruição do parque industrial alemão. Se você gosta de história militar o filme é obrigatório. Não perca!
O Matador
Jimmy Ringo (Gregory Peck) é um famoso pistoleiro do velho oeste que chega na pequena cidade de Cayenne. Ele almeja reencontrar a mãe de seu filho, além de finalmente encontrar o garoto que não vê há muitos anos. O problema é que Ringo não consegue se desvencilhar de sua fama de rápido no gatilho. Isso lhe causa todo tipo de problemas pois sempre encontra pela frente alguém que queira desafiá-lo para um duelo. Além disso as mortes que causou nunca o deixam em paz pois sempre há alguém na espreita tentando vingar um parente, um filho ou um amigo morto por Ringo. Esse “O Matador” é um clássico absoluto do chamado western piscológico. Aqui acompanhamos Ringo tentando ter um momento de normalidade em sua vida, algo simplesmente impossível pois sua fama o precede. Assim que chega na nova cidade a garotada corre para ver o famoso pistoleiro em pessoa. Os moradores obviamente ficam apreensivos com sua presença pois é quase certo acontecer algo inesperado na pacata localidade. Essa é uma das mitologias mais caras ao oeste americano, a do pistoleiro errante que não consegue mais viver em paz pois a cada novo lugar que chega é desafiado. Com isso acaba colecionando um enorme número de mortes em sua trajetória além de sempre ter que enfrentar potenciais vingadores aonde quer que vá. O personagem Jimmy Ringo interpretado por Gregory Peck é inspirado no famoso pistoleiro Johnny Ringo. Esse foi um dos mais famosos foras da lei do velho oeste. Sua história é bem conhecida por historiadores e especialistas no assunto. Ele era inimigo declarado do famoso xerife Wyatt Earp e seus irmãos, alem de possuir uma grande rixa pessoal com o famoso Doc Holliday. De fato ambos se odiavam. Quase sempre se encontrando em esfumaçados saloons a dupla entrou em confronto várias vezes. Infelizmente o roteiro de “O Matador” esqueceu de citar Doc na história de Ringo, embora não tenha esquecido de colocar Wyatt Earp no enredo. Aliás é bom frisar que muita coisa ficou fora da produção o que é compreensível pois o filme não se propõe a ser uma biografia de Ringo mas apenas ser um bom western psicológico – o que faz muito bem. Na história real Ringo foi o principal suspeito da morte de Virgil Earp, irmão do famoso xerife. Algum tempo depois foi encontrado morto no deserto e sua morte até hoje é motivo de controvérsias. Algumas teorias afirmam que ele encontrou-se finalmente com Doc Holliday em uma última e decisiva vez e que teria sido morto em um duelo mortal contra o famoso pistoleiro, mas nada disso é mostrado no filme. Seu destino aliás toma outros rumos no roteiro dessa produção, de forma totalmente ficcional. O resultado final, apesar das omissões históricas propositais, é de alto nível. Até hoje “O Matador” é citado em livros e revistas especializadas, sendo considerado um dos grandes faroestes do cinema americano. Johnny Ringo apareceria em muitas outras ocasiões no cinema, geralmente retratado como vilão sanguinário. O que importa aqui é a forma como parte de sua história é contada. Impossível não recomendar “O Matador”, um filme obrigatório para quem gosta da história do oeste selvagem.
Pablo Aluísio.
O Homem do Terno Cinzento
O filme é extremamente bem feito e roteirizado. Basicamente é um retrato de um homem comum que volta da II Guerra Mundial e tenta criar sua família da melhor forma possível nos anos 50. Ex-capitão do exército americano Tom Rath (Gregory Peck) sente na pele os problemas após seu retorno aos EUA. Passando por dificuldades financeiras, com três filhos e uma esposa insatisfeita e infeliz (Jennifer Jones) ele tenta administrar os problemas familiares e profissionais em meio a uma crise de identidade. Gostei bastante do tom da produção pois é um filme extremamente sério e realista e não joga panos quentes na situação, principalmente quando se descobre anos depois que o capitão teria tido um filho com uma mulher italiana. Outro aspecto curioso é a forma como é mostrada uma agência de publicidade naquela época - coisa que hoje em dia é justamente o foco do seriado de grande sucesso da AMC, Mad Men. Curiosamente o filme se torna bem atual pois muitos ex-militares americanos ainda encontram dificuldades de se inserirem na vida civil após servirem anos nas forças armadas. Falta de qualificação profissional, desemprego ou sub-empregos ainda são bastante comum na vida dessas pessoas. Pelo visto mesmo após muitos anos a situação ainda permanece a mesma. Outro ponto positivo de "O Homem do Terno Cinzento" é seu elenco. Gregory Peck novamente repete seu papel de homem íntegro, embora aqui haja fendas no caráter de seu personagem. Seu estilo de interpretação minimalista até hoje causa impacto. Peck era sutil e conseguia transmitir muito bem as emoções de seus personagens sem recorrer a exageros dramáticos. Já Jennifer Jones derraba um pouco nas caras e bocas mas nada que comprometa. Eu gosto dessa atriz, recentemente a vi em "A Canção de Bernadette" e ela sempre conseguia mostrar um bom trabalho. O diretor Nunnally Jonhson era na realidade um roteirista conceituado em Hollywood que ganhou a chance de dirigir alguns filmes (nenhum extremamente marcante). Isso talvez explique o alto nível do roteiro de "O Homem do Terno Cinzento" que procura sempre desenvolver todos os personagens em cena, mostrando seus dramas familiares e pessoais. Enfim, aqui temos um excelente drama dos anos 50. Um ótimo exemplo para se conhecer o que era realizado no gênero pelo cinema americano na época
A Hora Final
Filme estranhíssimo da carreira de Gregory Peck. Quem pensa que vai assistir um filme convencional de submarinos vai ter uma surpresa e tanto! Para começo de conversa a estória se passa após uma guerra nuclear entre Estados Unidos e União Soviética! Isso mesmo, você não leu errado! Peck é tudo o que sobrou da outrora gloriosa marinha americana e só escapou do hecatombe nuclear justamente porque estava dentro de um submarino! O interessante é que esse cenário pós apocalipse só vai sendo informado ao espectador aos poucos, enquanto se vai acompanhando o estranho flerte entre o Peck e Ava Gardner. Aliás uma das coisas que mais chamam atenção aqui é o elenco. Formado por jovens atores que iria despontar para o estrelado nos anos seguintes (como o estranho Anthony Perkins de Psicose) e veteranos das telas (como Fred Astaire em um papel particularmente melancólico). Mas o principal mérito de “A Hora Final” é realmente a ousadia da proposta do argumento do filme. Claro que em plena guerra fria, onde a paranóia na sociedade americana estava a mil, o filme fazia mais sentido. Hoje em dia se torna muito anacrônico e estranho. O diretor também foca muito em cima das relações pessoais dos personagens que mesmo sabendo que vão morrer em breve tentam seguir com suas vidas, namorando, passeando à beira mar, etc. Confesso que esse clima surreal é uma das coisas mais surpreendentes que já vi, ainda mais em filmes antigos. “A Hora Final” tem pinta e jeito de filme de guerra mas não é. É uma ficção apocalíptica que pode ser considerado o “avô” das produções pós apocalipse como “O Dia Seguinte”. Assista e se surpreenda.
Círculo do Medo / Cabo do Medo
Max Cady (Robert Mitchum) sai da prisão e parte atrás de vingança contra as pessoas que ele considera responsáveis por sua condenação. Entre elas está o advogado Sam Bowden (Gregory Peck) que se vê ameaçado pela presença do criminoso de volta na cidade em que vive. Ele havia sido testemunha no processo que jogou Max durante longos oito anos na prisão. Agora é a hora dele promover o que entende ser o acerto de contas entre ambos. "Círculo do Medo" é um eficiente thriller de suspense dirigido pelo apenas mediano J. Lee Thompson, um diretor que ao longo da carreira alternou filmes bons com abacaxis medíocres. Esse "Círculo do Medo" (que teve o título mudado anos depois no Brasil por causa do famoso remake "Cabo do Medo" de Scorsese) tem como maior destaque e mérito a ótima caracterização do ator Robert Mitchum. Ele passa longe da caricatura feita por De Niro anos depois do mesmo personagem. Se no remake tínhamos um sujeito completamente fora de controle, violento, com ares de delírio completo, aqui Mitchum desenvolve uma caracterização bem mais sutil (e eficiente na minha opinião). A maldade está lá, porém em um nível mais interior, sem profusão de cenas violentas desnecessárias. Obviamente que muitos preferem o filme recente de Martin Scorsese porém não compartilho dessa opinião. "Círculo do Medo" é bem melhor em termos de tensão e clima psicológico. O advogado interpretado por Gregory Peck não tem muito o que fazer já que o filme pertence mesmo a Mitchum e seu personagem. Se limitando a se defender na medida do possível, Peck se mostra competente em sua interpretação, embora pela própria estrutura do roteiro seja limitada. Claro que não podemos aqui comparar com outras atuações brilhantes do ator como a que ele apresentou em "O Sol é Para Todos", por exemplo. É um diferente tipo de atuação, mais ligeira, com propósito específico de entreter e não conscientizar como naquela produção. Mesmo assim o saldo é muito positivo embora se deva reconhecer que o filme perde um pouco de pique justamente no terceiro ato, quando todos vão para um lugar isolado nos pântanos da Flórida (o próprio lugar que dá nome ao filme, cabo do medo). Até esse momento o filme tem um ritmo muito bom, de caçada gato ao rato entre os dois personagens principais. Depois disso a tensão perde espaço para a violência e o filme decai um pouco. De qualquer forma o resultado final é muito bom (e bem melhor que seu famoso remake). Não deixe de conferir para comparar depois com o famoso filme de Martin Scorsese. Eu certamente recomendo
MacArthur
Acabei de assistir esse MacArthur, um excelente filme para quem quer saber mais da história da II Guerra Mundial. Eu tinha assistido há pouco um excelente filme com o Gregory Peck chamado "O Escarlate e o Negro" e assim resolvi conferir mais um filme dele. Peck como sempre está fenomenal, interpretando um personagem que por si só já é muito polêmico, o generalíssimo Douglas MacArthur, um dos comandantes supremos que venceram a guerra contra o Japão no Pacifico. O sujeito por si só já era uma figura: usava um cachimbo feito de espiga de milho e detestava todos os politicos de Washington, especialmente o presidente Truman que acabou sendo o seu grande atrito nos rumos tomados pela política norte americana do pós guerra (MacArthur orientou a reconstrução do Japão e comandou as forças americanas na Guerra da Coreia). Enfim, excelente aula de história, filmado com muita classe e bom gosto. Se tiverem oportunidade de assistir não percam.
A Profecia
Hoje resolvi rever "A Profecia". Na verdade fazia tanto tempo que tinha visto o original que me lembrava de pouca coisa do filme. É o que eu sempre digo: não adianta fazer remake de grandes filmes, fica tudo ridículo. Eu nem vou me alongar muito comparando o original com seu remake picareta, basta apenas citar um nome para destruir a desnecessária versão recente que fizeram: Gregory Peck. Que baita ator ele era! Nunca assisti uma atuação de Peck que não fosse altamente digna. Aqui ele repete a dose, interpretando o embaixador americano que acaba adotando um garotinho pra lá de esquisito. "A Profecia" mostra que para se fazer um bom filme de terror não é preciso encher a tela de monstros sanguinários e efeitos digitais bobocas. Basta um bom roteiro, um argumento interessante e boas atuações. Some-se a isso uma excelente trilha sonora incidental (no caso desse filme a sonoridade dos antigos filmes de terror aparece bem nitidamente em cada cena). O roteiro é bem construído e se fecha muito bem (não era necessária a produção de continuações, pois a trama é muito bem conduzida e finalizada em si mesmo). De qualquer forma é um filme para se assistir e entender porque os filmes de suspense e de terror de antigamente eram bem melhores do que as bobagens de hoje. Assista que você não vai se arrepender.
O Sol é Para Todos
Que filme maravilhoso! Fiquei impressionado como em um só roteiro tantos valores são repassados ao espectador! Não é necessário aqui expor todos os significados importantes dentro do argumento mas um dos que mais me chamou atenção foi o desfecho do julgamento mostrado no filme. Fugindo de clichês baratos a obra mostra a verdadeira face da extrema debilidade do sistema judiciário americano. O argumento também explicita alguns fundamentos jurídicos importantes como o direito ao contraditório e a ampla defesa. Como demonstrado na estória nem sempre a sociedade é a mais adequada para julgar e punir seus pares uma vez que o senso comum é extremamente falho e para dizer a verdade, infantil e tolo. Assim apenas a lei e o direito a um julgamento justo se mostram viáveis para saciar o sentimento de justiça dentro da comunidade. O fato é que Gregory Peck, de uma dignidade fora do comum, mostra claramente que o sistema é falho, injusto e nocivo, principalmente quando a emoção e o preconceito superam a razão. Seu posicionamento como advogado no filme é uma lição de postura, ética e comprometimento com a causa de seu cliente. Nenhuma outra profissão no mundo lida tão de perto com esses valores como a de advogado, que quando bem cumprida e desempenhada pode trazer enorme satisfação pessoal. Tirando esse aspecto outro também me chamou muito a atenção: O lirismo e nostalgia envolvidos. Ao mesmo tempo em que conta o drama de tribunal, "O Sol é Para Todos" também expõe a bucólica vida dos filhos do advogado. Subindo em árvores, brincando pelas redondezas e curiosos em relação a Boo, um vizinho deficiente mental que será vital para o desfecho do filme. Essa visão inocente contrasta exatamente com a mentalidade dos moradores locais: ignorantes, racistas e preconceituosos. Recentemente o presidente Obama promoveu uma exibição do filme na Casa Branca, algo muito significativo sobre a importância dessa obra cinematográfica. Nada mais justo uma vez que "O Sol é Para Todos" é um filme grandioso, maravilhoso. Um dos melhores que vi esse ano. Mais do que recomendado.
Moby Dick
O Capitão Ahab (Gregory Peck) é um velho homem do mar que se torna obcecado em encontrar e matar uma baleia branca cachalote conhecida como Moby Dick. Para isso não medirá esforços exigindo severamente o máximo dos homens de sua tripulação. O livro original foi escrito por Herman Melville em 1851. Curiosamente não foi um grande sucesso de vendas em seu lançamento mas ao longo dos anos foi sendo redescoberto pelos estudiosos de literatura. Hoje é considerada uma obra prima. O filme nasceu da insistência pessoal de John Huston que viu no texto várias características com as quais ele próprio se identificou. A adaptação para as telas realmente é excelente. Muita gente pensa que se trata apenas de um filme de aventura que mostra um capitão alucinado na caça de uma baleia cachalote albina. Bom, isso é a superfície, na realidade Moby Dick é uma grande metáfora sobre a obsessão que corrói a mente dos homens. Basta trocarmos a baleia por qualquer outra coisa que cause a obsessão ao ser humano para entendermos muito bem o que o autor do livro quis passar. No fundo é a história de um homem disposto a sacrificar tudo (até sua vida) para ir atrás de um objetivo, nem que isso leve ele e seus tripulantes à ruína completa. Existem outras versões de Moby Dick mas nenhuma delas sequer conseguem chegar ao nível dessa de 1956 que foi dirigida por John Huston. Não é surpresa nenhuma que ele tenha feito esse filme. O tema era muito próximo a Huston que se empenhou em uma história parecida quando estava filmando na África (assistam “Coração de Caçador” de Clint Eastwood para entender). Outro ponto que conta muito a favor nessa versão é a dupla de atores: Gregory Peck (como o obcecado capitão e sua voz de trovão) e Orson Welles (em uma ótima cena passada num culto religioso). Os diálogos são ricos e declamados com eloquência então é garantido o show de interpretação desses atores. Até os efeitos ainda são charmosos, mesmo com mais de 50 anos de sua realização. Enfim, Moby Dick é excelente, uma viagem em busca do monstro interior de cada um de nós.
Almas em Chamas
Oficial General linha dura (Gregory Peck) é designado para comandar uma esquadrilha de bombardeiros da força aérea americana durante a II Guerra Mundial. Sua missão é realizar várias excursões sobre as instalações industriais do Terceiro Reich visando destruí-las, quebrando assim o eixo econômico do inimigo. Para isso deveriam realizar operações diurnas que eram extremamente perigosas para os pilotos que participavam dessas incursões ao território inimigo. "Almas em Chamas" é um excelente filme de guerra que foi realizado apenas quatro anos depois do fim do maior conflito armado da história da humanidade. Essa proximidade temporal permitiu aos realizadores do filme se utilizarem dos mesmos aviões reais que participarem dessas missões. Além disso a maioria dos figurantes eram aviadores da USAF que inclusive estiveram lá no front, no campo de batalha, a começar pelo próprio Peck que foi educado em colégio militar e se alistou durante a Guerra indo para a Europa enfrentar as forças nazistas. Com tanto grau de veracidade o resultado não poderia ser melhor. As cenas de batalha que surgem no filme com a guerra nos ares entre os pesadões bombardeiros americanos e os caças alemães são todas verídicas, reais, como é informado ao espectador logo no começo do filme. "Almas em Chamas" tem além das excelentes cenas de guerra um bônus a mais. Seu roteiro é extremamente bem escrito com muito cuidado no desenvolvimento dos personagens em terra. Cada membro da equipe é cuidadosamente construído. O General Frank Savage, personagem de Peck, por exemplo, é mostrado como um militar que sabe que tem que cumprir uma perigosa missão e vai fazer de tudo para cumpri-la da melhor forma possível. Ao contrário do comandante anterior ele não tinha a menor intenção de ser popular entre seus pilotos, pelo contrário, logo impõe respeito e ordem à esquadrilha. Em outras palavras é um sujeito realmente "Caxias" que não se importa de ser assim, pelo contrário, faz questão de ser. "Almas em Chamas" foi dirigido pelo ótimo Henry King de tantas aventuras medievais. Apesar de veterano nas telas esse foi apenas seu segundo filme de guerra (curiosamente o anterior, "Um Americano na Aviação", também focava em membros da força aérea). Seu grande mérito aqui realmente foi não cair na armadilha de fazer um filme vazio de ação e nada mais. Seu cuidado com os personagens em cena fez toda a diferença. Em suma "Almas em Chamas" é quase um documentário dessas missões de destruição do parque industrial alemão. Se você gosta de história militar o filme é obrigatório. Não perca!
O Matador
Jimmy Ringo (Gregory Peck) é um famoso pistoleiro do velho oeste que chega na pequena cidade de Cayenne. Ele almeja reencontrar a mãe de seu filho, além de finalmente encontrar o garoto que não vê há muitos anos. O problema é que Ringo não consegue se desvencilhar de sua fama de rápido no gatilho. Isso lhe causa todo tipo de problemas pois sempre encontra pela frente alguém que queira desafiá-lo para um duelo. Além disso as mortes que causou nunca o deixam em paz pois sempre há alguém na espreita tentando vingar um parente, um filho ou um amigo morto por Ringo. Esse “O Matador” é um clássico absoluto do chamado western piscológico. Aqui acompanhamos Ringo tentando ter um momento de normalidade em sua vida, algo simplesmente impossível pois sua fama o precede. Assim que chega na nova cidade a garotada corre para ver o famoso pistoleiro em pessoa. Os moradores obviamente ficam apreensivos com sua presença pois é quase certo acontecer algo inesperado na pacata localidade. Essa é uma das mitologias mais caras ao oeste americano, a do pistoleiro errante que não consegue mais viver em paz pois a cada novo lugar que chega é desafiado. Com isso acaba colecionando um enorme número de mortes em sua trajetória além de sempre ter que enfrentar potenciais vingadores aonde quer que vá. O personagem Jimmy Ringo interpretado por Gregory Peck é inspirado no famoso pistoleiro Johnny Ringo. Esse foi um dos mais famosos foras da lei do velho oeste. Sua história é bem conhecida por historiadores e especialistas no assunto. Ele era inimigo declarado do famoso xerife Wyatt Earp e seus irmãos, alem de possuir uma grande rixa pessoal com o famoso Doc Holliday. De fato ambos se odiavam. Quase sempre se encontrando em esfumaçados saloons a dupla entrou em confronto várias vezes. Infelizmente o roteiro de “O Matador” esqueceu de citar Doc na história de Ringo, embora não tenha esquecido de colocar Wyatt Earp no enredo. Aliás é bom frisar que muita coisa ficou fora da produção o que é compreensível pois o filme não se propõe a ser uma biografia de Ringo mas apenas ser um bom western psicológico – o que faz muito bem. Na história real Ringo foi o principal suspeito da morte de Virgil Earp, irmão do famoso xerife. Algum tempo depois foi encontrado morto no deserto e sua morte até hoje é motivo de controvérsias. Algumas teorias afirmam que ele encontrou-se finalmente com Doc Holliday em uma última e decisiva vez e que teria sido morto em um duelo mortal contra o famoso pistoleiro, mas nada disso é mostrado no filme. Seu destino aliás toma outros rumos no roteiro dessa produção, de forma totalmente ficcional. O resultado final, apesar das omissões históricas propositais, é de alto nível. Até hoje “O Matador” é citado em livros e revistas especializadas, sendo considerado um dos grandes faroestes do cinema americano. Johnny Ringo apareceria em muitas outras ocasiões no cinema, geralmente retratado como vilão sanguinário. O que importa aqui é a forma como parte de sua história é contada. Impossível não recomendar “O Matador”, um filme obrigatório para quem gosta da história do oeste selvagem.
Pablo Aluísio.
Filmografia Comentada: James Stewart
James Stewart brilhou nos filmes de Frank Capra mas foi muito mais do que isso. Realizou vários faroestes, dramas e filmes de guerra. Além disso teve a chance de realizar clássicos sob a direção de Alfred Hitchcock (como "Janela Indiscreta" e "O Homem Que Sabia Demais"). De formação interiorana, filho de dono de mercearia no interior do meio oeste americano, conseguiu um feito e tanto: se tornar estrela mesmo sendo em essência uma pessoa simples, comum. Segue comentários sobre filmes desse lendário ator.
Flechas de Fogo
Cowboy (James Stewart) encontra jovem índio agonizando no meio do deserto após ser atacado por tropas americanas. O socorre e acaba se tornando amigo da nação Apache liderada pelo chefe Cochise (Jeff Chandler). O problema é que o mesmo grupo está em guerra contra o exército americano pela posse do selvagem território do Arizona. Ciente da situação o personagem de James Stewart se coloca a disposição para servir de intermediário em um tratado de paz entre as nações indígenas e o governo dos Estados Unidos sob a presidência do general Grant. Muito curioso esse western que décadas antes de "Dança com Lobos" tratou a questão indígena de forma muito correta e realista. Há uma preocupação do roteiro em mostrar aspectos da cultura dos Apaches, suas danças, festejos. O filme chega ao ponto de mostrar um homem branco se apaixonando por uma jovem índia, algo bem ousado para os anos 50. James Steward apresenta sua personagem habitual: homem virtuoso, honesto, de boa índole. O único problema mais visível de Flechas de Fogo é a escalação de Jeff Chandler como o chefe da nação Apache. Chandler tinha traços bem americanos e nem a maquiagem forte ameniza esse aspecto. Curiosamente tirando ele e a jovem índia que se apaixona por Stewart nenhum dos demais indígenas do filme apresentam traços de homem branco - são índios ou descendentes mesmo, puro sangue. O filme foi dirigido pelo veterano cineasta Delmer Daves que faria pelo menos mais dois clássicos de western nos anos seguintes: "A Lei do Bravo" (outro western respeitoso com a causa do nativo americano) e "A Última Carroça". Seu maior sucesso comercial viria como roteirista ainda na década de 50 com o famoso "Tarde Demais Para Esquecer". Enfim, "Flechas de Fogo" (cujo título original é flecha quebrada - símbolo de paz entre os Apaches) vale a pena por ser socialmente consciente e à frente de seu tempo
Winchester 73
Roteiro e argumento: Uma das melhores coisas de Winchester 73. Sem exagero posso dizer que o roteiro desse filme lembra muito os roteiros de Robert Altman. Várias histórias vão sendo mostradas e aos poucos todas convergem para o mesmo local. O roteiro na verdade segue o rifle Winchester 73 que vai passando de mão em mão ao longo do filme. Ganha por James Stewart em um concurso em Dodge City (onde até Wyatt Earp aparece como coadjuvante) o rifle acaba sendo roubado indo parar nas mãos de um grupo Sioux, da cavalaria, de um covarde etc. Tudo muito bem escrito, me deixou surpreso. / Produção: A Universal era conhecida por realizar vários faroestes B mas aqui caprichou um pouco mais na produção. Isso porque contava com o astro James Stewart como estrela do filme (ele tinha rompido com seu estúdio anterior e tinha virado ator free lancer). Assim tendo em vista o potencial das bilheterias com sua presença a Universal investiu bem mais resultando numa produção caprichada. / Direção: Anthony Mann foi para James Stewart o que John Ford foi para John Wayne, ou seja, uma bela parceria se firmou entre ambos ao longo dos anos. Aqui a sintonia da dupla funciona novamente. Mann, com mão firme, não deixa o filme em nenhum momento cair na banalidade. Excelente trabalho de direção. / Elenco: James Stewart repete seu tradicional papel de homem íntegro e honesto. Para falar a verdade ele não precisava de muito mais do que isso. Sempre carismático e correto, Stewart lidera um elenco acima da média. O mais curioso aqui é a presença de dois jovens atores que iriam virar grandes astros nos anos que viriam: Rock Hudson e Tony Curtis. O primeiro está quase irreconhecível como um chefe Sioux (de peruca e pintado quase não reconheci Rock). Já Curtis, muito muito jovem faz um soldado da cavalaria no meio de um cerco indígena. Muito legal ver esses atores novatos tentando um lugar ao sol.
A História do FBI
O roteiro de "The FBI Story" não conta apenas uma história mas várias. Além disso mistura fatos reais com mera ficção. Ao longo de sua extensa duração (duas horas e meia) vamos acompanhando a vida pessoal e profissional do agente 'Chip' Hardesty (James Stewart). Esse personagem é fictício mas os casos que ele desvenda no filme não! Isso é interessante porque os roteiristas foram pragmáticos. Ao invés de focalizarem inúmeros agentes que resolveram todos esses famosos casos criminais eles resolveram juntar tudo em apenas um só personagem. Assim vamos acompanhando Chip resolvendo crimes que envolvem a KKK no sul racista, a morte de Dillinger, de Ma Barker, de agentes nazistas, de comunistas infiltrados em Nova Iorque etc. Como se trata de James Stewart obviamente Chip é um homem honesto, virtuoso, bom pai de família e cidadão exemplar. Já que estamos prestes a assistir a J. Edgar com Leonardo Di Caprio nada mais interessante do que ver antes esse "The FBI Story", isso porque o próprio J. Edgar Hoover está no filme, de carne e osso, em participação especial. Aliás o tom ufanista do filme o coloca numa posição de herói americano. Hoover é citado inúmeras vezes e o roteiro faz questão de mostrar o FBI antes de Hoover (uma bagunça) e depois de Hoover (uma super agência de investigação). Como era de se esperar o Bureau ajudou intensamente os produtores, abrindo seus centros de treinamento, mostrando agentes reais em cena e tudo o mais que seria possível. Com tanta ajuda oficial não é de se admirar que o resultado final seja bem chapa branca. Embora pareça mais uma propaganda de J Edgar Hoover (muito poderoso e influente na época em que o filme foi realizado), "The FBI Story" tem seus méritos próprios, pois consegue divertir no final das contas sendo bom entretenimento. Vale a pena assistir.
Um Certo Capitão Lockhart
Última parceria entre James Stewart e o diretor Anthony Mann, "The Man From Laramie" é um faroeste dos bons. O filme é uma adaptação do conto do escritor Thomas T. Flint que publicou originalmente seu texto nas páginas do Saturday Evening Post. Nos anos 50 era comum a publicação de textos com estórias do velho oeste nos grandes jornais americanos. O sucesso foi tão bom que eles depois começaram a publicar esses textos em forma de livros de bolso (até aqui no Brasil os livrinhos de faroeste de bolso foram extremamente populares). O roteiro também aproveita para se inspirar levemente na peça Rei Lear - o que fica evidente nas relações familiares em torno da família do rico fazendeiro Alec Waggoman (Donald Crisp). Idoso, extremamente rico e ficando cego, ele se preocupa sobre sua sucessão pois seu filho, Dave, é um mimado irresponsável que não sabe lidar com o poder que tem. James Stewart novamente nos brinda com uma excelente interpretação. Seus personagens em faroestes sempre foram cowboys menos viris do que os interpretados pelo Duke (John Wayne) mas não eram menos éticos e virtuosos. Aqui ele faz um ex capitão do exército americano que acaba se envolvendo em um conflito contra Dave, o herdeiro do clã Waggoman. O curioso é que o roteiro, muito bem trabalhado, traz inúmeras reviravoltas e uma sub trama muito interessante envolvendo contrabando de rifles automáticos para a tribo Apache. O filme é bem cadenciado, com preocupação de se desenvolver todos os personagens e o resultado final é muito eficiente, o que surpreende pois a duração é curta, pouco mais de 90 minutos, o que demonstra que para se contar uma boa estória não é necessário encher a paciência do espectador com filmes longos demais.
A Águia Solitária
O filme enfoca a travessia do oceano Atlântico por Charles Lindberg em 1927. Para quem andou cabulando as aulas de história esse foi um evento e tanto e o piloto virou automaticamente herói americano, sendo recebido por incríveis 4 milhões de pessoas quando retornou a Nova Iorque de sua famosa aventura! Em vista de todo esse clima, digamos, ufanista, não é de se admirar que o filme adote uma postura de reverência com o personagem principal. Para interpretar uma pessoa com toda essa reputação nada mais natural que chamar James Stewart, que naquele momento de sua carreira estava totalmente consagrado, não apenas por seus filmes ao lado de Frank Capra mas também por uma invejável lista de sucessos que vinha colecionando. Além disso interpretar heróis ou virtuosos era com ele mesmo! O roteiro pode ser chamado de burocrático pois não toma nenhuma grande liberdade com o fato histórico. Vamos acompanhando a travessia e como o filme não poderia se concentrar apenas no que acontecia dentro da pequenina cabine do Spirit St Louis durante duas horas de duração, os roteiristas resolveram intercalar momentos em flashback da vida de Lindberg enquanto ele vai atravessando o oceano. Funciona muito bem uma vez que evita que o espectador fique entediado. O diretor aqui é o consagrado Billy Wilder, famoso por sua fina ironia e cinismo que usava em seus filmes. Porém aqui em "Águia Solitária" nada disso acontece. Claro que ele coloca pequenos momentos de humor aqui ou acolá mas em relação a Lindberg ele não arrisca e adota uma postura de respeito e consagração. Interessante é que anos depois a figura desse "herói" foi seriamente arranhada pois alguns historiadores afirmaram que ele tinha uma simpatia nada disfarçada pelo regime nazista! Claro que nada disso é mostrado no filme, pois foi algo que surgiu depois e mesmo que não fosse duvido muito que alguém fosse mexer em um vespeiro desses. Enfim, apesar dos pesares, da longa duração, do ufanismo e da falta de leveza, "Águia Solitária" é um bom entretenimento - e serve também como aula de história para os que achavam a escola um tédio!
The Cheyenne Social Club
The Cheyenne Social Club é um western diferente, mais leve e com muito bom humor. Só o fato de reunir esses dois mitos, James Stewart e Henry Fonda, já o tornaria obrigatório a qualquer fã de cinema mas ainda tem mais, outro grande nome na direção: Gene Kelly! Muitos podem torcer o nariz para o fato do filme ter sido dirigido por um ator e dançarino especialista em musicais mas podem ficar tranquilos, o resultado é muito satisfatório. Obviamente que a ação fica em segundo plano, revelando-se o roteiro uma fina comédia de humor de costumes, mas isso não é um empecilho. O filme foi lançado em 1970, quando o gênero faroeste já estava saindo de moda, mas vamos convir que tudo aqui se encaixa perfeitamente, até mesmo na idade mais avançada dos atores, que interpretam cowboys velhos de guerra que são surpreendidos por uma "herança" no mínimo inusitada. Imagine herdar um bordel numa cidade do velho oeste! É justamente em cima dessa situação curiosa e cômica que o roteiro se desenvolve. James Stewart novamente faz o papel de um personagem com grande virtude e valores morais. Embora inicialmente isso não fique muito claro logo o roteiro toma rumos para reafirmar essa característica que de uma forma ou outra sempre marcou todos os seus personagens de sua carreira. Já Henry Fonda está ótimo. Fazendo um cowboy casca grossa o ator está mais carismático do que nunca. Realmente adorei sua caracterização ao estilo interiorano esperto. Na trama ele funciona como escada para o amigo James Stewart mas isso em nenhum momento é um problema pois ambos sempre trabalharam excepcionalmente bem juntos. A dupla está perfeita em todas as cenas, demonstrando mesmo como eram bons atores, na verdade eram grandes amigos na vida real e isso passa para a tela. Enfim é isso, embora não seja tão conhecido "The Cheyenne Social Club" é no final das contas uma excelente diversão, com tudo o que o estilo western pede: bom humor, cenas de duelo, tiroteios e grandes atores em cena. Quem precisa de mais do que isso?
O Último Tiro
No mesmo ano em que Henry Fonda estrelou o clássico “Era uma Vez no Oeste” ele realizou ao lado do amigo James Stewart esse “Firecreek” um de seus melhores westerns. Infelizmente não é de seus trabalhos mais conhecidos hoje em dia, o que é uma injustiça. Muito subestimada a fita tem um excelente roteiro, um argumento excepcional e é muito bem produzida. Na estória acompanhamos a chegada do bando de Bob Larkin (Henry Fonda) na pequenina cidadela de Firecreek. Essa é uma comunidade extremamente pacífica cuja população é formada basicamente por humildes comerciantes e pequenos proprietários rurais, entre eles Johnny Cobb (James Stewart) cuja esposa está em trabalho de parto em seu rancho. Ao visitar a cidade para comprar mantimentos acaba encontrando Larkin e seus facínoras no local. O problema maior para Cobb é que apesar de não ter treinamento e nem experiência responde pela segurança da cidade, servindo no posto de Xerife interino enquanto não é nomeado um oficial da lei pelo Estado. Obviamente Larkin e sua quadrilha não deixarão os moradores em paz após descobrir que o homem responsável pela lei no lugar não é páreo para eles, pistoleiros profissionais. Assim são colocados em lados extremos o pistoleiro rápido no gatilho, com várias mortes nas costas e um simples e pacato cidadão que apenas quer que a lei e a ordem continue reinando em Firecreek. É a antiga metáfora do cordeiro contra o lobo, que se sacrificará se for necessário para proteger os que lhe são queridos e caros. Assistir Fonda e Stewart no mesmo filme já é um prazer, agora imaginem ver esses dois grandes astros duelando pelo que é certo e justo numa cidade perdida do velho oeste americano! Não existe melhor representatividade da mitologia do velho oeste do que essa. Henry Fonda era um ator extremamente expressivo que conseguia transmitir tudo apenas com um olhar. Seu Bob Larkin é um envelhecido pistoleiro tentando manter a autoridade entre seu grupo de bandidos. Já James Stewart explora muito bem sua imagem de homem trabalhador, ético, honesto, devotado à sua família e íntegro (algo que aliás era parte de sua personalidade real e não apenas um jogo de imagem ou marketing pois ele era exatamente assim). Esse é o melhor filme do diretor Vincent McEveety um veterano da TV que dirigiu entre outros os grandes ícones televisivos Jornada nas Estrelas, Os Intocáveis e Columbo. Sua direção aqui é segura e centrada, tudo resultando em um faroeste realmente excepcional, bem acima da média. Em conclusão podemos classificar “Firecreek” como um belo momento, resultado de mais uma feliz união profissional entre Stewart e Fonda em um faroeste puro sangue que agradará em cheio os fãs e puristas do gênero.
Meu Amigo Harvey
Elwood P. Dowd (James Stewart) é um beberrão simpático e agradável que afirma conviver e conversar com um coelho gigante de 1.90m de altura chamado Harvey. Alarmadas sua irmã e sua sobrinha decidem internar Dowd em uma instituição psiquiátrica o que dará origem a inúmeras confusões envolvendo todos. “Meu Amigo Harvey” é um dos mais divertidos filmes da carreira de James Stewart. O argumento inusitado e ímpar foi baseado numa famosa peça teatral americana escrita por Mary Chase. Muito popular na época a peça chegou a ganhar o Pullitzer, um dos mais importantes prêmios da literatura norte-americana. Curiosamente o texto brinca com a existência ou não de Harvey. Em certos momentos o pobre Dowd parece apenas um biruta qualquer mas logo após vários traços da existência real de Harvey surgem em cena, brincando com a tênue linha que separa insanos de sóbrios. O fato do ser imaginário Harvey ser um coelho gigante também atrai muito a criançada e o filme leve e divertido certamente vai agradar a todas as faixas de idade. James Stewart está maravilhoso no papel do lunático Dowd. Sua caracterização chega a ter um tom muito poético e delicado e a verdade sobre Harvey vai sendo desvendada aos poucos ao longo do filme. Até que ponto a realidade é mais interessante do que a fantasia? E qual é o problema de um adulto afirmar que tem um amigo imaginário em forma de coelho gigante se ele não faz mal a ninguém, pelo contrário, ajuda ao próximo sempre que é preciso? O roteiro levanta muitas questões interessantes além dessas e no final ficamos com um sorriso simpático no rosto, tal a leveza do desenrolar da trama do filme. “Meu Amigo Harvey” foi dirigido pelo cineasta alemão radicado nos Estados Unidos Henry Koster. Seu olhar europeu contribuiu muito para o resultado final transformando Harvey em um dos personagens mais simpáticos do cinema americano e isso mesmo nunca aparecendo em cena. Para os que gostam de lirismo e diversão o filme é mais do que recomendado.
O Homem Que Matou o Facínora
“Quando a lenda se torna mais interessante do que o fato que se publique a lenda”. Essa frase colocada na boca de um dos personagens de “O Homem que Matou o Facínora” resume muito bem esse maravilhoso western, um dos grandes clássicos da história do cinema americano. John Ford, um mestre em extrair grandes lições de estórias aparentemente simples, aqui tem um dos momentos mais inspirados de toda a sua carreira. Na tela acompanhamos a chegada do senador Ransom Stoddard (James Stewart) na pequenina cidade onde começou sua carreira política muitos anos antes. Ele vem para o enterro de um velho conhecido, Tom Doniphon (John Wayne). Mas quem seria Tom Doniphon na realidade? Através de flashback somos apresentados aos acontecimentos do passado onde Tom e Ranson tomaram parte em eventos que ficariam na história da região – e que em consequência levaria Ranson a ter uma extremamente bem sucedida carreira política nos anos que viriam. John Ford trabalha maravilhosamente bem o roteiro, com vários leituras sublimares que apenas um texto seria insuficiente para demonstrar. Um dessas mensagens nas entrelinhas é o papel desempenhado pelo próprio personagem de John Wayne. Embora tenha sido creditado como o ator principal do filme (fruto de seu status de grande astro na época) o fato é que seu personagem é coadjuvante na trama, mesmo que não seja um papel secundário qualquer. Na realidade esse filme é uma parábola da capacidade de se doar pela felicidade de quem se ama. Tom é um rústico cowboy do interior mas sua paixão pela jovem Hallie (Vera Miles) é tão profunda e sincera que ele deixa de lado até mesmo seus interesses pessoais para proteger Ranson (Stewart) pois é óbvio que Hallie o tem em grande consideração. Embora durão no exterior, Tom (Wayne) é na verdade uma pessoa extremamente altruísta, solidária e leal a ponto de ficar em segundo plano, abrindo mão de seus próprios sonhos pela felicidade da mulher que ama. Falar mais sobre a trama seria tirar parte de seu impacto. Outro ponto excelente da produção é seu elenco excepcional. Como se não bastasse termos dois mitos em cena (James Stewart e John Wayne) o filme tem um elenco de apoio de respeito a começar pelos bandidos do filme. Liberty Valance (o facínora do título nacional) é interpretado com brilhantismo por Lee Marvin, um ícone dos filmes de western. Ao seu lado formando o bando de criminosos está o famoso Lee Van Cleef que estrelaria uma longa série de faroestes nos anos seguintes. Em suma, "O Homem Que Matou o Facínora" é um desses faroestes que podemos qualificar sem medo de exageros como "monumental". Um grande momento nas carreiras de Wayne, Stewart e Ford. Impecável em todos os sentidos.
Raça Brava
Martha Price (Maureen O'Hara) é uma viúva que ao lado de sua filha, Hilary (Juliet Mills), e do cowboy Sam Burnett (James Stewart) resolve partir para o distante Texas com o objetivo de implantar a criação de gado da raça Hereford na região. A iniciativa dela esbarra na mentalidade dos fazendeiros texanos que acham o animal inapropriado para criação por causa do clima hostil e inóspito."Raça Brava" é um "Western de pecuária", ou seja, um faroeste diferente que lida com um tema pouco comum no gênero - a implantação do gado Hereford nas fazendas do oeste. A raça Hereford é natural da Inglaterra e só chegou nos EUA no século XIX. Forte e resistente hoje domina as fazendas americanas, o que não deixa de ser irônico pois quando chegou na América encontrou grande resistência no mercado pecuarista. Embora baseado em fatos reais o filme toma várias liberdades, preferindo deixar o tom mais sério de lado para abraçar um desenvolvimento mais soft, leve, de pura diversão. Há cenas cômicas (como a luta inicial dentro de um curral) e uma abordagem mais romântica na fase final da produção mas no saldo final, mesmo não sendo um produto historicamente fiel aos fatos, vale como diversão familiar descompromissada. O elenco é liderado por James Stewart. Aqui ele prefere uma caracterização bem mais caricata pois seu personagem, um cowboy caipira, fala com forte sotaque. Stewart parece seguir o tom mais cômico do roteiro. A grande surpresa no elenco feminino vem com a dama Maureen O´Hara de tantos filmes clássicos. Preferida de grandes diretores como John Ford, Henry King e Alfred Hitchcock aqui ela tenta se adaptar a um tipo de produção diferente. A elegante atriz empresta muito glamour à sua personagem, uma britânica viúva que tenta a sorte no velho oeste. Na direção temos o também britânico Andrew V. McLaglen que iria nos anos seguintes iniciar uma produtiva parceria ao lado de um de seus atores preferidos, John Wayne. Em suma, “The Rare Breed” é um faroeste bucólico, levemente bem humorado, com muitas paisagens de cartão postal e um elenco carismático. Uma produção bonita e bem fotografada que vai interessar em especial os criadores de gado da raça Hereford.
A Conquista do Oeste
Quando a Metro anunciou "A Conquista do Oeste" o estúdio deixou claro suas intenções: realizar o filme definitivo sobre a expansão da civilização norte-americana em direção ao oeste selvagem. Para isso não mediu esforços colocando à disposição do filme tudo o que estúdio tinha de mais importante na época. Atores, diretores, roteiristas, tudo do bom e do melhor foi direcionado para esse projeto. Além do capital humano a Metro resolveu investir em um novo formato de exibição onde três telas enormes projetavam cenas do filme. A técnica conhecida como Cinerama visava proporcionar ao espectador uma sensação única de imersão dentro do filme. Para isso há uso de longas tomadas abertas, tudo para dar a sensação ao público de que realmente está lá, no velho oeste. Era claramente uma tentativa da Metro em barrar o avanço da televisão que naquele ano havia tirado uma grande parte da bilheteria dos filmes. Assim "A Conquista do Oeste" chegava para marcar a história do cinema, pelo menos essa era a intenção. Realmente é uma produção de encher os olhos, com três diretores e um elenco fenomenal. O resultado de tanto pretensão porém ficou pelo meio do caminho. "A Conquista do Oeste" passa longe de ser o filme definitivo do western americano. Na realidade é uma produção muito megalomaníaca que a despeito dos grandes nomes envolvidos não passa de uma fita convencional, pouco memorável. O problema é definitivamente de seu roteiro. São várias estórias com linhas narrativas que as ligam numa unidade mas nenhuma delas é bem desenvolvida. Tudo soa bem superficial. O grande elenco também é outro problema. Apesar dos mitos envolvidos nenhum deles tem oportunidade de disponibilizar um bom trabalho, realmente marcante. John Wayne, por exemplo, só tem praticamente duas cenas sem maior importância. Ele interpreta o famoso general Sherman mas isso faz pouca diferença pois tão rápido como aparece, desaparece do filme, deixando desolados seus fãs que esperavam por algo mais substancioso. James Stewart tem um papel um pouquinho melhor, de um pioneiro que vive nas montanhas mas é outro grande nome que também é desperdiçado. A única que faz parte de todos os segmentos é a personagem de Debbie Reynolds mas ela não é uma figura de ponta no mundo do faroeste. Quem não gosta dela certamente torcerá o nariz. Assim em conclusão podemos definir "A Conquista do Oeste" como um filme grande mas não um grande filme. Faltou um texto melhor escrito, certamente.
O Preço de Um Covarde
Dee Bishop (Dean Martin) é líder de um bando de assaltantes de bancos no velho oeste. Após uma tentativa frustrada de assalto todos são presos pelo xerife July Johnson (George Kennedy). Julgados e condenados à forca não parece mais haver esperanças para os criminosos até o dia em que chega na cidade o carrasco que vai executar o enforcamento. Homem educado, de gestos gentis ele logo ganha a simpatia de todos. O único problema é que ele na realidade não é quem afirma ser. Na verdade se trata de Mace Bishop (James Stewart) que tentará de todas as formas evitar que seu querido irmão seja enforcado na cidade. Excelente western com um elenco maravilhoso, além de James Stewart e Dean Martin a ótima produção conta com as presenças da linda Raquel Welch e Andrew Prine. A primeira coisa que chama a atenção é o próprio personagem de James Stewart. Ele é um ladrão, tal como seu irmão, assalta bancos e mente o tempo todo mas mesmo assim não deixa de ser charmoso e fascinante para os moradores da região. James Stewart geralmente interpretava papéis de homens virtuosos, íntegros, éticos e esse Mace Bishop é uma exceção nessa linha. Sua atuação é mais uma vez muito digna e marcante. Ao seu lado em cena o cantor Dean Martin mais uma vez não compromete. É curioso porque muitos decretaram o final de sua carreira no cinema após se separar de Jerry Lewis. Ledo engano. Martin conseguiu superar essa separação e ao longo dos anos construiu uma sólida filmografia com alguns filmes realmente maravilhosos. Aqui ele interpreta o irmão caçula Bishop. No fundo tudo o que deseja é escapar das garras da lei para ter um novo recomeço em algum lugar onde possa finalmente ter paz e tranquilidade. O termo “bandolero” do título original se refere a um vasto território hostil localizado além do Rio Grande (marco geográfico que separa o México dos EUA) que é na realidade uma terra de ninguém, dominado por saqueadores e ladrões mexicanos. É justamente nesse local onde se passará os eventos mais dramáticos de todo o filme. Em conclusão “O Preço de um Covarde” é mais um momento marcante na rica carreira do saudoso James Stewart, um ator diferenciado que aqui surge em cena em um papel incomum. Simplesmente imperdível.
Pablo Aluísio.
Flechas de Fogo
Cowboy (James Stewart) encontra jovem índio agonizando no meio do deserto após ser atacado por tropas americanas. O socorre e acaba se tornando amigo da nação Apache liderada pelo chefe Cochise (Jeff Chandler). O problema é que o mesmo grupo está em guerra contra o exército americano pela posse do selvagem território do Arizona. Ciente da situação o personagem de James Stewart se coloca a disposição para servir de intermediário em um tratado de paz entre as nações indígenas e o governo dos Estados Unidos sob a presidência do general Grant. Muito curioso esse western que décadas antes de "Dança com Lobos" tratou a questão indígena de forma muito correta e realista. Há uma preocupação do roteiro em mostrar aspectos da cultura dos Apaches, suas danças, festejos. O filme chega ao ponto de mostrar um homem branco se apaixonando por uma jovem índia, algo bem ousado para os anos 50. James Steward apresenta sua personagem habitual: homem virtuoso, honesto, de boa índole. O único problema mais visível de Flechas de Fogo é a escalação de Jeff Chandler como o chefe da nação Apache. Chandler tinha traços bem americanos e nem a maquiagem forte ameniza esse aspecto. Curiosamente tirando ele e a jovem índia que se apaixona por Stewart nenhum dos demais indígenas do filme apresentam traços de homem branco - são índios ou descendentes mesmo, puro sangue. O filme foi dirigido pelo veterano cineasta Delmer Daves que faria pelo menos mais dois clássicos de western nos anos seguintes: "A Lei do Bravo" (outro western respeitoso com a causa do nativo americano) e "A Última Carroça". Seu maior sucesso comercial viria como roteirista ainda na década de 50 com o famoso "Tarde Demais Para Esquecer". Enfim, "Flechas de Fogo" (cujo título original é flecha quebrada - símbolo de paz entre os Apaches) vale a pena por ser socialmente consciente e à frente de seu tempo
Winchester 73
Roteiro e argumento: Uma das melhores coisas de Winchester 73. Sem exagero posso dizer que o roteiro desse filme lembra muito os roteiros de Robert Altman. Várias histórias vão sendo mostradas e aos poucos todas convergem para o mesmo local. O roteiro na verdade segue o rifle Winchester 73 que vai passando de mão em mão ao longo do filme. Ganha por James Stewart em um concurso em Dodge City (onde até Wyatt Earp aparece como coadjuvante) o rifle acaba sendo roubado indo parar nas mãos de um grupo Sioux, da cavalaria, de um covarde etc. Tudo muito bem escrito, me deixou surpreso. / Produção: A Universal era conhecida por realizar vários faroestes B mas aqui caprichou um pouco mais na produção. Isso porque contava com o astro James Stewart como estrela do filme (ele tinha rompido com seu estúdio anterior e tinha virado ator free lancer). Assim tendo em vista o potencial das bilheterias com sua presença a Universal investiu bem mais resultando numa produção caprichada. / Direção: Anthony Mann foi para James Stewart o que John Ford foi para John Wayne, ou seja, uma bela parceria se firmou entre ambos ao longo dos anos. Aqui a sintonia da dupla funciona novamente. Mann, com mão firme, não deixa o filme em nenhum momento cair na banalidade. Excelente trabalho de direção. / Elenco: James Stewart repete seu tradicional papel de homem íntegro e honesto. Para falar a verdade ele não precisava de muito mais do que isso. Sempre carismático e correto, Stewart lidera um elenco acima da média. O mais curioso aqui é a presença de dois jovens atores que iriam virar grandes astros nos anos que viriam: Rock Hudson e Tony Curtis. O primeiro está quase irreconhecível como um chefe Sioux (de peruca e pintado quase não reconheci Rock). Já Curtis, muito muito jovem faz um soldado da cavalaria no meio de um cerco indígena. Muito legal ver esses atores novatos tentando um lugar ao sol.
A História do FBI
O roteiro de "The FBI Story" não conta apenas uma história mas várias. Além disso mistura fatos reais com mera ficção. Ao longo de sua extensa duração (duas horas e meia) vamos acompanhando a vida pessoal e profissional do agente 'Chip' Hardesty (James Stewart). Esse personagem é fictício mas os casos que ele desvenda no filme não! Isso é interessante porque os roteiristas foram pragmáticos. Ao invés de focalizarem inúmeros agentes que resolveram todos esses famosos casos criminais eles resolveram juntar tudo em apenas um só personagem. Assim vamos acompanhando Chip resolvendo crimes que envolvem a KKK no sul racista, a morte de Dillinger, de Ma Barker, de agentes nazistas, de comunistas infiltrados em Nova Iorque etc. Como se trata de James Stewart obviamente Chip é um homem honesto, virtuoso, bom pai de família e cidadão exemplar. Já que estamos prestes a assistir a J. Edgar com Leonardo Di Caprio nada mais interessante do que ver antes esse "The FBI Story", isso porque o próprio J. Edgar Hoover está no filme, de carne e osso, em participação especial. Aliás o tom ufanista do filme o coloca numa posição de herói americano. Hoover é citado inúmeras vezes e o roteiro faz questão de mostrar o FBI antes de Hoover (uma bagunça) e depois de Hoover (uma super agência de investigação). Como era de se esperar o Bureau ajudou intensamente os produtores, abrindo seus centros de treinamento, mostrando agentes reais em cena e tudo o mais que seria possível. Com tanta ajuda oficial não é de se admirar que o resultado final seja bem chapa branca. Embora pareça mais uma propaganda de J Edgar Hoover (muito poderoso e influente na época em que o filme foi realizado), "The FBI Story" tem seus méritos próprios, pois consegue divertir no final das contas sendo bom entretenimento. Vale a pena assistir.
Um Certo Capitão Lockhart
Última parceria entre James Stewart e o diretor Anthony Mann, "The Man From Laramie" é um faroeste dos bons. O filme é uma adaptação do conto do escritor Thomas T. Flint que publicou originalmente seu texto nas páginas do Saturday Evening Post. Nos anos 50 era comum a publicação de textos com estórias do velho oeste nos grandes jornais americanos. O sucesso foi tão bom que eles depois começaram a publicar esses textos em forma de livros de bolso (até aqui no Brasil os livrinhos de faroeste de bolso foram extremamente populares). O roteiro também aproveita para se inspirar levemente na peça Rei Lear - o que fica evidente nas relações familiares em torno da família do rico fazendeiro Alec Waggoman (Donald Crisp). Idoso, extremamente rico e ficando cego, ele se preocupa sobre sua sucessão pois seu filho, Dave, é um mimado irresponsável que não sabe lidar com o poder que tem. James Stewart novamente nos brinda com uma excelente interpretação. Seus personagens em faroestes sempre foram cowboys menos viris do que os interpretados pelo Duke (John Wayne) mas não eram menos éticos e virtuosos. Aqui ele faz um ex capitão do exército americano que acaba se envolvendo em um conflito contra Dave, o herdeiro do clã Waggoman. O curioso é que o roteiro, muito bem trabalhado, traz inúmeras reviravoltas e uma sub trama muito interessante envolvendo contrabando de rifles automáticos para a tribo Apache. O filme é bem cadenciado, com preocupação de se desenvolver todos os personagens e o resultado final é muito eficiente, o que surpreende pois a duração é curta, pouco mais de 90 minutos, o que demonstra que para se contar uma boa estória não é necessário encher a paciência do espectador com filmes longos demais.
A Águia Solitária
O filme enfoca a travessia do oceano Atlântico por Charles Lindberg em 1927. Para quem andou cabulando as aulas de história esse foi um evento e tanto e o piloto virou automaticamente herói americano, sendo recebido por incríveis 4 milhões de pessoas quando retornou a Nova Iorque de sua famosa aventura! Em vista de todo esse clima, digamos, ufanista, não é de se admirar que o filme adote uma postura de reverência com o personagem principal. Para interpretar uma pessoa com toda essa reputação nada mais natural que chamar James Stewart, que naquele momento de sua carreira estava totalmente consagrado, não apenas por seus filmes ao lado de Frank Capra mas também por uma invejável lista de sucessos que vinha colecionando. Além disso interpretar heróis ou virtuosos era com ele mesmo! O roteiro pode ser chamado de burocrático pois não toma nenhuma grande liberdade com o fato histórico. Vamos acompanhando a travessia e como o filme não poderia se concentrar apenas no que acontecia dentro da pequenina cabine do Spirit St Louis durante duas horas de duração, os roteiristas resolveram intercalar momentos em flashback da vida de Lindberg enquanto ele vai atravessando o oceano. Funciona muito bem uma vez que evita que o espectador fique entediado. O diretor aqui é o consagrado Billy Wilder, famoso por sua fina ironia e cinismo que usava em seus filmes. Porém aqui em "Águia Solitária" nada disso acontece. Claro que ele coloca pequenos momentos de humor aqui ou acolá mas em relação a Lindberg ele não arrisca e adota uma postura de respeito e consagração. Interessante é que anos depois a figura desse "herói" foi seriamente arranhada pois alguns historiadores afirmaram que ele tinha uma simpatia nada disfarçada pelo regime nazista! Claro que nada disso é mostrado no filme, pois foi algo que surgiu depois e mesmo que não fosse duvido muito que alguém fosse mexer em um vespeiro desses. Enfim, apesar dos pesares, da longa duração, do ufanismo e da falta de leveza, "Águia Solitária" é um bom entretenimento - e serve também como aula de história para os que achavam a escola um tédio!
The Cheyenne Social Club
The Cheyenne Social Club é um western diferente, mais leve e com muito bom humor. Só o fato de reunir esses dois mitos, James Stewart e Henry Fonda, já o tornaria obrigatório a qualquer fã de cinema mas ainda tem mais, outro grande nome na direção: Gene Kelly! Muitos podem torcer o nariz para o fato do filme ter sido dirigido por um ator e dançarino especialista em musicais mas podem ficar tranquilos, o resultado é muito satisfatório. Obviamente que a ação fica em segundo plano, revelando-se o roteiro uma fina comédia de humor de costumes, mas isso não é um empecilho. O filme foi lançado em 1970, quando o gênero faroeste já estava saindo de moda, mas vamos convir que tudo aqui se encaixa perfeitamente, até mesmo na idade mais avançada dos atores, que interpretam cowboys velhos de guerra que são surpreendidos por uma "herança" no mínimo inusitada. Imagine herdar um bordel numa cidade do velho oeste! É justamente em cima dessa situação curiosa e cômica que o roteiro se desenvolve. James Stewart novamente faz o papel de um personagem com grande virtude e valores morais. Embora inicialmente isso não fique muito claro logo o roteiro toma rumos para reafirmar essa característica que de uma forma ou outra sempre marcou todos os seus personagens de sua carreira. Já Henry Fonda está ótimo. Fazendo um cowboy casca grossa o ator está mais carismático do que nunca. Realmente adorei sua caracterização ao estilo interiorano esperto. Na trama ele funciona como escada para o amigo James Stewart mas isso em nenhum momento é um problema pois ambos sempre trabalharam excepcionalmente bem juntos. A dupla está perfeita em todas as cenas, demonstrando mesmo como eram bons atores, na verdade eram grandes amigos na vida real e isso passa para a tela. Enfim é isso, embora não seja tão conhecido "The Cheyenne Social Club" é no final das contas uma excelente diversão, com tudo o que o estilo western pede: bom humor, cenas de duelo, tiroteios e grandes atores em cena. Quem precisa de mais do que isso?
O Último Tiro
No mesmo ano em que Henry Fonda estrelou o clássico “Era uma Vez no Oeste” ele realizou ao lado do amigo James Stewart esse “Firecreek” um de seus melhores westerns. Infelizmente não é de seus trabalhos mais conhecidos hoje em dia, o que é uma injustiça. Muito subestimada a fita tem um excelente roteiro, um argumento excepcional e é muito bem produzida. Na estória acompanhamos a chegada do bando de Bob Larkin (Henry Fonda) na pequenina cidadela de Firecreek. Essa é uma comunidade extremamente pacífica cuja população é formada basicamente por humildes comerciantes e pequenos proprietários rurais, entre eles Johnny Cobb (James Stewart) cuja esposa está em trabalho de parto em seu rancho. Ao visitar a cidade para comprar mantimentos acaba encontrando Larkin e seus facínoras no local. O problema maior para Cobb é que apesar de não ter treinamento e nem experiência responde pela segurança da cidade, servindo no posto de Xerife interino enquanto não é nomeado um oficial da lei pelo Estado. Obviamente Larkin e sua quadrilha não deixarão os moradores em paz após descobrir que o homem responsável pela lei no lugar não é páreo para eles, pistoleiros profissionais. Assim são colocados em lados extremos o pistoleiro rápido no gatilho, com várias mortes nas costas e um simples e pacato cidadão que apenas quer que a lei e a ordem continue reinando em Firecreek. É a antiga metáfora do cordeiro contra o lobo, que se sacrificará se for necessário para proteger os que lhe são queridos e caros. Assistir Fonda e Stewart no mesmo filme já é um prazer, agora imaginem ver esses dois grandes astros duelando pelo que é certo e justo numa cidade perdida do velho oeste americano! Não existe melhor representatividade da mitologia do velho oeste do que essa. Henry Fonda era um ator extremamente expressivo que conseguia transmitir tudo apenas com um olhar. Seu Bob Larkin é um envelhecido pistoleiro tentando manter a autoridade entre seu grupo de bandidos. Já James Stewart explora muito bem sua imagem de homem trabalhador, ético, honesto, devotado à sua família e íntegro (algo que aliás era parte de sua personalidade real e não apenas um jogo de imagem ou marketing pois ele era exatamente assim). Esse é o melhor filme do diretor Vincent McEveety um veterano da TV que dirigiu entre outros os grandes ícones televisivos Jornada nas Estrelas, Os Intocáveis e Columbo. Sua direção aqui é segura e centrada, tudo resultando em um faroeste realmente excepcional, bem acima da média. Em conclusão podemos classificar “Firecreek” como um belo momento, resultado de mais uma feliz união profissional entre Stewart e Fonda em um faroeste puro sangue que agradará em cheio os fãs e puristas do gênero.
Meu Amigo Harvey
Elwood P. Dowd (James Stewart) é um beberrão simpático e agradável que afirma conviver e conversar com um coelho gigante de 1.90m de altura chamado Harvey. Alarmadas sua irmã e sua sobrinha decidem internar Dowd em uma instituição psiquiátrica o que dará origem a inúmeras confusões envolvendo todos. “Meu Amigo Harvey” é um dos mais divertidos filmes da carreira de James Stewart. O argumento inusitado e ímpar foi baseado numa famosa peça teatral americana escrita por Mary Chase. Muito popular na época a peça chegou a ganhar o Pullitzer, um dos mais importantes prêmios da literatura norte-americana. Curiosamente o texto brinca com a existência ou não de Harvey. Em certos momentos o pobre Dowd parece apenas um biruta qualquer mas logo após vários traços da existência real de Harvey surgem em cena, brincando com a tênue linha que separa insanos de sóbrios. O fato do ser imaginário Harvey ser um coelho gigante também atrai muito a criançada e o filme leve e divertido certamente vai agradar a todas as faixas de idade. James Stewart está maravilhoso no papel do lunático Dowd. Sua caracterização chega a ter um tom muito poético e delicado e a verdade sobre Harvey vai sendo desvendada aos poucos ao longo do filme. Até que ponto a realidade é mais interessante do que a fantasia? E qual é o problema de um adulto afirmar que tem um amigo imaginário em forma de coelho gigante se ele não faz mal a ninguém, pelo contrário, ajuda ao próximo sempre que é preciso? O roteiro levanta muitas questões interessantes além dessas e no final ficamos com um sorriso simpático no rosto, tal a leveza do desenrolar da trama do filme. “Meu Amigo Harvey” foi dirigido pelo cineasta alemão radicado nos Estados Unidos Henry Koster. Seu olhar europeu contribuiu muito para o resultado final transformando Harvey em um dos personagens mais simpáticos do cinema americano e isso mesmo nunca aparecendo em cena. Para os que gostam de lirismo e diversão o filme é mais do que recomendado.
O Homem Que Matou o Facínora
“Quando a lenda se torna mais interessante do que o fato que se publique a lenda”. Essa frase colocada na boca de um dos personagens de “O Homem que Matou o Facínora” resume muito bem esse maravilhoso western, um dos grandes clássicos da história do cinema americano. John Ford, um mestre em extrair grandes lições de estórias aparentemente simples, aqui tem um dos momentos mais inspirados de toda a sua carreira. Na tela acompanhamos a chegada do senador Ransom Stoddard (James Stewart) na pequenina cidade onde começou sua carreira política muitos anos antes. Ele vem para o enterro de um velho conhecido, Tom Doniphon (John Wayne). Mas quem seria Tom Doniphon na realidade? Através de flashback somos apresentados aos acontecimentos do passado onde Tom e Ranson tomaram parte em eventos que ficariam na história da região – e que em consequência levaria Ranson a ter uma extremamente bem sucedida carreira política nos anos que viriam. John Ford trabalha maravilhosamente bem o roteiro, com vários leituras sublimares que apenas um texto seria insuficiente para demonstrar. Um dessas mensagens nas entrelinhas é o papel desempenhado pelo próprio personagem de John Wayne. Embora tenha sido creditado como o ator principal do filme (fruto de seu status de grande astro na época) o fato é que seu personagem é coadjuvante na trama, mesmo que não seja um papel secundário qualquer. Na realidade esse filme é uma parábola da capacidade de se doar pela felicidade de quem se ama. Tom é um rústico cowboy do interior mas sua paixão pela jovem Hallie (Vera Miles) é tão profunda e sincera que ele deixa de lado até mesmo seus interesses pessoais para proteger Ranson (Stewart) pois é óbvio que Hallie o tem em grande consideração. Embora durão no exterior, Tom (Wayne) é na verdade uma pessoa extremamente altruísta, solidária e leal a ponto de ficar em segundo plano, abrindo mão de seus próprios sonhos pela felicidade da mulher que ama. Falar mais sobre a trama seria tirar parte de seu impacto. Outro ponto excelente da produção é seu elenco excepcional. Como se não bastasse termos dois mitos em cena (James Stewart e John Wayne) o filme tem um elenco de apoio de respeito a começar pelos bandidos do filme. Liberty Valance (o facínora do título nacional) é interpretado com brilhantismo por Lee Marvin, um ícone dos filmes de western. Ao seu lado formando o bando de criminosos está o famoso Lee Van Cleef que estrelaria uma longa série de faroestes nos anos seguintes. Em suma, "O Homem Que Matou o Facínora" é um desses faroestes que podemos qualificar sem medo de exageros como "monumental". Um grande momento nas carreiras de Wayne, Stewart e Ford. Impecável em todos os sentidos.
Raça Brava
Martha Price (Maureen O'Hara) é uma viúva que ao lado de sua filha, Hilary (Juliet Mills), e do cowboy Sam Burnett (James Stewart) resolve partir para o distante Texas com o objetivo de implantar a criação de gado da raça Hereford na região. A iniciativa dela esbarra na mentalidade dos fazendeiros texanos que acham o animal inapropriado para criação por causa do clima hostil e inóspito."Raça Brava" é um "Western de pecuária", ou seja, um faroeste diferente que lida com um tema pouco comum no gênero - a implantação do gado Hereford nas fazendas do oeste. A raça Hereford é natural da Inglaterra e só chegou nos EUA no século XIX. Forte e resistente hoje domina as fazendas americanas, o que não deixa de ser irônico pois quando chegou na América encontrou grande resistência no mercado pecuarista. Embora baseado em fatos reais o filme toma várias liberdades, preferindo deixar o tom mais sério de lado para abraçar um desenvolvimento mais soft, leve, de pura diversão. Há cenas cômicas (como a luta inicial dentro de um curral) e uma abordagem mais romântica na fase final da produção mas no saldo final, mesmo não sendo um produto historicamente fiel aos fatos, vale como diversão familiar descompromissada. O elenco é liderado por James Stewart. Aqui ele prefere uma caracterização bem mais caricata pois seu personagem, um cowboy caipira, fala com forte sotaque. Stewart parece seguir o tom mais cômico do roteiro. A grande surpresa no elenco feminino vem com a dama Maureen O´Hara de tantos filmes clássicos. Preferida de grandes diretores como John Ford, Henry King e Alfred Hitchcock aqui ela tenta se adaptar a um tipo de produção diferente. A elegante atriz empresta muito glamour à sua personagem, uma britânica viúva que tenta a sorte no velho oeste. Na direção temos o também britânico Andrew V. McLaglen que iria nos anos seguintes iniciar uma produtiva parceria ao lado de um de seus atores preferidos, John Wayne. Em suma, “The Rare Breed” é um faroeste bucólico, levemente bem humorado, com muitas paisagens de cartão postal e um elenco carismático. Uma produção bonita e bem fotografada que vai interessar em especial os criadores de gado da raça Hereford.
A Conquista do Oeste
Quando a Metro anunciou "A Conquista do Oeste" o estúdio deixou claro suas intenções: realizar o filme definitivo sobre a expansão da civilização norte-americana em direção ao oeste selvagem. Para isso não mediu esforços colocando à disposição do filme tudo o que estúdio tinha de mais importante na época. Atores, diretores, roteiristas, tudo do bom e do melhor foi direcionado para esse projeto. Além do capital humano a Metro resolveu investir em um novo formato de exibição onde três telas enormes projetavam cenas do filme. A técnica conhecida como Cinerama visava proporcionar ao espectador uma sensação única de imersão dentro do filme. Para isso há uso de longas tomadas abertas, tudo para dar a sensação ao público de que realmente está lá, no velho oeste. Era claramente uma tentativa da Metro em barrar o avanço da televisão que naquele ano havia tirado uma grande parte da bilheteria dos filmes. Assim "A Conquista do Oeste" chegava para marcar a história do cinema, pelo menos essa era a intenção. Realmente é uma produção de encher os olhos, com três diretores e um elenco fenomenal. O resultado de tanto pretensão porém ficou pelo meio do caminho. "A Conquista do Oeste" passa longe de ser o filme definitivo do western americano. Na realidade é uma produção muito megalomaníaca que a despeito dos grandes nomes envolvidos não passa de uma fita convencional, pouco memorável. O problema é definitivamente de seu roteiro. São várias estórias com linhas narrativas que as ligam numa unidade mas nenhuma delas é bem desenvolvida. Tudo soa bem superficial. O grande elenco também é outro problema. Apesar dos mitos envolvidos nenhum deles tem oportunidade de disponibilizar um bom trabalho, realmente marcante. John Wayne, por exemplo, só tem praticamente duas cenas sem maior importância. Ele interpreta o famoso general Sherman mas isso faz pouca diferença pois tão rápido como aparece, desaparece do filme, deixando desolados seus fãs que esperavam por algo mais substancioso. James Stewart tem um papel um pouquinho melhor, de um pioneiro que vive nas montanhas mas é outro grande nome que também é desperdiçado. A única que faz parte de todos os segmentos é a personagem de Debbie Reynolds mas ela não é uma figura de ponta no mundo do faroeste. Quem não gosta dela certamente torcerá o nariz. Assim em conclusão podemos definir "A Conquista do Oeste" como um filme grande mas não um grande filme. Faltou um texto melhor escrito, certamente.
O Preço de Um Covarde
Dee Bishop (Dean Martin) é líder de um bando de assaltantes de bancos no velho oeste. Após uma tentativa frustrada de assalto todos são presos pelo xerife July Johnson (George Kennedy). Julgados e condenados à forca não parece mais haver esperanças para os criminosos até o dia em que chega na cidade o carrasco que vai executar o enforcamento. Homem educado, de gestos gentis ele logo ganha a simpatia de todos. O único problema é que ele na realidade não é quem afirma ser. Na verdade se trata de Mace Bishop (James Stewart) que tentará de todas as formas evitar que seu querido irmão seja enforcado na cidade. Excelente western com um elenco maravilhoso, além de James Stewart e Dean Martin a ótima produção conta com as presenças da linda Raquel Welch e Andrew Prine. A primeira coisa que chama a atenção é o próprio personagem de James Stewart. Ele é um ladrão, tal como seu irmão, assalta bancos e mente o tempo todo mas mesmo assim não deixa de ser charmoso e fascinante para os moradores da região. James Stewart geralmente interpretava papéis de homens virtuosos, íntegros, éticos e esse Mace Bishop é uma exceção nessa linha. Sua atuação é mais uma vez muito digna e marcante. Ao seu lado em cena o cantor Dean Martin mais uma vez não compromete. É curioso porque muitos decretaram o final de sua carreira no cinema após se separar de Jerry Lewis. Ledo engano. Martin conseguiu superar essa separação e ao longo dos anos construiu uma sólida filmografia com alguns filmes realmente maravilhosos. Aqui ele interpreta o irmão caçula Bishop. No fundo tudo o que deseja é escapar das garras da lei para ter um novo recomeço em algum lugar onde possa finalmente ter paz e tranquilidade. O termo “bandolero” do título original se refere a um vasto território hostil localizado além do Rio Grande (marco geográfico que separa o México dos EUA) que é na realidade uma terra de ninguém, dominado por saqueadores e ladrões mexicanos. É justamente nesse local onde se passará os eventos mais dramáticos de todo o filme. Em conclusão “O Preço de um Covarde” é mais um momento marcante na rica carreira do saudoso James Stewart, um ator diferenciado que aqui surge em cena em um papel incomum. Simplesmente imperdível.
Pablo Aluísio.
quarta-feira, 9 de maio de 2007
Filmografia Comentada: Paul Newman
Paul Newman surgiu no rastro deixado por James Dean. Seu primeiro grande filme foi justamente aquele que deveria ser o próximo de Dean, "Marcado Pela Sarjeta". Infelizmente não houve tempo para o ator estrelar pois morreu pouco antes do começo das filmagens e assim Newman herdou o papel. A partir daí Paul Newman se tornou um ícone em Hollywood, não apenas no aspecto relativo à fama mas também por seu grande humanismo. Dedicou grande parte de lucros que obteve com uma bem sucedida marca de produtos alimentícios para a caridade. Também apoiou e defendeu causas de direitos humanos ao longo de sua vida. Sua filmografia é extensa e importante. Segue aqui alguns comentários sobre alguns de seus filmes.
O Doce Pássaro da Juventude
Mais uma brilhante adaptação de um texto de Tennessee Williams. Aqui somos apresentados ao casal formado por Chance Wayne (Paul Newman) e Alexandra Del Lago (Geraldine Page). Eles chegam numa pequena cidade chamada St Cloud e se hospedam num hotel barato. Ela está totalmente embriagada e ele a trata publicamente como uma princesa estrangeira. No decorrer do filme vamos entendendo aos poucos quem realmente são e porque estão ali. A trama é tecida gradativamente, em camadas, com uso extremamente inteligente de flashbacks contando todo o passado deles - que serve para situar o espectador. Nem é preciso dizer que o roteiro tem excelentes diálogos e é excepcionalmente bem interpretado por Newman (em grande forma) e Page (maravilhosa em cena, conseguindo imprimir em sua personagem doses exatas de sensibilidade, humanidade e crueldade psicológica). Na realidade o texto tem um tema central: A extrema dificuldade que certas pessoas possuem em lidar com o fim da juventude e de encarar os fracassos pessoais. Alexandra Del Lago (Page) retrata muito bem isso. Uma antiga diva do cinema que vê seu mundo desmoronar após perder o encanto e a jovialidade. Já Chance (Newman) é muito mais interessante. Correndo atrás de um sonho que jamais se realizará ele vê seus anos (e sua juventude) passarem em branco, sem conseguir tornar realidade os objetivos que ele próprio determinou a si mesmo. O texto é um dos melhores de Williams, embora não seja tão pesado como o que vimos em outras obras dele como "Gata em Teto de Zinco Quente". Além disso "O Doce Pássaro da Juventude" tem mais clima de cinema, deixando o aspecto teatral da obra original em segundo plano. Enfim, gostei muito e recomendo bastante. Obra prima.
As Quatro Confissões
Versão americana do clássico "Rashomon" de Akira Kurosawa (inclusive ele está creditado como um dos roteiristas). Eu gostei bastante do resultado final embora realmente não se possa comparar com o original. O filme bebe bastante da fonte não do filme de Kurosawa mas sim da peça japonesa original. Isso é bem notado durante a projeção, uma vez que o estilo realmente é bem teatral, fortemente baseado no talento dos atores em cena. Dentre eles obviamente se destaca Paul Newman. Numa das caracterizações mais incomuns de sua carreira o ator se sai excepcionalmente bem como "Carrasco", bandoleiro, ladrão, pistoleiro e estuprador mexicano. Como o filme é baseado no que relembram as testemunhas sobre a morte de um ex Coronel, e como esses depoimentos são diferentes entre si, nos deparamos no filme com quatro caracterizações diferentes de cada personagem. Carrasco, por exemplo, surge como valente, herói, covarde, mentiroso ou estuprador - de acordo com cada testemunha. Agora imaginem ter que interpretar tantas nuances diferentes assim! Pois Newman, e o elenco de apoio, conseguem passar por esse teste de fogo. A atriz Claire Bloom também está excelente - pois seu personagem rapidamente passa de jovem donzela em perigo a vagabunda de plantão. O mais interessante em "Quatro Confissões" é que ao final do filme, após todos darem seu testemunho sobre o que teria acontecido entre o bandido Carrasco e o casal, saímos sem saber exatamente o que aconteceu! Isso mesmo, o filme é totalmente livre na interpretação do espectador que assim vai escolher (ou tentar escolher) em qual versão irá acreditar. O diretor Martin Ritt (parceiro de Paul Newman em várias produções) conseguiu algo muito valioso: fazer um filme ágil com roteiro bem elaborado, de bastante conteúdo. Tanto que recomendo que se assista mais de uma vez para destrinchar todos os detalhes que ocorrem durante o filme. Recomendo sem receios - inclusive para estudantes de direito pois é muito curioso acompanhar como uma mesma história pode ter tantas versões diferentes entre si, dependendo de quem as conta.
Paris Vive à Noite
"Paris Vive à Noite" foi feito especialmente para o casal sensação dos anos 60, Paul Newman e Joanne Woodward. Produzido pela cia de Marlon Brando o filme foi rodado em locações na famosa cidade francesa. O roteiro é simples, dois casais se conhecem lá e ficam em um dilema pois as garotas, meras turistas, terão que voltar logo aos EUA enquanto os rapazes (Paul Newman e Sidney Poitier) tem planos de continuar na capital francesa para despontarem para a carreira artística (são músicos de jazz). Para falar a verdade o grande atrativo desse filme é sua música. A trilha sonora foi escrita por Duke Ellington e no filme somos brindados com uma ótima participação especial de Louis Armstrong. Para os fãs do Jazz americano não poderia haver nada melhor do que isso. Já para os fãs de cinema o filme se resume a interpretações corretas e nada mais. O roteiro não desenvolve nenhuma grande situação dramática e assim tudo se resume a ver os pombinhos andando de mãos dadas pelos pontos mais famosos de Paris. Obviamente que a fotografia em preto e branco é muito bonita e o clima de romance no ar vai agradar as mulheres sonhadoras com romances de cartão postal. Para os cuecas vale a pena conferir a beleza discreta e elegante de Joanne Woodward. O diretor Martin Ritt já havia trabalhado ao lado de Paul Newman em "O Mercador de Almas", um filme bem superior a esse. A parceria continuaria depois com filmes como "O Indomado" e "Hombre". Enfim, "Paris Vive á Noite" é um romance ao velho estilo com muita música de qualidade e paisagens famosas, se faz seu estilo não deixe de conferir.
Harper, O Caçador de Aventuras
Sabe aqueles filmes de detetives dos anos 40? Com todas aquelas mulheres fatais, personagens dúbios e tramas de rocambole? Pois bem, Harper é um filme desses. A diferença é que ele foi rodado nos anos 60 mas em essência é aquilo mesmo. Paul Newman interpreta um detetive particular cínico que é contratado pela esposa de um milionário desaparecido para encontrá-lo. Como sempre acontecia nos antigos roteiros da década de 40 aqui também temos muitas reviravoltas, muitas surpresas. Nenhum personagem é totalmente bom ou mal. Todos tem algo a esconder e a solução final desvenda todos os mistérios. Paul Newman está muito à vontade no papel de Harper. Mascando um chiclete atrás do outro ele se mostra bem cool e parece se divertir no papel. O elenco de apoio é todo bom. Lauren Bacall que interpreta a esposa do milionário desaparecido está especialmente cínica e mordaz. A personificação que me causou mais surpresa foi a de Shelley Winters. Antigo sex symbol da década de 40 e 50 aqui ela aparece como atriz decadente e gorda, cujos tempos de fama há muito foram deixados para trás. Enfim, Harper é bem interessante e bem desenvolvido. É um tipo de filme onde a ação é mais intelectual (fica-se o tempo todo tentando descobrir o paradeiro do desaparecido) mas que vale a pena assistir, principalmente para quem gosta de desvendar charadas nesse tipo de filme.
O Cálice Sagrado
Esse é o primeiro filme da carreira de Paul Newman. Isso por si só já basta para atiçar a curiosidade de qualquer cinéfilo. Além de Newman há no elenco atores e atrizes que de uma forma ou outra entraram na história do cinema como Jack Palance (como Simão, o Mago) e Pier Angeli (a namoradinha e grande amor da vida de James Dean). Pois bem, a primeira coisa que chama a atenção de quem assiste "O Cálice Sagrado" é sua estranha direção de arte. Tudo soa estilizado no filme, principalmente os cenários que são pouco realistas, parecendo até mesmo ambientações para peças de teatro. Cheguei a pensar que se tratava de uma produção pobre mesmo mas depois em uma cena de crucificação coletiva entendi finalmente a intenção do diretor. Não é que o filme seja mal feito mas se trata realmente de uma opção artística do cineasta Victor Saville (um veterano da época do cinema mudo). O roteiro mistura ficção com realidade histórica (pelo menos para os que aceitam o conteúdo bíblico como fato histórico). Personagens que na Bíblia são secundários aqui ganham bastante atenção como José de Arimatéia e Simão, o Mago. Esse último é citado no novo testamento como um mágico que desafiou Pedro publicamente. Ofereceu dinheiro pelo poder de realizar milagres e foi repelido pelo principal apóstolo de Cristo. A cena final com Simão tentando provar ao imperador Nero que poderia voar (algo que nem Jesus conseguiu em vida) é muito divertida mesmo. Enfim, apesar de Newman ter odiado sua atuação aqui (chegou a publicar um pedido de desculpas em um jornal americano por sua fraca atuação) não posso dizer que o resultado final seja ruim. "O Cálice Sagrado" é um épico diferente, estranho até em certas passagens, mas que tenta ser inteligente e instigante. Isso já justifica sua existência.
O Mercador de Almas
Em "O Mercador de Almas" temos várias características que fizeram o cinema americano se tornar o melhor do mundo durante a década de 1950 . O elenco é fenomenal. Além de Paul Newman em ótima forma (tanto do ponto de vista de talento como de presença) temos um personagem à prova de falhas interpretado pelo, ora vejam só, mito do cinema Orson Welles. Nem precisa dizer que ele é realmente a alma de todo o filme. Gorducho, malvado, esbanjando rabugice em cada cena, Welles toma conta de tudo, literalmente. Com filmes como esse percebemos que além de grande cineasta ele também era um ator fantástico. Sua voz de trovão ecoa em cada cena, fazendo os atores que contracenaram com ele sumirem lentamente. Em termos de roteiro e argumento o filme se parece bastante com outro clássico da filmografia de Newman, "Gata em Teto de Zinco Quente". Esse, assim como aquele, também é ambientado numa típica fazenda do Sul dos EUA. O enredo também gira em torno dos filhos de um rico fazendeiro, seus problemas familiares e as complicações cotidianas dessas famílias. Para completar o "Mercador de Almas" também é inspirado na obra de um grande autor, a novela "The Hamlet" de William Faulkner. A única diferença mais nítida é que "Gata em Teto de Zinco Quente" é bem mais teatral do que esse, mas fora isso são extremamente parecidos. De qualquer forma uma coisa é certa: Ambos os filmes são fundados em excelentes diálogos e interpretações inspiradas. Por essa época Paul Newman havia se tornado um dos grandes atores do cinema, mostrando de forma excepcional que passava muito longe do rótulo vazio de galã, muito pelo contrário, Newman estava sempre se arriscando em personagens com muita profundidade psicológica, complexos, muitas vezes anti-heróis, crápulas, sem o menor remorso moral. Nesse "Mercador de Almas" ele novamente encontra um papel à sua altura. Uma obra cinematográfica do mais alto nível que merece ser redescoberta.
O Veredito
O Veredito é um dos filmes mais humanos que já assisti. Isso porque ele não é apenas um filme sobre um julgamento que coloca de um lado uma pessoa vitima de negligência médica e do outro instituições ricas e poderosas. Ele é muito mais. O argumento toca em valores como dignidade e respeito ao próximo, mostrando toda a hipocrisia existente em certos setores que deveriam lutar por eles e não combatê-los como a "Santa" Igreja Católica. A dignidade do advogado vivido brilhantemente por Paul Newman é um dos destaques do roteiro. Todos o rebaixam, todos o humilham, tudo porque ele é um profissional em um momento complicado de sua vida, sem clientes e com problemas de alcoolismo. A postura dele lutando contra tudo e contra todos (mesmo mostrando sua própria fraqueza como ser humano) é uma das coisas mais dignas que já vi no cinema. Por fim temos a direção de Sidney Lumet, que é maravilhosa. O diretor não apenas mostra mas sugere, insinua. Um exemplo é mostrada numa cena em plena rua onde Newman vem a saber de um fato perturbador através de seu amigo e assistente. Veja que o diálogo não é mostrado na tela, a cena é captada por uma visão do alto, que mostra como somos pequenos diante de situações limites como essa, que afinal podem acontecer com qualquer um de nós. Simplesmente brilhante. Eu sinto falta de filmes assim, que foquem em temas sérios e consistentes e que não vivem de escapismos bobos. Nesse aspecto "O Veredito" é simplesmente uma grande obra prima da história do cinema.
Gata em Teto de Zinco Quente
Produção: Elegante, acima de tudo. O enredo se passa todo dentro de uma grande casarão que é sede de uma fazendo de algodão no sul dos EUA. Embora isso possa parecer tedioso, não é. Hoje a MGM está à beira da falência mas naquela época não economizava no bom gosto, como bem podemos comprovar aqui. / Direção: Eu considero o Richard Brooks, que dirigiu esse filme, muito mais um roteirista do que um diretor propriamente dito. Sua carreira como diretor é um pouco irregular, onde se mesclam filmes bons e ruins na mesma proporção. Mas aqui seu talento de bom escritor foi conveniente pois ele não força a barra em cima do texto de Tennessee Williams, que transmite sem problemas tudo que o dramaturgo queria para o público. No fundo o Brooks não complicou e isso já é um mérito e tanto. / Elenco: Ótimo. Elizabeth Taylor, linda e talentosa, mostra serviço e esbanja naturalidade e carisma. Paul Newman, que passa o tempo todo de muletas e engessado, mostra muito talento no papel de Brick Pollitt, talvez o único personagem que vale alguma coisa dentro daquela casa. Do elenco de apoio tenho que destacar primeiramente Burl Ives (Big Daddy, ótimo em sua caracterização de um homem que não conseguiu passar afeto aos seus familiares) e Madeleine Sherwood (que faz a insuportável Mae Pollitt). Dentre as cenas a que destaco como a melhor na minha opinião é aquela que se passa entre Newman e Ives no porão quando em tom de nostalgia Big Daddy se recorda de seu falecido pai, um mero vagabundo. Ótimo momento do filme. / Roteiro e argumento: O filme foi roteirizado pelo diretor Richard Brooks. Como eu disse antes, ele era mais roteirista do que diretor. Pois bem, embora o Tennessee tenha reclamado temos que convir que o roteiro em si é muito bem escrito e trabalhado, deixando o filme com ótimo ritmo. Penso que os textos do Tennessee Williams eram perigosos pois poderiam deixar qualquer filme pesado ou meloso demais. Em "Gata em Teto de Zinco Quente" isso definitivamente não acontece.
Roy Bean - O Homem da Lei
Roy Bean (Paul Newman) é um pistoleiro e ladrão que chega numa região remota do Texas. Na ausência de qualquer lei ou autoridade judicial no local o bandoleiro resolve se auto intitular "juiz" e começa a impor aos moradores locais sua inusitada versão da lei e da ordem. A história do filme foi baseada na vida real do juiz Roy Bean, um fora da lei que chegou numa região inóspita do Texas, depois do Rio Pacos (considerado a fronteira entre o mundo civilizado e a terra sem lei) e lá se auto proclamou "juiz" mandando os foras da lei para a forca, sem nem pensar duas vezes. De posse de um velho livro empoeirado de direito ele tentou trazer sua visão muito particular de justiça a todos os que cruzassem seu caminho. John Huston mais uma vez se mostra genial na direção, isso porque ao longo de todo o filme ele imprime um tom de fino humor e ironia que cai muito bem na bizarra história. Paul Newman, mais uma vez, dá show ao interpretar o personagem principal. Seguro de si, cínico, o ator domina todas as cenas, mesmo quando contracena com o ótimo elenco de apoio (com direito a participação especial do próprio John Huston, interpretando um caçador de ursos que chega na distante localidade). Depois que vi o filme ficou a curiosidade de saber mais sobre o verdadeiro Roy Bean. Para minha surpresa descobri que seu saloon tribunal ainda existe no Texas e virou ponto turístico. Seu nome é bem reverenciado naquele Estado e ele goza de uma reputação de fazer inveja a outros grandes nomes do western como Billy The Kid e Jesse James. Talvez por representar a famosa "justiça pelas próprias mãos", Roy Bean acabou virando um símbolo de uma era há muito perdida. Se você gosta da história do faroeste americano, então o filme é obrigatório.
Exodus
O filme Exodus, lançado em 1960, trata da delicada questão da criação do Estado de Israel. É uma obra cinematográfica de fôlego com três horas e trinta minutos de duração, dividida em três atos distintos que tentam no fundo dar um rosto (ou rostos) ao povo judeu no momento de nascimento de sua nação. No primeiro ato somos apresentados a um campo de refugiados (na realidade prisioneiros) administrado pelos britânicos na ilha de Chipre. O local era utilizado pelos ingleses para abrigar temporariamente grupos de judeus que tentavam chegar até a Palestina de navio. Nesse primeiro ato logo somos apresentados ao personagem Ari Ben Canaan (interpretado por Paul Newman), cuja principal função na ilha é retirar uma parcela desses judeus em cativeiro para levá-los até a Palestina, para que com isso crie pressão sobre a ONU na aprovação da criação de Israel. O segundo ato já se desenvolve nos assentamentos judeus na Palestina e tenta mostrar o cotidiano dessas famílias empenhadas em ficar no país e assim começar uma nova nação. Finalmente no terceiro ato temos a criação de Israel e as reações (algumas vezes violentas) que esse fato gerou, principalmente por parte da população palestina, que naquela altura sentiu que simplesmente estavam tomando sua nação e seu país e a entregando aos recém chegados judeus. O tema é melindroso e até hoje repercute. O filme, é claro, toma partido ao lado do povo judeu e sua causa, até porque não seria diferente haja visto que os grandes estúdios de Hollywood são administrados e comandados por judeus. E justamente por isso talvez Exodus não seja uma obra completa. O ponto de vista é unilateral, focado apenas na visão judia da questão. Tirando um único personagem (um palestino que nutre amizade e simpatia por um personagem judeu) nada mais nos é mostrado sobre o outro lado da questão, sobre a forma de agir e pensar do povo palestino naquele momento. O roteiro não esconde e nem tenta disfarçar de que lado realmente está. Como a questão Israel - Palestina é muito mais complexa do que isso ficamos com a sensação pouco confortável de estarmos assistindo na realidade um grande e pomposo manifesto político em prol de Israel. Já sobre o filme em si, tecnicamente falando, a produção apresenta alguns problemas. O maior deles talvez seja a duração excessiva. O filme em alguns momentos se arrasta, cenas sem grande importância ganham um destaque desproporcional. O filme poderia sem problemas ter duas horas de duração sem perda de conteúdo. A direção de Otto Preminger por sua vez comete alguns erros primários (em certos momentos podemos perceber a sombra da câmera e do cameraman se projetando sobre os atores). São coisas menores, mas que em certos momentos incomodam. Já a trilha sonora, ainda hoje lembrada, é um destaque. O compositor Ernest Gold foi inclusive premiado com o Oscar por seu trabalho. Enfim, Exodus é um bom filme e só peca pela tentativa de fazer propaganda política sem dar chance à outra parte de se manifestar, fora isso é um bom passatempo, isso claro se você tiver disposição de assistir uma película com uma duração tão excessiva como essa.
Buffalo Bill e o Oeste Selvagem
Buffalo Bill and the Indians (no brasil, O Oeste Selvagem) é um inteligentissimo filme do aclamado diretor Robert Altman que aqui prova mais uma vez seu grande talento como cineasta. O roteiro conta a histórica verídica do grande mito do western americano Buffalo Bill. O personagem por si só já era extremamente rico em detalhes e nuances e caiu como uma luva nessa película que brinca com o imaginário popular ianque. Para quem não sabe Buffalo Bill (nome artistico de William Cody) foi um verdadeiro Barão de Munchausen da história dos Estados Unidos. Pródigo em contar lorotas e inventar histórias sobre si mesmo que nunca aconteceram na vida real, Bill criou toda uma mitologia em torno de si. Um dia teve a brilhante idéia de criar todo um show em cima de suas fantasias e acabou criando um espetáculo com alto teor circense composto por cowboys falsos, índios de araque e bandidos de mentirinha. Era denominado Oeste Selvagem e foi uma mina de ouro para seu criador, o tornando extremamente rico e bem sucedido. Embora fosse um mentiroso contumaz Bill acabou criando, sem querer, todos os clichês que até hoje conhecemos da mitologia do western. Os filmes mudos, surgidos no nascimento do cinema, eram claramente inspirados nas encenações do espetáculo de Buffalo, que também teve sua mitológica figura explorada por vários filmes do gênero nos anos seguintes à sua morte. Em Buffalo Bill and the Indians, somos levados a conhecer um período bem interessante da vida de Bill, quando ele contratou um mito de verdade do velho oeste para estrelar seu show, o cacique Touro Sentado, famoso por seus feitos contra o exército americano. As cenas em que ambos contracenam mostram verdadeiros duelos entre o personagem de ficção auto inventado e o homem que realmente vivenciou toda a luta pela conquista do oeste selvagem (Touro Sentado). O farsante e o real em lados opostos. Enquanto um vive de contar mentiras sobre si mesmo o outro tenta apenas sobreviver com o pouco de dignidade que ainda lhe resta e de quebra tenta ajudar seu povo, nessa altura da história completamente subjugado pelos brancos. O choque entre a dura realidade e a mais pura fantasia escapista é o grande mérito dessa brilhante e ácida crítica em cima da construção de mitos irreais, que é bem típica da sociedade consumista e vazia dos norte-americanos. Paul Newman na pele do deslumbrado ídolo está perfeito, numa daquelas atuações que dificilmente esquecemos. A própria surrealidade do cotidiano de Bill (que gostava de namorar cantoras de óperas fracassadas), reforça e torna ainda mais forte sua caracterização. Por fim temos uma participação extremamente inspiradora do grande mito Burt Lancaster. Fazendo o papel de uma pessoa do passado de Bill (que obviamente conhece todas as suas invencionices), Lancaster empresta uma dignidade ímpar a essa película. Sem dúvida Buffalo Bill and the Indians é um excelente filme que nos leva a pensar em vários temas relevantes, como a própria destruição da cultura indígena e a dignidade desse povo que foi massacrado impiedosamente pelos colonos americanos. Um libero que merece ser conhecido por todos.
500 Milhas
Esse filme estrelado por Paul Newman é bem curioso. Passa longe de ser um de seus mais conhecidos trabalhos no cinema mas também tem curiosidades que o fazem único. A primeira delas é o fato do tema do filme ser uma das grandes paixões do ator em sua vida pessoal: o automobilismo. Apaixonado por carros de corrida, Newman nunca mais abandonou as pistas depois das filmagens desse longa, tanto que anos depois acabou fundando sua própria equipe, a Newman / Racing, que acabou se tornando uma das principais escuderias da Formula Indy. De fato, ao se assistir 500 milhas percebemos bem que estamos na presença de um astro que bancou uma produção complicada apenas para homenagear sua grande paixão. O filme até tenta colocar uma certa profundidade em seu roteiro. O personagem de Newman, por exemplo, se envolve com uma mulher divorciada (interpretada por sua esposa na vida real, Joanne Woodward) mas esse lado do filme logo naufraga. Mesmo tentando o ator não consegue convencer nas cenas dramáticas. Newman aparece apático e sem empolgação nesses momentos, algo completamente diverso do que ocorre nas cenas em que corre nas pistas. No volante de um carro possante Newman se transforma completamente e aí entendemos a razão de ser da produção, pois no fundo tudo se resume ao fato do ator se divertir no circo da Indy. As próprias locações refletem isso. Não satisfeito em filmar no templo de Indianapolis, Paul Newman faz um verdadeiro tour pelas principais pistas e categorias da época. Obviamente para quem gosta do esporte certamente é um prato cheio. O grande destaque fica mesmo nas cenas de corrida. Nesse ponto o diretor demonstra que as tomadas e os ângulos de câmera que foram produzidas justificaram plenamente a existência do filme. Realmente as cenas de competição estão entre as melhores já mostradas nas telas de cinema. São empolgantes e bem documentadas. O interessante é que além de extremamente bem fotografadas dentro dos circuitos, o filme mostra ainda um panorama bem abrangente de toda a movimentação que cercava todos esses grandes prêmios. Enfim, Winning jamais será mais lembrado que os grandes clássicos da carreira de Newman, mas certamente mostra um dos aspectos mais curiosos e interessantes da personalidade do ator. Não vai mudar sua vida mas também não será nada penoso se divertir por duas horas no volante ao lado de Paul Newman.
Desafio à Corrupção
"Desafio à Corrupção" é uma crônica sobre o fracasso pessoal. O personagem principal, Eddie Felson (Paul Newman), é em essência um pequeno golpista que leva sua vida em espeluncas de sinuca onde engana os desavisados. Ele se faz passar por um idiota que não sabe jogar, perdendo algumas partidas fáceis. Seu papel de "pato" atrai outros jogadores que aceitam apostar quantias vultuosas pensando ganhar um dinheiro fácil. Uma vez apostado somas altas Eddie finalmente se revela mostrando toda sua grande habilidade no jogo. Sem emprego, casa ou destino, Eddie vai levando sua vida partida após partida, até enfrentar um grande jogador como ele, Minnesota Fats (Jackie Gleason) . O destino desse confronto vai mudar os rumos de sua vida. Eddie pretende vencer o grande mestre para provar a si mesmo que é um vencedor e não um fracassado como foi definido por Bert Gordon (George C. Scott), um agenciador de apostas e escroque local. É impressionante a quantidade de grandes filmes na carreira de Paul Newman. Aqui ele realiza uma de suas atuações mais brilhantes, tanto que foi indicado ao Oscar de Melhor ator. Injustamente não venceu o prêmio mas a justiça se faria anos depois quando Newman retornaria ao mesmo personagem em "A Cor do Dinheiro" ao lado de Tom Cruise. Após tanto tempo Paul Newman finalmente sairia vencedor na categoria. Justiça tardia mas bem-vinda certamente. Outro atrativo do elenco é a presença de Jackie Gleason como Minnesota Fats. O comediante se revela um ator dramático de mão cheia. "Desafio à Corrupção" foi indicado a vários prêmios, inclusive Melhor Filme, mostrando sua imensa qualidade cinematográfica. O roteiro, muito bem escrito, disseca a tênue linha existente entre a vitória e a derrota. A vida é representada pela mesa de bilhar, onde destinos parecem fluir ao sabor das tacadas, resultado numa excelente metáfora sobre a vida e morte dos personagens. "The Hustler" é uma obra prima do cinema. Simplesmente obrigatório.
Pablo Aluísio.
O Doce Pássaro da Juventude
Mais uma brilhante adaptação de um texto de Tennessee Williams. Aqui somos apresentados ao casal formado por Chance Wayne (Paul Newman) e Alexandra Del Lago (Geraldine Page). Eles chegam numa pequena cidade chamada St Cloud e se hospedam num hotel barato. Ela está totalmente embriagada e ele a trata publicamente como uma princesa estrangeira. No decorrer do filme vamos entendendo aos poucos quem realmente são e porque estão ali. A trama é tecida gradativamente, em camadas, com uso extremamente inteligente de flashbacks contando todo o passado deles - que serve para situar o espectador. Nem é preciso dizer que o roteiro tem excelentes diálogos e é excepcionalmente bem interpretado por Newman (em grande forma) e Page (maravilhosa em cena, conseguindo imprimir em sua personagem doses exatas de sensibilidade, humanidade e crueldade psicológica). Na realidade o texto tem um tema central: A extrema dificuldade que certas pessoas possuem em lidar com o fim da juventude e de encarar os fracassos pessoais. Alexandra Del Lago (Page) retrata muito bem isso. Uma antiga diva do cinema que vê seu mundo desmoronar após perder o encanto e a jovialidade. Já Chance (Newman) é muito mais interessante. Correndo atrás de um sonho que jamais se realizará ele vê seus anos (e sua juventude) passarem em branco, sem conseguir tornar realidade os objetivos que ele próprio determinou a si mesmo. O texto é um dos melhores de Williams, embora não seja tão pesado como o que vimos em outras obras dele como "Gata em Teto de Zinco Quente". Além disso "O Doce Pássaro da Juventude" tem mais clima de cinema, deixando o aspecto teatral da obra original em segundo plano. Enfim, gostei muito e recomendo bastante. Obra prima.
As Quatro Confissões
Versão americana do clássico "Rashomon" de Akira Kurosawa (inclusive ele está creditado como um dos roteiristas). Eu gostei bastante do resultado final embora realmente não se possa comparar com o original. O filme bebe bastante da fonte não do filme de Kurosawa mas sim da peça japonesa original. Isso é bem notado durante a projeção, uma vez que o estilo realmente é bem teatral, fortemente baseado no talento dos atores em cena. Dentre eles obviamente se destaca Paul Newman. Numa das caracterizações mais incomuns de sua carreira o ator se sai excepcionalmente bem como "Carrasco", bandoleiro, ladrão, pistoleiro e estuprador mexicano. Como o filme é baseado no que relembram as testemunhas sobre a morte de um ex Coronel, e como esses depoimentos são diferentes entre si, nos deparamos no filme com quatro caracterizações diferentes de cada personagem. Carrasco, por exemplo, surge como valente, herói, covarde, mentiroso ou estuprador - de acordo com cada testemunha. Agora imaginem ter que interpretar tantas nuances diferentes assim! Pois Newman, e o elenco de apoio, conseguem passar por esse teste de fogo. A atriz Claire Bloom também está excelente - pois seu personagem rapidamente passa de jovem donzela em perigo a vagabunda de plantão. O mais interessante em "Quatro Confissões" é que ao final do filme, após todos darem seu testemunho sobre o que teria acontecido entre o bandido Carrasco e o casal, saímos sem saber exatamente o que aconteceu! Isso mesmo, o filme é totalmente livre na interpretação do espectador que assim vai escolher (ou tentar escolher) em qual versão irá acreditar. O diretor Martin Ritt (parceiro de Paul Newman em várias produções) conseguiu algo muito valioso: fazer um filme ágil com roteiro bem elaborado, de bastante conteúdo. Tanto que recomendo que se assista mais de uma vez para destrinchar todos os detalhes que ocorrem durante o filme. Recomendo sem receios - inclusive para estudantes de direito pois é muito curioso acompanhar como uma mesma história pode ter tantas versões diferentes entre si, dependendo de quem as conta.
Paris Vive à Noite
"Paris Vive à Noite" foi feito especialmente para o casal sensação dos anos 60, Paul Newman e Joanne Woodward. Produzido pela cia de Marlon Brando o filme foi rodado em locações na famosa cidade francesa. O roteiro é simples, dois casais se conhecem lá e ficam em um dilema pois as garotas, meras turistas, terão que voltar logo aos EUA enquanto os rapazes (Paul Newman e Sidney Poitier) tem planos de continuar na capital francesa para despontarem para a carreira artística (são músicos de jazz). Para falar a verdade o grande atrativo desse filme é sua música. A trilha sonora foi escrita por Duke Ellington e no filme somos brindados com uma ótima participação especial de Louis Armstrong. Para os fãs do Jazz americano não poderia haver nada melhor do que isso. Já para os fãs de cinema o filme se resume a interpretações corretas e nada mais. O roteiro não desenvolve nenhuma grande situação dramática e assim tudo se resume a ver os pombinhos andando de mãos dadas pelos pontos mais famosos de Paris. Obviamente que a fotografia em preto e branco é muito bonita e o clima de romance no ar vai agradar as mulheres sonhadoras com romances de cartão postal. Para os cuecas vale a pena conferir a beleza discreta e elegante de Joanne Woodward. O diretor Martin Ritt já havia trabalhado ao lado de Paul Newman em "O Mercador de Almas", um filme bem superior a esse. A parceria continuaria depois com filmes como "O Indomado" e "Hombre". Enfim, "Paris Vive á Noite" é um romance ao velho estilo com muita música de qualidade e paisagens famosas, se faz seu estilo não deixe de conferir.
Harper, O Caçador de Aventuras
Sabe aqueles filmes de detetives dos anos 40? Com todas aquelas mulheres fatais, personagens dúbios e tramas de rocambole? Pois bem, Harper é um filme desses. A diferença é que ele foi rodado nos anos 60 mas em essência é aquilo mesmo. Paul Newman interpreta um detetive particular cínico que é contratado pela esposa de um milionário desaparecido para encontrá-lo. Como sempre acontecia nos antigos roteiros da década de 40 aqui também temos muitas reviravoltas, muitas surpresas. Nenhum personagem é totalmente bom ou mal. Todos tem algo a esconder e a solução final desvenda todos os mistérios. Paul Newman está muito à vontade no papel de Harper. Mascando um chiclete atrás do outro ele se mostra bem cool e parece se divertir no papel. O elenco de apoio é todo bom. Lauren Bacall que interpreta a esposa do milionário desaparecido está especialmente cínica e mordaz. A personificação que me causou mais surpresa foi a de Shelley Winters. Antigo sex symbol da década de 40 e 50 aqui ela aparece como atriz decadente e gorda, cujos tempos de fama há muito foram deixados para trás. Enfim, Harper é bem interessante e bem desenvolvido. É um tipo de filme onde a ação é mais intelectual (fica-se o tempo todo tentando descobrir o paradeiro do desaparecido) mas que vale a pena assistir, principalmente para quem gosta de desvendar charadas nesse tipo de filme.
O Cálice Sagrado
Esse é o primeiro filme da carreira de Paul Newman. Isso por si só já basta para atiçar a curiosidade de qualquer cinéfilo. Além de Newman há no elenco atores e atrizes que de uma forma ou outra entraram na história do cinema como Jack Palance (como Simão, o Mago) e Pier Angeli (a namoradinha e grande amor da vida de James Dean). Pois bem, a primeira coisa que chama a atenção de quem assiste "O Cálice Sagrado" é sua estranha direção de arte. Tudo soa estilizado no filme, principalmente os cenários que são pouco realistas, parecendo até mesmo ambientações para peças de teatro. Cheguei a pensar que se tratava de uma produção pobre mesmo mas depois em uma cena de crucificação coletiva entendi finalmente a intenção do diretor. Não é que o filme seja mal feito mas se trata realmente de uma opção artística do cineasta Victor Saville (um veterano da época do cinema mudo). O roteiro mistura ficção com realidade histórica (pelo menos para os que aceitam o conteúdo bíblico como fato histórico). Personagens que na Bíblia são secundários aqui ganham bastante atenção como José de Arimatéia e Simão, o Mago. Esse último é citado no novo testamento como um mágico que desafiou Pedro publicamente. Ofereceu dinheiro pelo poder de realizar milagres e foi repelido pelo principal apóstolo de Cristo. A cena final com Simão tentando provar ao imperador Nero que poderia voar (algo que nem Jesus conseguiu em vida) é muito divertida mesmo. Enfim, apesar de Newman ter odiado sua atuação aqui (chegou a publicar um pedido de desculpas em um jornal americano por sua fraca atuação) não posso dizer que o resultado final seja ruim. "O Cálice Sagrado" é um épico diferente, estranho até em certas passagens, mas que tenta ser inteligente e instigante. Isso já justifica sua existência.
O Mercador de Almas
Em "O Mercador de Almas" temos várias características que fizeram o cinema americano se tornar o melhor do mundo durante a década de 1950 . O elenco é fenomenal. Além de Paul Newman em ótima forma (tanto do ponto de vista de talento como de presença) temos um personagem à prova de falhas interpretado pelo, ora vejam só, mito do cinema Orson Welles. Nem precisa dizer que ele é realmente a alma de todo o filme. Gorducho, malvado, esbanjando rabugice em cada cena, Welles toma conta de tudo, literalmente. Com filmes como esse percebemos que além de grande cineasta ele também era um ator fantástico. Sua voz de trovão ecoa em cada cena, fazendo os atores que contracenaram com ele sumirem lentamente. Em termos de roteiro e argumento o filme se parece bastante com outro clássico da filmografia de Newman, "Gata em Teto de Zinco Quente". Esse, assim como aquele, também é ambientado numa típica fazenda do Sul dos EUA. O enredo também gira em torno dos filhos de um rico fazendeiro, seus problemas familiares e as complicações cotidianas dessas famílias. Para completar o "Mercador de Almas" também é inspirado na obra de um grande autor, a novela "The Hamlet" de William Faulkner. A única diferença mais nítida é que "Gata em Teto de Zinco Quente" é bem mais teatral do que esse, mas fora isso são extremamente parecidos. De qualquer forma uma coisa é certa: Ambos os filmes são fundados em excelentes diálogos e interpretações inspiradas. Por essa época Paul Newman havia se tornado um dos grandes atores do cinema, mostrando de forma excepcional que passava muito longe do rótulo vazio de galã, muito pelo contrário, Newman estava sempre se arriscando em personagens com muita profundidade psicológica, complexos, muitas vezes anti-heróis, crápulas, sem o menor remorso moral. Nesse "Mercador de Almas" ele novamente encontra um papel à sua altura. Uma obra cinematográfica do mais alto nível que merece ser redescoberta.
O Veredito
O Veredito é um dos filmes mais humanos que já assisti. Isso porque ele não é apenas um filme sobre um julgamento que coloca de um lado uma pessoa vitima de negligência médica e do outro instituições ricas e poderosas. Ele é muito mais. O argumento toca em valores como dignidade e respeito ao próximo, mostrando toda a hipocrisia existente em certos setores que deveriam lutar por eles e não combatê-los como a "Santa" Igreja Católica. A dignidade do advogado vivido brilhantemente por Paul Newman é um dos destaques do roteiro. Todos o rebaixam, todos o humilham, tudo porque ele é um profissional em um momento complicado de sua vida, sem clientes e com problemas de alcoolismo. A postura dele lutando contra tudo e contra todos (mesmo mostrando sua própria fraqueza como ser humano) é uma das coisas mais dignas que já vi no cinema. Por fim temos a direção de Sidney Lumet, que é maravilhosa. O diretor não apenas mostra mas sugere, insinua. Um exemplo é mostrada numa cena em plena rua onde Newman vem a saber de um fato perturbador através de seu amigo e assistente. Veja que o diálogo não é mostrado na tela, a cena é captada por uma visão do alto, que mostra como somos pequenos diante de situações limites como essa, que afinal podem acontecer com qualquer um de nós. Simplesmente brilhante. Eu sinto falta de filmes assim, que foquem em temas sérios e consistentes e que não vivem de escapismos bobos. Nesse aspecto "O Veredito" é simplesmente uma grande obra prima da história do cinema.
Gata em Teto de Zinco Quente
Produção: Elegante, acima de tudo. O enredo se passa todo dentro de uma grande casarão que é sede de uma fazendo de algodão no sul dos EUA. Embora isso possa parecer tedioso, não é. Hoje a MGM está à beira da falência mas naquela época não economizava no bom gosto, como bem podemos comprovar aqui. / Direção: Eu considero o Richard Brooks, que dirigiu esse filme, muito mais um roteirista do que um diretor propriamente dito. Sua carreira como diretor é um pouco irregular, onde se mesclam filmes bons e ruins na mesma proporção. Mas aqui seu talento de bom escritor foi conveniente pois ele não força a barra em cima do texto de Tennessee Williams, que transmite sem problemas tudo que o dramaturgo queria para o público. No fundo o Brooks não complicou e isso já é um mérito e tanto. / Elenco: Ótimo. Elizabeth Taylor, linda e talentosa, mostra serviço e esbanja naturalidade e carisma. Paul Newman, que passa o tempo todo de muletas e engessado, mostra muito talento no papel de Brick Pollitt, talvez o único personagem que vale alguma coisa dentro daquela casa. Do elenco de apoio tenho que destacar primeiramente Burl Ives (Big Daddy, ótimo em sua caracterização de um homem que não conseguiu passar afeto aos seus familiares) e Madeleine Sherwood (que faz a insuportável Mae Pollitt). Dentre as cenas a que destaco como a melhor na minha opinião é aquela que se passa entre Newman e Ives no porão quando em tom de nostalgia Big Daddy se recorda de seu falecido pai, um mero vagabundo. Ótimo momento do filme. / Roteiro e argumento: O filme foi roteirizado pelo diretor Richard Brooks. Como eu disse antes, ele era mais roteirista do que diretor. Pois bem, embora o Tennessee tenha reclamado temos que convir que o roteiro em si é muito bem escrito e trabalhado, deixando o filme com ótimo ritmo. Penso que os textos do Tennessee Williams eram perigosos pois poderiam deixar qualquer filme pesado ou meloso demais. Em "Gata em Teto de Zinco Quente" isso definitivamente não acontece.
Roy Bean - O Homem da Lei
Roy Bean (Paul Newman) é um pistoleiro e ladrão que chega numa região remota do Texas. Na ausência de qualquer lei ou autoridade judicial no local o bandoleiro resolve se auto intitular "juiz" e começa a impor aos moradores locais sua inusitada versão da lei e da ordem. A história do filme foi baseada na vida real do juiz Roy Bean, um fora da lei que chegou numa região inóspita do Texas, depois do Rio Pacos (considerado a fronteira entre o mundo civilizado e a terra sem lei) e lá se auto proclamou "juiz" mandando os foras da lei para a forca, sem nem pensar duas vezes. De posse de um velho livro empoeirado de direito ele tentou trazer sua visão muito particular de justiça a todos os que cruzassem seu caminho. John Huston mais uma vez se mostra genial na direção, isso porque ao longo de todo o filme ele imprime um tom de fino humor e ironia que cai muito bem na bizarra história. Paul Newman, mais uma vez, dá show ao interpretar o personagem principal. Seguro de si, cínico, o ator domina todas as cenas, mesmo quando contracena com o ótimo elenco de apoio (com direito a participação especial do próprio John Huston, interpretando um caçador de ursos que chega na distante localidade). Depois que vi o filme ficou a curiosidade de saber mais sobre o verdadeiro Roy Bean. Para minha surpresa descobri que seu saloon tribunal ainda existe no Texas e virou ponto turístico. Seu nome é bem reverenciado naquele Estado e ele goza de uma reputação de fazer inveja a outros grandes nomes do western como Billy The Kid e Jesse James. Talvez por representar a famosa "justiça pelas próprias mãos", Roy Bean acabou virando um símbolo de uma era há muito perdida. Se você gosta da história do faroeste americano, então o filme é obrigatório.
Exodus
O filme Exodus, lançado em 1960, trata da delicada questão da criação do Estado de Israel. É uma obra cinematográfica de fôlego com três horas e trinta minutos de duração, dividida em três atos distintos que tentam no fundo dar um rosto (ou rostos) ao povo judeu no momento de nascimento de sua nação. No primeiro ato somos apresentados a um campo de refugiados (na realidade prisioneiros) administrado pelos britânicos na ilha de Chipre. O local era utilizado pelos ingleses para abrigar temporariamente grupos de judeus que tentavam chegar até a Palestina de navio. Nesse primeiro ato logo somos apresentados ao personagem Ari Ben Canaan (interpretado por Paul Newman), cuja principal função na ilha é retirar uma parcela desses judeus em cativeiro para levá-los até a Palestina, para que com isso crie pressão sobre a ONU na aprovação da criação de Israel. O segundo ato já se desenvolve nos assentamentos judeus na Palestina e tenta mostrar o cotidiano dessas famílias empenhadas em ficar no país e assim começar uma nova nação. Finalmente no terceiro ato temos a criação de Israel e as reações (algumas vezes violentas) que esse fato gerou, principalmente por parte da população palestina, que naquela altura sentiu que simplesmente estavam tomando sua nação e seu país e a entregando aos recém chegados judeus. O tema é melindroso e até hoje repercute. O filme, é claro, toma partido ao lado do povo judeu e sua causa, até porque não seria diferente haja visto que os grandes estúdios de Hollywood são administrados e comandados por judeus. E justamente por isso talvez Exodus não seja uma obra completa. O ponto de vista é unilateral, focado apenas na visão judia da questão. Tirando um único personagem (um palestino que nutre amizade e simpatia por um personagem judeu) nada mais nos é mostrado sobre o outro lado da questão, sobre a forma de agir e pensar do povo palestino naquele momento. O roteiro não esconde e nem tenta disfarçar de que lado realmente está. Como a questão Israel - Palestina é muito mais complexa do que isso ficamos com a sensação pouco confortável de estarmos assistindo na realidade um grande e pomposo manifesto político em prol de Israel. Já sobre o filme em si, tecnicamente falando, a produção apresenta alguns problemas. O maior deles talvez seja a duração excessiva. O filme em alguns momentos se arrasta, cenas sem grande importância ganham um destaque desproporcional. O filme poderia sem problemas ter duas horas de duração sem perda de conteúdo. A direção de Otto Preminger por sua vez comete alguns erros primários (em certos momentos podemos perceber a sombra da câmera e do cameraman se projetando sobre os atores). São coisas menores, mas que em certos momentos incomodam. Já a trilha sonora, ainda hoje lembrada, é um destaque. O compositor Ernest Gold foi inclusive premiado com o Oscar por seu trabalho. Enfim, Exodus é um bom filme e só peca pela tentativa de fazer propaganda política sem dar chance à outra parte de se manifestar, fora isso é um bom passatempo, isso claro se você tiver disposição de assistir uma película com uma duração tão excessiva como essa.
Buffalo Bill e o Oeste Selvagem
Buffalo Bill and the Indians (no brasil, O Oeste Selvagem) é um inteligentissimo filme do aclamado diretor Robert Altman que aqui prova mais uma vez seu grande talento como cineasta. O roteiro conta a histórica verídica do grande mito do western americano Buffalo Bill. O personagem por si só já era extremamente rico em detalhes e nuances e caiu como uma luva nessa película que brinca com o imaginário popular ianque. Para quem não sabe Buffalo Bill (nome artistico de William Cody) foi um verdadeiro Barão de Munchausen da história dos Estados Unidos. Pródigo em contar lorotas e inventar histórias sobre si mesmo que nunca aconteceram na vida real, Bill criou toda uma mitologia em torno de si. Um dia teve a brilhante idéia de criar todo um show em cima de suas fantasias e acabou criando um espetáculo com alto teor circense composto por cowboys falsos, índios de araque e bandidos de mentirinha. Era denominado Oeste Selvagem e foi uma mina de ouro para seu criador, o tornando extremamente rico e bem sucedido. Embora fosse um mentiroso contumaz Bill acabou criando, sem querer, todos os clichês que até hoje conhecemos da mitologia do western. Os filmes mudos, surgidos no nascimento do cinema, eram claramente inspirados nas encenações do espetáculo de Buffalo, que também teve sua mitológica figura explorada por vários filmes do gênero nos anos seguintes à sua morte. Em Buffalo Bill and the Indians, somos levados a conhecer um período bem interessante da vida de Bill, quando ele contratou um mito de verdade do velho oeste para estrelar seu show, o cacique Touro Sentado, famoso por seus feitos contra o exército americano. As cenas em que ambos contracenam mostram verdadeiros duelos entre o personagem de ficção auto inventado e o homem que realmente vivenciou toda a luta pela conquista do oeste selvagem (Touro Sentado). O farsante e o real em lados opostos. Enquanto um vive de contar mentiras sobre si mesmo o outro tenta apenas sobreviver com o pouco de dignidade que ainda lhe resta e de quebra tenta ajudar seu povo, nessa altura da história completamente subjugado pelos brancos. O choque entre a dura realidade e a mais pura fantasia escapista é o grande mérito dessa brilhante e ácida crítica em cima da construção de mitos irreais, que é bem típica da sociedade consumista e vazia dos norte-americanos. Paul Newman na pele do deslumbrado ídolo está perfeito, numa daquelas atuações que dificilmente esquecemos. A própria surrealidade do cotidiano de Bill (que gostava de namorar cantoras de óperas fracassadas), reforça e torna ainda mais forte sua caracterização. Por fim temos uma participação extremamente inspiradora do grande mito Burt Lancaster. Fazendo o papel de uma pessoa do passado de Bill (que obviamente conhece todas as suas invencionices), Lancaster empresta uma dignidade ímpar a essa película. Sem dúvida Buffalo Bill and the Indians é um excelente filme que nos leva a pensar em vários temas relevantes, como a própria destruição da cultura indígena e a dignidade desse povo que foi massacrado impiedosamente pelos colonos americanos. Um libero que merece ser conhecido por todos.
500 Milhas
Esse filme estrelado por Paul Newman é bem curioso. Passa longe de ser um de seus mais conhecidos trabalhos no cinema mas também tem curiosidades que o fazem único. A primeira delas é o fato do tema do filme ser uma das grandes paixões do ator em sua vida pessoal: o automobilismo. Apaixonado por carros de corrida, Newman nunca mais abandonou as pistas depois das filmagens desse longa, tanto que anos depois acabou fundando sua própria equipe, a Newman / Racing, que acabou se tornando uma das principais escuderias da Formula Indy. De fato, ao se assistir 500 milhas percebemos bem que estamos na presença de um astro que bancou uma produção complicada apenas para homenagear sua grande paixão. O filme até tenta colocar uma certa profundidade em seu roteiro. O personagem de Newman, por exemplo, se envolve com uma mulher divorciada (interpretada por sua esposa na vida real, Joanne Woodward) mas esse lado do filme logo naufraga. Mesmo tentando o ator não consegue convencer nas cenas dramáticas. Newman aparece apático e sem empolgação nesses momentos, algo completamente diverso do que ocorre nas cenas em que corre nas pistas. No volante de um carro possante Newman se transforma completamente e aí entendemos a razão de ser da produção, pois no fundo tudo se resume ao fato do ator se divertir no circo da Indy. As próprias locações refletem isso. Não satisfeito em filmar no templo de Indianapolis, Paul Newman faz um verdadeiro tour pelas principais pistas e categorias da época. Obviamente para quem gosta do esporte certamente é um prato cheio. O grande destaque fica mesmo nas cenas de corrida. Nesse ponto o diretor demonstra que as tomadas e os ângulos de câmera que foram produzidas justificaram plenamente a existência do filme. Realmente as cenas de competição estão entre as melhores já mostradas nas telas de cinema. São empolgantes e bem documentadas. O interessante é que além de extremamente bem fotografadas dentro dos circuitos, o filme mostra ainda um panorama bem abrangente de toda a movimentação que cercava todos esses grandes prêmios. Enfim, Winning jamais será mais lembrado que os grandes clássicos da carreira de Newman, mas certamente mostra um dos aspectos mais curiosos e interessantes da personalidade do ator. Não vai mudar sua vida mas também não será nada penoso se divertir por duas horas no volante ao lado de Paul Newman.
Desafio à Corrupção
"Desafio à Corrupção" é uma crônica sobre o fracasso pessoal. O personagem principal, Eddie Felson (Paul Newman), é em essência um pequeno golpista que leva sua vida em espeluncas de sinuca onde engana os desavisados. Ele se faz passar por um idiota que não sabe jogar, perdendo algumas partidas fáceis. Seu papel de "pato" atrai outros jogadores que aceitam apostar quantias vultuosas pensando ganhar um dinheiro fácil. Uma vez apostado somas altas Eddie finalmente se revela mostrando toda sua grande habilidade no jogo. Sem emprego, casa ou destino, Eddie vai levando sua vida partida após partida, até enfrentar um grande jogador como ele, Minnesota Fats (Jackie Gleason) . O destino desse confronto vai mudar os rumos de sua vida. Eddie pretende vencer o grande mestre para provar a si mesmo que é um vencedor e não um fracassado como foi definido por Bert Gordon (George C. Scott), um agenciador de apostas e escroque local. É impressionante a quantidade de grandes filmes na carreira de Paul Newman. Aqui ele realiza uma de suas atuações mais brilhantes, tanto que foi indicado ao Oscar de Melhor ator. Injustamente não venceu o prêmio mas a justiça se faria anos depois quando Newman retornaria ao mesmo personagem em "A Cor do Dinheiro" ao lado de Tom Cruise. Após tanto tempo Paul Newman finalmente sairia vencedor na categoria. Justiça tardia mas bem-vinda certamente. Outro atrativo do elenco é a presença de Jackie Gleason como Minnesota Fats. O comediante se revela um ator dramático de mão cheia. "Desafio à Corrupção" foi indicado a vários prêmios, inclusive Melhor Filme, mostrando sua imensa qualidade cinematográfica. O roteiro, muito bem escrito, disseca a tênue linha existente entre a vitória e a derrota. A vida é representada pela mesa de bilhar, onde destinos parecem fluir ao sabor das tacadas, resultado numa excelente metáfora sobre a vida e morte dos personagens. "The Hustler" é uma obra prima do cinema. Simplesmente obrigatório.
Pablo Aluísio.
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