Mais uma brilhante adaptação de um texto de Tennessee Williams. Aqui somos apresentados ao casal formado por Chance Wayne (Paul Newman) e Alexandra Del Lago (Geraldine Page). Eles chegam numa pequena cidade chamada St Cloud e se hospedam num hotel barato. Ela está totalmente embriagada e ele a trata publicamente como uma princesa estrangeira. No decorrer do filme vamos entendendo aos poucos quem realmente são e porque estão ali. A trama é tecida gradativamente, em camadas, com uso extremamente inteligente de flashbacks contando todo o passado deles - que serve para situar o espectador. Nem é preciso dizer que o roteiro tem excelentes diálogos e é excepcionalmente bem interpretado por Newman (em grande forma) e Page (maravilhosa em cena, conseguindo imprimir em sua personagem doses exatas de sensibilidade, humanidade e crueldade psicológica).
Na realidade o texto tem um tema central: A extrema dificuldade que certas pessoas possuem em lidar com o fim da juventude e de encarar os fracassos pessoais. Alexandra Del Lago (Page) retrata muito bem isso. Uma antiga diva do cinema que vê seu mundo desmoronar após perder o encanto e a jovialidade. Já Chance (Newman) é muito mais interessante. Correndo atrás de um sonho que jamais se realizará ele vê seus anos (e sua juventude) passarem em branco, sem conseguir tornar realidade os objetivos que ele próprio determinou a si mesmo. O texto é um dos melhores de Williams, embora não seja tão pesado como o que vimos em outras obras dele como "Gata em Teto de Zinco Quente". Além disso "O Doce Pássaro da Juventude" tem mais clima de cinema, deixando o aspecto teatral da obra original em segundo plano. Enfim, gostei muito e recomendo bastante. Obra prima.
O Doce Pássaro da Juventude (Sweet Bird of Youth, Estados Unidos, 1963) Direção: Richard Brooks / Com: Paul Newman, Geraldine Page, Shirley Knight e Ed Begley./ Sinopse: Chance Wayne (Paul Newman) volta à sua cidade-natal, após muitos anos tentando fazer filmes. Com ele está uma decadente estrela de cinema, Alexandra Del Lago (Geraldine Page). Enquanto tenta obter ajuda para fazer um teste de cinema, Chance acha tempo para rever sua ex-namorada, Heavenly (Shirley Knight), a filha do político Tom Finley (Ed Begley), que mais ou menos o forçou a deixar a cidade há muitos anos atrás. Filme vencedor do Oscar na categoria de Melhor Ator Coadjuvante (Ed
Begley). Também vencedor do Globo de Ouro na categoria de Melhor Atriz -
Drama (Geraldine Page).
Pablo Aluísio.
Mostrando postagens com marcador Tennessee Williams. Mostrar todas as postagens
Mostrando postagens com marcador Tennessee Williams. Mostrar todas as postagens
segunda-feira, 29 de agosto de 2022
segunda-feira, 8 de outubro de 2007
O Homem Que Veio de Longe
Ótima produção do casal Taylor / Burton que para minha surpresa segue pouco conhecida. O roteiro é de Tennessee Williams baseado em sua própria peça "The Milk Train Doesn't Stop Here Anymore", o que por si só já é garantia de ótimos diálogos e cenas extremamente bem escritas. Obviamente o filme em nenhum momento nega sua origem teatral mas isso é compensado pelo uso de uma locação simplesmente maravilhosa: uma mansão em cima de um penhasco rochoso numa paradisíaca ilha no litoral italiano (localizada em Capo Caccia na Sardenha). É nesse cenário deslumbrante que Liz Taylor e Richard Burton duelam em cena, o que me lembrou muito em sua estrutura outro filme famoso do casal, "Quem Tem Medo de Virginia Woolf?". Ela inclusive aqui está muito mais diva do que no famoso filme que a consagrou. A produção foi um projeto pessoal de Liz Taylor. Ela inclusive escalou o desconhecido diretor Joseph Losey para comandar as filmagens que pelas locações distantes tiveram um maior grau de dificuldade em relação aos filmes rodados em estúdio. Liz vinha de um filme complicado, "The Comedians", ao lado de Burton que não havia sido muito bem recebido nem pela crítica e nem pelo público. Produção muito cara (só Burton recebeu um milhão de dólares de cachê pelo filme) não trouxe bom retorno de bilheteria quando lançado. Para recuperar o fôlega Elizabeth então resolveu voltar para os textos de Tennessee Williams e exigiu que o mesmo fosse o próprio roteirista do filme. Era uma tentativa de voltar aos anos de glória de sua carreira.
O personagem de Elizabeth Taylor é uma viúva milionária (foi casada com seis magnatas) que há muito passou seu apogeu. Vivendo solitária em sua mansão ela é servida dia e noite por um grupo de lacaios prontos a atender qualquer que seja seu desejo. Isso porém não a impede de ser desbocada, despudorada e abusiva com todos à sua volta. Ditando sua biografia para uma secretária servil ela se surpreende quando um dia chega um desconhecido em sua casa (Burton) que aos poucos vai colocando em xeque o modo de agir da milionária. Há um curioso subtexto no roteiro sobre a real identidade do desconhecido, inclusive a de que ele na realidade seria um anjo da morte, tal como vimos em outra produção mais recente, "Meet Joe Black" com Anthony Hopkins e Brad Pitt. Mas será mesmo? Enfim, altamente recomendado para quem quiser conhecer mais a filmografia do mito Elizabeth Taylor.
O Homem Que Veio de Longe (Boom, Reino Unido, 1968) Direção de Joseph Losey Roteiro: Tennessee Williams baseado em sua peça "The Milk Train Doesn't Stop Here Anymore" / Elenco: Elizabeth Taylor, Richard Burton e Noel Coward / Sinopse: O personagem de Elizabeth Taylor é uma viúva milionária (foi casada com seis magnatas) que há muito passou seu apogeu. Vivendo solitária na mansão ela é servida dia e noite por um grupo de lacaios prontos a atender qualquer que seja seu desejo. Ditando sua biografia para uma secretária servil ela se surpreende quando um dia chega um desconhecido em sua casa (Burton) que aos poucos vai colocando em xeque o modo de agir da milionária
Pablo Aluísio.
O personagem de Elizabeth Taylor é uma viúva milionária (foi casada com seis magnatas) que há muito passou seu apogeu. Vivendo solitária em sua mansão ela é servida dia e noite por um grupo de lacaios prontos a atender qualquer que seja seu desejo. Isso porém não a impede de ser desbocada, despudorada e abusiva com todos à sua volta. Ditando sua biografia para uma secretária servil ela se surpreende quando um dia chega um desconhecido em sua casa (Burton) que aos poucos vai colocando em xeque o modo de agir da milionária. Há um curioso subtexto no roteiro sobre a real identidade do desconhecido, inclusive a de que ele na realidade seria um anjo da morte, tal como vimos em outra produção mais recente, "Meet Joe Black" com Anthony Hopkins e Brad Pitt. Mas será mesmo? Enfim, altamente recomendado para quem quiser conhecer mais a filmografia do mito Elizabeth Taylor.
O Homem Que Veio de Longe (Boom, Reino Unido, 1968) Direção de Joseph Losey Roteiro: Tennessee Williams baseado em sua peça "The Milk Train Doesn't Stop Here Anymore" / Elenco: Elizabeth Taylor, Richard Burton e Noel Coward / Sinopse: O personagem de Elizabeth Taylor é uma viúva milionária (foi casada com seis magnatas) que há muito passou seu apogeu. Vivendo solitária na mansão ela é servida dia e noite por um grupo de lacaios prontos a atender qualquer que seja seu desejo. Ditando sua biografia para uma secretária servil ela se surpreende quando um dia chega um desconhecido em sua casa (Burton) que aos poucos vai colocando em xeque o modo de agir da milionária
Pablo Aluísio.
sexta-feira, 18 de maio de 2007
De Repente, No Último Verão
Catherine Holly (Elizabeth Taylor) é uma jovem sofrendo de problemas mentais. Em busca de tratamento ela é atendida e acompanhada pelo Dr Cukrowicz (Montgomery Clift). um especialista na área, que atua sob as ordens da dama da sociedade Violet Venable (Katherine Hepburn) que teme que Catherine divulgue um segredo sórdido envolvendo o passado de sua família. O filme começa logo impactando. As duas primeiras cenas juntas duram mais de 50 minutos (praticamente mais da metade do filme). Nelas temos dois grandes "duelos" em cena: Katherine Hepburn e Montgomery Clift e logo em sequência esse ao lado de Liz Taylor. Curioso é que em ambas Clift apenas serve de escada para que as atrizes possam declamar longos textos sobre Sebastian (o personagem cujo rosto nunca aparece mas que é citado em praticamente todos os diálogos do roteiro). Esse começo arrebatador sintetiza tudo: é um filme de diálogos e interpretação, nada mais. Sua gênese teatral não é disfarçada e nem amenizada até porque estamos tratando de Tennessee Williams, um dos grandes dramaturgos da cultura americana.
Achei Elizabeth Taylor extremamente bonita e talentosa no filme. Ela já estava entrando nos seus 30 anos mas ainda continuava belíssima. Mostra talento em cada cena mas não fica à altura de Hepburn (essa realmente foi uma das maiores atrizes da história). Já Montgomery Clift deixa transparecer as cicatrizes e deformações de seu rosto, após o grave acidente que sofreu ao sair de uma festa na casa da amiga Liz Taylor. Ele está contido no papel mas consegue dar conta muito bem do recado mesmo com as várias dores que sofria (atuou praticamente sedado durante todo o filme). O texto é rico e claramente trata da questão homossexual do personagem Sebastian. E foi justamente por essa razão que foi censurado nas telas. A censura partiu do próprio estúdio. A razão foi tentar conseguir uma classificação etária melhor, além de evitar maiores polêmicas com os chamados setores da "boa decência" da sociedade americana, bem atuantes na época de lançamento do filme. A questão da homossexualidade do personagem Sebastian inclusive ficou tão truncada no roteiro final (do aclamado Gore Vidal) que muitos nem se darão conta disso. Por isso recomenda-se conhecer melhor a peça no qual o filme foi adaptado para entender melhor a motivação dos personagens. Os textos de Tennessee Williams eram considerados fortes demais para os padrões morais da época e geralmente chegavam no cinema atenuados ou suavizados. De qualquer forma o resultado não pode ser classificado como menos do que grandioso. Todos brilham em cena – na realidade se trata de uma rara oportunidade de ver tantos talentos juntos em um só filme, o que torna a produção simplesmente imperdível para qualquer cinéfilo que se preze.
De Repente No Último Verão (Suddenly, Last Summer, Estados Unidos, 1959) Direção: Joseph L. Mankiewicz / Roteiro: Gore Vidal baseado na peça "The Roman Spring of Mrs. Stone" de Tennessee Williams / Elenco: Elizabeth Taylor, Katharine Hepburn, Montgomery Clift, Albert Dekker e Mercedes McCambridge./ Sinopse: A história se passa em Nova Orleans, em 1937. Katharine Hepburn, indicada ao Oscar pela sétima vez, está no papel da rica viúva Violet Venable, que quer que um cirurgião (Montgomery Clift) faça uma lobotomia em sua sobrinha Catherine (Elizabeth Taylor, também indicada ao Oscar). Catherine sofre de terríveis pesadelos e impulsos violentos desde a morte do primo, filho de Violet, quando os dois viajavam pela Europa no último verão. Aos poucos os mistérios que cercam sua condição são desvendados.
Pablo Aluísio.
Achei Elizabeth Taylor extremamente bonita e talentosa no filme. Ela já estava entrando nos seus 30 anos mas ainda continuava belíssima. Mostra talento em cada cena mas não fica à altura de Hepburn (essa realmente foi uma das maiores atrizes da história). Já Montgomery Clift deixa transparecer as cicatrizes e deformações de seu rosto, após o grave acidente que sofreu ao sair de uma festa na casa da amiga Liz Taylor. Ele está contido no papel mas consegue dar conta muito bem do recado mesmo com as várias dores que sofria (atuou praticamente sedado durante todo o filme). O texto é rico e claramente trata da questão homossexual do personagem Sebastian. E foi justamente por essa razão que foi censurado nas telas. A censura partiu do próprio estúdio. A razão foi tentar conseguir uma classificação etária melhor, além de evitar maiores polêmicas com os chamados setores da "boa decência" da sociedade americana, bem atuantes na época de lançamento do filme. A questão da homossexualidade do personagem Sebastian inclusive ficou tão truncada no roteiro final (do aclamado Gore Vidal) que muitos nem se darão conta disso. Por isso recomenda-se conhecer melhor a peça no qual o filme foi adaptado para entender melhor a motivação dos personagens. Os textos de Tennessee Williams eram considerados fortes demais para os padrões morais da época e geralmente chegavam no cinema atenuados ou suavizados. De qualquer forma o resultado não pode ser classificado como menos do que grandioso. Todos brilham em cena – na realidade se trata de uma rara oportunidade de ver tantos talentos juntos em um só filme, o que torna a produção simplesmente imperdível para qualquer cinéfilo que se preze.
De Repente No Último Verão (Suddenly, Last Summer, Estados Unidos, 1959) Direção: Joseph L. Mankiewicz / Roteiro: Gore Vidal baseado na peça "The Roman Spring of Mrs. Stone" de Tennessee Williams / Elenco: Elizabeth Taylor, Katharine Hepburn, Montgomery Clift, Albert Dekker e Mercedes McCambridge./ Sinopse: A história se passa em Nova Orleans, em 1937. Katharine Hepburn, indicada ao Oscar pela sétima vez, está no papel da rica viúva Violet Venable, que quer que um cirurgião (Montgomery Clift) faça uma lobotomia em sua sobrinha Catherine (Elizabeth Taylor, também indicada ao Oscar). Catherine sofre de terríveis pesadelos e impulsos violentos desde a morte do primo, filho de Violet, quando os dois viajavam pela Europa no último verão. Aos poucos os mistérios que cercam sua condição são desvendados.
Pablo Aluísio.
quinta-feira, 17 de maio de 2007
Vidas em Fuga
Valentine 'Snakeskin' Xavier (Marlon Brando) é um músico errante de New Orleans que chega numa pequena cidade do sul dos EUA em busca de trabalho. Ele havia sido expulso da última localidade por onde passou acusado de roubo, desordem e vadiagem. Ao procurar por emprego acaba parando numa pequena loja de roupas local. Lá conhece Lady (Anna Magnani) esposa do proprietário, um homem com problemas de saúde. Sozinha, carente e frustrada ela acaba se aproximando de "Snakeskin" cada vez mais. "Vidas em Fuga" foi baseado na peça "Orpheus Descending" que nada mais é do que uma releitura de Tennessee Williams para o famoso clássico Orfeu e Eurídice. Toda a estrutura da peça original está lá. A mulher reprimida e infeliz, o marido desprezível e o amante sedutor, mas perigoso. Williams transporta a trama para o sul racista americano, onde novamente a hipocrisia da sociedade é colocada em evidência. Embaixo de uma superfície de moralidade há uma sordidez latente, bem ao estilo do que realmente imperava nessas pequenas cidades.
O elenco está brilhante. Brando curiosamente está contido. Seu Val "Snakeskin" Xavier é em essência um espectador privilegiado dos acontecimentos. Sua presença sensual e provocadora logo desperta o que há de pior entre os moradores da cidade. Irresistivel para as mulheres e odiado pelos homens, sua persona parece ter sido levemente inspirada em michês que passaram pela vida de Tennessee Williams. É o típico caso do sujeito sem profissão definida, que viaja de cidade em cidade em busca de uma melhor sorte. Para tanto usa de sua beleza para alcançar dinheiro e posição, muitas vezes praticando pequenos delitos no caminho. Já Anna Magnani, com forte sotaque italiano, também esbanja boa atuação. Não deixa de ser curioso o fato dela ter perseguido Brando no set de filmagem em busca de um envolvimento amoroso. Como relatado em sua autobiografia, Marlon descreveu o assédio de Anna como uma busca pela juventude perdida. Com a idade chegando a atriz procurava se envolver cada vez mais com jovens, numa triste metáfora com sua própria personagem no filme. Após várias tentativas frustradas Brando a dispensou discretamente. Ele não tinha qualquer interesse nela, exceto em nível puramente profissional. Os problemas entre os atores nos bastidores porém não prejudicou o resultado final do filme. Brando e Magnani estão perfeitos em seus respectivos papéis. Outro destaque digno de nota é a boa atuação de Joanne Woodward. Na pele de uma personagem complicada que facilmente poderia desandar para a caricatura, Joanne se mostra adequada e talentosa na medida certa. Enfim, nada melhor do que conferir mais uma produção que une Tennessee Williams e Marlon Brando. Não chega a ser tão marcante como "Um Bonde Chamado Desejo" mas mantém o alto nível. O resultado final é excelente.
Vidas em Fuga (The Fugitive Kind, Estados Unidos, 1960) Direção: Sidney Lumet / Roteiro: Meade Roberts adaptado da peça "Orpheus Descending" de Tenneesse Williams / Elenco: Marlon Brando, Anna Magnani, Joanne Woodward e Maureen Stapleton / Sinopse: Valentine Xavier (Marlon Brando) é um artista de New Orleans que vive tocando entre um lugar e outro, até decidir se instalar em uma pequena cidade entre New Orleans e Memphis. Enquanto o passado de Valentine vem à tona, ele se envolve com uma excêntrica mulher casada.
Pablo Aluísio.
O elenco está brilhante. Brando curiosamente está contido. Seu Val "Snakeskin" Xavier é em essência um espectador privilegiado dos acontecimentos. Sua presença sensual e provocadora logo desperta o que há de pior entre os moradores da cidade. Irresistivel para as mulheres e odiado pelos homens, sua persona parece ter sido levemente inspirada em michês que passaram pela vida de Tennessee Williams. É o típico caso do sujeito sem profissão definida, que viaja de cidade em cidade em busca de uma melhor sorte. Para tanto usa de sua beleza para alcançar dinheiro e posição, muitas vezes praticando pequenos delitos no caminho. Já Anna Magnani, com forte sotaque italiano, também esbanja boa atuação. Não deixa de ser curioso o fato dela ter perseguido Brando no set de filmagem em busca de um envolvimento amoroso. Como relatado em sua autobiografia, Marlon descreveu o assédio de Anna como uma busca pela juventude perdida. Com a idade chegando a atriz procurava se envolver cada vez mais com jovens, numa triste metáfora com sua própria personagem no filme. Após várias tentativas frustradas Brando a dispensou discretamente. Ele não tinha qualquer interesse nela, exceto em nível puramente profissional. Os problemas entre os atores nos bastidores porém não prejudicou o resultado final do filme. Brando e Magnani estão perfeitos em seus respectivos papéis. Outro destaque digno de nota é a boa atuação de Joanne Woodward. Na pele de uma personagem complicada que facilmente poderia desandar para a caricatura, Joanne se mostra adequada e talentosa na medida certa. Enfim, nada melhor do que conferir mais uma produção que une Tennessee Williams e Marlon Brando. Não chega a ser tão marcante como "Um Bonde Chamado Desejo" mas mantém o alto nível. O resultado final é excelente.
Vidas em Fuga (The Fugitive Kind, Estados Unidos, 1960) Direção: Sidney Lumet / Roteiro: Meade Roberts adaptado da peça "Orpheus Descending" de Tenneesse Williams / Elenco: Marlon Brando, Anna Magnani, Joanne Woodward e Maureen Stapleton / Sinopse: Valentine Xavier (Marlon Brando) é um artista de New Orleans que vive tocando entre um lugar e outro, até decidir se instalar em uma pequena cidade entre New Orleans e Memphis. Enquanto o passado de Valentine vem à tona, ele se envolve com uma excêntrica mulher casada.
Pablo Aluísio.
terça-feira, 15 de maio de 2007
Gata Em Teto de Zinco Quente
Produção: Elegante, acima de tudo. O enredo se passa todo dentro de um grande casarão que é sede de uma fazendo de algodão no sul dos EUA. Embora isso possa parecer tedioso, não é. Hoje a MGM está à beira da falência mas naquela época não economizava no bom gosto, como bem podemos comprovar aqui. A fazenda tipicamente sulista, o bonito figurino (especialmente de Liz Taylor) e a fotografia inspirada confirmam a elegância da película.
Direção: Eu considero o cineasta Richard Brooks, que dirigiu esse filme, muito mais um roteirista do que um diretor propriamente dito. Sua carreira como diretor é um pouco irregular, onde se mesclam filmes bons e ruins na mesma proporção. Mas aqui seu talento de bom escritor foi conveniente pois ele não promove alterações substanciais no texto de Tennessee Williams e consegue transmitir sem problemas tudo que o dramaturgo queria passar ao público. No fundo o Brooks não complicou e isso já é um mérito e tanto.
Elenco: Ótimo. Elizabeth Taylor, linda e talentosa, mostra serviço e esbanja naturalidade e carisma. Paul Newman, que passa o tempo todo de muletas e engessado, mostra muito talento no papel de Brick Pollitt, talvez o único personagem que valha realmente alguma coisa dentro daquela casa. O curioso é que mesmo atores com escolas diferentes (Newman do teatro e Liz basicamente uma atriz de cinema) conseguem se entender extremamente bem em cena. Sua química salta aos olhos, mesmo Paul Newman interpretando um marido que diante de tantos problemas negligencia sua bela e jovem esposa. Do elenco de apoio tenho que destacar primeiramente Burl Ives (Big Daddy, ótimo em sua caracterização de um homem que não conseguiu passar afeto aos seus familiares) e Madeleine Sherwood (que faz a insuportável Mae Pollitt). Dentre as cenas a que destaco como a melhor na minha opinião é aquela que se passa entre Newman e Ives no porão quando em tom de nostalgia Big Daddy se recorda de seu falecido pai, um mero vagabundo. Ótimo momento no quesito atuação.
Direção: Eu considero o cineasta Richard Brooks, que dirigiu esse filme, muito mais um roteirista do que um diretor propriamente dito. Sua carreira como diretor é um pouco irregular, onde se mesclam filmes bons e ruins na mesma proporção. Mas aqui seu talento de bom escritor foi conveniente pois ele não promove alterações substanciais no texto de Tennessee Williams e consegue transmitir sem problemas tudo que o dramaturgo queria passar ao público. No fundo o Brooks não complicou e isso já é um mérito e tanto.
Elenco: Ótimo. Elizabeth Taylor, linda e talentosa, mostra serviço e esbanja naturalidade e carisma. Paul Newman, que passa o tempo todo de muletas e engessado, mostra muito talento no papel de Brick Pollitt, talvez o único personagem que valha realmente alguma coisa dentro daquela casa. O curioso é que mesmo atores com escolas diferentes (Newman do teatro e Liz basicamente uma atriz de cinema) conseguem se entender extremamente bem em cena. Sua química salta aos olhos, mesmo Paul Newman interpretando um marido que diante de tantos problemas negligencia sua bela e jovem esposa. Do elenco de apoio tenho que destacar primeiramente Burl Ives (Big Daddy, ótimo em sua caracterização de um homem que não conseguiu passar afeto aos seus familiares) e Madeleine Sherwood (que faz a insuportável Mae Pollitt). Dentre as cenas a que destaco como a melhor na minha opinião é aquela que se passa entre Newman e Ives no porão quando em tom de nostalgia Big Daddy se recorda de seu falecido pai, um mero vagabundo. Ótimo momento no quesito atuação.
Roteiro e argumento: O filme foi roteirizado pelo diretor Richard Brooks. Como eu disse antes, ele era mais roteirista do que diretor. Pois bem, embora Tennessee Williams tenha reclamado de algumas mudanças em seu texto original, temos que convir que o roteiro em si é muito bem escrito e trabalhado, deixando o filme com ótimo ritmo, fugindo da armadilha de o deixar teatral demais.. Penso que os textos de autoria do grande Tennessee Williams eram perigosos ao serem adaptados ao cinema, pois poderiam deixar qualquer filme pesado ou com aspecto de teatro filmado, o que não seria adequado pois artes diferenciadas exigem também adaptações diferentes. Nem sempre o que é adequado ao teatro consegue ser satisfatório na tela. Em "Gata em Teto de Zinco Quente" isso definitivamente não acontece e o espectador ao final da exibição terá a certeza de que assistiu a um grande filme, cinema puro.
Gata em Teto de Zinco Quente (Cat on a Hot Tin Roof,Estados Unidos, 1958) Diretor: Richard Brooks / Roteiro: James Poe e Richard Brooks baseado na peça "Cat on a Hot Tin Roof" de Tennessee Williams / Elenco: Elizabeth Taylor, Paul Newman, Burl Ives, Jack Carson, Judith Anderson./ Sinopse: Jovem esposa (Elizabeth Taylor) não consegue entender o que se passa com seu marido (Paul Newman), um homem em constante crise existencial.
Pablo Aluísio.
Gata em Teto de Zinco Quente (Cat on a Hot Tin Roof,Estados Unidos, 1958) Diretor: Richard Brooks / Roteiro: James Poe e Richard Brooks baseado na peça "Cat on a Hot Tin Roof" de Tennessee Williams / Elenco: Elizabeth Taylor, Paul Newman, Burl Ives, Jack Carson, Judith Anderson./ Sinopse: Jovem esposa (Elizabeth Taylor) não consegue entender o que se passa com seu marido (Paul Newman), um homem em constante crise existencial.
Pablo Aluísio.
sexta-feira, 11 de maio de 2007
Uma Rua Chamada Pecado
Passados mais de sessenta anos, o longa "Uma Rua Chamada Pecado" (A Streetcar Named Desire - 1951) ainda mantém no ar e intactos, alguns dos sentimentos mais básicos e primários do Homem: sexo, violência e desejo. Mesmo na época de seu lançamento, e a pedido da Warner - que se via pressionada pela censura - o filme sofreu cortes generosos, para desespero de seu diretor, Elia Kazan, que lutou até o fim para que sua obra-prima não sofresse os cortes já determinados pelos "abutres da censura". Não teve jeito, Kazan foi derrotado. Durante muitos anos (até 1993), o filme foi exibido e comercializado com cinco minutos a menos que faziam total diferença no conjunto da obra. No Brasil não foi diferente. O que poderia ser literalmente traduzido para o português, como: "Um Bonde Chamado Desejo", de repente transformou-se em, "Uma Rua Chamada Pecado". Ou seja: a censura não via com bons olhos a palavra DESEJO. Realmente inacreditável, além de lamentável.
Baseado na obra premiada do dramaturgo americano Thomas Lanier Williams ou simplesmente, Tennessee Williams, a obra trata de um redemoinho alucinante de sentimentos. Tudo começa quando Blanche Du Bois (Vivien Leigh), uma professorinha de alma delicada e decadente do Mississipi, vai passar alguns dias com sua irmã Stella (Kim Hunter), e o cunhado Stanley Kowalski (Marlon Brando) em Nova Orleans. Frágil e sedutora, seu comportamento contrasta com os modos rudes e animalescos de Kowalski. A visita de poucos dias parece não ter mais fim, pois o esforço de Blanche, forçando uma convivência pacífica, irrita profundamente Kowalski que aos poucos vai se transformando numa fera. O pequeno apartamento parece ficar menor a cada minuto, sufocante, claustrofóbico. Uma panela de pressão a ponto de explodir. É justamente toda essa atmosfera, que pôs Marlon Brando em evidência para o mundo. Mal ele podia imaginar que sua atuação como Stanley Kowalski, o tornaria uma espécie de marco fundamental. Um divisor de águas entre o cinema pré e pós Marlon Brando. Ou seja: o cinema, mas, principalmente, os atores que vieram posteriormente, não seriam mais os mesmos.
A influência dos chamados "monstros sagrados" do Actor's Studios, entraria como um vírus, para sempre em suas veias. Brando, na pele do animalesco Kowalski, consegue manifestar toda a sua capacidade interpretativa e criativa. Numa completa desambiguidade o organismo Brando-Kowalski é um corpo incandescente que se move lentamente, com olhos injetados de um animal, transpirando suor, ódio e testosterona, quase sempre na mesma medida. Em uma leitura personalíssima e explosiva da obra, Brando se entrega de corpo e alma a um personagem de maldade e furor acachapantes. Sua atuação majestosa é o que Roland Barthes chamava de "quantificação da qualidade" - "pouco interessa o que se fala, o que interessa mesmo é o suor, o grito, o medo e o ódio". Parece que Uma Rua Chamada Pecado foi feita na medida certa para transformar-se depois num réquiem eterno para o genial Marlon Brando. Nota 10.
Uma Rua Chamada Pecado (A Streetcar Named Desire, EUA, 1951) Direção: Elia Kazan / Roteiro: Oscar Saul baseado na peça de Tennessee Williams / Elenco: Vivien Leigh, Marlon Brando, Kim Hunter,Karl Malden / Sinopse: Blanche (Vivien Leigh) uma problemática mulher resolve ir visitar sua irmã Stella (Kim Hunter) em New Orleans. Lá conhece Stanley (Marlon Brando) o rude e provocativo cunhado. Não tarda a se instalar um clima de tensão entre todos os moradores daquele pequeno apartamento.
Telmo Vilela Jr.
Baseado na obra premiada do dramaturgo americano Thomas Lanier Williams ou simplesmente, Tennessee Williams, a obra trata de um redemoinho alucinante de sentimentos. Tudo começa quando Blanche Du Bois (Vivien Leigh), uma professorinha de alma delicada e decadente do Mississipi, vai passar alguns dias com sua irmã Stella (Kim Hunter), e o cunhado Stanley Kowalski (Marlon Brando) em Nova Orleans. Frágil e sedutora, seu comportamento contrasta com os modos rudes e animalescos de Kowalski. A visita de poucos dias parece não ter mais fim, pois o esforço de Blanche, forçando uma convivência pacífica, irrita profundamente Kowalski que aos poucos vai se transformando numa fera. O pequeno apartamento parece ficar menor a cada minuto, sufocante, claustrofóbico. Uma panela de pressão a ponto de explodir. É justamente toda essa atmosfera, que pôs Marlon Brando em evidência para o mundo. Mal ele podia imaginar que sua atuação como Stanley Kowalski, o tornaria uma espécie de marco fundamental. Um divisor de águas entre o cinema pré e pós Marlon Brando. Ou seja: o cinema, mas, principalmente, os atores que vieram posteriormente, não seriam mais os mesmos.
A influência dos chamados "monstros sagrados" do Actor's Studios, entraria como um vírus, para sempre em suas veias. Brando, na pele do animalesco Kowalski, consegue manifestar toda a sua capacidade interpretativa e criativa. Numa completa desambiguidade o organismo Brando-Kowalski é um corpo incandescente que se move lentamente, com olhos injetados de um animal, transpirando suor, ódio e testosterona, quase sempre na mesma medida. Em uma leitura personalíssima e explosiva da obra, Brando se entrega de corpo e alma a um personagem de maldade e furor acachapantes. Sua atuação majestosa é o que Roland Barthes chamava de "quantificação da qualidade" - "pouco interessa o que se fala, o que interessa mesmo é o suor, o grito, o medo e o ódio". Parece que Uma Rua Chamada Pecado foi feita na medida certa para transformar-se depois num réquiem eterno para o genial Marlon Brando. Nota 10.
Uma Rua Chamada Pecado (A Streetcar Named Desire, EUA, 1951) Direção: Elia Kazan / Roteiro: Oscar Saul baseado na peça de Tennessee Williams / Elenco: Vivien Leigh, Marlon Brando, Kim Hunter,Karl Malden / Sinopse: Blanche (Vivien Leigh) uma problemática mulher resolve ir visitar sua irmã Stella (Kim Hunter) em New Orleans. Lá conhece Stanley (Marlon Brando) o rude e provocativo cunhado. Não tarda a se instalar um clima de tensão entre todos os moradores daquele pequeno apartamento.
Telmo Vilela Jr.
Assinar:
Postagens (Atom)