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terça-feira, 26 de abril de 2022

Crepúsculo de Uma Raça

Quando o filme começa vemos um posto avançado da cavalaria do exército dos Estados Unidos em território demarcado como reserva indígena do povo Cheyenne. Aos poucos milhares de nativos chegam ali. Eles querem se encontrar com um senador que está chegando da capital. Querem mostrar para ele como as terras daquele lugar são desertas, sem água e nem comida. Que viver ali não seria possível. Os índios chegam pela manhã e ficam em pé esperando o senador que parece nunca chegar. Depois de horas de espera eles cansam de esperar e vão embora. Estão ofendidos e com razão. E decidem ir embora da reserva. O problema é que o comandante da tropa da cavalaria, o capitão Thomas Archer (Richard Widmark) tem ordens para evitar isso, usando de violência, se necessário for. Mas como ele vai atirar em crianças, idosos e mulheres indefesas?

Esse filme de John Ford foi uma espécie de pedidos de desculpas do cineasta para com o povo nativo dos Estados Unidos. Durante anos ele filmou filmes de western usando os indígenas como vilões e selvagens. Nesse filme ele decidiu que também iria mostrar o outro lado, o lado das nações nativas da América. O filme é assim dividido em três atos bem claros. No primeiro temos a fuga dos Cheyennes da reserva deserta e hostil para onde foram levados. No segundo ato, passado na cidade de Dodge City, há um pânico quando moradores descobrem que os índios estão chegando a na última parte vemos o desfecho, a conclusão da história.

Embora seja um filme muito bom ele se torna irregular por causa do segundo ato, em Dodge City. James Stewart aqui interpreta o xerife Wyatt Earp, mas tudo em tom de comédia, de humor, o que destoa do restante do filme. Quando eles saem em perseguição dos índios no deserto tudo parece um episódio de Corrida Maluca. Algo que quebra o ritmo sério e concentrado do restante do filme. O que diabos tinha John Ford na cabeça quando rodou esse segundo ato? Felizmente o filme retoma sua seriedade inicial na terceira e última parte, quando os indígenas chegam em um forte do exército americano. Ali eles esperam um tratamento adequado para seres humanos. Esperam que o governo americano encontre uma solução para eles. Quem se destaca nessa última parte é o veterano ator Edward G. Robinson. Ele interpreta o secretário do interior Carl Schurz, um homem justo e humano.

Então é isso. Temos aqui um filme que quase foi estragado pelo próprio John Ford na sua equivocada decisão de inserir humor em um filme com temática séria demais para esse tipo de coisa. O western assim se vale das duas partes (inicial e final) para se assumir como grande obra cinematográfica. Há elementos demais a se pensar nesse roteiro, de como o governo dos Estados Unidos foi injusto e cruel com os índios daquele país. Uma dívida história que pensando bem até hoje não foi devidamente paga!

Crepúsculo de Uma Raça (Cheyenne Autumn, Estados Unidos, 1964) Direção: John Ford / Roteiro: James R. Webb, Howard Fast / Elenco: Richard Widmark, James Stewart, Edward G. Robinson, Karl Malden, Ricardo Montalban, Carroll Baker, Sal Mineo, Dolores del Rio, Patrick Wayne, Gilbert Roland / Sinopse: O filme conta a história da fuga de um enorme grupo de índios da nação Cheyenne de uma reserva deserta dada pelo governo dos Estados Unidos. Assim que eles deixam a reserva passam a ser perseguidos pela cavalaria, dando origem a diversos confrontos e conflitos. Filme indicado ao Oscar na categoria de melhor direção de fotografia (William H. Clothier). Também indicado ao Globo de Ouro na categoria de melhor ator coadjuvante (Gilbert Roland).

Pablo Aluísio. 


terça-feira, 25 de janeiro de 2022

Crepúsculo de uma Raça

Título no Brasil: Crepúsculo de uma Raça
Título Original: Cheyenne Autumn
Ano de Produção: 1964
País: Estados Unidos
Estúdio: Warner Bros
Direção: John Ford
Roteiro: Mari Sandoz, James R. Webb
Elenco: James Stewart, Richard Widmark, Karl Malden, Sal Mineo, Edward G. Robinson, Ricardo Montalban

Sinopse:
No ano de 1878, o governo decide deixar de doar os suprimentos e alimentos necessários para a sobrevivência da nação indígena Cheyenne, levando centenas de milhares de índios a saírem da reserva em Oklahoma até o Wyoming, local onde sempre viveram. Thomas Archer, Capitão da Cavalaria, recebe a tormentosa missão de vigiar e conter os anseios de guerra dos índios, mas durante esse processo de convivência durante o percurso, passa a nutrir um grande respeito pelos nativos americanos.

Comentários:
Foi um dos últimos filmes da carreira do diretor John Ford. Nessa produção ele novamente decidiu reunir um grande elenco para contar esse lado menos heroico da conquista do velho oeste dos Estados Unidos. Ao lado de grandes cenas, explorando novamente a beleza natural de lugares como o Monument Valley, o mestre do cinema também cometeu alguns erros. Não é um filme perfeito, tem suas falhas. Uma delas é a longa duração. Esse faroeste assim acaba parecendo mais longo do que deveria ser, com excesso de tramas secundárias que não adicionam muito ao resultado final. Há uma longa parte no meio do filme com James Stewart que exagera nas doses de humor, quebrando o ritmo de um filme que deveria ter um tom mais sério. John Ford sempre tentou trazer algum tipo de alívio cômico em seus filmes, mas aqui ele definitivamente errou a mão. De qualquer forma esse último western assinado por Ford se mantém relevante por causa do teor de seu roteiro que procurou trazer uma visão mais consciente e humana em relação aos nativos americanos. Salvo por suas boas intenções, prejudicado um pouco por alguns deslizes de seu diretor, o filme ainda é um marco importante nesse gênero cinematográfico tão importante dentro do cinema americano. Filme indicado ao Oscar na categoria de melhor direção de fotografia (William H. Clothier).

Pablo Aluísio.

sexta-feira, 16 de outubro de 2020

A Face Oculta

Esse western foi o único filme dirigido por Marlon Brando. Foi um projeto complicado desde o começo. Inicialmente a Paramount escolheu o genial Stanley Kubrick para dirigir o filme, mas atritos com Brando fizeram com que o cineasta resolvesse abandonar a produção. Como Marlon Brando confiava na qualidade do material e parte do dinheiro do orçamento de produção vinha de sua própria produtora (a Pennebaker Productions) ele tomou uma decisão inédita em sua carreira. Ele decidiu que assumiria a direção do filme. Foi uma decisão precipitada e muito ousada pois Brando nunca havia dirigido nada em sua vida. Ele era um ótimo ator, mas nunca havia estudado uma linha para assumir a direção de um filme. Ele não tinha experiência e nem o conhecimento técnico para essa função. A direção de Marlon Brando transformou "A Face Oculta" em um verdadeiro elefante branco cinematográfico. Sem experiência nenhuma na arte de dirigir um filme, Brando começou a filmar a esmo, sem foco, sem rumo certo a tomar. 

Durante as filmagens ficou óbvio para todos que sua inexperiência iria tornar tudo mais caro, demorado e complicado. Ele não tinha a menor capacidade técnica para realizar o filme. Coisas óbvias como a escolha da lente da câmera ou das técnicas de se filmar em locações eram desconhecidas para o ator. Brando resolveu contratar o ator e amigo Karl Malden para o papel de xerife, uma escolha que a Paramount achava equivocada já que o personagem era bem mais velho do que ele. E assim os erros foram se acumulando cada vez mais. Outro problema foi o estouro rápido do orçamento. Marlon chegou a ficar um dia inteiro filmando ondas no mar em busca da "onda perfeita" para aparecer no filme. Seu primeiro rolo editado chegou nas mãos do estúdio com cinco horas de duração! Era uma metragem absurda, completamente fora dos padrões e nada comercial. A Paramount então resolveu assumir o controle da edição final do filme, tentando montar no meio de horas e horas de filmagens inúteis, um enredo que fizesse sentido para o público. Foi um trabalho imenso que levou meses para ficar pronto e mesmo assim tudo resultou em um filme muito longo... e muitas vezes muito chato! Pelo menos essa foi a opinião dominante entre os críticos na época de lançamento original do filme.

Marlon Brando, por sua vez, passou a falar mal do filme aos jornalistas que lhe perguntavam quando o filme iria ser lançado. Ele nem pensava duas vezes antes de dizer que esse faroeste era um desastre e que dirigir tinha sido uma das piores experiências de sua vida. O resultado que chegou até o público mostra bem os problemas da película. Mesmo completamente cortado e editado, o filme se mostrou muitas vezes longo e sem direção, caindo, em alguns momentos, no marasmo completo. A crítica em 1961 obviamente malhou impiedosamente o filme quando chegou aos cinemas, mas curiosamente o tempo parece ter feito bem ao western, uma vez que hoje em dia ele assumiu um status de cult movie que ninguém previra em sua chegada aos cinemas na década de 1960.

A Face Oculta (One-Eyed Jacks, Estados Unidos, 1961) Direção: Marlon Brando / Roteiro: Guy Trosper, Calder Willingham / Elenco: Marlon Brando, Karl Malden, Pina Pellicer, Katy Jurado, Ben Johnson / Sinopse: Traição e morte rondam os envolvidos em um roubo no México anos atrás. Único filme dirigido por Marlon Brando. Filme indicado ao Oscar na categoria de melhor direção de fotografia (Charles Lang).

Pablo Aluísio.


quinta-feira, 9 de julho de 2020

O Grande Impostor

Após o grande sucesso de público e crítica de “Spartacus”, Tony Curtis voltou para a Universal, o estúdio onde aprendeu a ser um ator e um astro, para estrelar esse “O Grande Impostor”, filme baseado na história real de Ferdinand Demara, um sujeito que a despeito de nem ter concluído o ensino médio se fazia passar por psicólogo, professor, médico, monge, criminalista e qualquer outra profissão que lhe surgisse pela frente. Dono de uma memória fotográfica ele conseguia aprender os rudimentos de cada profissão e assim enganava a todos por onde passava. Embora não tivesse educação formal completa era dono de uma inteligência acima do normal. Com alto Q.I. conseguia se passar até por médico cirurgião. Em todos os seus disfarces conseguia angariar simpatias e agradecimentos pelas pessoas que ia ajudando. Desmascarado pelo FBI acabou sendo preso mas depois de algum tempo seu paradeiro se tornou novamente incerto e indeterminado. A última vez que houve notícias dele foi em 1962. Não se sabe onde foi parar, provavelmente em algum lugar remoto utilizando-se de mais algum personagem criado para si próprio com a finalidade de enganar os que viviam ao seu redor.

Tony Curtis encontrou um bom veículo para seu tipo mais característico, a do bom malandro que embora enganasse a todos não o fazia por mal e no final das contas realmente não prejudicava ninguém, só a si mesmo. O mais curioso é que embora Demara fosse, em essência, apenas um criminoso, o roteiro lhe é bastante simpático. O tom é de comédia leve, com alguns poucos momentos de tensão. Em um deles Demara fingindo-se um psicólogo especialista em sistema penitenciário adentra uma ala do presídio com os mais violentos criminosos.

Conversando com eles tenta amenizar o comportamento hostil de alguns presos mas sem grande sucesso, pois um deles logo resolve puxar um canivete para um acerto de contas. Em outro momento, Demara se passando por um médico cirurgião dentro de um navio da marinha, se vê de repente na incumbência de cuidar de vários doentes – algo que não sabia fazer pois afinal não era um médico de verdade. Outro bom destaque do elenco é o ator Karl Malden, interpretando um padre que funciona dentro da trama como uma consciência do próprio impostor. No saldo final “O Grande Impostor” diverte e entretém. O personagem picaresco do filme consegue manter sempre o interesse do espectador. Filme leve e divertido que vale a pena ser assistido.

O Grande Impostor (The Great Impostor, Estados Unidos, 1961) Direção: Robert Mulligan / Roteiro: Robert Crichton, Liam O'Brien / Elenco: Tony Curtis, Karl Malden, Edmond O'Brien, Arthur O´Connell, Joan Blackman / Sinopse: Freddy Demara (Tony Curtis) é um sujeito que se faz passar por diversos profissionais mesmo nunca tendo estudado ou se formado nessas profissões. Assim, de acordo com as circunstâncias, ele se disfarça de médico, psicólogo, professor, monge e mais o que lhe parecer conveniente. Procurado pelo FBI ele tenta escapar através de seus inúmeros disfarces.

Pablo Aluísio.

quinta-feira, 21 de maio de 2020

O Homem de Alcatraz

Título no Brasil: O Homem de Alcatraz
Título Original: Birdman of Alcatraz
Ano de Produção: 1962
País: Estados Unidos
Estúdio: United Artists
Direção: John Frankenheimer
Roteiro: Guy Trosper
Elenco: Burt Lancaster, Karl Malden, Thelma Ritter, Neville Brand, Betty Field, Telly Savalas 

Sinopse:
A história do filme é baseada em fatos reais, com roteiro adaptado do livro escrito por Thomas E. Gaddis. Robert Stroud (Burt Lancaster) é um prisioneiro federal que cumpre pena na prisão de morte em Alcatraz, na Baía de San Francisco. Ele ficou famoso ao se tornar, de forma completamente autodidata dentro da prisão, uma autoridade sobre assuntos científicos envolvendo pássaros.

Comentários:
Esse filme é maravilhoso, se tornando até mesmo emocionante. Ele mostra, através da história real de um prisioneiro americano em Alcatraz, a capacidade do ser humano em superar adversidades. O protagonista supera o fato de sofrer uma condenação à morte para tentar se tornar um homem melhor. Durante uma manhã um passarinho pousa na janela de sua cela. O animal está ferido. Então ele começa a tratar a ave. Isso inicia um interesse pessoal dele por ciência, por biologia. Ele então começa a estudar os pássaros, estudando dia e noite, se tornando um dos maiores experts no assunto em seu país. Assim começa uma campanha fora da cadeia para que ele não seja executado, afinal ele se mostra completamente recuperado, virando mesmo um homem sábio dentro da cadeia, mostrando que nem as paredes de uma prisão podem cercear o desejo de um homem em busca do conhecimento e da ciência. O filme é perfeito como obra cinematográfica em si, embora tenha sofrido diversas críticas em seu lançamento original por supostamente romancear demais a personalidade de Robert Stroud. Na vida real ele era sim extremamente inteligente, com alto QI, algo que o roteiro do filme deixa bem claro, porém tinha também uma personalidade perigosa e violenta, um tanto diferente do bondoso personagem interpretado por Burt Lancaster. Isso porém não apaga o fato de que esse é um grande filme. Como puro cinema é nota 10 com louvor. Filme indicado ao Oscar nas categorias de melhor ator (Burt Lancaster), melhor ator coadjuvante (Telly Savalas), melhor atriz coadjuvante (Thelma Ritter) e melhor direção de fotografia (Burnett Guffey).

Pablo Aluísio.

quarta-feira, 19 de fevereiro de 2020

A Tortura do Silêncio

Outro grande clássico do mestre do suspense Alfred Hitchcock. Aqui o diretor decidiu lidar com um tema controverso, um dogma da igreja católica, o segredo da confissão. Na trama esse aspecto é muito bem explorado. Inesperadamente o empregado de uma paróquia resolve se confessar ao padre Michael Logan (Montgomery Clift) revelando que acabara de assassinar um advogado após um assalto mal sucedido. Para isso ele tinha até mesmo usado a própria batina do religioso, que havia sido roubada de seus aposentos. Como fruto de confissão, Logan agora não poderia mais contar a verdade para a polícia. O pior de tudo é que o inspetor Larrue (Karl Malden) começa a desconfiar que o próprio padre foi de fato autor do crime, afinal todas as pistas parecem apontar para seu lado, inclusive um complicado relacionamento dele com a bela Ruth Grandfort (Anne Baxter), uma mulher casada que estava sendo chantageada pelo mesmo advogado que foi morto. E agora, conseguirá o Padre Logan provar sua inocência sem romper seu juramento de nunca revelar as confissões de seus fiéis?

Provavelmente um dos mais bem elaborados filmes do mestre Alfred Hitchcock. Aqui ele coloca vários dogmas da fé católica na berlinda, ao mostrar um padre que não pode romper o segredo da confissão ao mesmo tempo em que tenta provar sua inocência em razão de um crime que nunca cometeu. Outro ponto interessante é a forma como Hitchcock lida com o celibato dos padres. Logan tem um amor em seu passado, quando era apenas um jovem prestes a ir para a guerra, justamente uma mulher casada que mesmo após tantos anos não consegue esquecer. A montagem do quebra-cabeças acaba levando o padre, um homem de grande fibra moral, ao desprezo público. Todos o consideram culpado, apenas pelo fato de ser um homem religioso que se encontrava com um antigo amor. Será que ele não merecia nem ao menos um voto de confiança? Como pode um homem tão bom e íntegro ser desacreditado assim, praticamente da noite para o dia?

O papel do torturado e existencial Padre Logan se mostra ideal para Montgomery Clift. A fragilidade física do ator, aliada a uma grande fibra espiritual, se mostra perfeita para a proposta do enredo. Há uma cena em que Hitchcock faz um paralelo muito perspicaz sobre o verdadeiro calvário que seu personagem passa. Enquanto ele anda a esmo, na rua, em profundo conflito interior por tudo o que passa, surge em primeiro plano, no alto de uma igreja, uma imagem de Cristo e os soldados romanos durante sua penosa caminhada rumo ao calvário. Um efeito até mesmo simples, mas muito significativo do mestre do suspense. A imagem funciona assim como uma materialização de tudo aquilo que o pobre padre passa naquele momento. A vivência mais plena do que é ser cristão de verdade. A acusação infundada, o abandono por parte de seus próprios fiéis, o escárnio público e a condenação sem provas consistentes.

Por falar no diretor, ele é a primeira pessoa que surge em cena, no alto de uma grande escadaria logo na abertura do filme. Hitchcock sempre fazia essas pequenas aparições em suas produções e aqui o momento é mais do que divertido. Por trás da diversão também havia um aspecto sério a se considerar. A impressão que passa é que o cineasta tentava exorcizar mais um de seus conflitos internos com o filme. Como se sabe Hitchcock tinha uma relação de amor e ódio em relação ao catolicismo, algo que aqui ele acaba passando para a tela. Ao mesmo tempo em que martiriza seu personagem principal, o padre, também o enche de muita dignidade e honestidade. O transforma em um santo perseguido. Uma cristalina imagem do que ele próprio sentia em relação à Igreja de Roma. Assim fica a recomendação desse grande trabalho do genial diretor. Fé, conflito espiritual, tentação, injustiça, mentira e hipocrisia formam o núcleo de uma trama simplesmente brilhante. Assista e entenda porque Hitchcock foi um dos maiores gênios da história do cinema.

A Tortura do Silêncio (I Confess, Estados Unidos, 1953) Estúdio: Warner Bros / Direção: Alfred Hitchcock / Roteiro: George Tabori, William Archibald / Elenco: Montgomery Clift, Anne Baxter, Karl Malden / Sinopse: Jovem padre passa a ser o principal suspeito de um crime de assassinato. Ele é inocente e sabe quem foi o verdadeiro culpado, mas não pode contar para os policiais pois esse segredo lhe foi passado em confissão, ao qual ele tem que manter sigilo por causa de um dogma de fé da igreja católica. Filme indicado no Cannes Film Festival na categoria de Melhor Direção (Alfred Hitchcock).

Pablo Aluísio. 

domingo, 16 de fevereiro de 2020

A Conquista do Oeste

Quando a Metro anunciou "A Conquista do Oeste" o estúdio deixou claro suas intenções: realizar o filme definitivo sobre a expansão da civilização norte-americana em direção ao oeste selvagem.  Para isso não mediu esforços colocando à disposição do filme tudo o que estúdio tinha de mais importante na época. Atores, diretores, roteiristas, tudo do bom e do melhor foi direcionado para esse projeto. Os grandes nomes do western foram contratados. John Wayne e James Stewart logo assinaram para participarem do elenco. Os diretores consagrados John Ford e George Marshall também entraram no projeto sem receios. Era uma grande equipe reunida. Além do capital humano a Metro resolveu investir em um novo formato de exibição onde três telas enormes projetavam cenas do filme. A técnica conhecida como Cinerama visava proporcionar ao espectador uma sensação única de imersão dentro do filme. Para isso há uso de longas tomadas abertas, tudo para dar a sensação ao público de que realmente está lá, no velho oeste. Era claramente uma tentativa da Metro em barrar o avanço da televisão que naquele ano havia tirado uma grande parte da bilheteria dos filmes. Assim "A Conquista do Oeste" chegava para marcar a história do cinema... bom, pelo menos essa era a intenção.

Realmente é uma produção de encher os olhos, com três diretores e um elenco fenomenal. O resultado de tanto pretensão porém ficou pelo meio do caminho. "A Conquista do Oeste" passa longe de ser o filme definitivo do western americano. Na realidade é uma produção muito megalomaníaca que a despeito dos grandes nomes envolvidos não passa de uma fita convencional, pouco memorável. O problema é definitivamente de seu roteiro. São vários episódios com linhas narrativas que as ligam numa unidade, mas nenhuma delas é bem desenvolvida. Tudo soa bem superficial.

O grande elenco também é outro problema. Apesar dos mitos envolvidos nenhum deles tem oportunidade de disponibilizar um bom trabalho, realmente marcante. John Wayne, por exemplo, só tem praticamente duas cenas sem maior importância. Ele interpreta o famoso general Sherman, mas isso faz pouca diferença pois tão rápido como aparece, desaparece do filme, deixando desolados seus fãs que esperavam por algo mais substancioso. James Stewart tem um papel um pouquinho melhor, de um pioneiro que vive nas montanhas, mas é outro grande nome que também é desperdiçado. A única que faz parte de todos os segmentos é a personagem de Debbie Reynolds, porém ela não é uma figura de ponta no mundo do faroeste. Quem não gosta dela certamente não se importará com sua personagem. Assim, em conclusão, podemos definir "A Conquista do Oeste" como um filme grande, mas não um grande filme. Faltou um melhor equilíbrio.

A Conquista do Oeste  (How the West Was Won, Estados Unidos, 1962)  Direção: John Ford ("The Civil War") / Henry Hathaway ("The Rivers", "The Plains", "The Outlaws") / George Marshall ("The Railroad") / Roteiro: James R. Webb, John Gay / Elenco: Debbie Reynolds, James Stewart, Lee J. Cobb, Henry Fonda, Carolyn Jones, Karl Malden, Gregory Peck, George Peppard, Richard Widmark, Eli Wallach, John Wayne / Sinopse: A saga de uma família de pioneiros cujos descendentes participarão dos grandes eventos que marcaram a história do oeste americano.Filme vencedor do Oscar nas categorias de Melhor Roteiro (James R. Webb), Melhor Som (Franklin Milton) e Melhor Edição (Harold F. Kress).

Pablo Aluísio. 

sexta-feira, 20 de dezembro de 2019

O Matador

Jimmy Ringo (Gregory Peck) é um famoso pistoleiro do velho oeste que chega na pequena cidade de Cayenne. Ele almeja reencontrar a mãe de seu filho, além de finalmente encontrar o garoto que não vê há muitos anos. O problema é que Ringo não consegue se desvencilhar de sua fama de rápido no gatilho. Isso lhe causa todo tipo de problemas pois sempre encontra pela frente alguém que queira desafiá-lo para um duelo. Além disso as mortes que causou nunca o deixam em paz pois sempre há alguém na espreita tentando vingar um parente, um filho ou um amigo morto por Ringo. Esse “O Matador” é um clássico absoluto do chamado western psicológico. Aqui acompanhamos Ringo tentando ter um momento de normalidade em sua vida, algo simplesmente impossível pois sua fama o precede. Assim que chega na nova cidade a garotada corre para ver o famoso pistoleiro em pessoa. Os moradores obviamente ficam apreensivos com sua presença, pois é quase certo acontecer algo inesperado na pacata localidade. Essa é uma das mitologias mais caras ao oeste americano, a do pistoleiro errante que não consegue mais viver em paz pois a cada novo lugar que chega é desafiado. Com isso acaba colecionando um enorme número de mortes em sua trajetória, além de sempre ter que enfrentar potenciais vingadores aonde quer que vá.

O personagem Jimmy Ringo interpretado por Gregory Peck é inspirado no famoso pistoleiro Johnny Ringo. Esse foi um dos mais famosos foras-da-lei do velho oeste. Sua história é bem conhecida por historiadores e especialistas no assunto. Ele era inimigo declarado do famoso xerife Wyatt Earp e seus irmãos, além de possuir uma grande rixa pessoal com o famoso Doc Holliday. De fato ambos se odiavam. Quase sempre se encontrando em esfumaçados saloons a dupla entrou em confronto várias vezes. Infelizmente o roteiro de “O Matador” esqueceu de citar Doc na história de Ringo, embora não tenha esquecido de colocar Wyatt Earp no enredo. Aliás é bom frisar que muita coisa ficou fora da produção, o que é compreensível, pois o filme não se propõe a ser uma biografia de Ringo, mas apenas ser um bom western psicológico – o que faz muito bem.

Na história real Ringo foi o principal suspeito da morte de Virgil Earp, irmão do famoso xerife. Algum tempo depois foi encontrado morto no deserto e sua morte até hoje é motivo de controvérsias. Algumas teorias afirmam que ele encontrou-se finalmente com Doc Holliday em uma última e decisiva vez e que teria sido morto em um duelo mortal contra o famoso pistoleiro, mas nada disso é mostrado no filme. Seu destino aliás toma outros rumos no roteiro dessa produção, de forma totalmente ficcional. O resultado final, apesar das omissões históricas propositais, é de alto nível. Até hoje “O Matador” é citado em livros e revistas especializadas sobre cinema e western, sendo considerado um dos grandes faroestes do cinema americano. Johnny Ringo apareceria em muitas outras ocasiões no cinema, geralmente retratado como vilão sanguinário. O que importa aqui é a forma como parte de sua história é contada. Impossível não recomendar “O Matador”, um filme obrigatório para quem gosta da história do oeste selvagem.

O Matador (The Gunfighter, Estados Unidos, 1950) Direção: Henry King / Roteiro: William Bowers, William Sellers / Elenco: Gregory Peck, Helen Westcott, Millard Mitchell, Karl Malden, Jean Parker, Skip Homeier / Sinopse: Jimmy Ringo (Gregory Peck) é um famoso pistoleiro no velho oeste que vai até uma pequena cidade para conhecer seu filho, um garoto de 8 anos que há muito tempo não vê. No caminho começa a ser perseguido por três irmãos de um dos cowboys que matou durante um duelo em um saloon. O confronto se mostra inevitável e tudo se torna apenas uma questão de tempo.

Pablo Aluísio. 

sexta-feira, 1 de novembro de 2019

Sindicato de Ladrões

Durante anos o diretor Elia Kazan foi considerado um traidor em Hollywood. Ele havia entregado para o Macarthismo um grande número de profissionais do cinema. Cineastas, roteiristas, atores, atrizes, muitos viram suas carreiras destruídas por causa de Kazan. Essas pessoas faziam parte do Partido Comunista, do qual Kazan também era membro. Quando a coisa apertou, ele entregou todo mundo. Alguns foram presos, outros banidos de Hollywood e alguns até mesmo cometeram suicídio. Com isso Kazan ficou marcado para sempre. Uma maneira dele procurar por uma redenção aconteceu com esse clássico chamado "Sindicato de Ladrões".

Para Marlon Brando esse filme era o retrato de todos os fracassados da América. Todos os derrotados pelo sistema. Aquelas pessoas que não conseguiam o sucesso, a fama e a fortuna. Ele interpretava um boxeador com uma carreira cheia de fracassos que entregava as lutas para que a máfia ganhasse dinheiro fácil no mundo das apostas esportivas. Algum tempo depois essa mesma quadrilha acabava cometendo um crime, colocando um peso a mais na consciência do personagem de Brando. Era aqui que Kazan tentava justificar seus atos no passado, tentando criar uma justificativa baseada em grandes valores para todos aqueles que entregavam seus antigos comparsas ou como no caso dele, dos antigos companheiros de causa.

O filme traz um retrato cru e realista. As cenas foram rodadas nas ruas e nas docas, no meio de pessoas comuns, sem excessos de produção e nem nada do tipo. Marlon Brando, com seu jeito da classe trabalhadora, simplesmente atuava ao lado das pessoas do dia a dia, sempre procurando pelo realismo. Seu talento lhe valeu o primeiro Oscar de sua carreira. Curiosamente Brando compareceu à cerimônia onde recebeu a estatueta de uma linda Grace Kelly. Depois tirou fotos e seguiu todo o protocolo da Academia. Algo que iria renegar anos depois quando seria premiado por "O Poderoso Chefão", ao recusar a premiação. No caso do Oscar vencido por "Sindicato de Ladrões" ele decidiu dar a estatueta para um amigo. Era uma forma dele demonstrar que não dava valor ao Oscar e nem à Academia. Também era uma maneira rebelde de se dissociar da futilidade de uma Hollywood que em sua opinião era vazia e sem sentido. De uma forma ou outra o filme foi aclamado por público e crítica, vencendo os principais prêmios de cinema naquele ano. Foi a forma de Hollywood dizer que finalmente Kazan estava perdoado.

Sindicato de Ladrões (On the Waterfront, Estados Unidos, 1954) Direção: Elia Kazan / Roteiro: Budd Schulberg, Elia Kazan, Malcolm Johnson / Elenco: Marlon Brando, Karl Malden, Rod Steiger, Lee J. Cobb, Eva Marie Saint / Sinopse: Terry Malloy (Brando) é um boxeador fracassado que entrega lutas para que a máfia fature no mundo das apostas esportivas. Após um crime ele começa a ter crises de consciência. Filme vencedor do Oscar nas categorias de Melhor Filme, Melhor Ator (Marlon Brando), Melhor Atriz Coadjuvante (Eva Marie Saint), Melhor Direção (Elia Kazan), Melhor Roteiro, Melhor Direção de Fotografia (Boris Kaufman), Melhor Direção de Arte (Richard Day) e Melhor Edição (Gene Milford). Também vencedor do Globo de Ouro nas categorias de Melhor Filme, Melhor Ator (Marlon Brando), Melhor Direção e Melhor direção de fotografia.

Pablo Aluísio.

sábado, 19 de janeiro de 2019

A Conquista do Oeste

Tinha tudo para ser um grande filme, mas acabou sendo prejudicado por suas próprias pretensões absurdas. Quando a Metro decidiu produzir esse faroeste resolveu que iria realizar "o filme definitivo" sobre o velho oeste. Para isso contratou três grandes diretores do gênero e um elenco milionário que contava com, entre outros astros, James Stewart, John Wayne e Gregory Peck. A promessa era de que haveria mesmo uma super produção vindo. Além disso contava com um novo sistema de exibição chamado Cinerama, que tinha como objetivo dar uma visão completa da cena para o público, com três enormes telas. 

Infelizmente as coisas não foram bem. O excesso de atores, diretores e roteiristas só resultou em um filme longo, arrastado e superficial. Nenhum personagem tinha tempo de se desenvolver bem. Dizia-se na época que a Metro havia juntado três roteiros de três filmes diferentes em um só! Não poderia dar certo mesmo. Além disso o tal sistema de tela tripla cansava o espectador que em determinado momento não sabia nem em que direção deveria olhar. Mais uma experiência para atrair público que não havia dado muito certo. Revisto hoje em dia o filme não se sustenta muito. Todos os elementos estão lá, porém isso não resultou em um grande filme, mas apenas em um filme grande, longo demais, que acaba causando simples tédio.

A Conquista do Oeste (How the West Was Won, Estados Unidos, 1962) Direção: John Ford, Henry Hathaway, George Marshall, Richard Thorpe / Roteiro: James R. Webb, John Gay / Elenco: James Stewart, John Wayne, Gregory Peck, Henry Fonda, Debbie Reynolds, Karl Malden, George Peppard, Eli Wallach, Richard Widmark / Sinopse: São três histórias que se interligam e que contam a história da colonização do velho oeste americano, com seus pioneiros, cowboys, militares e fazendeiros. Todos em busca de uma vida melhor.

Pablo Aluísio.

quarta-feira, 12 de dezembro de 2018

Os Dois Indomáveis

Faroeste dos anos 1970 que uniu duas gerações de atores. A geração jovem era representada pelo ator Ryan O'Neal, naquela época considerado um dos jovens mais promissores de Hollywood. E representando os veteranos tínhamos dois grandes nomes do cinema americano: William Holden e Karl Malden. O universo era a dos cowboys, os trabalhadores rurais que cuidavam do gado nas grandes fazendas do velho oeste. Quando o filme começa há uma certa tensão entre os criadores de gado e os de ovelhas. Dizia-se que as ovelhas destruíam o pasto, trazendo prejuízo para os que criavam gado. Uma dessas fazendas é de propriedade de Walter Buckman (Karl Malden). Homem austero, mas justo. Muitos cowboys trabalhavam em suas terras, entre eles Ross Bodine (William Holden) e Frank Post (Ryan O'Neal). O primeiro é um veterano, há décadas trabalhando como cowboy. O segundo é um jovem, novato no trabalho. A luta diária é pesada e o salário nada bom.

Assim a dupla decide fazer algo impensado e imprudente. Eles decidem assaltar o banco da cidade. Fazem a família do gerente de refém e limpam o cofre do banco. Claro que isso desencadeia uma série de eventos contra eles. Uma equipe de perseguição é formada e parte rumo ao deserto em busca dos assaltantes. O filme tem um ritmo próprio, nada apressado. As coisas acontecem ao seu tempo. O roteiro também se preocupa muito mais em explorar a amizade entre o velho e o jovem cowboy do que qualquer outra coisa. Há cenas de ação, mas isso nem é o mais importante. Além disso há ótimas sequências, inclusive a final, aos pés do Monument Valley, cenário de tantos clássicos do western norte-americano. Então é isso, um bom filme, bem desenvolvido que termina de maneira mais trágica do que poderia se esperar.

Os Dois Indomáveis (Wild Rovers, Estados Unidos, 1971) Direção: Blake Edwards / Roteiro: Blake Edwards / Elenco: William Holden, Ryan O'Neal, Karl Malden, Tom Skerritt / Sinopse: Ross Bodine (William Holden) e Frank Post (Ryan O'Neal) são dois cowboys que trabalham na fazenda de Walter Buckman (Karl Malden). Uma noite eles decidem fazer uma loucura, roubar o banco da cidadezinha próxima. O assalto acaba dando começo a uma perseguição sem trégua pelas areias do deserto do Arizona.

Pablo Aluísio.

quinta-feira, 23 de agosto de 2018

Nevada Smith

Steve McQueen interpreta o filho de um minerador que vê seus pais serem mortos por uma quadrilha de ladrões. Eles invadem o pequeno rancho onde viviam atrás de ouro. Como não havia nada para lhes dar a crueldade dos bandidos se traduziu em tortura e morte. Depois da morte do pai branco e da mãe indígena, Max Sand (Steve McQueen) decide dedicar sua vida a uma vingança obsessiva. Enquanto ele não encontrar os três assassinos de seus pais não terá paz de espírito. O problema é que sendo jovem demais, não tem a experiência necessária para enfrentar esse tipo de criminoso. Um tipo simplório, analfabeto, que não tem também muita habilidade em portar uma arma de fogo. Esse tipo de coisa ele acabará adquirindo em sua jornada, onde acabará encontrando pessoas dispostas a lhe ajudar.

O filme é realmente muito bom. Embora a vingança seja a espinha dorsal do enredo os roteiristas decidiram explorar outros aspectos do personagem. Em determinado momento ele decide roubar um banco só para ser enviado para a prisão estadual onde estão dois dos homens que ele deseja matar. A tal prisão é localizada em um pântano impossível de atravessar. Malária, mosquitos, cobras venenosas e crocodilos impedem qualquer prisioneiro de fugir. Claro que McQueen vai tentar sua sorte ao ir embora da prisão. Essa parte do filme inclusive me lembrou um pouco de "Papillon", outro clássico do ator.

O único problema maior que vi em todo o filme foi o fato de que Steve McQueen não tinha a idade adequada para seu papel. O personagem que interpreta é um jovem inexperiente, sem muita noção da vida. Também seria um mestiço, com traços indígenas. Bom, em termos de juventude e falta de experiência de vida, McQueen não se parecia em nada com seu personagem. Alguém consegue visualizar esse ator como um jovem completamente inexperiente com armas e com a vida? Impossível. E sobre o fato de ser mestiço, outro problema. O loiro McQueen não tinha mesmo nenhum traço de sangue indígena correndo em suas veias. De qualquer maneira, tirando esses dois probleminhas, o filme funciona muito bem. É outro pequeno clássico assinado pelo excelente cineasta Henry Hathaway;

Nevada Smith (Estados Unidos, 1966) Direção: Henry Hathaway / Roteiro: Harold Robbins, baseado no livro "The Carpetbaggers" escrito por John Michael Hayes / Elenco: Steve McQueen, Karl Malden, Brian Keith, Arthur Kennedy, Suzanne Pleshette / Sinopse:  Quando seus pais são mortos em seu rancho por três assassinos o jovem Max (McQueen) decide que vai dedicar toda a sua vida para vingar as mortes. Assim ele parte rumo ao velho oeste em busca dos homens. Assim que os encontra decide acertar a balança da justiça.

Pablo Aluísio.

terça-feira, 23 de janeiro de 2018

Boneca de Carne

Título no Brasil: Boneca de Carne
Título Original: Baby Doll
Ano de Produção: 1956
País: Estados Unidos
Estúdio: Warner Bros
Direção: Elia Kazan
Roteiro: Tennessee Williams
Elenco: Karl Malden, Carroll Baker, Eli Wallach, Mildred Dunnock
  
Sinopse:
Archie Lee (Karl Malden) é um fazendeiro arruinado, cheio de hipotecas para pagar, que não encontra mais nenhuma fonte de renda em sua propriedade falida, uma velha mansão sulista caindo aos pedaços. Casado com um mulher vinte anos mais jovem, de mente adolescente e boba, a infantil Baby Doll (Carroll Baker), que o despreza completamente, ele decide de forma desesperada cometer um crime, colocando fogo em uma máquina do sindicato dos plantadores de algodão, para assim lucrar alguma coisa na manufatura do produto em sua própria fazenda. Filme indicado ao Oscar nas categorias de Melhor Fotografia, Melhor Roteiro Adaptado, Melhor Atriz (Carroll Baker) e Melhor Atriz Coadjuvante (Mildred Dunnock).

Comentários:
Tennessee Williams era um gênio. Um escritor brilhante que soube como poucos captar a alma do sulista norte-americano. Aqui ele abre vistas para um casal disfuncional. Ele é um sujeito fracassado, arruinado financeiramente, gordo e careca, que não consegue mais esconder de ninguém que já não conseguirá alcançar mais nada em sua vida. Ela é uma garota mimada, desbocada, ofensiva e imatura, que transforma a vida do marido em um inferno maior do que ela já é! Para piorar levou a tiracolo sua tia, uma senhora idosa com problemas mentais, para morar com eles. Após a loja de móveis levar toda a mobília de sua velha casa embora por falta de pagamento, Archie Lee (Malden) resolve tomar uma decisão extrema: tocar fogo na descaroçadeira de algodão do sindicato para assim levar os produtores a lhe procurar, pois ele tem uma máquina dessas, meio acabada pelo tempo, é verdade, mas que ainda funciona, aos trancos e barrancos. Uma desesperada tentativa de ganhar algum dinheiro. 

Silva Vacarro (Eli Wallach) é um dos produtores que acabam procurando Archie depois do incêndio. Ele desconfia que foi Lee quem colocou fogo em tudo e por isso vai até sua propriedade rural, não apenas para alugar sua velha máquina, mas também para seduzir sua jovem e bobinha esposa. O texto de Tennessee Williams mostra os perigos de se viver em uma ilusão, tentando-se criar uma realidade forçada, imposta. O casamento de Archie Lee e Baby Doll é um desastre em todos os aspectos. Ela não o respeita, o despreza e o humilha, mas ele insiste em continuar casado com ela, dando origem a uma relação doentia e fadada ao completo fracasso. Inseguro, não consegue consumar seu casamento com a própria esposa, ao mesmo tempo em que vive em estado de tensão esperando pela inevitável traição por parte dela. Uma aula sobre as mesquinharias da alma humana que apenas Tennessee Williams teria talento para colocar no papel. Some-se a isso a incrível sensibilidade do diretor Elia Kazan e do excelente trio de protagonistas e você certamente terá um dos melhores filmes americanos da década de 1950. Um clássico do cinema simplesmente imperdível. Uma maravilhosa obra prima cinematográfica. Nota dez com louvor!
 
Pablo Aluísio.

sábado, 2 de maio de 2015

O Homem de Alcatraz

Robert Stroud (Burt Lancaster) é um prisioneiro condenado à morte pelo assassinato de um barman numa briga de bar no Alaska. Tentando livrar seu filho da morte por enforcamento sua mãe resolve apelar para a esposa do presidente americano Woodron Wilson que, comovida pela luta da pobre senhora por seu filho, resolve permutar a pena de morte de Stroud para prisão perpétua em segregação (ou seja ele não poderia interagir com outros presos, ficando a maior parte do tempo solitário e isolado). Livre da morte ele então parte para cumprir sua pena de prisão em uma penitenciária federal. Certa tarde no pátio prisional ele acaba resgatando um pequeno pardal machucado e o leva para sua cela. Lá tenta ajudar o pequeno animal. O que começa com um simples ato de solidariedade acaba virando um assunto de enorme interesse para Stroud que a partir daí começa a estudar e ler livros sobre o tema, se tornando, mesmo dentro da prisão, uma das maiores autoridades científicas sobre patologias de aves. Dez anos depois é finalmente transferido para a terrível prisão de Alcatraz onde acaba se tornando um de seus prisioneiros mais famosos. A história de Stroud parece ficção mas não é, foi inspirada na vida do chamado “Birdman of Alcatraz”, um prisioneiro que sozinho aprendeu sobre ciências dentro de sua cela, lendo livros, artigos e tratados sobre diversos assuntos, entre eles veterinária, química, anatomia, fisiologia, histologia e até mesmo medicina! De fato ainda em vida Stroud foi analisado por especialistas e se constatou que ele tinha um QI de gênio, algo absolutamente fora do normal.

O filme “O Homem de Alcatraz” foi realizado um ano antes de sua morte em 1963 (infelizmente ele nunca chegou a assistir sua própria história no cinema) Apesar de todo o reconhecimento que teve por seus livros, ensaios e artigos publicados, Stroud jamais conseguiu aquilo que mais desejava na vida: recuperar sua liberdade. Morreu doente e abandonado, na prisão, após escrever um livro sobre o sistema penitenciário americano. Esse livro causou sensação em seu lançamento pois Stroud na época chamou atenção da administração Kennedy para o problema nas prisões do país. O próprio presidente Kennedy via nele um exemplo claro de que o sistema penal em vigor era falho e não propenso a dar uma segunda chance a ninguém, nem mesmo a um gênio como Stroud. Após o filme ter sido lançado vários livros sobre o prisioneiro foram lançados trazendo mais luz sobre sua vida pessoal. Algumas dessas biografias mostraram que há uma certa distância entre o que vemos no filme e o que aconteceu realmente. Por exemplo, não restam dúvidas que Stroud tinha um QI de gênio mas no mesmo exame em Alcatraz se constatou também que ele tinha uma personalidade psicopata (algo omitido no roteiro). Era violento e perigoso e muitos que o conheceram pessoalmente e assistiram ao filme depois não concordaram com a caracterização de Burt Lancaster, mostrando um sujeito doce e suave. De qualquer forma, mesmo com essas diferenças, não há como negar que “O Homem de Alcatraz” é uma excelente obra, digna de todo o status que tem (considerado um dos cem melhores filmes da história do cinema americano pelo American Film Institute). Historicamente ele pode até não ser muito fiel aos fatos reais mas não há como negar que do ponto de vista meramente artístico é uma obra prima digna de aplausos. Além disso levanta muitos temas pertinentes para discussão, colocando em debate o real propósito das prisões. Será que o sistema prisional realmente reabilita algum criminoso? Ou tudo não passa de meras teorias acadêmicas vazias? Assista ao filme e tire suas próprias conclusões.

O Homem de Alcatraz (Birdman of Alcatraz, Estados Unidos, 1962) Direção: John Frankenheimer / Roteiro: Guy Trosper baseado no livro de Thomas E. Gaddis / Elenco: Burt Lancaster, Karl Malden, Thelma Ritter / Sinopse: O filme conta a história de Robert Stroud (Burt Lancaster), um prisioneiro federal americano que se ficou famoso ao se tornar de forma autodidata dentro da prisão uma autoridade sobre assuntos científicos.

Pablo Aluísio.

sexta-feira, 11 de maio de 2007

Uma Rua Chamada Pecado

Passados mais de sessenta anos, o longa "Uma Rua Chamada Pecado" (A Streetcar Named Desire - 1951) ainda mantém no ar e intactos, alguns dos sentimentos mais básicos e primários do Homem: sexo, violência e desejo. Mesmo na época de seu lançamento, e a pedido da Warner - que se via pressionada pela censura - o filme sofreu cortes generosos, para desespero de seu diretor, Elia Kazan, que lutou até o fim para que sua obra-prima não sofresse os cortes já determinados pelos "abutres da censura". Não teve jeito, Kazan foi derrotado. Durante muitos anos (até 1993), o filme foi exibido e comercializado com cinco minutos a menos que faziam total diferença no conjunto da obra. No Brasil não foi diferente. O que poderia ser literalmente traduzido para o português, como: "Um Bonde Chamado Desejo", de repente transformou-se em, "Uma Rua Chamada Pecado". Ou seja: a censura não via com bons olhos a palavra DESEJO. Realmente inacreditável, além de lamentável.

Baseado na obra premiada do dramaturgo americano Thomas Lanier Williams ou simplesmente, Tennessee Williams, a obra trata de um redemoinho alucinante de sentimentos. Tudo começa quando Blanche Du Bois (Vivien Leigh), uma professorinha de alma delicada e decadente do Mississipi, vai passar alguns dias com sua irmã Stella (Kim Hunter), e o cunhado Stanley Kowalski (Marlon Brando) em Nova Orleans. Frágil e sedutora, seu comportamento contrasta com os modos rudes e animalescos de Kowalski. A visita de poucos dias parece não ter mais fim, pois o esforço de Blanche, forçando uma convivência pacífica, irrita profundamente Kowalski que aos poucos vai se transformando numa fera. O pequeno apartamento parece ficar menor a cada minuto, sufocante, claustrofóbico. Uma panela de pressão a ponto de explodir. É justamente toda essa atmosfera, que pôs Marlon Brando em evidência para o mundo. Mal ele podia imaginar que sua atuação como Stanley Kowalski, o tornaria uma espécie de marco fundamental. Um divisor de águas entre o cinema pré e pós Marlon Brando. Ou seja: o cinema, mas, principalmente, os atores que vieram posteriormente, não seriam mais os mesmos.

A influência dos chamados "monstros sagrados" do Actor's Studios, entraria como um vírus, para sempre em suas veias. Brando, na pele do animalesco Kowalski, consegue manifestar toda a sua capacidade interpretativa e criativa. Numa completa desambiguidade o organismo Brando-Kowalski é um corpo incandescente que se move lentamente, com olhos injetados de um animal, transpirando suor, ódio e testosterona, quase sempre na mesma medida. Em uma leitura personalíssima e explosiva da obra, Brando se entrega de corpo e alma a um personagem de maldade e furor acachapantes. Sua atuação majestosa é o que Roland Barthes chamava de "quantificação da qualidade" - "pouco interessa o que se fala, o que interessa mesmo é o suor, o grito, o medo e o ódio". Parece que Uma Rua Chamada Pecado foi feita na medida certa para transformar-se depois num réquiem eterno para o genial Marlon Brando. Nota 10.

Uma Rua Chamada Pecado (A Streetcar Named Desire, EUA, 1951) Direção: Elia Kazan / Roteiro: Oscar Saul baseado na peça de Tennessee Williams / Elenco: Vivien Leigh, Marlon Brando, Kim Hunter,Karl Malden / Sinopse: Blanche (Vivien Leigh) uma problemática mulher resolve ir visitar sua irmã Stella (Kim Hunter) em New Orleans. Lá conhece Stanley (Marlon Brando) o rude e provocativo cunhado. Não tarda a se instalar um clima de tensão entre todos os moradores daquele pequeno apartamento.

Telmo Vilela Jr.

terça-feira, 7 de novembro de 2006

Steve McQueen - Nevada Smith

Esse texto contém spoiler. Assim se você ainda não assistiu ao filme "Nevada Smith" aconselho a parar a leitura por aqui. Pois bem, ainda sobre esse faroeste que assisti recentemente gostaria de colocar mais alguns aspectos em evidência. O filme conta em seu elenco com o grande ator Karl Malden. Não se engane, ele foi um dos maiores atores de sua geração. Amigo pessoal de Marlon Brando fez com ele grande parceria em filmes clássicos inesquecíveis.

Em "Nevada Smith" ele interpreta um dos três assassinos dos pais do personagem de Steve McQueen. Logo se torna alvo de sua vingança. O curioso é que Malden desaparece por quase todo o filme. Uma vez cometido o assassinato ele some, só ressurgindo nas últimas cenas, quando ele se torna o último a ser procurado por McQueen.

Malden imprime um tom de psicopatia ao seu personagem. Ele sabe que está sendo caçado pelo filho das pessoas que matou, mas ao mesmo tempo não sabe que é seu novo contratado, um pistoleiro que ele simpatizou numa de suas cavalgadas. Na cena final enfim Nevada Smith se revela a ele, que caído no meio de um riacho não consegue mais reagir. Em tom de desprezo então Nevada lhe diz que não vai lhe matar, pois nem isso ele merece. Esse final foi bem diferente, muito ousado para a época, totalmente fora dos padrões do western americano da época. Provavelmente se fosse em um filme de Clint Eastwood ou John Wayne ele certamente não escaparia de levar um tiro.

Pode-se até dizer que Karl Malden foi mal aproveitado no filme, por causa de seu talento e tudo mais, porém como um vilão jurado de morte ele até que se saiu muito bem. Claro que um papel como esse não exigia o nível de trabalho que qualquer outro drama que ele tenha estrelado ao longo de tantos anos em sua carreira, tanto no cinema como no teatro, porém é inegável que ele trouxe a sordidez necessária ao seu personagem em cena. Ele tinha que interpretar o facínora e nisso se saiu muito bem.

Pablo Aluísio. 

segunda-feira, 9 de outubro de 2006

Karl Malden - Wild Rovers


O veterano ator Karl Malden em cena do filme "Os Dois Indomáveis", faroeste de 1971. Abaixo mais material promocional da época do lançamento original do western, intitulado nos Estados Unidos como Wild Rovers.


quarta-feira, 21 de junho de 2006

A Árvore dos Enforcados

Roteiro e Argumento: O roteiro do filme foi extremamente bem escrito. A estória se passa toda durante a corrida do ouro numa montanha de Montana. Assim encontramos todos os tipos de personagens grotescos que habitavam esse tipo de local: ladrões, assassinos, estupradores, vigaristas, ou seja, toda a escória do mundo atrás da oportunidade de ficar rico da noite para o dia. Os roteiristas desenvolveram muito bem os personagens do ponto de vista psicológico, mostrando inclusive seus piores lados (até do médico feito por Gary Cooper).

Produção: Filmada em locações a produção é extremamente caprichada. Reconstruíram uma vila de mineradores com tudo o que tinham direito, inclusive lojas, bordéis e tudo o mais. Não poderia ser diferente já que a presença de Gary Cooper já era garantia de boas bilheterias e por isso os produtores não tinham receio de só usar o melhor que Hollywood poderia oferecer na época.

Direção: O filme foi dirigido não só por Delmer Daves mas também pelo ator Karl Malden que não foi creditado na época. Como as filmagens foram extremamente complicadas por causa das locações Karl dividiu a direção com Daves. O resultado foi ótimo como se pode ver nas telas.

Elenco: Gary Cooper era fenomenal. O sujeito passava dignidade e austeridade apenas com um olhar, impressionante. Aqui o mais interessante é o caráter dúbio de seu personagem que esconde fatos obscuros de seu passado até o final do filme. Afinal o que ele tenta tanto esconder? Karl Malden também está excelente. Seu personagem é um porcalhão e a cena em que ele tenta estuprar a personagem de Maria Schell é extremamente ousada para aquela época. Outro destaque do elenco fica com George C Scott, aqui fazendo um curandeiro bebum e vigarista. Ótimo.

A Árvore dos Enforcados (The Hanging Tree, EUA, 1959) Direção: Delmer Daves / Roteiro: Wendell Mayes, Halsted Welles / Elenco: Gary Cooper, Maria Schell, Karl Malden / Sinopse: O médico Joseph Frail (Cary Cooper) chega em um campo de mineração durante a corrida ao ouro tentando fugir de eventos do passado que ele prefere manter na escuridão. Lá conhece a bonita Elisabeth (Maria Schell) a qual acaba nutrindo sentimentos ao mesmo tempo em que tenta defendê-la dos criminosos locais.

Pablo Aluísio.