segunda-feira, 19 de abril de 2010

Elvis Presley - Love Letters from Elvis - Parte 3

Dando sequência na análise das canções do álbum " Love Letters from Elvis" vamos tecer mais alguns comentários sobre essas faixas. A primeira vez que ouvi "Got My Mojo Working / Keep Your Hands" fiquei com a nítida impressão de que se tratava de um mero ensaio ou melhor dizendo, uma animada jam session. Esse tipo de gravação não entrava, via de regra, nos discos oficiais de Elvis. O produtor Felton Jarvis porém teve outra opinião sobre isso. Ele gostou tanto do resultado, da espontaneidade de Elvis e sua banda, que não pensou duas vezes e colocou essa gravação informal dentro do disco.

Como não era algo comum de acontecer nos álbuns de Elvis, que sempre saíam com grande produção e profissionalismo, acabou chamando a atenção dos fãs na época de seu lançamento original. É um bom momento do disco, valorizado pelo fato de ser uma versão de Elvis para uma música do grande Muddy Waters, um nome consagrado. Curiosamente embora tenha sido de certa maneira ousado em escolher essa jam session para fazer parte do disco, o produtor Felton Jarvis resolveu editá-la, pois a versão no total tinha quase seis minutos de duração, algo considerado nada comercial naqueles tempos. Assim a versão que ouvimos no LP original é bem mais curta e bem mais editada, com a adição de instrumentos promovidos por Jarvis em seu estúdio.

Já "Only Believe" era uma interessante fusão entre gospel e blues. Essa música não é unanimidade entre os fãs de Elvis. Há aqueles que gostam muito de sua proposta e outros que a consideram abaixo da média, uma música sem muita identidade, transitando entre gêneros musicais diversos, sem optar definitivamente por nenhum deles! Penso que é um bom momento do álbum, inclusive chegou a ser escolhida pela RCA Victor para ser o lado B do single "Life" (sim, aquela estranha composição falando sobre a origem do universo e outras coisas sem nexo). Infelizmente o single não foi muito bem sucedido comercialmente, chegando apenas na posição 53 da Billboard. Algo que era até esperado pois nenhuma das faixas tinha potencial mesmo de se tornar um grande hit na paradas!

"I'll Never Know" foi composta por Ben Weisman. Como se sabe ele foi o autor de dezenas de músicas para Elvis em seus filmes na fase Hollywood. No total chegou a escrever mais de 50 canções para Elvis durante os anos 60! Um recorde dentro da discografia do cantor! Aqui Weisman retorna para a discografia de Presley com uma melodia singela, que para muitos lembra bastante as próprias composições de Hollywood que ele escreveu na década anterior. Penso que embora lembrem mesmo há o diferencial do vocal de Elvis. Nos anos 70 ele tinha deixado a suavidade das trilhas dos anos 60 para trás, adotando um estilo mais forte, grandioso! E isso no final das contas acaba fazendo toda a diferença.

Pablo Aluísio.

Elvis Presley - Love Letters from Elvis - Parte 4

"Love Letters", que dá título a esse álbum de Elvis Presley, é uma antiga canção, muito popular nos anos 1940. Ela foi composta por Victor Young, violonista, pianista e compositor clássico. Nascido em Chicago, ele foi até Hollywood tentar a sorte. Acabou se dando muito bem, escrevendo canções populares românticas para trilhas sonoras de filmes dos grandes estúdios de cinema. Essa foi uma delas. Ela fez parte da trilha sonora do filme "Um Amor em Cada Vida", um drama estrelado por Jennifer Jones e Joseph Cotten. Acabou sendo indicada ao Oscar na categoria de Melhor Música original naquele mesmo ano. Os créditos foram dados ao próprio Young e ao letrista Edward Heyman. Antes de Elvis ainda haveria uma outra versão, gravada por Ketty Lester em 1962.

Elvis raramente gravava uma música em estúdio duas vezes. Isso aconteceu com "Blue Suede Shoes" que foi gravada para o primeiro álbum de Elvis na RCA Victor e depois para a trilha sonora do filme "G.I. Blues" (Saudades de um Pracinha) e depois com "You Don't Know Me" da trilha sonora de "Clambake" (O Barco do Amor), também regravada em estúdio por Elvis após a gravação original. Assim "Love Letters" era igualmente um caso bem raro. Elvis a gravou originalmente na década de 1960 e depois a gravou novamente, sendo essa segunda versão a usada nesse disco. Qual teria sido a razão? Não se sabe ao certo. Particularmente ainda prefiro a versão de 1966. O cantor parece mais concentrado e mais firme. Os arranjos também são mais adequados para essa velha composição romântica. Há um clima de nostalgia que valoriza muito a melodia. De qualquer maneira ambas as versões de Elvis são muito boas, sem dúvida. No final das contas se torna apenas um caso de gosto pessoal de cada ouvinte.

"This Is Our Dance" é uma criação do músico e compositor inglês Leslie David Reed. Ele era o maestro e líder uma orquestra muito popular no Reino Unido na década de 1950, onde também tocavam os músicos Gordon Mills e Barry Mason. Naqueles tempos os bailes tinham se tornado bem populares, assim várias orquestras surgiram, tanto na Inglaterra como nos Estados Unidos (fenômeno que também se repetiu no Brasil, na mesma época). Por essa razão as características dessa música são bem claras no tocante ao seu ritmo e melodia. É uma música romântica de baile, composta para ser tocada nos grandes salões da Europa. Provavelmente Elvis tomou conhecimento dela por causa justamente da The Les Reed Orchestra, uma vez que essa orquestra também gravou um disco com "Also Sprach Zarathustra" que Elvis iria utilizar como abertura de seus concertos na década de 1970. 

Já "Heart Of Rome" era mais uma música Italianíssima que Elvis trazia para seu repertório. Elvis não tinha raízes italianas (seus antepassados tinham vindo da Escócia para os Estados Unidos), mas ele amava a músicalidade daquela grande nação. Provavelmente Elvis tomou gosto pelas canções italianas ouvindo Dean Martin, um dos seus cantores preferidos. Logo percebeu que as melodias italianas soavam perfeitas para ele disponibilizar aos seus fãs grandes performances vocais. Afinal ele tinha obtido excelentes resultados comerciais no passado com gravações como "It´s Now Or Never" e "Surrender". Infelizmente porém dessa vez a RCA Victor resolveu não trabalhar na promoção da música, se limitando a divulgá-la de forma bem tímida nas rádios como mero lado B do single "I´m Leaving". Penso que se houvesse maior capricho por parte de sua gravadora, principalmente em seu lançamento europeu, o compacto teria se tornado um grande sucesso.

Pablo Aluísio.

Elvis Presley - Love Letters from Elvis - Parte 5

"When I'm Over You" foi outra composição de S. Milete a entrar no álbum. Esse autor já havia composto a estranha "Life" e aqui surgia com algo mais convencional. É fato que Elvis procurou por um novo time de compositores nos anos 70. Na década anterior ele ficou muito preso a um grupo de escritores de Nova Iorque e Los Angeles que acabou criando quase todas as músicas de suas trilhas sonoras. Aquele material saturou Elvis que agora procurava por novos caminhos, outras sonoridades.

Essa faixa porém não agradou muito. Para muitos ela seria apenas uma canção qualquer, feita para completar cronologicamente o LP. É uma visão até bem pessimista, já que apesar de ser bem comum a melodia desse country ainda apresenta alguns momentos bons, de clara inspiração melódica. A RCA Victor porém não fez nada por ela, se tornando assim mais uma música pouco conhecida fora do círculo dos fãs mais conhecedores da obra de Elvis. "When I'm Over You" nunca foi lançada em outro álbum, nem em coletâneas, nem em nada. E como Elvis também nunca a cantou em concertos ela foi simplesmente sumindo, desaparecendo com o passar dos anos.

"If I Were You" é outro country considerado bem abaixo da média. Ela foi composta pelo músico Gerald Nelson. Essa canção foi gravada no último dia de sessão da famosa Nahsville Marathon. Era o dia 8 de junho de 1970 e após gravar dezenas e dezenas de canções Elvis estava visivelmente cansado e esgotado. Nessa noite em especial ele conseguiu ainda emplacar outras cinco canções: "There Goes My Everything", "Only Believe", "Patch Up" (que seria lançada no disco "That´s The Way It Is") e "Sylvia" (o grande sucesso de Elvis no Brasil, lançado no disco "Elvis Now" dois anos depois de ser gravada).

Impossível não notar um certo clima de fim de festa. Elvis era um cantor muito produtivo dentro dos estúdios, mas depois de tantas gravações ele se mostrava mesmo bem cansado, principalmente em sua performance vocal. A linha de melodia da canção também não ajuda muito, sempre rodando em círculos, sem ir para qualquer direção. A letra era novamente romântica e referencial, onde um homem apaixonado tentava convencer sua paixão a ficar ao seu lado. Um tema até bem batido, mesmo dentro dos padrões de Nashville. Enfim, uma música sem novidades que acabou sendo facilmente esquecida após algum tempo.

Pablo Aluísio.

domingo, 18 de abril de 2010

Elvis Presley - From Elvis in Memphis - Parte 1

As pessoas precisam entender que até o lançamento desse álbum, Elvis vinha em uma situação muito ruim em sua carreira. A discografia de Elvis atravessava uma péssima fase. A grande maioria de seus discos se resumiam em trilhas sonoras de seus filmes. Esses já não eram grande coisa e as músicas também deixavam muito a desejar. Embora existissem gemas preciosas perdidas, o material como um todo era adolescente demais, quase bobo. O problema básico era que Elvis já era um homem de 30 anos, cantando e agindo como um adolescente apaixonado no cinema. Era fora de época, quase bizarro. Os fãs dos velhos tempos de Elvis também já tinham deixado os tempos colegiais de lado, estavam casados, com filhos, enfrentando problemas no casamento e tudo o mais. Quem iria ainda perder tempo comprando discos de Elvis Presley onde ele basicamente cantava letras falando de namoricos, bichinhos de estimação e praia? Nesse tempo Elvis foi sendo abandonado pelos antigos fãs ao mesmo tempo em que não conquistava novos admiradores entre os adolescentes dos anos 60 que estavam curtindo outro tipo de som. Elvis era apenas um tiozão querendo dar uma de garotão para essa nova geração.

Assim em 1969 todos da organização Presley tomaram consciência que a mudança teria que vir. Os discos não vendiam mais bem, as trilhas encalhavam nas lojas e Elvis era um autêntico artista ultrapassado, um ídolo roqueiro do passado que "já era", ele pouco significava em termos comerciais para o mercado fonográfico. Como mudar isso? A primeira providência foi deixar Hollywood para trás. Ainda havia alguns contratos a cumprir com os estúdios de cinema, mas depois deles, nunca mais. Outro passo importante era voltar aos shows ao vivo. Elvis ficou tanto tempo fora dos palcos que as pessoas simplesmente esqueceram que ele ainda existia. A estratégia de Tom Parker em isolar Elvis do público como forma de incentivar a venda de ingressos nos cinemas não deu certo. Elvis foi sumindo dos jornais, das revistas e finalmente dos olhos do público. Ao invés de estar fazendo shows e turnês memoráveis, Elvis estava afundando em roteiros de péssima qualidade em filmes que estavam sendo solenemente ignorados pelas pessoas em geral.

Pois bem, Elvis já tinha deixado Hollywood para trás e voltado aos shows em Las Vegas. O próximo passo era voltar ao estúdio de gravação para gravar boas músicas. "From Elvis in Memphis" entra nesse último quesito. Ao invés de letras bobocas sobre amores adolescentes o produtor Chips Moman selecionou um repertório de verdade, com temas interessantes, adultos, bem de acordo com os tempos em que todos viviam. O saldo de qualidade foi absurdo. Elvis que não era bobo nem nada ouviu todos aqueles demos e ficou empolgado. Ali estava um material para enfiar a cara, dar o melhor de si. Ao invés das ridículas canções sobre mariscos e ostras de seus filmes de praia, Elvis agora tinha uma bela coleção de canções para trabalhar. Ele ficou empolgado com a oportunidade de novamente cantar bem, fazer bonito perante a crítica e principalmente reconquistar seu velho público que havia ido embora depois de tantos discos medíocres.

O estúdio escolhido foi o American que ficava ali em Memphis mesmo, em um bairro de vizinhança pobre e negra da cidade. No passado o American havia sido usado por inúmeros artistas de black music. Ao contrário dos assépticos estúdios da costa oeste, com seu ambiente de plástico, agora Elvis estava respirando história musical ali dentro. Procurando absorver os bons ares do local ele costumava chegar cedo ao estúdio para acompanhar as gravações de artistas negros que gravavam antes dele. Elvis sempre foi um apaixonado pela música negra e agora podia se sentir fazendo parte daquela comunidade de artistas. Era algo muito gratificante para ele naquele momento complicado de sua vida profissional.

Outra decisão que ajudou Elvis a respirar novos ares foi a despedida de sua antiga banda. Com os anos muitos daqueles músicos foram pegando vícios dentro dos estúdios. A convivência por muito tempo acabou criando uma certa saturação de relacionamento. Com a entrada de um novo grupo musical esses ares se renovavam. Os novos membros da banda de estúdio de Elvis nunca tinham trabalhado com ele antes. Eram jovens e admiravam Presley pelo que ele havia conquistado por todos aqueles anos, porém todos concordavam que os últimos álbuns do cantor eram verdadeiras palhaçadas. Ajudar Presley passou a ser mais um ponto de incentivo para todos. Scotty Moore, DJ Fontana e a velha banda de Elvis então foram dispensados pelo Coronel Parker. Eles faziam parte do passado e Elvis agora procurava olhar para a frente, em busca de novos horizontes e objetivos a conquistar. Uma nova era começava em sua vida.

Pablo Aluísio. 

sábado, 17 de abril de 2010

Elvis Presley - From Elvis in Memphis - Parte 2

Uma das melhores canções desse disco se chama "Wearin' That Loved On Look". Composição da dupla Dallas Frazier e Al Owens. A música que abria o álbum "From Elvis in Memphis" já trazia todos os elementos que demonstrariam aos fãs que Elvis finalmente trilhava um novo caminho na carreira. As mudanças já começavam pelos arranjos. Há nitidamente por parte do produtor Chips Moman um esforço em enriquecer as gravações com uma instrumentação mais bem elaborada e moderna. Também chama a atenção o fato de que os antigos arranjos vocais da discografia de Elvis, baseados em grupos masculinos de formação gospel, como os Jordanaires, foram substituídos por algo mais contemporâneo, baseado numa vocalização feminina negra. A canção deu trabalho. Elvis e seus músicos ficaram das duas da manhã até as sete do dia 14 de janeiro, já com o sol raiando, trabalhando nela. No total foram produzidas 14 takes, sendo que nenhum deles deixou Elvis suficientemente satisfeito. Chips prometeu a Elvis que iria trabalhar depois na mesa de som com as gravações para se chegar em uma versão perfeita. Depois de tanto esforço é de se reconhecer que a gravação final ficou realmente irretocável. Uma bela obra prima dessa fase mais criativa do cantor.

Chamo atenção também para "Only The Strong Survive" escrita pelo trio Gamble, Huff e Butler. Uma das coisas que mais chamam atenção nessa nova leva de gravações de Elvis em 1969 é a mudança significativa das letras. Durante praticamente toda a década de 1960, principalmente com suas trilhas sonoras, Elvis ficou preso a um tipo básico de letra sobre amores adolescentes que se desgastou completamente. Assim já havia passado mesmo da hora de mudar, evoluir, crescer. Certamente o tema sobre amores não seria deixado de lado, porém sob um enfoque diferente, tratando dos problemas de um relacionamento mais adulto. Essa música havia sido gravada originalmente pelo cantor e compositor Jerry Butler um ano antes. Ela fazia parte do repertório do disco "The Ice Man Cometh". Quando lançada em single se tornou um grande sucesso, vendendo mais de um milhão de cópias, conquistando o disco de platina. Elvis a adorava e foi ele que a trouxe para as sessões no American. Posteriormente a música seria regravada por Billy Paul, consolidando ainda mais seu sucesso nas paradas.

"I´ll Hold Your In My Heart" tem uma clara ligação com o passado de Elvis. Eddie Arnold foi um pioneiro da música country que cruzou várias vezes o caminho de Elvis ao longo de sua carreira. Um de seus maiores sucessos foi justamente essa canção "I´ll Hold Your In My Heart". Curiosamente, apesar de Arnold ter sido um dos maiores nomes do som de Nashville, ela gravou sua versão original nos estúdios da RCA Victor em Chicago. Outro fato que o liga a Elvis é que essa sessão de gravação foi produzida por Steve Sholes, o mesmo produtor que trabalhou ao lado de Elvis em seus primeiros anos na gravadora RCA. Elvis inclusive considerava esse um dos melhores trabalhos de Sholes e durante anos dizia que também iria gravar a sua versão da canção, que era uma de suas preferidas. Assim "I´ll Hold Your In My Heart" acabou sendo outra música escolhida pessoalmente por Elvis para a sessão. Como sempre a tocava no grande piano dourado de Graceland, em momentos de descontração, o próprio Elvis decidiu que ele iria tocar o instrumento na faixa. É justamente isso que ouvimos na versão oficial. Elvis inspirado fazendo sua pequena homenagem ao legado de Eddie Arnold.

E se você gosta de letras bem elaboradas indico ouvir "Long Black Limousine". Essa é certamente uma das melhores letras do disco. Evocativa, quase como uma narrativa cinematográfica, a canção chama a atenção pela originalidade e ousadia, afinal de contas não era todo dia que se ouvia algo assim. Com elementos de country e rhythm and blues, a canção foi sugerida pelo produtor Chips Moman. Ele chamou Elvis para lhe mostrar o tipo de sonoridade e criatividade que estava esperando produzir naquelas sessões. "Long Black Limousine" inclusive foi a música que abriu os trabalhos no American Studios. Moman queria começar em grande estilo, procurando ir diretamente a uma fonte com mais qualidade, com melhores arranjos e letras fortes, marcantes. Elvis adorou tanto a canção como a proposta do produtor, já que há anos vinha reclamando da falta de material de qualidade para trabalhar. A música havia sido escrita em 1958, no mesmo ano em que Elvis estrelava "King Creole". Durante anos porém ela não foi gravada. Foi considerada estranha demais pelas gravadoras da época. Apenas em 1961 ganhou sua primeira versão, em um single lançado pelo cantor Wynn Stewart. Ao longos dos anos foi ganhando novas regravações discretas. Nem a versão de Glen Campbell conseguiu se destacar nas paradas, provando que era realmente uma faixa sui generis que fugia dos padrões mais comerciais. Antes de Elvis a tornar mais conhecida, apenas sua inclusão no disco "The Nashville Sound of Jody Miller" conseguiu trazer alguma notoriedade. Depois que Elvis a gravou no American Studios finalmente a música conseguiu se tornar apreciada pelo grande público em geral. Um reconhecimento tardio, mas muito bem-vindo.

"It Keeps Right A Hurtin" fez parte da carreira de Johnny Tillotson. Ele foi um cantor e compositor sulista que surgiu na esteira de sucesso do próprio Elvis, ainda na década de 1950. Inicialmente ele apareceu no mercado como um astro pop adolescente, porém com o passar dos anos foi crescendo musicalmente, abraçando finalmente o estilo country. Apesar de Johnny muitas vezes ser encarado apenas como um "mini Elvis" como tantos outros que surgiram naquela época, Elvis via em seus singles um claro talento musical. Na verdade o próprio Elvis costumava ouvir seus compactos quando estava na Alemanha, prestando serviço militar. Daqueles astros juvenis ele era um dos que mais chamavam sua atenção. "Pledging My Love", por exemplo, um hit na voz de Tillotson durante a década de 60, seria gravada por Elvis em seu último álbum, "Moody Blue". Já "It Keeps Right On A-Hurtin'" foi lançada originalmente como single em 1962. Desde o seu lançamento Elvis a considerou uma grande canção. A música realmente tinha excelente melodia e letra, o que a faz se destacar na Billboard, alcançando a terceira posição entre os mais vendidos. Essa foi outra especialmente selecionado por Presley para fazer parte do álbum. Uma questão realmente de gosto pessoal.

Pablo Aluísio.

Elvis Presley - From Elvis in Memphis - Parte 3

I'm Movin On (Hank Snow) - Nessa gravação Elvis Presley fez uma volta ao seu passado, mais precisamente a 1950 quando "I'm Movin On" na voz de Hank Snow estourou em todas as paradas country. Em Memphis ela virou figurinha fácil nas emissoras de rádio. Na época Elvis era apenas um garoto de quinze anos de idade que sequer sonhava em alcançar a fama de Hank, considerado um dos maiores ídolos da música country dos Estados Unidos. Durante as sessões Elvis começou a trocar ideias com o produtor Felton Jarvis (que iria se tornar seu produtor musical definitivo depois dessa gravação) e disse a ele que seria muito bom trazer grandes clássicos da country music para o American Studio. Ali mesmo, com Elvis sentado em um banco no centro do estúdio, eles começaram a lembrar de grandes músicas de um passado distante. Elvis se virou para Jarvis, apontou o dedo e disse: "Eu me lembrei agora de I'm Movin On do Hank! Vamos gravá-la!". Felton Jarvis então providenciou partituras para os músicos e após alguns breve ensaios eles conseguiram, até com relativa facilidade, chegar no take ideal que se tornaria o oficial. Depois da última tentativa, ainda com microfone aberto, Elvis empolgado disparou no microfone: "Ei, essa é uma grande canção!". Risos foram ouvidos atrás dele.

Power Of My Love (Bill Giant / Bernie Baum / Florence Kaye) - O trio Giant, Baum e Kaye escreveu algumas das mais medonhas músicas gravadas por Elvis em sua carreira. Muitas delas tinham sido compostas a toque de caixa para fazer parte das trilhas sonoras de seus filmes. Com o tempo Elvis foi desenvolvendo uma certa aversão ao trio, justamente por causa das porcarias que tinham escrito ao longo dos anos. Curiosamente ele, que chegou certa vez a dizer que nunca mais gravaria nada composto pelo trio novamente, resolveu abrir uma última exceção. A razão era simples de entender, pois "Power Of My Love" era realmente uma grande música, muito boa realmente, com letra e melodia bem acima da média. Muitos anos depois o compositor Florence Kaye confessou: "Realmente muitas músicas que fizemos para Elvis não eram grande coisa. Os filmes também não nos empolgavam a escrever nada melhor. Se o filme era ruim, as trilhas não poderiam ser melhores. Em 1969 o produtor de Elvis me ligou dizendo que providenciasse algo novo. O Coronel queria que uma de nossas músicas fosse para o novo disco de Elvis. Era um álbum de estúdio e por isso resolvemos dar o melhor de nós! Acho a gravação muito forte e bonita. Nossa melhor colaboração ao lado do cantor". Kaye tinha toda a razão, "Power Of My Love" era mesmo uma grande faixa e seguramente um dos melhores momentos do disco inteiro. Grande canção.

Gentle On My Mind (John Hartford) - John Hartford foi um mestre do folk americano. Com uma carreira longa e muito produtiva ele se destacou como um grande tocador de banjo e violão folclórico. Durante toda a sua carreira Hartford lutou para a preservação da cultura dos grandes rios do sul, onde muita música de qualidade era criada, principalmente em pequenos portos fluviais, em estabelecimentos pequenos que se instalavam próximo aos locais de desembarque dos grandes barcos movidos a vapor. Folclorista e historiador, dedicou sua carreira a preservar esse aspecto histórico da música sulista americana. Também foi produtor musical, muito próximo a Chet Atkins que havia trabalhado como produtor do próprio Elvis nos anos 60. Durante uma sessão de gravação em Nashville Elvis se encontrou casualmente com Hartford nos bastidores, já que na época John trabalhava também na RCA Victor. Presley aproveitou para elogiar sua recente gravação, a própria "Gentle On My Mind" que havia sido lançada originalmente pelo autor em 1967. John nem hesitou e sugeriu a Elvis que ele um dia a gravasse. "Adoraria ouvir você cantando ela, Elvis!" - disparou o compositor. Elvis parece não ter esquecido da sugestão. Assim dois anos depois desse encontro lá estava ele no estúdio cantando a música de seu colega da RCA. O que temos aqui é uma bela faixa, um excelente momento do cantor no American. A lamentar apenas o fato de Elvis não ter gravado mais canções de Hartford ao longo de sua discografia. Ele era inegavelmente um grande talento musical.

After Loving You (Miller / Lantz) - Essa canção já tinha uma longa tradição quando Elvis a gravou no American. Ela foi escrita por Eddie Miller na década de 1930. Naquela época a indústria fonográfica americana ainda era muito primitiva e os compositores ganhavam dinheiro com a venda das partituras musicais em folhas de papel. Essas então eram levadas para as grandes casas tradicionais do sul onde eram tocadas ao piano em saraus animados e elegantes. Era uma outra era, com costumes próprios. Depois de anos nessa linha tradicional a música foi finalmente colocada em um disco, numa gravação. Coube a Joe Henderson essa honra, já na primeira metade dos anos 1960 (trinta anos depois que Miller compôs sua canção). Depois veio a versão de maior sucesso, gravada por Eddy Arnold. Foi essa a versão na qual Elvis se baseou para sua gravação no American já que ele não apreciava muito a terceira versão, lançada em 1963, com Jim Reeves nos vocais. Segundo o próprio produtor Chips Moman, Elvis até pediu para ouvir novamente a gravação de Arnold no estúdio para se preparar para a sua própria interpretação. Em suma, uma canção histórica que rendeu um ótimo momento ao disco como um todo.

Pablo Aluísio.

sexta-feira, 16 de abril de 2010

Elvis Presley - Elvis Gold Records Vol. 4 - Parte 1

No momento em que a carreira de Elvis parecia renascer a RCA Victor soltou no mercado um novo álbum do cantor. A filosofia era a mesma dos discos anteriores, ou seja, reunir grandes sucessos de Elvis que só tinham sido lançados antes em singles (compactos). O problema básico é que os sucessos estavam rareando cada vez mais na discografia do Rei do Rock. Assim quando os executivos da RCA determinaram a produção do quarto disco da série Golden Records o responsável pela seleção musical soltou uma pergunta fatal bem no meio da reunião: "Tudo bem, mas que sucessos Elvis realmente alcançou nesses últimos anos?". Era uma constatação bem ruim e verdadeira. Ao longo dos anos 1960 Elvis foi colecionando fracassos comerciais com seus singles. A bagunça e muitas vezes falta de promoção fizeram com que muitos compactos de Elvis se tornassem grandes desastres comerciais. Eles ficavam por meses nas estantes das lojas de discos, pegando poeira sem que ninguém os quisesse comprar. Lotes e mais lotes de caixas cheias de compactos de Elvis Presley eram enviados de volta para a fábrica da RCA por não terem encontrado compradores no mercado.

Por volta de 1967 a RCA inclusive chegou a colocar em dúvida se valia mesmo a pena renovar com o astro por mais alguns anos. O fato é que a má qualidade das trilhas sonoras e dos filmes tinham literalmente acabado com Elvis do ponto de vista comercial. Ele facilmente era superado por bandinhas sem nenhuma importância musical. Seu público havia debandado e pouco sobrara do antigo campeão das paradas. Quando as negociações começaram a RCA deixou claro ao Coronel Parker que estava ficando sem interesse no passe de Elvis. Ele não vendia mais como antigamente, no começo de sua carreira. Tirando poucos discos que tinham realmente feito sucesso, Elvis amargava baixas posições nas paradas. O público não se interessava mais pelo que ele vinha produzindo e nem as revistas de fofocas mais exploravam sua vida pessoal, que andava mais fechada e reclusa do que nunca. Elvis não aparecia em festas e nem em eventos, não fazia mais shows ao vivo e só aparecia para seu público através de filmes de Hollywood bem ruins. Era a fórmula mesmo do desastre.

Sem muitos sucessos comerciais para compor o disco o jeito mesmo foi pincelar alguns poucos bons momentos de vendas do cantor na década de 1960. Um terceiro lugar aqui, um quarto lugar acolá, tudo sendo colocado junto para preencher cronologicamente o álbum. O fato é que mesmo estando em maré baixa em termos de vendas o talento de Elvis continuava lá. O problema é que a sucessão de músicas ruins de seus filmes foram soterrando a voz e o carisma do cantor. Por volta de 1966 ele foi renascendo aos poucos. Algumas sessões livres de músicas de filmes foram realizadas e nelas Elvis finalmente pôde contar com material de qualidade novamente. Curiosamente foram justamente algumas dessas gravações que conseguiram o mínimo de repercussão nas paradas, mostrando um caminho para Elvis e a RCA Victor rumo de volta ao sucesso comercial. No caso tínhamos realmente o casamento entre qualidade e sucesso comercial, algo que hoje em dia é bem raro. O fato inegável porém era que naqueles tempos Elvis sempre conseguia bons números de vendas quando apresentava material de qualidade no mercado. O inverso também era verdadeiro: quanto piores eram as trilhas sonoras, menos elas vendiam a cada ano.

Elvis Presley não era um idiota. Ele sabia o que era bom e o que era ruim no material providenciado por sua gravadora. Geralmente as trilhas sonoras eram bem ruins depois de 1965. Eram compostas às pressas, sem capricho e sem cuidado. Os autores e compositores ganhavam mal e por essa razão também não mais se empenhavam em criar algo bom. Uma coisa ruim levava a outra e em pouco tempo Elvis ia amargando sucessivos fracassos. Depois de uma sessão particularmente muito fraca, Elvis, que sempre foi conhecido por seu bom comportamento e educação dentro dos estúdios, estourou com o microfone ainda aberto: "O que mais vocês querem que eu faça com essa merda?". Quando a RCA começou a disponibilizar um material de melhor qualidade finalmente as coisas foram ficando mais claras. Elvis, livre das amarras dos estúdios cinematográficos, conseguia finalmente contar com canções realmente boas, bem compostas, bonitas. Ficar cantando sobre ostras, cachorros e namoricos de adolescentes era um suplício para The Pelvis nesses tempos nebulosos. Quando ele finalmente recebeu bom material tudo foi melhorando, não apenas em termos de vendas, mas principalmente em termos de relevância artística. Assim por volta de janeira a RCA finalmente soltou a relação das canções que iriam fazer parte de seu disco (segue lista abaixo). No próximo artigo começarei a tecer comentários sobre cada canção. Até lá.

Pablo Aluísio.

Elvis Presley - Elvis Gold Records Vol. 4 - Parte 2

Comecemos a análise desse álbum com a faixa "Love Letters", composição da dupla Heyman e Young. Muita gente boa ainda confunde essa versão com a mais conhecida, dos anos 1970, que inclusive deu origem ao nome de um álbum de Elvis. A versão aqui presente é outra, gravada em meados de 1966. Bem no meio de uma fase bem ruim e pouco inspirada em sua carreira, o produtor Felton Jarvis lutou para trazer maior qualidade técnica para suas gravações. Nada que lembrasse suas trilhas sonoras. Realmente basta ouvir a música para entender bem isso. A canção se apresenta com ótimo arranjo, com um piano melódico sempre presente, ao fundo. Para tornar a música ainda mais bonita Felton escreveu um arranjo vocal feminino (algo que era muito raro nas gravações de Elvis) para soar liricamente em segundo plano. O conjunto é mais do que agradável. Ficou muito bonita realmente. A original "Love Letters" nunca foi um sucesso, mas como a RCA Victor estava sem muitas opções e como a gravação ficou acima da expectativas resolveu-se colocá-la como faixa de abertura do álbum. Um cartão de apresentação com qualidade, acima de tudo.

A segunda música do disco é a pouco conhecida "Whitcraft" de Bartholomew e King. Outra versão que causa certa confusão por aí. Não se trata de uma versão de Elvis Presley para o hit "Witchcraft" de Frank Sinatra. Aquela era uma swing jazz, muito conhecida por sinal, um dos grandes sucessos de Sinatra em sua carreira, sempre presente em suas coletâneas mais populares. Essa é outra canção. Poderia qualificar como um pop nervosinho, com um ótimo solo de sax do mestre Boots Randolph (sem dúvida o melhor destaque da gravação, se sobressaindo ainda mais do que a boa vocalização de Mr. Presley). A faixa é bem curtinha, simples e direta. Não há espaço (e nem tempo) para maiores firulas. Produzida por Steve Sholes ela foi gravada em 1963, numa produtiva sessão com outras 14 canções. Fazia parte da ideia da RCA Victor em lançar um LP convencional de Elvis, sem músicas de filmes, que acabou indo por água abaixo. Desastrosamente as boas músicas gravadas nessa ocasião começaram a ser lançadas como bonus songs de trilhas, as deixando em um limbo injusto. Com o tempo foram praticamente esquecidas. Só muitos anos depois o disco saiu finalmente com o nome de "The Lost Album" (o álbum perdido), já na era do CD.

Um bom momento do disco chega com "It Hurts Me", bela composição da dupla Byers e Daniels. Outro caso curioso dentro da discografia de Elvis. A música foi originalmente gravada numa rápida sessão em janeiro de 1964, entra as gravações das trilhas sonoras de "Kissin Cousins" e "Roustabout". Sem saber direito o que fazer com a música a RCA Victor resolveu que era melhor arquivá-la por um tempo. Com o lançamento da trilha sonora de "Kissin Cousins" pensou-se em utilizá-la como bonus songs do disco, mas depois se descartou essa ideia. Ela assim foi renegada, sem muita razão ou lógica, como Lado B do single "Kissin' Cousins". Péssima decisão. A canção era muito boa, com arranjos do grande Chet Atkins (que inclusive a produziu) e deveria ter sido melhor trabalhada para fazer bonito nas paradas, batendo inclusive de frente com os singles dos Beatles que no auge da Beatlemania andavam dominando todas as paradas de sucesso pelo mundo afora. Mais um exemplo de que os executivos da gravadora de Elvis definitivamente não sabiam o que fazer com suas gravações.

Em termos de sucesso o primeiro grande hit do álbum vem com a conhecida "What'd I Say" de Ray Charles.  Gravada por Elvis em 1964 como parte da trilha sonora de "Viva Las Vegas" a versão do Rei do Rock para o clássico de Ray Charles tem admiradores e detratores na mesma proporção. Particularmente gosto da alegria contagiante que Elvis e sua banda conseguiram colocar na faixa. Certamente é bem mais pop que a gravação de Ray Charles e se distancia bastante de sua característica principal, a de ser uma canção com letra profana em uma base sonora típica de música gospel, mas isso em momento algum soa como um defeito ou um demérito. Pelo contrário, penso que Elvis sabia que a sua versão seria parte de um filme de Hollywood e que teria que ter por essa razão um melhor balanço para dar a devida agilidade na cena. Essa, por seu lado, também ficou muito divertida, animada e bem realizada. O diretor George Sidney sabia como poucos coreografar bem um número musical em seus filmes. Além disso some-se a isso a notável beleza e carisma da atriz Ann-Margret e você certamente terá o pacote completo em mãos. Não é algo para se reclamar, vamos convir.

Pablo Aluísio.

quinta-feira, 15 de abril de 2010

Elvis Presley - Elvis Gold Records Vol. 4 - Parte 3

O álbum segue com um pop dos anos 60 intitulado "Please Don't Drag That String Around". É uma composição do trio Baum,  Giant e Kaye. Em sua fase mais pop Elvis Presley realmente gravou algumas faixas adoráveis. Não estou aqui defendendo essa canção como uma grande obra de arte, nada disso, apenas dizendo que essa é uma daquelas músicas que nos deixam mais leves, felizes, simplesmente por ouvi-la. Tem um excelente balanço e uma melodia que imediatamente cria uma cumplicidade com o ouvinte. Muitos poderiam dizer que é demasiadamente inofensiva e sem pretensão, bom, isso nem sempre é um ponto negativo, muito pelo contrário, dependendo da intenção de cada composição pode ser um grande acerto. Essa é outra gravação proveniente das sessões do "The Lost Album", registrada em maio de 1963. Nessa noite, devidamente inspirado no RCA Studio B, em Nashville, Elvis conseguiu finalizar quatro faixas. Entre um gole e outro de Pepsi (seu refrigerante preferido) ele foi fazendo seu trabalho. As sessões começaram com a boa "Echoes of Love" (que seria usada como bonus songs na trilha sonora de "Kissin Cousins"); depois veio o grande hit da sessão "Devil in Disguise" (lançado como single de grande sucesso) e finalmente "Never Ending" (outra boa faixa que seria jogada no vazio pelos executivos da RCA Victor). "Please Don't Drag That String Around" foi a segunda música a ser gravada nessa noite. Elvis adorou sua intensa alegria e levou apenas seis takes para finaliza-la. Um belo trabalho de vocalização e entrosamento. Pura alegria e diversão.

Depois do pop chegamos ao Blues. "Indescribably Blue" foi composta por Darrell Glenn. É uma Balada lançada em 1967 como single com "Fools Fall in Love" no lado B. Essa música já é de uma fase em que Elvis começava a mudar sua musicalidade. Ele ia aos poucos deixando o tipo de trabalho que vinha fazendo desde 1960, quando retornou aos Estados Unidos depois de ter cumprido o serviço militar na Alemanha, para ir por novos rumos, novos caminhos, novas experiências. Talvez o grande responsável por esse novo tipo de som tenha sido o produtor Felton Jarvis. Depois da saída de Steve Sholes e Chet Atkins da produção dos discos de Elvis, Jarvis se mostrou o homem ideal para trabalhar com o cantor nos estúdios. Paciente, bom ouvinte e com sensibilidade para entender o lado emocional de Presley, Jarvis começou uma excelente parceria com o Rei do Rock. Um exemplo perfeito de sua boa simbiose com Elvis veio justamente de sessões como essa. Ao invés da correria das gravações anteriores, que deixavam Elvis nervoso e estressado, Felton Jarvis propôs mais calma e tranquilidade, trabalhando melhor em cada música. Assim em junho de 1966 lá estava Elvis e Felton juntos, pensando em arranjos para as belas baladas da noite. Nessa ocasião eles ainda gravariam a linda "I'll Remember You" (a versão de estúdio, a mesma música que Elvis consagraria ao vivo no álbum "Aloha From Hawaii") e "If Every Day Was Like Christmas" (a música natalina que viraria sucesso no Vietnã, sendo tocada nas noites de natal passadas fora de casa pelas tropas americanas, nas florestas daquele país tropical em chamas). Para muitas pessoas "Indescribably Blue" pode ser excessivamente triste e melancólica, mas para outros é mais um exemplo do tipo de bela música que Elvis e Jarvis podiam produzir juntos. Um momento memorável sob esse ponto de vista.

Voltando ainda mais no tempo chegamos no hit "(You're The) Devil in Disguise". Um dos últimos grandes sucessos na voz de Elvis escrito por Otis Blackwell. O compositor negro tinha sido responsável por alguns dos maiores sucessos da carreira de Elvis Presley como "All Shook Up", "Don't Be Cruel" e "Fever". Nascido em uma família pobre de Nova Iorque, Blackwell soube como poucos criar hits nas paradas dos anos 1950. Além de brilhar ao lado de Elvis ele ainda escreveria um dos grandes hits da carreira de Jerry Lee Lewis, "Great Balls of Fire". Infelizmente depois de algum tempo ele começou a ter problemas com a RCA Victor e o Coronel Tom Parker. Tudo em razão de problemas financeiros e contratuais. Parker não queria pagar o que ele pedia por novas músicas; em contrapartida Otis aos poucos foi se afastando da carreira de Elvis. Para o Coronel o compositor não deveria entrar em atrito com Elvis, uma vez que havia sido ele que o tinha colocado no mapa da grande indústria fonográfica americana. As afirmações de Parker acabaram mexendo com os brios de Otis que resolveu por volta de 1964 não mais ceder canções a Elvis. A mágoa porém não apagou os grande êxitos comerciais dessa parceria. Assim "(You're The) Devil in Disguise" acabou sendo a despedida da dupla, algo realmente a se lamentar.

"Lonely Man" fez parte das sessões de gravação da trilha sonora de "Wild in the Country". Uma faixa que sempre me recorda dos grandes faroestes do passado. O produtor Urban Thielmann escreveu um arranjo bonito que em minha opinião não envelheceu em nada e nem ficou datado. Essa canção não fez muito sucesso e passou praticamente despercebida até mesmo para os fãs de Elvis na época. Ela só entrou na seleção desse disco porque foi lado B do single "Surrender". Tirando isso não consigo achar uma boa justificativa para a faixa estar aqui. Em minha forma de entender é mais uma prova de como havia um verdadeiro deserto de sucessos na carreira de Presley naqueles tempos complicados. Se formos comparar com a seleção musical do primeiro disco, "Elvis Golden Records" de 1958, vamos perceber a grande diferença entre aquelas faixas (todas grandes sucessos) com as daqui, algumas sem nem razão de ser. Os bons tempos tinham realmente ficado para trás. 

Pablo Aluísio.

Elvis Presley - Elvis Gold Records Vol. 4 - Parte 4

O disco segue com uma excelente canção, "A Mess Of Blues", composição da dupla Doc Pomus e Mort Shuman. Uma grande música, gravada nas maravilhosas sessões do retorno de Elvis em Nashville quando ele terminou seu serviço militar na Alemanha em 1960. Foi inicialmente lançada como lado B do single campeão de vendas "It's Now or Never", um dos mais vendidos de sua discografia. O que mais me impressiona nessa fase é que Elvis conseguiu unir grande qualidade técnica com uma diversidade musical poucas vezes superada em sua carreira. É até relativamente fácil compreender isso. A volta de Elvis era ansiosamente aguardada pelo mercado mundial. Durante sua ausência o próprio rock entrou em decadência. Assim ele foi literalmente colocado na posição de salvador do ritmo musical que tanto ajudou a popularizar na década anterior. Elvis porém não estava muito preocupado com isso, para ele o importante mesmo era voltar a fazer grandes discos, gravar excelentes músicas, mesmo que essas fossem de ritmos musicais variados. Definitivamente ele não queria ficar limitado apenas a um nicho do mercado fonográfico. Pelo menos nesse primeiro momento ele realmente atingiu seus objetivos. "A Mess Of Blues", gravada no dia 21 de março de 1961, na mesma noite em que ele também gravou outros clássicos de seu repertório como "Stuck on You", "Fame and Fortune" e "It Feels So Right", era definitivamente uma prova de sua versatilidade e talento. Desfilando por um blues muito bem escrito, Elvis provava que não era apenas o Rei do Rock como todos diziam, mas sim um cantor versátil que poderia se sair bem em praticamente todos os ritmos musicais. Um verdadeiro Rei dos microfones, independentemente do tipo de repertório que lhe era disponibilizado na época.

"Ask Me" tem origem italiana, composta originalmente por Domenico Modugno. A versão para Elvis foi adaptada pelo trio Florence Kaye, Bill Giant e Bernie Baum. Como eu já tive oportunidade de falar antes. nunca gostei de "Ask Me". Na verdade sempre critiquei o fato da música ter sido título de um single de Elvis Presley bem no auge da Beatlemania. Lançada quase sem promoção com "Ain't That Loving You Baby" no lado B o disquinho não fez muito pela carreira do cantor na época. Na verdade pode ser visto até mesmo como um produto de publicidade de outro disco, o do álbum da trilha sonora de "Roustabout" ("Carrossel de Emoções" no Brasil). Isso é facilmente constatado pela própria capa do single, com uma foto do filme e uma grande chamada promocional onde se lê "Coming Soon! Roustabout LP Album". Tudo o que a RCA Victor e o Coronel fizeram foi mesmo resgatar duas músicas que estavam há bastante tempo arquivadas para lança-las assim mesmo, sem muito esforço, na tentativa de divulgar o disco do filme, esse sim uma aposta verdadeira da gravadora. Curiosamente a trilha sonora vendeu realmente muito bem, chegando ao primeiro posto das paradas e essa repercussão comercial certamente também deu um pequeno impulso no compacto pois os americanos acabaram fazendo uma dobradinha, levando o LP e o compacto que estava à venda nas lojas na mesma ocasião. Já em termos musicais a canção é realmente fraca, uma melodia com arranjo excessivo que nunca parece ir para lugar nenhum.

"Ain't That Loving You Baby" de Clyde Otis e Ivory Joe Hunter, foi gravada em 1958, pouco antes de Elvis ir embora para a Alemanha onde cumpriria seu serviço militar. É interessante notar que enquanto esteve servindo o exército a RCA Victor negou que houvesse gravações deixadas por Elvis antes dele ir para a Europa. Eles informavam aos fãs que Elvis não havia deixado nada para trás e que tudo já havia sido definitivamente lançado como single enquanto ele estava fora. Era mentira. "Ain't That Loving You Baby" ao contrário de outras faixas dessas sessões nunca fora lançada! A razão permanece obscura até hoje. Para muitos especialistas a música foi considerada mal gravada, não finalizada. O produtor Steve Sholes nutria esperanças que Elvis a resgataria quando voltasse, mas isso definitivamente nunca aconteceu. Uma versão mais rápida, com pequenas falhas, é bem superior, mas também foi arquivada e deixada de lado. Seis anos depois de sua gravação finalmente a RCA resolveu lhe dar uma chance. Sem material inédito do cantor resolveu jogar a canção como lado B do single "Ask Me". Não fez sucesso e nem causou muito alvoroço. Aliás é até complicado de justificar sua inclusão nesse disco já que a canção não pode ser considerada um enorme sucesso de sua carreira.

Já "Just Tell Her Jim Said Hello" foi escrita pela ótima dupla Jerry Leiber e Mike Stoller. Muitos implicam com o arranjo dessa música. Consideram bobinha demais. Discordo. Nem sempre é necessário se revolucionar o mundo da música já que muitas vezes tudo o que você está querendo mesmo é ouvir uma sonoridade bem despretensiosa e agradável. Se esse for seu foco pode ficar tranquilo pois a faixa vai bem mesmo por esse caminho. Além disso vamos convir que a música foi assinada pela melhor dupla de compositores da carreira de Elvis Presley, Jerry Leiber e Mike Stoller. Eles criaram alguns dos maiores sucessos de Elvis, mas sempre tiveram um relacionamento conturbado com o Coronel Parker. A questão da discórdia geralmente envolvia dinheiro, como era de se esperar. Eles queriam mais pelas novas composições pois quando acertavam, Elvis vendia milhões de cópias. O Coronel, por outro lado, queria pagar o mesmo que eles recebiam na década de 50. Assim, com o tempo, já desapontados, eles passaram a enviar material já não tão maravilhoso como antes para Elvis gravar. Essa composição, por exemplo, não foi considerada uma obra prima e nem uma excelente composição pelos críticos da época. Isso de certa maneira irritou Tom Parker e com o tempo a parceria foi sendo desfeita aos poucos. Tudo fruto de uma desavença contratual entre as partes. Uma pena porque no final os grandes perdedores foram realmente Elvis e seus fãs.

Pablo Aluísio.