terça-feira, 16 de junho de 2009

Elvis Presley - Coleção de Textos IV

Elvis Presley - Outros Lançamentos
Elvis Presley - Tupelo's Own 
Depois de terminar “Love Me Tender” em Hollywood Elvis caiu na estrada novamente. Foi fazer aquilo que sempre soube de melhor: se apresentar ao vivo. Um desses shows foi realizado em sua cidade natal, a pequenina Tupelo, no Mississipi. A cidade que nunca teve alguém tão famoso quanto Elvis em sua história parou para saudar seu filho mais ilustre. A prefeitura decretou feriado na cidade, as escolas liberaram seus alunos e foi organizada uma grande parada na principal avenida da cidade. Uma festança e tanto! Tudo para celebrar a passagem de Presley por lá. Na década de 50 poucos foram os registros ao vivo de Elvis. A imensa maioria de suas apresentações não foram gravadas e nem registradas em filmes mas em Tupelo tudo foi bem documentado. O show que Elvis realizou foi filmado profissionalmente, capturando com boa qualidade partes de seu concerto. Apesar do bom registro que captou realmente belas cenas ele infelizmente está incompleto. A parada que foi realizada no centro de Tupelo também está lacunosa mas o registro sobreviveu ao tempo e está no DVD. A sorte dos realizadores é que algumas pessoas portando antigas câmeras amadoras acabou registrando parte da festa e dos shows, de ângulos diversos. O DVD Tupelo´s Own traz parte dessas imagens.

Ao assistirmos o concerto de Elvis percebemos algumas coisas interessantes. Em nossa época atual o nível de tecnologia que está presente nos palcos dos grandes astros chega a ser assustadora. Telões gigantes, sistema de sons controlados pelos mais modernos equipamentos de informática, equipamentos de luz que impressionam. E na década de 50 o que havia para ajudar o artista no palco? Basta assistir esse documentário para entender que naquela época o cantor tinha apenas a si mesmo e sua banda para fazer uma boa apresentação. Elvis surge em um palco de madeira, pouco acima do público, que inclusive fica a um braço de distância dele! O som é praticamente constituído de alto falantes rústicos, alguns com fios expostos! Até uma cadeirinha de madeira se visualiza no palco para colocar as caixas acústicas em cima! A RCA para se promover ainda mandava colocar um boneco de Nipper, seu cachorrinho símbolo, ao lado de Elvis! Enfim, a diferença daquela época para a atual é simplesmente abissal. O artista tinha seu talento e o público logo ali na sua frente. Hoje muitos cantores contam inclusive com uso de playback, pois para falar a verdade muitos nem sabem cantar de fato. Com Elvis nada disso existia. Era talento cru, ao alcance de todos, quem não tinha talento simplesmente não havia como seguir em frente. Tupelo´s Own é uma aula sobre isso. Sobre um tempo em que ou você tinha talento de fato ou estava fora do negócio. Para finalizar é bom lembrar ao fã que de quebra ele leva trechos de outros concertos de Elvis no pacote. Algumas dessas apresentações estão representadas por imagens avulsas, de curta duração, mas que certamente servem de bom registro histórico dessa época na carreira de Elvis Presley. Assim considero “Tupelo´s Own” um DVD obrigatório na coleção dos fãs do cantor. Traz momentos raros, organizados na medida do possível. Não deixe de adquirir esse item.

Elvis Presley – Tupelo´s Own (EUA, 2007) Tupelo Welcomes Home Elvis Presley / Tupelo’s Own Elvis Presley / Song Performances: 1. Heartbreak Hotel 2. Long Tall Sally 3. Presentation to the City 4. I Was The One 5. I Want Need Love You & I Got a Woman 6. Don’t Be Cruel 7. Hound Dog / Tupelo Evening Show Clip / Original Fox Movie tone News Reel 1956 / Elvis in Tupelo 1957 / Audio Tracklisting: Total running time 51.13 Afternoon Show: 01 Heartbreak Hotel 02 Long Tall Sally 03 Presentation Key To The City 04 I Was The One 05 I Want You, I Need You , I Love You 06 Announcement 07 I Got a Woman 08 Don't Be Cruel 09 Ready Teddy 10 Love Me Tender 11 Hound Dog Evening Show: 12 Love Me Tender 13 I Was The One 14 I Got a Woman 15 Dialogue 16 Don't Be Cruel 17 Blue Suede Shoes18 18 Dialogue 19 Baby, Let's Play House 20 Hound Dog 21 Dialogue.

Elvis Presley - Flashback 
Vamos tecer alguns breves comentários sobre mais esse CD do selo FTD que tem como foco principal justamente a carreira de Elvis Presley nos anos 1950. Ernst Jorgensen, o produtor responsável pelos títulos Follow That Dream, não se limitou durante todos esses anos a apenas colocar no mercado edições especiais de álbuns clássicos de Elvis, mas também shows ao vivo e coletâneas de takes alternativos, categoria a que pertence esse “Flashback”.

A proposta é muito boa uma vez que dá opção ao fã de Elvis em adquirir um produto com seleção musical mais variada, sem tanto rigor especifico como acontece nas edições de discos oficiais. Aqui temos um CD enfocando os trinta primeiros meses da carreira de Elvis (de janeiro de 1956 até junho de 1958). Para muitos estudiosos da obra de Elvis, esta é a época de ouro da carreira do Rei do Rock. Na seleção, muitas gravações inéditas, todas com excelente qualidade de som. O CD foi lançado no dia 20 de maio de 2004 nos Estados Unidos e chegou em edição de luxo, acompanhada de um livro com mais de 170 páginas, com excelentes fotos de Presley nesse período de sua vida artística.

Na seleção musical eu pincelo alguns bons momentos, entre eles as canções que foram gravadas em Nova Iorque logo nas primeiras sessões de Elvis na RCA. Acompanhar o cantor tentando chegar no tom certo das músicas é sempre um prazer renovado. Particularmente gosto bastante dos takes alternativos das músicas que fizeram parte do disco “Elvis” (1956). Nesse aspecto o destaque vai para os três takes do excelente rock de Little Richard, “Rp It Up”. Melhores do que a versão do cantor original. Outra gravação que merece menção é “Ain't That Loving You Baby”, o maior exemplo de take alternativo que se torna melhor do que a versão oficial, que infelizmente não tem pique nem embalo dessa gravação excelente. A melhor versão dessa canção que já ouvi até hoje foi lançada no álbum “Reconsider Baby” de 1985 (lançado em vinil no Brasil).

Caso parecido ocorre com “Treat Me Nice” cuja melhor versão é aquela que ouvimos no filme, uma vez que a que saiu no single foi produzida além do necessário, tirando parte de seu charme cru. Infelizmente poucos takes alternativos chegaram até nós da maravilhosa “Blueberry Hill”, o que é uma pena, pois é uma releitura fantástica de Elvis para o hit de Fats Domino. Caso você esteja em busca de uma coletânea de takes alternativos da década de 1950 esse CD intitulado “Flashback” sem dúvida se torna  uma excelente opção. Além disso você levará para casa um  material impresso dos anos em que Elvis Presley foi o legitimo e verdadeiro Rei do Rock. Tudo de muito bom gosto.

FTD Elvis Presley Flashback (2004)
1. Heartbreak Hotel - take 5 (1. part), 4 (2. part) / 2. Money Honey - take 10 intro only / 3. I'm Counting On You - takes 1,2, unknown take / 4. I Was The One - take 7 unedited / 5. Lawdy, Miss Clawdy - takes 11,12 / 6. Shake, Rattle And Roll - takes 3,5,6,7 / 7. I Want You, I Need You, I Love You - take 3 / 8.  Rp It Up - takes 10,11,12,16 / 9. Loving You (slow) - takes 2,3 / 10. I Need Your Love Tonight - takes 12,13 / 11. A Big Hunk O Love - take 2 / 12. Ain't That Loving You Baby - take 8 - fast fade on Elvis laughing / 13. A Fool Such As I - takes 4,5 / 14. I Got Stung - takes 4-8 The BINAURAL Outtakes / 15. That's When Your Heartaches B / egin - take 1 / 16. It Is No Secret - take 5 / 17. Blueberry Hill - take 3 / 18. Have I Told You Lately That I Love You - takes 6,7 / 19. Is It So Strange - takes 8,9 / 20. Loving You (main title version) - take 6 / 21. Loving You (main title version) - take 12 / 22. Treat Me Nice (1st version) - takes 1,2,3 / 23. Young And Beautiful - take 6 / 24. I Want To Be Free - take 11 / 25. Don't Leave Me Now - takes 7,8.

Elvis Presley - From Elvis In New York - 1956 
A gravadora que detém os direitos autorais de Elvis Presley muitas vezes dorme mesmo no ponto. Ideias originais, bem boladas, nem sempre são aproveitadas. Assim os lançamentos chamados bootlegs fazem a festa. Um exemplo vem com esse novo CD intitulado "From Elvis In New York - 1956". A ideia é simples, mas bem bolada, ou seja, reunir tudo o que existe em termos de gravações e registros sobre os dias que Elvis passou em Nova Iorque durante os anos 50, bem no comecinho de sua carreira.

Nessa ocasião Elvis havia sido recentemente contratado pela RCA Victor. Assim um dos seus primeiros objetivos foi ir até a grande metrópole americana para uma série de compromissos que entre outras coisas previa novas gravações nos estúdios da gravadora na cidade, aparições na TV e entrevistas nas rádios locais. O CD dessa maneira foi dividido em capítulos (intitulados "The Masters", "Elvis On TV", "Promo Recordings for RCA" e "Interviews At The Warwick Hotel"). É um panorama amplo daqueles dias bem importantes, quando Elvis deixava de ser apenas um artista regional, do interior do sul dos Estados Unidos, para começar a ser conhecido nacionalmente (e depois internacionalmente). O começo de sua trajetória de superstar da música mundial. Os produtores desse "From Elvis In New York - 1956" realçam a importância das entrevistas concedidas por Elvis no Warwick Hotel, material apontado no encarte como completamente inédito até os dias de hoje.

From Elvis In New York - 1956 (2017) 
The Masters
01. Blue Suede Shoes
02. My Baby Left Me
03. One-Sided Love Affair (including count-in)
04. So Glad You're Mine
05. I'm Gonna Sit Right Down And Cry (Over You)
06. Tutti Frutti
07. Lawdy, Miss Clawdy (including count-in)
08. Shake, Rattle And Roll
09. Hound Dog (from the mixing desk)
10. Don't Be Cruel
11. Anyway You Want Me (That's How I Will Be)
12. Shake, Rattle And Roll (edited undubbed master)  
Elvis On TV
13. Shake Rattle and Roll / Flip Flop and Fly
14. I Want You, I Need You, I Love You
15. Hound Dog
16. Don't Be Cruel  
Promo Recordings For RCA
17. Recording of personal introductions for latest RCA Victor albums
18. RCA Radio Victrola Division Spot #1
19. RCA Radio Victrola Division Spot #2  
Interviews At The Warwick Hotel
20. Robert Carlton Brown interviews Elvis
21. 'Hy Gardner Calling' (Hy Gardner interview)

Elvis Presley - Elvis On Television 1956-1960
Muitos autores afirmam que Elvis se tornou popular por causa da TV. Essa afirmação é verdadeira, mas também incompleta. O fato é que Elvis também ajudou a popularizar a TV, isso em uma época em que poucas pessoas possuíam um aparelho de televisão em casa. Mesmo nos Estados Unidos a TV ainda era uma novidade tecnológica quando Elvis pintou pela primeira vez em sua tela, lá nos distantes anos 1950. Pois bem, aqui temos um box duplo trazendo todas as apresentações de Elvis na TV entre os anos de 1956 a 1960, que inclusive foi o período em que o cantor mais realizou apresentações ao vivo, seja no programa de Ed Sullivan (que registrou um recorde histórico de audiência) seja nos programas de Steve Allen e Milton Berle.

Depois que Elvis voltou do exército americano, onde estava servindo na Alemanha, o Coronel Parker decidiu que ele iria ficar fora da TV por muitos anos. Isso porque Parker acreditava que o futuro (e os lucros) estavam em outra tela, a do cinema. Assim não fazia muito sentido Elvis fazer concorrência para si mesmo. Se alguém quisesse ver Elvis cantando em um palco deveria antes comprar um ingresso de bilheteria, no cinema é claro! Assim Elvis ficou anos fora da TV, só voltando no programa especial no canal NBC. Antes disso porém houve o "Welcome Home Elvis!", um programa apresentado por Frank Sinatra que celebrava seu retorno aos Estados Unidos. Não foi musicalmente tão relevante, mas ao menos serviu para juntar os dois maiores cantores de todos os tempos em um breve dueto. Enfim, temos aqui uma boa dica desse lado da carreira de Elvis Presley que nem sempre é muito valorizado. Claro, as masters de gravação não são perfeitas - já que foram copiadas das transmissões de TV - mas diante da importância histórica do material isso fica realmente em segundo plano.

Elvis '56
Em precioso trabalho de resgate e registro histórico os realizadores desse documentário foram atrás das imagens capturadas de Elvis Presley se apresentando em diversos programas de televisão nos Estados Unidos durante o ano de 1956, considerado o primeiro de grande sucesso de sua carreira. 

Houve um tempo em que ter acesso às imagens de Elvis se apresentando na televisão americana durante os anos 50 era algo extremamente complicado e raro de se encontrar. Claro que hoje em dia tudo pode ser visto pelo Youtube, mas naqueles anos 80 não existia nem a Internet. Então foi muito bacana quando esse documentário foi lançado em VHS no Brasil. Era material de relevância ímpar para quem curtia as origens e a história do rock. E nem preciso dizer que para os fãs de Elvis era algo muito precioso de se assistir. O único problema é que a distribuidora nacional não caprichou muito na edição nacional. Eu me recordo que a qualidade das imagens não era boa, mas ainda assim se tornou uma fita relativamente fácil de encontrar nas locadoras brasileiras. E o Elvis que encontramos aqui era o jovem Elvis roqueiro, com cabelos loiros, chocando a América conservadora com sua música que, naqueles tempos, era considerada selvagem, que levava os jovens para a delinquência juvenil. Enfim, essas cenas certamente não deixam de ser um registro histórico importante do que estava acontecendo culturalmente entre os jovens naqueles rebeldes anos 50, os tempos da brilhantina. 

Elvis '56 (Estados Unidos, 1987)
Estúdio: Lightyear Entertainment
Direção: Alan Raymond, Susan Raymond
Roteiro: Alan Raymond, Susan Raymond
Elenco: Elvis Presley, Scotty Moore, Bill Black, DJ Fontana, The Jordanaires, Ed Sullivan, Steve Allen (em arquivos de imagens). 

Pablo Aluísio.

segunda-feira, 15 de junho de 2009

Elvis Presley - Love Me Tender

Love Me Tender - Sessão de Gravação
Essa foi a primeira trilha sonora da carreira de Elvis. Em Hollywood o estúdio Fox não iria trabalhar com a banda de Elvis, apenas com ele nos vocais. Isso surpreendeu bastante Elvis que pensou que iria contar com Scotty, Bill e seus músicos de apoio habituais. Só que a Fox, um dos maiores estúdios de Hollywood, não concordou com isso. Apenas músicos contratados pela Fox tocavam em trilhas sonoras de seus filmes. Era política da companhia e não haveria espaço para negociações em relação a esse tema. O assunto foi encerrado pelos executivos de Los Angeles. Elvis teve que engolir a decisão deles. 

Todas as canções deste filme foram gravadas nos estúdios da 20th Century Fox. Elvis contou com músicos determinados pela Fox e não com sua banda tradicional. Estes foram os músicos que participaram destas sessões: Elvis Presley (vocal, violão), Vito Mumolo (guitarra), Mike Rubin (baixo), Richard Cornell (bateria), Luther Rountree (banjo), Dom Frontieri e Carl Fortina (acordeon), os trabalhos musicais foram dirigidos por Ken Darby.

Vera Matson que aparece nos créditos das canções ao lado de Elvis é a esposa de Darby. Ele nunca escreveu uma linha sequer das músicas, seja de letra ou melodia. Tudo foi composto e arranjado pelo próprio Darby. Ele não assinou o material porque havia assinado um contrato de exclusividade com outra gravadora e essas faixas seriam lançadas pela RCA Victor. O jeito foi colocar o nome da esposa nos créditos. Uma forma de garantir a renda das músicas, mesmo não assinando nenhuma delas. 

Mal sabia ele que "Love Me Tender" iria se tornar uma das músicas mais famosas do século XX, fazendo com que a conta de sua esposa fosse forrada por muitos dólares todos os meses. E essa foi uma daquelas músicas que jamais deixaram de render direitos autorais, mesmo décadas depois de seu lançamento, mesmo depois da morte de Elvis e de todos os envolvidos em sua gravação. Para falar a verdade até hoje os descendentes do casal ganham dinheiro com ela!

Love Me Tender - Discografia Americana
Vamos imaginar que você, caro leitor, fosse um jovem americano doido por Elvis Presley nos anos 50. Você certamente iria ao cinema assistir Elvis no filme Love Me Tender e depois iria nas lojas de discos para adquiriar as músicas. Obviamente não iria encontrar elas nem no primeiro e nem no segundo disco do cantor. Para você iria haver apenas duas opções de compra, o single 45 RPM com Love Me Tender no lado A ou então o EP (compacto duplo) com as quatro músicas do filme. 

Nada mais, só isso! Claro que ao longo dos anos Love Me Tender, a balada inesquecível, iria fazer parte de várias coletâneas da carreira de Elvis. Seria relançada ao ponto da exaustão, mas naqueles tempos, em 1956, só havia esses dois disquinhos para levar para sua casa. São itens raros nos Estados Unidos, ainda hoje. Um exemplar em bom estado pode alcançar um bom valor entre colecionadores. Estou me referindo às cópias originais e não as de relançamento. Ficando tudo ao gosto do cliente!

Love Me Tender - Discografia Brasileira
Apesar do Brasil ser um tanto atrasado do ponto de vista industrial, as faixas do filme "Ama-me Com Ternura" chegaram aos fãs brasileiros de Elvis na época. Tanto o compacto duplo como o compacto simples chegaram nas lojas brasileiras. E eram exemplares bem fiéis aos americanos, o que nos deixa bem surpresos hoje em dia. 

As músicas do filme ficaram anos, melhor dizendo, décadas, fora de cartaz em nosso país. Tirando Love Me Tender que sempre vinha em quase toda coletânea de Elvis, essas demais canções da trilha ficaram sem chegar ao público por um longo período de tempo em nosso país. 

Nos anos 80 criaram um disco especial, intitulado Cinema 3, que trazia a trilha sonora completa de Love Me Tender. Na era do vinil, já em um tempo bem mais recente, esse álbum foi visto como um verdadeiro presente para os fãs brasileiros. E a capa, a direção de arte, também era muito boa, reproduzindo os cartazes e desenhos originais usados nas promoções dos filmes em seus lançamentos originais nos cinemas americanos. Um produto de muito bom gosto para aquela época!

Pablo Aluísio. 

Elvis Presley - Elvis Book - Love Me Tender

Elvis Presley - Love Me Tender (1956)
Toda a trilha sonora do filme "Ama-me com Ternura" (Love Me Tender, EUA, 1956) foi lançada originalmente em compacto duplo. Todas as faixas foram providenciadas pelos estúdios Fox e depois repassadas para a RCA Victor, a gravadora que tinha contrato de exclusividade com Elvis na época. O interessante é que praticamente todo o material foi composto pelo diretor musical do estúdio Fox, o maestro e arranjador Ken Darby (que não aparecia nos créditos).

Como o filme era um faroeste ao velho estilo, todas as canções tiveram de uma maneira ou outra um sabor Country and Western. Claro, esse tipo de sonoridade não soava estranha a Elvis. Afinal ele vinha de Memphis, cidade próxima a Nashville, considerada a capital da country music nos Estados Unidos. Ele estava mais à vontade do que nunca com as canções, embora soubesse também que aquele tipo de música era no fundo apenas a visão de Hollywood sobre o estilo musical que tanto conhecia. Elvis porém era um cantor profissional e resolveu dar o melhor de si para o material previamente produzido pelos estúdios da Fox.

Praticamente tudo foi gravado em apenas uma sessão de gravação realizada no dia 24 de agosto de 1956. As músicas não foram produzidas por Steve Sholes, o produtor de Elvis na RCA, mas sim por Lionel Newman, outro contratado da Fox. Esse dispensou a banda de Elvis e ele teve que gravar pela primeira vez sem estar ao lado de seus músicos habituais. Scotty Moore, Bill Black e cia, ficaram de fora. Ele não gostou dessa mudança, porém não quis criar problemas. Mais tarde Elvis iria impor sua vontade, determinando que sua banda o acompanhasse nas trilhas sonoras, mesmo em Hollywood.

Outro aspecto digno de nota é que havia uma seleção de poucas músicas. No máximo Elvis teria que gravar apenas cinco canções para o filme. E isso descartava a edição de um LP por parte da RCA Victor. Um álbum teria que ter no mínimo dez canções, o que não era o caso aqui. No filme seguinte de Elvis, intitulado "Loving You", a RCA iria misturar as músicas do filme original com outras canções gravadas por Elvis em estúdio, mas sem ligação com a trilha sonora do filme que daria título ao novo disco. Só que para "Love Me Tender" isso não foi penado a tempo e as músicas chegaram aos fãs no formato de compacto duplo (conhecido como EP, nos Estados Unidos). 

A música mais importante do filme foi justamente daquela que lhe deu título. Claro que estamos falando do clássico "Love Me Tender", até hoje uma das músicas mais conhecidas da carreira de Elvis. No Brasil o filme recebeu o nome de "Ama-me com Ternura". O titulo original do filme era "The Reno Brothers", faroeste sem grande importância, estilo B da Fox, que nunca teria entrado na história se não fosse pela primeira participação de Elvis Presley no cinema. A história se passava durante o final da guerra civil norte-americana e tratava da delicada disputa de uma mulher por dois irmãos. Vance Reno (Richard Egan) voltava do campo de batalha e descobria, estarrecido, que sua antiga namorada Cathy (Debra Paget) estava agora casada com seu irmão mais novo Clint Reno (Elvis). E isso só havia acontecido porque todos estavam convencidos que ele havia morrido no campos de algodão do sul, lutando contra os exércitos da União. Já imaginou a confusão? O roteiro girava em torno desse triângulo amoroso familiar. Elvis, muito novo e com os cabelos ainda bem próximos de sua tonalidade natural, não comprometeu em nenhum momento, mesmo sendo sua estreia como ator. Quando lançado em 1956, "Love Me Tender" se tornou um tremendo sucesso de bilheteria.

Elvis mostrou que era um nome quente não só no mundo musical, como também na tela grande. Muitos fãs inclusive foram em peso na semana anterior ao lançamento oficial do filme apenas para assistir ao trailer que mostrava pequenos trechos de Elvis cantando! O disco acompanhou o sucesso do filme. A trilha foi lançada em um compacto duplo com "We're Gonna Move", "Let Me" e "Poor Boy" todas de autoria de Elvis Presley e Vera Matson. Era o inicio de uma carreira cinematográfica que iria contar com mais de trinta filmes. 

A canção "Love Me Tender", por sua vez, foi gravada em agosto de 1956 nos estúdios I da 20th Century Fox em Hollywood e lançada um mês depois em single com "Any Way You Want Me" no lado B, chegando ao primeiro lugar da Billboard na primeira semana. Elvis não contou com sua banda tradicional, os Blue Moon Boys, pois o estúdio não tinha contrato com eles e sim com músicos determinados pelo estúdio cinematográfico da Fox. Músicos profissionais do cast fixo da companhia. Mesmo um pouco fora do ambiente que lhe era familiar, Elvis, ao lado de Darby, produziu "Love me Tender" e lhe deu um arranjo bastante simples, porém muito eficiente, sentimental e belo.

Depois de registrar sua participação no estúdio Elvis aproveitou a oportunidade de se apresentar no The Ed Sullivan Show em 9 de setembro para promover a música e o filme. O sucesso foi imediato e Elvis foi assistido por mais de 50 milhões de americanos. 82,6% dos televisores dos EUA estavam sintonizados nele naquela noite. A nação parou para assistir Elvis interpretar "Love Me Tender", um recorde que só foi quebrado depois pelo assassinato do presidente Kennedy e pela apresentação em 1964 dos Beatles no mesmo programa. Tamanha repercussão levou rapidamente o disco a se tornar o primeiro da história a ter 1 milhão de cópias pré-vendidas, graças à expectativa gerada em torno de seu lançamento. Um marco na carreira de Elvis e uma das canções mais identificadas com sua imagem. Um ícone romântico da cultura musical dos Estados Unidos, baseada na velha música "Aura Lee" em inspirada adaptação do maestro Ken Darby.

Um aspecto curioso sobre esse filme é que o personagem que foi interpretado por Elvis, chamado Clint Reno, foi escrito originalmente no roteiro como sendo um adolescente, na faixa entre 16 a 17 anos de idade. E quando Elvis o interpretou ele já era um adulto, com 21 anos! Algumas mudanças pontuais no roteiro foram feitas, durante as filmagens, mas nem tudo foi mudado. Muitas atitudes e sentimentos de Clint Reno continuaram a ser de um jovem adolescente. E isso também se refletia em algumas músicas que tinham mesmo uma sonoridade bem juvenil. Afinal Elvis era o ídolo jovem mais amado da América naquele momento histórico. 

A música "Poor Boy" ia justamente por esse caminho. Embora haja muitos que não gostem da faixa, eu aprecio ela por sua singeleza. Também poderia ser encarada como uma espécie de canção-tema do personagem Clint Reno, afinal o que era ele a não ser um pobre rapaz do campo, pego de surpresa em sua própria adolescência por uma das mais sangrentas guerras da história dos Estados Unidos, a guerra civil. Um conflito que havia destruído sua família, afinal seu irmão mais velho era dado como morto no campo de batalha. 

Para muitos "Poor Boy" era apenas uma música bobinha e sem conteúdo, um country fabricado em Hollywood e sem o selo de qualidade Nashville. Mas tirando toda a diversidade de opiniões, "Poor Boy" é apenas uma canção que cumpre sua função de forma eficiente durante o filme. Dá uma chance a Elvis para mostrar uma boa apresentação e cantar de forma descontraída. 

Essa canção, assim como todas as outras dessa trilha sonora, embora tenham sidos creditadas à autoria da dupla Elvis Presley / Vera Matson, não foram compostas por eles. Elvis praticamente nunca escrevia as músicas que cantava e seu nome foi incluído apenas para que ele participasse nos royalties da canção (Essa aliás era uma atitude bastante comum durante os anos 50). Já Vera Matson que aparece nos créditos das canções ao lado de Elvis era a esposa de Ken Darby, diretor musical da Fox. Por problemas autorais ele resolveu colocar o nome de sua mulher para dividir os créditos da canção, que inclusive foi inteiramente composta por ele dentro do departamento de música do estúdio.

Elvis se decepcionou durante as filmagens desse filme porque ele havia se apaixonado pela atriz Debra Paget e ela acabou dando um fora nele. O fato é que Elvis estava vivendo um sonho de ser um ator de cinema. Para um rapaz pobre que havia sido lanterninha alguns anos atrás e que era apaixonado pela sétima arte, realmente era algo de outro mundo. Já sua parceira no filme era uma pessoa mais pé no chão, realista. Ela sabia que como atriz para subir na carreira ela tinha que se relacionar com os homens certos, os figurões da indústria. Assim Elvis que não era nada disso acabou dançando sozinho. 

De qualquer forma Elvis iria logo encontrar sua namorada ideal para aqueles anos. Era uma loirinha baixinha, mas muito bonita e bem feita de corpo chamada Anita Wood. Elvis a conheceu bem depois do fim das filmagens de Love Me Tender e ficou anos ao seu lado. Anita começou como locutora de rádio em um programa feito para adolescentes de Memphis na estação local. Depois se destacou em outro programa, só que na TV, onde organizava um grande salão de dança com os jovens de sua cidade. Foi ali que Elvis a conheceu e como sempre acontecia, foi amor á primeira vista. 

Todo esse romantismo chegaria em suas novas gravações, se bem que no meio da country music made in Hollywood da trilha sonora do filme também podíamos encontrar esse tipo de sentimento. "Let Me" pode ser citada como exemplo. Das músicas que vieram para coadjuvar "Love Me Tender" no compacto duplo essa é a que melhor se saiu bem. 

Vagamente lembrando "Poor Boy", "Let Me" é divertida, bem executada e dançante. Mas o melhor mesmo é a cena de Elvis no filme, numa performance memorável (mesmo que mal captada pelo diretor do filme, talvez propositadamente!). Um prazer ouvir e ver Elvis cantando essa canção, na flor da idade, com o futuro promissor pela frente. Impossível ficar indiferente ao seu ritmo alegre e de bom astral. Além disso o vocal de Elvis está simplesmente impagável. A cena do filme é ótima, quando ele a canta em um pequeno palco, durante uma feira de gado. Registro nota 10 de um Elvis Presley que ainda estava apenas começando a ganhar o mundo.

Então chegamos na última musica dessa curta trilha sonora da carreira de Elvis, a primeira de sua discografia. Trata-se da faixa intitulada "We're Gonna Move". Essa canção foi baseada numa marchinha muito popular entre os soldados confederados durante a guerra civil americana. Outra interessante adaptação de Ken Darby. De fato ele foi chamado às pressas e teve que se virar para compor uma trilha sonora em cima da hora. Como não havia muito tempo mesmo para escrever material inédito, ele resolveu adaptar algumas canções folclóricas da época da guerra como "Aura Lee" (Love Me Tender) e essa que era conhecida pelos confederados como "There's a Leak in this Old Building".

Até que se encaixou muito bem na trilha sonora. O ritmo bem marcante trouxe uma boa oportunidade para Elvis mostrar seu rebolado numa cena do filme. Além disso todos associavam Elvis a esse estilo vibrante, de puro movimento, que era o Rock em seus primórdios. Só que o sabor dessa faixa, como de muitas outras da trilha, era de country music. E também por essa razão essa música nunca se tornou um sucesso. Se formos pensar bem apenas "Love Me Tender" virou um hit, um sucesso. As demais canções não saíram do contexto do próprio filme. 

Quando a Fox trouxe Elvis para os sets de filmagens em 1956 houve até um certo debate sobre os rumos que o filme iria seguir a partir de sua entrada. Para o diretor Richard D. Webb o filme deveria seguir o roteiro original, ou seja, nada de músicas e nem destaque especial para Elvis, que no fundo iria apenas interpretar um mero papel coadjuvante. O filme de certa maneira iria servir mesmo como um teste para que o estúdio tomasse conhecimento se Elvis iria ou não funcionar no cinema. 

Mas sua opinião foi atropelada pela repercussão que Elvis estava tendo na mídia da época. Era praticamente impossível ignorar a presença de Presley no filme. Além do mais os fãs não iriam aceitar que o filme não tivessem músicas. Por ordens vindas da direção da Fox tudo mudou. O roteiro, antes melodramático e soturno, foi jogado para o alto e em seu lugar foi acrescentado várias cenas com Elvis cantando e exercendo seu direito óbvio de se destacar no elenco! O resultado então foi essa trilha sonora que apesar de não ser muito conhecida (tirando a música tema, claro!) também tem seu espaço dentro da vasta discografia de trilhas sonoras da carreira do cantor. 

Elvis Presley - Love Me Tender - Parte 1
Toda a trilha sonora do filme "Ama-me com Ternura" (Love Me Tender, EUA, 1956) foi lançada originalmente em compacto duplo. Todas as faixas foram providenciadas pelos estúdios Fox e depois repassadas para a RCA Victor, a gravadora que tinha contrato de exclusividade com Elvis na época. O interessante é que praticamente todo o material foi composto pelo diretor musical do estúdio Fox, o maestro e arranjador Ken Darby (que não aparecia nos créditos).

Como o filme era um faroeste ao velho estilo, todas as canções tiveram de uma maneira ou outra um sabor Country and Western. Claro, esse tipo de sonoridade não soava estranha a Elvis. Afinal ele vinha de Memphis, cidade próxima a Nashville, considerada a capital da country music nos Estados Unidos. Ele estava mais à vontade do que nunca com as canções, embora soubesse também que aquele tipo de música era no fundo apenas a visão de Hollywood sobre o estilo musical que tanto conhecia. Elvis porém era um cantor profissional e resolveu dar o melhor de si para o material previamente produzido pelos estúdios da Fox.

Praticamente tudo foi gravado em apenas uma sessão de gravação realizada no dia 24 de agosto de 1956. As músicas não foram produzidas por Steve Sholes, o produtor de Elvis na RCA, mas sim por Lionel Newman, outro contratado da Fox. Esse dispensou a banda de Elvis e ele teve que gravar pela primeira vez sem estar ao lado de seus músicos habituais. Scotty Moore, Bill Black e cia, ficaram de fora. Ele não gostou dessa mudança, porém não quis criar problemas. Mais tarde Elvis iria impor sua vontade, determinando que sua banda o acompanhasse nas trilhas sonoras, mesmo em Hollywood.

Outro aspecto digno de nota é que havia uma seleção de poucas músicas. No máximo Elvis teria que gravar apenas cinco canções para o filme. E isso descartava a edição de um LP por parte da RCA Victor. Um álbum teria que ter no mínimo dez canções, o que não era o caso aqui. No filme seguinte de Elvis, intitulado "Loving You", a RCA iria misturar as músicas do filme original com outras canções gravadas por Elvis em estúdio, mas sem ligação com a trilha sonora do filme que daria título ao novo disco. Só que para "Love Me Tender" isso não foi penado a tempo e as músicas chegaram aos fãs no formato de compacto duplo (conhecido como EP, nos Estados Unidos). 

Elvis Presley - Love Me Tender - Parte 2
A música mais importante do filme foi justamente daquela que lhe deu título. Claro que estamos falando do clássico "Love Me Tender", até hoje uma das músicas mais conhecidas da carreira de Elvis. No Brasil o filme recebeu o nome de "Ama-me com Ternura". O titulo original do filme era "The Reno Brothers", faroeste sem grande importância, estilo B da Fox, que nunca teria entrado na história se não fosse pela primeira participação de Elvis Presley no cinema. A história se passava durante o final da guerra civil norte-americana e tratava da delicada disputa de uma mulher por dois irmãos. Vance Reno (Richard Egan) voltava do campo de batalha e descobria, estarrecido, que sua antiga namorada Cathy (Debra Paget) estava agora casada com seu irmão mais novo Clint Reno (Elvis). E isso só havia acontecido porque todos estavam convencidos que ele havia morrido no campos de algodão do sul, lutando contra os exércitos da União. Já imaginou a confusão? O roteiro girava em torno desse triângulo amoroso familiar. Elvis, muito novo e com os cabelos ainda bem próximos de sua tonalidade natural, não comprometeu em nenhum momento, mesmo sendo sua estreia como ator. Quando lançado em 1956, "Love Me Tender" se tornou um tremendo sucesso de bilheteria.

Elvis mostrou que era um nome quente não só no mundo musical, como também na tela grande. Muitos fãs inclusive foram em peso na semana anterior ao lançamento oficial do filme apenas para assistir ao trailer que mostrava pequenos trechos de Elvis cantando! O disco acompanhou o sucesso do filme. A trilha foi lançada em um compacto duplo com "We're Gonna Move", "Let Me" e "Poor Boy" todas de autoria de Elvis Presley e Vera Matson. Era o inicio de uma carreira cinematográfica que iria contar com mais de trinta filmes. 

A canção "Love Me Tender", por sua vez, foi gravada em agosto de 1956 nos estúdios I da 20th Century Fox em Hollywood e lançada um mês depois em single com "Any Way You Want Me" no lado B, chegando ao primeiro lugar da Billboard na primeira semana. Elvis não contou com sua banda tradicional, os Blue Moon Boys, pois o estúdio não tinha contrato com eles e sim com músicos determinados pelo estúdio cinematográfico da Fox. Músicos profissionais do cast fixo da companhia. Mesmo um pouco fora do ambiente que lhe era familiar, Elvis, ao lado de Darby, produziu "Love me Tender" e lhe deu um arranjo bastante simples, porém muito eficiente, sentimental e belo.

Depois de registrar sua participação no estúdio Elvis aproveitou a oportunidade de se apresentar no The Ed Sullivan Show em 9 de setembro para promover a música e o filme. O sucesso foi imediato e Elvis foi assistido por mais de 50 milhões de americanos. 82,6% dos televisores dos EUA estavam sintonizados nele naquela noite. A nação parou para assistir Elvis interpretar "Love Me Tender", um recorde que só foi quebrado depois pelo assassinato do presidente Kennedy e pela apresentação em 1964 dos Beatles no mesmo programa. Tamanha repercussão levou rapidamente o disco a se tornar o primeiro da história a ter 1 milhão de cópias pré-vendidas, graças à expectativa gerada em torno de seu lançamento. Um marco na carreira de Elvis e uma das canções mais identificadas com sua imagem. Um ícone romântico da cultura musical dos Estados Unidos, baseada na velha música "Aura Lee" em inspirada adaptação do maestro Ken Darby.

Elvis Presley - Love Me Tender - Parte 3
Um aspecto curioso sobre esse filme é que o personagem que foi interpretado por Elvis, chamado Clint Reno, foi escrito originalmente no roteiro como sendo um adolescente, na faixa entre 16 a 17 anos de idade. E quando Elvis o interpretou ele já era um adulto, com 21 anos! Algumas mudanças pontuais no roteiro foram feitas, durante as filmagens, mas nem tudo foi mudado. Muitas atitudes e sentimentos de Clint Reno continuaram a ser de um jovem adolescente. E isso também se refletia em algumas músicas que tinham mesmo uma sonoridade bem juvenil. Afinal Elvis era o ídolo jovem mais amado da América naquele momento histórico. 

A música "Poor Boy" ia justamente por esse caminho. Embora haja muitos que não gostem da faixa, eu aprecio ela por sua singeleza. Também poderia ser enccarada como uma espécie de canção-tema do personagem Clint Reno, afinal o que era ele a não ser um pobre rapaz do campo, pego de surpresa em sua própria adolescência por uma das mais sangrentas guerras da história dos Estados Unidos, a guerra civil. Um conflito que havia destruído sua família, afinal seu irmão mais velho era dado como morto no campo de batalha. 

Para muitos "Poor Boy" era apenas uma música bobinha e sem conteúdo, um country fabricado em Hollywood e sem o selo de qualidade Nashville. Mas tirando toda a diversidade de opiniões, "Poor Boy" é apenas uma canção que cumpre sua função de forma eficiente durante o filme. Dá uma chance a Elvis para mostrar uma boa apresentação e cantar de forma descontraída. 

Essa canção, assim como todas as outras dessa trilha sonora, embora tenham sidos creditadas à autoria da dupla Elvis Presley / Vera Matson, não foram compostas por eles. Elvis praticamente nunca escrevia as músicas que cantava e seu nome foi incluído apenas para que ele participasse nos royalties da canção (Essa aliás era uma atitude bastante comum durante os anos 50). Já Vera Matson que aparece nos créditos das canções ao lado de Elvis era a esposa de Ken Darby, diretor musical da Fox. Por problemas autorais ele resolveu colocar o nome de sua mulher para dividir os créditos da canção, que inclusive foi inteiramente composta por ele dentro do departamento de música do estúdio.

Elvis Presley - Love Me Tender - Parte 4
Elvis se decepcionou durante as filmagens desse filme porque ele havia se apaixonado pela atriz Debra Paget e ela acabou dando um fora nele. O fato é que Elvis estava vivendo um sonho de ser um ator de cinema. Para um rapaz pobre que havia sido lanterninha alguns anos atrás e que era apaixonado pela sétima arte, realmente era algo de outro mundo. Já sua parceira no filme era uma pessoa mais pé no chão, realista. Ela sabia que como atriz para subir na carreira ela tinha que se relacionar com os homens certos, os figurões da indústria. Assim Elvis que não era nada disso acabou dançando sozinho. 

De qualquer forma Elvis iria logo encontrar sua namorada ideal para aqueles anos. Era uma loirinha baixinha, mas muito bonita e bem feita de corpo chamada Anita Wood. Elvis a conheceu bem depois do fim das filmagens de Love Me Tender e ficou anos ao seu lado. Anita começou como locutora de rádio em um programa feito para adolescentes de Memphis na estação local. Depois se destacou em outro programa, só que na TV, onde organizava um grande salão de dança com os jovens de sua cidade. Foi ali que Elvis a conheceu e como sempre acontecia, foi amor á primeira vista. 

Todo esse romantismo chegaria em suas novas gravações, se bem que no meio da country music made in Hollywood da trilha sonora do filme também podíamos encontrar esse tipo de sentimento. "Let Me" pode ser citada como exemplo. Das músicas que vieram para coadjuvar "Love Me Tender" no compacto duplo essa é a que melhor se saiu bem. 

Vagamente lembrando "Poor Boy", "Let Me" é divertida, bem executada e dançante. Mas o melhor mesmo é a cena de Elvis no filme, numa performance memorável (mesmo que mal captada pelo diretor do filme, talvez propositadamente!). Um prazer ouvir e ver Elvis cantando essa canção, na flor da idade, com o futuro promissor pela frente. Impossível ficar indiferente ao seu ritmo alegre e de bom astral. Além disso o vocal de Elvis está simplesmente impagável. A cena do filme é ótima, quando ele a canta em um pequeno palco, durante uma feira de gado. Registro nota 10 de um Elvis Presley que ainda estava apenas começando a ganhar o mundo.

Elvis Presley - Love Me Tender - Parte 5
Então chegamos na última musica dessa curta trilha sonora da carreira de Elvis, a primeira de sua discografia. Trata-se da faixa intitulada "We're Gonna Move". Essa canção foi baseada numa marchinha muito popular entre os soldados confederados durante a guerra civil americana. Outra interessante adaptação de Ken Darby. De fato ele foi chamado às pressas e teve que se virar para compor uma trilha sonora em cima da hora. Como não havia muito tempo mesmo para escrever material inédito, ele resolveu adaptar algumas canções folclóricas da época da guerra como "Aura Lee" (Love Me Tender) e essa que era conhecida pelos confederados como "There's a Leak in this Old Building".

Até que se encaixou muito bem na trilha sonora. O ritmo bem marcante trouxe uma boa oportunidade para Elvis mostrar seu rebolado numa cena do filme. Além disso todos associavam Elvis a esse estilo vibrante, de puro movimento, que era o Rock em seus primórdios. Só que o sabor dessa faixa, como de muitas outras da trilha, era de country music. E também por essa razão essa música nunca se tornou um sucesso. Se formos pensar bem apenas "Love Me Tender" virou um hit, um sucesso. As demais canções não saíram do contexto do próprio filme. 

Quando a Fox trouxe Elvis para os sets de filmagens em 1956 houve até um certo debate sobre os rumos que o filme iria seguir a partir de sua entrada. Para o diretor Richard D. Webb o filme deveria seguir o roteiro original, ou seja, nada de músicas e nem destaque especial para Elvis, que no fundo iria apenas interpretar um mero papel coadjuvante. O filme de certa maneira iria servir mesmo como um teste para que o estúdio tomasse conhecimento se Elvis iria ou não funcionar no cinema. 

Mas sua opinião foi atropelada pela repercussão que Elvis estava tendo na mídia da época. Era praticamente impossível ignorar a presença de Presley no filme. Além do mais os fãs não iriam aceitar que o filme não tivessem músicas. Por ordens vindas da direção da Fox tudo mudou. O roteiro, antes melodramático e soturno, foi jogado para o alto e em seu lugar foi acrescentado várias cenas com Elvis cantando e exercendo seu direito óbvio de se destacar no elenco! O resultado então foi essa trilha sonora que apesar de não ser muito conhecida (tirando a música tema, claro!) também tem seu espaço dentro da vasta discografia de trilhas sonoras da carreira do cantor. 

Elvis Presley - Love Me Tender / Anyway You Want Me Elvis encerrou sua participação com chave de ouro em “Love Me Tender” com o lançamento desse single que rapidamente foi para a primeira posição da Billboard. Era o coroamento de um projeto que havia dado muito certo em todos os setores de mercado, na parada musical e nas bilheterias de cinema. Havia um compacto duplo com a trilha sonora vendendo muito bem, um filme fazendo bonito nas bilheterias e muita repercussão na mídia. O single também virou um êxito pois afinal era bem mais barato e em conta do que o compacto duplo (que custava o dobro, obviamente). Por essa época Elvis estava em todos os lugares, no cinema, na TV, nas revistas, nos jornais. Esse foi um dos momentos de maior popularidade de sua carreira. Não é para menos, poucos meses depois de ter assinado com a RCA Victor, Elvis já havia se tornado um fenômeno popular. Os executivos da gravadora estavam gratificados por seu sucesso. Nenhum outro nome naquele momento trazia mais lucro para a multinacional do que ele. E para surpresa de muitos, Elvis era, naquele momento, com apenas 21 anos de idade, o cantor mais popular do mundo!

O clássico romântico "Love Me Tender" foi usado como música tema de seu primeiro filme em Hollywood. Era um western passado durante a guerra civil norte-americana. Elvis interpretava o jovem irmão de um soldado que havia sido dado como morto em combate. Com isso ele se casava com sua noiva. Só que ao contrário do que todos pensavam ele não estava morto, voltando para casa, encontrando essa situação no mínimo incômoda. A canção foi gravada nos estúdios da Fox. Elvis não foi nessa ocasião acompanhado de sua banda tradicional, mas sim de músicos contratados pela companhia cinematográfica, algo que faria pouca diferença, uma vez que em termos de arranjo ela era bem simples, acústica, praticamente voz e violão. A diferença só seria notada mesmo nas demais canções da trilha sonora, que tinham um sabor bem country and western, para combinar com a temática do filme, um faroeste ao velho estilo. 

Além do hit “Love Me Tender” o lado B trazia uma bem-vinda canção inédita para os fãs, a balada “Anyway You Want Me”. A música apostava no sentimento, com uma letra bem romântica e arranjo melódico. A guitarra chorosa de Scotty Moore acabou virando a marca registrada da canção sendo imitada depois em lançamentos de outros artistas. “Anyway You Want Me” havia sido gravada na mesma sessão de “Hound Dog” e “Don´t Be Cruel” e arquivada para ser lançada em um momento adequado. Nota-se inclusive até mesmo uma certa estafa na voz de Elvis. Também não poderia ser diferente, pois nessa mesma noite ele tinha trabalhado duro para chegar nas versões definitivas de "Don't Be Cruel" e "Hound Dog" (sendo que essa última teve mais de 30 takes gravados!).

Mesmo com pouco fôlego, Elvis registrou essa balada e deu por encerrada a sessão. Depois de ser lançada no single, a canção ainda voltaria ao mercado poucas semanas depois. Não contente, a RCA ainda a lançaria em mais um compacto duplo chamado justamente de “Anyway You Want Me” com várias reprises como "I'm Left You're Right She's Gone", "I Don't Care If The Sun Don't Shine" e "Mystery Train". Era a RCA seguindo o conselho do Coronel Parker de sempre faturar duas ou mais vezes com as mesmas músicas. A velha raposa definitivamente não brincava em serviço e fazia escola por onde passava. No saldo final o single “Love Me Tender” vendeu cinco milhões de cópias,  se tornando o segundo maior sucesso de Elvis naquele ano, ficando atrás apenas de “Hound Dog / Don´t Be Cruel". Nada mal para quem havia surgido no começo do ano apenas como uma promessa! No final das contas 1956 havia se tornado o grande ano de Elvis Presley.

Love Me Tender (Vera Matson - Elvis Presley) / (Elvis Presley Music, BMI) 2:41 - Data de gravação: 24 de agosto de 1956 - Local: 20th Century Fox Stage 1, Hollywood / Elvis Presley (vocal e violão) / Vito Mumolo (guitarra) / Mike Rubin (baixo) / Richard Cornell (bateria) / Luther Rountree (banjo) / Dom Frontieri e Carl Fortina (acordeon) / Rad Robinson (vocal) / Jon Dodson (vocal) / Charles Prescott (vocal) / Arranjado por Ken Darby e Elvis Presley / Produzido por Ken Darby / Anyway You Want Me (A. Schroeder / C. Owens) / (Chappel & Co, Inc, Rachel's Own Music, ASCAP) 2:13 - Data de gravação: 02 de julho de 1956 - Local: RCA Studios, Nova Iorque / Músicos: Elvis Presley (vocal e violão), Scotty Moore (guitarra), Bill Black (baixo), DJ Fontana (bateria), Shorty Long (piano), Gordon Stoker (piano em "Hound Dog"), The Jordanaires (vocais de apoio) / Engenheiro de Som: Ernie Ulrich / Produção: Steve Sholes / Data de lançamento: setembro de 1956/ Melhor posição alcançada nas paradas: EUA #1 e UK #11

Elvis Presley - Love Me Tender - Ama-me Com Ternura 
Elvis entrou em "Love Me Tender" sem nunca ter atuado antes na vida. Nem um curso de arte dramática, nem aulas de teatro, nada. Hollywood queria saber se ele conseguia segurar as pontas, se conseguia pelo menos não decepcionar em cena. O resultado acabou sendo melhor do que esperavam. Elvis foi ajudado pelos atores e atrizes do elenco, além da sempre presença do diretor Robert D. Webb, que estava sempre ao lado do novato, lhe dando instruções, mostrando a marcação da cena, etc. Foi mesmo um aprendizado na prática, sem teoria, sem preparação técnica nenhuma.

E o roteiro até tinha sua carga dramática. Claro, o filme poderia ser enquadrado tranquilamente como um faroeste B da Fox, mas isso era apenas uma visão um pouco limitada de tudo. O enredo era até muito bom. Dois irmãos. Um mais jovem ficava no rancho da família, cuidando das mulheres e do trabalho do dia a dia. O outro ia para o campo de batalha, lutar na guerra civil americana. Depois de alguns meses chegava a notícia de sua morte. O irmão mais jovem então se casava com a noiva do irmão mais velho, agora dado como morto. Só que essa era uma informação falsa. Ele ainda estava vivo. O que fazer quando ele retornasse da guerra? Como se vê é um bom ponto de partida dramático. Elvis interpretava o jovem Reno e  Richard Egan o irmão mais velho que retornava. A noiva era a bela Debra Paget.

O filme foi produzido em preto e branco. Já havia cinema em cores na época, porém esse novo sistema era exclusivo para as grande produções. Para um faroeste de rotina como "Love Me Tender" isso era um luxo desnecessário. Esse e "King Creole" foram os únicos filmes de Elvis lançados em fotografia preto e branco, dos velhos tempos de Hollywood. Confesso que há um certo charme nostálgico envolvido, principalmente para quem aprecia as produções da era clássica do cinema americano. O filme de uma maneira em geral não decepciona. Obviamente ele jamais foi esquecido pelo simples fato de trazer um Elvis Presley jovem e no começo de sua carreira. Porém mesmo que não fosse esse o caso, "Ama-me com Ternura" também teria seus méritos próprios.

Ama-me com Ternura (Love Me Tender, Estados Unidos, 1956) Direção: Robert D. Webb / Roteiro: Robert Buckner, Maurice Geraghty / Elenco: Richard Egan, Debra Paget, Elvis Presley / Sinopse: Por um acaso do destino dois irmãos acabam disputando o amor de uma mesma mulher em uma nação devastada pela guerra civil americana.

Pablo Aluísio. 

 
Elvis Presley - Love Me Tender - Edição FTD 
Verdade seja dita: não havia mesmo muito material para compor esse novo título do selo FTD. Pense bem. O filme "Love Me Tender" contou apenas com quatro músicas: "Love Me Tender", "Let Me", "Poor Boy" e "We're Gonna Move". Elas foram compostas meio às pressas depois que o estúdio resolveu colocar Elvis para cantar nesse western que havia sido escrito inicialmente sem qualquer tipo de número musical. Assim o produtor Ernst Jorgensen tinha a complicada tarefa de compor um CD duplo com esse escasso material disponível. Para tanto ele acabou fazendo o que era previsível: encher linguiça. Analise bem o material que está aqui. Ernst precisou recorrer a gravações que nada tinham a ver com o filme para completar o lançamento. Assim ele, sem critério algum diga-se de passagem, enfiou no CD 2 as canções "Heartbreak Hotel", "Long Tall Sally", "I Was The One", "I Want You, I Need You, I love You", "I Got A Woman", "Don't Be Cruel", "Ready Teddy", "Hound Dog", "Don't Be Cruel", "Blue Suede Shoes" e "Baby Let's Play House". O que essas faixas tem a ver com "Love Me Tender", o filme? Nada! Claro que muitos vão dizer que a inclusão dessas canções gravadas em Tupelo em setembro de 1956 são importantes do ponto de vista histórico e que o concerto foi realizado no calor do lançamento do filme, mas nem isso justifica a inclusão delas em um título dedicado à trilha sonora do filme "Ama-me Com Ternura". Que tivessem sido lançadas em um CD próprio, com temática própria, e não pegando carona em "Love Me Tender" como foi feito por aqui.

Por essa razão é desnecessária a feitura de um CD duplo. Um lançamento simples e mais bem organizado seria muito mais bem-vindo. Além disso seria mais comercialmente viável, com preço mais justo. A FTD aqui quis realmente vender gato por lepre, inventando um CD duplo, sem material para tanto, com o único objetivo de vender um produto mais caro para o colecionador. Bola fora de Ernst Jorgensen. Para não dizer que o CD 2 é um desperdício completo podemos pelo menos elogiar as entrevistas presentes lá com o próprio Elvis, seus pais (Vernon e Gladys) e curiosamente um bate papo rápido realizado com o ator Nick Adams, figura muito presente na vida de Elvis na época, uma aproximação tão constante que chegou ao ponto de criar boatos de que o cantor tinha uma "amizade colorida" com o colega ator de Hollywood. Foi um dos poucos boatos envolvendo homossexualidade e Elvis que teve alguma repercussão a longo prazo. Bobagens à parte não deixe de ser curioso ouvir sua voz ecoando aqui novamente, dando sua opinião sobre Elvis e o seu futuro no cinema (algo que os anos iriam revelar ter sido mesmo uma má ideia por parte do astro e seu empresário Tom Parker). Por falar nele, só faltou mesmo o Coronel dando entrevistas, mas claro que isso ele não faria de graça para ninguém.

FTD Love Me Tender
CD-1 - Masters and outtakes: Love Me Tender / Let Me / Poor Boy / We're Gonna Move / Love Me Tender (end-title) / The Truth About Me / We're Gonna Move (take 4) / We're Gonna Move (take 9)  / Poor Boy (take 3) / Poor Boy [remake S20] (take 1*) / Poor Boy [S31] (VO 6) / Let Me (VO #3*) / Let Me (VO #4*) / Love Me Tender (stereo) / Let Me (stereo) / Poor Boy (stereo) / We're Gonna Move (stereo) / The Truth About Me Interview. / CD-2: Tupelo, Sept 26 1956 / Heartbreak Hotel / Long Tall Sally / Indroductions / I Was The One / I Want You, I Need You, I love You / Elvis talks / I Got A Woman / Don't Be Cruel / Ready Teddy / Love Me Tender / Hound Dog / Interview -Vernon and Gladys Prelsey / Interview -  Nick Adams / Interview - Judy Hopper / Interview - Elvis / Love Me Tender / I Was The One / I Got A Woman / Announcement / Don't Be Cruel / Blue Suede Shoes / Announcement / Baby Let's Play House / Hound Dog.  / * Faixas inéditas.

Pablo Aluísio. Elvis Presley - Elvis e Debra Paget 
Quando Elvis foi para Hollywood ele mal podia acreditar no que estava acontecendo. Não fazia muito tempo que ele trabalhava como lanterninha de cinema e agora, vejam só, ele estava prestes a iniciar um filme! Claro que seu papel era coadjuvante e seu nome só apareceria após os de Richard Egan e Debra Paget. A produção também não era lá essas coisas, era um western B da Fox sem grande orçamento ou repercussão. Para Elvis porém isso não importava, o que importava mesmo era que ele estava começando uma nova fase em sua vida, tão parecida com os seus ídolos da juventude que tudo o deixava maravilhado e feliz. No fundo Love Me Tender nada mais era do que um teste do produtor Hal Wallis para saber se Elvis daria certo nas telas. De fato ele não era ator, nunca havia representado na vida, e havia muitas dúvidas se poderia realmente convencer como ator.

Embora não fosse um profissional da área Elvis se dedicou com afinco. Estudou e leu o roteiro de ponta a ponta e em pouco tempo decorou todas as suas falas. Sua empolgação era tamanha que logo ele acabou também decorando os textos dos demais atores do filme. O script estava na ponta da língua mas obviamente atuar não se resume a apenas decorar suas falas mas também passar verossimilhança em sua atuação. Para ajudar em seu amadorismo e falta de experiência nas filmagens Elvis acabou contando com a ajuda muito preciosa da atriz Debra Paget. Ela era uma jovem intérprete que assim como Elvis também procurava seu lugar ao sol e quem sabe alcançar os picos da glória, almejando um dia ter a fama de uma Elizabeth Taylor. Paget aliás adorava Taylor e considerava sua carreira um espelho a seguir. Tão admiradora era do trabalho da colega que quase sempre pintava seus cabelos numa tonalidade bem escura, preto ao máximo, da mesma cor que Liz. Mas o fato era que a competição em Hollywood era atroz.

Debra já tinha um bom caminho percorrido quando contracenou com Elvis em Love Me Tender. Desde os 15 anos essa jovem de Denver, Colorado, vinha tentando emplacar no mundo da TV e cinema. Embora talentosa nunca conseguiu alcançar o primeiro time de estrelas de Hollywood mas fez bons filmes ao longo da carreira. Na vida pessoal se casou três vezes, inclusive uma com o famoso diretor de filmes de western Budd Boetticher. Ela gostava de homens mais velhos como Budd e Elvis representava o extremo oposto disso pois era jovem, inexperiente e parecia sempre estar deslocado, transparecendo uma agitação e um nervosismo que dava nos nervos de Debra. Mesmo Elvis não fazendo seu tipo Debra acabou se interessando pelo jovem cantor.

Durante muitos anos vários boatos surgiram afirmando que Debra e Elvis tiveram um caso durante as filmagens. Debra aliás foi mais longe e anos depois da morte de Elvis afirmou que ele teria ficado tão apaixonado por ela que a teria pedido em casamento! Verdade ou não? Muitos autores afirmam que tudo não teria passado de um simples e passageiro namorico. A questão era que Elvis era um jovem deslumbrado com a sorte que teve ao ser escalado para fazer filmes de Hollywood e todo o clima, todo o clamor o deixaram impressionado. Além disso a própria atitude e beleza de Debra o deixaram realmente interessado na jovem atriz mas no final das contas Elvis não quis levar adiante o breve romance. Aconselhado por Gladys, sua mãe, ele acabou criando uma mentalidade negativa em relação às garotas com quem trabalhava. Eram independentes e liberais demais para seu gosto pessoal. Na mente de Elvis atrizes eram ideais para pequenas aventuras românticas sem maiores consequências, nada para ser levado à sério.

Com Debra parece ter acontecido justamente isso. Na verdade ela seria a primeira de uma longa lista de envolvimentos de Elvis com suas parceiras de cena, nenhuma delas levadas adiante. Para Elvis a mulher ideal era bem distante de garotas como Debra Paget, independentes e donas de seu nariz. Essas garotas de Hollywood só pensavam em suas carreiras e não em seus namorados e maridos. A mulher deveria ficar do lado esquerdo do homem, perto de seu coração, lhe dando apoio e carinho, não beijando outros atores em filmes. Pois é, era exatamente assim que Elvis pensava e provavelmente foi por isso que ele poucos dias depois colocaria um fim em seu rápido envolvimento com Debra. Pedido de casamento?! Sem dúvida um exagero. Elvis tinha outros planos certamente.

Pablo Aluísio. Elvis Presley - Elvis e Anita Wood Após as coisas esfriarem completamente com Dixie Locke, sua namoradinha de colégio, Elvis ficou alguns meses sem uma “namorada oficial”. Para ele foi muito bom, cada vez mais popular por causa dos shows e apresentações na TV o cantor aproveitou para curtir um pouco de sua fama. Teve flertes com dançarinas, teenagers, tietes e quem mais lhe agradasse e lhe aparecesse pela frente. Ele queria aproveitar sua juventude acima de tudo. As coisas mudariam quando casualmente assistindo ao programa Top 10 Dance Party em um sábado à noite Elvis viu de relance uma das garotas mais bonitas que já tinha visto desde então. Ela era uma das adolescentes que dançavam no programa. Seu nome? Anita Wood.

Quando colocou os olhos em Anita, Elvis quis conhecê-la imediatamente. Para isso designou o gordinho Lamar Fike para descolar o telefone da beldade. Lamar fez um bom trabalho. Conseguiu através de seus contatos o número da garota e sem muitas delongas se apresentou a ela dizendo que Elvis Presley queria lhe encontrar. Atônica e surpresa Anita se desculpou com Lamar e disse que não desmarcaria um encontro que já tinha com outro rapaz para ir ao encontro de Elvis. Imaginem a cara de surpresa de Lamar quando soube disso. Sem pensar duas vezes disparou: “Você está louca?! Nenhuma garota rejeitaria um encontro com Elvis Presley!” Anita não se importou e recusou o encontro. Na realidade ela nem era fã do cantor na época. Esse seu lado durona deixou Elvis ainda mais intrigado em conhecer a espevitada loirinha. Nada atiçava mais seu lado conquistador do que uma garota durona que não lhe dava muita bola. Jovens se atirando aos seus pés não faltavam, mas Elvis queria agora acima de tudo conquistar a jovem dançarina do Top 10 Dance Party.

Elvis não desistiu e colocou o DJ George Klein na tarefa de convencer Anita a lhe encontrar. Lamar Fike também ficou no pé na garota fazendo de cupido pelos dias seguintes. Depois de muita insistência e desencontros finalmente Elvis mandou George e Lamar irem buscar Anita para um encontro reservado com ele. O encontro inicial de Elvis e Anita não poderia ser mais despojado e despretensioso. Elvis a encontrou em seu boteco preferido, um local nos arredores de Memphis que vendia Hambúrgueres e refrigerantes chamado “Crystal Hamburgers”. Apresentações formais foram feitas e depois de um breve bate papo Elvis disparou: “Você gostaria de conhecer minha casa Graceland?” Um convite assim poderia obviamente ser muito ousado para a época, afinal garotas não iam para as casas de rapazes em seu primeiro encontro. Elvis porém foi cuidadoso ao explicar a Anita que vivia com seus pais em Graceland e que eles certamente estariam lá durante a visita. Anita Wood era uma típica garota sulista que prezava muito por sua reputação mas diante das circunstâncias acabou aceitando ir para a casa do cantor famoso.

Anita e Elvis se deram bem imediatamente. Ela tinha tido a mesma educação sulista que ele, gostava das mesmas piadas, tinham gostos parecidos por música e cinema e se entrosaram de uma maneira incrível desde o primeiro encontro. Além disso Anita cultivava uma imagem de moça de família, pura e virgem, que caiu como uma luva no ideal que Gladys imaginava para ser uma boa namorada para Elvis. Anita e Gladys se deram muito bem. Despojada Anita logo no primeiro encontro ajudou a mãe de Elvis com a arrumação da cozinha, ganhando muitos pontos com a futura sogra. Também se deu muito bem com Minnie Mae, a avó de Elvis, que morava com eles desde os tempos de dureza em Tupelo.

Elvis ficou gratificado, tinha a aprovação da família, gostava de Anita, adorava sua presença e em pouco tempo estava completamente apaixonado por ela. Não tardou a Gladys dizer a Elvis que “Anita era uma boa moça para ele”. O começo do namoro com Anita foi tão gratificante para Elvis que ele até parou de correr atrás de outros rabos de saia quando estava na estrada fazendo shows ou gravando discos. Mal chegava em uma nova cidade sempre ligava para as duas pessoas mais importantes para ele na época, Anita e Gladys, para dizer que tinha feito boa viagem e estava tudo bem. O romance em pouco tempo ficou sério e todos ao redor de Elvis acreditavam que mais cedo ou mais tarde ele se casaria com Anita.

Elvis gostava de se referir a Anita como “a minha pequena”. Quando estava em Memphis Anita Wood ficava ao seu lado 24 horas por dia, indo ao cinema, fazendo lanches em seu boteco preferido ou em casa, assistindo filmes e ouvindo música. Anita era presença constante como namorada, companheira e amiga de todas as horas. Depois quando Elvis começou a rodar seus primeiros filmes logo levou Anita com ele para Hollywood. Viviam juntos e continuaram assim por longos seis anos. De fato Anita só deixou Elvis quando esse realmente se decidiu por Priscilla Presley. Quando Elvis conheceu Priscilla na Alemanha ele ficou em uma dúvida incrível sobre qual das duas iria construir uma vida em comum. Embora tenha se apaixonado perdidamente pela adolescente durante seu serviço militar, Elvis não conseguia romper com Anita, tanto que quando voltou aos EUA foi recebido por sua família e Anita no aeroporto.

Depois da volta Anita percebeu que Elvis não era mais o mesmo. Gladys havia falecido alguns meses antes e Presley não conseguia superar essa perda. Para piorar Anita descobriu sobre a existência de Priscilla através de cartas de amor que achou casualmente em Graceland. Além disso o romance de Elvis com Priscilla, a adolescente de 14 anos, foi muito divulgado pela imprensa sendo simplesmente impossível ignorar tal fato. Sem intenções de ser traída por uma adolescente Anita confrontou Elvis durante uma viagem e o clima azedou. Presley ainda tentou amenizar toda a situação afirmando que Priscilla era “apenas uma criança” e o caso “não tinha importância” mas Anita não quis mais saber e colocou um ponto final no longo romance. Ela pensou que Elvis esqueceria sua aventura com Priscilla após retornar aos EUA mas isso efetivamente não aconteceu. Assim ela resolveu colocar um ponto final em seu relacionamento com o cantor. Elvis ficou desolado e com medo de entrar em uma profunda depressão bombardeou Priscilla com telefonemas tentando convencer seus pais a deixa-la vir morar em Graceland, obviamente para ficar no lugar deixado por Anita – Elvis era um homem que detestava ficar sozinho. Anita pegou suas coisas e deixou Graceland definitivamente logo no começo de 1962. Em poucas semanas chegava Priscilla para iniciar um longo caso com Elvis o que culminaria no casamento de ambos cinco anos depois.

O curioso é que Elvis ainda tentou algumas reaproximações com Anita mas foi mal sucedido. Ela estava cansada das traições, das meias verdades e da indefinição de Elvis em relação ao seu romance. O cantor parecia incapaz de partir para o próximo passo natural entre eles que seria logicamente o casamento. Com medo de ficar solteirona ao lado de uma pessoa infiel por natureza, Anita resolveu tocar o barco da sua vida em frente. Conheceu um novo pretendente e se casou com ele alguns anos depois. Só muitos anos depois, quando morava em uma cidadezinha chamada Vicksburg, no Mississippi e que ao ler o jornal matinal Anita soube da morte de Elvis. Ela ficou chocada e triste pelo acontecimento. Apesar de tudo ainda nutria um sentimento de carinho por Elvis.

Ao longo dos anos Anita sempre foi muito discreta sobre os anos que passou ao lado de Elvis Presley, sempre evitando falar sobre o ex namorado famoso mas recentemente abriu algumas exceções, concedendo algumas entrevistas esporádicas. Ela estava decidida quando rompeu com Elvis e nunca mais olhou para trás mas obviamente ficaram as boas lembranças ao lado do antigo namorado. Essas nunca se apagarão.

Pablo Aluísio. Elvis Presley - O Cruzeiro 
Durante as filmagens de Love Me Tender (Ama-me com Ternura no Brasil) Elvis recebeu a presença de Dulce Damasceno de Brito, jornalista correspondente da popular revista "O Cruzeiro". Dulce estava em Hollywood desde 1952 e realizava um jornalismo muito próximo do atual colunismo social. Seus textos sempre focavam no aspecto mais social da indústria americana de cinema.

Por isso ela sempre procurava manter uma aproximação não apenas profissional com seus entrevistados mas também pessoal, de amizade mesmo. Assim se tornou grande amiga e confidente de estrelas da época como a nossa Carmen Miranda, cuja uma de suas últimas entrevistas foi concedida justamente a Dulce.

Também foi essa postura que lhe valeu verdadeiros furos na época de ouro do cinema americano. Avesso a receber jornalistas o ator Marlon Brando abriu uma grande exceção a Dulce, a recebendo em casa para uma entrevista, chegando inclusive ao ponto de deixar seu filho Christian aos seus cuidados pessoais.

Simpática e acessível, pouco à vontade com o jornalismo de fofocas que imperava na capital do cinema Dulce foi formando amigos entre as principais estrelas. Com Elvis manteve uma postura semelhante e encontrou no cantor uma atitude de muita cordialidade, educação (ao melhor estilo sulista) e polidez. Elvis respondeu a tudo com muita simpatia e acessibilidade.

A entrevista girou em torno de amenidades, bem de acordo ao estilo de Dulce. Mal sabia ela que seria a única jornalista brasileira a entrevistar Elvis Presley durante toda sua carreira, um feito e tanto para Dulce e um momento ímpar para os fãs brasileiros do cantor.

Pablo Aluísio. 

domingo, 14 de junho de 2009

Elvis Presley - Elvis Book - Elvis (1956) - Texto II

Elvis (1956) - Discografia Americana
Em relação a esse LP temos algumas curiosidades. A primeira e mais visível é que a RCA Victor não extraiu nenhum single de sua seleção de músicas. Isso significava acima de tudo que a gravadora estava começando a encarar os álbuns de uma maneira completamente diferente. Não é demais lembrar que nos anos 50 a principal fonte de renda de artistas e selos era proveniente da venda dos singles, compactos simples, com apenas duas músicas. O sucesso de um cantor era medido pelo número de compactos vendidos e pela posição que esses singles alcançavam nas paradas, em especial a da revista Billboard. 

Os álbuns com 10 a 12 faixas e maior duração eram mais usados para grandes concertos de música clássica e óperas. Trilhas sonoras com orquestras também encontravam nesse formato seu espaço ideal. Para o country, blues e a música pop, incluindo o rock, as gravadoras apostavam mais nos singles. A partir de Elvis as coisas começaram a mudar. Com isso houve uma clara mudança de estratégia dentro das grandes gravadoras americanas. A RCA Victor começava a entender o potencial dos álbuns de música popular dentro do mercado. 

ELVIS (1956)
RIP IT UP
LOVE ME
WHEN MY BLUE MOON TURNS TO GOLD AGAIN
LONG TALL SALLY
FIRST IN LINE
PARALYZED
SO GLAD, YOU'RE MINE
OLD SHEP
READY TEDDY
ANYPLACE IS PARADISE
HOW'S THE WORLD TREATING YOU
HOW DO YOU THINK I FEEL


Compactos Duplos: 
Se não houve interesse no lançamento de singles, a RCA Victor decidiu apostar no lançamento de EPs, compactos duplos com quatro músicas cada um. Os dois primeiros a chegarem no mercado foram chamados simplesmente de Elvis vol 1 e Elvis vol 2. Nenhuma novidade nas faixas, todas iguais ao álbum oficial e na capa. Curiosamente usaram a mesma foto do LP. Já para o terceiro EP havia novidades interessantes. A RCA escolheu uma foto inédita, com Elvis cantando de frente na clássica posição de "canto para a lua" como era chamada na época. 

Essa segunda capa quase virou a do disco original, só que os executivos da gravadora decidiram que a tirada de perfil era mais bonita. O terceiro EP (Extended Play) também ganhou um nome mais original, chamado de "Strictly Elvis" (Estritamente Elvis, em português). Na época era comum os EPs virem com artistas diferentes, como se fosse uma pequena seleção de hits das rádios. Com esse título a RCA deixava claro para os consumidores que nesse lançamento haveria apenas músicas com Elvis e nenhum outro artista.

Elvis vol 1: Rip it Up / Love me / When my blue Moon Turns to Gold Again / Paralyzed

Elvis vol 2: So Glad You're Mine / Old Sheep / Ready Teddy / Anyplace is Paradise

Strictly Elvis
Long Tall Sally
First in Line
How do you Think I fell
How's The World Treating You

Nota: Esse foi o último lançamento dessa coleção Elvis (1956). Só foi lançado uma única vez, sumindo do catálogo após pouco tempo. Algo esperado, uma vez que só trazia reprises do disco original. 

Ficha Técnica: 
Elvis Presley (vocal, violão e piano) / Scotty Moore (guitarra) / Bill Black (baixo) / D.J. Fontana (bateria) / Gordon Stoker (piano) / The Jordanaires (acompanhamento vocal) / Produzido por Steve Sholes / Arranjado por Elvis Presley e Steve Sholes / Gravado no Radio Recorders - Hollywood / Data de Gravação: 01 a 03 de setembro de 1956. 

Elvis Presley - Elvis (1956) - FTD Elvis 
O selo FTD (Follow That Dream) vem lançando edições especiais dos álbuns da discografia oficial de Elvis Presley entre os anos de 1956 a 1977. Esses CDs são lançados com muito material inédito como takes alternativos, versões não lançadas, ensaios, etc. O problema no caso do álbum Elvis de 1956 é que praticamente nada resistiu ao tempo. A sessão perdeu-se, não se sabe se foi destruída, jogada fora ou perdida. A RCA não conseguiu preservar esse material e essa situação se reflete nesse FTD. Tirando as versões oficiais do disco que todos possuem, não há praticamente nada de extra ou sobras de estúdio no repertório. Apenas alguns takes da música "Rip it Up" sobreviveram. O resto, ao que tudo indica, foi soterrado e perdido para sempre nas areias do tempo. 

O selo inclusive quase desistiu desse titulo, justamente pela ausência de material. Só mudaram de ideia quando encontraram alguns registros feitos ao vivo por Elvis em dezembro de 1956. Foi um show que Elvis realizou na cidade de Shreveport. Nada muito espetacular, mas pelo menos nessa apresentação Elvis resolveu incluir várias faixas do álbum em seu concerto. São justamente essas que estão nessa seleção. Ele estava obviamente promovendo seu novo disco que chegava nas lojas naquele momento. Vale então como registro histórico. Então é isso. Pobre em naterial inédito, que no final das contas nem existe mais, esse título do FTD se resume a cobrir eventuais buracos que iriam existir na coleção, caso ele não fosse lançado. 

Elvis Presley - Elvis (1956) - FTD Elvis 

CD-1: Masters and outtakes
Rip It Up
Love Me
When My Blue Moon Turns To Gold Again
Long Tall Sally
First In Line
Paralyzed
So Glad You're Mine
Old Shep
Ready Teddy
Anyplace Is Paradise
How's The World Treating You
How Do You Think I Feel
Playing For Keeps
Too Much
Don't Be Cruel
Hound Dog
Any Way You Want Me
Rip It Up (10, 11, 12, 13, 14) [Today, Tomorrow...]
Rip It Up (15) [Platinum]
Rip It Up (16) [Flashback]
Rip It Up (17*) (2.06)
Rip It Up (18*, 19 [M]) (3.53)
Old Shep (5)

CD-2: Shreveport, December 15 1956
Heartbreak Hotel
Long Tall Sally
I Was The One
Love Me Tender
Don't Be Cruel
Love Me
I Got A Woman
When My Blue Moon Turns To Gold Again
Paralyzed

Elvis (1956) - Sessão de Gravação
Para seu segundo álbum na RCA Victor, Elvis fez algumas exigências. Afinal ele agora havia se tornado o maior vendedor do selo, então tinha também seu direito de exigir determinadas coisas. Não era mais um jovem promissor apenas, havia mostrado força entre os jovens. Era bom vendedor de discos! A RCA queria levar ele de volta a Nova Iorque, como havia acontecido no primeiro álbum. Elvis não queria mais gravar em Nova Iorque. Ele não gostava da cidade para falar a verdade. Para um jovem do interior tudo aquilo lhe soava meio intimidador. Seu objetivo era gravar apenas em Nashville, perto de Memphis, onde se sentia melhor. 

A RCA tinha bons estúdios por lá, afinal Nashville era a capital da country music. Só que apertado com tantos compromissos profissionais, pois Elvis também queria começar uma carreira no cinema, as sessões foram transferidas para os estúdios da RCA conhecidos como Radio Recorders, que ficavam em West Hollywood, Califórnia. Era um estúdio moderno, muito profissional, onde a RCA gravava trilhas sonoras para filmes dos grandes estúdios de Hollywood. Era um dos melhores estúdios de gravação dos Estados Unidos. 

Elvis também pediu que novos músicos fossem contratados para trabalharem ao seu lado. Afinal não dava para contar apenas com Scotty Moore, Bill Black e DJ Fontana. Assim a RCA montou uma ótima banda de apoio a Elvis. O lendário guitarrista Chet Atkins veio para colaborar, inclusive no aprimoramento de arranjos. De certa forma ele trabalhou mais nisso do que o próprio produtor Steve Sholes, que já com uma certa idade e sem ter muito conhecimento daquele novo gênero musical que surgia, o Rock, acabou apenas administrando a sessão de gravação, mas sem interferir muito no quesito artístico e musical. 

Elvis também pediu a contratação do grupo vocal The Jordanaires formado pelos cantores Gordon Stoker, Hoyt Hawkins, Neal Matthews e Hugh Jarrett. De certa maneira eles lembravam muito daqueles antigos quartetos de gospel music que Elvis adorava desde a infância. Ele havia se encontrado várias vezes com os Jordanaires em shows pelo sul dos Estados Unidos e em um desses encontros havia prometido a eles que a RCA iria contratá-los para que viessem trabalhar em seu próximo disco. Promessa feita, promessa cumprida. 

Elvis gravou a maioria das músicas entre os dias 1 a 3 de setembro de 1956. Relativamente poucas horas de estúdio e o disco estava terminado. Elvis tinha uma capacidade de trabalho excelente, era rápido e certeiro nas gravações, o que fazia os lucros da gravadora aumentarem ainda mais. Seus discos não custavam muito caro e eram campeões de vendas. O jovem Elvis era educado, prestativo, paciente e aceitava sugestões sem ataques de estrelismos. De certa maneira era o artista ideal, aquele com que todo presidente de gravadora da época sonhava encontrar. 

Elvis Presley - RCA Victor Studios - Em setembro de 1956 Elvis entrou em estúdio para gravar seu segundo LP. O clima era bem diferente daquele que ele enfrentou na gravação de seu primeiro disco, as coisas agora seriam diferentes. Para começar Elvis deixava de ser apenas uma promessa para a RCA, ele havia se tornado o bem mais precioso da milionária gravadora, tratado com todo o respeito e reverência. Com o sucesso de seu primeiro álbum Elvis deixou de ser apenas "um garoto metido" e sua música não era mais apenas uma piada nos corredores da multinacional. Elvis rapidamente se tornou o maior vendedor de discos da Victor, deixando nomes consagrados para trás. E isso tudo aconteceu em um curto espaço de tempo, na verdade Elvis deixou de ser um artista desconhecido e sua fama se tornou mundial em apenas poucos meses, praticamente da noite para o dia. Pode ter certeza que tudo iria mudar de agora em diante.

A RCA resolveu mudar seu modo de lidar com Elvis, todos seus desejos e exigências seriam atendidas sem a menor contestação, a gravadora inclusive deu carta branca para Elvis mudar de produtor, já que Steve Sholes não havia se dado muito bem com o cantor nas gravações do disco anterior.

Mas Elvis não fez nada, não exigiu a dispensa de Sholes e nem mudou sua postura se tornando arrogante ou algo parecido, Elvis continuou como antes. Na realidade ele só queria uma coisa: que o deixassem em paz para ele produzir seus discos e escolher a seleção das músicas de seu segundo trabalho. Scotty Moore relembra: "Elvis não iria despedir Steve Sholes, apesar dele ter sido um pouco grosseiro nas primeiras gravações. Elvis não iria se sentir bem mandando alguém para o olho da rua, não era o estilo dele". Sholes ficou, mas ficou em segundo plano. Elvis iria trazer outras pessoas de sua confiança para ajudar nas gravações como os compositores Leiber e Stoller e iria ouvir mais seus músicos, inclusive Chet Atkins que ele conheceu na Victor mas que sempre trazia boas sugestões para os takes. Curiosamente nos anos seguintes, com o afastamento de Sholes por motivos de saúde, Atkins iria se tornar o verdadeiro produtor de Elvis na RCA.

Elvis tomou outra decisão diminuindo o número de instrumentistas nas sessões, sendo que a partir de agora seriam apenas cinco músicos (Scotty, Bill, D.J. Elvis e os Jordanaires). Como não haveria um pianista fixo, ele próprio, Elvis, iria se tornar, ao lado de Gordon Stocker dos Jordanaires, o pianista dessas sessões. De certa maneira Elvis ficou sobrecarregado, pois ele iria produzir o disco, tocaria violão e guitarra e ainda teria que ser o dono dos teclados durante as gravações. Mas Elvis não se importou, para ter mais controle ele também teria que assumir mais responsabilidades. Só mais um coisa: Elvis pediu um estúdio melhor, pois tocar em uma sacristia não era bem o seu lugar preferido para gravar músicas. Sugestão prontamente aceita pelos executivos da major americana.

Como a RCA não tinha um estúdio decente em Nashville e nem em Memphis o jeito foi levar todos para a costa oeste, para Hollywood, para que o disco fosse gravado no melhor estúdio da gravadora: o Radio Recorders. No começo a RCA sugeriu seus estúdios em Nova Iorque, mas Elvis já tinha gravado por lá e achava que ir para Hollywood seria melhor. D.J. relembra: "Na verdade queríamos ir para o Radio Recorders, um estúdio de gravação com o melhor em recursos técnicos". Com tudo acertado Elvis continuou sua série de shows e aparições na TV americana. Parou uns dias em casa para descansar e ensaiar ao piano as principais canções do disco. Depois juntou a turma e seguiram viagem para Los Angeles, onde seriam realizadas as gravações de "Elvis", seu antológico segundo disco. O grupo entrou em estúdio para aquela que seria a sua primeira sessão verdadeira na RCA Victor. Em apenas três dias ele gravaria 13 músicas, um recorde absoluto.

Com o controle dentro dos estúdios Elvis impôs seu modus operandi. Cada sessão começava com algumas canções gospel conhecidas, com todos os músicos em sua volta formando um círculo. Isso podia durar minutos ou horas. As canções eram testadas do pop ao R&B. As músicas eram repetidas insistentemente. Na hora de ouvi-las, se Elvis gostava, fazia um sinal com a cabeça mostrando que queria ouvir novamente. Se não, simplesmente passava o indicador sobre a garganta. A RCA queria que Elvis gravasse "Rock Around The Clock" de Bill Halley, mas Elvis logo a descartou. Também rejeitou várias outras como "I Almost Lost My Mind", "Your Secret's Safe With Me" e "Rock'n'Roll Ruby". Chegou a ensaiar "Mulberry Rush" mas logo desistiu dela também. Ao invés dessas Elvis se concentrou em composições de Leiber e Stoller como "Love Me" e de Blackwell como "Paralyzed". Gravou ainda uma canção de Chet Atkins e outra de um autor desconhecido de Nova Iorque, Ben Weisman. Mais três músicas que foram sucesso com Little Richard e uma velha canção de Willie Walker e Gene Sullivan chamada "When My Blue Moon Turns Gold Again". Depois foi até ao piano e gravou uma versão de "Old Shep", balada sobre a amizade de um garoto e seu cachorrinho.

Ecletismo é a palavra chave para descrever essa maravilhosa sessão de gravação. A grande diferença em relação ao disco anterior é que Elvis e sua equipe conseguiram recriar a atmosfera das gravações da Sun Records. Produziram material da mesma qualidade. Com isso todos ficaram satisfeitos. Mas Elvis não parava e não se mostrava cansado, ele ouvia as canções inúmeras vezes, tentando extrair o máximo que podia de cada música. Bones Howe, assistente do engenheiro de gravação Thorne Nogar disse que Elvis "ficava trabalhando muito tempo numa música, e seu critério era ter uma boa sensação ao ouvir as demos. Ele não se importava com pequenos erros. Estava interessado em extrair uma certa magia das canções. As sessões sempre eram diferentes e divertidas, havia muita energia, ele sempre estava fazendo algo inovador" Elvis terminou sua participação na madrugada do dia 3 de setembro. O disco chegaria nas lojas um mês depois, ocupando a primeira posição em 46 países diferentes ao redor do mundo, um sucesso digno de um Rei, de um Rei do Rock.

Pablo Aluísio - dezembro de 2003