quinta-feira, 18 de abril de 2019

Névoa do Mistério

Título no Brasil: Névoa do Mistério
Título Original: Fog Over Frisco
Ano de Produção: 1934
País: Estados Unidos
Estúdio: First National Pictures, Warner Bros
Direção: William Dieterle
Roteiro: Robert N. Lee, George Dyer
Elenco: Bette Davis, Donald Woods, Margaret Lindsay

Sinopse:
Arlene Bradford (Bette Davis) pertence a uma das famílias mais ricas de San Francisco. Seu pai é o industrial milionário Everett Bradford (Arthur Byron) que atende a todos os seus desejos. Isso transformou Arlene em uma típica herdeira mimada, que não admite encontrar limites em sua vida. Embora seja noiva do corretor Spencer Carlton, a quem não dá muita atenção, ela prefere a companhia da meia-irmã Valkyr (Margaret Lindsay)! Juntas acabam se envolvendo com um grupo de gangsters locais, incluindo o infame Jake Bellow (Pichel).

Comentários:
Bette Davis foi uma das grandes estrelas de Hollywood em seu período clássico. Sua forte personalidade era muito adequada para alguns de seus personagens, mulheres fortes e decididas que não se enquadravam no estilo dondoca esperado da época. Com esse modo de ser Davis realizou grandes obras primas, inclusive dramas onde explorava essa forma de lidar com a sociedade à sua volta. Se Bette Davis já era conhecida por um ter um gênio marcante imagine a atriz interpretando uma garota rica e mimada como aqui. Ela está ótima como uma jovem muito má que não se importa em fazer coisas erradas, até porque pode sempre contar com a ajuda de seu milionário pai, sempre disposto a encobrir suas maldades e livrar a sua cara de punições. Sua Arlene Bradford é uma verdadeira peste, uma mulher que fica o tempo todo no fio da meada, um tipo de personagem vilã que só seria possível mesmo na Hollywood dos anos 30, em pleno auge das mulheres fatais no cinema.

Pablo Aluísio.

quarta-feira, 17 de abril de 2019

Vamos Dançar?

Título no Brasil: Vamos Dançar?
Título Original: Shall We Dance
Ano de Produção: 1937
País: Estados Unidos
Estúdio: RKO Radio Pictures
Direção: Mark Sandrich
Roteiro: Allan Scott, Ernest Pagano
Elenco: Fred Astaire, Ginger Rogers, Edward Everett Horton

Sinopse:
A estrela de musicais Linda Keene (Ginger Rogers) acaba conhecendo numa viagem de navio o dançarino de ballet clássico Pete Petrov (Fred Astaire). Embora sejam profissionais de areas diferentes do mundo da dança ambos ficam intrigados com a técnica de cada um. Será que se dançassem juntos algo de bom poderia sair dessa parceria? Filme indicado ao Oscar na categoria de Melhor Canção Original ("They Can't Take That Away from Me" de George Gershwin e Ira Gershwin).

Comentários:
Mais um lindo musical com a dupla Fred Astaire e Ginger Rogers. Embora não se dessem muito bem pessoalmente, formavam a dupla mais amada e famosa da grande era dos musicais de Hollywood. O problema é que Astaire era um perfeccionista nato e exigia simplesmente a perfeição por parte de sua partner Ginger Rogers. Isso obviamente criava uma certa tensão no relacionamento entre eles. Tanta exigência porém tinha como efeito justamente o que se vê na tela: elegância e charme em forma de dança. Além disso a trilha sonora foi composta pelos gênios George Gershwin e Ira Gershwin! Precisa falar mais alguma coisa? Durante muitos anos os estúdios RKO pertenceram ao magnata excêntrico Howard Hughes, que fazia questão que musicais assim fossem realizados. Com um verdadeiro Mecenas desse porte por trás, não é de se admirar que tantos musicais antológicos fossem realizados em série durante os anos 1930. O curioso é que mesmo após tantas décadas de sua realização, ainda não se conseguiu reproduzir a qualidade técnica de filmes como esses. Como obras cinematográficas são imortais, sem dúvida.

Pablo Aluísio.

Ser ou Não Ser

Título no Brasil: Ser ou Não Ser
Título Original: To Be Or Not To Be
Ano de Produção: 1942
País: Estados Unidos
Estúdio: United Artists
Direção: Ernst Lubitsch
Roteiro: Melchior Lengyel, Edwin Justus Mayer
Elenco: Carole Lombard, Jack Benny, Robert Stack

Sinopse:
Durante a Segunda Guerra Mundial, na Polônia ocupada por tropas nazistas, uma trupe de artistas de teatro liderados por Maria Tura (Carole Lombard) e seu marido Joseph (Jack Benny) tentam levar sua arte em frente no meio do caos e da destruição. Entre tentativas de se apresentar novamente eles se envolvem nos esforços de um soldado polonês em localizar um espião alemão infiltrado. Filme indicado ao Oscar na categoria Melhor Música.

Comentários:
Último filme da atriz Carole Lombard. Ela morreria tragicamente com pouco mais de 30 anos quando o avião em que viajava bateu em uma montanha (Table Rock Mountain, em Nevada) no dia 16 de janeiro de 1942. Ela estava participando do esforço de guerra, vendendo bônus para as forças armadas, quando esse terrível acidente aconteceu. Foi uma perda enorme para o cinema da época pois ela era uma das mais populares estrelas dos estúdios. Obviamente que sua morte transformou "Ser ou Não Ser" em um grande sucesso de bilheteria, fato impulsionado pela comoção que se seguiu à notícia de seu trágico falecimento. Mesmo ignorando esses aspectos externos temos que reconhecer que se trata certamente de um bom filme, muito sofisticado, fruto do talento de direção do mestre Ernst Lubitsch, um alemão que foi para os Estados Unidos para fugir do horror nazista e lá dirigiu vários filmes importantes, alguns considerados verdadeiras obras primas. Infelizmente o cineasta também não viveria muito além disso, morrendo em 1947, no pós-guerra. Ele costumava dizer que havia sobrevivido o suficiente para ver a queda de Hitler e isso já o deixava realizado como homem e artista.

Pablo Aluísio.

terça-feira, 16 de abril de 2019

Sol de Outono

Título no Brasil: Sol de Outono
Título Original: H.M. Pulham, Esq
Ano de Produção: 1941
País: Estados Unidos
Estúdio: Metro-Goldwyn-Mayer
Direção: King Vidor
Roteiro: Elizabeth Hill
Elenco: Hedy Lamarr, Robert Young, Ruth Hussey

Sinopse:
Baseado na novela de John P. Marquand (o mesmo autor de "Tenho Direito ao Amor" e "Lábios Selados") o filme narra a estória de Harry Moulton Pulham (Robert Young), um senhor já entrando na meia idade, sério e muito disciplinado, que acaba se encantando com a jovem Marvin Myles Ransome (Hedy Lamarr), que é seu extremo oposto, impulsiva, jovial, brincalhona e com muita sede de viver intensamente.

Comentários:
Filme da Metro que aposta no carisma e na beleza da atriz Hedy Lamarr. Na época ela foi considerada uma das atrizes mais bonitas e charmosas de Hollywood e para surpresa de muita gente suas qualidades não se resumiam apenas em seus dotes estéticos, pois além de bela era  inteligentíssima, muito interessada em ciência e pesquisas - a ponto de hoje ser creditada a ela parte dos avanços tecnológicos que deram origem ao moderno celular que está em seu dia a dia! Deixando isso um pouco de lado temos que nos concentrar aqui em seu trabalho como atriz. Gostei de sua atuação, até porque seu personagem exige uma certa dose de ousadia que lhe caiu muito bem. Para ser bem sincero Hedy Lamarr, mesmo sendo considerada apenas uma starlet e beldade, surpreende, colocando em segundo plano até mesmo seu parceiro Robert Young. E como mera curiosidade, no elenco, fazendo figuração, ainda podemos ver a futura diva Ava Gardner, ainda bem jovem, em sua segunda aparição no cinema. No final das contas é mais um belo trabalho do cineasta King Vidor, que entre tantos filmes marcantes chegou até mesmo a dirigir parte do clássico "O Mágico de Oz" embora não tenha sido creditado. Em conclusão eis aqui um belo romance do cinema clássico para casais apaixonados de todas as idades.

Pablo Aluísio.

Batman - O Homem Morcego

Título no Brasil: Batman - O Homem Morcego
Título Original: Batman - The Movie
Ano de Produção: 1966
País: Estados Unidos
Estúdio: Twentieth Century Fox
Direção: Leslie H. Martinson
Roteiro: Lorenzo Semple Jr
Elenco: Adam West, Burt Ward, Lee Meriwether

Sinopse:
A Mulher-Gato, o Coringa, o Charada e o Pinguim resolvem unir forças para acabar de uma vez por todas com a dupla dinâmica, Batman e seu fiel escudeiro, o jovem Robin. Para isso roubam uma super arma, capaz de reduzir todas as pessoas à pequenas partículas de poeira! Com essa arma os vilões pretendem dominar todo o mundo!

Comentários:
Se você acha que a história do Homem Morcego nos cinemas começou com aquela versão de Tim Burton no final dos anos 1980 é bom rever seus conceitos. Muitos anos antes disso o famoso personagem dos quadrinhos criado por Bob Kane já distribuía socos e pontapés nos infames vilões pelas ruas de Gotham City! Claro que você não deve esperar desse filme o clima soturno e sombrio das versões que se tornaram grandes êxitos de bilheteria. Esse Batman aqui é bem mais pop, cheio de piadinhas e onomatopeias do tipo "Pow" e "Bang" desfilando pela tela. Na verdade tudo não passa de uma adaptação da popular série de TV estrelada por Adam West para ser exibido nos cinemas. Com a intenção de turbinar seu potencial nas bilheterias os roteiristas resolveram trazer praticamente todos os vilões conhecidos para enfrentar Batman e Robin. O excesso de vilanices acaba atrapalhando o resultado que se mostra muito congestionado. Mesmo assim vale pela diversão de ver o Batman mais camp e Kitsch da história da cultura pop! Santo exagero Batman!!!

Pablo Aluísio.

segunda-feira, 15 de abril de 2019

Rastros de Ódio

Esse era considerado por muitos (inclusive pelo próprio John Wayne) como um dos maiores westerns já realizados. O roteiro foi adaptado do romance escrito por Alan Le May que por sua vez usou como fonte uma história verídica ocorrida no século 19. No auge da colonização rumo ao Oeste muitos raptos de crianças brancas foram relatados às autoridades americanas. Muitas tribos indígenas (como os Comanches retratados no filme) roubavam essas crianças para utilizá-las como moeda de troca com os colonizadores ou como ato de terror para que eles abandonassem suas terras. No filme a pequena Debbie é levada por um chefe tribal conhecido como Scar  (cicatriz em português). Seus pais são mortos em um rancho enquanto os homens da família partem em busca de gado roubado pelos índios. Ao retornarem se deparam com o rancho em chamas e os corpos dos adultos espalhados pela casa sede. Duas jovens crianças são levadas pelos Comanches. A mais jovem logo é encontrada em um canion no meio do deserto, mas a outra some sem deixar vestígios. A busca por sua sobrinha desaparecida logo se torna a obsessão de Ethan Edwards (John Wayne) que ao lado de seu sobrinho Martin Pawley (Jeffrey Hunter) parte em direção ao Oeste na tentativa desesperada de resgatar a pequena Debbie. Passam-se anos e eles enfrentam todas as adversidades possíveis para alcançar seu objetivo, mesmo que isso custe sua saúde, sua sanidade e sua paz.

O personagem Ethan é uma força da natureza. Mesmo após várias tentativas frustradas ele simplesmente não se abala. Ele segue em frente como símbolo de obstinação e luta! Não importa quantos anos levem, ele segue de forma inabalável rumo a novas cidades, novas pradarias, sempre lutando para descobrir o paradeiro de sua ente querida. Na história verídica Cynthia Ann Parker (nome real da pessoa que inspirou Debbie de "Rastros de Ódio") acabou virando esposa de um guerreiro Comanche, tendo com ele três filhos. No filme Ethan consegue alcançar Debbie ainda jovem, vivendo como uma das quatro esposas do cacique da tribo. A Debbie que eles encontram já não é a mesma garotinha de antes, agora é uma adolescente (interpretada por Natalie Wood) que parece ter se adaptado à cultura dos índios Comanches, algo que se torna imperdoável para Ethan. A direção de John Ford surge mais inspirada do que nunca. Tirando proveito das belas locações naturais (entre elas a conhecida Monument Valley. a região que virou marca registrada dos filmes de western do cineasta) ele criou um visual de grande impacto que entrou no subconsciente de gerações de cinéfilos. Também trabalhou muito na composição de Ethan.

Ao contrário dos mocinhos típicos filmes de western que surgiam invariavelmente como poços de integridade, o personagem interpretado por John Wayne aqui tem defeitos - e muitos! Um deles é seu preconceito contra nativos. Sua aversão a Comanches é tamanha que ele ao perceber que sua sobrinha está totalmente inserida dentro da cultura da tribo prefere vê-la morta do que como está! Ousa inclusive levantar a hipótese de matá-la! Seu passado também é nebuloso. Após deixar a Guerra Civil ele surge com muito dinheiro, em notas novas, sugerindo que teria sido fruto de algum roubo a banco ou trem realizado por ele e seus comparsas. Assim Ethan é um caso raro de personagem multilateral, com várias facetas, muitas delas nada dignas. Wayne encarna com perfeição seu papel, ora criando um vínculo genuíno com o público, ora despertando sua aversão. Para finalizar resta dizer que "Rastros de Ódio" foi eleito recentemente como um dos 100 melhores filmes da história do cinema americano pelo American Film Institute. Uma honra só reservada para as grandes obras primas. Um lugar mais do que merecido para "The Searchers" o filme definitivo das carreiras de John Wayne e John Ford. Um marco na história do western americano.

Rastros de Ódio (The Searchers, EUA, 1956) Direção: John Ford / Roteiro:Frank S. Nugent baseado na novela de Alan Le May / Elenco: John Wayne, Jeffrey Hunter, Vera Miles, Natalie Wood, Ward Bond, John Qualen / Sinopse: Após massacrar toda uma família em um rancho, guerreiros Comanches raptam duas crianças. A primeira é morta no deserto, mas a segunda passa a ser criada na Tribo. O tio dela, Ethan (John Wayne), decide transformar a busca dela no objetivo maior de sua vida. Ao lado do sobrinho mestiço Martin Pawley ( Jeffrey Hunter) ele começa uma longa jornada que durará anos em busca de pistas do paradeiro de sua sobrinha sequestrada.

Pablo Aluísio.

O Trem do Inferno

Uma locomotiva carregada com uma preciosa carga atravessa a região das montanhas rochosas em um momento extremamente delicado pois vários crimes são cometidos em seu interior durante a travessia. "O Trem do Inferno" mistura vários estilos - é um western, com pinceladas de filmes de espionagem e suspense à la Agatha Christie. Apesar de atirar para tantos lados o roteiro só consegue ser mediano em todos os gêneros que passeia. Como western não consegue ser muito empolgante. Se não fosse a época enfocada teríamos poucos elementos para considerar ele um faroeste clássico. Como suspense ao estilo Agatha Christie o filme também só consegue ser superficial. Ao contrário das tramas escritas pela famosa escritora esse "O Trem do Inferno" não consegue se sustentar muito em cima do mistério que envolve os crimes cometidos dentro do trem. Por fim, como filme de espionagem também não temos nada de muito especial - principalmente quando Bronson revela sua verdadeira identidade (o que em momento algum chega a ser uma grande surpresa). O roteiro, apesar de ser baseado em um bom livro de autoria de Alistair MacLean, não consegue empolgar e nem envolver.

Apesar de todas as suas limitações "O Trem do Inferno" não é um desperdício completo de tempo. Nesse aspecto a produção conta muitos pontos a seu favor. O filme tem bela fotografia, pois foi filmado numa das regiões mais bonitas das rochosas em Idaho e além disso conta com ótimas cenas de ação (em especial a queda de vagões desgovernados e uma bem coreografada cena de luta em cima do trem em movimento). Esses momentos realmente até amenizam seus problemas. Também recomendaria o filme aos admiradores de Charles Bronson. Esse filme é mais um em sua escalada rumo aos estrelato. Por muitos anos Bronson só aparecia em filmes como coadjuvante. A partir do final dos anos 60 e começo da década de 70 porém ele conseguiu virar o jogo e começou a estrelar seus próprios filmes, como "Chino", "O Grande Búfalo Branco" e "Sol Vermelho" o que acabou lhe abrindo as portas do personagens centrais. Seu auge viria em pouco tempo com o grande sucesso "Desejo de Matar". Para os que desejam conhecer sua filmografia melhor é claro que "O Trem do Inferno" se torna realmente obrigatório. Em suma temos aqui um filme apenas mediano mas que ajudou Bronson a abrir seu lugar ao sol. Se você não for exigir demais "O Trem do Inferno" pode até mesmo ser encarado como bom passatempo.

O Trem do Inferno
(Breakheart Pass, EUA, 1975) Direção: Tom Gries / Roteiro: Alistair MacLean / Elenco: Charles Bronson, Ben Johnson, Richard Crenna / Sinopse: Uma locomotiva carregada com uma preciosa carga atravessa a região das montanhas rochosas em um momento extremamente delicado pois vários crimes são cometidos em seu interior durante a travessia.

Pablo Aluísio.

domingo, 14 de abril de 2019

Honra a um Homem Mau

O jovem cowboy Steve Miller (Don Dubbins) chega nas vastas terras pertencentes ao criador de cavalos e rancheiro Jeremy Rodock (James Cagney). Rodock é um sujeito durão, já envelhecido mas polido nas durezas do velho oeste. Ele chegou no território do Wyoming há muitas décadas e onde não havia nada conseguiu construir um rancho próspero e bem sucedido. Jeremy resolve dar uma chance ao jovem Miller e ele passa a fazer parte do grupo de empregados do rancho. A situação anda tensa na região pois há uma série de roubo de cavalos, atos criminosos provavelmente cometidos por um velho sócio de Rodock. Onde não há a presença da lei os rancheiros resolvem punir os ladrões de uma forma nada sutil: os pendurando em árvores, numa morte lenta e penosa por enforcamento. 

James Cagney se notabilizou em sua carreira ao interpretar gangsters durões durante a lei seca. Como esquecer, por exemplo, seu marcante personagem em "Anjos de Cara Suja"? Ele foi tão popular quanto Clark Gable, Gary Cooper ou Spencer Tracy, mas ao contrário desses atores raramente interpretava mocinhos em filmes românticos. James Cagney era baixinho, atarracado e tinha cara de mau e assim fez sua carreira. Essa produção foi realizada quando ele já era um veterano venerado em Hollywood, prestes a se aposentar (o que aconteceria cinco anos depois). Seu personagem, o velho Jeremy Rodock, é seguramente a melhor coisa do filme que é muito bom, acima da média, mostrando como era a dura de criadores de cavalos naqueles tempos.

No meio das perseguições contra os ladrões de cavalos o roteiro ainda encontra espaço para inserir uma muito bem desenvolvida relação amorosa entre Rodock e Jocasta Constantine (Irene Papas) que não consegue se decidir entre assumir um relacionamento com o velho ou se enamorar por algum jovem cowboy. Isso acaba criando uma tensão entre todos os personagens do rancho, o que enriquece bastante a trama. O cineasta Robert Wise assim realiza mais um belo trabalho em sua filmografia. Um filme até bem humano, que consegue desenvolver uma boa carga dramática em um western dos mais bem realizados.

Honra a um Homem Mau (Tribute to a Bad Man, Estados Unidos, 1956)  Estúdio: Metro-Goldwyn-Mayer (MGM) / Direção: Robert Wise / Roteiro: Michael Blankfort, Jack Schaefer / Elenco: James Cagney, Don Dubbins, Irene Papas, Vic Morrow, Lee Van Cleef / Sinopse: Rancheiro poderoso e cowboy vivem e lutam em uma terra sem lei  no velho oeste americano.

Pablo Aluísio.

O Preço de um Covarde

Dee Bishop (Dean Martin) é líder de um bando de assaltantes de bancos no velho oeste. Após uma tentativa frustrada de assalto todos são presos pelo xerife July Johnson (George Kennedy). Julgados e condenados à forca, não parece mais haver esperanças para os criminosos até o dia em que chega na cidade o carrasco que vai executar o enforcamento. Homem educado, de gestos gentis, ele logo ganha a simpatia de todos. O único problema é que ele na realidade não é quem afirma ser. Na verdade se trata de Mace Bishop (James Stewart) que tentará de todas as formas evitar que seu querido irmão seja enforcado na cidade. Excelente western com um elenco maravilhoso, além de James Stewart e Dean Martin a ótima produção conta com as presenças da linda Raquel Welch e Andrew Prine. A primeira coisa que chama a atenção é o próprio personagem de James Stewart. Ele é um ladrão, tal como seu irmão, assalta bancos e mente o tempo todo, mas mesmo assim não deixa de ser charmoso e fascinante para os moradores da região. James Stewart geralmente interpretava papéis de homens virtuosos, íntegros, éticos e esse Mace Bishop é uma exceção nessa linha. Sua atuação é mais uma vez muito digna e marcante.

Ao seu lado em cena o cantor Dean Martin, mais uma vez não compromete. É curioso porque muitos decretaram o final de sua carreira no cinema após se separar de Jerry Lewis. Ledo engano. Martin conseguiu superar essa separação e ao longo dos anos construiu uma sólida filmografia com alguns filmes realmente maravilhosos. Aqui ele interpreta o irmão caçula Bishop. No fundo tudo o que deseja é escapar das garras da lei para ter um novo recomeço em algum lugar onde possa finalmente ter paz e tranquilidade. O termo “bandolero” do título original se refere a um vasto território hostil localizado além do Rio Grande (marco geográfico que separa o México dos EUA) que é na realidade uma terra de ninguém, dominado por saqueadores e ladrões mexicanos. É justamente nesse local onde se passará os eventos mais dramáticos de todo o filme. Em conclusão “O Preço de um Covarde” é mais um momento marcante na rica carreira do saudoso James Stewart, um ator diferenciado que aqui surge em cena em um papel incomum. Simplesmente imperdível.  

O Preço de um Covarde (Bandolero!, EUA, 1968) Direção: Andrew V. McLaglen / Roteiro: James Lee Barrett, Stanley Hough / Elenco: James Stewart, Dean Martin, Raquel Welch. George Kennedy, Andrew Prine / Sinopse: Dois irmãos tentam fugir das garras da lei na fronteira entre EUA e México. Após atravessarem o Rio Grande são incansavelmente perseguidos pelo xerife Johnson. O problema é que o vasto território é um covil de ladrões e assassinos mexicanos. Quem conseguirá sobreviver a esse lugar tão hostil?

Pablo Aluísio.

sábado, 13 de abril de 2019

Sangue Por Sangue

Um interessante western que reúne dois grandes nomes do faroeste americano da década de 1950: o ator Glenn Ford e o diretor Budd Boetticher, esse último mais conhecido por sua bem sucedida parceria ao lado do ator e produtor Randolph Scott. Nesse “Sangue Por Sangue” (também conhecido como “O Homem do Álamo” pois foi exibido com esse título na TV algumas vezes) acompanhamos a estória de John Stroud (Glenn Ford) que pouco antes da queda do forte Álamo resolve voltar para sua casa com o objetivo de ver se estava tudo bem com sua família. Durante sua ausência porém o Álamo é finalmente invadido e destruído pelo inimigo o que acaba criando um estigma ruim para Stroud.

Sua saída do Álamo acaba sendo entendida como covardia pelos familiares dos militares mortos na batalha, pois na visão deles Stroud deveria ter permanecido no forte, lutando até o fim e morrendo bravamente como todos os demais homens daquela guarnição militar em guerra contra as tropas mexicanas. O diretor Budd Boetticher preferiu aqui não focar o filme na luta travada no Álamo (John Wayne faria isso depois) e sim nos eventos posteriores aos acontecimentos históricos, mostrando a luta de Stroud (Ford) para recuperar sua reputação abalada. Sua chance de se redimir acaba surgindo justamente quando ajuda uma caravana de refugiados do conflito a atravessar uma perigosa região do deserto texano infestada de bandoleiros e tribos indígenas hostis.

O roteiro é simples e Budd Boetticher tenta tirar o melhor proveito da modesta produção que lhe foi disponibilizada pela Universal. Para isso ele não hesita em usar novamente seu talento em realizar filmes rápidos mas muito eficientes. Como já escrevi aqui antes não havia qualquer desperdício nos filmes de Budd – ele contava tudo com extrema economia e compensava essa situação com filmes extremamente eficientes em seu resultado final. O ponto alto do filme, por exemplo, mostra bem essa característica do diretor. De posse de poucos recursos ele promove na tela uma excelente perseguição de bandidos contra oito diligências de refugiados da guerra no meio do deserto.

Emparelhadas quatro a quatro os antigos meios de transporte de madeira descem por um imenso vale numa velocidade incrível. Um pico de adrenalina no filme, em uma cena extremamente bem realizada. Outro destaque dessa produção é seu elenco, que além de Glenn Ford ainda conta com Julie Adams, veterana do cinema e TV que até hoje está na ativa com quase 90 anos! Em suma, “Sangue Por Sangue”, apesar de não ser dos melhores filmes dirigidos por Budd Boetticher, mantém todas as características do cinema viril do cineasta. Ação, roteiro enxuto e cenas impactantes. Vale a indicação.

Sangue Por Sangue / O Homem do Álamo (The Man From Alamo, EUA, 1953) Direção: Budd Boetticher / Roteiro: Steve Fisher, D.D. Beauchamp, Niven Busch, Oliver Crawford / Elenco: Glenn Ford, Julie Adams, Victor Jory, Guy Williams / Sinopse: Após sair do forte Álamo poucas horas antes dele cair definitivamente diante de tropas mexicanas inimigas, John Stroud (Glenn Ford) tenta recuperar sua reputação pessoal, pois passa a ser considerado um covarde pelos familiares dos militares mortos na famosa fortificação.

Pablo Aluísio.

Revanche Selvagem

Após passar todo o inverno capturando animais selvagens para extrair suas peles, o caçador Joe Bass (Burt Lancaster) se vê encurralado por um grupo de índios das montanhas. Eles lhe dão uma alternativa: trocar as peles por um negro que tinham capturado. Obviamente Bass não tem nenhum interesse em possuir um escravo mas como fica sob ameaça de arcos e flechas não vê outra alternativa a não ser aceitar a “proposta” dos indígenas. Feita a troca eles vão embora e Bass se torna o dono de Joseph Lee (Ossie Davis), um negro que pensa ser um comanche (havia sido criado por essa tribo). O fato porém é que Bass não desistirá de suas peles tão facilmente assim e parte no encalço dos índios esperando pela oportunidade de roubar a carga sem que eles percebam. Para seu infortúnio porém antes que isso aconteça os índios são atacados por um grupo de renegados liderados por Jim Howie (Telly Savalas). A especialidade deles é a matança de indígenas pois há uma recompensa paga pelo governo do território por cada escalpo que eles conseguirem. Assim que matam os índios eles tomam posse das peles de Bass que agora terá que enfrentá-los para reaver o que é seu de direito.

“Revanche Selvagem” é um excelente western que foi bem subestimado em sua época e continua a ser pouco conhecido pelos fãs do gênero. Apesar da sinopse dar a entender de que se trata de um faroeste ao velho estilo, o filme já apresenta um tom mais leve onde se mesclam cenas de lutas e tiroteios com pequenas partes de puro humor. A relação entre Bass (Lancaster) e o escravo Lee, por exemplo, rende bons momentos e ótimos diálogos. O negro pensa ser um índio comanche, apesar de todas as evidencias em contrário. Ossie Davis que interpreta esse personagem está muito bem. Outro destaque é Telly Savalas, ator que ficou famoso por causa da série Kojak, grande sucesso da TV americana na década de 70. Ele lidera um grupo de ladrões, assassinos e facínoras em geral que vagam pelos campos em busca de índios, cujos escalpos são trocados por recompensas pagas (“o mais vil serviço do velho oeste” segundo as palavras do personagem de Lancaster). Shelley Winters se despe de vaidades e faz a mulher de Telly Savalas, já um tanto farta das viagens intermináveis no meio do nada. Enfim, “Revanche Selvagem” merece ser redescoberto. Seu bom roteiro, as boas atuações e a direção do sempre ótimo Sydney Pollack garantem ainda mais a sessão.

Revanche Selvagem (The Scalphunters, EUA, 1968) Direção: Sydney Pollack / Roteiro: William W. Norton / Elenco: Burt Lancaster, Shelley Winters, Telly Savalas, Ossie Davis / Sinopse: Caçador de peles das montanhas (Lancaster) passa por muitos conflitos para reaver as peles que foram tomadas por índios selvagens em troca de um escravo negro.

Pablo Aluísio.

sexta-feira, 12 de abril de 2019

Com o Dedo no Gatilho

Clay (Audie Murphy) é um negociador de cavalos que no meio de uma viagem pelo deserto encontra um homem perdido, sedento, e prestes a morrer. Prontamente o ajuda a sobreviver mas é apunhalado pelo estranho que na verdade é um pistoleiro em fuga após matar uma família numa cidadezinha próxima. Seu nome é Travers (Jan Merlin). Após a agressão o bandido rouba o cavalo de Clay e foge deserto adentro. Com muito esforço finalmente Clay consegue chegar na cidade mais próxima mas para seu azar o povo local o confunde com o pistoleiro Travers, o capturando e o enviando ao xerife que tenciona o levar a um tribunal em Denver para ser julgado e enforcado. Acusado injustamente de um crime que não cometeu e confundido com o verdadeiro assassino, nada mais resta a Clay do que tentar escapar para provar sua verdadeira identidade e sua inocência em todas as acusações. Homem errado no lugar errado - essa é a premissa que norteia o roteiro de "Com o Dedo no Gatilho", bom western estrelado por Audie Murphy no começo da década de 60.

Um dos aspectos positivos dessa produção é a locação onde parte do filme foi rodado, em Alabama Hills, uma região muito bonita e singular pois se trata de uma serra de rochedos bem no meio do deserto americano. Sem dúvida o local acrescentou bastante ao visual e à fotografia desse faroeste, principalmente quando o xerife local persegue os personagens principais. Outro ponto forte é o bom elenco de apoio. Entre os destaques poderia citar o bom trabalho do ator Robert Middleton como o ladrão Ambrose. Ele chega tarde da noite na taverna onde o personagem de Audie Murphy se esconde do xerife e dá um show de interpretação. Sangrando, levemente embriagado, ele incorpora aquele sujeito sem valores nenhum de forma brilhante. No mais, "Com o Dedo no Gatilho" segue o padrão dos chamados faroestes B da Universal. Não que fossem filmes ruins mas sim com orçamentos mais modestos e enredos mais diretos e eficazes, o que no final das contas acabava satisfazendo bastante aos fãs do gênero.

Com o Dedo no Gatilho (Hell Bent for Leather, EUA,1960) Direção: George Sherman / Roteiro: Christopher Knopf / Elenco: Audie Murphy, Felicia Farr, Stephen McNally / Sinopse: Comerciante de cavalos é confundido com perigoso pistoleiro e assassino procurado pelo xerife na região. Agora terá que lutar para provar sua verdadeira identidade e sua inocência nos crimes cometidos pelo bandido procurado.

Pablo Aluísio.

O Justiceiro Cego

Título no Brasil: O Justiceiro Cego
Título Original: Blindman
Ano de Produção: 1971
País: Estados Unidos, Itália
Estúdio: Twentieth Century Fox
Direção: Ferdinando Baldi
Roteiro: Tony Anthony, Vincenzo Cerami
Elenco: Tony Anthony, Lloyd Battista, Ringo Starr

Sinopse:
Blindman (Tony Anthony) é um pistoleiro cego, mas mortal, que é contratado para escoltar cinqüenta noivas arranjadas por correspondência até seus futuros maridos, mineiros da corrida do ouro. Durante a travessia seu parceiro de negócios resolve mudar de ideia, vendendo as mulheres para um famigerado bandido, Domingo (Lloyd Battista). Caberá a Blindman salvar as mulheres, cumprindo o que havia contratado.

Comentários:
Western Spaghetti que contou com dinheiro americano do estúdio Fox para sua finalização. A premissa é obviamente bem absurda (como convinha ao estilo) e conta com um interesse a mais para os fãs dos Beatles, a presença do baterista Ringo Starr interpretando um personagem chamado Candy. O músico há anos tencionava se tornar ator de cinema e com o fim de seu famoso grupo resolveu investir na nova carreira, com resultados irregulares, pois mesmo tendo participado de bons filmes também não escapou de fazer parte de bombas cinematográficas constrangedoras. A estrela do filme porém é o ator americano Tony Anthony (de "O Forasteiro Silencioso", "O Pistoleiro e os Bárbaros", "Um Homem, um Cavalo, uma Pistola" e "Um Dólar Entre Os Dentes") que dá vida ao personagem principal, Blindman, o justiceiro cego. Curioso que esse papel tem certas semelhanças com o herói dos quadrinhos Demolidor, pois sua deficiência visual não o impede de ser um atirador impecável pois apesar de não ver seus alvos ele desenvolveu um sexto sentido que lhe dá a exata posição e distância de seus inimigos em duelos mortais. Em suma, um faroeste ítalo-americano bem divertido que até hoje é lembrado pelos amantes do gênero. Vale a pena rever e caso ainda não tenho assistido, corra atrás.

Pablo Aluísio.

quinta-feira, 11 de abril de 2019

O Revólver de um Desconhecido

Título no Brasil: O Revólver de um Desconhecido
Título Original: Chuka
Ano de Produção: 1967
País: Estados Unidos
Estúdio: Paramount Pictures
Direção: Gordon Douglas
Roteiro: Richard Jessup
Elenco: Rod Taylor, Ernest Borgnine, John Mills, Luciana Paluzzi, Louis Hayward
   
Sinopse:
Um destacamento da cavalaria americana chega em um forte destruído por nativos rebeldes. Todos os militares estão mortos e as mulheres desaparecidas. No local é encontrado o revólver de uma marca que nunca fez parte do arsenal usado pelo exército americano. Ditando seu relatório o Coronel do pelotão começa a contar em flashback tudo o que aconteceu naquela tragédia terrível para as forças armadas de sua nação.

Comentários:
Ótimo western que traz um roteiro muito bem escrito que procura, acima de tudo, desenvolver com capricho todos os personagens da trama. Entre eles o mais interessante é justamente o pistoleiro Chuka (Rod Taylor). Após viajar pelo deserto ele chega casualmente em um distante e isolado forte da quarta cavalaria americana. Lá conhece todos os tipos de militares, dos bons aos maus, a começar pelo próprio comandante, o Coronel Stuart Valois (John Mills) que foi designado para aquele posto distante justamente por causa de seu temperamento inadequado, agravado pelo alcoolismo. Seu imediato, o Major Benson (Louis Hayward), não é melhor, pois acaba se tornando um oficial desmoralizado por cometer atos bárbaros contra o inimigo, inclusive abusos sexuais frequentes contra índias capturadas. O único membro daquela tropa que parece ter algum respeito por sua farda é justamente o Sargento Otto Hahnsbach (Ernest Borgnine). Ele mantém uma fidelidade canina em relação ao seu Coronel, mesmo estando a tropa à beira de um motim. Se dentro do forte as coisas não andam bem, fora dos portões a situação é ainda mais grave pois uma aldeia inteira se prepara para invadir o posto militar avançado. Famintos e desesperados só restam aos índios destruir as forças de ocupação do homem branco para roubar armas e alimentos. Excelente enredo aliado a uma ótima direção do cineasta Gordon Douglas tornam esse faroeste americano um maravilhoso exemplo do que de melhor era produzido na época no gênero. Um pequeno clássico que merece ser redescoberto.

Pablo Aluísio.

Trágica Emboscada

Título no Brasil: Trágica Emboscada
Título Original: The Savage
Ano de Produção: 1952
País: Estados Unidos
Estúdio: Paramount Pictures
Direção: George Marshall
Roteiro: L.L. Foreman, Sydney Boehm
Elenco: Charlton Heston, Susan Morrow, Peter Hansen

Sinopse:
Quando apenas era uma criança, James 'Jim' Aherne Jr (Charlton Heston) presenciou toda a sua família ser morta durante um ataque de nativos à caravana na qual viajava. Resgatado por uma tribo rival Sioux acaba sendo adotado pelo cacique de seu novo clã. Os anos passam e ele recebe o nome de "War Bonnet" entre seus pares. Com a quebra de um tratado firmado entre as tropas da cavalaria e a tribo Sioux, os tambores de guerra voltam a soar nas montanhas. A questão é: será que Aherne estará mesmo disposto a enfrentar o homem branco em um campo de batalha ou sua lealdade aos índios falará mais alto?

Comentários:
Charlton Heston aqui interpreta um homem branco criado no meio dos índios Sioux, o que não deixa de ser muito curioso, pois o ator acabou desenvolvendo uma de suas atuações mais físicas, já que "The Savage" é em essência um bangue-bangue típico dos anos 50, com muitas cenas de combate e ação envolvendo índios e a cavalaria americana. O tom dramático é dado pela dualidade vivida pela personagem de Heston, afinal se ele é um branco de nascença como se comportará caso exploda uma guerra entre os soldados e os índios Sioux? Um dos destaques da produção vem da bonita fotografia. O filme foi todo rodado na Carolina do Sul, nas montanhas conhecidas como Black Hills, uma região muito agraciada por belezas naturais. O roteiro só deixa a desejar mesmo na indecisão quase sempre constante do personagem principal, pois Inicialmente ele se coloca ao lado da paz, porém depois que sua irmã adotiva é morta por engano por soldados, ele volta atrás para armar um emboscada fatal para os militares enviados por Washington. E isso é apenas o começo pois haverá ao longo do filme outras reviravoltas. Charlton Heston também surge meio esquisito com figurinos indígenas e cabelos com trancinhas. Para quem o associa a filmes como "Ben Hur" e "Os Dez Mandamentos" certamente haverá uma dose de surpresa com seu visual fora do comum. No mais é isso, uma boa fita, valorizada também por um certo romantismo em relação ao estilo de vida e cultura dos Sioux.

Pablo Aluísio.

quarta-feira, 10 de abril de 2019

Conspiração

Charlie Sheen interpreta Bobby Bishop, um jovem e promissor assessor do Presidente dos Estados Unidos. Sua vida profissional, como se pode perceber, está no auge. Tudo muda quando ele é procurado por um antigo professor da universidade de Direito, que lhe avisa que há uma grande conspiração envolvendo sociedades secretas, como a maçonaria, se formando para tirar o Presidente do poder. Agora ele é o alvo! Filme com roteiro muito bom que acabou fracassando nas bilheterias por culpa do ator Charlie Sheen. Como se sabe Sheen esteve sempre envolvido em escândalos e polêmicas. No começo da carreira Hollywood tentou transformá-lo em um novo Tom Cruise, mas isso obviamente não deu certo. Aliás Sheen ainda não perdeu o jeito para se envolver em todos os tipos de problemas. Recentemente ele assumiu estar com AIDS, além de ser viciado em crack. Deixando isso tudo de lado, todas as revistas de fofocas e a vida escandalosa de Sheen e suas matérias na imprensa marrom, sensacionalista, esse "Shadow Conspiracy" serviu para demonstrar o quanto ele poderia ser interessante apenas atuando nas telas de cinema.

O roteiro tem ótimas sacadas e o elenco é dos melhores, com direito a uma pontinha do escritor Gore Vidal como um senador conservador, mulherengo e crápula. A ironia veio no fato de que Vidal era um dos grandes representantes do movimento gay nos EUA. No mais o filme disseca o lado da podridão da política americana, com seus conchavos e conspirações. Esse é considerado também o filme mais inteligente do cineasta George P. Cosmatos, mais conhecido por "Rambo II - A Missão" e "Stallone Cobra". Infelizmente como o filme fracassou esse também acabou sendo seu último filme. Em Hollywood dificilmente se dá uma segunda chance a um diretor, não importando seus sucessos do passado.

Conspiração (Shadow Conspiracy, Estados Unidos, 1997) Estúdio: Hollywood Pictures / Direção: George P. Cosmatos / Roteiro: Adi Hasak, Ric Gibbs / Elenco: Charlie Sheen, Donald Sutherland, Linda Hamilton, Ben Gazzara, Stephen Lang, Gore Vidal. / Sinopse: Uma grande conspiração se instala nos mais altos escalões do poder dos Estados Unidos. Salve-se quem puder!

Pablo Aluísio.

Ninguém Deseja a Noite

Josephine Peary (Juliette Binoche) é uma francesa que decide ir até a gelada e distante Groenlândia (uma ilha próxima ao polo norte do planeta) em busca do marido, um aventureiro que está em busca de glória nas neves da região. Durante sua expedição Josephine acaba conhecendo uma nativa chamada Allaka (Rinko Kikuchi) do povo esquimó, criando uma nova visão da vida e do mundo. O grande mérito desse filme vem da presença da sempre interessante Juliette Binoche. Ela interpreta essa mulher, fútil, mas corajosa, que decide ir até uma região distante e isolada do mundo em busca de aventuras e novas experiências pessoais.

Como se pode perceber temos aqui um filme com teor até mesmo feminista. Não é para menos, o filme foi dirigido por uma cineasta, Isabel Coixet, que valoriza a todo momento aspectos pessoais de sua protagonista. Apesar de ser passado na Groenlândia (os jogadores de War se lembram bem desse lugar), a produção não tem a pretensão de ser uma aventura na neve ou algo parecido. Ao contrário disso valoriza aspectos humanos dos personagens em geral. Como é um filme francês era até mesmo previsível que algo assim acontecesse. Há inclusive um forte teor social, da velha escola, colocando os nativos como pessoas ingênuas e boas que supostamente seriam corrompidas pelos valores da civilização! Pois é, um novo retrato do velho estigma do "bom selvagem".

Ninguém Deseja a Noite (Nadie Quiere La Noche, França, Espanha, 2015) Estúdio: Audiovisual Aval SGR / Direção: Isabel Coixet / Roteiro: Miguel Barros / Elenco: Juliette Binoche, Rinko Kikuchi, Gabriel Byrne / Sinopse: Uma francesa decide ir morar numa longe e fria ilha, distante de tudo e todos.

Pablo Aluísio.

terça-feira, 9 de abril de 2019

Amor Estranho Amor

Walter Hugo Khouri foi um caso único no cinema brasileiro. Com excelentes contatos na Embrafilme conseguiu manter uma média fantástica de produções regulares ao longo de toda a sua carreira (foram no total 27 filmes, praticamente um a cada ano). Isso em um tempo em que era muito complicado para um cineasta manter qualquer regularidade em sua filmografia. Pois bem, Khouri fazia um cinema de autor, onde seu principal protagonista era quase sempre um alter ego dele mesmo. O que notabilizou esse filme para sempre, tornando o mais conhecido de toda a sua filmografia, foi o fato de trazer a até então modelo Xuxa Meneghel interpretando a personagem Tamara, uma prostituta que acaba seduzindo um jovem menino no bordel onde trabalha. Obviamente que um papel assim tão explosivo acabou cobrando um preço e tanto para Xuxa, uma vez que em poucos anos ela se tornaria uma badalada apresentadora infantil da Rede Globo, vendendo milhões de discos e fazendo um enorme sucesso em seu auge, entre as crianças. De repente sua presença nesse filme se tornou extremamente embaraçosa, fazendo com que ela conseguisse banir o filme das locadoras e depois de praticamente todos os lugares possíveis. Com a internet a coisa ficou bem mais complicada para ela pois as suas cenas podem ser facilmente encontradas. Antes de procurar é bom saber que não são sensuais ou excitantes, mas apenas deprimentes.

E afinal de contas qual foi o motivo para tanto escândalo? Além de surgir nua em cena há uma sequência em particular no filme em que ela seduz e leva para a cama um garoto - uma coisa simplesmente inimaginável no mundo de hoje, mas que na época de lançamento do filme soava até mesmo como algo natural tendo em vista a história que o diretor queria contar. "Amor Estranho Amor" não é, revisto hoje em dia, um belo exemplo do cinema nacional. Na verdade pode até ser considerada uma pornochanchada tardia, já na decadência do gênero. Não há como negar que o filme acabou se notabilizando mesmo por outras coisas (a nudez da Xuxa, por exemplo) e não por suas qualidades artísticas. Mesmo assim vale a pena ser visto nem que seja uma única vez para matar a curiosidade. Como obra cinematográfica porém realmente deixa bem a desejar. É bem apelativa e sem muito conteúdo.

Amor Estranho Amor (Brasil, 1982) Direção: Walter Hugo Khouri / Roteiro: Walter Hugo Khouri / Elenco: Vera Fischer, Tarcísio Meira, Xuxa Meneghel, Marcelo Ribeiro / Sinopse: Homem relembra seu passado, inclusive sobre suas primeiras experiências sexuais.

Pablo Aluísio.

Cidade Oculta

Eu me recordo que esse filme nacional foi lançado em VHS no Brasil no selo Manchete Vídeo. E depois de algum tempo foi exibido na própria Rede Manchete, canal que hoje não mais existe. Como eu era um adolescente cheio de hormônios explodindo por todos os lados, o que mais me chamou atenção aqui foi a presença da atriz Carla Camurati. Eu achava ela linda. Uma bonita loira de olhos azuis que de vez em quando presenteava seus fãs com generosas cenas de nudez. Nesse "Cidade Oculta" ela não se desnudou tanto como em outros filmes, mas isso não importava. Nos anos 80 um seio à mostra já era uma vitória e tanto.

Em relação ao filme em si foi até elogiado pela crítica da época. Não era comum, ou melhor dizendo, era praticamente zero a chance de um filme brasileiro tentar seguir os passos do cinema noir dos Estados Unidos. Esse filme tentou justamente isso. O resultado pode ser considerado um pouco irregular, mas a coragem dos realizadores em ir por esse caminho merece todos os nossos elogios.

Cidade Oculta (Brasil, 1986) Direção: Chico Botelho / Roteiro: Arrigo Barnabé, Chico Botelho / Elenco: Arrigo Barnabé, Carla Camurati, Cláudio Mamberti / Sinopse: Na noite de Sâo Paulo se misturam os mais variados tipos que vão de ladrões, policiais corruptos e mulheres fatais.

Pablo Aluísio.

segunda-feira, 8 de abril de 2019

A Mula

Clint Eastwood tem 88 anos de idade. Aposentadoria? Nem pensar! Tanto que nesse seu novo filme ele não se contentou em apenas atuar. Ele também produziu, dirigiu e escreveu parte do roteiro! Incrível mesmo sua disposição para seguir em frente no cinema. E como não poderia deixar de ser, ele aqui interpreta um octogenário que vê sua vida mudar. Sua fazendinha de plantação de flores é tomada pelo banco. Sem dinheiro e com problemas na família ele decide então aceitar um serviço que parece fácil (mas só parece). Ele deve ir até uma garagem de um posto de gasolina para receber uma "encomenda" a ser levada até um certo destino. O pagamento é excepcional. Claro que ele sabe que se trata de drogas, mas como já está no final de sua jornada nem pensa muito e aceita o tal serviço.

Assim se torna mais uma "mula" de um cartel de drogas mexicano. Como é um velho senhor não desperta suspeitas nos policiais que acaba esbarrando pelo caminho. É o "disfarce" perfeito. No começo as coisas vão muito bem. Ele ganha bastante dinheiro, a ponto inclusive de comprar uma nova camionete zero, último modelo, tinindo de nova. Porém aos poucos o cerco policial vai se fechando. A quantidade de drogas transportada é absurda, em certa ocasião ele chega a levar 300 kilos de uma cidade para outra e por isso o DEA (departamento anti-drogas) começa a ficar no seu encalço. Clint continua o mesmo ator carismático de sempre. Basta sua presença na tela para justificar qualquer filme, só que aqui, pela primeira vez, podemos ver com nitidez o peso da idade no ator. Ele tem uma certa dificuldade para falar e andar. As costas curvadas mostram os efeitos do tempo. Não é para menos, já que ele está próximo dos 90 anos! De qualquer maneira é sempre um prazer rever o bom e velho Clint. A dignidade pessoal aliás está mais forte e presente como nunca. Poucos conseguiram essa proeza.

A Mula (The Mule, Estados Unidos, 2018) Direção: Clint Eastwood / Roteiro: Clint Eastwood, Sam Dolnick, Nick Schenk / Elenco: Clint Eastwood, Bradley Cooper, Dianne Wiest, Laurence Fishburne, Taissa Farmiga, Michael Peña / Sinopse: Velho senhor, já na beira dos 90 anos, decide aceitar a oferta de serviço de "mula" de traficantes mexicanos. Ele terá que transportar drogas de uma cidade para outra em sua velha camionete. A intenção é despistar, com sua aparência de senhor idoso, a polícia que começa a investigar o caso.

Pablo Aluísio.

O Sétimo Filho

A única coisa que me fez assistir a esse filme foi a presença de Jeff Bridges no elenco. Ele, em minha opinião, está naquela categoria de atores que fazem o cinéfilo encarar qualquer coisa, mesmo filmes fracos ou meramente medianos. Nessa última categoria se classifica esse filme de fantasia, meio fora de moda, com roteiro cheio de clichês. A Universal gastou quase 100 milhões de dólares em sua produção, mas o resultado final é bem decepcionante. Bridges interpreta um caçador de bruxas e feiticeiras na idade média. Uma de suas principais rivais é a misteriosa Malkin (interpretada por Julianne Moore, outro bom motivo para assistir). O tal sétimo filho é o assistente de Bridges na estória. Deveria ser o protagonista, mas o ator que o interpreta, chamado Ben Barnes, quase coloca tudo a perder. Ele é bem ruinzinho.

Assim sobram efeitos especiais (alguns bem feitos, outros nem tanto), um clima de aventura medieval e um roteiro bem fraquinho, que só serve para dar uma desculpa para as cenas de ação. O interessante é que o filme foi feito visando atrair o público da China. Isso mesmo, é uma produção entre China e Estados Unidos. Nos cinemas americanos o filme fracassou, mas conseguiu gerar lucro no país da grande muralha. Então o estúdio se saiu com uma desculpa esfarrapada, dizendo que o roteiro não era lá essas coisas porque foi simplificado, para o público chinês. Justificando assim parece até que o público chinês de cinema não prima muito pela inteligência. Melhor teria sido o silêncio. No final das contas o filme não me aborreceu, embora igualmente não tenha me surpreendido em nada. Em termos de originalidade nesse universo de fantasia, não há nada mesmo a encontrar. Tudo mais do mesmo.

O Sétimo Filho (Seventh Son, Estados Unidos, China, 2014) Direção: Sergei Bodrov / Roteiro: Charles Leavitt , Steven Knight / Elenco: Jeff Bridges, Julianne Moore, Ben Barnes, Alicia Vikander / Sinopse: O Mestre Gregory (Bridges) ganha a vida caçando feiticeiras e bruxas. Agora terá seu maior desafio, enfrentar a poderosa Malkin (Moore) que busca vingança, pois no passado foi aprisionada por ele em uma cova, bem no meio do deserto.

Pablo Aluísio.

domingo, 7 de abril de 2019

Wild Bill - Uma Lenda No Oeste

Cinebiografia de Wild Bill Hickok, um dos mais conhecidos nomes da mitologia do velho oeste americano. Veterano da Guerra Civil americana, condutor de diligências, Xerife, jogador inveterado e pistoleiro de aluguel, Wild Bill foi um dos mais temidos homens de seu tempo. Extremamente hábil no gatilho ele desafiou grandes nomes de sua época.  A vida de Bill foi movimentada desde seus primeiros anos. Aos 18 anos se uniu às tropas do General Lee e foi lutar ao lado do exército da confederação. Lá conheceu e se tornou amigo de Buffalo Bill. Ao sair do exército foi perambular pelo oeste selvagem e se envolveu em vários duelos que ficaram famosos pois foram fartamente noticiados pela imprensa, garantindo sua fama em todo o país.

Lidar com um nome tão conhecido do velho oeste pode ser complicado. Felizmente o filme é muito bom, interessante e bem editado. Ao invés de contar cronologicamente a história de Wild Bill o diretor optou por narrar os últimos momentos de vida dele, onde aos poucos sua história é relembrada em diversos flashbacks (em preto e branco, na maioria das vezes). O filme é curto, pouco mais de 90 minutos, o que torna insuficiente para mostrar toda a vida do famoso personagem (que foi de tudo um pouco na vida, desde caçador de búfalos a xerife de cidades perigosas como Deadwood). Talvez apenas uma minissérie conseguiria contar todas as histórias envolvendo Wild Bill.

Tecnicamente muito bem escrito, o roteiro romanceou alguns aspectos da vida do famoso pistoleiro para trazer mais interesse à trama. São pequenas licenças que o roteirista pede para a história real dos fatos, nada muito comprometedor. A mais significativa dessas mudanças foi a relação que os roteiristas criaram entre o assassino de Wild Bill e um amor do passado dele, algo inexistente na vida do famoso pistoleiro. Obviamente que ambos os personagens existiram realmente, mas Jack McCall, o assassino de Bill (que seria enforcado por esse crime) não era filho de Susannah Moore, a antiga namorada de seu passado. Essa foi apenas uma tentativa de trazer mais dramaticidade ao filme.

Jeff Bridges está muito bem no papel e todo o elenco de apoio é acima da média, principalmente Ellen Barkin como Calamity Jane, outra personagem que foi imortalizada pelo cinema em diversos filmes ao longo desses anos. Fazendo às vezes de narrador o filme ainda traz o ótimo John Hurt no papel de um amigo inglês de Wild Bill. Jeff Bridges aliás sempre se sai muito bem em faroestes, não apenas por ter o tipo certo, como também por incorporar trejeitos da época de uma forma muito convincente. Cantor de música country nas horas vagas ele parece mesmo ter um afeto especial por todo esse universo. Enfim, "Wild Bill - Uma Lenda No Oeste" pode até não ser perfeito do ponto de vista histórico, porém é um faroeste acima da média que ajuda a resgatar essa importante figura do passado.

Wild Bill - Uma Lenda No Oeste (Wild Bill, Estados Unidos, 1995) Estúdio: United Artists / Direção: Walter Hill / Roteiro: Thomas Babe, baseado no livro de Peter Dexter / Elenco: Jeff Bridges, Ellen Barkin, John Hurt / Sinopse: o filme conta a história real do pistoleiro Wild Bill que fez fama no velho oeste americano. Filme indicado ao prêmio da National Society of Film Critics Awards na categoria de Melhor Ator (Jeff Bridges). Também indicado na mesma categoria no New York Film Critics Circle Awards.

Pablo Aluísio.

Colette

Esse filme conta a história da escritora francesa Sidonie-Gabrielle Colette. E essa não foi uma história comum, típica de uma mulher de sua época. Ela era filha de um veterano de guerra, um homem honesto, mas pobre, sem recursos. Em um tempo em que as mulheres casavam oferecendo dotes aos maridos ela definitivamente não era uma futura esposa almejada por muitos. Quem acabou se interessando por ela foi um homem mais velho, um escritor meio fracassado chamado  Henry Gauthier-Villars, conhecido no meio literário como Willy. Ele contratava escritores fantasmas e depois colocava seu nome como autor. Algo nada honesto.

Então ele descobre o grande talento de sua nova esposa com as letras. Sempre endividado e à beira da falência ele colocou Colette para escrever incansavelmente. Acabou encontrando finalmente o sucesso, mas explorando sua esposa para isso. Embora os livros fossem escritos por ela, ele os assinava, levando os lucros e a fama pelo sucesso dos livros lançados. Chegava ao ponto de trancá-la em um quarto até que ela escrevesse novas páginas para os romances. Uma espécie de escravidão literária.

E então finalmente Colette decide te ruma vida independente. Ela pede o divórcio e começa um caso homossexual com marquesa Mathilde de Morny. Porém ainda havia a questão dos livros, algo que levou o ex-casal a lutar por anos e anos nos tribunais franceses. Eis aqui um bom filme, não apenas bem realizado, mas também recheado de trechos mais do que curiosos. Como escrevi essa escritora não teve uma vida comum, ao contrário disso, foi bem tumultuada, cheio de problemas. No meio de tudo havia o amor pela arte, não apenas dos livros, mas também das peças de teatro, da dança e das performances. Foi através disso que Gabrielle Colette se tornou realmente imortal.

Colette (França, Estados Unidos, Inglaterra, 2018) Direção: Wash Westmoreland / Roteiro: Richard Glatzer, Wash Westmoreland / Elenco: Keira Knightley, Dominic West, Arabella Weir, Fiona Shaw, / Sinopse: O filme conta a história da escritora francesa Gabrielle Colette, de seu casamento com Henry Gauthier-Villars (Willy), até seu romance com a marquesa Mathilde de Morny. Filme premiado pelo British Independent Film Awards.

Pablo Aluísio.

sábado, 6 de abril de 2019

O Retorno de Mary Poppins

A Disney tinha duas opções para trazer a personagem Mary Poppins de volta aos cinemas. A primeira seria fazer um remake do filme clássico original. A segunda seria produzir uma continuação. Acabou decidindo pela segunda alternativa. Esse novo filme da Mary Poppins é uma espécie de sequência do primeiro filme. Ela retorna, reencontra as crianças do primeiro filme (agora adultos, com problemas financeiros) e vai cuidar dos filhos deles. O clima de magia e inocência continua o mesmo. Há muitas canções (o filme poderia ser considerado um musical ao velho estilo) e cenas que misturam animação à moda antiga com atores reais. A produção é caprichada e de bom gosto, porém nada disso parece ter atraído a criançada dos dias de hoje.

O filme custou 130 milhões de dólares e mal conseguiu recuperar o investimento nas bilheterias dos cinemas. Era algo esperado. Esperar a mesma reação de uma criança atual como a das crianças da década de 1960 era algo que definitivamente não iria acontecer. Não se repetiria. As crianças atuais estão mais ligadas em tecnologia e games. Uma babá como Mary Poppins, mesmo com seus "poderes mágicos" não seria mesmo um atrativo para a gurizada.

De bom mesmo temos um ótimo elenco, mesmo que algumas estrelas tenham pouco espaço em cena. A premiada Meryl Streep interpreta uma prima de Mary Poppins, com direito a música e coreografia próprias. A maquiagem é pesada, mas o talento se sobressai. Colin Firth é o banqueiro sem alma que quer colocar as mãos numa casa hipotecada, justamente onde vivem as crianças que Mary está cuidando. O filme revela ainda o talento de Emily Blunt em musicais. Ela canta, dança e se sai muito bem no filme. Todos já sabiam que como atriz ela era realmente muito boa, acima da média, mas esses outros talentos ainda eram desconhecidos do grande público. De fato ela é uma artista completa.

O Retorno de Mary Poppins (Mary Poppins Returns, Estados Unidos, 2018) Direção: Rob Marshall / Roteiro: David Magee / Elenco: Emily Blunt, Meryl Streep, Colin Firth, Lin-Manuel Miranda, Ben Whishaw / Sinopse: A babá Mary Poppins (Blunt) retorna para rever as crianças que cuidou no passado. Elas agora são adultas, com problemas financeiros com o banco. Aos poucos ela vai tentando ajudar, enquanto cuida de novas crianças. Filme indicado ao Oscar nas categorias de Melhor Música Original, Melhor Canção Original ("The Place Where Lost Things Go"), Melhor Figurino e Melhor Design de Produção. Também indicado ao Globo de Ouro nas categorias de Melhor Filme - Comédia ou Musical, Melhor Atriz (Emily Blunt), Melhor Ator (Lin-Manuel Miranda) e Melhor Trilha Sonora.

Pablo Aluísio.

Kursk

Eu me recordo muito bem da história desse filme. Acompanhei pela imprensa. Em agosto de 2000 o submarino nuclear russo K-141 Kursk perdeu contato com sua frota no Mar de Barents. Era uma das máquinas de guerra mais importantes da frota do norte. Após algumas buscas descobriu-se que o submarino havia sofrido um acidente grave. Um dos torpedos explodiu dentro do Kursk. Nele havia uma tripulação de 118 homens. A maioria morreu na explosão. Apenas 20 sobreviventes tentaram pedir por socorro, batendo com martelos nas grossas camadas de aço do submarino.

O filme se concentra justamente nessa operação de salvamento. Inicialmente os russos tentaram salvar os tripulantes sobreviventes, porém como bem mostrado no filme, a frota do norte estava sucateada (um aspecto bem presente nas forças armadas russas atualmente). Feridos em seu orgulho patriótico, os comandantes da marinha russa hesitaram muito em pedir ajuda internacional. Até porque eles entendiam que isso seria uma espécie de humilhação pública perante o mundo. Enquanto decidiam o que fazer os marinheiros ficaram no fundo do oceano, esperando por um socorro que parecia nunca chegar.

Esse bom filme foi produzido pelo cineasta Luc Besson. Ele contratou pessoalmente dois excelentes atores para o elenco. O primeiro deles foi o grande Max von Sydow. Ele interpreta esse velho homem do mar, um almirante russo cheio de orgulho que não quer a ajuda dos ingleses no resgate. Já Colin Firth é o oficial inglês, que oferece os meios mais modernos para resgatar os marinheiros russos. O filme captou muito bem toda a atmosfera da tragédia do Kursk, não esquecendo de também desenvolver a vida dos marujos, de suas famílias e as perdas que sofreram. Sob o ponto de vista cinematográfico é uma bela obra. Na ótica histórica também não deixa nada a desejar.

Kursk (Bélgica, França, Luxemburgo, 2018) Direção: Thomas Vinterberg / Roteiro: Robert Rodat, baseado no livro "A Time to Die" de Robert Moore / Elenco: Max von Sydow, Colin Firth, Matthias Schoenaerts, Léa Seydoux, Peter Simonischek / Sinopse: O filme resgata a história da tragédia que envolveu o submarino nuclear Kursk em agosto de 2000.

Pablo Aluísio.

sexta-feira, 5 de abril de 2019

Shazam!

O personagem do Capitão Marvel é um dos mais antigos do mundo dos quadrinhos. Foi criado em 1940 e no auge de sua popularidade conseguiu vender mais quadrinhos do que o próprio Superman. Depois a editora original que o publicava faliu e os direitos foram comprados pela DC Comics. O curioso é que a nova editora não soube aproveitar bem seu potencial, o desperdiçando na maioria das vezes, algo que se repete também aqui nesse seu primeiro filme para o cinema. Convenhamos, esse roteiro não ajuda muito. Há um tom de comédia (e até pastelão) que acabou transformando o antigo herói em basicamente um bobão! Tudo bem que ele seria apenas um garoto de 14 anos em sua mentalidade, mas precisavam mesmo exagerar tanto na dose?

Assim o que temos aqui é uma versão um tanto abobada do Capitão Marvel. O enredo procura dar uma modernizada em suas antigas origens, mas só consegue ser bem sucedido em termos. Zachary Levi, o ator que interpreta o herói, é basicamente um comediante e leva seu trabalho nessa linha mesmo, a do humor. Com uma roupa cheia de enchimentos para parecer mais forte do que é, seu estilo me soou muito exagerado, desproporcional. O mais estranho é que o garoto Billy Batson tem um comportamento mais bem equilibrado do que o dele, que seria a versão adulta de Billy! Ai entra a maior contradição desse roteiro que me pareceu bem ruinzinho no que diz respeito à caracterização dos personagens.

O filme custou 100 milhões de dólares e até o momento conseguiu, à duras penas, faturar 400 milhões (no mercado americano e internacional). Provavelmente será tudo o que conseguirá atingir. Não chegou perto do grande sucesso da temporada, a do filme da Capitã Marvel. Penso que erraram a mão (mais um vez) em termos de adaptação para o cinema dos heróis da DC Comics. Agora virou uma situação de 8 ou 80. Ou tudo surge cinzento e obscuro demais ou então seu extremo oposto, bobo e infantil. A DC deve calibrar melhor seu material quando for para as telas.

Shazam! (Estados Unidos, 2019) Direção: David F. Sandberg / Roteiro: Henry Gayden, Henry Gayden, baseados no personagem dos quadrinhos criado por C. C. Beck e Bill Parker / Elenco: Zachary Levi, Mark Strong, Asher Angel, Jack Dylan Grazer, Adam Brody, Djimon Hounsou / Sinopse: O garoto de 14 anos Billy Batson acaba ganhando poderes especiais dado por um mago misterioso. Ao gritar o nome "Shazam!" se torna um super-herói com o poder de voar, desenvolver super velocidade, grande força, entre outros. Agora precisará enfrentar um vilão que deseja tomar posse de todos os seus poderes.

Pablo Aluísio.

Estrada Sem Lei

A história de Bonnie e Clyde já rendeu um clássico ao cinema. Estou me referindo a "Bonnie e Clyde: Uma Rajada de Balas" (EUA, 1967) com Warren Beatty e Faye Dunaway. Uma obra-prima. Agora o canal Netflix resolveu contar a história dos policiais que deram fim ao casal criminoso mais famoso do século XX. Esse "The Highwaymen" conta basicamente o mesmo fato histórico, só que de um outro ponto de vista, focando nos policiais que foram atrás do casal pelas estradas americanas empoeiradas e desoladas do interior. Aqui se destacam dois personagens principais, dois veteranos, antigos membros do Texas Rangers, que unem forças para um último (e definitivo) serviço.

É uma caçada humana, com muitos momentos de tensão e violência. Obviamente que a capacidade de rastrear desses velhos homens da lei foi crucial nessa busca. Eles conseguiram antever os passos dos criminosos, chegando nas cidades antes mesmo deles irem para lá. Usando da máxima "Bandidos são como cavalos selvagens, sempre voltam para seu lar", eles utilizaram como bússola as cidades onde moravam parentes dos membros da quadrilha. Uma estratégia eficiente, que acabou dando muito certo. Em pouco tempo ficaram no rastro dos bandidos. O interessante desse roteiro é que a interação com Bonnie e Clyde é mínima, tal como se deu na vida real. Eles estão sempre presentes como alvo a ser alcançado pelos policiais, mas nunca como presença real. Apenas no momento final é que o caminho deles se cruzam de forma definitiva.

Por fim, tanbém não poderia deixar de elogiar os atores Kevin Costner e Woody Harrelson. Estão ótimos como os velhos Rangers. O papel de Kevin Costner me lembrou muito de "Os Intocáveis" quando interpretou o policial Eliot Ness. Foi ele quem prendeu o também famoso Al Capone. Tudo a ver com a grande era dos gângsters, do qual Bonnie e Clyde também fizeram parte.  Já Harrelson está em um momento maravilhoso na carreira, fazendo uma sucessão de bons filmes em série. Não poderia estar melhor no filme. Juntos eles fizeram o melhor filme com o selo Netflix que já assisti. Um excelente policial de época que poderia perfeitamente ter sido lançado no cinema, onde seguramente faria sucesso. Qualidade cinematográfica para isso certamente não lhe faltaria.

Estrada Sem Lei (The Highwaymen, Estados Unidos, 2019) Direção: John Lee Hancock / Roteiro: John Fusco / Elenco: Kevin Costner, Woody Harrelson, Kathy Bates, John Carroll Lynch / Sinopse: Durante a década de 1930 o casal de criminosos Bonnie e Clyde espalha terror pelo interior dos Estados Unidos, numa trajetória de crimes. Para localizar o casal a governadora do Texas decide contratar um velho Texas Ranger que ao lado de seu antigo parceiro ganha a estrada em busca do paradeiro dos criminosos. 

Pablo Aluísio.

quinta-feira, 4 de abril de 2019

As Viúvas

O diretor Steve McQueen sempre surge nos cinemas com filmes interessantes. O forte dele não se concentra apenas na boa direção dos atores, mas também na escolha de roteiros bem escritos. Aqui temos três núcleos de personagens onde o enredo se desenvolve. O primeiro núcleo é formado por uma quadrilha de criminosos, assaltantes a bancos, liderados por Harry Rawlings (Liam Neeson). Após um roubo eles fogem à toda velocidade pelas ruas da cidade, sendo perseguidos pela polícia. O caos é completo, com tiros e explosões para todos os lados. A única lei que prevalece é a da sobrevivência.

No segundo núcleo temos dois políticos que disputam o controle de uma subsidiária da prefeitura localizada em um bairro suburbano, de população negra e pobre. Esses políticos são tão corruptos e criminosos quanto os próprios assaltantes. Todos podres. Por fim há o grupo das viúvas que dá título ao filme. Só que elas não são viúvas comuns. Pelo contrário, seus maridos foram mortos pela polícia. Uma delas passa a ser ameaçada por antigos comparsas do marido. Eles querem saber onde foi parar os dois milhões de dólares que ele roubou e escondeu. A pobre mulher não sabe de nada, mas precisa agir, antes de ser morta pelos bandidos.

O diretor Steve McQueen cria assim o cenário por onde seus personagens desfilam na tela. Não há absolutamente ninguém que preste entre eles. São todos criminosos em maior ou menor grau. Todos são gananciosos, sem escrúpulos e estão dispostos a tudo para colocarem as mãos no dinheiro roubado. É curioso que o espectador fique sem ter por quem torcer. Afinal as tais viúvas passam longe de exemplos, na verdade elas logo se tornam também criminosas, planejando um grande roubo. Claro, nem tudo sai como elas querem. Eu gostei do filme, mas fiquei um pouco incomodado por essa falta de um protagonista decente, que passe pelo menos um exemplo bom. Nem que fosse algum policial investigando os crimes, por exemplo. Do jeito que ficou "As Viúvas" mais parece um estudo de criminologia onde temos que torcer pelos menos piores ou pelos menos inescrupulosos. Vou torcer para o bandido A ou B? Não me parece ser uma decisão fácil de tomar.

As Viúvas (Widows, Estados Undos, Inglaterra, 2018) Direção: Steve McQueen / Roteiro: Gillian Flynn, Steve McQueen / Elenco: Viola Davis, Michelle Rodriguez, Elizabeth Debicki, Liam Neeson, Robert Duvall, Colin Farrell / Sinopse: Criminosos, políticos corruptos e uma quadrilha formada por viúvas de bandidos mortos, convive numa grande cidade americana infestada de crimes. O prêmio máximo será dado a quem colocar as mãos primeiro em uma bolada de dois milhões de dólares roubados de um banco da cidade. Filme indicado ao BAFTA Awards na categoria de Melhor Atriz (Viola Davis).

Pablo Aluísio.

Alita

Esse filme custou 170 milhões de dólares. Foi produzido e roteirizado pelo James Cameron e bateu de frente com a "Capitã Marvel" nas bilheterias americanas. Perdeu a disputa, mas a despeito disso conseguiu ainda faturar 400 milhões de dólares, um número que não decepcionou ao estúdio. Embora seja um espécie de filme pessoal de Cameron, ele preferiu não dirigir, passando o bastão para Robert Rodriguez. A boa notícia é que o cineasta acertou a mão em todos os detalhes, fazendo um filme mesclado (meio animação gráfica, meio atores de verdade) que funcionou excepcionalmente bem no quesito diversão.

Na realidade é uma adaptação de uma obra japonesa escrita por Yukito Kishiro, Lançado na Terra do Sol Nascente com o nome de  "Gunnm" logo caiu nas graças do público que curte mangá. E isso é fácil de entender. A protagonista é uma andróide adolescente chamada Alita, Partes de seu corpo foram achados em um ferro-velho pelo Dr. Dyson Ido (Christoph Waltz) que resolve reconstrui-la. O que ele nem desconfia é que a garotinha na verdade é uma arma de guerra, usada para invadir o nosso mundo há 300 anos. Naquele passado distante quase todo o planeta foi destruído, sobrando apenas uma cidade flutuante, enquanto o resto da humanidade passou a viver no meio do caos e da violência.

O filme funciona não apenas por ter uma excelente produção onde você consegue ver cada dólar investido, mas também por apostar em um roteiro que procura tocar no sentimento do espectador. A andróide teen é realmente fenomenal nas lutas contra outros seres futuristas, mas também tem anseios e sentimentos típicos de uma adolescente apaixonada pela primeira vez. Eu não esperava grande coisa, mas acabei gostando de praticamente tudo. O design de produção procurou copiar fielmente a imagem da personagem dos quadrinhos japoneses, o que lhe vale ter aqueles grandes olhos cheios de sentimento que conhecemos bem dos mangás. No final a porta fica aberta para futuras continuações. Terá uma sequência? Bom, esse tipo de pergunta apenas o James Cameron poderia responder.

Alita: Anjo de Combate (Alita: Battle Angel, Estados Unidos, 2019) Direção: Robert Rodriguez / Roteiro: James Cameron, Laeta Kalogridis / Elenco: Rosa Salazar, Christoph Waltz, Jennifer Connelly, Mahershala Ali, Keean Johnson / Sinopse: Em um mundo pós-apocalíptico, 300 anos no futuro, a andróide Alita é resgatada do ferro-velho por um especialista chamado Dyson Ido (Christoph Waltz). Ele decide remontá-la, para reativá-la e descobre que ela não é uma andróide comum, mas sim uma máquina de guerra de origem extraterrestre.

Pablo Aluísio. 

quarta-feira, 3 de abril de 2019

O Peso do Passado

Nicole Kidman, uma das atrizes mais belas do cinema mundial, decidiu deixar de lado o glamour e a beleza para interpretar sua personagem nesse filme. Temos aqui um roteiro bem elaborado, mostrando o peso da culpa de um passado cheio de falhas na vida da policial Erin Bell (Kidman). Atualmente trabalhando no departamento de homicídios ela recebe uma nota de dólar manchada, dentro de um envelope. É uma mensagem cifrada que ela sabe muito bem o que significa.

No passado ela trabalhou em uma missão de infiltração policial numa quadrilha de assaltantes a bancos. Fingindo ser uma mulher gananciosa acabou sendo aceita dentro do grupo. Ao seu lado, também disfarçado, trabalhou um agente do FBI com quem ela acabou tendo um relacionamento amoroso. Só que o disfarce acabou mexendo com sua mente e durante um dos assaltos nada acabou saindo como o planejado. Pior do que isso, ela decidiu agir completamente fora da lei e das suas funções de policial.

O roteiro é disperso, o que não significa ser ruim. Pelo contrário, como num jogo de cartas marcadas, tudo vai se revelando aos poucos ao espectador. A policial de Kidman tem muitos problemas pessoais. Uma filha que está namorando um vagabundo, que ela odeia. Um ex-marido problemático e um caso não resolvido de seu passado que precisa ser eliminado antes que seus superiores dentro da polícia venham a descobrir tudo. A coisa acaba se resolvendo na bala, o que definitivamente vai chocar alguns. O interessante é que a diretora Karyn Kusama deu um tirmo pesado ao filme. Tudo parece cinza e sem esperanças. Nada é colocado facilmente na tela, tudo parece sair com muita dor e esforço. Nem todos vão gostar, mas no meu caso pessoal acabei gostando bastante desse estilo. Assim deixo a dica para quem procura por um filme policial que fuja dos padrões de Hollywood.

O Peso do Passado (Destroyer, Estados Unidos, 2018) Direção: Karyn Kusama / Roteiro: Phil Hay, Matt Manfredi / Elenco: Nicole Kidman, Toby Kebbell, Tatiana Maslany, Sebastian Stan / Sinopse: Policial de Los Angeles precisa encobrir algo nebuloso de seu passado, algo que aconteceu durante uma operação de infiltração numa quadrilha de assaltantes de bancos. Sua única saída é encontrar o antigo líder do bando, para assassiná-lo antes que ele conte tudo o que sabe. Filme indicado ao Globo de Ouro na categoria de Melhor Atriz (Nicole Kidman).

Pablo Aluísio.

Carrasco Americano

Dois homens acorrentados recuperam a consciência em um porão mal iluminado. Eles foram trazidos até ali por um desconhecido, um sujeito que obviamente não tem boas intenções. Aos poucos a situação bizarra começa a fazer sentido. Ok, no começo do filme você chega a pensar que está assistindo a um genérico de "Jogos Mortais", mas não é bem isso que o espera. O filme se propõe a discutir justiça em cima das falhas do sistema judiciário. Aqui o juiz vira acusado e o sujeito que supostamente seria seria o réu vira seu algoz. Uma mudança de papéis que passa a ser transmitida ao vivo pela internet. Caberá aos internautas decidirem sobre o futuro do magistrado acorrentado. Ele é ou não culpado por ter condenado um homem inocente a pena de morte?

O velho juiz é interpretado pelo ótimo Donald Sutherland, Ele tenta argumentar com seu sequestrador, tudo na base legal, da lei. Uma de suas argumentações é que obviamente aquilo nunca foi um tribunal, apenas um jogo sádico controlado por um psicopata serial. O foco também se dirige para o passado, onde uma garotinha foi morta por um pedófilo. Foi esse caso que fez com que o juiz interpretado por Sutherland enviasse um homem inocente para a cadeira elétrica. Ele errou, o sistema judiciário errou, os policiais na investigação erraram. Tudo deu errado. Agora o raptor se coloca na posição de juiz e carrasco, pronto para fazer cumprir a vontade das pessoas que assistem ao "julgamento" pela internet. Aqui o povão vira júri, sendo sua decisão soberana. Nem é preciso dizer que o juiz obviamente fica numa situação limite, afinal no meio do sadismo reinante todos parecem dispostos a condenar o magistrado à morte. Um dia da caça, outro do caçador.  É um bom filme de suspense que prende a atenção até o fim. Curto e eficiente, cumpre plenamente tudo o que prometeu.

Carrasco Americano (American Hangman, Estados Unidos, 2019) Direção: Wilson Coneybeare / Roteiro: Wilson Coneybeare / Elenco: Donald Sutherland, Vincent Kartheiser, Oliver Dennis, Paul Amato / Sinopse: Henry David Cole (Vincent Kartheiser), um sujeito visivelmente perturbado resolve fazer justiça pelas próprias mãos. Ele sequestra o velho juiz Straight (Donald Sutherland) e o coloca online na internet para seu próprio julgamento. O magistrado errou, condenando um homem inocente à morte. Agora ele será julgado pelos internautas e a pena será cumprida ali mesmo, na frente de todos.

Pablo Aluísio.

terça-feira, 2 de abril de 2019

Creed II

Esse filme tem uma ligação direta com "Rocky IV" de 1985. Quem poderia esquecer do gigante lutador de boxe soviético Ivan Drago? Pois é, ele está de volta. Mas claro que não subirá ao ringue. Quem toma as honras agora é seu filho, um sujeito com muitos músculos e ódio. O alvo passa a ser Adonis Johnson, filho de Apollo, lutador que foi literalmente destruído por Drago no filme original de 1985. Assim temos mais uma revanche de sangue, onde esporte e vingança se mesclam na mesma dose. "Creed II" não é tão bom como o primeiro filme. Claro, a chegada de Drago e seu filho mantém o interesse, principalmente do fã veterano dos filmes de Stallone. Só que convivem na tela duas linhas narrativas que acabam atrapalhando o filme como um todo.

Na primeira temos o drama, com Adonis e sua esposa, prestes a terem uma filha. O medo é de que ela nasça com problemas auditivos da mãe. Essa parte do filme é bem chata e sem ritmo. Pior é que torna o filme excessivamente longo e lento, com cenas desnecessárias. Um roteiro mais enxuto nessa parte cairia muito bem. Já na outra linha narrativa, a que explora o duelo esportivo entre o americano negro em busca de vingança pela morte do pai e o gigante russo que quer o cinturão dos pesos pesados, é excelente. É o que mantém o filme de pé. Há apenas duas lutas no filme, mas elas são tão bem editadas e coreografadas que me fizeram lembrar dos bons filmes da franquia Rocky. E de quebra temos o bom e velho Stallone aqui como um Rocky na terceira idade, relembrando do passado glorioso, enquanto tenta treinar seu jovem pupilo. Um filme que se tivesse se apoiado exclusivamente no suor e nas lutas de boxe no ringue, seria mesmo perfeito como pura diversão cinematográfica.

Creed II (Estados Unidos, 2018) Direção: Steven Caple Jr / Roteiro: Sylvester Stallone, Cheo Hodari Coker, Ryan Coogler / Elenco: Sylvester Stallone, Michael B. Jordan, Dolph Lundgren, Florian Munteanu, Tessa Thompson / Sinopse: Adonis Creed (Jordan), campeão mundial de boxe dos pesos pesados é desafiado por Viktor Drago (Munteanu), filho de Ivan Drago, boxeador russo que no passado venceu seu pai nos ringues.

Pablo Aluísio.