quarta-feira, 27 de janeiro de 2021

Homeland - Quarta Temporada

Homeland - Quarta Temporada
A Quarta temporada da série Homeland foi exibida entre os meses de outubro a dezembro de 2014. No total foram produzidos e exibidos 12 episódios dessa temporada, sempre pela canal Showtime. Nessa temporada 4 os personagens passam a ser ainda mais desenvolvidos, principalmente em relação à protagonista Carrie Mathison, em excelente interpretação da talentosa atriz Claire Danes que realmente fez um trabalho primoroso em todas as temporadas. Pode-se dizer que ela realmente levou essa série com seu trabalho. Abaixo seguem comentários sobre os episódios. Os demais serão disponibilizados aos poucos, conforme for assistindo. Boa leitura.

Homeland 4.01 - The Drone Queen
Danos colaterais. É assim que as forças americanas denominam de modo em geral a morte de civis em ataques contra alvos importantes na luta contra o terror. E é justamente isso que ocorre com uma missão de ataque chefiada por Carrie Mathison (Claire Danes). Ela agora comanda uma unidade da CIA no Afeganistão. Seu objetivo é localizar os líderes terroristas que ainda estão vivos. Quando uma informação quente lhe chega em mãos, dando a localização de um infame jihadista, ela não pensa muito e dá ordens para que dois caças americanos F-15 bombardeiem o local. O que Carrie não sabia é que está sendo realizado um casamento na casa, com muitas mulheres e crianças presentes. Bomba no alvo e... danos colaterais. Dezenas de civis morrem no ataque. Tudo ficaria por isso mesmo se um jovem estudante de medicina sobrevivente das bombas americanas não colocasse cenas do casamento no Youtube. Óbvio que dando rosto às vítimas tudo se torna um grande escândalo na mídia e um sério problema de relações públicas para o governo americano. O título do episódio, "The Drone Queen", se refere a um apelido que Mathison ganha de sua equipe no bolo de seu aniversário. Ela coordena o ataque, mata civis e depois sem maiores problemas sopra as velinhas de seu bolo, sem culpas, receios ou sentimentos pelos que morreram. O tipo de comportamento que a CIA espera de seus agentes. / Homeland 4.01 - The Drone Queen (EUA, 2014) Direção: Lesli Linka Glatter / Roteiro: Alex Gansa, Howard Gordon / Elenco: Claire Danes, Rupert Friend, Nazanin Boniadi.

Homeland 4.02 - Trylon and Perisphere
Ser mãe e agente da CIA ao mesmo tempo pode ser um problema e tanto. É justamente isso que Carrie Mathison (Claire Danes) acaba descobrindo nesse episódio. Depois do desastroso bombardeio com drones numa festa de casamento no Afeganistão ela e sua agência estão na mira da imprensa internacional. O episódio anterior acabou com o linchamento pela população de um agente (ao que indica duplo) da CIA. Ele foi responsabilizado pelo ataque e pagou caro, muito caro por seus atos. No meio do furacão Carrie é então enviada de volta aos Estados Unidos, algo que ela não queria. O motivo? Voltar ao lar significa ter que lidar com seu filho, algo que ela não leva o menor jeito e para falar a verdade também não quer levar. O bebezinho está aos cuidados de sua irmã que inclusive já está perdendo a paciência, afinal de contas a decisão de ter um filho implica também assumir responsabilidades, algo que Carrie não deseja. Em um momento ao lado do garotinho ela inclusive confessa que o único motivo de sua existência era o amor que sentia por seu pai, algo que passou e ficou no passado. A cena mais perturbadora acontece quando Carrie está dando um banho na criança. Fica claro que vem uma ideia assustadora em sua cabeça - uma das melhores sequências dessa quarta temporada. É ver para crer! / Homeland 4.02 - Trylon and Perisphere (EUA, 2014) Direção: Keith Gordon / Roteiro: Alex Gansa, Howard Gordon / Elenco: Claire Danes, Rupert Friend, Nazanin Boniadi.

Homeland 4.03 - Shalwar Kameez
Pouca gente sabe, mas "Homeland" é baseada na série israelense "Prisoners of War", escrita e criada pelo roteirista e produtor Gideon Raff. De uma forma ou outra, conforme a temporada avança, o remake americano vai trilhando por caminhos próprios. A saga segue com novos personagens e tramas independentes da série original que lhe deu origem. Pois bem, aqui temos mais novidades surgindo. A agente da CIA Carrie Mathison (Claire Danes) tem tanta ojeriza em ser mãe que se viu até mesmo chantageando o diretor de sua agência para arranjar uma nova transferência para o Afeganistão, bem longe das obrigações maternais. Assim ela retorna ao front da guerra ao terrorismo internacional. Lá descobre que precisa também ter jogo de cintura com a nova embaixadora americana na região, uma mulher firme e dura, mas também justa em suas decisões. O quadro no Afeganistão não é dos melhores. Após o linchamento do agente Sandy, Carrie procura por pistas que possam levar aos verdadeiros culpados pelo crime. Uma imagem postada no Youtube parece trazer uma luz sobre isso. Nela um sujeito misterioso parece falar com alguém, como se estivesse coordenando o ataque. Ele se mostra a chave para desvendar esse cruel jogo de espionagem. Provavelmente seja um membro do serviço secreto do Paquistão, mas isso só será desvendado melhor com o tempo e isso Carrie parece ter de sobra. / Homeland 4.03 - Shalwar Kameez (EUA, 2014) Direção: Lesli Linka Glatter / Roteiro: Gideon Raff, Alex Gansa / Elenco: Claire Danes, Rupert Friend, Nazanin Boniad.

Homeland 4.04 - Iron in the Fire
Não há como escapar da conclusão de que "Homeland" já foi bem melhor antes. Nessa quarta temporada já vejo sinais claros de desgaste e saturação. Como vimos no primeiro episódio o estopim de tudo o que vem acontecendo foi o ataque de drones comandado por Carrie Mathison (Claire Danes) numa festa de casamento no Paquistão. Muitos civis morreram e o caso foi parar na imprensa, comprometendo publicamente a CIA. Depois disso um agente importante da agência americana de inteligência foi morto e agora Carrie reúne provas suficientes de que a inteligência Paquistanesa estaria envolvida no assassinato do agente Sandy. O único sobrevivente do ataque de drones pode ser uma chave na revelação desse mistério, mas o rapaz, que é estudante de medicina na universidade da cidade, parece estar envolvido com tráfico de remédios do hospital onde trabalha. Mais estranho do que isso, seu tio, o terrorista que deveria ter sido morto no ataque dos drones, parece estar vivo e atuante pelas ruas! A trama não traz maiores atrativos em minha opinião. O pior mesmo vem da cena final quando Carrie toma uma atitude que sinceramente seria motivo suficiente para sua demissão sumária da CIA. Além dessa cena ter sido muito forçada e gratuita, não consegui mesmo encontrar qualquer justificativa para ela. Talvez nos próximos episódios isso venha a se tornar mais claro... quem sabe! Por enquanto a solução encontrada pelos roteiristas definitivamente não me agradou. / Homeland 4.04 - Iron in the Fire (EUA, 2014) Direção: Michael Offer / Roteiro: Alex Gansa, Howard Gordon / Elenco: Claire Danes, Rupert Friend, Nazanin Boniadi.

Homeland 4.05 - About a Boy
Sinceramente tenho considerado essa quarta temporada de "Homeland" como a pior até agora. Parece que os roteiristas estão sem ideias novas. De todas as novidades da trama a pior é o envolvimento sexual da agente do FBI Carrie Mathison (Claire Danes) com um jovem paquistanês que teria escapado de um ataque de drones ordenado por ela própria. O garoto é sobrinho de um terrorista procurado que provavelmente não tenha morrido no ataque como supõe a agência de inteligência americana. As cenas de Carrie com o rapaz são tão absurdas como inverossímeis, tanto do ponto de vista dela como dele. Não há razão para algo assim, mesmo que Carrie seja completamente desequilibrada em vários momentos da série. Considerei tudo apelativo demais, uma tentativa descarada de levantar a audiência da série nos Estados Unidos (pois de fato "Homeland" perdeu muitos espectadores nos últimos anos). O personagem de Saul Berenson (Mandy Patinkin) que também era uma das melhores coisas da série foi colocado para escanteio, revelando outro erro dos roteiristas. Nesse episódio surge uma promessa que ele volte a ter a importância de antes, principalmente quando se vê cercado por agentes secretos do Paquistão em um aeroporto. Por fim enquanto Carrie se vê envolvida em seu love affair juvenil a CIA acaba perdendo ótimas oportunidades de capturar terroristas perigosos porque ela afinal está na cama com seu novo casinho! Convenhamos, é muita bobagem mesmo. Espero que "Homeland" melhore daqui em diante. / Homeland 4.05 - About a Boy (EUA, 2014) Direção: Charlotte Sieling / Roteiro: Gideon Raff, Alex Gansa / Elenco: Claire Danes, Rupert Friend, Nazanin Boniadi.

Homeland 4.06 - From A to B and Back Again
Essa quarta temporada vinha se arrastando há tempos, mas finalmente surgiu um bom episódio. É foi justamente esse! Como se sabe a agente Carrie Mathison (Claire Danes) quer descobrir o paradeiro de um perigoso jihadista paquistanês que erroneamente havia sido dado como morto após o ataque de um drone numa festa de casamento. Nesse episódio finalmente seu sobrinho (com o qual Carrie precisou se relacionar para ganhar sua confiança) confirma que o tio está vivo e escondido. Carrie então arma um verdadeiro teatro para: a) convencer o jovem que ela foi brutalmente sequestrada e agredida por membros da agência de inteligência do Paquistão e b) levar o rapaz a finalmente ir atrás do seu tio nas montanhas em busca de proteção. Uma armadilha muito bem bolada que me fez lembrar dos bons tempos da série (em sua primeira e segunda temporadas). Pois bem, o plano de Carrie dá muito certo, o tio e o sobrinho finalmente se encontram no meio do deserto enquanto a CIA observa tudo através de um drone. Quando ela está prestes a autorizar o bombardeio surge de dentro de um dos carros ele mesmo, Saul (Mandy Patinkin), o ex-diretor da CIA que havia desaparecido desde que foi capturado no aeroporto quando tentava voltar para os Estados Unidos. O jogo assim vira mais uma vez, só que para o lado dos fundamentalistas islâmicos. Dessa quarta temporada, como já frisei, é seguramente o melhor episódio, com todas as doses certas de suspense e tensão. Muito bom, excelente na verdade. "Homeland" prova assim que ainda tem fôlego para seguir em frente. / Homeland 4.06 - From A to B and Back Again (EUA, 2014) Direção: Lesli Linka Glatter / Roteiro:  Gideon Raff, Alex Gansa / Elenco: Claire Danes, Rupert Friend, Nazanin Boniadi.

Homeland 4.07 - Redux
Saul Berenson está nas mãos de terroristas paquistaneses, gente do Talibã. Haissam Haqqani usa ele como escudo. Como sabe que a CIA não vai explodir seu carro com um drone, decide ir visitar sua família que não vê há anos. Sempre com Saul ao lado, no banco de trás do carro. É sua segurança que não vai explodir pelos ares de uma hora para outra. Enquanto isso Carrie Mathison vai perdendo completamente o controle. Trocaram suas pílulas, o que faz com que fique sem remédio. E ela começa a surtar de vez, agindo de forma não normal. As coisas só pioram e ela chega a ter alucinações, pensando ter encontrado Brody de novo! Por fim as coisas vão de mal a pior entre a diplomacia americana e paquistanesa. O diretor da CIA joga na cara do embaixador do Paquistão que eles ajudam terroristas. E o clima fica tenso entre todos. / Homeland 4.07 - Redux (Estados Unidos, 2014) Direção: Lesli Linka Glatter / Roteiro: Gideon Raff / Elenco: Claire Danes, Rupert Friend, Nazanin Boniadi. 

Homeland 4.08 - Halfway to a Donut
É um tempo de caos na vida da agente Carrie Mathison. Depois de surtar por falta de seus medicamentos, ela acorda na casa de um oficial do serviço de inteligência do Paquistão. Saia justa. Depois de recuperada volta ao trabalho. Autoridades americanas e paquistanesas discutem os termos de um acordo onde Saul será trocado por alguns prisioneiros do Talibã que estão em prisões americanas. A negociação é tensa e nesse meio tempo Saul consegue fugir de seu cativeiro. Ele foge pelo meio do deserto e vai parar numa cidadezinha onde pretende encontrar um morador que é contato dos americanos, só que as coisas acabam não dando muito certo. Ele é traído por quem mais confiava. / Homeland 4.08 (Estados Unidos, 2014) Direção: Carl Franklin / Roteiro: Gideon Raff / Elenco: Claire Danes, Rupert Friend, Nazanin Boniadi. 

Homeland 4.09 - There's Something Else Going On
Nesse episódio, muito bom por sinal, a agente Carrie Mathison precisa coordenar a troca de Saul Berenson por cinco terroristas que estavam nas mãos dos americanos. Só membros importantes do Talibã, terroristas perigosos, alguns envolvidos até mesmo com o tráfico de drogas internacional. A troca, apesar de toda a tensão envolvida, até que é feita, mas depois, quando o seu grupo retorna para a embaixada, há um ataque violento aos carros. Pior do que isso, os fuzileiros navais dos Estados Unidos são todos enviados para o local de ataque, deixando a embaixada desprotegida. Quando o episódio acaba, um grupo de terroristas invade o lugar. A tensão pelo visto só vai aumentar. A conclusão só virá no décimo episódio. / Homeland 4.09 - There's Something Else Going On (Estados Unidos, 2014) Direção: Seith Mann / Roteiro: Gideon Raff, Howard Gordon / Elenco:  Claire Danes, Rupert Friend, Nazanin Boniadi. 

Homeland 4.10 - 13 Hours in Islamabad
Um massacre! É isso o que acontece quando um grupo terrorista invade a embaixada americana no Paquistão. No total 36 pessoas são mortas! Pior do que isso, uma agenda contendo todas as informações sobre agentes americanos e colaboradores paquistaneses caem nas mãos dos terroristas. O presidente dos Estados Unidos então toma uma decisão crucial e decide fechar a embaixada, cortando relações diplomáticas com as autoridades do Paquistão. Enquanto os americanos vão fazendo as malas, se preparando para ir embora de vez daquele país, a agente Carrie Mathison pede mais cinco dias. Ela quer localizar o agente Peter Quinn que ao que tudo indica surtou, saindo pelas ruas da cidade em busca de uma vingança pessoal. / Homeland 4.10 - 13 Hours in Islamabad (Estados Unidos, 2014) Direção: Daniel Attias / Roteiro: Gideon Raff, Alex Gansa / Elenco: Claire Danes, Rupert Friend, Nazanin Boniad. 

Homeland 4.11 - Krieg Nicht Lieb
Carrie Mathison vai atrás de Peter Quinn. Acaba encontrando ele quando esse visitava a ex-namorada alemã que trabalha na embaixada da Alemanha no Paquistão. A conversa é tensa, mas Quinn não abre mão de seus planos. Ele fabrica uma bomba para explodir na frente da casa onde está escondido Haissam Haqqani. Os problemas são muitos, inclusive ter que lidar com uma manifestação por lá. Valeria a pena matar dezenas de milhares de inocentes só para liquidar um terrorista? No lado pessoal Carrie recebe uma chamada de sua irmã lhe informando que seu pai morreu. Em uma situação tão complicada como a que Carrie vive, aquilo é um stress a mais para se lidar. / Homeland 4.11 - Krieg Nicht Lieb (Estados Unidos, 2014) Direção: Clark Johnson / Roteiro: Gideon Raff, Howard Gordon / Elenco: Claire Danes, Rupert Friend, Laila Robins. 

Homeland 4.12 - Long Time Coming  
Último episódio da temporada. E como termina a série "Homeland"? Esse é um episódio bem diferenciado, onde o foco vai para a vida pessoal da agente Carrie Mathison (Claire Danes). Ela retorna aos Estados Unidos para o funeral do pai. E o retorno ao lar paterno também traz problemas familiares que ela acreditava estar há muitos anos superados. Sua mãe, que abandonou a família quando ela tinha 15 anos também surge na casa para o enterro do ex-marido. Carrie a hostiliza assim que a reencontra. Fica cega de fúria e raiva. O choque entre as duas é dolorido. Depois Carrie se arrepende de seu comportamento e vai atrás da mãe. Descobre que ela tem um filho de 15 anos de idade (seu meio-irmão que não conhecia) e que ela fugiu de casa no passado porque havia engravidado de um amante. Com vergonha da situação decidiu sumir sem deixar rastros. Situação mais do que delicada. Enquanto ela tenta corrigir as feridas e traumas do passado, Peter Quinn (Rupert Friend) é levado para uma nova missão no Paquistão. E tudo com o apoio se Saul. Será que Carrie também vai embarcar nessa nova empreitada não oficial da CIA? / Homeland 4.12 - Long Time Coming (Estados Unidos, 2014) Direção: Lesli Linka Glatter /  Roteiro: Gideon Raff / Elenco: Claire Danes, Rupert Friend, Laila Robins.

Pablo Aluísio.

terça-feira, 26 de janeiro de 2021

Sinfonia Prateada

A história é bem agradável. Samuel Fulton (Charles Coburn) é um dos homens mais ricos do mundo. Magnata da indústria percebe que sua vida está chegando ao fim e ele não tem a quem deixar sua fortuna milionária. Nunca se casou e nunca teve filhos, pois sua vida sempre foi focada no mundo dos negócios. Nesse momento lembra-se de uma antiga paixão, que já não vive mais. Resolve então transformar em herdeiros a filha e os netos de seu amor do passado, mas antes disso resolve ir conhecer a todos pessoalmente. Se fazendo passar por um velho artista aposentado, vivendo de empregos medíocres, chamado John Smith, ele se hospeda na casa da família para entender se eles merecem mesmo se tornarem seus herdeiros após sua morte. A experiência mudará a vida de todos, mas principalmente a do velho milionário.

"Sinfonia Prateada" é um primor. Dirigido por Douglas Sirk, o filme reúne um ótimo elenco, aliado a uma produção muito bem realizada, embalada por uma estória cativante. Sirk realizou uma fina comédia de costumes, onde mostra que dinheiro e riqueza podem apenas revelar o verdadeiro caráter das pessoas, mas nunca mudar sua verdadeira essência. O milionário que se faz passar por pobre velhinho sem ter onde cair morto é um achado. Interpretado excepcionalmente bem pelo talentoso Charles Coburn, ele é a alma da produção. Em determinado momento resolve testar a verdadeira personalidade da família que está conhecendo (e estudando) para ver como eles se comportam como novos ricos. Doa 100 mil dólares para observar como aquela família reage com um dinheiro desses. Claro que a partir desse momento tudo muda. A família que era unida e muito humana se torna vaidosa, dada a exageros, indo parar na pura cafonice. John Smith, claro, assiste tudo sem revelar sua verdadeira identidade.

 Uma das melhores coisas de "Sinfonia Prateada" é seu elenco. A começar pelos figurantes - isso mesmo! Imagine que numa ponta não creditada temos nada mais, nada menos, do que o mito James Dean em cena! Foi uma das primeiras oportunidades que teve em Hollywood. Ele interpreta o pequeno papel de um jovem desmiolado que pede um complicado sundae para John Smith, naquela altura de seu disfarce trabalhando como balconista de uma pequena mercearia. São poucos minutos em cena mas que entraram para a história do cinema. Já outro astro, Rock Hudson, faz o papel de um pobretão que quer casar com a doce Millicent Blaisdell (Piper Laurie), mas vê suas chances diminuírem consideravelmente após perceber que ela ficou rica da noite para o dia! Embora todos os jovens atores estejam marcantes de uma forma ou outra, temos que admitir que o filme pertence mesmo ao veterano Charles Coburn, que está realmente arrasador em seu personagem - que aliás é o principal de todo o enredo. Em suma, "Has Anybody Seen My Gal" é realmente uma delícia de filme. Encantador, charmoso e nostálgico, é aquele tipo de obra que nos deixam mais leves e felizes no final da exibição.

Sinfonia Prateada (Has Anybody Seen My Gal, Estados Unidos, 1952) Estúdio: Universal Pictures / Direção: Douglas Sirk / Roteiro: Joseph Hoffman, Eleanor H. Porter / Elenco: Piper Laurie, Rock Hudson, Charles Coburn, James Dean, Gigi Perreau / Sinopse: Velho milionário decide "testar" uma família de sua cidade para saber se eles seriam dignos de herdar sua grande herança.

Pablo Aluísio.


segunda-feira, 25 de janeiro de 2021

Os Que Chegam Com a Noite

Durante sua longa carreira o ator Marlon Brando poucas vezes flertou com o gênero terror! Um profissional formado no Actors Studio, em Nova Iorque, ele certamente pensou que esse estilo de cinema jamais cruzaria seu caminho. Uma breve e rara exceção ocorreu com esse "Os Que Chegam Com a Noite". Não era essencialmente um filme tradicional no gênero, mas apostava em um enredo que seria uma espécie de prévia do que acontecia em um dos filmes de terror mais clássicos da história do cinema, "Os Inocentes" de 1961. Nesse primeiro filme Deborah Kerr teve uma de suas mais elogiadas atuações. Anos depois decidiu-se contar o que teria acontecido antes da trama de "Os Inocentes". O resultado foi esse hoje considerado cult "Os Que Chegam com a Noite". Aliás uma boa dobradinha para o cinéfilo seria assistir os dois filmes em sequência. Primeiro o de Deboarh Kerr, depois esse com Marlon Brando.

Esse foi o último filme que Marlon Brando fez antes de sua consagração em "O Poderoso Chefão". Ele foi filmado na Inglaterra, o que levou muitos jornalistas a decretarem o fim de sua carreira na época! Muitos diziam que nenhum estúdio de Hollywood bancaria mais filmes com o ator, não apenas por seu terrível temperamento nas filmagens, mas também porque Brando não significava mais retorno imediato nas bilheterias, uma vez que seus últimos lançamentos se tornaram fracassos comerciais. Processado por ex-mulheres, sendo perseguido pela imprensa por causa de sua disfuncional vida familiar, o ator não viu outra saída senão trocar de ares - o que fez muito bem. "Os Que Chegam Com a Noite" é um filme por demais interessante. Todo rodado na Inglaterra rural a produção também se apresenta como um prequel do famoso livro de Henry James, "Turn of the Screw" (no Brasil, "A Volta do Parafuso").

Certamente eu já tinha propensão a gostar desse estilo de filme por dois motivos: gosto de tramas passadas na Inglaterra rural (sou fã de cineastas como James Ivory) e tenho a tendência de sempre gostar das atuações de Marlon Brando, mesmo quando ele não está particularmente inspirado. Aqui o ator se apresenta de forma natural, sem exageros à la Actors Studio. O personagem simplista, um trabalhador comum chamado Peter Quint, caiu como uma luva para a personalidade do ator. Cabelos grisalhos, grandes e despenteados Brando dá um tom selvagem e indomado ao criado da bela mansão do filme e mais uma vez rouba as atenções para si. Também gostei do clima bucólico que reina em praticamente todo o filme. O que acaba enganando o espectador pois por baixo dessa normalidade se esconde uma situação terrível, o que desencadeará eventos macabros. É uma daquelas tramas que parecem caminhar para uma direção, mas que no final chegará em algo completamente diverso do que o espectador estava esperando. O terror é psicológico, sutil e no final se mostra bem impactante.

Os Que Chegam Com a Noite (The Nightcomers, Inglaterra, 1971) Direção: Michael Winner / Roteiro: Michael Hastings inspirado na obra de Henry James, "A Volta do Parafuso" / Elenco: Marlon Brando, Stephanie Beacham, Thora Hird / Sinopse: O filme mostra os acontecimentos que antecedem a trama do livro "A Volta do Parafuso" do consagrado escritor Henry James. Na história o trabalhador Peter Quint (Marlon Brando) acaba se aproximando de uma família rica, numa propriedade rural na Inglaterra. Isso dará origem a eventos trágicos e terríveis. Filme indicado ao BAFTA Awards na categoria de Melhor Ator (Marlon Brando).

Pablo Aluísio.

Selvagens Cães de Guerra

A ideia era muito boa. Reunir um grupo de atores veteranos para a produção de um filme de guerra como nos velhos tempos. "Selvagens Cães de Guerra" foi produzido já no final da década de 1970. Por essa época o que estava em moda no cinema eram os filmes do tipo "Guerra nas Estrelas". Fazer um filme com combatentes da II Guerra Mundial era considerado algo ultrapassado. Mesmo assim a Warner Bros resolveu apostar suas fichas nesse novo filme. Claro, visando atingir sobretudo os mais velhos, um grupo que ainda significava bastante em tempos de bilheteria. Afinal a velha guarda também tinha que ter seu próprio espaço na programação dos cinemas.

A Warner só contratou feras. O primeiro a entrar no projeto foi Richard Burton. Naquela altura de sua vida ele estava precisando de altas somas em dinheiro por causa do divórcio com sua ex-esposa Elizabeth Taylor. Depois de sua entrada na produção as coisas ficaram mais fáceis. O Estúdio contratou o próprio James Bond em pessoa, ou melhor dizendo, o ator que o interpretava na época, o sempre bom Roger Moore. John Wayne foi convidado, mas problemas de saúde o impediram de fazer o filme. Assim a vaga foi preenchida pelo também ótimo Richard Harris. Por fim Stewart Granger e Hardy Krüger completaram a equipe. A direção ficou a cargo do especialista inglês Andrew V. McLaglen, que anos depois iria dirigir outro filme muito parecido com esse, chamado "Os Doze Condenados".

A trama também era bem bolada. Uma multinacional britânica decidia derrubar um ditador cruel na África central. Os executivos da companhia então resolviam contratar um bando de mercenários (veteranos, em sua maioria) na cidade de Londres para enviá-los para salvar o líder da oposição, um político virtuoso e honesto que foi preso por ordens diretas do regime ditatorial que estava no poder. O problema é que ele estava seriamente doente após ficar tantos anos encarcerado. Não seria uma missão isenta de muitas dificuldades operacionais. Mesmo assim os membros da equipe se uniam, dispostos a irem até o final. Para eles uma missão dada seria sempre uma missão cumprida.

E para quem achava que esse tipo de filme não faria mais sucesso, o resultado nas bilheterias foi muito bom. Com excelente elenco formado por atores veteranos, "Selvagens Cães de Guerra" acabou virando um modelo a ser seguido nos anos que viriam. De fato basta pensar no auge dos filmes de ação que iria ocorrer na década seguinte, para entender que essa produção acabou criando mesmo um estilo novo de fazer filmes de guerra, modelo esse que seria seguido por Sylvester Stallone e Arnold Schwarzenegger, no auge de suas carreiras. A intenção não era mais reproduzir um evento histórico marcante da Segunda Guerra, mas sim apostar em incríveis cenas de ação e violência como objetivo final do filme. Richard Burton já estava no fim de sua longa carreira, mas conseguiu trazer grande veracidade ao seu personagem do Coronel Faulkner. Na época das filmagens ele também estava enfrentando o drama do alcoolismo, porém conseguiu ser profissional o suficiente para que seus problemas não transparecessem para as cenas. Já Roger Moore estava colhendo os frutos de seu sucesso como James Bond. Com tanta gente boa envolvida não poderia se ter outro resultado. O filme acabou abrindo as portas para o cinema brucutu que iria dominar a indústria cinematográfica nos anos 80.

Selvagens Cães de Guerra (The Wild Geese, Estados Unidos, 1978) Estúdio: Warner Bros / Direção: Andrew V. McLaglen / Roteiro: Reginald Rose, Daniel Carney / Elenco: Richard Burton, Roger Moore, Richard Harris, Stewart Granger / Sinopse: Grupo de mercenários é reunido por uma grande companhia inglesa para derrubar um ditador sanguinário na África que está atrapalhando seus planos na região. A ideia é destituir o ditador do poder, para colocar em seu lugar o líder da oposição, que se encontrava preso em uma masmorra.

Pablo Aluísio.

domingo, 24 de janeiro de 2021

Sabrina

Sabrina Fairchild (Audrey Hepburn) é a filha do chofer de uma rica família de Long Island. Ela nutre por muito anos uma paixão indisfarçável por David Larrabee (William Holden) o irresponsável e playboy filho mais novo do rico patrão de seu pai. Tempos depois vai a Paris para aprender a arte culinária da cozinha francesa e retorna completamente mudada, fina e elegante. Não demora muito a despertar a atenção dos irmãos Larrabee que agora irão disputar entre si o coração da bela jovem."Sabrina" é o mais elegante filme da carreira de Billy Wilder. Tudo é de muito bom gosto na produção - roupas de grife, trilha sonora de alto nível e um clima de sofisticação que impera em todas as cenas. Audrey Hepburn encontra em Sabrina um papel bem adequado ao seu estilo de interpretação. Seus pretendentes em cena, Humphrey Bogart e William Holden, também estão muito bem em seus respectivos personagens, dois irmãos que são opostos entre si, o primeiro trabalhador e responsável e o segundo um playboy incorrigível.

Durante muitos anos "Sabrina" virou um ícone dos filmes românticos em Hollywood tanto que daria origem até mesmo a uma série de publicações de mesmo nome que exploravam bem um clima de romance idealizado, escrito e consumido por jovens que sonhavam com seu príncipe encantado. Curiosamente no filme Audrey acaba tendo que escolher entre a paixão platônica de sua adolescência ou a figura de um homem mais equilibrado e seguro de si o que demonstra que nem sempre o homem de seus sonhos é aquele que você pensava ser o ideal. Outro fato interessante é perceber como Audrey, mesmo no começo de sua carreira, não se mostra intimidada de contracenar com o mito Bogart que aqui deixa de lado seus personagens cínicos e perigosos que desempenhava em seus outros filmes. Na verdade ele entrou no elenco na última hora pois o ator que havia sido escalado inicialmente, Cary Grant, não se recuperou de um acidente que havia sofrido e por determinação médica foi afastado do filme.

Já William Holden está bem diferente da imagem que estamos acostumados, ele surge em cena de cabelo pintado, um loiro falso que chama a atenção pelo exagero. "Sabrina" fez sucesso de público e crítica quando foi lançado. Concorreu a vários prêmios da Academia e levou o Oscar de Melhor Figurino (para Edith Head, uma veterana em Hollywood). Já o diretor Billy Wilder, que também assinava o roteiro, foi premiado pelo Globo de Ouro por seu belo texto. O filme ganharia uma nova versão na década de 90 com Harrison Ford mas esse remake era infinitamente inferior. Melhor ficar com o original mesmo, "Sabrina" é sem dúvidas uma ótima dica para o cinéfilo que procura um filme clássico com muita classe e elegância. Pode assistir sem receios que não vai se arrepender.

Sabrina (Sabrina, Estados Unidos, 1954) Direção: Billy Wilder / Roteiro: Billy Wilder, Samuel Taylor, Ermst Lehman / Elenco: Audrey Hepburn, Humphrey Bogart, William Holden / Sinopse: Sabrina Fairchild (Audrey Hepburn) é a filha do chofer de uma rica família de Long Island. Ela nutre por muito anos uma paixão indisfarçável por David Larrabee (William Holden) o irresponsável e playboy filho mais novo do rico patrão de seu pai. Tempos depois vai a Paris para aprender a arte culinária da cozinha francesa e retorna completamente mudada, fina e elegante. Não demora a despertar a atenção dos irmãos Larrabee que agora irão disputar entre si o coração da bela jovem.

Pablo Aluísio.

O Destino do Poseidon

Título no Brasil: O Destino do Poseidon
Título Original: The Poseidon Adventure
Ano de Produção: 1972
País: Estados Unidos
Estúdio: Twentieth Century Fox
Direção: Ronald Neame
Roteiro: Paul Gallico, Stirling Silliphant
Elenco:  Gene Hackman, Ernest Borgnine, Shelley Winters, Roddy McDowall, Pamela Sue Martin, Red Buttons

Sinopse:
Um grande navio de passageiros, o Poseidon, é levado ao limite por seu novo proprietário. Atingido por um enorme maremoto em alto-mar, o navio acaba virando de cabeça para baixo, com todos os tripulantes e passageiros a bordo. Depois da tragédia o corajoso reverendo Scott (Hackman) passa então a levar um grupo de sobreviventes em uma jornada pelas entranhas do navio na tentativa de achar uma saída para fora da embarcação prestes a afundar.

Comentários:
Sinceramente perdi as contas de quantas vezes eu assisti a esse filme durante os anos 80. Esse marcante exemplar do chamado "cinema-catástrofe" era figurinha fácil na programação da Rede Globo naquela década. E em um tempo em que não existia o filme do Titanic, esse "O Destino do Poseidon" era considerado um dos melhores filmes sobre o afundamento de um grande Transatlântico. E as semelhanças não eram gratuitas. De certa maneira o enorme Poseidon era mesmo o Titanic. A mesma história, só que passada em uma época diferente. Os especialistas em efeitos especiais tiveram um trabalho e tanto para recriar na tela um navio imenso virando de ponta cabeça, enquanto seus sobreviventes tentavam sair vivos daquele enorme desastre. E nem faltava o construtor arrogante dizendo que "Nem Deus poderia afundar o Poseidon!" (mesma frase atribuída ao dono da empresa ao qual pertencia o Titanic da história real). E para finalizar não poderíamos deixar de citar o numeroso elenco de veteranos do cinema. Dentro do script padrão do cinema-catástrofe dos anos 70 isso fazia parte da fórmula. Tinha sido assim com "Aeroporto", "Inferno na Torre" e outros filmes desse nicho. Não deixava de ser divertido ver todos aqueles astros e estrelas do passado, agora bem mais envelhecidos, sendo tragados por mais uma tragédia no cinema. Era sinônimo também de gordas bilheterias. Filme vencedor do Oscar nas categorias de Melhor Canção Original ("The Morning After") e Melhores Efeitos Especiais (L.B. Abbott).

Pablo Aluísio.

sábado, 23 de janeiro de 2021

O Mundo da Fantasia

Belo musical da Fox com Marilyn Monroe. Temos aqui aquele tipo de produção em que todos os talentos foram reunidos pelo estúdio em apenas um filme. Basta analisar a ficha técnica para entender bem isso. As canções foram escritas por um dos maiores compositores da história da música americana, Irving Berlin. A direção foi entregue a Walter Lang, um verdadeiro artesão da sétima arte. A produção ficou a cargo do célebre Sol C. Siegel, uma pessoa tão importante na história de Hollywood que virou até nome de prêmio e para completar temos Marilyn Monroe dançando, cantando e atuando, tudo de forma simplesmente magistral. É muito interessante quando vejo alguém falando que Marilyn não tinha talento e que o segredo de seu sucesso se resumia unicamente ao fato de ter sido uma bela mulher! Será que uma pessoa que emite uma opinião dessas realmente conhece os filmes da estrela? Acredito que não, já que basta assistir a esse filme para compreender totalmente a extensão do talento da atriz. Ela está, repito, simplesmente fenomenal nesse filme!
 
Marilyn Monroe interpreta Vicky Parker, uma simples chapeleira de uma casa noturna que sonha um dia ser uma estrela da Broadway. Para isso ela não mede esforços. Quando descobre que um famoso produtor está no local onde ela trabalha, pede uma chance ao dono do estabelecimento para apresentar um número, cantando e dançando ao velho estilo. A partir daí as portas vão se abrindo para ela no mundo do Show Business. Claro que o grande atrativo desse musical hoje em dia provém do fato de Marilyn estar no elenco, mas é bom salientar que ela não é o ponto central da trama que gira mesmo em torno de uma família de artistas, os Donahues.

Eles vivem no mundo do Vaudeville e sonham também um dia com as marquises dos grandes espetáculos dos EUA - entenda-se Broadway em Nova Iorque. O filme em si é maravilhoso, lindas canções, coreografias de alto nível e uma direção de arte e musical de encher os olhos. De certa forma a produção tentava resgatar o clima dos grandes musicais das décadas de 30 e 40 que naquele momento já sofriam bastante com uma acentuada queda de bilheteria. De uma forma ou outra, não há como negar o charme e o carisma desse filme. É aquele tipo de musical que deixará você mais leve e feliz no final da exibição.

O Mundo da Fantasia (There's No Business Like Show Business, Estados Unidos, 1954) Direção: Walter Lang / Roteiro: Phoebe Ephron, Henry Ephron / Elenco: Ethel Merman, Marilyn Monroe, Donald O'Connor / Sinopse: Uma família de artistas cresce sob as luzes dos grandes espetáculos musicais nos Estados Unidos, enquanto uma humilde chapeleira de uma casa noturna sonha em um dia se tornar uma grande estrela da Broadway. Filme indicado ao Oscar nas categorias de Melhor Roteiro, Melhor Figurino (Charles Le Maire, Travilla e Miles White) e Melhor Música (Alfred Newman e Lionel Newman).

Pablo Aluísio. 

O Bárbaro e a Geisha

O roteiro desse filme é baseado numa história real. O ano é 1856. O primeiro diplomata americano é enviado para o Japão. O país asiático ficou séculos isolado do resto do mundo, com uma grande aversão a estrangeiros em geral. Townsend Harris (John Wayne) assim precisa quebrar muitas barreiras, inclusive culturais. Ele chega numa cidade da costa japonesa acompanhado apenas por um intérprete. Logo nos primeiros dias ele sente toda a hostilidade do governador local. Ele se recusa a reconhecer Harris como agente diplomático e pior do que isso, começa a fazer de tudo para que ele vá embora. As coisas só começam a mudar quando Harris age em favor do povo em um surto de cólera, doença desconhecida pelos japoneses, mas que Harris sabe muito bem como combater - chegando ao ponto de incendiar praticamente toda uma vila para erradicá-la da região.

Esse é um filme muito interessante assinado pelo mestre John Huston. Na época de seu lançamento original alguns fãs de John Wayne não gostaram muito do resultado, afinal o filme de uma maneira em geral não era bem o que Wayne estava acostumado a fazer. É um drama romântico, com ênfase nas primeiras aproximações políticas entre japoneses e americanos. O roteiro trabalhava bem também no relacionamento entre o diplomata americano e uma gueixa japonesa, enviada para servi-lo pelo governador geral.

Outro ponto positivo ao meu ver foi mostrar o primeiro encontro entre o cônsul interpretado por Wayne e o imperador japonês, um jovem de apenas 17 anos de idade! O choque cultural se tornou inevitável. Harris (Wayne) quer que o imperador assine um tratado de mútua cooperação internacional entre os dois países, o que desperta a ira dos poderosos que rejeitam completamente a ideia. Bem fotografado, com ótima produção, esse filme pode até ser um ponto fora da linha do tipo de filme que John Wayne era acostumado a estrelar, porém suas qualidade cinematográficas (e diria até históricas) são inegáveis. Mais um excelente filme de John Huston, um dos grandes diretores da história de Hollywood. Era um gênio da sétima arte.

O Bárbaro e a Geisha (The Barbarian and the Geisha, Estados Unidos, 1958) Direção: John Huston / Roteiro: Charles Grayson, Ellis St. Joseph / Elenco: John Wayne, Eiko Ando, Sam Jaffe, Sô Yamamura / Sinopse: O filme conta a história do diplomata Townsend Harris (John Wayne). No século XIX ele se torna o primeiro agente diplomático dos Estados Unidos a chegar ao Japão. Seu objetivo é instalar um consulado, fazendo com que o imperador japonês assine um tratado de aproximação com o governo de seu país, só que desde o primeiro dia em que chega em solo japonês, Harris começa a ser hostilizado pelo povo e pelas autoridades da região, inclusive pelo governador Tamura (Sô Yamamura) que fará de tudo para ele ir embora.

Pablo Aluísio.

sexta-feira, 22 de janeiro de 2021

Museu de Cera

"Museu de Cera" é um clássico do terror. Na trama temos Henry Jarrod (Vincent Price), um artesão talentoso, que transforma bonecos de cera em retratos quase perfeitos de personagens históricos. Maria Antonieta, Joana d'Arc e Abraham Lincoln são algumas da figuras históricas que ele esculpiu em cera para serem exibidas em seu próprio museu. Seu sócio porém tem outros planos. Ele está de olho no dinheiro do seguro. Por essa razão resolve promover um grande incêndio, algo que deixa Jarrod severamente ferido e deformado pelas chamas. Agora, recuperado, ele parte para sua vingança pessoal contra todos que fizeram esse atentado contra sua arte e sua vida. Esse filme é um dos clássicos de terror mais lembrados da carreira de Vincent Price. O enredo gira em torno desse artista muito diferente, um mestre em criar figuras de cera com extrema fidelidade, a tal ponto de levar a todos a pensarem se estão mesmo na presença de uma peça de cera ou de um ser humano real. Após entrar em atrito com seu desonesto sócio, um sujeito que só pensa em queimar todo o museu de cera para receber o seguro, Henry Jarrod (Vincent Price) vê suas pretensões de ser um grande artista queimarem em um inferno em chamas. Deformado pelo fogo e transformado em um ser de aparência repugnante (o que contrasta enormemente com a beleza de sua arte) ele ainda não se sente pronto a abandonar suas ambições artísticas.

Após se vingar daqueles que o destruíram ele resolve voltar. Como é um artesão em recriar rostos e formas humanas cria uma máscara para esconder as deformidades de sua própria face, arranja um novo sócio e abre um novo museu de cera, só que essa vez bem diferente, com uma seção especializada em horrores que refaz todas as cenas dos maiores crimes da história. O que é desconhecido do público é que Henry Jarrod perdeu sua capacidade de criar figuras em cera após ter suas mãos queimadas no incêndio. Assim ele decide usar outra técnica para produzir suas novas "obras de arte" - isso mesmo, corpos humanos de verdade! Essa produção foi alvo de um remake há poucos anos, mas aquele roteiro tinha pouco a ver com essa produção original. Aqui o foco é todo voltado para as ambições de um artista que só pretendia refazer o belo em cera, mas que pelas circunstâncias de sua vida trágica teve que abraçar o grotesco e o horror!

Vincent Price usa uma bem feita máscara, que dá ao seu personagem uma face monstruosa. O ator usa de seu charme e elegância naturais para interpretar o gentil artista que no fundo esconde um terrível segredo. Charles Bronson também está no elenco interpretando Igor, o assistente mudo e com problemas mentais de Jarrod. Completando o elenco ainda temos Carolyn Jones, que se imortalizou como a Morticia Frump Addams da série de grande sucesso na TV americana, "A Família Addams". Tecnicamente o filme é muito bem realizado, com cenários bem construídos. Também foi um dos primeiros filmes da história a usar uma rudimentar tecnologia 3D. Você vai perceber bem isso em algumas cenas que parecem gratuitas, como a do animador com bolinhas de pingue-pongue que as fica atirando propositalmente em direção à tela. A única coisa que não me agradou muito do ponto de vista técnico nesse "House of Wax" foi sua trilha sonora incidental. Com uma linha de flauta irritante em sua melodia ela acabou atrapalhando um pouco justamente nos momentos mais tensos da estória. Mesmo assim, não é algo com se preocupar, pois não chega a ser um problema. No fundo é apenas fruto de uma época. Enfim, de maneira em geral é um terror muito bom, com aquele charme nostálgico que só melhorou com os anos. Não é de se admirar que seja um filme tão cultuado pelos fãs de terror até os dias de hoje!

Museu de Cera (House of Wax, Estados Unidos, 1953) Estúdio: Warner Bros / Direção: André De Toth / Roteiro: Crane Wilbur, Charles Belden / Elenco: Vincent Price, Carolyn Jones, Charles Bronson, Phyllis Kirk / Sinopse:  Talentoso artista, especializado em fazer bonecos de cera de pessoas famosas da história, acaba ficando deformado por causa de um incêndio causado por seu sócio. Ao sobreviver as chamas decide então promover sua vingança contra todos aqueles que lhe fizeram mal no passado.

Pablo Aluísio.

O Pior Calhambeque do Mundo

Título no Brasil: O Pior Calhambeque do Mundo
Título Original: The Wackiest Ship in the Army
Ano de Produção: 1960
País: Estados Unidos
Estúdio: Columbia Pictures
Direção: Richard Murphy
Roteiro: Richard Murphy, Herb Margolis
Elenco: Jack Lemmon, Ricky Nelson, John Lund, Chips Rafferty, Tom Tully, Warren Berlinger

Sinopse:
Durante a II Guerra Mundial a Marinha dos Estados Unidos decide colocar de volta à ativa um velho submarino que já estava indo para a sucata. Sua missão passa a ser executar um plano secreto em pleno mar territorial do Japão.

Comentários:
O filme, devo confessar, é menos engraçado do que deveria ser (ou pelo menos do que me lembrava!). O que é curioso pois me lembro de tê-lo assistido uma vez na Sessão da Tarde durante os anos 70 e minhas lembranças eram de um filme bem mais divertido do que me pareceu nessa nova revisão. Provavelmente seja mais engraçado mesmo para um adolescente do que para uma pessoa mais velha. Agora, se tem algo que continua bem válido, é a carismática presença do ator Jack Lemmon. Esse tinha o tom da simpatia, do bom humor. Ele compensa qualquer falha maior do roteiro apenas com sua presença em cena. E para quem gosta do pop / rock mais inocente dos anos 50 e 60 o filme ainda tem a presença do cantor e ídolo adolescente da época Ricky Nelson. Com Elvis Presley longe, servindo o exército americano na Alemanha, ele chegou a disputar popularidade entre os mais jovens com o próprio Rei do Rock, quem diria... No mais o filme vale por algumas piadas e as boas cenas realizadas em alto mar, só que aqui com submarinos clássicos da II Guerra Mundial, fazendo papel de velhas banheiras do oceano. Os admiradores de história militar certamente não ficarão muito contentes com isso.

Pablo Aluísio.

quinta-feira, 21 de janeiro de 2021

A Noite do Iguana

Mais um excelente filme assinado pelo mestre John Huston. O projeto foi inicialmente desenvolvido para ser estrelado por Marlon Brando, mas esse desistiu de assumir o personagem do reverendo perturbado por estar envolvido em muitos problemas pessoais na época. Uma pena pois o filme parecia muito adequado a ele já que o roteiro era baseado em mais uma peça do genial Tennessee Williams. Como se sabe esse grande autor da dramaturgia americana gostava de colocar todos os seus personagens em situações quase banais, mas que seduzia o espectador basicamente pela grande força de seus diálogos inteligentes e instigantes, discutindo as grandes questões universais. A fórmula havia dado tão certo em outros grandes textos de Williams e voltava a funcionar maravilhosamente bem aqui, tudo abrilhantado pelas ótimas atuações de Richard Burton (em grande forma profissional) e Ava Gardner (praticamente uma força da natureza). Dois grandes astros do cinema americano, bem populares, que a despeito da fama aceitaram interpretar esses personagens um tanto marginais no meu ponto de vista. Não era algo fácil de se fazer, ainda mais partindo de atores que tinham que manter uma certa imagem limpa para a sociedade. Atravessar a linha oposta poderia significar muito em termos de bilheteria. Eles porém foram em frente.

A trama se passa em uma pousada decadente localizada em um distante vilarejo. É lá que vai parar o Reverendo Shannon (Richard Burton). Em crise de fé, ele acaba tendo que lidar com as três fortes mulheres que convivem no local. A primeira é Maxine (Ava Gardner). Independente, liberada sexualmente, não consegue transpor esse espírito livre para sua personalidade emocional que muitas vezes se revela sem força. Sue Lyon (a atriz que ficou famosa internacionalmente em “Lolita”) interpreta Charlotte Goodall, uma jovem sexualmente atraente que não se importa muito com as consequências de suas atitudes irresponsáveis. Por fim há Hannah Jelkes (Deborah Kerr), uma artista que deseja viver de sua arte, misturando geralmente sua obra com sua própria vida pessoal. “A Noite do Iguana” não nega sua origem teatral em nenhum momento. A força do filme vem justamente dos diálogos que vão dissecando as pequenas e grandes hipocrisias da sociedade como um todo. Um filme belamente bem escrito que merece ser redescoberto pelos amantes da sétima arte.

A Noite do Iguana (The Night of the Iguana, Estados Unidos, 1964) Direção: John Huston / Roteiro: Anthony Veiller, baseado na peça escrita por Tennessee Williams / Elenco: Richard Burton, Ava Gardner, Deborah Kerr, Sue Lyon, Grayson Hall / Sinopse: Em uma pousada decadente de um balneário isolado quatro personagens se enfrentam entre si, discutindo sobre as pequenas e grandes questões da existência humana. Filme vencedor do Oscar na categoria de Melhor Figurino. Também indicado nas categorias de Melhor Direção de Arte, Melhor Fotografia e Melhor Atriz Coadjuvante (Grayson Hall).

Pablo Aluísio.

Nas Garras do Ódio

Título no Brasil: Nas Garras do Ódio
Título Original: The Nanny
Ano de Produção: 1965
País: Inglaterra
Estúdio: Hammer Films
Direção: Seth Holt
Roteiro: Jimmy Sangster
Elenco: Bette Davis, Wendy Craig, Jill Bennett, James Villiers, William Dix, Pamela Franklin

Sinopse:
Baseado na novela de suspense escrita por Marryam Modell, o filme conta a história de antipatia que um garotinho nutre pela mulher que foi babá de sua mãe e que continuou a morar com a família, mesmo após muitos anos. O menino é problemático e acusa a babá de ter matado sua irmã.

Comentários:
Um combinação interessante. A Hammer Films, produtora especializada em filmes de terror como Drácula, etc, contratou a atriz  Bette Davis nos anos 1960 para atuar nessa produção de suspense. O roteiro mostra uma família bem disfuncional. A mãe sofre de depressão e não consegue lidar com os problemas do dia a dia. O marido é um sujeito distante que não aguenta passar muito tempo naquela casa e o filho, bem, o filho é o mais problemático de todos. Rebelde, mimado, ofensivo, ele odeia a babá da sua mãe (interpretada por Davis) que continuou morando com ela, mesmo já adulta e casada. O menino afirma que ela matou sua irmã em circunstâncias mal esclarecidas. Assim o roteiro deixa tudo no ar: o garoto seria apenas um moleque mal criado, mentiroso e infernal ou estaria mesmo dizendo a verdade? Bette Davis, já na velhice, como sempre, tem muita dignidade em cena. Com uma maquiagem que lhe deu grossas sobrancelhas ela parece sempre calma, paciente e gentil, mas essa seria sua personalidade verdadeira ou apenas uma máscara para esconder os mais inconfessáveis desejos de cometer crimes? Assista ao filme para descobrir.

Pablo Aluísio.

quarta-feira, 20 de janeiro de 2021

A Última Sessão de Cinema

O tema desse filme é a desilusão. Basta conhecer a história que o filme conta para entender a nuance desse roteiro. Entre a 2ª Guerra Mundial e a Guerra da Coreia, dois jovens que vivem em Anarene, uma pequena cidade no Texas, precisam enfrentar os desafios da vida adulta. Eles se parecem fisicamente, mas mentalmente e emocionalmente, vivem em diferentes planos, sendo que enquanto Duane (Jeff Bridges) é agressivo, Sonny (Timothy Bottoms) é bem mais sensível. Boa parte do tempo deles é passado no pequeno cinema da cidade e no salão de sinuca. Enquanto Duane tenta se firmar frequentando festas de embalo, Sonny é iniciado no sexo por Ruth Popper, a frustrada esposa do seu treinador. Porém, independente do que aconteça, a cidade está morrendo silenciosamente e lentamente enquanto a vida deles tomam rumos inesperados.

O roteiro do filme sempre foi bastante elogiado por ter inovado em sua narrativa, que é mais baseada em episódios esporádicos do que numa linha de narração mais tradicional. Os jovens do filme aos poucos vão entendendo que fazem parte de um círculo sem fim, que se repete de geração em geração. O clima de melancolia está em todas as cenas, trazendo uma sensação de tédio e desespero ao espectador. É uma produção que revista hoje em dia soa bem desconfortável, seca, sem qualquer tipo de facilitação para aquele que se atreve a ver a obra.

Até hoje é considerada a obra prima do diretor Peter Bogdanovich - e com toda a razão. É em essência um filme fundamentado em ótimas atuações e diálogos precisos. Nâo é para menos que seus dois Oscars foram pelo trabalho do elenco. Ben Johnson venceu o prêmio de melhor ator coadjuvante e Cloris Leachman de melhor atriz coadjuvante. Além deles, brilha também a intensidade da atuação de Jeff Bridges, ainda bem jovem, mas já demonstrando que tinha muito talento e, é claro, Cybill Shepherd, que está linda, também muito jovem e carismática. Curiosamente ela só se tornaria uma verdadeira estrela com a série "A Gata e o Rato" na TV americana durante os anos 80. Enfim, um verdadeiro clássico cult, muito rico em desenvolver as nuances e complexidades psicológicas de seus personagens. Para ver e entender melhor os rumos do cinema independente americano durante os anos 1970.

A Última Sessão de Cinema (The Last Picture Show, Estados Unidos, 1971) Estúdio: Columbia Pictures / Direção: Peter Bogdanovich / Roteiro: Larry McMurtry, Peter Bogdanovich / Elenco: Timothy Bottoms, Jeff Bridges, Cybill Shepherd, Ben Johnson, Ellen Burstin, Cloris Leachman / Sinopse: O filme conta a história de jovens em uma pequena cidade decadente do interior do Texas. Filme vencedor do Oscar na categoria de melhor ator coadjuvante (Ben Johnson) e melhor atriz coadjuvante (Cloris Leachman).

Pablo Aluísio. 

O Profundo Mar Azul

Título no Brasil: O Profundo Mar Azul
Título Original: The Deep Blue Sea
Ano de Produção: 1955
País: Inglaterra
Estúdio: London Film Productions
Direção: Anatole Litvak
Roteiro: Terence Rattigan
Elenco: Vivien Leigh, Kenneth More, Eric Portman, Emlyn Williams, Moira Lister, Arthur Hill

Sinopse:
O filme "O Profundo Mar Azul" nos mostra a história de Hester Collyer (Vivien Leigh), uma mulher reprimida que embora tente seguir os padrões sociais vigentes em relação ao casamento, acaba sucumbindo aos seus desejos mais inconfessáveis. Ao trair seu marido, acaba sendo acusada de adultério, caindo em uma espécie de marasmo social onde acaba sofrendo todos os tipos de preconceitos possíveis e imagináveis.

Comentários:
Mais um excelente drama da carreira de Vivien Leigh que infelizmente ainda se mostra um tanto desconhecido do grande público nos dias atuais. Baseado na peça teatral de Terence Rattigan (que assina o roteiro), o projeto nasceu justamente quando a própria Leigh assistiu a peça original em Londres em 1953. Ela imediatamente entrou em contato com o autor e comprou os direitos da obra para ser levada ao cinema. A atriz, muito sensível e corajosa, queria enfocar a situação das mulheres que sofriam preconceitos dentro da sociedade inglesa após se divorciarem de seus maridos. O peso se tornava ainda mais insuportável quando elas eram, sob o ponto de vista da sociedade, as culpadas pelo fim do casamento. O interessante é que o roteiro, extremamente bem escrito, tenta demonstrar que na realidade não existem culpados nesse tipo de problema conjugal, pois se a mulher realmente procura os braços de um outro homem isso significa apenas que o casamento como laço de amor e paixão já estava destruído. Ótimos diálogos e atuação sensível de Vivien Leigh deixam ainda mais interessante a produção. Um tema que ainda continua atual, mesmo tantas décadas depois de seu lançamento original. Um clássico dramático imperdível. Filme indicado ao BAFTA Awards nas categorias de melhor roteiro e melhor ator (Kenneth More).

Pablo Aluísio.

terça-feira, 19 de janeiro de 2021

Anna Karenina

Clássico do cinema estrelado pela atriz Vivien Leigh. A história é baseada na literatura russa, no famoso livro escrito por Liev Tolstói. No enredo Stefan e Dolly Oblonsky aparentemente formam um casal feliz, mas por baixo dessa fachada as brigas são constantes. Para contornar a situação conjugal complicada Stefan entra em contato com Anna Karenina (Leigh), sua irmã, para ir até Moscou. Na viagem entre São Petersburgo e Moscou, Karenina acaba conhecendo outro casal, a condessa e o conde Vronsky. O que começa como uma simples amizade no trem em que viajam, acaba virando algo mais entre Karenina e o coronel e conde russo. Gostei dessa adaptação cinematográfica do best-seller. É uma produção inglesa que teve grande repercussão em seu lançamento por causa da bela presença da atriz Vivien Leigh, na época ainda colhendo os frutos de seu grande filme, "E o Vento Levou". A atriz surge em cena com os cabelos levemente cacheados, bem escurecidos, em figurino e joias de luxo, além de seu habitual carisma e talento. A direção parece perdidamente apaixonada por ela, pois o filme tem longos planos focando apenas seu rosto em close, usando belamente a fotografia em preto e branco para contrastar seu belo rosto iluminado com um fundo escuro e misterioso. O único brilho que surge no meio da escuridão é a de seu colar de diamantes e pedras preciosas. Um belo efeito que dá um toque muito sensual e glamoroso ao filme em si.

O enredo é clássico, mas há uma tentativa de transformar o perigoso caso de amor em uma ode ao sentimento proibido, seja pelas convenções sociais, seja pelos valores morais e religiosos. No final as mais românticas vão ficar devidamente satisfeitas pois o filme tem drama, romance e também cenas de bailes, com roupas da época e muito luxo. Tudo embalado em muito romantismo à moda antiga. Para o público masculino a sessão também valerá a pena, pois chegará à conclusão de que a Vivien Leigh era realmente uma graça, como atriz e como personalidade.

Anna Karenina (Anna Karenina, Inglaterra, 1948) Estúdio: London Film Productions / Direção: Julien Duvivier / Roteiro: Jean Anouilh, Guy Morgan, baseados na obra de Leo Tolstoy / Elenco: Vivien Leigh, Ralph Richardson, Kieron Moore / Sinopse: Adaptação do famoso livro da literatura russa que recria a era da sociedade daquele país nos tempos da dinastia Romanov.

Pablo Aluísio.


Capricho

Mais um momento menor da filmografia da atriz Doris Day, aqui em uma fase mais avançada em sua carreira, já caminhando para o final da década de 1960 que de certa forma iria marcar também o fim de sua fase de maior popularidade na indústria do cinema americano. O seu estilo não iria sobreviver ao chamado verão do amor, quando o movimento hippie tomou conta da cultura e da contracultura dos Estados Unidos. Dentro desse contexto pouca coisa era mais fora de moda e ultrapassada do que as personagens que Doris Day interpretava nas telas. Para os jovens da época ela aparecia apenas como uma estrela dos tempos de seus pais, tempos mais inocentes. A história era bem na linha de seus filmes do passado. Patricia Foster (Doris Day) é a executiva de uma indústria de cosméticos francesa sediada em Paris que é enviada até os Estados Unidos para espionar o que os concorrentes estão inventando para o mercado mundial. Lá acaba tendo que lidar com um gerente metido a galã que deseja conquistá-la, para por sua vez, também roubar os segredos da antiga empresa em que Foster trabalhou.

De certa maneira eu esperava muito mais dessa comédia dos anos 60. O filme foi dirigido pelo ótimo Frank Tashlin, que realizou os melhores filmes de Jerry Lewis, também era protagonizado pela estrela Doris Day. Para completar tinha um roteiro esperto, que transformava a personagem de Doris em uma espiã industrial dentro de uma grande empresa americana de cosméticos. Tudo parecia se encaixar bem mas... infelizmente o filme é bem fraco, com medo de ousar, ir além! Essa foi uma das últimas aparições de Doris Day no cinema - mais dois filmes e ela encerraria sua carreira de uma vez por todas. Doris que estava tão brilhante em tantos filmes ao lado de Rock Hudson aqui está visivelmente no controle remoto.

O conhecido talento para comédias não se repetiu. Doris Day parece aborrecida com o roteiro que tem em mãos. Ela surge assim declamando seu texto sem nenhum empenho ou motivação. Parece até mesmo entediada em cena. Nunca tinha visto ela tão mal em um filme como aqui! Para resumir seu trabalho é muito abaixo da média e Doris afunda o filme. Para piorar tentaram transformar Richard Harris numa espécie de "Rock Hudson inglês", ou seja, o mesmo personagem de Rock nos filmes ao lado de Doris, a do Playboy que é um verdadeiro conquistador barato que sai dando em cima de todas as garotas que conhece. Isso também não deu certo. No final tudo o que sobra para o espectador é uma grande decepção cinematográfica.

Capricho (Caprice, Estados Unidos, 1967) Estúdio: Twentieth Century Fox / Direção: Frank Tashlin / Roteiro: Jay Jayson, Frank Tashlin / Elenco: Doris Day, Richard Harris, Ray Walston, Jack Kruschen, Edward Mulhare / Sinopse: O filme mostra os bastidores da indústria de cosméticos, onde Patricia Foster (Doris Day) acaba se tornando espiã de importantes segredos industriais.

Pablo Aluísio.

segunda-feira, 18 de janeiro de 2021

À Sombra de um Gigante

Clássico do cinema americano, filme produzido e lançado na década de 1960. Qual é a história do filme? Após o fim da segunda grande guerra mundial, o coronel David 'Mickey' Marcus (Kirk Douglas) volta para a vida civil. Advogado de formação, ele retorna para seu escritório em Nova Iorque, mas é logo procurado por um grupo de judeus que pedem por sua ajuda. Há uma nova nação e um novo exército. É preciso mais do que nunca alguém que tenha experiência de guerra na liderança das forças armadas de Israel. O país criado em cima do território da Palestina é cercado por inimigos por todos os lados e Marcus é chamado para organizar um exército com os jovens idealistas que estavam dispostos a lutar por Israel. Detalhe: eles não não tinham  qualquer tipo de experiência nesse campo ou treinamento militar. Esse filme conta uma história importante na formação do Estado de Israel, quando surgiu a necessidade de criar e estruturar as forças armadas daquela jovem nação. 

Como não havia experiência militar entre os jovens que se mudaram para aquela região após a criação do país, foi necessário a contratação de militares experientes para coordenar e desenvolver todos esses preparativos. O personagem interpretado por Kirk Douglas é justamente um desses homens que vão para Israel para dar os primeiros movimentos na criação de uma força militar poderosa naquela região. Todos os eventos que vemos no filme são inspirados em fatos históricos reais. Depois do que aconteceu na II Guerra, dos tristes e lamentáveis eventos do holocausto, o povo judeu, como era de esperar, precisava agora se armar e se tornar uma potência militar para proteger todos os membros de sua nação. E os militares americanos tiveram um papel importante nessa reestruturação, contribuindo com seus conhecimentos e experiência no campo de batalha. Os resultados foram excelentes, a tal ponto que em poucos anos Israel se tornou a maior potência militar do Oriente Médio. Inclusive seu teste de fogo não iria demorar muito. Em pouco tempo o país entraria em guerra com o Egito e se sairia vencedor desse conflito.

O diretor Melville Shavelson fez um bom trabalho para a United Artists. Por causa do tema a produção contou com a boa vontade de um excelente grupo de atores de Hollywood. Há três astros no filme, todos campeões de bilheteria na época. Além de Kirk Douglas, o elenco ainda trazia o grande John Wayne em um papel coadjuvante e o cantor Frank Sinatra, em um papel ainda menor. E aqui temos aquele velho problema que sempre surgia em filmes com grandes elencos. Não havia espaço para todos. Sempre alguém era desperdiçado em cena. Foi justamente o caso de John Wayne e Frank Sinatra. Seus personagens são até importantes na história, mas os atores não contaram com tempo suficiente para desenvolvê-los bem. De qualquer forma procure relevar esse aspecto. O filme já é importante apenas pelo tema histórico mostrado. Todo o resto são apenas pequenos detalhes cinematográficos.

À Sombra de um Gigante (Cast a Giant Shadow, Estados Unidos, 1966) Estúdio: United Artists / Direção: Melville Shavelson / Roteiro: Melville Shavelson, baseado na obra de Ted Berkman / Elenco: Kirk Douglas, John Wayne, Yul Brynner, Frank Sinatra, Angie Dickinson, Senta Berger / Sinopse: O filme conta a história de um veterano militar americano que é contratado pelo Estado de Israel para ajudar na criação das forças armadas daquele país, em um momento histórico em que Israel estava se formando politicamente.

Pablo Aluísio.

A Patrulha da Esperança

Clássico filme de guerra. Qual é a história? O coronel Pierre Raspeguy (Anthony Quinn) e seus homens ficam cercados por um grande exército de libertação nacional em Dien Bien Phu na Indochina. Depois da derrota, são feitos prisioneiros e após algum tempo são finalmente libertados quando a França desiste de sua intervenção militar no país. De volta à Paris tudo o que o coronel deseja é retornar para o campo de batalha e ele consegue seu objetivo ao ser designado para comandar uma tropa de elite a ser enviada para a Argélia, colônia francesa que luta por sua independência. Filme tecnicamente muito bem realizado, com ótimas sequências de batalha e ação, mas novamente um pouco confuso sob o aspecto político. O filme começa na Indochina, que naquele momento tentava se livrar do poderio e domínio do imperialismo francês. Os soldados liderados por Anthony Quinn estão encurralados e a única saída é a rendição aos inimigos. Depois de algum tempo presos, são finalmente libertados depois que a França se conscientiza que aquela guerra é uma perda inútil de homens, equipamentos e dinheiro. 

O curioso aqui é chamar a atenção para o fato de que após a retirada da França da Indochina, que passaria a se chamar Vietnã, iria se abrir um vácuo de poder na região, o que iria resultar na intervenção dos Estados Unidos. E isso, anos depois, iria dar origem também à Guerra do Vietnã. Um grande desastre militar para os americanos. Depois que voltam para a França, a tropa comandada pelo Coronel  Raspeguy (Anthony Quinn) é novamente enviadas para o front, só que dessa vez na Argélia, e lá começam a combater os argelinos que lutam pela independência de seu país! Pois é, o fato é que esse roteiro tem como protagonistas soldados que estavam sempre lutando pelo imperialismo de Paris contra povos que apenas tinham como objetivo sua libertação desse tipo de colonialismo anacrônico. Assim o roteiro derrapa nesse aspecto, pois tem um viés equivocado, trazendo a mesma visão que iria levar à guerra da Argélia e até mesmo à guerra do Vietnã, duas experiências que França e Estados Unidos jamais iriam esquecer por causa do tamanho do desastre que foi.

Porém, tirando esse aspecto político de lado, o espectador terá um filme de guerra bastante eficiente, com ótimas tomadas de combate como atrativo, em especial a cena final onde rebeldes argelinos e tropas francesas se enfrentam numa montanha com ruínas da época do império romano ao fundo. Nesses tempos o cinema não tinha recursos digitais para recriar esse tipo de combate em computadores e nada do tipo. Tudo era feito de forma real, com centenas de milhares de figurantes, explosões, veículos de guerra, etc. E filmar tudo em lugares desertos tornava a produção ainda mais complicada. Então é isso, "Lost Command" não tem uma visão política correta daquele período histórico, mas se salva pela grandeza de suas cenas de ação e guerra, o que hoje em dia é certamente o que mais irá atrair o fã de cinema clássico.

A Patrulha da Esperança (Lost Command,  Estados Unidos, 1966) Estúdio: Columbia Pictures / Direção: Mark Robson / Roteiro: Jean Lartéguy, Nelson Gidding / Elenco: Anthony Quinn, Alain Delon, George Segal / Sinopse: Militares franceses veteranos da guerra da Indochina são enviados novamente para o campo de batalha, no norte da África, onde forças rebeldes argelinas lutam pela independência de sua nação do imperialsmo francês.

Pablo Aluísio.

domingo, 17 de janeiro de 2021

Comboio Para o Leste

Em 1943, ainda na época da II Guerra Mundial, o astro de Hollywood Humphrey Bogart atuou nesse clássico do cinema. Na época o grande receio dos navios mercantes que cruzavam os mares era a presença ameaçadora de submarinos da marinha da Alemanha nazista. Diversas embarcações foram afundadas nesse período histórico. O filme conta uma dessas histórias. Um petroleiro americano é afundado por um submarino alemão e os sobreviventes passam 11 dias no mar em uma balsa. Sua única possibilidade de salvação é o navio "Sea Witch" que está se dirigindo até o porto de Murmansk no Atlântico Norte. Esse foi o primeiro filme de Humphrey Bogart após ele realizar o maior filme de sua carreira, o clássico "Casablanca". Como se pode ver pelo enredo, Bogart ainda estava empenhado no esforço de guerra dos aliados, o que era de esperar pois o filme foi realizado em 1943 e a Segunda Guerra Mundial ainda assolava o mundo. O filme explora a chamada batalha do Atlântico Norte, quando vários navios mercantes foram afundados por submarinos alemães. Os nazistas não tinham o menor receio de atirar em navios civis, levando pessoas e cargas. Obviamente mais um crime de guerra dos seguidores de Hitler.

Nesse filme o ator Humphrey Bogart interpretou um personagem heroico que a Warner quis vender como uma espécie de "Sargento York", uma produção clássica de enorme sucesso na época. Na realidade, se formos analisar bem, pouca coisa pode ser comparada. Esse filme com Bogart tem produção bem mais modesta, fotografia em preto e branco e mostra sinais da dificuldade técnica da época em recriar as batalhas entre submarinos e a Marinha americana, que na época usava cargas de profundidade para destruir as frotas alemãs de U-Boats. Movimentado, não tenta ser o que não é, pois no fundo é uma produção de ação e aventura, com muita mensagem de patriotismo para quem estava no front de guerra. Um clássico para se divertir, acima de tudo.

Comboio Para o Leste (Action in the North Atlantic, Estados Unidos,  1943) Estúdio: Warner Bros / Direção: Lloyd Bacon, Byron Haskin / Roteiro: John Howard Lawson, Guy Gilpatric / Elenco: Humphrey Bogart, Raymond Massey, Alan Hale / Sinopse: O roteiro desse clássico dos filmes de guerra explora o afundamento de navios mercantes por parte da marinha da Alemanha nazista durante a II Guerra Mundial. Filme indicado ao Oscar na categoria de melhor roteiro original (Guy Gilpatric).

Pablo Aluísio.

O Homem Invisível

Título no Brasil: O Homem Invisível
Título Original: The Invisible Man
Ano de Produção: 1933
País: Estados Unidos
Estúdio: Universal Pictures
Direção: James Whale
Roteiro: R.C. Sherriff
Elenco: Claude Rains, Gloria Stuart, William Harrigan, Henry Travers, Una O'Connor, Forrester Harvey

Sinopse:
Baseado na obra do imortal H.G. Wells, o clássico do cinema "O Homem Invisível" conta uma história de terror e suspense. O Dr. Jack Griffin (Claude Rains), um cientista renomado, consegue encontrar a fórmula da invisibilidade. Após resolver experimentar em si mesmo a estranha substância começa a sentir os efeitos danosos que modificam não apenas seu corpo mas também sua mente que começa a se deteriorar de forma gradual.

Comentários:
Um clássico do cinema de horror americano. O filme lançado na década de 1930 ainda hoje surpreende por causa da incrível imaginação de seus realizadores. Imagine realizar uma obra como essa, naquela época distante, onde poucos eram os recursos em termos de efeitos especiais. Para contrabalancear isso há um primoroso trabalho técnico, lidando com pequenos truques de câmera e maquiagem que funcionaram excepcionalmente bem. Some-se a isso o fato do diretor James Whale ter privilegiado as tomadas de suspense e você terá uma pequena obra prima em mãos. O roteiro, baseado na clássica estória do escritor (e gênio) H.G.Wells, novamente lida com o medo dos rumos perigosos que a ciência poderia tomar. Curiosamente o enredo também explora muito bem questões como ética na ciência e os limites do conhecimento humano. O próprio cientista se torna vítima e algoz ao mesmo tempo de suas experiências. Lançado em pleno verão de 33 o filme acabou se tornando um grande campeão de bilheteria, principalmente pela garotada que lotava as sessões para curtir essa inovadora ideia. Era o nascimento da cultura pop americana, impulsionada por filmes como esse, gibis, música e literatura de bolso.

Pablo Aluísio.

sábado, 16 de janeiro de 2021

Josey Wales - O Fora da Lei

"Josey Wales - O Fora da Lei" é um clássico faroeste da carreira do ator e diretor Clint Eastwood. Na história temos o protagonista, Josey Wales (Clint Eastwood), um pequeno rancheiro que vive da terra ao lado de sua esposa e seu filho. Sua vida passa por uma tragédia pessoal quando um grupo de soldados da União entra em sua propriedade e mata sua mulher e o garoto pelo simples fato da família ser sulista do Missouri. Não contentes, ainda colocam fogo na casa do rancho. Apunhalado, Josey não consegue salvar sua amada família. Depois de recuperado, entra nas fileiras das tropas confederadas para lutar contra o exército que massacrou seus familiares. Lá cria fama de bom atirador e soldado valente. Ao final da guerra civil fica sem rumo certo. mas não entrega suas armas ao inimigo, o que faz com que seja caçado e procurado por caçadores de recompensas e oficiais do exército americano pelos lugares mais inóspitos do oeste americano."The Outlaw Josey Wales" é um ótimo western, bem acima inclusive de outros faroestes clássicos estrelados por Clint Eastwood. Seu personagem Josey Wales é muito bem escrito. Um veterano confederado que entra na guerra para se vingar das tropas federais. Se negando a se render, ele leva em frente sua própria guerra pessoal contra os soldados da União. O personagem assim funciona como um símbolo do sentimento sulista e confederado dos Estados Unidos, que com muito orgulho jamais aceitou a derrota no conflito mais sangrento da história americana.

Clint Eastwood também capricha na caracterização de seu papel, fazendo um sujeito de poucas palavras. mas rápido no gatilho que tem um hábito horrível, mas muito divertido, de sair cuspindo fumo mascado em todo lugar! Até o pobre cachorrinho que o segue pelo deserto vira alvo! Ao seu lado brilha a honesta interpretação de Chief Dan George que interpreta um velho índio, cansado de guerra, desiludido pelas mentiras contadas pelo homem branco ao longo de todas aquelas décadas. Esse foi o sexto filme dirigido por Clint Eastwood, produzido por sua própria companhia de cinema, a Malpaso Company. Impossível negar que ele já mostra uma maturidade incrível na direção, não deixando o filme cair no marasmo ou no lugar comum em nenhum momento. O roteiro escrito pelo futuro cineasta Philip Kaufman de "Os Eleitos" e "A Insustentável Leveza do Ser", entre outros, certamente ajuda muito para o belo resultado final. É um texto muito bem escrito, com ótimo desenvolvimento, sem qualquer erro em seu enredo. Mesmo cenas mais fortes como a da tentativa de estupro coletivo promovida por um grupo de comancheros em cima da personagem de Sondra Locke (que se tornaria mulher de Clint na vida real) não soam fora do contexto ou desproporcionais. Tudo está em seu devido lugar. Em suma, um grande faroeste que não pode faltar na coleção de nenhum fã do gênero. Clint Eastwood mais uma vez está perfeito no velho oeste. Não deixe de assistir.

Josey Wales - O Fora da Lei
(The Outlaw Josey Wales, Estados Unidos,  1976) Estúdio: Warner Bros, Malpaso Company / Direção: Clint Eastwood / Roteiro: Philip Kaufman, baseado no livro de Forrest Carter / Elenco: Clint Eastwood, Sondra Locke, Chief Dan George, Bill McKinney / Sinopse: Josey Wales é um homem em busca de vingança. Após a morte de sua família, de forma covarde, ele parte para se vingar de todos os que cometeram esse crime. Todos os soldados da União devem pagar. Filme indicado ao Oscar na categoria de melhor música (Jerry Fielding).

Pablo Aluísio.

sexta-feira, 15 de janeiro de 2021

Cavalgada dos Proscritos

Em 1980 chegou aos cinemas esse bom western intitulado "Cavalgada dos Proscritos". Na história o famoso criminoso do velho oeste Jesse James (James Keach) e seu irmão Frank James (Stacy Keach) resolvem formar um bando de assaltantes de bancos e trens no Missouri do século XIX, poucos meses depois do fim da guerra civil. Ao lado dos irmãos Youngers eles colocam as pequenas cidades do oeste em pavorosa. Para enfrentá-los a agência de investigação Pinkerton envia seus melhores homens. Esse é mais um filme enfocando a lendária figura do fora da lei Jesse James (1847 - 1882). O roteiro procura inovar bastante na forma como conta essa história. Assim ao invés de focar exclusivamente na figura de Jesse James, o texto procura também desenvolver os outros homens de seu bando, em especial os irmãos Youngers, que cavalgaram por muitos anos ao lado de Jesse. 

Há três grandes cenas nessa produção que merecem menção. A primeira quando o grupo fica encurralado numa casinha de madeira no pé da montanha. Cercados pelos Pinkertons eles precisam descer um desfiladeiro em debandada debaixo de uma chuva de tiros. Outra cena muito boa é o tiroteio final ocorrido nas ruas de uma cidadezinha de Minnesota. Nessa sequência em particular o estilo do diretor Walter Hill homenageia o grande Sam Peckinpah ao filmar tudo em câmera lenta, mostrando todos os mínimos detalhes da violência do confronto entre bandidos e policiais. Por fim há a cena que abre a história. Nesse momento o que é valorizado é a tensão pois o grupo está em um banco, cercado por homens da lei do lado de fora. Curiosamente o bando de Jesse James é formado por três grupos de irmãos no elenco, os Carradines (David, Keith e Robert), os Quaids (Dennis e Randy) e os Keachs (James e Stacy), tudo contribuindo para o excelente resultado final desse western que é certamente muito recomendado para os fãs do gênero.

Cavalgada dos Proscritos (The Long Riders, Estados Unidos, 1980) Estúdio: United Artists, MGM / Direção: Walter Hill / Roteiro: Bill Bryden, Steven Smith / Elenco: David Carradine, Stacy Keach, Dennis Quaid, Keith Carradine, Robert Carradine, James Keach, Stacy Keach, Randy Quaid, Nicholas Guest / Sinopse: No velho oeste americano o criminoso e pistoleiro Jesse James decide formar uma quadrilha especializada em roubos a bancos e ferrovias. Assim que os primeiros crimes são cometidos, um grupo de homens da lei começa a caçar os bandidos. Filme indicado ao Cannes Film Festival.

Pablo Aluísio.

Batalha no Riacho Comanche

Título no Brasil: Batalha no Riacho Comanche
Título Original: Gunfight at Comanche Creek
Ano de Produção: 1963
País: Estados Unidos
Estúdio: Allied Artists Pictures
Direção: Frank McDonald
Roteiro: Edward Bernds
Elenco: Audie Murphy, DeForest Kelley, Ben Cooper, Colleen Miller, Jan Merlin, Susan Seaforth Hayes

Sinopse:
Um grupo de bandidos liderados por Amos Troop (DeForest Kelley) se especializa em um crime muito engenhoso. Eles libertam da cadeia criminosos com recompensas altas e os colocam para assaltar bancos. Depois que fazem o serviço, os matam para ganhar o dinheiro prometido pela lei. Essa situação leva uma agência de combate ao crime a enviar dois agentes para investigar os assassinatos. Assim o agente Bob Gifford (Audie Murphy) se infiltra no bando para saber quem seria o autor intelectual de todos os planos executados pelos criminosos.

Comentários:
Faroeste B estrelado por Audie Murphy, também conhecido como "Fúria de Brutos". Como sempre, eram produções de orçamentos menores, feitos pelo pequeno estúdio Allied Artists, que acabaria indo à falência apenas alguns anos depois. Esse western foi salvo não pela sua produção, que é bastante modesta, mas sim pelo bom roteiro que consegue manter o interesse. O filme é curto, pouco mais de 80 minutos, mas bem desenvolvido e chama a atenção pela trama bem bolada. Audie Murphy, perto de abandonar o cinema, está um pouco fora de forma, acima de peso, mas consegue mostrar um bom desempenho em cena. Já para os fãs de "Jornada nas Estrelas" o elenco traz uma presença ilustre. O líder dos bandidos é nada mais, nada menos, do que DeForest Kelley, o Dr McCoy da nave Enterprise, da série clássica de TV. Ele está ótimo como um típico vilão do velho oeste, um sujeito que nem pensa duas vezes antes de mandar bala em todos aqueles que contrariam seus interesses criminosos. Por fim gostaria de elogiar a boa narração em off que permeia todo o enredo. O uso de um narrador ajuda o filme a ter melhor desenvolvimento, explicando em vários momentos o que se passa na trama. Uma boa opção do roteiro, que repito, é realmente bem escrito.

Pablo Aluísio.