Foi o último filme da carreira do ator Humphrey Bogart. O interessante aqui é que em seu último papel, Bogart interpretava um sujeito que após várias táticas desonestas se arrependia e procurava por redenção – algo um tanto quanto distante de todos os seus famosos papéis de personagens cínicos do passado, que viraram sua marca registrada ao longo da carreira. Afinal essa coisa de redenção pessoal era para os fracos, pelo menos do ponto de vista de sua vasta galeria de personagens interpretados ao longo de décadas de carreira em Hollywood. Não é desnecessário relembrar que nos primeiros filmes Bogart geralmente interpretava gângsters da pesada, sujeitos forjados na criminalidade, sem essa de remorso ou culpa. Eram caras durões, acima de tudo.
Em “A Trágica Farsa” Bogart interpreta o jornalista esportivo Eddie Willis que após 17 anos trabalhando em jornais da cidade se vê subitamente desempregado. Tentando sobreviver, ele procura contato dentro do mundo dos esportes e acaba se envolvendo com o promotor de lutas de boxe Nick Benko (Rod Steiger). Inicialmente Benko escala Willis como relações públicas de um jovem boxeador chamado Toro Moreno (Mike Leno) mas esse não confirma seu potencial. Visando recuperar seu dinheiro investido Benko propõe a Willis uma parceria em uma série de lutas forjadas com o único objetivo de enganar e ganhar o dinheiro de apostadores desavisados. Além de ganhar dinheiro das apostas a dupla pretende trilhar o caminho do pouco talentoso boxeador para uma luta com o atual campeão de pesos pesados em Nova Iorque o que lhes trará uma soma considerável, uma verdadeira fortuna.
O roteiro de “A Trágica Farsa” é muito bem desenvolvido e mostra sem paliativos o podre universo das lutas arranjadas dentro da liga de boxe dos Estados Unidos durante a década de 1950. No começo de tudo o personagem de Bogart se sente completamente à vontade enganando e tapeando os apostadores de lutas por onde passa, mas após a morte de um lutador ele começa a se arrepender do que está fazendo. E é justamente nesse período de crise de consciência que o filme cresce e Bogart mostra todo o seu talento. Em seu último papel o ator Humphrey Bogart explora bem sua própria decadência fisica em prol de seu papel. Ele encaminha-se para o lado do crime por não ter mais nenhum outro caminho a seguir. Velho e aparentemente ultrapassado, ele é logo jogado de lado pelo mercado de trabalho, o que de certa forma justifica seus atos ao longo do filme (embora não totalmente). ]
Foi certamente um típico caso onde a vida imitava a arte. Tão vulnerável estava Bogart durante as filmagens que o estúdio lhe pediu que voltasse para “dublar” certas passagens do filme pois sua voz estava inaudível (por pura falta de energia ao dizer suas falas). A fotografia em preto e branco e o fato da estória ser baseada na vida do promotor Harold Conrad ajudam ainda mais em seu resultado final. O filme foi lançado no Festival de Cannes de 1956 e dividiu opiniões. Para o New York Times o filme era "uma história brutal e desagradável, com toques de melancolia". De uma maneira ou outra fica a recomendação desse “A Trágica Farsa”, o último filme de um dos maiores mitos da história da sétima arte, Humphrey Bogart.
A Trágica Farsa (The Harder They Fall, Estados Unidos, 1956) Direção: Mark Robson / Roteiro: Philip Yordan baseado no livro de Budd Schulberg / Elenco: Humphrey Bogart, Rod Steiger, Jan Sterling / Sinopse: Jornalista desempregado (Humphrey Bogart) resolve entrar no submundo das lutas forjadas no mundo do boxe Americano da década de 1950. Filme indicado ao Oscar na categoria de Melhor Fotografia em Preto e Branco (Burnett Guffey). Indicado à Palma de Ouro no Cannes Film Festival.
Pablo Aluísio.
Cinema Clássico
ResponderExcluirA Trágica Farsa
Pablo Aluísio.
"Bogart durante as filmagens que o estúdio lhe pediu que voltasse para “dublar” certas passagens do filme pois sua voz estava inaudível (por pura falta de energia ao dizer suas falas"
ResponderExcluirVale lembrar aqui que o Bogart morreu de câncer na garganta, uma coisa horrível, e mais ainda para um ator.
Serge Renine.
Câncer causado pelo doentio hábito de fumar. Três maços diários. Acabou pagando um alto preço por esse vício.
ResponderExcluirFumar era muito bonito e cool e Bogart sempre foi sinônimo de cool.
ExcluirA propaganda propagou o vício e a doença. Muitos foram vitimados.
Agora que me toquei... até na foto de divulgação do filme (que está na postagem) o Bogart aparece fumando, com cigarro na mão!!! Imagine, ele estava morrendo de câncer e ainda assim não largava o cigarro... Meu Deus!!!
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