sexta-feira, 25 de setembro de 2020

O Rei dos Reis

No poster original do filme, da época de seu lançamento original, uma frase explicava bem do que se tratava. No poster estava escrito: "A história de Jesus Cristo baseada nas escrituras sagradas". É basicamente isso. Uma adaptação cinematográfica de Jesus, procurando ser bem fiel ao novo testamento. E a história de Jesus de Nazaré,, todos conhecemos. No brutal e desumano reinado de Augusto César (63 a.C. - 14 d.C) nasce uma criança na distante província romana da Judéia chamado Jesus. Sua mãe Maria e seu pai José partem então para o Egito para fugir das perseguições do tirano rei Herodes que temendo o nascimento de um Messias resolve matar todas as crianças nascidas em Belém.

De volta à pequena vila de Nazaré o jovem Jesus cresce ao lado dos pais, exercendo a profissão de carpinteiro. Já adulto, resolve partir para cumprir sua missão, a de levar o evangelho (a boa nova) aos homens de bom coração. Sua mensagem repleta de paz, amor e fraternidade, logo começa a incomodar as autoridades religiosas e políticas. Preso e torturado, é enfim crucificado nos arredores da cidade santa de Jerusalém, onde morre em agonia na cruz romana. Sepultado, volta do mundo dos mortos, ressuscitando. Glorioso, volta para mostrar aos seus apóstolos que realmente era o filho de Deus! A história de Jesus de Nazaré é certamente a mais conhecida do mundo ocidental. Em torno de seu nome foi criada a religião mais popular e abrangente do planeta com seguidores em todos os países e nações da Terra.

Trazer a trajetória de Jesus para as telas de cinemas certamente nunca foi uma tarefa fácil em razão da complexidade de se lidar com uma figura venerada ao redor do mundo. Assim, no começo da década de 1960, o produtor Samuel Bronston resolveu reunir uma grande equipe para trazer de volta o Nazareno para a sétima arte. Com locações na Espanha, roteiro do aclamado Ray Bradbury (não creditado) e Philip Yordan, trilha sonora marcante assinada por Miklos Rosza, direção do sempre talentoso Nicholas Ray (de “Juventude Transviada” com James Dean) e elenco formado por grandes nomes do cinema da época, tentou-se criar o épico definitivo sobre a vida de Jesus e sua mensagem.

O resultado é realmente de alto nível, embora também tenha alguns problemas pontuais. O filme tem três horas de duração, mas o roteiro, como era de certa forma previsível, não consegue dar conta de todos os detalhes da vida de Jesus. Algumas passagens ficaram de fora do filme, enquanto outras, menos importantes, ganharam espaço em demasia. Há fatos importantes da biografia de Jesus que são completamente ignorados. Uma deles é a revolta que o Messias teria tido no templo ao ver a casa de Deus se transformando num mercado e balcão de negócios. O espaço dado a Herodes, Salomé e a corte do Rei também soam exagerados. Barrabás também surge com espaço excessivo dentro da trama. Teria sido melhor focar mais na palavra de Cristo, nas passagens importantes que deixou aos seus seguidores.

Por outro lado há pontos excelentes no filme. Em minha opinião a escalação do ator Jeffrey Hunter foi um acerto. Ele interpreta um Jesus com imagem mais tradicional. De barbas longas, cabelo repartido ao meio e olhos azuis, é o Jesus que geralmente se encontra nas imagens mais clássicas e antigas do personagem histórico. Ele também tem o ritmo certo de declamar suas falas. E nos momentos de maior tensão não decepciona. Foi o grande papel de sua carreira e o marcou para sempre. Em termos de era de ouro do cinema americano ele foi o Jesus definitivo das telas, não há como negar. Como toda obra de arte esse filme assim apresenta erros e acertos. No saldo geral porém tudo soa como um grande filme. “O Rei dos Reis” é realmente um grande espetáculo, um épico daqueles que apenas Hollywood poderia proporcionar ao grande público. O bom gosto, a elegância e a produção luxuosa garantem o espetáculo. Um épico religioso como poucos.

O Rei dos Reis (King of Kings, Estados Unidos, 1961) Direção: Nicholas Ray / Roteiro: Philip Yordan / Elenco: Jeffrey Hunter, Siobhan McKenna, Hurd Hatfield, Rita Gam, Robert Ryan, Frank Thring, Rip Torn, Brigid Bazlen, Ron Randell, Carmen Sevilla / Sinopse: O filme narra a história de Jesus de Nazaré, homem humilde nascido na província romana da Judéia que revolucionou o mundo com sua mensagem de paz, amor e fraternidade entre os homens, surgindo de sua palavra a religião denominada Cristianismo, a mais popular e abrangente do planeta com mais de um bilhão de seguidores. Filme indicado ao Globo de Ouro na categoria Melhor Trilha Sonora Original (Miklós Rózsa).

Pablo Aluísio. 

 

O Homem do Terno Cinzento

O filme é extremamente bem feito e roteirizado. Basicamente é um retrato de um homem comum que volta da II Guerra Mundial e tenta criar sua família da melhor forma possível nos anos 1950. Ex-capitão do exército americano, Tom Rath (Gregory Peck), sente na pele os problemas após seu retorno aos Estados Unidos. Passando por dificuldades financeiras, com três filhos e uma esposa insatisfeita e infeliz (interpretada pela atriz Jennifer Jones) ele tenta administrar os problemas familiares e profissionais em meio a uma crise de identidade. O contexto histórico do filme é interessante porque enfoca o pós-guerra, quando milhares de americanos precisou se adaptar aos novos tempos.

Gostei bastante do tom da produção, pois é um filme extremamente sério e realista e não joga panos quentes na situação, principalmente quando se descobre anos depois que o capitão teria tido um filho com uma mulher italiana, na Europa, onde servia o exército. Outro aspecto curioso é a forma como é mostrada uma agência de publicidade naquela época - coisa que acabou sendo justamente o foco do seriado de grande sucesso da AMC, Mad Men. Curiosamente o filme se torna bem atual pois muitos ex-militares americanos ainda encontram dificuldades de se inserirem na vida civil após servirem anos nas forças armadas. Falta de qualificação profissional, desemprego ou subempregos ainda são bastante comum na vida dessas pessoas. Pelo visto mesmo após muitos anos a situação ainda permanece a mesma.

Outro ponto positivo de "O Homem do Terno Cinzento" é seu elenco. Gregory Peck novamente repete seu papel de homem íntegro, embora aqui haja fendas no caráter de seu personagem. Seu estilo de interpretação minimalista até hoje causa impacto. Peck era sutil e conseguia transmitir muito bem as emoções de seus personagens sem recorrer a exageros dramáticos. Já Jennifer Jones derrapa um pouco nas caras e bocas, se tornando um pouco exagerada, mas nada que comprometa o filme como um todo. Eu gosto dessa atriz, recentemente a vi em "A Canção de Bernadette" e ela sempre conseguia mostrar um bom trabalho. Aqui seu trabalho ficou um pouco comprometido. O diretor Nunnally Jonhson era na realidade um roteirista conceituado em Hollywood que ganhou a chance de dirigir alguns filmes (nenhum extremamente marcante). Isso talvez explique o alto nível do roteiro de "O Homem do Terno Cinzento" que procura sempre desenvolver todos os personagens em cena, mostrando seus dramas familiares e pessoais. Enfim, aqui temos um excelente drama dos anos 50. Um ótimo exemplo para se conhecer o que era realizado no gênero pelo cinema americano na época

O Homem do Terno Cinzento (The Man in the Gray Flannel Suit, Estados Unidos, 1956) Direção: Nunnally Johnson / Roteiro: Nunnally Johnson baseado no livro de Sloan Wilson / Elenco: Gregory Peck, Jennifer Jones e Fredric March / Sinopse: Após o fim da Segunda Guerra Mundial, Tom Rath (Gregory Peck) tenta retomar a vida normal nos Estados Unidos, mas encontra dificuldades, tanto no aspecto profissional, como também na vida familiar pois sua esposa, Betsy Rath (Jennifer Jones) apresenta problemas emocionais. Filme premiado no Cannes Film Festival.

Pablo Aluísio. 

quinta-feira, 24 de setembro de 2020

Estação Polar Zebra

Um interessante produto da guerra fria. Assim podemos definir essa produção “Estação Polar Zebra”. O filme foi um dos últimos grandes sucessos da carreira do ator Rock Hudson. Ele havia trocado de agente após longos anos. Harry Wilson o havia descoberto, transformado em um astro, mas depois de algum tempo deixou de promover adequadamente seu cliente. Com a carreira devagar, quase parando, Rock resolveu mudar tudo. Despediu Wilson, saiu da Universal, seu estúdio desde o começo de sua carreira e se tornou um ator freelancer. Ele já não era o astro campeão de bilheteria de antes e teve que correr atrás do papel. Se apresentou pessoalmente ao diretor John Sturges e pediu para fazer o filme. “Eu adoraria fazer Estação Polar Zebra” – disse abrindo o jogo. Após Sean Connery desistir do filme por ser muito parecido com seu papel na série James Bond (tudo que tinha a ver com guerra fria era logo descartado por Connery nessa época) Rock finalmente foi escalado para interpretar o comandante James Ferraday.

A produção foi realizada pela MGM, um estúdio lendário em Hollywood, mas que curiosamente Rock nunca tinha trabalhado antes, mesmo após todos aqueles anos de carreira. “Estação Polar Zebra” acabou fazendo sucesso de bilheteria reerguendo temporariamente a carreira de Rock. O filme não foi apenas importante para ele no aspecto puramente profissional, mas também no lado pessoal. Ele começou um relacionamento com o diretor de publicidade do filme, iniciando um longo affair que duraria anos (os dois chegaram inclusive a vir ao Brasil durante o carnaval de 1975, onde se divertiram como nunca). Na premiere aconteceu um fato curioso. Quando estava desfilando pelo tapete vermelho, Rock ouviu uma ofensa homofóbica dirigida contra ele vinda do público.

O ator ficou em choque pois seu homossexualismo ainda era um segredo muito bem guardado. Depois dessa experiência desagradável desistiu de comparecer pessoalmente nas estreias de seus filmes. Outro aspecto positivo foi que a crítica de uma maneira em geral gostou do que viu. O tom mais sério e concentrado da produção, procurando ser realista e pé no chão, mesmo se tratando de uma aventura passada quase toda dentro de um submarino nuclear americano, conquistou até mesmo os mais ferrenhos críticos americanos.  De fato “Estação Polar Zebra” acabou se tornando o último grande êxito comercial e de crítica da carreira de Rock Hudson. Era o fim de uma era.
 
Estação Polar Zebra (Ice Station Zebra, Estados Unidos, 1968) Direção: John Sturges / Roteiro: Douglas Heyes, baseado no livro de Alistair MacLean / Elenco: Rock Hudson, Ernest Borgnine, Patrick McGoohan / Sinopse: Comandante de um submarino nuclear americano tem que lidar com uma séria crise no ciclo polar ártico. Liderando uma perigosa missão que vai até os confins gelados do planeta, ele terá que ser bem sucedido para evitar um grave incidente diplomático com os soviéticos.

Pablo Aluísio.

Golpe de Mestre

Título no Brasil: Golpe de Mestre
Título Original: The Sting
Ano de Produção: 1973
País: Estados Unidos
Estúdio: Universal Pictures
Direção: George Roy Hill
Roteiro: David S. Ward
Elenco: Paul Newman, Robert Redford, Robert Shaw, Charles Durning, Ray Walston, Eileen Brennan

Sinopse:
Henry Gondorff (Paul Newman) e Johnny Hooker (Robert Redford) são dois vigaristas que resolvem unir suas forças e "talentos" para dar um golpe definitivo em um gângster que lhes prejudicou no passado. Filme vencedor do Oscar nas categorias de melhor filme, direção, roteiro adaptado, direção de arte, figurino, edição e música. Indicado ao Oscar nas categorias de melhor ator (Robert Redford),
direção de fotografia (Robert Surtees) e som. 

Comentários:
Dos grandes campeões do Oscar, esse "Golpe de Mestre" sempre foi um dos meus preferidos. Aqui Paul Newman e Robert Redford decidiram fazer mais um filme juntos. Eles tinham obtido grande sucesso de público e crítica com "Butch Cassidy" em 1969 e resolveram que era hora de voltar. Para isso contrataram novamente o mesmo diretor do filme anterior, o talentoso George Roy Hill. O resultado foi melhor do que poderiam imaginar. "Golpe de Mestre" foi o grande vencedor do Oscar de 1973, levando para casa nada mais, nada menos, do que sete estatuetas! Uma consagração completa. E o filme era realmente uma delícia de assistir, com um roteiro extremamente inteligente e bem escrito, mostrando os planos de um grupo de vigaristas - planos esses que não envolviam violência, mas apenas inteligência e sagacidade. Um aspecto interessante dessa história é que ela foi mesmo inspirada em um fato real que aconteceu no século XIX, no interior dos Estados Unidos. Usando de aparências, cenários e muita lábia, esses trambiqueiros conseguiram mesmo enganar muita gente. Outro ponto digno de nota vem da trilha sonora incidental assinada por Marvin Hamlisch. Essas melodias vão grudar em sua mente por anos e anos. Enfim, grande obra-prima da história do cinema. Um dos melhores já feitos com esse temática.

Pablo Aluísio.

quarta-feira, 23 de setembro de 2020

Aeroporto 79 - O Concorde

Mais um filme da longa franquia cinematográfica “Aeroporto”. Aqui a grande estrela não é o elenco de veteranos como aconteceu nos filmes anteriores, mas sim o próprio avião, o Concorde, uma aeronave de tripulantes que ficou famosa por sua velocidade, conseguindo fazer um vôo entre Paris e Nova Iorque em menos de três horas. Na época que essa produção foi lançada, o Concorde era o que de mais avançado existia em termos de aviação comercial no mundo. Um jato de linhas modernas e aerodinâmica arrojada, que infelizmente se mostrou ser um desastre comercial nos anos que viriam. Os preços das passagens eram caros demais, fora do alcance de passageiros de classe média,que sempre formaram a maior parte dos consumidores dos vôos comerciais. Além disso, seu custo de operação era muito alto, tornando inviável muitos vôos semanais entre Estados Unidos e a Europa. Há poucos anos o Concorde foi oficialmente aposentado, principalmente após um terrível acidente em que uma das turbinas pegou fogo em pleno ar, matando todos os passageiros e tripulantes. 

Já o filme, bem, qualquer desastre que tenha acontecido com o Concorde na vida real não pode nem ser comparado com a sucessão de desastres pelos quais passa o avião aqui. Apesar de uma certa euforia pela máquina em si, os roteiristas capricharam bem no fator "disaster movie" que era afinal o principal atrativo para esse estilo de filmes, que passaria a ser chamado no Brasil de "cinema catástrofe". O enredo é relativamente simples. Uma jornalista acaba conseguindo uma série de documentos que incriminam um rico industrial americano chamado Kevin Harrison, interpretado pelo ator Robert Wagner. A papelada prova que ele, através de suas indústrias, vendeu sistematicamente armas para governos corruptos e grupos terroristas ao redor do mundo. A repórter que está no avião pretende revelar tudo assim que chegar em Moscou. Para impedir sua divulgação o magnata decide derrubar o Concorde em pleno vôo durante sua viagem de Nova Iorque até Moscou.

Para concretizar seus planos ele literalmente tenta de tudo: mísseis, sabotagem e até mesmo uso de armas de última geração para levar ao chão o majestoso avião. O piloto do Concorde, Capitão Paul Metrand, é interpretado por um dos maiores galãs da história do cinema europeu, o astro francês Alain Delon. Já a atriz Sylvia Kristel, da série erótica Emmanuelle, atua como Isabelle, uma das aeromoças da aeronave. No campo dos efeitos especiais temos altos e baixos, pois boas cenas são intercaladas com montagens constrangedoras de tão mal feitas. É o preço pela passagem do tempo. No final de tudo temos um entretenimento com muitos absurdos de lógica e argumento, mas que diverte, caso o espectador deixe de reparar nos inúmeros furos do roteiro. De forma geral, apesar de tudo, o filme ainda consegue ser um dos mais originais da série "Aeroporto".

Aeroporto 79 - O Concorde (The Concorde... Airport '79, Estados Unidos, 1979) Direção: David Lowell Rich / Roteiro: Jennings Lang baseado na novela de Arthur Hailey / Elenco: Alain Delon, Susan Blakely, Robert Wagner, Sylvia Kristel, George Kennedy / Sinopse: Durante um vôo entre Nova Iorque e Moscou, um avião Concorde se torna alvo de um industrial poderoso que decide derruba-lo a todo custo. Ele quer evitar que seus casos de corrupção venham à tona. As provas se encontram com uma jornalista que está viajando no moderno avião de passageiros.

Pablo Aluísio.  

No Mundo de 2020

Título no Brasil: No Mundo de 2020
Título Original: Soylent Green
Ano de Produção: 1973
País: Estados Unidos
Estúdio: Metro-Goldwyn-Mayer (MGM)
Direção: Richard Fleischer
Roteiro: Stanley R. Greenberg, Harry Harrison
Elenco: Charlton Heston, Edward G. Robinson, Chuck Connors, Leigh Taylor-Young, Mike Henry, Joseph Cotten

Sinopse:
O mundo vive um período de trevas e crises em 2020. Há fome, violência e morte em massa da população mundial. No mundo devastado pelo efeito estufa e pela superpopulação, um detetive da polícia de  Nova Iorque começa a investigar o assassinato de um CEO de uma grande empresa.

Comentários:
Acredite, esse filme existe! Em 1973 foi lançado um filme de ficção chamado "No Mundo de 2020"! E como eles imaginavam o mundo de 2020 na década de 1970? Não muito bem! O futuro do filme (nosso presente agora) era retratado como um mundo em caos completo. Havia uma superpopulação mundial faminta, uma crise econômica absurda e muitas mortes causadas pelo efeito estufa que havia enlouquecido o clima no planeta! Sinceramente... não erraram em muita coisa - na verdade acertaram de forma assustadora em vários aspectos. A única coisa em que falharam foi que não previram a pandemia mundial, mas aí, vamos ser sinceros, seria pedir demais! É um filme B e como tal está mais preocupado em contar seu enredo policial envolvendo um assassinato e o segredo de uma grande empresa. Uma crítica contra as grandes corporações que eles entendiam que iriam dominar a economia global. A trama policial não é grande coisa, porém quando o roteiro sai desse foco e mostra o que está acontecendo no mundo lá fora a coisa realmente impressiona. As ruas de Nova Iorque estão todas tomadas por protestos violentos e pasmem, alguns manifestantes chegam a usar máscaras para o enfrentamento com a polícia! Mas afinal, quem foi o profeta moderno que escreveu esse roteiro mesmo?

Pablo Aluísio.

terça-feira, 22 de setembro de 2020

Duna

Certa vez o diretor David Lynch disse em uma entrevista que tinha orgulho de todos os filmes que havia dirigido ao longo de sua carreira... menos de Duna! Pois é, renegado pelo próprio Lynch, essa ficção baseada na obra escrita por Frank Herbert continua a ser alvo de ódios e paixões. O que deu errado? No meu ponto de vista o maior problema aqui foi que Lynch simplesmente não conhecia e nem chegou a dominar direito o livro original. Assim ele meio que foi às cegas para o trabalho, sem se dar conta que o livro, ou melhor dizendo, a série de livros de Duna, tinha um grande número de fãs e admiradores. E foram justamente os leitores dos livros que mais se decepcionaram com esse filme.

Eu entendo bem esse tipo de sensação. Havia tanta coisa para trazer das páginas da literatura para o cinema que simplesmente ficou impossível adaptar direito, fazer essa transposição. O universo de Duna nos livros é cheio de detalhes, com dinastias, religiões, culturas próprias. No filme tudo é meio que jogado na cara do espectador. É o típico caso de um roteiro que não conseguiu dar conta daquilo que estava sendo adaptado. Aliás é bom dizer que o ritmo do filme surge ora truncado, mal editado, ora com pressa, para terminar logo tudo na base da correria. Ficou ruim, vamos ser bem sinceros. E as brigas do diretor com o produtor Dino De Laurentiis só serviu para piorar tudo. O que já era ruim, ficou ainda mais medonho.

Se o filme não apresenta um bom roteiro, pelas razões que já escrevi, pelo menos há boas ideias na direção de arte, figurinos, cenários, etc. Duna tem um estilo visual bem próprio, que procurava ser original. Em termos de efeitos especiais há algo curioso. Os efeitos que reproduzem as naves espaciais ficaram absurdamente datadas e envelhecidas. Vistas hoje em dia soam simplesmente horríveis. Por outro lado os vermes gigantes que se arrastam pelas areias do planeta Duna ainda convencem, mesmo após tantos anos. Pena que nada poderia salvar as cenas em que o protagonista literalmente monta nos bichanos, como se fosse um cavalo espacial. O problema aqui é do material original e não do filme propriamente dito. Sim, é ridículo, mas culpem o escritor, não David Lynch por esses momentos constrangedores.

Duna não foi um sucesso comercial. Considerada uma produção cara demais para a época (algo em torno de 40 milhões de dólares) o filme não trouxe retorno para seus produtores, o que ajudou a afundar ainda mais a  Dino De Laurentiis Company. As brigas no set de filmagens e os problemas de finalização do filme se tornaram lendários e acabaram mais conhecidos do que o filme em si, já que poucas pessoas foram ao cinema conferir o resultado final. Agora teremos uma nova versão, dirigida pelo competente Denis Villeneuve. Será que dessa vez vai dar certo? Não sabemos ainda, mas é curioso saber que essa segunda versão também tem enfrentado diversos problemas no set de filmagens e pós-produção. Para tornar tudo ainda pior há a questão da pandemia que jogou o filme para uma data ainda incerta. Pelo visto adaptar Duna para o cinema nunca vai ser mesmo algo fácil de se fazer.

Duna (Duna, Estados Unidos, Itália, México, 1984) Direção: David Lynch / Roteiro: David Lynch / Elenco: Kyle MacLachlan, Virginia Madsen, Patrick Stewart, Francesca Annis, Linda Hunt, Brad Dourif, Silvana Mangano, Kenneth McMillan, Sting / Sinopse: No distante e desértico planeta de Duna, uma especiaria é especialmente valorizada, considerada a maior fonte de riquezas do universo. Duas dinastias começam a lutar pelo controle daquele mundo, ao mesmo tempo em que o jovem Paul Atreides vai se firmando como o líder profetizado que iria trazer liberdade e paz para aquele lugar perdido do universo. Filme indicado ao Oscar na categoria de melhor som.

Pablo Aluísio. 

Casanova e a Revolução

Mais uma excelente obra do mestre Ettore Scola. Aqui ele foca suas câmeras para o período da revolução francesa. A trama se passa exatamente dois anos depois da queda da Bastilha. O antigo regime veio abaixo e com ele toda a antiga nobreza, que da noite para o dia perdeu sua importância e relevância dentro da sociedade francesa. Muitos decidem fugir para fora das fronteiras francesas, como medo da morte. Os que ficaram acabaram mesmo na guilhotina. Os revolucionários franceses queriam sangue para lavar a bandeira da França com a morte daqueles que, em seu modo de ver, tinham destruído a nação. E entre os nobres que são atingidos por essa nova realidade está justamente o outrora famoso Giacomo Girolamo Casanova (Marcello Mastroianni). Amante lendário, escritor, poeta, ocultista e nobre, Casanova agora não passa de uma sombra de sua própria celebridade do passado. Envelhecido, decadente e empobrecido, o famoso personagem segue viagem numa pequenina carruagem quando essa quebra no meio da estrada. Para socorrê-lo uma diligência que vinha logo atrás o acolhe. Nela viajam uma ex-dama de companhia da rainha (interpretada pela bonita e talentosa Hanna Schygulla), um escritor subversivo, um burguês rico, dono de vastas propriedades, uma artista italiana de teatro e um intelectual plenamente convencido das virtudes do novo regime, apoiado nas idéias iluministas dos grandes escritores e filósofos da época.

A estrutura do roteiro é genial pois o cineasta Ettore Scola coloca as várias partes da sociedade francesa da época sendo representadas por cada um dos personagens que desfilam pela tela. O mais interessante deles é obviamente Casanova. Muitos filmes já foram realizados com o mitológico conquistador mas esse é um dos mais interessantes, pois foca no lado mais humano do homem, que vê seu mundo desmoronar enquanto tenta utilizar seu passado de glórias como muleta para sobreviver dia a dia. Frequentador das grandes cortes francesas (como Luis XV e Luis XVI) ele agora não tem mais para onde ir, pois seu ambiente natural, as luxuosas e extravagantes festas da nobreza, simplesmente deixaram de existir. Casanova foi então atropelado pela roda da  história, pelas mudanças radicais que aconteceram em sua época.

Para coroar ainda mais essa bela produção, Ettore Scola tira da cartola uma parte da história que é das mais interessantes: a tentativa de fuga de Luis XVI da França. Ao lado da esposa Marie Antoinette, o rei francês tenta escapar das garras da revolução e acaba cruzando caminho com os personagens do filme. O resultado é excelente sob qualquer ponto de vista que se abrace, seja do puro entretenimento, seja do interesse histórico dos acontecimentos narrados pelo filme. Historicamente correto, com ótimas atuações (em especial Marcello Mastroianni como Casanova) e uma direção brilhante, esse filme já é considerado um clássico moderno do cinema europeu pelos especialistas. Não deixe de assistir ou, melhor ainda, de ter em sua coleção de filmes.

Casanova e a Revolução (La nuit de Varennes, França, Itália, 1982) Direção: Ettore Scola / Roteiro: Sergio Amidei, Ettore Scola / Elenco: Marcello Mastroianni, Hanna Schygulla, Harvey Keitel, Jean-Louis Barrault / Sinopse: Após a revolução francesa, o decadente Casanova tenta se adaptar aos novos tempos. Após se socorrido por uma diligência no meio de uma estrada, ele é levado até uma cidade na fronteira da França onde o rei Luis XVI tenta escapar da ira dos revolucionários franceses. Indicado a Palma de Ouro em Cannes.

Pablo Aluísio.

segunda-feira, 21 de setembro de 2020

Tarde Demais

Um dos filmes românticos mais lembrados da carreira de Montgomery Clift e Olivia de Havilland, aqui em elogiada atuação que inclusive lhe garantiu o Oscar de Melhor Atriz naquele ano. Ela interpreta Catherine Sloper, uma moça que não parece atrair muito a atenção dos homens. Sem muitos atrativos, pouco bela e até desajeitada, ela fica longe do ideal romântico de sua época. Filha de um rico homem de negócios, ela acaba conhecendo em uma festa o bem apessoado Morris Townsend (Montgomery Clift). Ele parece ser o tipo ideal que uma garota como ela poderia almejar como namorado e quem sabe, um dia, seu futuro marido. O jovem com ares de galã acaba suprindo o vazio em sua vida sentimental. Não demora muito e Catherine logo fica perdidamente apaixonada por ele. Ao saber do breve romance da filha, seu pai fica obviamente enfurecido, uma vez que percebe as verdadeiras intenções de Morris, que no fundo parece querer apenas a rica herança de sua jovem. Para ele o amor de sua filha seria na verdade apenas um aproveitador, um “caçador de dotes”. A não aprovação do pai logo torna a situação tensa e conflituosa. Seria uma visão verdadeira da situação ou apenas mais um caso de preconceito social, já que o personagem de Clift não teria o mesmo dinheiro que o pai de sua jovem namorada?

Por amar muito Morris, a garota então decide romper com o pai para fugir com o amado. O pai imediatamente a deserda de toda a herança. Morris ao saber disso, simplesmente vai embora deixando a jovem destruída emocionalmente para trás. Teria ele fugido por medo, covardia da reação do pai de Catherine ou seria simplesmente o ato de um interesseiro, um golpista do baú? Anos depois, com o falecimento do pai, Catherine se torna finalmente a única herdeira de uma grande fortuna. Para sua surpresa nesse momento sua grande paixão do passado, Morris, reaparece. E agora, dará ela uma segunda chance ao homem que tanto amou?

“Tarde Demais” é uma excelente produção de época, que revive a alta sociedade americana do século XIX. Embora Olivia de Havilland esteja soberba como Catherine, o filme pertence mesmo a Montgomery Clift. Seu personagem, Morris, é muito rico em nuances psicológicas. A todo o tempo o espectador fica perdido, sem saber se ele é de fato um aproveitador ou apenas um homem fraco que não agüentou a pressão do pai de Catherine. O cineasta William Wyler também esbanja elegância e sofisticação nessa adaptação do famoso livro escrito por Henry James. Em suma, eis aqui um dos melhores filmes românticos de Hollywood em sua fase de ouro, em sua fase clássica. Uma obra prima do gênero.

Tarde Demais (The Heiress, Estados Unidos, 1949) Direção: William Wyler / Roteiro: Ruth Goetz, Augustus Goetz, baseados na obra de Henry James / Elenco: Olivia de Havilland, Montgomery Clift, Ralph Richardson, Miriam Hopkins / Sinopse: Rica herdeira fica em um grande dilema após o seu pai desaprovar o romance com o grande amor de sua vida! Filme vencedor do Oscar nas categorias de Melhor atriz (Olivia de Havilland), Melhor direção de arte, Melhor figurino e Melhor trilha sonora. Indicado ainda ao Oscar nas categorias de Melhor Filme, Direção, Ator Coadjuvante (Ralph Richardson) e Melhor Fotografia. Vencedor do Globo de Ouro na categoria de Melhor Atriz (Olivia de Havilland).

Pablo Aluísio.

Inimigos à Força

Esse foi o último western da carreira do ator Rock Hudson. Seu filme anterior no gênero, “Jamais Foram Vencidos” com John Wayne, fez bonito nas bilheterias assim Hudson acabou voltando para uma despedida final. Aqui ele contracena com o também veterano das telas Dean Martin. O ex-parceiro de Jerry Lewis interpreta Billy Massey, um rancheiro arruinado financeiramente que participa de um roubo ousado. Disfarçado de xerife, ele rende os passageiros de um trem enquanto seus comparsas roubam todos os viajantes e o cofre da locomotiva. Após o crime foge para as montanhas. Em seu encalço vai o verdadeiro xerife da região, Chuck Jarvis (Rock Hudson), que promete aos cidadãos da cidade que vai capturar e levar para a prisão o fora-da-lei. O problema surge após a descoberta da verdadeira identidade do criminoso, pois esse cresceu ao seu lado, foram amigos de infância e tudo acaba se tornando muito doloroso pois ele no fundo não deseja causar qualquer mal ao seu antigo amigo do passado. Surge assim um conflito interno no xerife, pois ao mesmo tempo em que ele precisa fazer cumprir a lei, ele também não quer causar qualquer mal ou dano ao fugitivo.

“Inimigos a Força” também foi um dos últimos trabalhos de Rock Hudson no cinema. Em 1973 ele já havia acumulado vários filmes que não foram bem sucedidos nas bilheterias. Ele deixou de ser um nome viável para grandes produções. Com vasto bigode, visual que iria adotar nos anos seguintes, Rock ainda tentava mostrar força no mundo do cinema, mas pelo visto não deu muito certo pois em pouco tempo ele estrearia na TV com a série “McMillian e Esposa”. O mesmo se pode dizer de seu colega em cena, Dean Martin, que surge já bastante debilitado pelos anos e anos de alcoolismo. O mundo do cinema já não parecia o lugar ideal para a dupla veterana. Assim como Hudson, Dean Martin também iria para a TV, onde apresentaria seu próprio programa de variedades.

De qualquer forma, mesmo se despedindo do cinema, essa dupla de atores conseguiu manter o pique da estória, principalmente nas melhores cenas do filme. Entre elas destaco o desfecho do filme, todo passado em uma floresta incendiada. Já nas cenas mais dramáticas, Dean Martin deixava um pouco a desejar. Numa cena em especial, ao lado da atriz Susan Clark, fica bem nítido seu problema com bebidas. Embora o personagem não esteja bêbado, a voz pastosa e sem firmeza de Martin dá a entender ao espectador que ele fez a cena completamente embriagado. Após um corte, ele já surge bem melhor, mostrando que o diretor provavelmente interrompeu as filmagens para o ator se recuperasse do porre! Mesmo com esse pequenos “desvios”, vamos dizer assim, “Inimigos à Força” é um bom faroeste da década de 1970. Nada brilhante, nada marcante demais, mas eficiente dentro de sua proposta na época em que o filme chegou nos cinemas.

Inimigos à Força (Showdown, Estados Unidos, 1973) Direção: George Seaton / Roteiro: Theodore Taylor, Hank Fine / Elenco: Rock Hudson, Dean Martin, Susan Clark / Sinopse: Após longos anos, dois amigos de infância se reencontram em lados opostos da lei. Um deles se torna um foragido perigoso após roubar um trem e o outro se torna um xerife disposto a tudo para cumprir a lei.

Pablo Aluísio. 

domingo, 20 de setembro de 2020

Harper, O Caçador de Aventuras

“Harper, o Caçador de Aventuras” é um filme da década de 60 com o sabor das antigas produções dos anos 40. O enredo é recheado de mulheres fatais, personagens dúbios, complexos e tramas praticamente indecifráveis. Como sempre acontecia naqueles antigos filmes o começo é relativamente simples mas conforme vai avançando a estória e as questões vão se revelando tudo começa a se tornar mais complicado. Seguir o fio da meada sem se perder é um desafio para os espectadores. Aqui Paul Newman interpreta um detetive particular cínico que é contratado pela esposa de um milionário desaparecido para encontrá-lo. Como sempre acontecia nos antigos roteiros da década de 40 aqui também temos muitas reviravoltas, muitas surpresas. Nenhum personagem é totalmente bom ou mal. Todos têm algo a esconder e a solução final desvenda todos os mistérios, não sem antes deixar muitas pistas falsas pelo caminho. O personagem Harper veio da literatura. Baseado no livro de “The Moving Target” do autor Ross Macdonald seu nome foi alterado para o filme por razões comerciais. De certa forma foi a solução encontrada pelo estúdio Warner para escalar seu astro Paul Newman em um filme que apesar de ser inspirado nos antigas produções noir bebia também da fonte da imensa popularidade da franquia James Bond.

Paul Newman está muito à vontade no papel de Harper. Mascando um chiclete atrás do outro ele se mostra bem cool e parece se divertir no papel. O bom resultado comercial do filme garantiria a ele um retorno ao mesmo personagem em “A Piscina Mortal” alguns anos depois. O elenco de apoio é todo bom. Lauren Bacall que interpreta a esposa do milionário desaparecido está especialmente cínica e mordaz. Viúva do mito Humphrey Bogart ela já tinha muita experiência nesse tipo de papel fatal. A personificação que me causou mais surpresa porém foi a da atriz Shelley Winters. Antigo sex symbol da década de 40 e 50 ela aqui se despe de sua vaidade para surgir como uma atriz decadente e deprimida, cujos tempos de fama há muito foram deixados para trás. Frustrada e sem esperança ela apenas existe, tentando viver um dia de cada vez. Winters está maravilhosa em sua atuação, muito marcante, digna de aplausos. Enfim, “Harper, o Caçador de Aventuras” é bem interessante e bem desenvolvido. É um tipo de filme onde a ação é mais intelectual (fica-se o tempo todo tentando descobrir o paradeiro do desaparecido) mas que vale a pena assistir, principalmente para quem gosta de desvendar charadas nesse tipo de roteiro.

Harper, O Caçador de Aventuras (Harper, Estados Unidos, 1966) Direção: Jack Smight / Roteiro: William Goldman baseado no livro de Ross Macdonald / Elenco: Paul Newman, Lauren Bacall, Julie Harris, Janet Leigh,  Robert Wagner,  Shelley Winters / Sinopse: Harper (Paul Newman) é um detetive contratado por uma mulher (Lauren Bacall) para encontrar seu marido desaparecido. O que parece ser algo simples acaba se revelando uma trama complexa e de difícil solução.

Pablo Aluísio. 

O Invencível

Kirk Douglas teve uma das filmografia mais longas e produtivas da história de Hollywood. São 92 filmes, onde o ator ao longo de cinco décadas de carreira, mostrou todo o seu talento, indo do drama à comédia, dos filmes de guerra aos filmes de western. Tudo realizado com grande talento e empenho profissional. Um de seus grandes filmes foi esse "O Invencível" de 1949, onde chegou inclusive a ser indicado ao Oscar de melhor ator. Muitos na época acreditavam que Kirk Douglas era o favorito ao prêmio, mas como em termos de Academia tudo pode acontecer, ele não levou a estatueta para casa. Claro, foi decepcionante para ele que apareceu na festa bem animado, mas não deu, Kirk não se tornou o escolhido daquela noite. Nesse filme Kirk Douglas interpretou um esportista conhecido como Midge, um sujeito de origem humilde que começa a subir na carreira de lutador de boxe. Conforme cresce e se torna uma figura importante no mundo esportivo, ele começa a esquecer todos aqueles que lhe ajudaram nessa longa caminhada. Abandona a mulher que fez tudo por ele e começa a ignorar parentes e amigos dos duros anos da pobreza. Como se vê é um personagem complicado de se interpretar, uma vez que na verdade se trata de um sujeito de caráter duvidoso, que acaba se deslumbrando com a sua própria fama e sucesso.

Para muitos especialistas na biografia de Kirk Douglas esse foi um dos filmes definitivos de sua carreira, pois o alçou para o estrelado. Não é para menos pois Kirk está completamente à vontade no papel do inescrupuloso Midge, uma pessoa que fica embriagada com seu próprio êxito nos ringues. O filme tem um clima noir dos mais marcantes, com belo uso da fotografia preto e branco, obviamente inspirado no cinema alemão da época. As cenas de lutas são extremamente bem editadas, o que valeu o Oscar de melhor montagem para o filme naquele ano. Até porque uma luta de boxe no cinema exigia emoção e nada melhor do que uma boa edição para realçar ainda mais esse aspecto.  

A atriz Marilyn Maxwell (grande amiga pessoal de outro astro da época, Rock Hudson) está perfeita no papel de Grace. Curiosamente o filme teria problemas anos depois no auge da chamada "Caça às Bruxas" pois o roteiro foi considerado o símbolo perfeito do sentimento subversivo que havia sido acusado o cinema americano daqueles anos. O roteirista Carl Foreman acabou sendo acusado de ser comunista e entrou para a lista negra. Bobagem paranoica, tipicamente da mentalidade débil mental do Macarthismo. Deixe tudo isso de lado, "O Invencível" é um perfeito retrato das mudanças de um homem que não conseguiu mais separar seu sucesso profissional de sua vida pessoal. Não se trata de uma ode à ideologia socialista. Assim fica a recomendação para os fãs do cinema noir da década de 1940, pois "Champion" é sem dúvida uma grande obra cinematográfica daquele período histórico do cinema americano.

O Invencível (Champion, Estados Unidos, 1949) Direção: Mark Robson / Roteiro: Carl Foreman, Ring Lardner / Elenco: Kirk Douglas, Marilyn Maxwell, Arthur Kennedy / Sinopse: Boxeador (Douglas) começa a colecionar vitórias nos ringues ao mesmo tempo em que começa a esquecer todos aqueles que o ajudaram a subir na carreira. O destino porém lhe reservará uma grande lição de vida. Filme vencedor do Oscar nas categorias de melhor edição (Harry Gerstad). Também indicado nas categorias de melhor ator (Kirk Douglas), melhor ator coadjuvante (Arthur Kennedy), melhor roteiro (Carl Foreman), melhor direção de fotografia em preto e branco (Franz Planer) e melhor música (Dimitri Tiomkin). Filme vencedor do Globo de Ouro na categoria de melhor direção de fotografia em preto e branco (Franz Planer).

Pablo Aluísio.

sábado, 19 de setembro de 2020

Médica, Bonita e Solteira

Depois do sucesso dos filmes estrelados por Rock Hudson e Doris Day, as produções românticas do cinema americano nunca mais foram as mesmas. Que o diga esse simpático "Médica, Bonita e Solteira" que tentava seguir pelo mesmo caminho. E o que exatamente esses filmes tinham de diferente? Na década de 1950 os filmes sobre relacionamentos eram extremamente românticos, melosos, puxando para o melodramático. Uma ingenuidade só! Já na década de 1960 eles se tornaram bem mais picantes, cínicos e bem humorados. A nova posição da mulher dentro da sociedade já não comportava aquela heroína bobinha dos antigos filmes, onde a mulher geralmente ficava sonhando acordada com o aparecimento do príncipe encantando com sua armadura reluzente e brilhante. Aqui temos um exemplo de personagem feminino que já era independente e não precisava de um casamento para se firmar dentro da sociedade. 

A protagonista desse filme se chamava Helen Brown (Natalie Wood), uma mulher independente, bem sucedida, que não precisa de um relacionamento com um homem para se tornar feliz. Em vista disso ela resolve escrever um livro contando sua forma de entender a nova realidade feminina de seu tempo. O livro se torna um grande sucesso de vendas, o que desperta a curiosidade do jornalista Bob Weston (Tony Curtis), que deseja descobrir todos os mais íntimos segredos por trás da imagem da autora do livro. Já deu para perceber que apesar das intenções nada louváveis de Bob ele vai acabar se apaixonando por Helen, pois afinal ela evita de todas as formas se tornar mais uma presa na enorme lista de conquistas do charmoso jornalista. A Warner investiu pesado nesse filme, até porque tinha a intenção de ganhar esse rico nicho de mercado das comédias românticas mais ousadas da década de 1960. Para isso não mediu esforços, colocando como meros coadjuvantes grandes nomes de Hollywood como por exemplo  Henry Fonda e Lauren Bacall. O filme é divertido, não há como negar, mas também fica muito longe de repetir os bons roteiros da dupla Hudson / Day. 

Apesar do carisma dos atores Tony Curtis e Natalie Wood, o filme não conseguiu cumprir todas as expectativas simplesmente porque em 1964 ele já foi considerado sem novidades,  já que o assunto já tinha sido exaurido nos filmes da Universal com Doris Day e Rock Hudson. De qualquer maneira vale ser redescoberto. Que o diga os produtores em Hollywood que se inspiraram nele para realizar "Abaixo o Amor" com Renée Zellweger e Ewan McGregor, uma homenagem bem humorada a esses antigos filmes. Assista aos dois filmes e compare. No mínimo você terá uma boa diversão.  

Médica, Bonita e Solteira (Sex and the Single Girl, Estados Unidos, 1964) Direção: Richard Quine / Roteiro: Helen Gurley Brown, Joseph Heller / Elenco: Tony Curtis, Natalie Wood, Henry Fonda, Lauren Bacall / Sinopse: Jornalista decide descobrir todos os segredos de uma bem sucedida autora feminista. Ela resolve escrever um livro sobre relacionamentos, trazendo a visão da mulher moderna, que não precisa mais de um marido para se firmar dentro da sociedade ou ser feliz em sua vida pessoal.

Pablo Aluísio.

O Marujo Foi Na Onda

Jerry Lewis começou a carreira se apresentando em pequenas espeluncas de Nova Iorque em troca de alguns trocados e só viu sua sorte mudar quando se uniu a um cantor desconhecido que também estava tentando abrir as portas do sucesso. Era Dean Martin. Eles criaram então um número perfeito. Um cantor galã que tentava se apresentar com todo o glamour e romantismo possível enquanto era atrapalhado por um pateta que fazia as maiores confusões. Esse novo show lhes trouxe mais público, melhores lugares para se apresentar e finalmente lhes abriram as portas do mundo do cinema. Foi o produtor Hall B. Wallis que deu as melhores oportunidades para a dupla Martin / Lewis na Paramount. Esse produtor tinha uma visão incrível pois ele sabia que o que fazia sucesso nos palcos poderia também muito bem fazer sucesso nas telas de cinema. Assim ele conseguiria ótimas bilheterias com a dupla e repetiria a dose anos depois ao acreditar em um jovem roqueiro que estava fazendo muito sucesso com seus shows ao vivo! O nome dele? Elvis Presley.

Pois bem, mas voltamos a Lewis e Martin. Esse “O Marujo foi na Onda” foi um dos primeiros filmes da dupla na Paramount. Rodado ainda em preto e branco a película seguia por uma fórmula que se tornaria sucesso absoluto de bilheteria nos anos que viriam. O roteiro é de certa forma uma repetição do que havia sido usado com muito sucesso em “O Palhaço do Batalhão” onde Jerry Lewis ia para o exército dando origem a muitas confusões. Aqui se trocou o exército pela marinha e repetiu-se o que havia dado tão certo antes, ou seja, muitas cenas divertidas, intercaladas com momentos musicais românticos a cargo de Dean Martin, que apresentava suas músicas entre uma palhaçada e outra de Lewis. O filme tem aquele clima bem leve, descontraído, que tentava agradar ao público que ia ao cinema apenas em busca de uma diversão bem humorada e descompromissada. 

Por fim um aspecto muito curioso sobre “O Marujo Foi na Onda”: nesse filme, no meio de tantos figurantes anônimos, surge um que se tornaria um dos maiores mitos da história do cinema alguns anos depois, o ator James Dean. Ela faz uma pequena ponta não creditada na cena da luta de boxe de Jerry Lewis. Ele era então apenas um jovem tentando a sorte em Hollywood e deu graças a Deus quando ganhou esse pequeno e quase imperceptível papel. Curiosamente anos depois Dean confessaria que no dia das filmagens havia tomado um milk shake estragado e que por isso quase vomitou em cima de Jerry Lewis. Uma pena não ter acontecido pois se encaixaria perfeitamente no enredo maluco do filme!  

O Marujo Foi Na Onda (Sailor Beware, Estados Unidos, 1952) Direção: Hal Walker / Roteiro: James B. Allardice, Martin Rackin / Elenco: Dean Martin, Jerry Lewis, Corinne Calvet, James Dean (não creditado) / Sinopse: Melvin (Jerry Lewis) e Al (Dean Martin) acabam entrando na marinha americana, sendo enviados para os mares do sul, o que dará origem a várias confusões.

Pablo Aluísio.

sexta-feira, 18 de setembro de 2020

São Francisco de Assis

"Vês a minha Igreja, Francisco? Está em ruínas! Vá e a reconstrói" - foram essas as palavras que Giovanni di Pietro di Bernardone (1182 - 1226) teria ouvido em uma de suas visões. Jovem, filho de um rico comerciante de Assis, que até aquele momento levava uma vida mundana, Francisco (um nome carinhoso dado a ele por sua própria família por causa de sua admiração pela cultura francesa) resolveu abandonar tudo, riqueza, dinheiro e poder para se dedicar a uma missão que marcaria não apenas sua própria vida, mas a do mundo em geral. Hoje ele é conhecido como São Francisco de Assis, um dos mais populares santos da rica tradição da Igreja Católica, mas naqueles tempos obscuros ele era apenas um jovem que resolveu seguir à risca o exemplo de Jesus Cristo. Adotou a pobreza, a caridade e a castidade como ideais de vida e resolveu transformar sua própria vida em uma demonstração viva do próprio evangelho. Sua pequena ordem foi considerada revolucionária em todos os aspectos. Enquanto os monges da época se enclausuravam em mosteiros de díficil acesso, alienados do mundo, Francisco e seus seguidores adotaram a pregação peregrina, indo a cidades e vilas distantes, levando a palavra e os ensinamentos de Jesus a todos, vivendo da caridade, sem ter qualquer bem material. Também foi pioneiro no carinho pelos animais e demais criaturas terrenas. A pequena ordem que fundou, os Franciscanos, até hoje é um das mais importantes ordens religiosas do mundo. Sua mensagem de paz e simplicidade tocou fundo o coração dos homens e Francisco é nos dias atuais tão importante e atual quanto era no século XIII.

De fato é impossível relatar uma vida tão rica em apenas um filme. Por isso esse "São Francisco de Assis", deve ser analisado com extrema cautela. É de se louvar o esforço do excelente diretor Michael Curtiz (o mesmo de "Casablanca") em dirigir esse épico religioso dessa magnitude no final de sua vida. Foi o último filme inteiramente dirigido por ele (já que no seguinte seu trabalho foi concluído por John Wayne, por causa de seu precário estado de saúde). Não há como negar que o resultado ficou muito bonito e principalmente respeitoso com o eterno legado de Francisco. Michael Curtiz merece todo o reconhecimento por mais um filme muito bom.

Mesmo assim não se poder negar que trechos importantes da vida do santo também foram ignorados ou mudados para se adequar melhor no pequeno espaço de tempo disponível. É um problema sem solução. Como escrevi, é simplesmente impossível captar uma alma tão grandiosa como a desse homem apenas em uma produção. Mas a despeito disso certamente a película merece aplausos. Em termos de elenco eu destaco a participação da atriz Dolores Hart que interpretou Santa Clara. Ao que tudo indica ela foi iluminada pelo doce exemplo de vida de Francisco e abandonou uma carreira promissora em Hollywood para se tornar freira beneditina algum tempo depois. Um exemplo maravilhoso em que a vida imita a arte. No saldo geral "São Francisco de Assis" é um belo épico que se não é completo ou definitivo, pelo menos abre as portas para quem sentir curiosidade em conhecer a fundo a história desse Francesco medieval que ainda hoje inspira milhares de pessoas mundo afora.

São Francisco de Assis (Francis of Assisi, Estados Unidos, 1961) Estúdio: Twentieth Century Fox / Direção: Michael Curtiz / Roteiro: Eugene Vale, baseado na obra de Ludwig von Wohl / Elenco: Bradford Dillman, Dolores Hart, Stuart Whitman, Cecil Kellaway, Finlay Currie / Sinopse: Cinebiografia de São Francisco de Assis, santo católico que nascido em família rica e influente, resolveu abandonar todos os bens materiais para cuidar dos pobres e desamparados. Levando uma vida simples, de extrema pobreza e devoção ao cristianismo acabou fundando uma das maiores ordens religiosas da história, a dos Franciscanos.

Pablo Aluísio.

A Floresta Maldita

Jim Fallon (Kirk Douglas) é um madeireiro astuto e falastrão que após ter vários problemas na costa leste resolve ir até as fronteiras do oeste selvagem em busca de novas florestas para devastar e fazer fortuna. Chegando na Califórnia ele encontra uma rica reserva natural, mas encontra obstáculos para colocar as mãos em toda a matéria prima pois a terra é disputada por madeireiros rivais e um grupo religioso que pretende preservar as milenares árvores do local. Se fazendo passar por um rico milionário que quer apenas preservar a rica floresta ele acaba conseguindo finalmente a posse da mata. Depois ele terá que escolher entre explorar comercialmente a madeira do local ou ouvir sua consciência deixando intacta a floresta e suas árvores suntuosas e majestosas. Esse “A Floresta Maldita” tem um roteiro ecológico, e isso muitas décadas antes da ecologia virar moda. Claro que a consciência de se preservar as florestas não tem a mesma abrangência do que atualmente se vê, mas mesmo assim o roteiro tenta de todas as formas mostrar que também é importante preservar a riqueza natural por sua importância para as futuras gerações. Afinal, se toda aquela floresta for derrubada, não haverá mais nada a se explorar ou ver nos anos futuros.

Embora seja um filme muito bem intencionado nesse aspecto, “A Floresta Maldita” também apresenta problemas. Em vários momentos a estória se torna truncada e mal desenvolvida, há um excesso de detalhes jurídicos envolvendo a trama que só a torna cansativa e arrastada. O roteiro perde muito potencial discutindo quem seria o verdadeiro possuidor da floresta e quem teria o direito de explorar toda aquela madeira. O personagem de Kirk Douglas, por exemplo, passa quase todo o tempo tentando driblar a lei, forjando documentos falsos ou então elaborando novas fraudes para tomar conta de tudo. Isso acaba deixando o ritmo um pouco arrastado e repetitivo.

As coisas de fato só melhoram mesmo quando o filme finalmente vai se aproximando de seu final. A questão jurídica é deixada de lado para apostar em boas cenas de ação. Na melhor delas o personagem de Kirk Douglas, tal como um Indiana Jones do faroeste, pula em cima de um trem em movimento que caminha para o abismo. Sua intenção é salvar a mocinha, separar o vagão onde ela está do restante da locomotiva e parar o mesmo, antes que atravesse uma ponte de madeira sabotada!  Ufa! Cenas como essas literalmente salvam o filme da primeira parte mais arrastada. No saldo final poderia realmente ser bem melhor, mas do jeito que está, até que diverte, apesar de alguns erros. Fica então a recomendação para os cinéfilos fãs do bom e velho Kirk Douglas. 

A Floresta Maldita (The Big Trees, Estados Unidos, 1952) Direção: Felix E. Feist / Roteiro: John Twist, James R. Webb / Elenco: Kirk Douglas, Eve Miller, Patrice Wymore / Sinopse: Inescrupuloso e ganancioso madeireiro vai até a Califórnia com o objetivo de devastar uma rica floresta local. A tarefa porém não será nada fácil pois ele terá que enfrentar um grupo religioso que luta pela preservação da natureza e comerciantes de madeira rivais.

Pablo Aluísio.

quinta-feira, 17 de setembro de 2020

A Corrida do Século

Divertida comédia assinada por Blake Edwards. Considero esse cineasta um dos mais subestimados diretores de humor da história do cinema. A crítica sempre torceu o nariz para seus filmes e ele nunca conseguiu reconhecimento para seu ótimo timing humorístico. Aqui Edwards volta ao inicio do século XX para contar a história de uma verdadeira corrida maluca, atravessando três continentes. Entre os competidores temos todos os tipos de aviadores e pilotos. Há desde galãs engomadinhos a trapaceiros vilanescos, passando por princesas delicadas que também querem provar que as mulheres podem fazer tudo o que os homens fazem. O diretor Blake Edwards imprimiu ao filme um tom cartunesco, de desenho animado mesmo, trazendo um claro sabor nostálgico a quem assiste ao filme nos dias atuais. A ideia inclusive daria origem a uma série de desenhos famosos na TV chamado justamente de “A Corrida Maluca” – quem lembra do famoso Dick Vigarista? Pois é, nada mais é do que uma adaptação animada dos mesmos personagens que vemos aqui.

O elenco de “A Corrida do Século” é outro ponto positivo a começar pela presença do sempre carismático Tony Curtis. Impagável a cena em que ele, cheio de bons modos, participa de uma verdadeira guerra de tortas na cara! Essa cena resume muito bem o clima que Blake Edwards quis dar ao filme em si, tudo muito escrachado, pastelão mesmo, sem vergonha de abraçar esse estilo de humor mais popularesco. Jack Lemmon e Natalie Wood completam o excelente time de atores. Natalie Wood interpreta uma espécie de Penélope Charmosa (quem lembra da personagem dos desenhos da Hanna-Barbera?). Já Lemmon está perfeitamente à vontade em sua caracterização que aliás nos passa a sensação de que ele na verdade está se divertindo como nunca, mais do que o próprio espectador.

Outro aspecto digno de nota desse “A Corrida do Século” é a sua direção de arte. Com visual nitidamente calcado na moda da década de 1960 (apesar da estória se passar na década de 1920) o filme traz um sabor nostálgico à prova de falhas. Tudo muito colorido e deliciosamente fake. Assim na pior das hipóteses o espectador ficará com um belo sorriso nos lábios. Se nunca assistiu não deixe de ver. “A Corrida do Século” pode não ser nenhuma comédia sofisticada ou inteligente, mas diverte bastante caso o espectador consiga entrar em seu clima envolvente. Diversão garantida.
 
A Corrida do Século (The Great Race, Estados Unidos, 1965) Direção: Blake Edwards / Roteiro: Arthur A. Ross, Blake Edwards / Elenco: Jack Lemmon, Tony Curtis, Natalie Wood, Peter Falk, Arthur O'Connell / Sinopse: No começo do século XX um grupo de pilotos entra em uma corrida internacional através de três continentes ao redor do mundo. Quem vai vencer a disputa? Filme vencedor do Oscar na categoria de melhores efeitos sonoros (Treg Brown).

Pablo Aluísio. 

O Garoto

Charles Chaplin foi um dos maiores gênios da história do cinema. Um humanista que usou sua arte para mostrar os problemas sociais e econômicos de seu tempo. O seu mais famoso personagem, o vagabundo, é sem dúvida uma criação genial, fruto da própria vivência de Chaplin, que vindo de origem humilde, sabia muito bem sobre a vida dos excluídos, dos pobres e abandonados que vagavam pelas ruas atrás de uma oportunidade qualquer. Em "O Garoto" ele abraça definitivamente esse cinema mais consciente, ainda com muito bom humor, mas também com uma preocupação em mostrar a crueldade do sistema, que jogava à margem milhares de pessoas desprovidas. Uma dessas pessoas era justamente o garoto que dá nome ao filme. Ele nasce em um lugar miserável e é abandonado pela mãe que não tinha condições de criar seu filho. Logo após esse fato triste o vagabundo (conhecido no Brasil pelo nome Carlitos) acabava encontrando a criança abandonada e mesmo sendo um pobre homem, que mal podia cuidar de si mesmo, resolvia criar o pequeno abandonado. Mesmo sendo tão pobre quanto sua mãe, 

Carlitos resolve assumir a responsabilidade. E contra todas as previsões eles acabam formando uma bela dupla, vivendo de dar pequenos golpes pela vizinhança. O garoto ira lhe ajudar na luta pela sobrevivência, por exemplo, quebrando as vidraças das casas para logo após surgir Carlitos, distraído, andando pelas ruas,  oferecendo seus serviços de vidraceiro. Esse ponto da história, claro, gera cenas de puro humor no filme. As coisas mudam quando a assistência social tem conhecimento da existência do garoto sendo criado por um vagabundo como Carlitos. A partir daí eles são separados, o que cria excelentes momentos do roteiro de Chaplin, intercalando cenas que oram são comoventes, ora são engraçadas e divertidas. Cenas que apenas gênios da sétima arte como Charles Chaplin, poderiam criar. Aqui temos outro exemplo do talento inigualável de Chaplin pois ele era capaz de fazer rir e chorar em questão de segundos, manipulando as emoções do público de forma magistral.

Mesmo passado tanto tempo "O Garoto" ainda comove. Seu roteiro tem obviamente toques biográficos, pois o próprio Chaplin se tornou um órfão quando garoto pois sua mãe apresentou desde muito cedo problemas mentais fazendo com que ele e seu irmão Sidney fossem enviados para diversos orfanatos de Londres. Assim quando vemos o garoto chorando ao ser levado por agentes da assistência social entendemos logo que aquele é o próprio Chaplin relembrando de fatos tristes de sua infância. Na verdade os dois personagens, tanto o vagabundo como também o garoto, são faces de uma mesma personalidade, a de seu criador, Charles Chaplin. "O Garoto" marcou muito, tanto que virou um ícone cultural relembrado até hoje. A imagem do vagabundo ao lado do garoto em uma rua suja e abandonada ainda evoca muita emoção. Um momento eterno e inesquecível da história do cinema.

O Garoto (The Kid, Estados Unidos, 1921) Direção: Charles Chaplin / Roteiro: Charles Chaplin / Elenco: Charles Chaplin, Jackie Coogan, Carl Miller, Edna Purviance / Sinopse: Carlitos (Chaplin), o eterno vagabundo, encontra uma criança abandonada e resolve criar como se fosse seu filho. A relação fraterna será bruscamente interrompida quando a assistência social tenta levar o garoto para um orfanato. Filme escolhido pela National Film Preservation Board para preservação da memória cultural dos Estados Unidos,

Pablo Aluísio.

quarta-feira, 16 de setembro de 2020

Bambi

Título no Brasil: Bambi
Título Original: Bambi
Ano de Produção: 1942
País: Estados Unidos
Estúdio: Walt Disney Pictures
Direção: James Algar, Samuel Armstrong
Roteiro: Perce Pearce, Felix Salten
Elenco: Hardie Albright, Stan Alexander, Bobette Audrey, Thelma Boardman, Marion Darlington, Peter Behn

Sinopse:
Nascido para herdar a coroa de seu pai, o príncipe cervo Bambi, vive as alegrias e tristezas de sua vida na floresta, tendo que lidar com o amor, a fúria da natureza e do homem e também com a tristeza pela morte de sua mãe. Filme indicado ao Oscar nas categorias de melhor som e melhor música original ("Love Is a Song" de Frank Churchill e Larry Morey). 

Comentários:
"Bambi" é um dos grandes clássicos de Walt Disney. Ele participou ativamente da produção do filme e poderia ser creditado como diretor caso assim desejasse, porém procurou valorizar seus artistas, creditando dois deles com a direção dessa animação. Algumas coisas me chamaram a atenção nesse clássico da animação. O filme foi produzido no meio da II Guerra Mundial, palco de algumas das maiores atrocidades da história da humanidade, mas Disney conseguiu produzir uma de suas animações mais líricas e pueris. Um contraste histórico digno de nota. Outra aspecto é a ausência de personagens humanos. O homem, quando surge indiretamente na floresta, apenas o faz para matar animais e causar destruição com sua presença. Temos aqui uma clara mensagem ecológica que ecoa até os dias atuais. Certamente o filme serviu para reforçar a consciência em prol da ecologia e da natureza que até hoje faz parte de nosso inconsciente coletivo. A parte musical da animação é destaque. Disney tinha especial cuidado nesse aspecto, tanto que o filme acabou ganhando indicações relevantes no Oscar justamente por sua trilha sonora incidental e sua música. O enredo também é inspirado. Por baixo da imagem de filme infantil se esconde uma poderosa mensagem sobre o ciclo da vida que se renova a cada geração. Enfim, nada mais a dizer. É de fato um dos grandes momentos de Disney na sua carreira e isso definitvamente não é pouca coisa.

Pablo Aluísio.

Pinóquio

Título no Brasil: Pinóquio
Título Original: Pinocchio
Ano de Produção: 1940
País: Estados Unidos
Estúdio: Walt Disney Pictures
Direção: Norman Ferguson, T. Hee
Roteiro: Ted Sears, Otto Englander
Elenco: Dickie Jones, Christian Rub, Mel Blanc, Charles Judels, Walter Catlett, Frankie Darro

Sinopse:
O boneco de madeira Pinóquio é criado por um bondoso velhinho chamado Geppetto. Seu sonho era que Pinóquio se tornasse um menino real, ao qual é atendido por uma fada. Ao lado do grilo falante, que se torna sua consciência, Pinóquio passa então a viver grandes aventuras. Filme vencedor do Oscar nas categorias de melhor música original ("When You Wish Upon a Star") e melhor trilha sonora.

Comentários:
É interessante que Walt Disney tenha escolhido a história de Pinóquio para ser seu segundo grande longa em animação. O livro original foi lançado em 1883, escrito pelo jornalista e autor italiano Carlo Collodi. Do conto infantil original Disney mandou que seus roteiristas tirassem apenas o essencial. Isso porque o livro foi considerado pelo próprio Disney como muito inadequado para as crianças americanas. E era mesmo, só para se ter uma ideia, no livro Pinóquio matava o grilo falante com um martelo! Não havia como levar esse tipo de coisa para um desenho animado. Assim o que era importante era a história do boneco de madeira de pinho (daí o nome Pinóquio) que era fabricado por um velho senhor artesão muito bondoso. Todo o resto seria adaptado para o universo Disney. Posso dizer que nesse aspecto  Disney foi mais uma vez genial. Ele tirou as arestas sem noção do livro original e criou mais uma obra-prima infantil. Pode-se dizer que Disney recriou Pinóquio (e para melhor!). Sob os cuidados de seus artistas e roteiristas, o boneco ganhou humanismo, inocência e delicadeza. A história de ser um boneco que queria ser uma criança de verdade acabou influenciando toda a cultura pop por anos e anos. Chegou até mesmo a influenciar filmes do naipe de Blade Runner, onde replicantes também queriam ser humanos. Enfim, uma obra genial que foi fruto do grande Walt Disney, aqui melhorando a tradição para algo bem melhor e mais adequado para os pequeninos.

Pablo Aluísio.

terça-feira, 15 de setembro de 2020

22 Balas

Título no Brasil: 22 Balas
Título Original: L'immortel
Ano de Produção: 2010
País: França
Estúdio: EuropaCorp
Direção: Richard Berry
Roteiro: Richard Berry
Elenco: Jean Reno, Kad Merad, Jean-Pierre Darroussin, Marina Foïs, JoeyStarr, Richard Berry  

Sinopse:
Baseado no livro policial escrito por Franz-Olivier Giesbert, o filme "22 Balas" conta a história do mafioso aposentado Charly Matteï (Jean Reno). Pensando estar fora do mundo do crime ele acaba encurralado em um estacionamento, onde leva 22 tiros. Porém para surpresa de muitos, consegue sobreviver e parte para a vingança contra aqueles que o queriam morto.

Comentários:
Muito bom esse filme policial francês. O roteiro de certo modo não foge muito daquela velha fórmula que estamos acostumados a ver em filmes sobre vingança pessoal, porém é inegável que essa produção mantém sempre o interesse, explorando não apenas as boas cenas de ação, todas muito bem realizadas nas ruas da bela cidade francesa de Marselha, como também pelo lado pessoal dos personagens. O mafioso interpretado por Jean Reno é um ex-criminoso que quer apenas viver seus últimos anos de vida ao lado de sua família, mas que é trazido de volta para a violência após sofrer um atentado brutal. E o pior de tudo é saber que o mandante de sua tentativa de assassinato é um velho amigo, alguém que ele conhecia plenamente, algo comum de acontecer dentro da máfia. Jean Reno é um baita ator, todo cinéfilo sabe disso. E aqui ele retoma à boa forma, inclusive incorporando certo cacoetes que me fez lembrar Marlon Brando em "O Poderoso Chefão". Obviamente o clássico imortal é muitas vezes usado como referência para essa história. Enfim, filme policial acima da média, mostrando que o cinema francês também sabe produzir filmes de ação, com teor e sabor da cosa nostra.

Pablo Aluísio.

A Órfã

Título no Brasil: A Órfã
Título Original: Orphan
Ano de Produção: 2009
País: Estados Unidos
Estúdio: Dark Castle
Direção: Jaume Collet-Serra
Roteiro: David Leslie Johnson-McGoldrick
Elenco: Vera Farmiga, Peter Sarsgaard, Isabelle Fuhrman, Aryana Engineer, CCH Pounder, Jimmy Bennett

Sinopse:
Após perder uma filha, Kate (Vera Farmiga) e seu marido decidem adotar uma criança. No orfanato que visitam eles se encantam com Esther (Isabelle Fuhrman), uma menina inteligente, que gosta de pintar quadros. O que eles nem desconfiam é que ela na verdade não é o que aparenta ser. Filme indicado ao Fangoria Chainsaw Awards.

Comentários:
Gostei bastante desse thriller de suspense. Fazia tempo que não havia assistido algo tão bom nesse gênero. Em termos puramente cinematográficos esse filme tem um roteiro bem estruturado, com todos os elementos nos lugares certos. Porém o que mais me surpreendeu foi saber que esssa história foi baseada em fatos reais. A mulher do mundo real era ucraniana e não russa, mas tirando esse pequeno detalhe tudo era igual. Ela tinha problemas com uma síndrome hormonal que a impedia de ter características físicas de uma adulta, sempre se parecendo com uma criança. Pior do que isso, tal como a personagem do filme ela também era uma sociopata que queria matar sua mãe adotiva para seduzir o pai. Uma coisa completamente insana. Pois é, parece tudo coisa de filme, mas aconteceu na vida real, por mais incrível que isso possa parecer. Outro ponto digno de nota e de elogios vem do trabalho da atriz Isabelle Fuhrman. Ela tinha 13 anos de idade quando o filme foi produzido, mas precisava convencer na pele de uma suposta criança de 9 anos! Seu trabalho foi tão bom que apenas quando tudo é revelado é que descobrimos seu verdadeiro passado. Perfeita sua atuação, digna de aplausos. Foi uma das performances mais assustadoras que já vi. Chega a impressionar. Enfim, deixo a dica para quem ainda não viu. Para quem já assistiu, penso que poucos vão discordar do fato de que esse filme é um excelente suspense.

Pablo Aluísio.

segunda-feira, 14 de setembro de 2020

Conspiração

Título no Brasil: Conspiração
Título Original: Conspiracy
Ano de Produção: 2001
País: Estados Unidos
Estúdio: HBO Films
Direção: Frank Pierson
Roteiro: Loring Mandel
Elenco: Kenneth Branagh, Clare Bullus, Stanley Tucci, Simon Markey, David Glover, David Willoughby

Sinopse:
Na Conferência de Wannsee, realizada em 20 de janeiro de 1942, altos funcionários nazistas se reuniram para determinar a maneira pela qual a chamada "Solução Final para a Questão Judaica" poderia ser melhor implementada. Era o planejamento do holocausto que resultaria na morte de milhões de seres humanos. Filme vencedor do Globo de Ouro na categoria de melhor ator coadjuvante (Stanley Tucci).

Comentários:
E as atrocidades nazistas seguem gerando farto material histórico para bons filmes. O roteiro desse aqui tenta responder como foi planejado o holocausto, a morte sistemática de aproximadamente seis milhões de judeus em campos de concentração localizados na Europa dominada pela loucura da ideologia do nazismo. É um filme bem importante do ponto de vista histórico porque resgata os nomes e dá face aos criadores desse horror na história humana. Assim temos essa reunião onde líderes do partido dominante do III Reich alemão se encontraram para decidir o que fazer com os judeus aprisionados em campos por toda a Europa. O que mais choca é descobrir que a decisão foi tomada sem a menor expressão de culpa ou humanismo. Simplesmente ali, sentados em torno de uma grande mesa, foi decidido de forma fria, cruel e calculista que todos deveriam ser exterminados. E isso obviamente incluia mulheres, idosos e crianças, no maior evento de genocídio da história. Incrível como esses nazistas agiam como psicopatas, sem qualquer grau de empatia com o próximo. Isso só serve para provar mais uma vez que ideologias políticas podem facilmente desandar para o ódio, a cegueira e a insanidade completas. O filme é assim uma importante lição de história para todos.

Pablo Aluísio.

A Escolha de Sofia

Título no Brasil: A Escolha de Sofia
Título Original: Sophie's Choice
Ano de Produção: 1982
País: Estados Unidos, Inglaterra
Estúdio: Universal Pictures
Direção: Alan J. Pakula
Roteiro: Alan J. Pakula
Elenco: Meryl Streep, Kevin Kline, Peter MacNicol, Josh Mostel, Robin Bartlett, Eugene Lipinski

Sinopse:

Baseado no romance escrito por William Styron, o filme conta a história de Sophie (Meryl Streep), uma polonesa sobrevivente do holocausto que tenta recomeçar sua vida em Nova Iorque, mas não consegue superar um grande trauma do passado. Filme vencedor do Oscar e do Globo de Ouro na categoria de melhor atriz (Meryl Streep). Filme indicado ao Oscar nas categorias de melhor roteiro adaptado, direção de fotografia (Néstor Almendros), melhor figurino e melhor trilha sonora original (Marvin Hamlisch).

Comentários:
Um filme dramático até hoje lembrado pelos cinéfilos. Na realidade temos aqui três personagens principais. Sophie é uma sobrevivente de Auschwitz. Seu pai era um professor que odiava judeus, um antissemita. Pouco adiantou, pois mesmo assim não escapou dos campos de concentração. Os nazistas, em determinado momento da guerra, decidiram matar todos os professores, não importando que lado eles estavam. Sophie também foi enviada para morrer no holocausto e precisou fazer uma escolha trágica em relação aos seus filhos. O filme se passa alguns anos depois de toda essa tragédia. Ela está em Nova Iorque, morando com seu companheiro, um sujeito com problemas mentais que tem delírios de grandeza, acreditando em suas próprias mentiras. Esse personagem é brilhantemente interpretado pelo ator Kevin Kline em uma de suas melhores atuações. O terceiro elo é de um jovem escritor que relembra toda a história através de seu próprio livro de memórias, publicado décadas depois. Meryl Streep foi premiada em todos os grandes prêmios daquele ano, porém devo dizer que já vi ela brilhando muito mais em outros filmes. Em termos de interpretação quem se destaca mesmo é, como já escrevi, Kline. De qualquer maneira a força da história, envolvendo uma mãe que precisa escolher qual filho vai sobreviver e qual vai morrer nas mãos dos nazistas, já é chocante e impactante por si própria. É um desses momentos em que o espírito humano não consegue superar. Um trauma a ser levado e sofrido pelo resto da vida. Afinal que ato poderia ser mais trágico do que ao de uma mãe que precisa decidir sobre a vida e a morte de seus próprios filhos?

Pablo Aluísio.

domingo, 13 de setembro de 2020

Freddy x Jason

Título no Brasil: Freddy x Jason
Título Original: Freddy vs. Jason
Ano de Produção: 2003
País: Estados Unidos
Estúdio: New Line Cinema
Direção: Ronny Yu
Roteiro: Damian Shannon, Mark Swift
Elenco: Robert Englund, Ken Kirzinger, Kelly Rowland, Jason Ritter, Chris Marquette, Brendan Fletcher

Sinopse:
Freddy Krueger e Jason Voorhees, personagens dos filmes "A Hora do Pesadelo" e "Sexta-Feira 13", voltam para aterrorizar a população de uma pequena cidade. A maior diferença é que desta vez, eles estão atrás um do outro também.

Comentários:
No mundo do cinema quando duas franquias cinematográficas se unem em um Crossover, é certo que ambas estão falidas comercialmente. É o que aconteceu aqui. O que fazer com personagens que um dia foram populares, mas que atualmente não atraem mais o público para os cinemas? Talvez reuni-los pode ser uma saída. E isso nada tem a ver com aspectos puramente artísticos. É uma decisão meramente comercial dos estúdios mesmo. Já havia acontecido com Aliens e Predador, agora voltava a acontecer com os insanos violentos Freddy e Jason. O resultado é desanimador. Fruto obviamente do fato de que esses dois vilões são de universos cinematográficos bem distintos. Jason, ao longo dos anos, perdeu qualquer humanidade. Passou a ser apenas um assassino com um facão e uma máscara de hockey. Já Freddy era um pouco mais desenvolvido do ponto de vista psicológico, mas que atacava nos sonhos de adolescentes. O que ele iria fazer em Crystal Lake? E como um ser que agia na mente das pessoas iria parar um serial killer como Jason? Pois é, perguntas e mais perguntas que ficaram ainda mais sem sentido nesse roteiro bem freak. Assista, mesmo que seja apenas por curiosidade. Só não espere por bom cinema.

Pablo Aluísio.

Brinquedo Assassino 3

Título no Brasil: Brinquedo Assassino 3
Título Original: Child's Play 3
Ano de Produção: 1991
País: Estados Unidos
Estúdio: Universal Pictures
Direção: Jack Bender
Roteiro: Don Mancini
Elenco: Brad Dourif, Justin Whalin, Perrey Reeves, Jeremy Sylvers, Travis Fine, Dean Jacobson,

Sinopse:
Chucky retorna para se vingar de Andy, o garoto que o derrotou no passado. Os anos se passaram, a criança virou um jovem e agora ele é um estudante que vive em uma academia militar. Mas para o boneco assassino essa não é uma barreira para que sua vingança seja completa.

Comentários:
Esse foi o último filme dessa franquia de terror que se levou à sério. Os que viriam iriam cair na chacota completa. O que mais me impressionou ao longo dos anos foi que a Universal nunca desistiu de fato dos filmes com o Chucky. Recentemente até fizeram um remake para dar um reboot em tudo! Bom, o motivo principal dos filmes seguirem sendo produzidos ao longo dos anos foi claramente comercial. Veja o caso desse aqui. Custou muito pouco - algo em torno de 10 milhões de dólares - e foi bem lucrativo no final de tudo. As bilheterias sempre pagavam esses filmes, gerando lucro para o estúdio. Era um tiro certo, vamos colocar nesse sentido. De resto a mudança de ares, agora tudo se passa numa academia militar, vinha para fugir um pouco da mesmice dos filmes anteriores. Também cabem os devidos elogios para o dublador e ator Brad Dourif. Ele certamente merecia um prêmio por anos e anos de dublagem do boneco Chucky. Ele é muito bom. Por fim cabe a dica para uma maratona de fim de semana com os filmes da franquia "Brinquedo Assassino". Uma boa oportunidade para queimar neurônios cinematográficos, com certeza!

Pablo Aluísio.

sábado, 12 de setembro de 2020

Bad Boys Para Sempre

Essa franquia cinematográfica já tem 25 anos! É um antigo produto do cinema dos anos 90. Pensei que não haveria mais filmes novos, porém com a escassez de novas ideias em Hollywood o jeito foi trazer a velha dupla de policiais de Miami de volta. Para não perder a piada e fazer humor de si mesmos, os atores  Will Smith e Martin Lawrence estão de volta - mas obviamente envelhecidos... Um dos focos do roteiro é explorar o fato de que Marcus, ou melhor dizendo, Martin Lawrence, se torna vovô de um garotinho. Mero detalhe para um roteiro que logo deixa isso de lado para explorar perseguições, explosões e ação... afinal é uma produção de Jerry Bruckheimer. Não iria ser diferente.

O que foi diferente mesmo e surpreendeu muita gente foi a bilheteria. Para um filme que custou 90 milhões de dólares esse Bad Boys 3 faturou nas bilheterias mais de 600 milhões. É a maior bilheteria da franquia em toda a sua história. Ninguém estava esperando por um resultado comercial tão bom, ainda mais se tratando de algo do passado, que a maioria dos jovens que frequentam cinema hoje em dia nem conheciam - e nem tinham nascido ainda quando o primeiro filme chegou nos cinemas. Pelo visto essa nova geração não tem muitos bons filmes de ação para cultivar como algo seu. Tem que dar uma vasculhada mesmo no passado para curtir algo nos cinemas. E o filme poderia ter ido ainda bem melhor se não fosse a pandemia que acabou prejudicando a exibição do filme em vários países. Provavelmente chegaria a 1 bilhão de dólares... quem sabe...

A boa notícia é que o filme é bom naquilo que se propõe, ou seja, ser uma boa diversão sem maiores pretensões. É um filme de ação ao velho estilo, nada de perda de tempo ou encheção de linguiça. É diversão pela diversão, cinema pipoca por excelência. Um dos aspectos que me fizeram curtir o resultado foi justamente isso. Você espera por um tipo de filme e é plenamente satisfeito nesse aspecto. Nada de enrolação. E também fizeram um filme até bem bonito de se assistir, explorando em detalhes a natureza e as belas locações da ensolarada Miami. Há também uma nova equipe de tiras acompanhando os dois protagonistas. Provavelmente os produtores querem passar o bastão para esses jovens atores e atrizes. A má notícia é que nenhum deles é particularmente carismático. Os vilões não passam de estereótipos de latinos por parte de Hollywood. Mexicanos malvadões, tatuados e bombados, bruxas, Santa Muerte... está tudo ali. Mas nem isso consegue estragar a diversão. Assim assista e se divirta, sem pensar muito no que está vendo.

Bad Boys Para Sempre (Bad Boys for Life, Estados Unidos, 2020) Direção: Adil El Arbi, Bilall Fallah / Roteiro: Peter Craig, Joe Carnahan / Elenco: Will Smith, Martin Lawrence, Vanessa Hudgens, Kate del Castillo, Jacob Scipio / Sinopse: Uma série de autoridades, juízes, peritos criminais, agentes, são mortos misteriosamente. Depois que Mike (Will Smith) é metralhado, ele começa a ir atrás do responsável, em busca de vingança. Só não poderia prever que é algo relacionado também com seu passado pessoal.

Pablo Aluísio.

O Vingador

Título no Brasil: O Vingador
Título Original: A Man Apart
Ano de Produção: 2003
País: Estados Unidos
Estúdio: New Line Cinema
Direção: F. Gary Gray
Roteiro: Christian Gudegast, Paul T. Scheuring
Elenco: Vin Diesel, Timothy Olyphant, Larenz Tate, Jacqueline Obradors, Steve Eastin, John E. Smith

Sinopse:
Um homem conhecido como Diablo surge para chefiar um cartel de drogas depois que o líder anterior é preso. Sean Vetter (Vin Diesel) é o agente federal do DEA que vai tentar prender ou matar o insano e cruel traficante. Após a morte de sua esposa por criminosos violentos ele parte para a vingança contra os assassinos.

Comentários:
No começo do filme somos apresentados ao personagem de Vin Diesel, um cara até bem normal, casado com uma bela mulher e tudo mais. Até toques de drama e romance são injetados no roteiro, o que acabou fazendo muito fã de cinema de ação ficar pensando se não estava vendo o filme errado. Só que, não tem jeito, essa é uma produção de cinema brucutu, então não demora muito para o pau quebrar em todas as frentes. A esposa de Diesel é morta com requintes de crueldade e ele parte para a vingança completa. Seu alvo é uma quadrilha de traficantes que agem na fronteira dos Estados Unidos com o México. A guerra do tráfico é pela posse de uma região conhecida como "corredor" por onde entra todas as cargas de drogas. O resultado é até um bom filme, que tem até mesmo o cuidado de ter uma trilha sonora bem cuidada, etc. Coisa rara de se ver em filmes de pura porrada. Um Vin Diesel violento, mas sem perder a ternura... jamais!

Pablo Aluísio.