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terça-feira, 22 de junho de 2021

Vidas Amargas

Pode ser considerado o primeiro filme de James Dean, mesmo ele tendo aparecido em pequenas participações em três filmes anteriores. Esse é o primeiro filme em que ele realmente teve a oportunidade de mostrar seu talento como ator. Nos filmes anteriores ele tinha poucas linhas de diálogos e em alguns deles era um mero figurante. Porém em "Vidas Amargas" o diretor Elia Kazan resolveu apostar naquele jovem ator de Indiana, dando a maior oportunidade de sua carreira até então. E Dean não decepcionou, atuando de forma brilhante em seu papel, a de um jovem com problemas familiares que ousava trazer à tona um segredo sobre sua mãe que poderia destruir sua família.

O roteiro foi baseado no best-seller escrito pelo autor John Steinbeck. Entretanto Kazan decidiu que só iria explorar a parte inicial da história contada no livro. Ele acreditava que a força dramática do livro se concentrava justamente em seus primeiros capítulos. Não interessava ao cineasta o desenrolar daqueles primeiros acontecimentos. E assim foi feito. O resultado ficou excepcional. Aliás é interessante notar como James Dean já encarnava nesse seu primeiro grande papel a figura do jovem rebelde, encucado e confuso, que não era bem visto nem mesmo por seu pai, um tipo conservador indigesto, que a despeito de ser um homem duro com os filhos, usava tudo como mera desculpa para torturar psicologicamente o filho de que não gostava, justamente o personagem de Dean. Em conclusão, "Vidas Amargas" é uma obra-prima da sétima arte. Grande filme  de James Dean e Elia Kazan, em momento inspirado de suas carreiras.

Vidas Amargas (East of Eden, Estados Unidos, 1955) Direção: Elia Kazan / Roteiro: Paul Osborn, Elia Kazan, inspirados no livro escrito por John Steinbeck / Elenco: James Dean, Raymond Massey, Julie Harris, Burl Ives, Richard Davalos, Jo Van Fleet / Sinopse: Nas vésperas da explosão da I Guerra Mundial, um jovem chamado Cal Trask (James Dean) descobre um grande segredo envolvendo o passado de sua família. E ele não deixará isso passar em branco, usando tudo para atingir seu rígido pai e seu irmão, considerado um jovem modelo na cidade onde vive. Filme vencedor do Oscar na categoria de melhor atriz coadjuvante (Jo Van Fleet). Também indicado nas categorias de melhor ator (James Dean), melhor direção (Elia Kazan) e melhor roteiro adaptado.

Pablo Aluísio. 


domingo, 20 de setembro de 2020

Harper, O Caçador de Aventuras

“Harper, o Caçador de Aventuras” é um filme da década de 60 com o sabor das antigas produções dos anos 40. O enredo é recheado de mulheres fatais, personagens dúbios, complexos e tramas praticamente indecifráveis. Como sempre acontecia naqueles antigos filmes o começo é relativamente simples mas conforme vai avançando a estória e as questões vão se revelando tudo começa a se tornar mais complicado. Seguir o fio da meada sem se perder é um desafio para os espectadores. Aqui Paul Newman interpreta um detetive particular cínico que é contratado pela esposa de um milionário desaparecido para encontrá-lo. Como sempre acontecia nos antigos roteiros da década de 40 aqui também temos muitas reviravoltas, muitas surpresas. Nenhum personagem é totalmente bom ou mal. Todos têm algo a esconder e a solução final desvenda todos os mistérios, não sem antes deixar muitas pistas falsas pelo caminho. O personagem Harper veio da literatura. Baseado no livro de “The Moving Target” do autor Ross Macdonald seu nome foi alterado para o filme por razões comerciais. De certa forma foi a solução encontrada pelo estúdio Warner para escalar seu astro Paul Newman em um filme que apesar de ser inspirado nos antigas produções noir bebia também da fonte da imensa popularidade da franquia James Bond.

Paul Newman está muito à vontade no papel de Harper. Mascando um chiclete atrás do outro ele se mostra bem cool e parece se divertir no papel. O bom resultado comercial do filme garantiria a ele um retorno ao mesmo personagem em “A Piscina Mortal” alguns anos depois. O elenco de apoio é todo bom. Lauren Bacall que interpreta a esposa do milionário desaparecido está especialmente cínica e mordaz. Viúva do mito Humphrey Bogart ela já tinha muita experiência nesse tipo de papel fatal. A personificação que me causou mais surpresa porém foi a da atriz Shelley Winters. Antigo sex symbol da década de 40 e 50 ela aqui se despe de sua vaidade para surgir como uma atriz decadente e deprimida, cujos tempos de fama há muito foram deixados para trás. Frustrada e sem esperança ela apenas existe, tentando viver um dia de cada vez. Winters está maravilhosa em sua atuação, muito marcante, digna de aplausos. Enfim, “Harper, o Caçador de Aventuras” é bem interessante e bem desenvolvido. É um tipo de filme onde a ação é mais intelectual (fica-se o tempo todo tentando descobrir o paradeiro do desaparecido) mas que vale a pena assistir, principalmente para quem gosta de desvendar charadas nesse tipo de roteiro.

Harper, O Caçador de Aventuras (Harper, Estados Unidos, 1966) Direção: Jack Smight / Roteiro: William Goldman baseado no livro de Ross Macdonald / Elenco: Paul Newman, Lauren Bacall, Julie Harris, Janet Leigh,  Robert Wagner,  Shelley Winters / Sinopse: Harper (Paul Newman) é um detetive contratado por uma mulher (Lauren Bacall) para encontrar seu marido desaparecido. O que parece ser algo simples acaba se revelando uma trama complexa e de difícil solução.

Pablo Aluísio. 

quarta-feira, 26 de setembro de 2018

Desafio ao Além

Título no Brasil: Desafio ao Além
Título Original: The Haunting
Ano de Produção: 1963
País: Estados Unidos
Estúdio: Metro-Goldwyn-Mayer (MGM)
Direção: Robert Wise
Roteiro: Nelson Gidding, Shirley Jackson
Elenco: Julie Harris, Claire Bloom, Richard Johnson

Sinopse:
Um professor de antropologia resolve formar um grupo de pesquisas para investigar os estranhos fenômenos que acontecem numa velha mansão chamada Hill House. Palco de inúmeras tragédias no passado, o casarão agora manifesta fantasmagorias e eventos de complicada explicação. O professor pretende usar a ciência para provar a existência de paranormalidade no sinistro lugar.

Comentários:
Em um primeiro momento o espectador desavisado pode pensar tratar-se apenas de mais um filme de casas mal assombradas. O diferencial porém surge com a direção do genial cineasta Robert Wise (de tantos filmes memoráveis como "O Dia em que a Terra Parou" e "Marcado pela Sarjeta") pois em nenhum momento ele se rende aos clichês do gênero, pelo contrário resolve investir muito mais na complexidade psicológica de seus personagens do que em sustos gratuitos. Sua elegância em conduzir esse enredo lhe valeu merecidamente uma indicação ao Globo de Ouro daquele ano, inclusive muitos acharam uma injustiça que ele não fosse também indicado ao Oscar de melhor diretor, diante de tal belo trabalho de direção de seus atores. A direção de arte do filme também é de muito bom gosto, pois a própria mansão House Hill logo se torna um dos personagens do filme, tal sua onipresença em todos os momentos. Um clássico do terror que assim como "O Dia em que a Terra Parou" reverteu as soluções fáceis de seu gênero cinematográfico para dar algo a mais para seu público. Sim, é uma pequena obra prima do cinema clássico de terror.

Pablo Aluísio.

quinta-feira, 13 de setembro de 2018

O Refúgio Secreto

Filme baseado em fatos reais, na história da holandesa Corrie Ten Boom. Ela morava ao lado do pai e da irmã em uma pequena cidade holandesa quando o país foi invadido pelas tropas nazistas de Hitler. Assim que os alemães chegaram começaram as perseguições contra os judeus. Eles deveriam ser localizados e embarcados em trens que iam direto para os diversos campos de concentração espalhados por toda a Europa. Corrie Ten Boom era uma mulher religiosa, cristã, que não concordava com o que estava acontecendo. Assim ela decidiu que iria começar a esconder judeus em sua casa, localizada em cima do pequeno negócio da família, uma relojoaria. Aos poucos começam a chegar famílias e mais famílias para ela ajudar. Eles começam então a construir um esconderijo judeu no andar de cima, algo parecido com o que também aconteceu com Anne Frank.

No começo tudo ia dando certo, mas quando o cerco se fechou os nazistas finalmente descobriram que ela e sua família estava escondendo judeus. A punição foi severa. Corrie, sua irmã e seu idoso pai foram enviados para o campo de concentração de Ravensbruck. O filme a partir daí explora todas as atrocidades cometidas pelos nazistas, os guardas sádicos, a fome, as doenças e o trabalho escravo do qual nem as mulheres eram poupadas. Elas foram presas como prisioneiras políticas, pois sendo holandesas cristãs (não judias) não deveriam ser enviadas para campos de extermínio de judeus.

Tudo o que se vê na tela foi baseado no livro de memórias de Corrie Ten Boom. Depois da II Guerra Mundial ela virou uma missionária cristã que visitou dezenas de países para contar sua história. Seu livro obviamente se tornou um best-seller e ela um símbolo contra o holocausto. Inclusive a própria faz uma aparição muito tocante nos momentos finais do filme, já bem idosa, mas completamente lúcida sobre tudo o que viveu, sobre os crimes que sofreu ao longo de sua vida. Esse filme é um belo exemplo de vida de algo que historicamente jamais poderá voltar a acontecer.

O Refúgio Secreto (The Hiding Place, Estados Unidos, 1975) Direção: James F. Collier / Roteiro: Allan Sloane, Lawrence Holben, baseados no livro escrito por Corrie Ten Boom e John Sherrill / Elenco: Julie Harris, Jeannette Clift, Arthur O'Connell, Robert Rietty / Sinopse: Filme baseado na história pessoal da holandesa Corrie Ten Boom. Durante a ocupação nazista ao seu país durante a II Guerra Mundial, ela é acusada junto de sua família de esconder judeus. Presa, é enviada para um campo de concentração onde passa a sofrer todos os horrores do holocausto.

Pablo Aluísio.

sexta-feira, 22 de março de 2013

Vidas Amargas

Roteiro e Argumento: “Vidas Amargas” se baseia no famoso livro do escritor John Steinbeck. Na realidade se trata de uma grande metáfora sobre os personagens bíblicos do gênesis no velho testamento. Na estória acompanhamos um pobre rancheiro que tem dois filhos, Cal e Aron. Aron (Richard Davalos) é o filho que todo pai gostaria de ter, estudioso, educado e polido. Sua vida emocional é estável e ele namora a delicada e bela Abra (Julie Harris). Aron é em suma um modelo de bom filho. Ele é o oposto de Cal (James Dean) um jovem perturbado, complicado, complexo que sempre toma as piores decisões em sua vida. Numa delas decide investigar o que teria acontecido à sua mãe que os abandonou ainda jovens. Acaba descobrindo um terrível segredo sobre ela na cidade vizinha de Monterrey o que trará trágicas conseqüências para toda a sua família. O livro original é uma obra robusta e por isso aqui optou-se por transpor para as telas apenas parte dele. A adaptação é excelente uma vez que a estória se fecha muito bem em si mesma, não dando pistas de que faltou algo em seu enredo.

Produção: Uma produção do mais alto nível. A reconstituição de época é perfeita (a estória se passa em 1917, pouco antes dos EUA entrar na Primeira Guerra Mundial). Figurinos, costumes, carros, tudo recriado com perfeição. O estúdio Warner resolveu realizar “Vidas Amargas” no formato widescreen, sendo muito eficiente seu resultado final. “Vidas Amargas” foi indicado aos Oscars de melhor diretor, roteiro adaptado, ator (James Dean) e atriz coadjuvantes (Jo Van Fleet). Um reconhecimento merecido de seus méritos cinematográficos.

Direção: Elia Kazan sempre dirigiu com maestria seus atores. Aqui em “Vidas Amargas” ele decidiu inovar, ensaiando o filme por duas semanas antes de começar a rodar as cenas. O método deu muito certo até porque todo o elenco vinha do meio teatral em Nova Iorque. Kazan também incentivou os atores a trazer elementos novos para seus personagens algo que caiu como uma luva para James Dean que gostava desse tipo de liberdade criativa. De fato o ator trouxe muito de si mesmo para a atuação de Cal. No aspecto puramente técnico Kazan também procurou inovar criando ângulos inusitados com a câmera, além de literalmente interagir com as cenas (a melhor acontece quando Dean aparece se balançando num brinquedo de criança e Kazan balança a câmera junto com ele). Enfim, mais uma magnífica direção de Kazan, aqui no auge de sua criatividade e talento.

Elenco: O grande atrativo de “Vidas Amargas” é a presença no elenco de James Dean. Embora ele tenha participado de 3 filmes anteriores (todos como ponta) aqui o ator tem a primeira grande chance de verdade em sua carreira. Elia Kazan havia assistido Dean numa montagem off Broadway e decidiu que ele seria a escolha perfeita para interpretar o perturbado e irascível Cal, um personagem intenso que exigiria muito do ator. James Dean em cena não decepcionou. Ele está perfeito em sua caracterização, colocando para fora tudo o que aprendeu no Actor´s Studio de Nova Iorque. Seu personagem transmite toda a complexidade de sua alma não apenas nos diálogos mas no próprio modo de ser, andar, agir. O trabalho corporal que James Dean trouxe para Cal até hoje impressiona. O ator se entrega como poucas vezes vi no cinema. De certa forma Dean era Cal e o incorporou com perfeição no filme, ofuscando completamente todo o resto do elenco que também é todo bom. A atuação inspirada lhe valeu a primeira indicação póstuma ao Oscar da história. Infelizmente quando a Academia anunciou seu nome para o prêmio James Dean já havia morrido em um trágico acidente de carro aos 24 anos. Melhor se saiu sua colega de cena, Jo Van Fleet, que venceu o Oscar de melhor atriz coadjuvante. Ela interpretou a mãe de Cal e Aron no filme. Prêmio merecido aliás.

Vidas Amargas (East Of Eden, Estados Unidos, 1955) Direção: Elia Kazan / Roteiro: Paul Osborn baseado na obra de John Steinbeck / Elenco: James Dean, Raymond Massey, Julie Harris, Burl Ives, Richard Davalos, Jo Van Fleet / Sinopse: Dois irmãos, Cal e Aron, disputam a afeição do pai. Esse deseja ganhar dinheiro com a venda de verduras congeladas mas não obtém sucesso. Cal (James Dean) então resolve ganhar seu próprio lucro com a venda de feijões para as tropas americanas que estão sendo enviadas para a I Guerra Mundial. Nesse ínterim Cal acaba descobrindo um terrível segredo sobre sua mãe que é localizada por ele na cidade vizinha de Monterrey. Seu pai havia mentido pois dizia que ela havia falecido quando os irmãos eram apenas crianças. A verdade finalmente irá abalar toda a família.

Pablo Aluísio.