sexta-feira, 6 de julho de 2018

Ghostland

Bom, se tem um filme que me impressionou nesses últimos dias foi esse "Ghostland" que nem tem sido muito comentado entre os fãs de terror. A história começa com uma mãe e suas duas filhas indo visitar a casa de uma tia falecida. A senhora morava numa velha casa de campo e tinha o hábito de colecionar muitas bonecas de porcelana. Ora, se você tem assistido filmes de terror ultimamente bem sabe que bonecas e brinquedos antigos se tornaram uma peça fundamental na criação de suspense e terror de muitos filmes. O problema porém não se resume a esses objetos. A coisa fica realmente tensa quando a casa é invadida por dois psicopatas. Um deles se veste como um travesti e se comporta como a mãe do outro, que é um sujeito grandalhão e doente mental. Seus problemas de retardamento o tornam ainda mais violento e brutal.

A partir daí o filme sobe na violência e na insanidade, inclusive com uma linha narrativa paralela que vai enganar muita gente. Não caia na armadilha, muitas das coisas que você verá na tela não são acontecimentos reais e sim delírios de uma das filhas que está aprisionada, feita refém em um porão imundo da casa. Quer mais bizarrice? O gigante insano tem fixação com bonecas, por isso as meninas são maquiadas como se fossem bonecas reais (veja o poster do filme para entender). E na presença do psicótico tudo pode acontecer, até as mais bizarras violências. O filme é de um modo em geral bem perturbador (ora, ideal para fãs do gênero) e conta com muitas surpresas em sua narrativa. Acredito inclusive que para o público feminino tudo será ainda mais assustador pois elas certamente vão se identificar com as garotas na tela e quem sabe sentir o que elas sentem. Pois é, "Ghostland" é desde já uma das melhores coisas de 2018. Um terrorzão indispensável para quem gosta de filmes nesse estilo.

Ghostland (Estados Unidos, 2018) Direção: Pascal Laugier / Roteiro: Pascal Laugier / Elenco: Crystal Reed, Mylène Farmer, Anastasia Phillips / Sinopse: Dois psicopatas que dirigem um carrinho de sorvetes fazem de reféns duas jovens garotas e começam a tratar delas como se fossem duas bonecas humanas. Um dos insanos se veste como uma mulher e outro se comporta como um bebezão violento e brutal. Para as meninas tudo o que importa é fugir daquele inferno na Terra.

Pablo Aluísio. 

O Vingador da Iugoslávia

Pois é, o Jean-Claude Van Damme recusa a se aposentar. Ele continua a fazer filmes todos os anos. Essas produções vão ficando cada vez mais baratas e sem divulgação. Acredito até que sejam deficitárias, uma vez que muitas delas nem são mais rodadas nos Estados Unidos, mas sim no leste europeu onde os custos são bem menores. Nesse novo "O Vingador da Iugoslávia" o roteiro se aproveita das rivalidades que nasceram quando a antiga Iugoslávia se dividiu em diversas nações independentes, entre elas a Croácia, a Sérvia e a Bósnia. No meio desse caos de nacionalidades o pai de Van Damme é assassinado. Os anos passam, ele cresce e se torna obcecado em vingar a morte do pai. Mais do que isso, ele se infiltra na quadrilha do assassino, se fazendo passar por um bom empregado, ou melhor dizendo, um bom capanga.

Quando o filme começa tudo o que sabemos é que vários homens baleados estão dando entrada em um hospital. Entre eles está Van Damme e outros que ele atingiu. Uma enfermeira tenta reconstituir esse dia para um agente do FBI, para ele entender o que de fato ocorreu, até porque as lutas não terminaram quando eles entraram pela porta principal do hospital. Tudo recomeça, com Van Damme tentando sobreviver, já que seus rivais não parecem contentes. Ele deve ser colocado no chão e morto o mais imediatamente possível. Assim o roteiro tem até uma estrutura narrativa interessante, com praticamente tudo se passando em flashback. A enfermeira vai narrando os acontecimentos (que podem ser verdadeiros ou não) e os agentes do FBI tentam organizar e entender o que se passou. Van Damme está obviamente envelhecido, afinal os anos se passaram, mas não faz feio nas cenas de lutas, que afinal de contas sempre foi o grande atrativo de sua carreira. Ele tem dois ou três bons momentos, com boas coreografias de artes marciais. Para um filme dele nessa fase de sua filmografia já está bom demais.

O Vingador da Iugoslávia (Kill'em All, Estados Unidos, 2017) Direção: Peter Malota / Roteiro: Jesse Cilio, Brian Smolensky / Elenco: Jean-Claude Van Damme, Autumn Reeser, Peter Stormare / Sinopse: Croatas e sérvios resolvem acertar suas diferenças dentro de um hospital nos Estados Unidos. Depois do banho de sangue dois agentes do FBI passam a interrogar uma enfermeira que vai lhes contanto tudo o que presenciou. Sua versão porém apresenta algumas falhas e contradições. Estaria ela realmente contando a verdade ou teria algo mais a esconder?

Pablo Aluísio.

quinta-feira, 5 de julho de 2018

Homem-Formiga e a Vespa

E a Marvel segue lançando seus filmes nos cinemas. Uma das coisas que me surpreendem é o ritmo dos lançamentos. Mal um filme Marvel sai de cartaz e outro já entra no mercado. Com isso o estúdio vai faturando milhões, mas também vai criando uma certa saturação para filmes de super-heróis. Pois bem, esse aqui é o segundo da linha Homem-Formiga. O primeiro até que me agradou, principalmente pelo tom leve e descontraído do personagem. O Homem-Formiga no mundo dos quadrinhos é bem secundário. Ele foi criado há muitos anos, não fez muito sucesso e passou anos sem ser publicado. Agora com a força do cinema tem recebido mais atenção dos leitores de quadrinhos. De minha parte o considero um herdeiro do Sci-fi dos anos 1950, com todos aqueles filmes B com insetos gigantes destruindo as cidades.

Por falar nisso uma das melhores cenas desse novo filme acontece justamente quando o Homem-Formiga se torna um gigante (por causa de uma falha em seu uniforme). Ele andando na baía de San Francisco, com 25 metros de altura, tentando pegar um objeto que está nas mãos do vilão em um barco, é puro cinema de ficção B dos anos 50. Outro ponto que me chamou a atenção foi que o roteiro deu mais espaço para o ator Michael Douglas. Veteranos das telas, um nome importante dentro da indústria, ele merecia mesmo aparecer mais. Paul Rudd por sua vez continua o mesmo. Ele que sempre fez filmes de comédia romântica mantém o mesmo tom, bem ameno. O roteiro desse novo filme porém me soou sem inspiração, sem novidades. Seguindo uma velha fórmula o enredo criado pelos roteiristas não tem criatividade. Sempre que o filme vai caindo no lugar comum eles usam a bengala dos efeitos especiais para que o público não fique entediado. Em suma, um filme mais fraquinho do que o primeiro. Só não se torna ruim por causa de seu estilo vintage.

Homem-Formiga e a Vespa (Ant-Man and the Wasp, Estados Unidos, 2018) Direção: Peyton Reed / Roteiro: Chris McKenna, Erik Sommers / Elenco: Paul Rudd, Michael Douglas, Laurence Fishburne, Michelle Pfeiffer, Evangeline Lilly, Michael Peña  / Sinopse: O cientista Dr. Hank Pym (Michael Douglas) quer trazer sua esposa de volta. Ao se tornar minúscula ela acabou se perdendo no mundo quântico. Para isso Hank precisará da ajuda de Scott Lang (Paul Rudd) que desde o filme anterior se tornou o novo Homem-Formiga.

Pablo Aluísio.

Verdade ou Desafio

Mais um filme de terror lançado recentemente nos cinemas brasileiros. Sempre quando uma fita de terror consegue entrar no mercado, no circuito comercial aqui no Brasil, fico de olho. Afinal nem sempre isso acontece. Pode até ser o caso de ser um filme excepcional, acima da média, que acaba despertando o interesse dos distribuidores. Bem, não é infelizmente o caso aqui. Embora tenha algumas coisas bem interessantes e até diria originais em seu roteiro, essa fita não passa muito longe do lugar comum. O grande atrativo em termos de bilheteria é a presença da atriz Lucy Hale. Não sabe de quem se trata? Ora, se tiver uma filha adolescente ou uma irmã nessa fase da vida, ela certamente saberá quem é. A garota virou uma estrela teen por causa da série 'Pretty Little Liars", grande sucesso entre os jovens.

Pois bem. E que enredo temos aqui nesse filme? Um grupo de jovens americanos (sempre eles!) vão passar um fim de semana no México. A intenção é curtir, fazer farra além da fronteira. Na última noite no país eles decidem aceitar o convite de um desconhecido em um bar para ir tomar umas cervejas numa velha igreja abandonada nos arredores da cidade. Claro, péssima ideia. Mas não para a turma que aceita o convite. Chegando lá eles caem numa maldição envolvendo um demônio, o jogo da verdade ou desafio e muitas mortes inexplicáveis. A fita tem até um suspiro de suspense (não espere por muito, por favor) que vai levando o espectador em frente, esperando ver quem será o próximo jovem a morrer. Pena que os roteiristas se perdem no final, não conseguindo trazer um desfecho para tudo o que aconteceu. Pior do que isso, eles caem na armadilha de deixar tudo em aberto, obviamente deixando a porta aberta para futuras continuações. Mais uma franquia de terror vem aí pela frente? Vamos torcer para que não!

Verdade ou Desafio (Truth or Dare, Estados Unidos, 2018) Direção: Jeff Wadlow / Roteiro: Michael Reisz / Elenco: Lucy Hale, Tyler Posey, Violett Beane / Sinopse: Grupo de jovens americanos decide ir até o México para curtir um fim de semana com muita bebida, garotas e diversão. Chegando lá acabam se envolvendo com uma antiga maldição que envolve um demônio que no passado foi despertado por uma freira amaldiçoada. 

Pablo Aluísio.

quarta-feira, 4 de julho de 2018

Gotti

O filme foi massacrado pela crítica nos Estados Unidos e Europa. Alguns críticos chegaram a dizer que se tratava do pior filme sobre máfia já feito! Um exagero. Tudo bem que "Gotti" passa longe de ser uma obra prima, mas até que tem seus momentos. O interessante de tudo - pelo menos no meu caso pessoal - é que eu me lembro bastante da figura desse chefão mafioso John Gotti. Ele era figurinha fácil nos telejornais da época. Durante os anos 80 ele se tornou praticamente uma celebridade, o que em se tratando de um líder do crime organizado não era bem uma boa ideia a se seguir.

John Gotti adorava a mídia, sempre debochando das autoridades. Chegou a ser chamado de "Don Teflon" porque nenhuma acusação conseguia grudar nele, o levando a ser absolvido inúmeras vezes. Processado por anos e anos, só caiu na malha do FBI porque cometeu o erro de ficar deslumbrado com seu próprio poder dentro da máfia. Vindo de baixo, subiu ao topo do comando da família Gambino de Nova Iorque ao executar o chefão anterior, Paul "Big Paul" Castellano. Quebrando o código de honra que deveria ser seguido pelos membros da cosa nostra acabou virando alvo não apenas dos federais, mas também dos demais membros de famílias rivais.

John Travolta faz o possível para encarnar John Gotti. Em minha opinião a maquiagem ficou um pouco esquisita. Ele também exagera em certos momentos, adotando uma postura quase de caricatura. Mesmo assim ainda consegue sobreviver ao vexame. O roteiro também falha por ser mal estruturado. Com idas e vindas no tempo, acaba se tornando um pouco cansativo para o público em geral. De qualquer forma há bons momentos, como a recriação do assassinato do chefão Castellano em frente a um restaurante de Nova Iorque. Enquanto o rival é executado, Gotti vai assistindo a cena, curtindo todos os detalhes sangrentos. Em suma, apesar de não ser um grande filme até que "Gotti" se torna interessante, justamente por causa de seu protagonista, talvez o último grande chefão mafioso da história. 

Gotti (Estados Unidos, 2018) Direção: Kevin Connolly / Roteiro: Lem Dobbs, Leo Rossi / Elenco: John Travolta, Spencer Rocco Lofranco, Kelly Preston / Sinopse: Durante a década de 1980 um mafioso de escalão menor, John Gotti (Travolta), decide executar o chefão de seu bando, o líder da infame família Gambino de Nova Iorque. Com sua morte ele assume o controle da quadrilha, mas ao mesmo tempo passa a ser alvo do FBI e das famílias rivais, dando começo a uma sangrenta luta pelo poder dentro da cosa nostra.

Pablo Aluísio.

Passageiros

Até que gostei desse filme "Passageiros". Se fosse resumir de uma forma bem concisa diria que é um Sci-fi romântico, uma definição esquisita, mas que tem sua razão de ser. A história do filme se passa toda numa nave espacial. Em viagens de grandes distância - estou aqui me referindo a distâncias cósmicas! - a única forma de manter a vida seria colocar todos os tripulantes e passageiros numa espécie de hibernação. Por um erro do sistema porém um dos membros da tripulação é retirado desse estado. Isso também significaria que ele estaria só pelo resto da viagem que duraria um tempo maior do que a expectativa de vida de um ser humano normal.

Aí entra a grande inventividade do roteiro. Para não ficar solitário até o fim de seus dias esse mesmo tripulante decide tirar uma jovem garota de sua hibernação - para viver ao seu lado. Falta de ética? Absurdo moral? Tudo isso, mas o roteiro tenta contornar essas questões para contar uma história de amor. Com praticamente apenas dois atores em cena (Jennifer Lawrence e Chris Pratt) o filme funciona, o que não deixa de ser uma surpresa. Os dois vão se conhecendo e como estão sozinhos no meio do universo acabam se apaixonando. O filme não fez o sucesso esperado, talvez por não ter sido muito bem entendido e recebido pela crítica, mas vale a pena ser conhecido. É um daqueles roteiros que ficam em nossa mente por bastante tempo, justamente por causa de sua originalidade. Algo, convenhamos, bem complicado de encontrar hoje em dia dentro do cinemão comercial americano.

Passageiros (Passengers, Estados Unidos, 2016) Direção: Morten Tyldum / Roteiro: Jon Spaihts / Elenco: Jennifer Lawrence, Chris Pratt, Michael Sheen, Andy Garcia / Sinopse: Trpulante de uma viagem espacial acaba sendo despertado antes da hora de sua câmara de hibernação. Para não ficar sozinho até o fim de seus dias ele resolve retirar desse estado uma jovem passageira, bem bonita e atraente. Isso acaba selando seus destinos para sempre.

Pablo Aluísio.

terça-feira, 3 de julho de 2018

Até o Último Homem

Um filme interessante por ser diferente. É a história de um soldado americano chamado Desmond Doss (Andrew Garfield) que é levado para lutar nos campos de batalha da II Guerra Mundial. Até aí, nada demais, seria uma história convencional sobre esse conflito. A diferença vem do fato do jovem soldado ser um adventista do sétimo dia, o que teoricamente o impediria de lutar no front, matando os inimigos. Alegando exceção de consciência (algo que também existe no direito brasileiro) ele então é designado para o corpo médico da corporação. Assim ele vai para a guerra não para tirar vidas, mas sim para salvar as vidas do maior número possível de soldados americanos atingidos pelo fogo inimigo.

A direção é de Mel Gibson. Após alguns anos em que ficou brigado com os principais nomes da indústria cinematográfica americana, ele retornou para dirigir essa produção. Gibson dividiu seu filme em dois atos bem distintos, na primeira parte mostrando aspectos da vida pessoal de seu protagonista e a segunda, já no campo de guerra na Europa, quando seu personagem principal acaba se tornando um herói no front. O segundo ato do filme é bem mais interessante. Gibson mostra muita habilidade em explorar as cenas de batalha. Por fim uma curiosidade histórica. Esse roteiro foi escrito originalmente para ser estrelado por Audie Murphy, um herói de verdade da guerra que havia virado astro de filmes de cowboy nos anos 50.

Até o Último Homem (Hacksaw Ridge, Estados Unidos, Austrália, 2016) Direção: Mel Gibson / Roteiro: Robert Schenkkan, Andrew Knight / Elenco: Andrew Garfield, Hugo Weaving, Vince Vaughn, Sam Worthington / Sinopse: O filme conta a história real do soldado Desmond Doss (Andrew Garfield). Ele é um jovem adventista do sétimo dia que se alista no exército americano durante a Segunda Grande Guerra Mundial. Alegando objeção de consciência (de natureza religiosa), ele acaba se dispondo a ajudar os companheiros no campo de batalha, trabalhando como assistente médico. Filme indicado ao Oscar nas categorias de Melhor Filme, Melhor Ator (Andrew Garfield), Melhor Direção (Mel Gibson), Melhor Edição (John Gilbert), Melhor Mixagem de Som (Kevin O'Connell e Andy Wright) e Melhor Edição de Som (Robert Mackenzie e Andy Wright).

Pablo Aluísio. 

Um Limite Entre Nós

Uma das melhores atuações da carreira do ator Denzel Washington que inclusive deveria ter sido premiado com o Oscar por esse seu trabalho. Em ritmo teatral ele interpreta um lixeiro chamado Troy. No passado ele foi considerado um promissor jogador de beisebol, mas a promessa não se cumpriu. O tempo passou, ele envelheceu e diante de uma família para criar acabou arranjando um trabalho comum. Isso porém não tornou Troy uma pessoa amargurada ou depressiva. Ele tem seus valores e não deixa de ser um homem muito rico em experiências de vida. Sua visão de mundo pode até ser considerada dura demais pela esposa, filhos e amigos, mas é assim que ele pensa.

O roteiro traz ótimos diálogos para o elenco. Nesse altura de sua carreira é realmente um presente para Denzel Washington encontrar um texto tão bom para declamar em cena. Entre risos e lágrimas, ele demonstra que é um dos grandes atores de sua geração. Palmas merecidas também para Viola Davis. Premiada como melhor atriz no Oscar e no Globo de Ouro, ela é sem dúvida a alma de um filme muito humano, muito caloroso e também verdadeiro. Provavelmente Denzel Washington tenha criado um carinho tão grande pelo filme que resolveu ele mesmo dirigir. Acabou fazendo também uma excelente direção de atores. Enfim, se você é fã e admirador de Washington não pode deixar passar em branco esse fenomenal momento de sua filmografia. Filme realmente grandioso.

Um Limite Entre Nós (Fences, Estados Unidos, 2016) Direção: Denzel Washington / Roteiro: August Wilson / Elenco: Denzel Washington, Viola Davis, Stephen Henderson, Jovan Adepo, Russell Hornsby, Mykelti Williamson / Sinopse: Troy (Denzel Washington) é um pai de família que trabalha como lixeiro na cidade onde vive. Além das dificuldades do trabalho duro, ele ainda precisa lidar com todos os problemas familiares que vão surgindo em sua vida, sempre com uma visão peculiar, própria, do mundo. Filme premiado no Oscar e no Globo de Ouro na categoria de Melhor Atriz Coadjuvante (Viola Davis). Também indicado ao Oscar nas categorias de Melhor Ator (Denzel Washington), Melhor Roteiro Adaptado e Melhor Filme.

Pablo Aluísio.

segunda-feira, 2 de julho de 2018

Somente o Mar Sabe

Desconhecia totalmente a história que é baseada em fatos reais. Nos anos 60 um prêmio foi prometido ao primeiro navegador que conseguisse dar a volta ao mundo em um veleiro. Detalhe importante: o navegador teria que viajar completamente sozinho, sem o apoio de ninguém. Isso chama imediatamente a atenção de Donald Crowhurst (Colin Firth). Ele é inventor nas horas vagas e apesar de ter um pequeno barco sua experiência em alto-mar é zero. Mesmo assim ele resolve ir atrás de investidores para a aventura. Representando a Inglaterra, logo começa a colocar em prática seus planos. Ele mesmo desenha o projeto do veleiro e após alguns atrasos finalmente consegue colocar o barco no mar. Não há tempo a perder e no mesmo dia em que a embarcação fica pronta ele entra na competição.

O que mais me deixou surpreso nesse filme é que ele conta na verdade uma história que de certa maneira envergonha os ingleses em geral. Não vou soltar spoiler, mas o fato é que o personagem de Colin Firth passa longe de ser um herói da história britânica. No começo do filme você é levado a pensar que se trata de mais um daqueles heróis improváveis que vencendo todas as adversidades acaba fazendo um grande feito pessoal, mas não é nada disso. Embora retratado como bom pai de família, logo que se vê no meio do oceano começa a surgir nele uma personalidade mesquinha, trapaceira, que parece disposto a tudo para alcançar a fama. Conforme o tempo passa, ele também começa a demonstrar sinais de desequilíbrio mental, talvez e muito provavelmente, por ter ficado meses isolado no meio do oceano. Enfim, não é um filme para todos os públicos. Não há heroísmo e nem orgulho, mas apenas muita vergonha em cima de tudo o que aconteceu.

Somente o Mar Sabe (The Mercy, Inglaterra, 2018) Direção: James Marsh / Roteiro: Scott Z. Burns / Elenco: Rachel Weisz, Colin Firth, David Thewlis / Sinopse: Um homem comum, bom pai de família, decide participar de uma competição de volta ao mundo em um veleiro. O navegador precisa viajar completamente sozinho pelo oceano, dar a volta ao mundo e voltar para a Inglaterra no menor tempo possível. O primeiro lugar receberá uma bela bolada em dinheiro. O problema é que a viagem acaba se tornando um desafio acima das possibilidades, levando o navegador solitário a tomar atitudes completamente desprezíveis sob o ponto de vista ético e moral.

Pablo Aluísio.

A Melhor Escolha

Esse filme vai falar mais fundo ao povo dos Estados Unidos, em especial aos familiares que perderam entes queridos nas diversas guerras que o país se envolveu nesses últimos anos. É a história de três veteranos da guerra do Vietnã que se reencontram muitos anos depois. Claro que o tempo colocou cada um deles em caminhos diferentes na vida, mas eles voltam a se reunir justamente para o enterro do filho de um deles, um rapaz morto na ocupação do Iraque. Larry 'Doc' Shepherd (Steve Carell) é o pai do jovem soldado morto. Ele resolveu procurar por Sal Nealon (Bryan Cranston), velho amigo dos fuzileiros, para que ele ajude no enterro de seu filho. Ao contrário de Doc que é um sujeito introvertido, Sal é pura extroversão. Dono de um pequeno bar, ele fala pelos cotovelos. Mulherengo e expansivo, é um bom contraponto ao antigo colega de farda.

O último a se juntar ao trio é Richard Mueller (Laurence Fishburne). Na época da guerra do Vietnã ele era um soldado que gostava de jogar cartas e mulheres de bordel. Agora, passados tantos anos, virou pastor de uma pequena igreja de sua cidade. O passado ele quer deixar para trás, mas os antigos companheiros do serviço militar surgem para trazer tudo de volta. O roteiro se desenvolve assim, com os três amigos indo para o funeral do jovem fuzileiro. O choque de personalidades entre eles é o grande fator dramático explorado pelo roteiro. No geral achei um filme com narrativa bem convencional. A única coisa fora do comum é a atuação do ator Steve Carell que deixou a comédia de seus filmes anteriores para abraçar um papel bem de acordo com a proposta do enredo. Então é isso, basicamente um filme sobre o funeral de um soldado, filho de outro soldado, que tenta superar os traumas de um passado no campo de combate.

A Melhor Escolha (Last Flag Flying, Estados Unidos, 2017) Direção: Richard Linklater / Roteiro: Richard Linklater, Darryl Ponicsan/ Elenco: Bryan Cranston, Laurence Fishburne, Steve Carell, J. Quinton Johnson / Sinopse: O filme conta a história de três veteranos de guerra que voltam a se reunir após muitos anos. Eles seguem juntos para o enterro de um jovem fuzileiro naval, filho de Doc, um dos veteranos do Vietnã.

Pablo Aluísio.

domingo, 1 de julho de 2018

Os Estranhos: Caçada Noturna

O primeiro filme não havia me agradado muito. Embora bem feito, achei extremamente violento e brutal, além de trazer um final em aberto que parecia premiar os psicopatas do enredo. Esse segundo filme segue basicamente as mesmas linhas do anterior, mas com mudanças que me deixaram mais satisfeito como espectador. A premissa básica segue muito parecida. Uma família decide passar alguns dias de férias em um hotel isolado, pertencente a um parente. Ao chegarem lá descobrem que o lugar está meio abandonado, sem ninguém por perto. Uma estranha garota bate a porta da família perguntando por uma pessoa que não existe. Depois ela retorna para fazer a mesma pergunta. Bizarro, algo não está certo.

E realmente não está, em pouco tempo a família de mascarados psicopatas surge, com a finalidade de matar a todos. Não existe - como também não existia no primeiro filme - qualquer motivação para a matança. O roteiro também não se preocupa em mostrar a história ou o passado da família de mascarados, apenas em mostrar o sangue jorrando. Claro, não é um filme indicado para pessoas mais sensíveis ou que estejam procurando por diversão sadia. Isso porém não desqualifica "Os Estranhos" como franquia de sucesso, já que no subgênero gore ele está muito bem representado. Obviamente o roteiro se rende a alguns clichês do estilo, como a extrema ingenuidade (diria até burrice) das vítimas, mas cenas mais bem idealizadas garantem o interesse, entre elas citaria o assassinato a facadas na piscina, com toda aquela iluminação ultra brega desse tipo de hotelzinho que existe nos Estados Unidos. Fora isso também destaco a trilha sonora, cheia de hits radiofônicos dos anos 80, algo sutil que acaba tornando tudo ainda mais sinistro e macabro.

Os Estranhos: Caçada Noturna (The Strangers: Prey at Night, Estados Unidos, 2018) Direção: Johannes Roberts / Roteiro: Bryan Bertino, Ben Ketai / Elenco: Christina Hendricks, Martin Henderson, Bailee Madison / Sinopse: Duas famílias. A primeira resolve se hospedar em um pequeno hotel isolado. A segunda é formada por psicopatas que usam máscaras sinistras. O encontro entre as duas famílias vai gerar um banho de sangue no meio da madrugada. E não haverá a quem pedir socorro.

Pablo Aluísio.

Rota de Fuga 2

Muito ruim esse novo filme de Stallone! Aliás usar essa expressão nem é tão certa porque apesar de Stallone estar no elenco ele na verdade apenas vendeu a franquia "Escape Plan" para produtores chineses. Assim vários personagens orientais foram adicionados no roteiro e o que era para ser a continuação do primeiro filme de 2013 virou apenas uma venda comercial para o promissor mercado de filmes da China. E o que restou dessa transação comercial? Muito pouco. Em termos cinematográficos o filme é, como já escrevi, muito ruim. Parece que os produtores chineses fizeram de propósito para que o filme acabasse se parecendo com aquelas fitas B de Hong Kong. O roteiro é do tipo trash, mero pretexto para uma série de lutas de kung fu. Nada mais do que isso.

E qual é o enredo que ele conta? O personagem de Stallone, que era um prisioneiro no primeiro filme, agora é dono de uma empresa de seguros, mera fachada para uma equipe de resgate de presos em prisões de segurança máxima, do tipo alta tecnologia. Quando dois membros de seu grupo são aprisionados em uma prisão oriental chamada Hades, Stallone tenta tirá-los de lá. O problema é que a prisão não é a mesma, ou seja, ela muda de layout todos os dias. Uma prisão cujas paredes é móvel, tornado quase impossível uma fuga. Lendo assim a sinopse pode até parecer algo interessante, mas não se engane, o filme é realmente péssimo, mal produzido, mal roteirizado, com jeito de cinema oriental de qualidade ruim. Não adiante encarar. E o pior é que não vai parar por aí. Um terceiro filme já intitulado "Escape Plan 3: Devil's Station" já está em pós-produção. Haja ruindade!

Rota de Fuga 2 (Escape Plan 2: Hades, China, Estados Unidos, 2018) Direção: Steven C. Miller / Roteiro: Miles Chapman / Elenco: Sylvester Stallone, Dave Bautista, Xiaoming Huang, Jesse Metcalfe, 50 Cent / Sinopse: Sob a fachada de uma seguradora, o empresário Ray Breslin (Sylvester Stallone) monta uma equipe especializada em fugas de prisões de segurança máxima, de alta tecnologia. Quando dois membros de sua equipe são presos na Hades, uma prisão no Oriente, ele forma um grupo especial com o objetivo de resgatá-los de lá o mais rapidamente possível.

Pablo Aluísio.

quarta-feira, 27 de junho de 2018

Sansão e Dalila

Sansão e Dalila é certamente uma das histórias mais conhecidas do velho testamento. Em sua trama desfilam bravos guerreiros, mulheres fatais e a rejeição à idolatria do povo conhecido como Filisteu. Embora citado na Bíblia a história de Sansão é muito lacunosa pois o texto original não entra em maiores detalhes sobre sua vida pessoal. Sansão de certa forma parece ser uma adaptação do semi Deus Hércules da mitologia clássica. Aqui todos os elementos estão presentes: a força sobre-humana, a luta contra o opressor estrangeiro e a fé que move montanhas, ou no caso de Sansão, derruba colunas de um templo pagão dedicado a um falso Deus. Mesmo com tantos pontos omissos do texto sagrado os roteiristas fizeram um bom trabalho pois o filme é sem dúvida uma boa aventura com cenas marcantes - como a luta de Sansão contra um leão e o clímax final onde ele derruba todo um templo apenas com a força de sua fé inabalável. Uma bela matinê no final das contas.

Em termos de elenco temos Victor Mature como Sansão. Ele era um ator de poucos recursos dramáticos. Forte e adequado fisicamente ao papel tenta contornar sua falta de talento com carisma e eloquência ao declamar o texto de seu personagem. Seus melhores momentos são justamente àqueles em que a força física se torna mais importante, como a que ele surge cego e aprisionado em um grande moinho de grãos. Já a Dalila é interpretada pela bela Hedy Lamarr, considerada uma das mais bonitas atrizes da história de Hollywood. Sua interpretação é apenas correta. Dalila é em essência uma personagem complexa que ama e odeia Sansão na mesma intensidade. Curiosamente Lamarr se sai bem em cena, embora em nenhum momento sua atuação salte aos olhos. Se não é brilhante pelo menos não compromete o que é um ponto positivo.

A produção foi assinada por Cecil B. DeMIlle, um produtor completamente megalomaníaco. Se havia uma produção épica milionária em projeto ele era a pessoa certa para tornar realidade esse filme.Aqui ele até está de certa forma mais controlado. O filme não tem grandes cenas de multidão e nem batalhas épicas. Na realidade a trama, mais centrada no relacionamento de Sansão e Dalila, não dá margens a cenas grandiosas demais como em outros filmes dele. A única sequência mais exigente nesse aspecto é a cena final no templo filisteu mas mesmo essa, se comparada com outras momentos de DeMille no cinema, soa modesta. Os figurinos porém são realmente excessivos com muito uso de brilho e dourado. A figurinista Edith Head parece querer compensar a falta de exuberância do resto do filme com suas roupas chamativas e coloridas.

O filme também foi dirigido também por DeMille que não se contentou apenas em produzi-lo. Aqui talvez esteja a maior falha de "Sansão e Dalila". A direção de atores deixa realmente a desejar. DeMille parecia ser um grande diretor de multidões, do coletivo, já no nível individual ele se sai pior. Nada nesse aspecto se sobressai, nem nas várias sequências de Sansão e Dalila juntos. Pelo menos ele não errou no corte da duração e fez um filme mais enxuto evitando produções longas demais. Nesse aspecto acertou.

Sansão e Dalila (Samson and Delilah, EUA, 1949) Direção e Produção: Cecil B. DeMille / Roteiro: Jesse Lasky Jr, Fredric M. Frank baseado em história do Velho Testamento / Elenco: Hedy Lamarr, Victor Mature, George Sanders / Sinopse: Sansão (Victor Mature) é um judeu que se apaixona pela filesteia Semadar (Angela Lansbury). Essa é a irmã mais velha de Dalila (Hedy Lamarr) que também sente atração pelo forte Sansão. O destino porém os unirá em uma história de paixão, poder, traição e fé. Baseado no livro dos juízes do velho testamento da Bíblia.

Pablo Aluísio.

terça-feira, 26 de junho de 2018

O Mar é Nosso Túmulo

Título no Brasil: O Mar é Nosso Túmulo
Título Original: Run Silent Run Deep
Ano de Produção: 1958
País: Estados Unidos
Estúdio: United Artists
Direção: Robert Wise
Roteiro: John Gay, Edward L. Beach
Elenco: Clark Gable, Burt Lancaster, Jack Warden, Brad Dexter

Sinopse:
Após ver seu submarino ser destruído em combate o capitão 'Rich' Richardson (Clark Gable) usa de sua influência política para receber o comando de uma nova embarcação. Assim ele é nomeado comandante novamente para retornar as costas do Japão. Seu primeiro oficial, o tenente Jim Bledsoe (Burt Lancaster), logo percebe que Richardson está obcecado em retornar ao mesmo lugar onde seu antigo submarino foi destruído. Mesmo contrariando ordens superiores, ele avança rumo em direção ao mesmo ponto onde se travou a batalha anterior, colocando em risco a vida de todos os tripulantes. Filme premiado pelo Laurel Awards na categoria de Melhor Fotografia em Preto e Branco (Russell Harlan). 

Comentários:
O cenário onde se trava todo o enredo de "Run Silent Run Deep" é o mar da costa do Japão durante a Segunda Guerra Mundial. É justamente lá que o obcecado capitão 'Rich' Richardson (Clark Gable) deseja se vingar de seus algozes, que colocaram a pique seu submarino anterior, matando muitos de seus homens. Obviamente que em um conflito tão complexo como aquele não haveria espaço para vinganças pessoais e é justamente isso que o coloca em rota de colisão com o tenente Jim Bledsoe (Burt Lancaster). Esse filme tem ótimo elenco e melhora bastante pelo fato de haver uma constante tensão entre os personagens de Gable e Lancaster. Esse último foi destituído de última hora do comando para dar lugar ao capitão interpretado por Gable, algo lamentado por toda a tripulação. Para piorar a vida daqueles militares seu novo comandante parece carregar traumas de guerra, querendo o tempo todo partir para uma briga de fundo pessoal contra um navio de guerra japonês em particular, justamente o mesmo que afundou seu submarino alguns meses antes. 

O filme é curto, mas muito eficiente. Uma obra cinematográfica enxuta que se propõe a contar uma estória de vingança e redenção em plena guerra e o faz muito bem. Tecnicamente o filme envelheceu, como era de se esperar, pois as miniaturas dos navios e submarinos se tornam bem óbvias em determinadas cenas, mas o espectador deve encarar tal situação como fruto das próprias limitações em termos de efeitos especiais da época. Aliás haverá até mesmo o afloramento de um sentimento de nostalgia ao ver essas sequências. De forma em geral é um bom filme de guerra, encarando o cotidiano de militares servindo em um submarino americano da época, durante a segunda grande guerra. Em relação a isso o filme também merece elogios pois os cenários do interior da embarcação são extremamente realistas, mostrando ambientes pequenos e claustrofóbicos, tal como na vida real. Dizem que Clark Gable e Burt Lancaster não se deram muito bem nas filmagens, mas isso não passa para a tela, prejudicando o resultado final, que repito é muito bom e especialmente indicado para fãs de filmes clássicos de guerra.

Pablo Aluísio.

segunda-feira, 25 de junho de 2018

Irma la Douce

Título no Brasil: Irma la Douce
Título Original: Irma la Douce
Ano de Produção: 1963
País: Estados Unidos
Estúdio: United Artists
Direção: Billy Wilder
Roteiro: Billy Wilder,  Alexandre Breffort
Elenco: Jack Lemmon, Shirley MacLaine, Lou Jacobi, Bruce Yarnell 

Sinopse:
Irma La Douce (Shirley MacLaine) é uma prostituta das ruas de Paris que acaba tendo sua vida mudada com a chegada de um novo policial no local onde "trabalha". Nestor Patou (Jack Lemmon) é um novato na corporação que segue a lei ao pé da letra. Quando percebe que há um batalhão de mulheres nas ruas esperando seus clientes, decide prender todas elas, causando um verdadeiro rebuliço em seu departamento de polícia. A partir daí, contra todas as previsões, acaba se apaixonando justamente por Irma, que não está disposta a mudar a forma como leva sua "profissão". Filme indicado ao Oscar nas categorias de Melhor Atriz Coadjuvante (Shirley MacLaine) e Melhor Fotografia (Joseph LaShelle) e vencedor na categoria de Melhor Canção Original (André Previn). Filme vencedor do Globo de Ouro na categoria de Melhor Atriz - Comédia ou Musical (Shirley MacLaine).

Comentários:
O diretor Billy Wilder conseguiu aqui nesse filme algo bem raro de se alcançar no mundo do cinema. Baseado na peça escrita originalmente por Alexandre Breffort, Wilder conseguiu realizar um filme leve, divertido, em cima de um tema que a priori deveria ser tratado como algo realmente barra pesada. Imagine contar a estória de uma prostituta de rua em Paris, explorada por cafetões violentos, que acaba se apaixonando por um policial e mesmo assim transformar tudo em uma obra com muito bom humor e leveza. Certamente não é algo fácil de se realizar. Há estereótipos nesse roteiro que deixariam as feministas de hoje em dia com os cabelos em pé. A personagem Irma La Douce interpretada por Shirley MacLaine é um exemplo. Assim que se liberta das garras de um cafetão que lhe agride sempre que possível, resolve, com muito orgulho, sustentar um novo namorado (justamente o ex-policial vivido por Jack Lemmon). Ela tem grande prazer em lhe comprar coisas caras, mesmo que seja desesperadamente pobre e more em um cortiço. 

Nos tempos politicamente corretos em que vivemos, haveria muita má vontade se "Irma la Douce" chegasse hoje em dia aos cinemas. Deixando isso um pouco de lado temos que tecer vários elogios para o elenco. Shirley MacLaine ainda estava em seu auge, tanto em termos de simpatia como de beleza. Ela imprime um certo exagero em sua caracterização (que acaba sendo bem-vindo) pois sua personagem prostituta está sempre fumando e agindo com uma certa vulgaridade, embora seja no fundo apenas uma mulher que tente levar a vida adiante naquela situação. Ela engana propositalmente seus clientes contando estórias inventadas de um passado de dramas, apenas para ganhar mais alguns trocados no final de seus programas. Vestindo um figurino quase sempre verde, acaba trazendo para sua personagem uma imagem que depois será complicada de esquecer, de tão marcante. Já Jack Lemmon dá vida ao policial Nestor Patou, um sujeito simplório e até ingênuo, que acredita que deve aplicar a lei, mesmo que ela esteja em desuso e seja considerada inconveniente, como no caso das prisões de prostitutas de rua. Aliando o talento da dupla central com a fina ironia de Billy Wilder temos de fato uma obra bem divertida, com ótimos momentos, apesar de seu tema complicado.

Pablo Aluísio. 

Baionetas Caladas

Título no Brasil: Baionetas Caladas
Título Original: Fixed Bayonets
Ano de Produção: 1951
País: Estados Unidos
Estúdio: Twentieth Century Fox
Direção: Samuel Fuller
Roteiro: Samuel Fuller
Elenco: Richard Basehart, Gene Evans, Michael O'Shea, Richard Hylton

Sinopse:
Durante a Guerra da Coreia (1950 - 1953), um general americano decide recuar seu exército. Para que a manobra seja bem sucedida e segura, ele determina que um pequeno pelotão fique na retaguarda para evitar ao máximo a aproximação do exército inimigo. A missão, considerada suicida por muitos, acaba sendo colocada em prática com o pagamento de um alto preço em termos de bravura e vidas humanas. Roteiro baseado na novela de John Brophy.

Comentários:
Um dos clássicos da filmografia do genial cineasta Samuel Fuller (1912 - 1997). O diretor ficou conhecido na história do cinema americano por realizar obras que desvendavam a alma humana, mesmo contando com poucos recursos e orçamentos econômicos. Aqui temos um bom exemplar de sua filmografia. O enredo se passa todo em uma região montanhosa e gelada, nos postos mais avançados da fronteira coreana. Os soldados que são deixados para trás para evitar um combate direto com as forças inimigas, praticamente se colocam numa situação de tentar sobreviver o máximo de tempo possível para que seus companheiros em armas consigam se retirar do front sem baixas. Seu número é infinitamente menor, mas contando apenas com sua coragem devem enfrentar com baionetas fixadas (daí o título original do filme) as tropas vermelhas que estão chegando em grande número e armadas com material bélico pesado, inclusive tanques de infantaria. Enquanto os soldados americanos ficam entrincheirados, eles tentam com armadilhas, usando até minas terrestres (hoje tão condenadas por vários tratados internacionais), deter o poderoso exército inimigo. O roteiro não se foca em particular em nenhum personagem, uma característica que Samuel Fuller repetiria anos depois em "Agonia e Glória", mas ao mesmo tempo tenta desenvolver psicologicamente cada um dos membros do pelotão.  Assim ele consegue a um só tempo dar um rosto para aqueles combatentes sem esquecer que se trata mesmo de um exército, enfocando sua força coletiva. Em suma, o que basicamente temos aqui é um filme clássico sobre uma guerra pouco explorada pelo cinema americano, mostrando o drama de soldados que sabem que provavelmente não sairão vivos da missão que lhes foi ordenada, mas que mesmo assim lutam, em nome de suas vidas e de sua pátria.

Pablo Aluísio.

domingo, 24 de junho de 2018

Garotas Lindas aos Montes

Título no Brasil: Garotas Lindas aos Montes
Título Original: Pretty Maids All in a Row
Ano de Produção: 1971
País: Estados Unidos
Estúdio: Metro-Goldwyn-Mayer
Direção: Roger Vadim
Roteiro: Gene Roddenberry, Francis Pollini
Elenco: Rock Hudson, Angie Dickinson, Telly Savalas, Roddy McDowall

Sinopse:
Um grupo cada vez maior de garotas começa a ser atacado por um criminoso desconhecido. As jovens e bonitas estudantes de um colégio na região logo ficam assustadas, com medo de saírem na rua. Michael 'Tiger' McDrew (Hudson), por outro lado, não parece se importar muito. Para ele o que realmente importa é aumentar cada vez mais o número de conquistas amorosas. Roteiro escrito por Gene Roddenberry, o criador da famosa série televisiva "Jornada nas Estrelas" (Star Trek).

Comentários:
Quando esse filme chegou aos cinemas o New York Times ironizou ao dizer: "Poxa, os filmes com Rock Hudson mudaram muito desde os tempos de suas doces e inocentes comédias românticas ao lado de Doris Day!". Era uma ironia que no fundo retratava uma verdade. "Garotas Lindas aos Montes" mostrava bem que não havia mais espaço para a inocência dentro do cinema americano. O personagem de Rock Hudson hoje em dia seria visto como um cafajeste ou em uma visão mais crítica, um misógino. Trabalhando em um High School da Califórnia (o equivalente a uma escola de ensino médio no Brasil), ele não se importa em agir fora dos padrões e seduzir quem quer que cruze seu caminho. O personagem de Rock exala sexualidade à flor da pele e com isso leva para a cama as colegas professoras, as alunas e até mesmo as secretárias. Curiosamente o próprio Rock afirmou na época que estava em busca de um papel assim, para mudar sua imagem de bom mocismo construído após tantos anos de carreira. O problema é que o público não o queria ver em personagens desse tipo e o filme afundou feio nas bilheterias, se tornando logo um grande fracasso comercial. A fita chegou até mesmo a ser rotulada de "vulgar e apelativa", dois adjetivos que jamais seriam usados nos antigos filmes de Rock. Revisto hoje em dia podemos perceber que há uma clara tentativa de ser mais ousado e moderno, pegando carona com o clima cultural da época. O problema é que não convence muito, nem mesmo na suposta trama de crime e mistério. Teria sido melhor para Rock rodar um quarto filme ao lado de Doris Day, usando daquela antiga fórmula de sucesso. Esse aqui, pelo visto, não agradou mesmo ao público da época.

Pablo Aluísio.

Beija-me, Idiota

Título no Brasil: Beija-me, Idiota
Título Original: Kiss Me, Stupid
Ano de Produção: 1964
País: Estados Unidos
Estúdio: 20th Century Fox, United Artists
Direção: Billy Wilder
Roteiro: Billy Wilder, I.A.L. Diamond
Elenco: Dean Martin, Kim Novak, Ray Walston, Felicia Farr

Sinopse:
Dino (Dean Martin) é um cantor de sucesso em Las Vegas que precisa chegar em Los Angeles o mais rapidamente possível para uma apresentação na TV. No meio do caminho precisa desviar de rota, indo parar na distante cidadezinha de Climax. Lá acaba encontrando, por puro azar, com dois compositores amadores que vêem sua presença como a grande chance deles em emplacar uma música de sucesso. Um deles trabalha no posto de gasolina local e finge um problema no motor do carro de Dino para que ele fique por lá por mais tempo. O outro lhe oferece sua própria casa para que o cantor descanse um pouco enquanto seu carro é consertado. Tudo com o objetivo de convencer Dino a gravar uma de suas composições de péssimo gosto musical. O problema é que o astro de Vegas acaba se interessando em conhecer a mulher de um deles, que aliás é doente de ciúmes. Está armada a confusão na pequenina cidade.

Comentários:
Billy Wilder foi de fato um gênio do cinema. Seus textos são bem característicos e ele conseguia fazer um humor inteligente mesmo nas situações mais comuns. Nesse filme temos uma amostra de seu talento. Wilder aqui se aproveita da figura da celebridade. Dean Martin está genial interpretando... Dean Martin! Isso mesmo, em fato único de sua carreira, ele na realidade apenas interpreta a si mesmo. O filme aliás se aproveita muito bem disso, abrindo com um número musical de Dino no Sands Hotel em Las Vegas. Lá ele cantava (maravilhosamente bem, por sinal), contava piadas e se aproveitava de sua imagem pública de Mr. Cool, o sujeito bom de copo, relaxado e calmo, que ganhava a vida fazendo aquilo que muitos gostariam de fazer. Há coristas por todos os lados tentando levá-lo para a cama, e aquela insuspeita tranquilidade de um astro da música. O curioso é que o texto de Wilder brinca o tempo todo com o clichê que se espera de um cantor famoso, ou seja, do conquistador inveterado, que não perdoa nem mesmo as mulheres casadas, desde que sejam lindas, claro! Assim Wilder vai jogando o tempo todo com o tema, amplificando ainda mais esses estereótipos quando Dean vai parar numa cidadezinha perdida de Nevada chamada Climax. No local não há nada, a não ser dois compositores amadores que fariam de tudo para que ele gravasse uma de suas músicas. Certamente é um dos melhores momentos de Dean Martin no cinema, livre de sua parceria com Jerry Lewis ele brilha sozinho, sendo dirigido por um grande diretor e contando com um roteiro e um texto que são verdadeiras delícias para os cinéfilos. Também não podemos esquecer de elogiar o ótimo elenco de apoio, em especial Kim Novak, mostrando ter grande feeling para comédias de costumes como essa. "Kiss Me Stupid" é isso, um dos melhores filmes das carreira de Martin e Wilder, e isso definitivamente não é pouca coisa.

Pablo Aluísio.

sábado, 23 de junho de 2018

Terra dos Faraós

Título no Brasil: Terra dos Faraós
Título Original: Land of the Pharaohs
Ano de Produção: 1955
País: Estados Unidos
Estúdio: Warner Bros
Direção: Howard Hawks
Roteiro: William Faulkner, Harry Kurnitz
Elenco: Jack Hawkins, Joan Collins, Dewey Martin, James Robertson Justice
 
Sinopse:
Queóps (Jack Hawkins), o poderoso faraó do Egito Antigo, decide após mais uma campanha militar vitoriosa, construir uma pirâmide para que todos os seus tesouros conquistados e seu corpo após a morte fiquem a salvo de ladrões de tumbas. Para isso manda o arquiteto Vashtar (James Robertson Justice) elaborar o projeto da maior construção da humanidade até então, um colosso com mais de três milhões de blocos de imensas pedras, uma obra que levaria 20 anos para sua finalização, a grande pirâmice de Gizé que tornaria o nome de Queóps imortal.

Comentários:
Pouco se sabe historicamente sobre o faraó Khufu (mais conhecido pela civilização ocidental por seu nome grego, Queóps). Ele reinou na quarta dinastia do Egito, há mais de seis mil anos! Seu nome ainda hoje é lembrado por causa da maior pirâmide jamais construída, em Gizé, uma das poucas maravilhas do mundo antigo que conseguiu sobreviver ao teste do tempo. Como todo faraó, Queóps era adorado como um Deus e sua vontade era lei, até mesmo atos de megalomania impensados para os dias atuais. Assim após juntar tesouros inigualáveis roubados de povos conquistados ele pensou numa forma de levar toda aquela riqueza consigo, mesmo depois de sua morte. A construção da pirâmide iria garantir a imortalidade de sua alma e manteria seus bens materiais seguros de ladrões de tumbas. A religião do Egito Antigo tinha imensa preocupação com a vida após a morte, por essa razão os faraós eram enterrados junto aos seus tesouros. Em sua crença eles iriam desfrutar de todas as riquezas também no mundo espiritual. Noventa por cento do que você verá nesse filme é mera ficção. Como as fontes históricas sobre Queóps são poucas e esparsas, o jeito foi escrever uma história para ele meramente ficcional. A sorte para o espectador é que esse roteiro foi escrito pelo autor William Faulkner, um mestre em boas estórias e bons enredos. Ele escreveu uma obra sóbria, sem os exageros típicos de Hollywood em filmes épicos desse período. Amparado por uma milionária produção, muito bem realizada, com milhares de figurinos, o filme se torna uma diversão acima da média por causa de seu talento nato. O cineasta Howard Hawks conseguiu assim realizar um dos mais ambiciosos projetos de sua carreira e curiosamente um dos mais equilibrados também. Um belo filme que tenta reconstruir um dos mais importantes períodos da história da humanidade, sem exageros e que no final de tudo acaba se saindo muito bem em seus objetivos.

Pablo Aluísio.

A Mulher Desejada

Título no Brasil: A Mulher Desejada
Título Original: The Woman on the Beach
Ano de Produção: 1947
País: Estados Unidos
Estúdio: RKO Radio Pictures
Direção: Jean Renoir
Roteiro: Frank Davis, Jean Renoir
Elenco: Joan Bennett, Robert Ryan, Charles Bickford

Sinopse:
O filme narra um complicado triângulo amoroso. Após o tenente Scott Burnett (Robert Ryan), um oficial da Guarda Costeira, salvar a bela Peggy (Joan Bennett) na praia surge um flerte casual entre ambos, afinal são atraentes, simpáticos e bonitos. Tudo seria ideal para o surgimento de um grande romance se não fosse um detalhe crucial: Peggy já é casada com Tod (Charles Bickford), um pintor frustrado que é muitos anos mais velho do que ela. O casamento resistirá à presença do tenente na vida de Peggy?

Comentários:
Filme de traição e reviravoltas dirigido pelo francês Jean Renoir (1894 - 1979). Aclamado por filmes como "A Grande Ilusão" (1937), "A Regra do Jogo" (1939) "Bas Fonds" (1936) e "A Besta Humana" (1938), a principal preocupação da obra de Renoir era a alma humana e sua complexidade psicológica. Seus personagens de forma em geral eram pessoas torturadas, que tinham que lidar com situações extremas. Aqui há um clima de tensão que se arrasta por toda a trama, fruto da inegável atração entre o capitão interpretado por Robert Ryan e a personagem Peggy vivida por Joan Bennett. Inicialmente o maridão Tod acaba recebendo o salvador de sua esposa como um amigo, porém o perigo mora ao lado. Ele está ficando cego e incapaz de pintar o que torna sua situação ainda mais delicada. Como não consegue despontar como pintor ele acaba presenciando a ruína de toda a sua vida, pois até mesmo seu casamento fica por um fio. Na época de seu lançamento o roteiro trouxe um diálogo que ficou conhecido quando o marido Tod começa a entender que sua esposa está prestes a lhe trair. Enfurecido, ele dispara em direção à mulher: "Eu posso sentir o cheiro de seu ódio! Ele não é diferente de seu amor!". Além da boa trama o filme se apoia bastante no carisma dos atores principais, em especial Joan Bennett, uma bela atriz que conseguia impressionar não apenas por sua beleza, mas também por seu talento dramático. Já Robert Ryan também está perfeito no papel, até porque ele também havia sido militar na vida real, servindo na Marinha Americana durante a Segunda Guerra Mundial. Aqui ele está completamente à vontade vestindo a farda que usou durante longos anos. Não deixe de conferir "The Woman on the Beach" se você gosta de romances com finais trágicos e cortantes. Certamente não se arrependerá.

Pablo Aluísio.

sexta-feira, 22 de junho de 2018

O Navio Condenado

Título no Brasil: O Navio Condenado
Título Original: The Wreck of the Mary Deare
Ano de Produção: 1959
País: Estados Unidos, Inglaterra
Estúdio: Metro-Goldwyn-Mayer (MGM)
Direção: Michael Anderson
Roteiro: Eric Ambler, Hammond Innes
Elenco: Gary Cooper, Charlton Heston, Michael Redgrave, Richard Harris, Virginia McKenna, Terence de Marney
  
Sinopse:
John Sands (Charlton Heston), capitão de um navio de salvamento, encontra um cargueiro de Hong Kong, o Mary Deare, aparentemente à deriva no Canal Inglês. Ao resolver subir à bordo tem uma enorme surpresa! Nada poderia prepará-lo para o que estaria por vir. Roteiro baseado no best seller "The Wreck of the Mary Deare" de Hammond Innes.

Comentários:
Um filme que transita muito bem por diferentes gêneros. Começa como suspense, vira filme de tribunal e se encerra como aventura, com ótimas tomadas submarinas. A primeira coisa que chama atenção em "O Navio Condenado" é o seu elenco! Charlton Heston e Gary Cooper no mesmo filme já é motivo suficiente para o tornar obrigatório para qualquer cinéfilo que se preze. De quebra ainda tem Richard Harris, bastante jovem, em papel coadjuvante que terá grande importância no desenvolvimento da trama. O filme é baseado em um famoso livro britânico, "The Wreck of the Mary Deare", lançado no mesmo ano e talvez por isso sofra um pouco no sentido de se colocar muitas informações em um tempo limitado de metragem do próprio filme - não há como escapar, livros e filmes são meios diferentes e o que pode ser estendido em um, geralmente não cai muito bem em outro. O próprio autor colaborou no roteiro, mas em determinado momento resolveu abandonar o projeto uma vez que não concordou com as mudanças determinadas pela Metro-Goldwyn-Mayer, que naquele momento priorizava mais a produção de um filme enxuto, comercialmente viável, do que profundamente detalhista como o escritor desejava.

Assim não se admire se em determinado momento o roteiro pareça um pouco truncado. Foi necessário haver cortes na trama e isso tornou o desenvolvimento da trama mais problemático. Percebi também que houve uma esforço por parte dos roteiristas em enfocar mais o duelo travado entre os personagens de Cooper e Heston na primeira parte do filme! Afinal ambos eram grandes astros de Hollywood e o filme precisava explorar melhor esse conflito, embora no livro original isso não seja tão importante ou marcante. Grande parte da rivalidade era melhor exposta e dissecada no segundo ato quando os acontecimentos são finalmente reconstruídos em um tribunal, durante o julgamento do caso envolvendo o navio perdido. De maneira em geral o grande mérito desse filme é demonstrar que filmes de aventura podem trazer uma boa trama por trás, que exijam do espectador maior atenção e inteligência para decifrar todos os menores detalhes. No final o roteiro, apesar de tudo, se mostra bem escrito, com uma trama que prende a atenção do espectador do começo ao fim.

Pablo Aluísio.

Paris Vive à Noite

"Paris Vive à Noite" foi feito especialmente para o casal sensação dos anos 60, Paul Newman e Joanne Woodward. Produzido pela cia de Marlon Brando o filme foi rodado em locações na famosa cidade francesa. O roteiro é simples, dois casais se conhecem lá e ficam em um dilema pois as garotas, meras turistas, terão que voltar logo aos EUA enquanto os rapazes (Paul Newman e Sidney Poitier) tem planos de continuar na capital francesa para despontarem para a carreira artística (são músicos de jazz). Para falar a verdade o grande atrativo desse filme é sua música. A trilha sonora foi escrita por Duke Ellington e no filme somos brindados com uma ótima participação especial de Louis Armstrong. Para os fãs do Jazz americano não poderia haver nada melhor do que isso.

Já para os fãs de cinema o filme se resume a interpretações corretas e nada mais. O roteiro não desenvolve nenhuma grande situação dramática e assim tudo se resume a ver os pombinhos andando de mãos dadas pelos pontos mais famosos de Paris. Obviamente que a fotografia em preto e branco é muito bonita e o clima de romance no ar vai agradar as mulheres sonhadoras com romances de cartão postal. Para o público masculino vale a pena conferir a beleza discreta e elegante de Joanne Woodward. O diretor Martin Ritt já havia trabalhado ao lado de Paul Newman em "O Mercador de Almas", um filme bem superior a esse. A parceria continuaria depois com filmes como "O Indomado" e "Hombre". Enfim, "Paris Vive á Noite" é um romance ao velho estilo com muita música de qualidade e paisagens famosas, se faz seu estilo não deixe de conferir.

Paris Vive à Noite (Paris Blues, EUA / França 1961) Direção: Martin Ritt / Roteiro: Walter Bernstein e Harold Flender / Elenco: Paul Newman, Joanne Woodward, Diahann Carroll, Sidney Poitier, Louis Armstrong, Serge Reggiani / Sinopse: Ram Bowen (Paul Newman) e Eddie Cook (Sidney Poitier) são músicos americanos vivendo em Paris. Tocando em boates locais eles acabam conhecendo duas turistas de férias na cidade e acabam se envolvendo romanticamente com elas.

Pablo Aluísio.

quinta-feira, 21 de junho de 2018

Forte Massacre

Título no Brasil: Forte Massacre
Título Original: Fort Massacre
Ano de Produção: 1958
País: Estados Unidos
Estúdio: Mirisch Corporation
Direção: Joseph M. Newman
Roteiro: Martin Goldsmith
Elenco: Joel McCrea, Forrest Tucker, Susan Cabot
  
Sinopse:
Durante as chamadas guerras indígenas no velho oeste americano, uma tropa da cavalaria é cercada por um grupo de selvagens Apaches. Após um violento confronto o tenente-comandante da guarnição é fatalmente ferido numa encosta desértica. Seguindo a hierarquia militar o comando então passa para o sargento John Vinson (Joel McCrea) que precisará manter seus homens vivos no meio do deserto, embaixo de forte cerco dos índios e com escassez completa de água potável.

Comentários:
Muito bom esse western que foca sua atenção na guerra de sobrevivência que era travada durante as intervenções militares do exército americano em territórios hostis e dominados por hordas guerreiras inimigas. O sol escaldante, a falta de água e suprimentos e o cerco implacável de Apaches, loucos para matarem todos os homens brancos que encontrassem pela frente, formam o caldeirão infernal ao qual aqueles nobres soldados eram submetidos. Um verdadeiro jogo de vida ou morte que mostra muito bem como era dura a vida de um soldado americano da cavalaria no oeste americano durante aquele período histórico. A fita é estrelada pelo astro Joel McCrea, novamente perfeito em sua caracterização do verdadeiro homem do oeste. Ele é o sargento durão e íntegro que precisa manter seus subordinados vivos após a morte do tenente-comandante. Curiosamente McCrea sofreu um sério acidente durante as filmagens quando seu cavalo caiu de um barranco de solo arenoso. O ator teve que ser levado às pressas para Los Angeles onde descobriu-se que tinha uma fratura na perna. Assim as filmagens ficaram paradas por 45 dias. Percalços esperados para quem revivia a luta daqueles bravos homens da cavalaria americana.

Pablo Aluísio.

quarta-feira, 20 de junho de 2018

Álamo - Treze Dias de Glória

Título no Brasil: Álamo - Treze Dias de Glória
Título Original: The Alamo: Thirteen Days to Glory
Ano de Produção: 1987
País: Estados Unidos
Estúdio: National Broadcasting Company (NBC)
Direção: Burt Kennedy
Roteiro: Lon Tinkle, Clyde Ware
Elenco: James Arness, Brian Keith, Alec Baldwin, Raul Julia 
  
Sinopse:
"The Alamo: Thirteen Days to Glory" narra os treze decisivos dias de luta dos americanos contra as forças do general mexicano Antonio Lopez de Santa Ana (Raul Julia). O forte Álamo virou símbolo de patriotismo norte-americano pois as tropas que estavam lá defendiam a união do Texas com os Estados Unidos da América, enquanto que o exército de Santa Ana queria justamente o oposto, a imediata submissão de toda aquela região ao império do México.

Comentários:
Excelente telefilme que tem a proposta de ser a adaptação mais fiel possível do ponto de vista histórico da lendária resistência do forte Álamo contra tropas mexicanas naquele período particularmente decisivo para o destino do Texas. Todos os grandes nomes daquele evento histórico como William Travis, Jim Bowie e Davy Crockett estão presentes no roteiro. A intenção é realmente chegar o mais próximo possível aos fatos históricos reais. O elenco é muito bom e como houve mais espaço para desenvolver melhor cada personagem a trama vai ficando cada vez mais interessante com o decorrer do tempo. A fonte que serviu de base para o roteiro foi o livro escrito por  Lon Tinkle. Esse autor usou farta documentação histórica, tentando com isso desvincular a pura lenda dos fatos históricos verdadeiros. Assim, ao contrário de outras produções que enfocam a história do Álamo, temos aqui uma obra mais realista, longe dos devaneios patrióticos exagerados de filmes mais antigos. Nada de muito ufanista, o que é de fato um ponto positivo. Curiosamente, por ter uma boa produção a cargo da NBC, o filme não envelheceu e continua tão relevante hoje em dia como na época de seu lançamento. Para estudiosos da história então se torna realmente imperdível.

Pablo Aluísio.

Sanha Selvagem

Título no Brasil: Sanha Selvagem
Título Original: Warpath
Ano de Produção: 1951
País: Estados Unidos
Estúdio: Paramount Pictures
Direção: Byron Haskin
Roteiro: Frank Gruber
Elenco: Edmond O'Brien, Dean Jagger, Forrest Tucker
  
Sinopse:
John Vickers (Edmond O'Brien) é um veterano que decide ir atrás dos três assassinos de seu verdadeiro amor. Após encontrar um dos criminosos e entrar em confronto com ele, descobre que os outros dois entraram no exército americano e foram para o oeste. Vickers então nem pensa duas vezes e se alista novamente. Seu plano é seguir a pista dos assassinos para na primeira oportunidade que surgir os liquidar. Isso certamente o coloca em um dilema já que para isso terá que enfrentar uma corte marcial. E agora como ele poderá conciliar seu desejo de vingança com sua lealdade ao exército?

Comentários:
Filmes americanos sobre cavalaria costumam ser muito bons. Esse aliás é um tema muito cativante para fãs de western e ainda mais para aqueles que tiveram a oportunidade de, quando crianças, brincarem de Forte Apache. Aqui temos um filme elegante, muito bem desenvolvido e que lida com a questão da dualidade existente entre cumprir o regimento militar ou dar vazão a um desejo implacável de vingança. O filme é estrelado pelo grandalhão Edmond O'Brien (1915 - 1985) um ator que conseguiu fazer a complicada transição entre sua fase de galã (quando era jovem) para na velhice se tornar um grande ator de teatro e cinema. Foi inclusive vencedor do Oscar por seu trabalho no clássico "A Condessa Descalça". Entre os personagens explorados no filme temos a presença do lendário general da sétima cavalaria George Armstrong Custer, interpretado pelo ator James Millican. Em suma um belo trabalho de roteiro aliado a uma direção firme e segura, mostrando o momento em que dois valores importantes se chocam dentro da personalidade de um homem íntegro e honesto com suas emoções.

Pablo Aluísio.

terça-feira, 19 de junho de 2018

Vingança Terrível

Título no Brasil: Vingança Terrível
Título Original: The Raid
Ano de Produção: 1954
País: Estados Unidos
Estúdio: Panoramic Productions
Direção: Hugo Fregonese
Roteiro: Sydney Boehm, Francis M. Cockrell
Elenco: Van Heflin, Anne Bancroft, Richard Boone
  
Sinopse:
Um grupo de prisioneiros confederados escapa para o Canadá e coloca em prática um plano para roubar os bancos da cidade de Saint Albans, em Vermont. Como se trata de uma cidade da União eles ainda pensam em tocar fogo no local, criando um clima de desespero e medo nos moradores aos quais eles consideram ianques infames. Roteiro parcialmente baseado em fatos reais.

Comentários:
Esse tipo de operação de guerra ficou bem conhecida na Guerra Civil Americana, especialmente em relação aos confederados. A ideia era pilhar e roubar toda uma cidade, sendo o dinheiro enviado para o quartel general dos rebeldes no sul dos Estados Unidos. Aqui as coisas surgem de uma maneira um pouco diferenciada. Os membros desse pelotão confederado errante querem mesmo é o dinheiro de Saint Albans para si, o que no final não os diferencia em nada em relação aos criminosos da época. Para estudar a cidade e seus hábitos, bem como o cotidiano das agências bancárias, o grupo envia o major Neal Benton (Van Heflin) que acaba gostando muito da hospitalidade daquela gente, e pior do que isso, acaba se apaixonando por uma viúva da guerra, Katy Bishop (Anne Bancroft), que também se afeiçoa a ele. E agora? Trairá seus comparsas e ficará ao lado daqueles pobres civis indefesos ou ao contrário disso segue em frente com o plano de roubo e assalto do lugar, ignorando seus sentimentos pessoais? O roteiro explora exatamente essa dualidade de caminhos que se abate sobre o personagem Neal, que inclusive é interpretado pelo ótimo ator Van Heflin de "Os Brutos Também Amam". Bom faroeste, valorizado pelo aspecto mais humano de todos os seus personagens.

Pablo Aluísio.

O Último Duelo

Título no Brasil: O Último Duelo
Título Original: The Cimarron Kid
Ano de Produção: 1952
País: Estados Unidos
Estúdio: Universal Pictures
Direção: Budd Boetticher
Roteiro: Louis Stevens
Elenco: Audie Murphy, Beverly Tyler, James Best
  
Sinopse:
Bill Doolin (Audie Murphy) é um jovem acusado injustamente de roubo por funcionários corruptos da estrada de ferro. Revoltado pelas falsas acusações e perseguido por homens da lei, ele não vê outra alternativa a não ser se juntar à quadrilha dos Daltons, velhos amigos de longa data. Como pistoleiro acaba adotando o nome de The Cimarron Kid. Em pouco tempo sua destreza no gatilho o torna um nome conhecido. O problema é que outro membro de sua própria gangue resolve lhe trair, o que o deixa em uma situação delicada. Fugitivo, ele sonha em se esconder em algum país da América do Sul ou no México para tentar recomeçar sua vida ao lado da mulher que ama.

Comentários:
Budd Boetticher foi um dos mestres do western americano nos anos 1950. Dono de um estilo muito eficiente de rodar filmes baratos, mas bem cuidados, Boetticher conseguiu o reconhecimento dos fãs do gênero. Ao longo de várias décadas trabalhou ao lado de grandes nomes do faroeste como Randolph Scott. Aqui ele dirigiu outro astro dos filmes de bang bang, o veterano da Segunda Guerra Mundial Audie Murphy. As portas de Hollywood foram abertas porque ele foi um herói de guerra, o militar mais condecorado desse conflito sangrento que varreu o mundo na década de 1940. De volta à vida civil viu no cinema uma oportunidade de fazer carreira e contou com a sorte de ser dirigido por grandes cineastas como o próprio Budd Boetticher. Ao longo dos anos a Universal o escalou para uma série de filmes de western, sendo algumas produções B, que tinham como objetivo testar sua força nas bilheterias. Depois de interpretar Jesse James em "Cavaleiros da Bandeira Negra" e ter um belo sucesso com "A Glória de um Covarde" o estúdio finalmente se convenceu que tinha um astro em mãos. Assim "O Último Duelo" só confirmaria ainda mais a estrela de Murphy. Um bom western que realmente não fica nada a dever aos bons faroestes de sua época.

Pablo Aluísio.

segunda-feira, 18 de junho de 2018

A Máscara do Zorro

Título no Brasil: A Máscara do Zorro
Título Original: The Mask of Zorro
Ano de Produção: 1998
País: Estados Unidos
Estúdio: TriStar Pictures, Amblin Entertainment
Direção: Martin Campbell
Roteiro: Ted Elliott
Elenco: Antonio Banderas, Anthony Hopkins, Catherine Zeta-Jones
  
Sinopse:
Após passar décadas defendendo os injustiçados e oprimidos da Califórnia sob domínio espanhol no século XIX, o velho veterano Don Diego de la Vega (Anthony Hopkins) decide passar o seu legado de Zorro para um jovem chamado Alejandro Murrieta (Antonio Banderas), uma transição complicada já que embora seja um ótimo espadachim, sua personalidade é muito diferente da do Zorro original. Filme indicado aos Oscars de Melhor Som e Melhores Efeitos Especiais.

Comentários:
Apesar do bom elenco, da produção caprichada e do roteiro que muitas vezes valoriza o aspecto mais fanfarrão do personagem, jamais consegui gostar plenamente dessa nova franquia envolvendo o lendário Zorro. A ideia de revitalizar o espadachim mais famoso do cinema partiu de Steven Spielberg em pessoa. Durante muito tempo ele realmente teve a intenção de dirigir o filme, o que fez com que nomes importantes como Anthony Hopkins assinassem contrato para participar do filme. O projeto porém parecia nunca ir em frente, sendo sucessivamente adiado ao longo de três anos. Na última hora porém Spielberg desistiu da empreitada. Ele alegou que estava com a agenda cheia demais, envolvido com dois outros filmes e que por essa razão seria impossível dirigir um terceiro. Resolveu então escolher o diretor Martin Campbell para dirigir o filme. Depois de assistir o resultado final penso que Spielberg realmente caiu fora por causa do fraco argumento e do tom mais farsesco que esse roteiro abraça. Em poucas palavras ele não quis assinar esse projeto. Realmente há muitos problemas, alguns deles impossíveis de se ignorar. A começar pelo elenco. Definitivamente Antonio Banderas exagerou nas caras e bocas, estragando com isso o próprio personagem Zorro que em sua atuação acabou virando um bufão, um retrato desbotado dos grandes atores que deram vida ao Zorro no passado. Ele parece estar convencido que faz parte de uma comédia pastelão! No meio de tantas escolhas equivocadas apenas a presença de Hopkins, como o Don Diego de la Vega original, já envelhecido e aposentado, e a beleza de Catherine Zeta-Jones salvam o filme do desastre completo.

Pablo Aluísio.

O Bandoleiro Temerário

Título no Brasil: O Bandoleiro Temerário
Título Original: The Texican
Ano de Produção: 1966
País: Estados Unidos, Espanha
Estúdio: Columbia Pictures
Direção: Lesley Selander
Roteiro: John C. Champion
Elenco: Audie Murphy, Broderick Crawford, Diana Lorys
  
Sinopse:
Procurado nos Estados Unidos por roubo, Jess Carlin (Audie Murphy) decide fugir para o México onde pretende viver em paz o resto de seus dias de vida. Ele consegue cruzar a fronteira, mas quando pensa que terá paz descobre que seu irmão foi morto nos Estados Unidos por um caçador de recompensas que estava atrás dele. Procurando por vingança, ele retorna para acertar contas com o assassino de seu irmão. Começa então um jogo de vida e morte entre aqueles dois homens unidos por esse destino trágico.

Comentários:
Um dos últimos filmes da carreira de Audie Murphy. Uma produção entre Estados Unidos e Espanha o que já demonstrava que se tivesse vivido mais alguns anos Murphy teria mais cedo ou mais tarde se transferido definitivamente para o Western Spaghetti. É um faroeste B razoável, que se utiliza de um argumento um pouco saturado para faturar em cinemas pelo interior da América. O orçamento é pequeno e não há nada que lembre uma grande produção classe A de western do cinema americano. A Columbia Pictures, o mais modesto estúdio americano, resolveu realmente produzir um filme sem grandes pretensões comerciais, visando apenas faturar um pouco sem gastar muito. Tirando os dois nomes principais do elenco, Audie Murphy e Broderick Crawford, todos os demais membros do elenco são espanhóis. O filme foi rodado em uma região perto de Barcelona, conhecida por ter um deserto bem parecido com o deserto americano da Califórnia. O lugar é conhecido como Catalonia e vários faroestes spaghettis foram filmados por lá. Então é isso, um western mediano que passa longe de ser considerado um dos melhores da carreira de Audie Murphy. Mesmo assim vale a pena ser conhecido e assistido, nem que seja por apenas uma vez.

Pablo Aluísio.

domingo, 17 de junho de 2018

Bravura Indômita

Sempre é um prazer rever um faroeste como esse, com tudo o que os fãs do gênero tem direito. Sinceramente revendo o filme, achei uma injustiça com Wayne falar que ele só teria sido premiado com o Oscar por sua carreira, pelo conjunto da obra e não pela interpretação em si que mostra no filme. De certa forma essa é uma meia verdade pois ele está muito bem no papel de um agente federal beberrão, resmungão, gordo e velho, mas rápido no gatilho (como tinha que ser é claro!). O trabalho do ator é tão bom que esconde até mesmo a fraca atuação do ator Glen Campbell no papel do Texas Ranger que o acompanha na caçada ao assassino do pai da garotinha do filme (interpretada muito bem pela adolescente Kim Darby). 

Temos que entender que Wayne foi premiado após anos de críticas ruins que afirmavam que ele na realidade era apenas um astro de Hollywood e que sempre interpretava o mesmo tipo de personagem. Isso acabou criando no ator um sentimento de inferioridade que só foi superado por esse merecido reconhecimento da Academia. Além disso não podemos ignorar que ele também foi homenageado pelo Globo de Ouro, o que de certa maneira reforçou ainda mais o talento de seu trabalho. Mesmo assim Wayne procurou manter a humildade, a ponto de soltar frases de puro humor sobre as premiações. Em determinado momento brincou dizendo: "Puxa, após tantos anos de carreira... se eu soubesse disso teria colocado um tapa-olho bem antes na minha vida".

Além de um roteiro acima da média, com ótimas tomadas externas e conflitos armados, "Bravura Indômita" ainda traz um elenco de apoio de respeito. Nada mais nada menos do que Dennis Hopper e Robert Duvall (que vejam só já estava ficando careca naquela época!). Duvall está particularmente muito bem no papel de um dos procurados por Wayne. Ele não tem muita chance de atuar, mas quando possível mostra domínio do que faz. O diretor Henry Hathaway não esqueceu também de investir em divertidos momentos de descontração e humor (que de certa forma está mais ausente do remake), principalmente nos momentos entre Wayne e Darby (que se dão muito bem em cena, sendo naturalmente divertido o contraste entre a garota e o marshal mal humorado e beberrão). Enfim, eis aqui dos grandes clássicos do western americano. Não resta dúvida que "Bravura Indômita" é mesmo um filmaço!

Bravura Indômita (True Gift, Estados Unidos, 1969) Direção: Henry Hathaway / Roteiro: Marguerite Roberts baseado na novela de Charles Portis / Elenco: John Wayne, Kim Darby, Glen Campbell, Robert Duvall, Dennis Hopper / Sinopse: Jovem gerota contrata os serviços de um agente beberrão e gordo para ir atrás dos assassinos de seu pai. Filme indicado ao Oscar na categoria Melhor Música Original. Vencedor do Oscar na categoria de Melhor Ator (John Wayne). Filme vencedor do Globo de Ouro na categoria Melhor Ator - Drama (John Wayne). Também indicado ao Globo de Ouro na categoria de Melhor Canção Original. Filme vencedor do Laurel Awards na categoria de Melhor Ator (John Wayne).

Pablo Aluísio.

Sem Lei e Sem Alma

Entre tantas histórias que ficaram célebres no velho oeste poucas conseguiram alcançar a fama do tiroteio ocorrido no Ok Corral em Tombstone, Arizona. De um lado o lendário xerife Wyatt Earp (Burt Lancaster), seus irmãos e Doc Holliday (Kirk Douglas), do outro lado o bando dos irmãos Clanton. Ambos se enfrentaram face a face, cada um a poucos metros do outro, armas em punho, um duelo que entrou para a história e que foi fartamente explorado no cinema durante todos esses anos. Esse "Sem Lei e Sem Alma" é até hoje considerado uma das melhores versões já feitas sobre o evento. O roteiro é extremamente bem trabalhado, nitidamente dividido em dois atos que se fecham e se complementam de forma perfeita. No primeiro ato acompanhamos a chegada de Wyatt Earp numa pequena cidade do velho oeste. Ele vem no encalço de Johnny Ringo (John Ireland) e seu bando. Lá se aproxima do pistoleiro e jogador inveterado Doc Holliday e acaba salvando sua vida ao ajudá-lo a fugir de seu próprio linchamento. No segundo ato encontramos os personagens já em Tombstone, a lendária cidade, onde nos 15 minutos finais do filme ocorrerá o famoso confronto no O.K. Corral.

Burt Lancaster e Kirk Douglas estão perfeitos em seus papéis. Kirk Douglas em especial encontrou grande afinidade entre sua própria personalidade expansiva e extrovertida e a figura do lendário Doc Holliday. Esse como já tive a oportunidade de escrever é realmente um personagem à prova de falhas. Um dentista corroído pela tuberculose que ocupava todo seu tempo jogando cartas e se envolvendo em confusões pelas cidadezinhas por onde passava. O que fazia de Doc um ótimo pistoleiro é que seu instinto de preservação já não era tão acentuado pois sempre se via no limite, à beira da morte, por isso para ele tanto fazia morrer em um tiroteio ou escapar vivo para mais um duelo à frente. Sua frieza e pontaria certeira o transformaram em uma lenda do velho oeste. Já Wyatt Earp também encontrou um ator ideal em Burt Lancaster. Íntegro, honesto e temido, procurava manter a lei em uma região infestada de facínoras e bandoleiros. O duelo no O.K. Curral foi apenas uma das inúmeras histórias envolvendo esse famoso homem da lei. Para finalizar é bom salientar que a despeito de sua imensa qualidade cinematográfica, "Sem Lei e Sem Alma" não é completamente fiel aos fatos históricos. O próprio duelo final, razão de existência do filme, não ocorreu da forma mostrada no filme. De fato os eventos reais foram bem mais simples, pois os dois grupos rivais estavam frente a frente, a poucos metros uns dos outros. No filme há toda uma sequência de cenas que não existiram como a queima da carroça, por exemplo. Johnny Ringo, o famoso pistoleiro, também não estava no confronto do O.K. Ele foi morto tempos depois no meio do deserto. Suspeita-se que foi morto por Doc Holliday pois ambos tinham uma rivalidade antiga que só seria resolvida com armas em punho. De qualquer forma esses detalhes em nada diminuem a extrema qualidade de "Sem Lei e Sem Alma", que hoje é considerado merecidamente um dos melhores westerns já realizados. Uma obra prima certamente.

Sem Lei e Sem Alma (Gunfight at the O.K. Corral, Estados Unidos, 1957) Direção: John Sturges / Roteiro: Leon Uris baseado no artigo escrito por George Scullin / Elenco: Burt Lancaster, Kirk Douglas, Rhonda Fleming, Jo Van Fleet, John Ireland, Frank Faylen, Ted de Corsia, Dennis Hopper, DeForest Kelley, Martin Milner / Sinopse: Wyatt Earp (Burt Lancaster), seus irmãos e Doc Holliday (Kirk Douglas) resolvem enfrentar cara a cara um bando de ladrões de gado no O.K. Corral em Tombstone, Arizona.

Pablo Aluísio.