Clássico filme épico, passado nos tempos da Roma Antiga. Na história, o tribuno romano Marcellus Gallio (Richard Burton) acaba tendo um um atrito, em um leilão de escravos, com o futuro imperador Calígula (Jay Robinson). Como punição, ele é então enviado para a distante Judéia, onde começa a prestar serviço militar na cidade de Jerusalém, durante a Páscoa. Lá acaba tomando contato com o turbulento quadro político local, onde o povo judeu espera por um Messias que o libertará do poder do Império Romano. Ao lado de seu escravo Demetrius (Victor Mature), acaba participando da crucificação de um homem chamado Jesus que se diz filho de Deus. Após sua morte na cruz, ele ganha seu manto em um jogo de dados. O contato com a relíquia e a mensagem do Nazareno porém mudará completamente sua vida.
"O Manto Sagrado" pode ser analisado sobre três pontos de vista diferentes. Você pode assistir sob um aspecto religioso, histórico ou cinematográfico. Sob o ponto de vista religioso é uma obra bem intencionada, que procura mostrar o surgimento do cristianismo logo nos primeiros meses após a morte de Jesus Cristo. A mensagem em si, de não violência, de renúncia, inclusive da vida, como vemos nos casos dos mártires que se recusam a negar Cristo em troca de não serem condenados à morte, são relevantes e pertinentes. A figura de Pedro surge também bem fiel aos escritos e tradições dos primeiros anos da nova fé. Assim olhando puramente a mensagem que o filme tenta passar ao seu público, não há o que criticar.
O fato porém é que nem só de boas intenções pode viver o cinema. Assim temos que analisar a produção também sob o ponto de vista da história e nesse aspecto não há como negar que o roteiro apresenta várias falhas. Só para citar um exemplo, temos uma cena em que o próprio Imperador Tibério recebe a notícia da morte de um suposto Messias em Jerusalém e fica bastante abalado com o fato. Chega ao ponto de fazer um pequeno discurso sobre o perigo da nova fé que poderia destruir os alicerces da sociedade romana como um todo! Ora, historiadores concordam que Tibério sequer tomou conhecimento da existência de Jesus, já que até sua morte o cristianismo ainda não tinha tomado as proporções que iriam atingir em épocas posteriores, como a de Nero. Na verdade, como se trata de um romance apenas inspirado em fatos históricos, temos que esperar por esse tipo de licença poética, onde personagens que realmente existiram surgem em cenas de pura ficção.
Finalmente, sob o ponto de vista puramente cinematográfico, não há do que reclamar. "O Manto Sagrado" é um típico épico feito em Hollywood dos anos 1950, com cenas grandiosas, impactantes, muito luxo no figurino e um texto sentimental, que não tem vergonha de ser piegas em certos momentos. Há uma clara tentativa do roteiro em agradar diversos públicos, pois ao lado do sentimento religioso temos também um pouco de romance e aventura. A ação surge principalmente na cena em que os homens de Marcellus Gallio tentam libertar Demetrius das masmorras do Império e na perseguição de cavalos logo após. Além disso temos também nuances do debate político que imperava naqueles tempos antigos. O mais importante porém é que essa produção é uma ótima forma de conhecer o tipo de entretenimento, com verniz religioso, que fazia sucesso nos cinemas dos anos 1950. O público adorava esse tipo de filme. O lançamento de cada produção desse estilo rendia ótimas bilheterias em todo o mundo.
O Manto Sagrado (The Robe, Estados Unidos, 1953) Estúdio: 20th Century-Fox / Direção: Henry Koster / Roteiro: Albert Maltz, Philip Dunne, baseados na obra de Lloyd C. Douglas / Elenco: Richard Burton, Jean Simmons, Victor Mature, Jay Robinson / Sinopse: Romano, enviado para uma distante província do império como punição, acaba vivenciando a crucificação, morte e ressurreição de um judeu conhecido como Jesus de Nazaré. Filme indicado ao Oscar nas categorias de melhor filme, melhor ator (Richard Burton) e melhor direção de fotografia (Leon Shamroy). Filme vencedor do Oscar nas categorias de melhor figurino (Charles Le Maire, Emile Santiago) e melhor direção de arte (Lyle R. Wheeler, George W. Davis). Filme premiado pelo Globo de Ouro na categoria de melhor filme - drama.
Pablo Aluísio.