quinta-feira, 5 de dezembro de 2019

Yesterday

E se os Beatles nunca tivessem existido? Pois é, alguns roteiros partem de ideias esdrúxulas para só a partir daí desenvolver uma história. O fato é que o protagonista Jack Malik (Himesh Patel) é um músico frustrado. Suas canções - quase sempre falando sobre o verão - não despertam a atenção de ninguém. Ele não tem sucesso e nem talento para compor. Para sobreviver trabalha numa loja de vendas a atacado. Apenas a bela Ellie Appleton (Lily James) permanece ao seu lado. Só que até para isso Jack não consegue fazer a coisa certa. Ela gosta dele, mas as coisas simplesmente não acontecem. Culpa dele, que nunca toma a iniciativa. Enfim, para Jack tudo vai de mal a pior. Sua vida estagnou. Ele não consegue sair do mesmo lugar.

Até que um dia as coisas mudam de forma inesperada. O planeta sofre uma pane de energia (e não espere por maiores explicações do roteiro). Nessa noite Jack sofre um acidente e é hospitalizado. O curioso é que ele descobre que após esse apagão as pessoas não sabem mais quem foram os Beatles. Aliás nessa realidade paralela onde ele vai parar os Beatles nunca existiram. Ele também descobre que ninguém conhece Coca-Cola, Harry Potter e outros ícones da nossa existência. Então Jack tem uma ideia e tanto. Ele vai usar as músicas dos Beatles para se dar bem na carreira de músico. Ora, nesse novo universo paralelo ele tem à disposição um dos catálogos musicais mais famosos de todos os tempos. Basta gravar e esperar a fama e a fortuna baterem à sua porta.

O filme, como se pode perceber, é um daqueles em que o espectador tem que comprar a ideia central do roteiro. Esse por sua vez não está proocupado em explicar muita coisa, mas apenas em desenvolver essa premissa inicial. É um filme bom, tem bons momentos e, como não poderia deixar de ser, tem a música dos Beatles para salvar tudo. Agora, como trama mesmo a coisa é, não se pode negar, meio bobinha. Além disso há outros pontos negativos. Achei o ator Himesh Patel pouco adequado. Ele se limita muitas vezes a fazer cara de apalermado. Complicado torcer por um sujeito desses, ainda mais quando ele plagia o trabalho alheio. Melhor seria ter um ator melhor para o papel. Pensei em Tom Hanks, afinal o filme tem um tipo de humor que cairia bem para ele. Já a atriz Lily James segura as pontas no quesito carisma. Ele é a melhor em termos de elenco e atuação. Tão boa que consegue levar seu parceiro antipático até o fim do filme. No mais tenho que dizer que é apenas um bom filme e nada muito além disso. Ora, se até o Paul McCartney gostou, quem eu seria para discordar dele, não é mesmo?

Yesterday (Inglaterra, 2019) Direção: Danny Boyle / Roteiro: Jack Barth, Richard Curtis / Elenco: Himesh Patel, Lily James, Sophia Di Martino, Joel Fry, Sanjeev Bhaskar / Sinopse: Jack Malik (Himesh Patel) quer ser músico profissional, mas não consegue a fama e o sucesso. Suas composições são ruins e básicas demais para alguém se importar com elas. Até o dia em que ele descobre que as pessoas desconhecem completamente a existência dos Beatles. É um universo paralelo. Assim ele começa a usar as antigas músicas do quarteto para se dar bem, fazer sucesso e ganhar fama e fortuna.

Pablo Aluísio.

Erin Brockovich

Título no Brasil: Erin Brockovich, uma Mulher de Talento
Título Original: Erin Brockovich
Ano de Produção: 2000
País: Estados Unidos
Estúdio: Universal Pictures
Direção: Steven Soderbergh
Roteiro: Susannah Grant
Elenco: Julia Roberts, Albert Finney, David Brisbin, Conchata Ferrell, Pat Skipper, Scotty Leavenworth

Sinopse:
Erin Brockovich (Julia Roberts) trabalha em um escritório de advocacia e descobre que uma empresa está contaminando toda a reserva de água de uma cidade bem no meio do deserto. Caso seja confirmada a suspeita isso resultaria em um processo milionário de mais de 300 milhões de dólares! Filme baseado em uma história real.

Comentários:
Esse filme deu o tão cobiçado Oscar para a atriz Julia Roberts. Ela já vinha procurando um bom roteiro para entrar com chances na disputa. Acabou encontrando essa história baseada em fatos reais que abalou os tribunais da Califórnia nos anos 90. A própria Erin Brockovich foi contratada para trabalhar no filme como consultora especial. Com ela ao lado Julia Roberts conseguiu copiar todos os seus maneirismos e jeito de ser. Além, é claro, comprar todo o figurino dela, uma mistura brega de saias justas e decotes vulgares. Tudo muito cafona, kitsch, fora do bom senso e da elegância. Acabou dando muito certo. A crítica americana adorou e o filme acabou também fazendo sucesso de bilheteria. O resultado de todos esses elementos juntos valeu para Roberts o prêmio máximo do cinema americano, algo com que todos sonham desde o começo da carreira. Eu tive a oportunidade de assistir ao filme no cinema, por causa da intensa repercussão na época de seu lançamento original. Considero um bom filme, com história importante, envolvendo até mesmo o meio jurídico americano. Porém é de certo modo também um pouco cansativo. No caso o espectador acabava saindo mesmo com uma espécie de overdose de Julia Roberts, já que ela está em praticamente todas as cenas do filme. Tem que gostar muito dela para curtir o filme plenamente.

Pablo Aluísio.

quarta-feira, 4 de dezembro de 2019

História de um Casamento

Para surpresa de muitos, esse filme acabou sendo o campeão em indicações no Globo de Ouro desse ano. E como esse prêmio é uma espécie de prévia do próprio Oscar é bem provável que ele também receba uma chuva de indicações para concorrer na grande noite do cinema. Penso que o roteiro, mais focado nas relações humanas, foi o grande diferencial. A própria Academia anda cansada de filmes cheios de efeitos visuais e pouco coração, pouco sentimento. Assim essa produção, com estilo de filme antigo, lá da década de 1970, acabou conquistando a simpatia de grande parte da crítica dos Estados Unidos. Curiosamente seu título é um pouco equivocado. Seria mais fiel ao que se vê na tela se o filme se chamasse "A História do fim de um casamento", porque é exatamente disso que se trata. Quando o filme começa já encontramos o casal formado por Charlie (Adam Driver) e Nicole (Scarlett Johansson) em plena crise. Eles estão se consultando com um daqueles especialistas em reconciliação conjugal, algo que no final acaba não dando certo. O caminho então passa a ser o divórcio. Inicialmente eles concordam em partir para um divórcio amigável, sem advogados, tudo feito na base da amizade que ainda os une. Além disso há um filho em jogo, uma criança que não precisa pagar pelos erros dos pais. O melhor divórcio é aquele feito de forma pacífica, nisso todos parecem concordar.

Só que esse começo amistoso dura pouco. Logo ela contrata uma advogada especialista em divórcios, uma profissional que vai tentar arrancar tudo do ex-marido. E esse, se vendo pressionado contra a parede, parte para o contra-ataque, contratando um advogado ainda mais combativo. E aí, o que era para ser algo feito sem traumas, acaba virando uma guerra, com acusações vindas de todos os lados, brigas e ressentimentos. Mostra bem a metamorfose que costuma acontecer com casais em processo de divórcio, onde os antigos amantes acabam se transformando nos piores inimigos. Bem escrito, com roteiro bem estruturado e um elenco de primeira, o filme inegavelmente agrada. Agora, teria mesmo condições de angariar tantas indicações? Olha, isso é mais sintoma de um cinema atual em crise de originalidade do que qualquer outra coisa. Basta surgir um filme mais inteligente, mais dramático, para causar maior impacto. É um sinal dos tempos em que vivemos.

História de um Casamento (Marriage Story, Estados Unidos, 2019) Direção: Noah Baumbach / Roteiro: Noah Baumbach / Elenco: Adam Driver, Scarlett Johansson, Laura Dern, Ray Liotta, Alan Alda / Sinopse: Casal formado por um atriz e um diretor de teatro de Nova Iorque começa a enfrentar a barra de ter que lidar com um divórcio. Além do custo emocional surgem também inúmeros problemas financeiros para superar essa fase de grandes transtornos pessoais. Filme indicado ao Globo de Ouro em diversas categorias, entre elas Melhor Atriz (Scarlett Johansson), Melhor Ator (Adam Driver), Melhor Roteiro e Melhor Filme - Drama.

Pablo Aluísio. 

Assunto de Meninas

Título no Brasil: Assunto de Meninas
Título Original: Lost and Delirious
Ano de Produção: 2001
País: Canadá
Estúdio: Cité-Amérique, Dummett Films
Direção: Léa Pool
Roteiro: Judith Thompson
Elenco: Mischa Barton, Emily VanCamp, Jackie Burroughs, Mimi Kuzyk, Piper Perabo, Jessica Paré,

Sinopse:
A adolescente Mary 'Mouse' Bedford (Mischa Barton) vai estudar em um tradicional colégio para moças e lá descobre o amor, as primeiras paixões e também as primeiras experiências ruins de sua nova vida. Filme selecionado para o Sundance Fim Festival.

Comentários:
O cinema canadense não é tão conhecido no Brasil, o que é uma pena pois todos os anos excelentes filmes são produzidos por lá. Esse aqui é um drama adolescente romãntico com roteiro adaptado da novela escrita pela autora Susan Swan. Outro exemplo de filme feito por elas e para elas, essencialmente feminino, com poucos personagens masculinos. Eu gostei bastante da produção com a história se passando em um daqueles colégios de elite, tipicamente britânicos. Excelente sistema de ensino, mas também austero na disciplina dos alunos. Destaque também para as cenas de falcoaria, um esporte diferente, muito apreciado em certos países do norte da Europa. A protagonista é uma garota comum, que vai descobrindo os sentimentos típicos de sua idade. O elenco conta com duas estrelinhas de seriados de TV. Mischa Barton ficou conhecida por causa da série "O.C.: Um Estranho no Paraíso" e a linda Emily VanCamp se destacou em "Revenge", "Brothers & Sisters" e "Everwood: Uma Segunda Chance". Enfim, temos aqui um bom filme, com produção requintada e de bom gosto. Um bom programa para um fim de noite.

Pablo Aluísio.

terça-feira, 3 de dezembro de 2019

Ted Bundy: A Irresistível Face do Mal

Ted Bundy (Zac Efron) parecia ser um cara muito legal. Quando Liz Kendall (Lily Collins) o conheceu ele parecia ser um rapaz muito promissor, estudante de direito, esforçado nos estudos, etc. Para ela parecia ser um sonho conhecer alguém assim. Liz era mãe solteira e uma pessoa tímida. Ter novos relacionamentos era muito complicado. Ted não apenas aceitava o fato dela ter uma filha, como se dava muito bem com ela. Parecia ser o relacionamento dos sonhos, alguém para finalmente dividir a vida e o futuro. Só que os sonhos de Liz não duraram muito. Não tardou para que Ted começasse a ter problemas com a polícia e a justiça. Em pouco tempo ele estava sendo acusado de múltiplos assassinatos envolvendo mulheres em diversos estados do país. O que estaria afinal acontecendo? Esse novo filme chamado "Ted Bundy: A Irresistível Face do Mal" traz um curioso ponto de vista sobre esse infame assassino em série. Tudo acontece sob o olhar de sua namorada, uma secretária tímida, uma pessoa normal, que de repente descobre que seu amado era um serial killer dos mais mortais. O espectador não vê Ted Bundy matando suas vítimas, como nos filmes anteriores. Ao contrário disso, vamos acompanhando um jovem considerado bem normal e confiável sendo acusado das maiores atrocidades. O curioso é que o roteiro do filme não abre margem para desvendar tudo logo de cara. Aquele espectador que não conhece a história de Ted Bundy e de seus crimes chegará mesmo a pensar que ele de fato seria um homem inocente sendo acusado de crimes terríveis. E esse não é um ponto negativo do roteiro, pelo contrário, serve também para desvendar o choque que as pessoas que conviviam com ele tiveram ao saber que ele havia matado pelo menos 30 mulheres!

Uma das melhores coisas do filme vem do elenco. Muito bom, muito promissor. Zac Efron, antigo ídolo teen (lembra-se de "High School Musical?) cresceu e se tornou um bom ator. Ele interpreta Ted Bundy. Por trás do sorriso encantador consegue passar realmente traços de uma mente doentia. A atriz Lily Collins, que interpreta sua namorada é outro achado. Ela inclusive se parece demais com a Liz da história real. Por fim há também um belo elenco de apoio contando com atores como John Malkovich (interpretando o juiz do caso), Haley Joel Osment (o garotinho que via gente morta o tempo todo, lembra dele?) e Jim Parsons (O Sheldon de "The Big Bang Theory", aqui interpretando um promotor público). Enfim, um bom filme, diferente, que conta mais uma vez essa tenebrosa história de crimes que chocaram a América.

Ted Bundy: A Irresistível Face do Mal (Extremely Wicked, Shockingly Evil and Vile, Estados Unidos, 2019) Direção: Joe Berlinger / Roteiro: Elizabeth Kloepfer, baseada no livro "The Phantom Prince: My Life with Ted Bundy" de Michael Werwie / Elenco: Zac Efron, Lily Collins, John Malkovich, Haley Joel Osment, Jim Parsons / Sinopse: O filme conta a história do assassino serial Ted Bundy (Zac Efron). Tudo mostrado sob o ponto de vista de sua namorada Liz Kendall (Lily Collins). De um namorado maravilhoso, ele passa a ser um dos mais infames assassinos da história dos Estados Unidos, sendo acusado de mais de 30 mortes de mulheres ao longo dos anos.

Pablo Aluísio. 

Ted Bundy - A Mente de um Monstro

Título no Brasil: Ted Bundy - A Mente de um Monstro
Título Original: Ted Bundy - Mind of a Monster 
Ano de Produção: 2018
País: Estados Unidos
Estúdio: ID - Investigation Discovery
Direção: Tom Brisley
Roteiro: Tom Brisley
Elenco: Ted Bundy, Kathleen McChesney, Hugh Aynesworth, Stephen Michaud, Marlin Lee Vortman, Charles Leidner

Sinopse:
Documentário sobre o serial killer norte-americano Ted Bundy (1946 - 1989). Durante a década de 1970 ele fez dezenas de vítimas, sendo elas exclusivamente mulheres. Ele se passava por um sujeito bonitão, extrovertido, estudante de direito, para matar as mulheres que caíam nas suas armadilhas mortais.

Comentários:
Muito bom esse documentário do canal ID, uma espécie de canal subsidiário do Discovery Channel, especializado em crimes. O motivo que me fez ir atrás dessa produção foi porque recentemente assisti a um bom filme sobre sua história. Assim procurei por um documentário abrangente sobre o tema. A minha intenção era comparar o roteiro do filme com os fatos que realmente aconteceram na vida real. E nada mais adequado para isso do que assistir a um bom documentário, gênero também conhecido por alguns como o verdadeiro jornalismo cinematográfico. Pois bem, acabei achando esse e não me arrependi. Em pouco mais de 90 minutos de duração somos apresentados a toda a história do assassino, com rico material de época, imagens dos jornais, fotos das cenas do crime, além de filmagens reais que foram feitas no julgamento de Ted Bundy. Tudo com aquela qualidade do Discovery que todos já conhecemos bem. E de fato o roteiro do filme "Ted Bundy: A Irresistível Face do Mal" bateu muito bem com a história real aqui mostrada. O que temos nas cenas é um psicopata manipulador, muito bem sucedido na arte de se esconder sob a fachada de um sujeito normal, agradável, boa pinta. Também devo elogiar o esforço muito louvável por parte dos realizadores em valorizar igualmente a história das vítimas, mostrando aspectos de suas histórias, suas personalidades, etc. Um resgate muito importante e humano. Esse é um detalhe por demais relevante que nem sempre é respeitado em documentários sobre serial killers. Dando voz e biografia para as vítimas tudo fica ainda mais claro, os crimes se tornam ainda mais brutais e repugnantes. Enfim se o tema lhe interessar de alguma forma não deixe de conferir esse documentário onde definitivamente nada falta, nem os detalhes mais assustadores.

Pablo Aluísio.

segunda-feira, 2 de dezembro de 2019

Ad Astra: Rumo às Estrelas

Após sofrer um acidente numa torre de transmissão, o astronauta Roy McBride (Brad Pitt) é designado para uma nova missão. Ele deve partir para Marte, onde se tentará uma comunicação com seu pai. o veterano explorador espacial H. Clifford McBride (Tommy Lee Jones). Há muitos anos ele desapareceu, juntamente com sua nave e tripulação, enquanto explorava o sistema solar externo, perto de planetas como Júpiter, Saturno e Netuno. Interferências magnéticas vindas dessa região levam a crer que sejam de sua missão. Assim Roy parte para Marte, sem nem ao menos saber o que realmente lhe espera. Pois bem, esse é o novo filme do ator Brad Pitt. È curioso que ele tenha optado por esse tema, um filme de ficção, exploração espacial, etc. Claro que um filme com essa temática iria sofrer de alguma forma diversas influências do passado, como o do maior clássico do gênero, "2001 - Uma Odisseia no Espaço". O ritmo lento em determinados momentos, a contemplação do universo infinito, tudo é fruto dessa inspiração da obra-prima de Stanley Kubrick. Não é uma forma de narrativa usual nos dias de hoje. Por isso parte do público estranhou o ritmo mais devagar do filme. Para muitos isso o transformou em um filme bem chato e cansativo. Em determinados momentos devo dar razão a essas pessoas. De fato o filme apresenta problemas de ritmo e edição. Tentar imitar Kubrick não é fácil, é algo para poucos cineastas.

Porém o mais estranho é que esse estilo Kubrick foi misturado com momentos absurdos, principalmente para quem entende pelo menos um pouquinho de cosmologia. Vou citar um exemplo disso. Em determinado momento o personagem de Brad Pitt precisa passar pelos anéis de Netuno. E o que ele faz para sobreviver a isso? Usa uma placa de metal para se defender das milhares de rochas que orbitam o gigante gasoso. Ora, no mundo real o astronauta seria destroçado pelos anéis em poucos segundos, pois é impossível sobreviver naquela região do cosmos. Porém o que se vê no filme é um momento digno de desenhos animados da Hanna-Barbera. Outro fato fora de noção é a própria viagem até Netuno. Isso levaria anos, mesmo na melhor astronave. No final parece que Pitt leva apenas alguns dias para se chegar lá! E as bobagens do roteiro não param por aí, seguem em frente. Então fica algo contraditório, pois ao mesmo tempo em que o filme tenta se levar à sério também apresenta momentos absurdos que deixarão qualquer cientista de cabelos em pé. Por isso o filme fica apenas no meio do caminho. Não chega em nenhum momento a agradar completamente, pelo menos no meu caso foi exatamente isso que aconteceu.

Ad Astra: Rumo às Estrelas (Ad Astra, Estados Unidos, 2019) Direção: James Gray / Roteiro: James Gray, Ethan Gross / Elenco: Brad Pitt, Tommy Lee Jones, Ruth Negga / Sinopse: Para tentar entrar em contato com seu pai, o astronauta Roy McBride (Brad Pitt) é enviado até Marte, o planeta vermelho. A intenção é que ele mande uma massagem para seu velho, que foi dado como desaparecido alguns anos antes, numa missão de exploração dos mais distantes planetas do sistema solar.

Pablo Aluísio. 

A Odisséia de Jacques

Quando eu era apenas uma criança, lá nos distantes anos 70, eu adorava assistir aos documentários produzidos pelo francês Jacques Cousteau! Sempre no navio Calypso ele cruzava os sete mares mostrando os mais diversos pontos da Terra. Saudades desse tempo! Agora foi produzido esse filme biográfico mostrando parte da vida dessa personalidade incrível e inesquecível. O explorador morreu em 1997, deixando uma legião de admiradores inconsoláveis. Pelas aventuras que viveu até demorou muito para que um filme como esse fosse produzido. Embora o ator que o interprete não seja tão parecido com o Cousteau real, é inegável que o sentimento de nostalgia, aliada às maravilhosas cenas submarinas, vão fisgar os mais reticentes espectadores. O curioso é que na minha lembrança havia a memória que seu filho havia morrido após cair numa geleira na Antártida, mas não, ele morreu mesmo em um acidente de avião, o que me deixou surpreso e até admirado.

O roteiro é bem estruturado. O filme começa com Jacques Cousteau decidindo mudar os rumos de sua vida. Ele já tinha ganho muito dinheiro após inventar uma nova roupa para mergulhar em profundidade e assim conseguiu o capital para realizar seu sonho, que era o de produzir documentários ao redor do mundo a bordo de seu navio Calypso. Após fechar contrato com o canal americano ABC ele finalmente conseguiu o financiamento para suas expedições, algo que durariam até o fim de seus dias. Um fato curioso também é o registro de que ele também foi uma das primeiras pessoas no mundo a abraçar a bandeira da ecologia. Ao visitar os mais diferentes oceanos ele percebeu com os próprios olhos o terrível impacto que os seres humanos estavam causando no planeta. Foi um pioneiro inclusive na luta pela proibição de caça às baleias. Enfim, sem dúvida Jacques Cousteau não foi apenas um herói da minha infância, mas também um nome muito importante na preservação do meio ambiente, em especial dos mares ao redor do globo. Grande figura que sempre deixará saudades em todos que acompanharam seu trabalho.

A Odisséia de Jacques (L'Odyssée, França, Bélgica, 2016) Direção: Jérôme Salle / Roteiro: Jérôme Salle, Laurent Turner / Elenco: Lambert Wilson, Pierre Niney, Audrey Tautou / Sinopse: O filme conta a verdadeira odisséia que foi a vida do explorador, documentarista e ecologista Jacques Cousteau. O roteiro mostra o começo de suas aventuras, os primeiros documentários e também as grandes perdas de sua vida, como a morte de seu filho durante uma de suas expedições pelos oceanos do mundo.

Pablo Aluísio.

domingo, 1 de dezembro de 2019

O Irlandês

Frank Sheeran (Robert De Niro) foi uma figura central na história da máfia italiana. O curioso é que ele não era italiano, mas sim irlandês. Mesmo assim conseguiu entrar dentro da cosa nostra, uma organização criminosa onde os laços de sangue eram extremamente importantes. Seu começo foi modesto. Ele era um veterano de guerra que trabalhava como caminhoneiro. Em pouco tempo estava roubando carne de seus caminhões para os chefões de Nova Iorque. Mostrando lealdade foi subindo na escala social da Máfia. Sua função de assassino profissional veio naturalmente. Como um ex-combatente na II Guerra Mundial ele estava acostumado a matar. E em sua opinião não havia muita diferença entre matar sob as ordens de um general ou de um chefão mafioso.

Tudo o que se vê na tela foi baseado em fatos reais. Frank Sheeran conseguiu sobreviver na violenta história da Máfia e anos depois, já velho e preso numa cadeira de rodas em um asilo, contou sua história a um jornalista que escreveu o livro que deu origem ao roteiro desse filme. Para nossa sorte esse rico material foi cair nas mãos de ninguém menos do que o mestre Martin Scorsese. Não é surpresa para nenhum cinéfilo que a história da Máfia sempre foi um prato cheio para esse diretor. E isso desde os tempos de "Os Bons Companheiros", "Cassino" e outros grandes filmes com sua assinatura. O mais importante de tudo foi saber que Frank Sheeran esteve envolvido em diversos momentos importantes da história americana, inclusive transitando ali na periferia dos bastidores da morte do presidente JFK e do polêmico desaparecimento do líder sindicalista Jimmy Hoffa (Al Pacino). Esse último aliás tinha sido tema de um também muito bom filme com Jack Nicholson no papel principal.

Aqui porém temos um diferencial. O toque do mestre Scorsese. Ele sempre um gênio da narrativa cinematográfica e seu talento se mostra justamente na forma como conta sua história. Em pouco menos de três horas e meia de duração ele consegue encaixar tudo, todas as histórias, todos os incríveis acontecimentos que ocorreram ao lado de Frank Sheeran. O único "porém" do filme talvez tenha partido da lealdade entre Scorsese e De Niro. O ator acabou ganhando o papel principal, só que ele, se formos pensar bem, está mais do que "italiano" no filme. E o verdadeiro Sheeran era um irlandês da gema, alto, loiro, forte, um verdadeiro grandalhão. Com De Niro ele não ficou nada parecido com o Sheeran real. Porém é a tal coisa, De Niro é um excelente ator e consegue até mesmo passar por cima disso, com raro talento. E por falar em elenco... todos os grandes atores que algum dia já tinham trabalhado em filmes da Máfia assinados por Scorsese, dão as caras em cena. Fiquei particularmente surpreso com Joe Pesci. Ele está muito envelhecido e muito sóbrio. Nada parecido com os personagens do passado, pequenos patifes que falavam pelos cotovelos. Harvey Keitel tem pouco espaço, mas também chama a atenção e finalmente o ótimo Al Pacino surge com um Hoffa cheio de personalidade, cabeça-dura até o final.

O saldo final da mistura de todos esses elementos ficou muito bom. Nos Estados Unidos o filme foi exibido em poucas salas de cinema, já que é uma produção de Scorsese e De Niro para a Netflix. Com as telas ocupadas de super-heróis haveria mesmo pouco espaço para os filmes de um mestre como Scorsese. Quem perde é o público mais jovem, atolado em enlatados da Marvel e DC até o pescoço. Mal sabem a qualidade do cinema de um Martin Scorsese. Esse filme provavelmente não será lembrado no Oscar por causa disso, mas não custa nada recomendar a todos que amam a sétima arte. É um grande filme, daqueles que não fazem feio se comparados com as obras primas do passado. Por fim uma última pergunta (Spoiler): Teria mesmo Sheeran matado Hoffa? Até´hoje há dúvidas sobre essa confissão do irlandês. Como se sabe Hoffa desapareceu e nunca mais foi encontrado. O que teria acontecido com ele na verdade? O filme traz uma resposta que ainda não é plenamente aceita entre os historiadores e especialistas em sua história. De qualquer forma não deixa de ser muito interessante.

O Irlandês (The Irishman, Estados Unidos, 2019) Direção: Martin Scorsese / Roteiro: Steven Zaillian, escrito a partir do livro original escrito por Charles Brandt / Elenco: Robert De Niro, Al Pacino, Joe Pesci, Harvey Keitel, Ray Romano, Anna Paquin, Domenick Lombardozzi , Paul Herman / Sinopse: O filme conta a história real de Frank Sheeran (1920 - 2003), um assassino profissional que fez parte da Máfia italiana nos Estados Unidos durante várias décadas.

Pablo Aluísio. 

sábado, 30 de novembro de 2019

O Homem do Prego

Filme intenso. Se eu fosse definir esse filme clássico dos anos 60 eu diria que ele é um soco no estômago. Um forte, concentrado e bem dado soco no estômago. O título nacional ficou estranho, mas tem sua razão de ser. Antigamente se dizia que aquele que deixava uma conta a pagar ou então que desse em garantia algum objeto estava na verdade colocando sua conta "no prego". É uma expressão antiga mesmo, mas que ainda se usa em certos lugares do Brasil. O termo jurídico certo seria colocar algo em penhor. E por falar em penhor o principal personagem do filme é um velho dono de uma loja de penhores em Nova Iorque.

Ele sobreviveu ao campo de concentração de Auschwitz. Sua tragédia pessoal é que foi o único de sua família que conseguiu escapar do inferno. Sua esposa e seus dois filhos, ainda crianças, foram executados pelos nazistas. Como ele próprio resume em um diálogo: "A minha desgraça foi que consegui viver. Tudo o que amava nesse mundo morreu, mas eu não! Eu sobrevivi... para minha tragédia!". Assim, como era de esperar, ele volta arrasado psicologicamente do holocausto. Para tentar sobreviver ele se torna uma pessoa fria, sem emoções, beirando a psicopatia. É uma forma de se defender do mundo. Judeu, não acredita em Deus! (suprema contradição). Revoltado, diz ao seu empregado que a única coisa que vale a pena no mundo é o dinheiro. "O dinheiro é tudo!" - resume, mostrando sua visão da vida.

Só que tanta amargura acaba pesando demais. Ele começa a ter recaídas psicológicas. Qualquer frase, palavra ou imagem, traz as lembranças terríveis de Auschwitz. Sua vida perde sentido e ele simplesmente rasteja em sua existência. O cotidiano vira um inferno a mais. Esse personagem é bem complexo e apenas um grande ator poderia lhe dar vida com convicção. Rod Steiger está particularmente brilhante nesse papel. Ele não consegue esconder mais seu estado depressivo, sua tortura na alma. Numa cena muito simbólica ele abre a boca em desespero, mas não consegue sequer gritar. É um grito surdo, que vem de dentro da alma. O espectador não fica menos do que boquiaberto com sua atuação. É coisa de mestre mesmo. Acabou sendo indicado ao Oscar, mas não venceu. Mais um injustiça histórica da Academia. De qualquer forma não vá perder esse filme. Ele não é fácil, não é entretenimento de rápida digestão e não se enquadra no gosto de quem vê cinema apenas como diversão  Muito pelo contrário. É um filme pesado, melancólico e em certos aspectos bem triste. E tudo embalado com uma ótima trilha sonora de puro jazz organizada por Quincy Jones. Ninguém em busca de grande cinema poderia esperar por algo melhor do que isso.

O Homem do Prego (The Pawnbroker, Estados Unidos, 1964) Direção: Sidney Lumet / Roteiro: Morton S. Fine, David Friedkin / Elenco: Rod Steiger, Geraldine Fitzgerald, Brock Peters / Sinopse: Sobrevivente do campo de concentração de Auschwitz, um velho judeu solitário e amargurado, tenta viver um dia de cada vez na sua loja de penhores. Só que conforme o tempo vai passando ele vai sucumbindo aos traumas que adquiriu durante o terrível holocausto nazista. A vida vai se tornando pesada demais para ele suportar tudo sozinho.

Pablo Aluísio. 

sexta-feira, 29 de novembro de 2019

Mogambo

Esse é um clássico do gênero "Aventura na África". Uma produção com um elenco estelar da era de ouro do cinema clássico de Hollywood. No enredo um caçador americano no continente africano, Victor Marswell (Clark Gable), é contratado pelo pesquisador Donald Nordley (Donald Sinden) para comandar um safári nas montanhas remotas onde vivem gorilas selvagens. Donald quer registrar o comportamento desses animais em seu habitat natural, os filmando na natureza. Victor inicialmente não acha uma boa ideia pois poucos homens estiverem naquele lugar distante, porém acaba aceitando a generosa oferta. O que o cientista Donald nem desconfia é que sua própria esposa, Linda Nordley (Grace Kelly), está se apaixonado cada vez mais por Victor. Para concretizar seu romance porém ela terá que passar por cima de Eloise Y. Kelly (Ava Gardner), uma dançarina de night club, que também está perdidamente apaixonada por Victor.

John Ford deu um tempo em seus clássicos de western para se arriscar no gênero aventura nessa produção. O resultado foi esse "Mogambo", certamente um bom filme, mas que jamais pode ser comparado com obras primas como "Rastros de Ódio" ou "Rio Bravo". O enredo se passa numa África ainda colonial e praticamente inexplorada. É lá que vive o personagem de Clark Gable, um veterano caçador branco que captura animais exóticos para vendê-los a circos e zoológicos de todo o mundo. Sua rotina de trabalho acaba mudando completamente com a chegada de uma dançarina americana chamada Eloise (Ava Gardner) que realizou uma longa viagem dos Estados Unidos até a África pensando que iria encontrar um milionário indiano, mas acaba se dando mal ao saber que ele foi embora uma semana antes de sua chegada.

Imediatamente Eloise se apaixona por Victor, porém as coisas não saem como ela queria. Victor torce o nariz ao saber que ela era uma dançarina de boates. Pior do que isso, começa a tratar a garota com um certo desdém (a ponto de dizer a um de seus amigos que ela na verdade seria uma "mulher de todos os homens!"). Nada aliás poderia sair mais diferente de Eloise do que a também recém chegada Linda (Grace Kelly). Loira, linda, recatada e educada, com extrema finesse, ela sim se mostra a mulher que Victor gostaria de ter ao seu lado. Infelizmente para o velho caçador há um problema: Linda já é casada, justamente com o homem que o contratou para um safári rumo às montanhas, em busca de gorilas selvagens.

É verdade que o roteiro acaba se rendendo ao moralismo da época em seus momentos finais, mas nem isso estraga "Mogambo". Ford já havia demonstrado em seus faroestes que ele conseguia com muito brilho tanto dirigir um bom filme de entretenimento como também desenvolver psicologicamente bem todos os seus personagens. Não havia espaço para papéis rasos e sem sentido em seus filmes. Não é à toa que até hoje ele é considerado um mestre, um verdadeiro gênio da sétima arte. "Mogambo" tem um elenco maravilhoso, com três grandes estrelas da época, e um roteiro extremamente bem escrito. Dito isso também temos que reconhecer que o tempo também cobrou seu preço. O tempo, como diria o provérbio, é o senhor da razão. O que era normal há 60 anos hoje já não soa tão comum.

O filme mistura cenas rodadas em estúdio com filmagens reais realizadas por Ford e sua equipe de segunda unidade no continente africano. Não poucas vezes as duas filmagens são mescladas em edição. Nem sempre isso funciona. As imagens capturadas na África não possuem, por exemplo, a mesma qualidade das cenas que foram realizadas em estúdio com os atores. Por isso a diferença de uma para outra se torna muito perceptível ao espectador. Tecnicamente o filme envelheceu mal. Pode parecer que algo assim seria um excesso de zelo, porém é um fator que envelheceu dramaticamente, tornando o filme de Ford menor do que ele realmente era. De qualquer forma o que temos aqui é certamente um clássico do gênero aventura nas selvas. Com a genialidade de John Ford não era de se esperar nada muito diferente disso.

Mogambo (Mogambo, Estados Unidos, 1953) Estúdio: Metro-Goldwyn-Mayer (MGM) / Direção: John Ford / Roteiro: John Lee Mahin, Wilson Collison / Elenco: Clark Gable, Grace Kelly, Ava Gardner, Donald Sinden / Sinopse: Pesquisador da vida selvagem contrata um caçador para levá-lo a uma montanha onde vivem gorilas selvagens. No meio da expedição sua esposa acaba se apaixonando pelo caçador. Filme indicado ao Oscar nas categorias de Melhor Atriz (Ava Gardner) e Melhor Atriz Coadjuvante (Grace Kelly). Vencedor do Globo de Ouro na categoria de Melhor Atriz (Grace Kelly).

Pablo Aluísio.

A Lenda dos Desaparecidos

O diretor Henry Hathaway teve uma ideia interessante. Que tal colocar o eterno cowboy John Wayne bem no meio do deserto do Sahara? Pois esse é justamente o principal atrativo desse filme bem diferente da filmografia do ator. Ele interpreta um americano chamado Joe January que vive numa cidade do norte da África. Entre bebedeiras e brigas de bar, ele acaba sendo contratado por um estrangeiro, um homem refinado, que o contrata para atravessar o deserto ao seu lado. O objetivo é achar o seu pai, desaparecido nas areias do mais hostil deserto do planeta.

Não é uma viagem fácil de fazer, pois além da falta de água, do sol incandescente e dos ataques de tribos violentas como os Tuaregs, ele precisa ainda localizar no meio daquela imensidão o paradeiro de um homem desaparecido há meses. Completando o trio de personagens principais surge uma mulher, uma meretriz e ladra interpretada por uma jovem e sensual Sophia Loren. Símbolo sexual na época, o diretor soube muito bem utilizar sua beleza, a colocando em roupas provocantes, criando, como era de se esperar, uma tensão sexual no trio, envolvendo John Wayne e o francês que o contratou para atravessar o deserto.

O filme foi todo rodado em locações na Líbia. Na região existem ruínas milenares de uma antiga cidade romana que serviu de cenário perfeito para as cenas finais do filme. John Wayne não precisou se esforçar muito, interpretando novamente o papel de cowboy durão que sempre o caracterizou no cinema. Era sucesso de bilheteria certo. O diferencial vem mesmo do lugar onde a história se passa. A fotografia do filme ficou belíssima por causa das areias e das dunas do deserto do Sahara. Ali o diretor Henry Hathaway conseguiu tomadas maravilhosas da natureza local. Só não espere grandes inovações em termos de roteiro, já que o filme segue de perto a cartilha das produções de aventuras da época, mesmo que desenvolva bem o lado psicológico de cada personagem. Dessa maneira se torna mesmo um ótimo momento das carreiras de Sophia Loren e John Wayne, dupla que aliás só trabalharia uma vez juntos, justamente nessa produção.

A Lenda dos Desaparecidos (Legend of the Lost, Estados Unidos, 1957) Direção: Henry Hathaway / Roteiro: Robert Presnell Jr / Elenco: John Wayne, Sophia Loren, Rossano Brazzi / Sinopse: O americano Joe January (John Wayne) é contratado por um francês chamado Paul Bonnard (Rossano Brazzi) para uma viagem ao deserto do Sahara. Ele quer localizar seu pai, desaparecido há vários meses. A jovem garota Dita (Sophia Loren), apaixonada por Paul, decide também se unir a eles, dando origem a várias aventuras e desafios nas areias do deserto sem fim.

Pablo Aluísio. 

quinta-feira, 28 de novembro de 2019

O Rio das Almas Perdidas

Esse foi um raro filme de western estrelado pela atriz Marilyn Monroe. È curioso que mesmo no auge dos filmes de faroeste ela tenha ficado tão distante desse gênero cinematográfico em sua carreira. O roteiro é bem interessante. No enredo Matt Calder (Robert Mitchum) chega em um acampamento de mineradores atrás de seu filho, um garoto de apenas nove anos que não vê há muito tempo. Após encontrar o menino em saloon onde também se apresenta a bela Kay Weston (Marilyn Monroe) ele segue viagem para o campo aberto. Pretende recomeçar a vida como fazendeiro numa bonita região a beira de um rio de forte correnteza. Para sua surpresa tempos depois vê uma pequena balsa com um casal descendo as corredeiras. Como estão em perigo, resolve ajudar.

A garota é a mesma corista Kay que havia conhecido no saloon onde encontrara seu filho, só que agora acompanhada de um jogador, Harry Weston (Rory Calhoun), que pretende tomar posse de uma mina de ouro que ganhou em um jogo de cartas. Como ambos não possuem experiência com corredeiras logo são aconselhados por Matt a desistirem de descer rio abaixo. Weston porém ignora o conselho e o pior, decide roubar Matt, levando sua arma, provisões e o único cavalo da fazenda para chegar mais rápido em seu destino. Kay porém decide ficar no rancho ao lado de Matt e seu filho pois não concorda com os atos violentos de Weston. Depois de recuperado Matt decide finalmente ir no encalço de Weston para reaver tudo o que lhe foi roubado.
   
“O Rio das Almas Perdidas” foi o único western da carreira de Marilyn Monroe. Um fato que chama a atenção mesmo, já que o gênero estava no auge e as atrizes da época geralmente participavam de vários filmes do estilo. Aqui temos uma produção lindamente fotografada em uma das regiões mais belas do Canadá (dois parques nacionais de preservação do país situados próximos da cidade de Alberta). Impossível não ficar impressionado com a beleza do lugar onde o filme foi realizado. As cenas misturam imagens reais captadas no local com back projection (onde os atores atuavam em frente a uma grande tela ao fundo que projetava imagens do rio). Felizmente há um maior número de cenas feitas em locação, captando a maravilhosa paisagem natural. Como sempre acontecia com filmes com Marilyn Monroe esse aqui também está recheado de histórias de bastidores tão interessantes quanto o próprio filme. Marilyn inclusive quase morreu afogada ao cair no rio. Suas botas ficaram inundadas e ela afundou literalmente, sendo salva pela equipe técnica. Depois fingiu ter quebrado a perna para ganhar alguns dias de descanso – fato que deixou o diretor Otto Preminger furioso. A atriz porém não se importou preferindo aproveitar um pouco do lindo lugar, quase como se estivesse de férias.

Também desenvolveu uma grande amizade com Robert Mitchum, que muito bem humorado costumava fazer provocações a ela, contando piadas sujas ou então disputando para ver quem bebia mais vinho no barracão da produção. Esse clima ameno passou para as telas. Enciumado Joe DiMaggio resolveu ir para as distantes locações com receios de que Marilyn o traísse com Mitchum. O personagem de Marilyn é bem mais interessante do que algumas loiras burras que interpretou. É uma garota durona, de fala firme que não aceita levar desaforos para casa, embora fique muitas vezes cega por causa de seus sentimentos. Marilyn Monroe canta várias canções no filme e mostra que era de fato uma cantora talentosa. A trilha sonora incidental também é das mais belas que já ouvi em um western (executada por um lindo coral feminino). O resultado final é muito positivo. Não tenho receio de escrever que esse é sem dúvida um dos melhores filmes de western da Fox e certamente o mais bonito de se assistir. Se ainda não viu não perca mais tempo, pois é um excelente filme.
 
O Rio das Almas Perdidas (River of No Return. Estados Unidos, 1954) Direção: Otto Preminger / Roteiro: Frank Fenton, Louis Lantz / Elenco: Robert Mitchum, Marilyn Monroe, Rory Calhoun / Sinopse: Fazendeiro sai no encalço do ladrão que lhe roubou sua arma, seu cavalo e provisões de alimentos. Para chegar mais rápido na cidade para onde o ladrão se dirige resolve enfrentar as corredeiras do rio, tendo que superar pelo caminho todos os desafios da natureza.

Pablo Aluísio. 

quarta-feira, 27 de novembro de 2019

Moscou Contra 007

Provavelmente seja o melhor filme de James Bond com Sean Connery. Tudo parece se encaixar muito bem em uma trama excelente em ótima adaptação do texto de Ian Fleming. Na estória Bond acaba ficando na incomoda posição de marionete da organização Spectre. Acontece que o grupo criminoso internacional deseja colocar as mãos em uma máquina decifradora de códigos secretos (algo considerado vital no mundo da espionagem durante a guerra fria).

Fazendo-se passar por uma autoridade do serviço secreto russo uma agente da Spectre convence uma espiã russa a roubar o objeto do consulado soviético em Istambul. Ao mesmo tempo engana o serviço secreto inglês que manda Bond numa missão especial na milenar cidade para também colocar as mãos na decodificadora. A agente soviética se faz passar por traidora e promete entregar a cobiçada máquina nas mãos do agente inglês. Só que no final quem planeja mesmo tomar posse dela é a própria Spectre que deseja ainda em uma só tacada eliminar o famoso agente britânico como ato de vingança pela morte do Dr. No. Por essa razão também é recomendável que o espectador assista ao filme anterior, para que todas as peças fiquem bem encaixadas.

Para os fãs de James Bond o filme é um prato cheio. Tem bom roteiro, excelente cenas de ação e uma bondgirl belíssima – a atriz Daniela Bianchi interpretando a agente russa Tatiana Romanova. Sean Connery também está empenhado em trabalhar bem seu papel, sempre concentrado e envolvido, algo que se perderia no passar dos anos pois Connery logo deixaria de ter o interesse em interpretar 007, indo atrás de outros desafios em sua carreira. Durante o filme o espectador ainda é presenteado com ótimas cenas filmadas dentro da famosa Basílica de Santa Sofia em Istambul, monumento erguido pelo imperador romano Justiniano em honra à glória do império Bizantino.

Há ainda belas cenas rodadas em Veneza e no leste europeu. Na trama o escritor Ian Fleming presta também uma singela e pequena homenagem à autora Agatha Christie ao ter parte da trama passada dentro do famoso Expresso do Oriente. Em suma, belo filme da franquia do mais famoso agente inglês do cinema. Um exemplo perfeito de tudo o que não pode faltar em uma película com 007: ação, espionagem, lindas mulheres e cenários de cartão postal. “Moscou contra 007” é de fato um James Bond com pedigree.

Moscou Contra 007 (From Russia with Love, Inglaterra, 1963) Direção: Terence Young / Roteiro: Richard Maibaum, Johanna Harwood, baseados no livro de Ian Fleming / Elenco: Sean Connery, Daniela Bianchi, Lotte Lenya / Sinopse: O espião inglês James Bond (Sean Connery) se vê envolvido numa complicada rede de espionagem envolvendo agentes russos e a Spectre, onde o objetivo final é colocar as mãos em uma cobiçada máquina de decodificação de códigos do serviço secreto soviético.

Pablo Aluísio. 

Assassinato no Expresso do Oriente

Em 1930 um terrível seqüestro envolvendo uma garotinha da família Armstrong vira manchete nacional. Seu paradeiro é desconhecido e um resgate é exigido de seu pai, um militar condecorado. Após o pagamento ser efetuado a pequena Daisy Armstrong é encontrada morta em um milharal. Cinco anos depois um rico homem de negócios, o sr. Ratchett (Richard Widmark), é morto a punhaladas dentro do Expresso do Oriente. Tudo aconteceu na calada da noite e por isso não se sabe quem cometeu o crime.

Por uma estranha coincidência do destino o famoso detetive Hercule Poirot (Albert Finney) se encontra viajando no mesmo trem. Como esse se encontra parado por causa de uma nevasca que assola os trilhos a conclusão é óbvia: o assassino ainda se encontra entre os passageiros do vagão onde o homicídio foi cometido. Para descobrir sua identidade o velho investigador belga usará de todo o seu poder de dedução. Não demora para ele descobrir que todos os passageiros são suspeitos em potencial. Haveria ainda alguma ligação entre a morte da garota Daisy e o crime no Expresso Oriente?

Provavelmente “Assassinato no Expresso Oriente” seja o mais conhecido e popular livro de Agatha Christie. A autora se notabilizou por suas tramas de mistério onde o ponto principal era descobrir quem era o assassino. Aqui a fórmula de Christie se mostra bem nítida. Há um grupo de passageiros do Expresso do Oriente que possuem uma ligação de uma forma ou outra com a vítima. O roteiro segue à risca o enredo do livro e traz como brinde ao espectador um elenco simplesmente magnífico, com vários mitos da história do cinema. Só para se ter uma ideia surgem em cena atrizes como Ingrid Bergman (de Casablanca, aqui interpretando uma missionária), Lauren Bacall (a eterna musa da era de ouro de Hollywood dando vida a uma mulher que fala pelos cotovelos) e Jacqueline Bisset (elegante, linda e no auge da beleza).

Na ala masculina temos Sean Connery (como um oficial escocês), Anthony Perkins (como sempre fazendo um personagem perturbado) e John Gielgud (um dos maiores atores shakesperianos que faz o mordomo, obviamente sempre um grande suspeito). Como se vê o elenco é grandioso, seu único deslize talvez seja a escolha de Albert Finney como Poirot pois sempre preferi Peter Ustinov nesse papel. Uma versão bem mais recente foi lançada nos últimos anos, mas não possui o carisma desse clássico original. Não é um filme perfeito, mas só pela ambientação e elenco já valem a pena, principalmente se você aprecia esses atores mais veteranos. Assim fica a recomendação dessa produção muito charmosa, repleta de mistério, estrelas e diversão.  


Assassinato no Expresso do Oriente (Murder on the Orient Express, Estados Unidos, 1974) Direção: Sidney Lumet / Roteiro: Paul Dehn baseado na obra de Agatha Christie / Elenco: Albert Finney, Richard Widmark, Jacqueline Bisset, Lauren Bacall, Anthony Perkins, John Gielgud, Sean Connery, Ingrid Bergman / Sinopse: Doze passageiros do Expresso do Oriente se tornam suspeitos após um rico homem de negócios aparecer morto em seu vagão. Para solucionar o mistério o detetive Hercule Poirot tentará decifrar o enigma do assassinato. Filme vencedor do Oscar na categoria de Melhor Atriz Coadjuvante (Ingrid Bergman). Também indicado nas categorias de Melhor Figurino, Melhor Roteiro Adaptado, Melhor Fotografia, Melhor Trilha Sonora Original e Melhor Ator (Albert Finney).

Pablo Aluísio. 

terça-feira, 26 de novembro de 2019

Era Uma Vez em... Hollywood

Quando eu soube que o novo filme de Quentin Tarantino iria ter como tema o assassinato da atriz Sharon Tate naquele trágico crime envolvendo membros da seita de Charles Manson, fiquei completamente desanimado. Não acredito que coisas assim devem ser resgatados do passado pelo cinema. Algumas histórias são tão horríveis que os mortos devem ser deixados em paz. Porém o que não levei em conta é que Tarantino não deve ser subestimado. Ele realmente nunca faria um filme banal sobre aquilo tudo que aconteceu. Ele encontraria uma maneira original de explorar esse tema tão espinhoso. E eis que fui surpreendido completamente por esse filme quando o assisti. De fato é algo muito bem desenvolvido. Em seu roteiro Tarantino misturou pessoas reais, que existiram mesmo, com personagens puramente de ficção. E criativo como ele é, não poderia dar em outra coisa. Os personagens de Leonardo DiCaprio e Brad Pitt são referências da cultura pop. Uma miscelânea de tipos que eram bem comuns na Hollywood dos anos 60. O ator de seriados de faroeste interpretado por DiCaprio é uma ótima criação. Com ecos de Clint Eastwood e outros atores de segundo escalão da época, ele retrata bem aquele tipo de ator que nunca conseguiu se tornar um astro em Hollywood. Vivendo de seriados popularescos, o que lhe sobra em determinado momento é ir para Roma filmar faroestes do tipo Western Spaghetti. Produções B, bem ruins e mal feitas.

Brad Pitt é o dublê desempregado que mora em um trailer. Para sobreviver ele se torna uma espécie de assistente pessoal e "faz-tudo" para o ator decadente de DiCaprio. As melhores cenas do filme inclusive estão com ele. Na visita ao rancho onde a "família Manson" vivia e no clímax final que é puro nonsense criativo. Margot Robbie está um pouco em segundo plano, apesar de interpretar Sharon Tate. Isso foi consequência do próprio roteiro que vai girando ao largo, na periferia dos acontecimentos. E sua Sharon é bem retratada no roteiro. Uma mocinha bonita, mas meio cabeça de vento, que passava o dia ouvindo música. Não tinha mesmo muita coisa na cabeça. Era uma starlet dos anos 60, nada mais.

Por fim tenho que tecer breves comentários sobre o final do filme, mas isso sem entregar nenhuma surpresa, que afinal de contas é o grande trunfo desse novo Tarantino. Conforme o filme foi se desenvolvendo eu fui gostando de praticamente tudo. Dos personagens, da ambientação anos 60, de tudo. Acontece que na meia hora final chega o momento da verdade. Eu não queria ver de novo a matança de Sharon Tate e seus amigos. Aí Tarantino foi mesmo um mestre. Saiu completamente do lugar comum, criou sua própria realidade paralela. Genial. Não é à toa que o filme é quase uma fábula, um faz de conta. A realidade foi tão trágica... por que não ir por outro caminho? Ao fazer isso Tarantino acabou criando uma pequena obra-prima. Palmas para ele.

Era Uma Vez em... Hollywood (Once Upon a Time... in Hollywood, Estados Unidos, Inglaterra, China, 2019) Direção: Quentin Tarantino / Roteiro: Quentin Tarantino / Elenco: Leonardo DiCaprio, Brad Pitt, Margot Robbie, Emile Hirsch, Al Pacino, Dakota Fanning, Timothy Olyphant, Bruce Dern, Luke Perry / Sinopse: Rick Dalton (Leonardo DiCaprio) é um ator de segundo escalão em Hollywood. Decadente, ele aceita ir para Roma filmar filmes de western spaghetti. Cliff Booth (Brad Pitt) é um dublê desempregado que trabalha para Dalton como seu assistente pessoal. Eles não sabem, mas vão fazer parte de um dos eventos mais trágicos da história de Hollywood... ou quase isso!

Pablo Aluísio. 

 

Rápida e Mortal

Lady (Sharon Stone) chega numa cidade perdida do velho oeste para participar de uma competição de duelos para saber quem é o mais rápido do gatilho na região. A competição é organizada por Herod (Gene Hackman), um facínora que aterroriza todos os habitantes honestos da cidadezinha. Em troca de uma suposta “proteção” ele cobra valores absurdos de comerciantes e cidadãos que pagam na verdade para não serem mortos por ele e seus capangas armados até os dentes. O que Herod não sabe é que Lady vem em busca de vingança pela morte de seu pai, um xerife que cruzou com o caminho dele em um passado remoto. “Rápida e Mortal” é de certa forma uma homenagem do cineasta Sam Raimi aos antigos filmes clássicos do chamado western spaguetti. Tudo ecoa ao estilo dessas produções – a trilha sonora, os enquadramentos de câmera, a violência e o enredo, que novamente constrói toda uma trama em cima de um ato de vingança, tentando trazer justiça a um evento do passado (tema que era bem recorrente nos faroestes italianos). As cenas de duelos que permeiam toda a estória reforçam ainda mais esse aspecto. A estilização das mortes e os personagens em si são os aspectos mais visíveis da produção nesse sentido.

Muitos podem torcer o nariz pelo fato do filme ser estrelado pela atriz Sharon Stone (no auge de sua carreira) mas o fã de filmes de western deve ignorar esse detalhe. O que não faltam aqui são atores talentosos em cena. O elenco aliás é um dos maiores trunfos do filme pois é recheado de grandes nomes. Além de Sharon Stone (linda e mostrando que ficava muito bonita de figurino country) temos ainda o maravilhoso Gene Hackman (como o vilão, ótimo como sempre), Leonard DiCaprio (Como Kid, filho de Herod, um jovem falastrão e fanfarrão que pensa ser melhor no gatilho do que realmente é na verdade) e Russel Crowe (como um pistoleiro arrependido e convertido que agora só pensa em servir como missionário de Deus, rejeitando a violência). De quebra Cary Sinise surge em flashbacks como o pai da personagem de Sharon Stone, um xerife morto em serviço. Confesso que na época em que assisti pela primeira vez o filme não me marcou muito. Achei apenas um western eficiente e nada mais. Agora em uma nova revisão revi minha antiga opinião pois o achei realmente divertido, com boa fluência e ritmo. O roteiro que gira quase que totalmente em torno do torneio de duelos poderia desenvolver melhor os personagens mas do jeito que está não compromete. No final das contas o tempo acabou fazendo bem a “Rápida e Mortal”, quem diria.

Rápida e Mortal (The Quick and the Dead, Estados Unidos, 1995) Direção: Sam Raimi / Roteiro: Simon Moore / Elenco: Sharon Stone, Gene Hackman, Russell Crowe, Leonardo DiCaprio, Lance Henriksen / Sinopse: Em busca de vingança uma cowgirl conhecida apenas como Lady (Sharon Stone) chega numa cidadezinha aterrorizada pelo bandido Herod (Gene Hackman). Ele está organizando um torneio de duelos para determinar quem é o gatilho mais rápido da região. Não demora para que ela também entre na disputa!

Pablo Aluísio.

segunda-feira, 25 de novembro de 2019

Butch Cassidy

Título no Brasil: Butch Cassidy
Título Original: Butch Cassidy and the Sundance Kid
Ano de Produção: 1969
País: Estados Unidos
Estúdio: Twentieth Century Fox
Direção: George Roy Hill
Roteiro: William Goldman
Elenco: Paul Newman, Robert Redford, Katharine Ross, Strother Martin, Henry Jones, Jeff Corey

Sinopse:
O criminoso Butch Cassidy (Paul Newman) decide se unir a outro bandoleiro chamado Sundance Kid (Robert Redford) para formar uma quadrilha de assaltantes de bancos. Quando um desses assaltos dá errado, eles decidem que chegou a hora de irem embora dos Estados Unidos e fogem para a América do Sul, em busca de liberdade. Filme baseado em fatos reais.

Comentários:
Butch Cassidy e Sundance Kid foram dois criminosos. Assassinos, ladrões, gente da pior espécie. Esse filme porém não está preocupado em contar de forma realista a história deles dois. No fundo apenas os nomes reais foram usados em personagens bem carismáticos. Não podemos esquecer que esse faroeste foi produzido nos anos 60. O clima de contracultura estava no ar. Os bandidos do passado poderiam se passar muito bem como os heróis da resistência do presente. Assim o que vemos aqui é uma alegoria romanceada. A criminalidade da dupla é vista até sob um ponto de vista otimista, positivo, de ser livre, fora das normas, fora dos padrões. E quem disse que isso também não resultaria em ótimo cinema? Pois foi justamente isso que aconteceu. Se tivessem optado por contar a história desses bandidos da forma mais fiel aos fatos históricos, não teríamos seguramente uma obra-prima do cinema em mãos. Aqui os pistoleiros são gentis, educados e acima de tudo espertos. Eles não querem o confronto, apenas querem lutar por sua liberdade. É uma visão tão lírica que o roteiro se dá até mesmo ao luxo de colocar esses dois bandoleiros em momentos de puro prazer, dando voltinhas de bicicleta pela vizinhança. É um grande filme, não me entendam mal, porém no final das contas tem pouca coisa a ver com a trajetória de crimes, roubos e sangue derramado que marcou a vida dos reais Butch Cassidy e Sundance Kid. Vai agradar e muito a quem adora cinema e histórias romanceadas. Para quem estiver em busca da história real, da poeira dos fatos, vai entender que essa produção passa muito longe de ser fidedigna. Filme vencedor do Oscar nas categorias de Melhor Roteiro Adaptado (William Goldman), Melhor Direção de Fotografia (Conrad L. Hall) e Melhor Música ("Raindrops Keep Fallin' on My Head" de Burt Bacharach e Hal David).

Pablo Aluísio.

Casa de Chá do Luar de Agosto

Esse filme é bem curioso. Primeiro é uma comédia leve e divertida estrelada por dois atores, Marlon Brando e Glenn Ford, que nunca foram tecnicamente comediantes. Segundo por trazer uma das caracterizações mais esquisitas da história do cinema: Brando interpretando um japonês chamado Sakini. Confesso que foi até complicado se acostumar com a pesada maquiagem do ator no filme, além de sua atuação, um tanto quanto estereotipada. De qualquer forma conforme o filme avança essa estranheza vai cedendo lugar à pura diversão, pois se o filme não chega a ser hilariante pelo menos tem cenas realmente divertidas e bem escritas. Glenn Ford está muito à vontade no papel, fazendo sem problemas várias cenas que beiram o cinema pastelão. Ele e Marlon inclusive tiveram alguns atritos de ego nas filmagens mas isso não passou ao filme pois tudo soa despretensiosamente leve e bom astral.

De uma maneira em geral o filme foi bem melhor do que eu esperava. Brando fala tão mal do filme em sua autobiografia que pensei que seria uma bomba completa. Não é. O diretor Daniel Mann procura ser bem sutil, até porque a cultura japonesa que mostra no filme já é conhecida por sua sutileza. O roteiro obviamente explora o choque cultural existente entre os moradores de uma pequena vila japonesa em Okinawa e os militares que a ocupam logo após a II Guerra. Os americanos tentam impor sua visão de progresso, com o plano de construir uma escola que ensine democracia no local enquanto os japoneses sonham com a construção de uma casa de chá onde possam se confraternizar e ver o pôr do sol. Desse confronto todo o argumento é construído, com momentos ora divertidos, ora banais, mas nunca chatos. Enfim, o filme nada mais é do que um bom passatempo, leve e ligeiro, e se for encarado dessa forma pode ser uma grata surpresa ao espectador.

Casa de Chá do Luar de Agosto (The Teahouse of the August Moon, EUA, 1958) Direção: David Mann / Roteiro: John Patrick baseado no livro de Vern J. Sneider / Elenco: Marlon Brando, Glenn Ford, Machiko Kyô, Eddie Albert / Sinopse: Após a II Guerra Mundial militares americanos planejam construir uma escola numa isolada vila japonesa em Okinawa, mas terão que convencer a população a local que prefere que seja construída uma casa de chá para que todos possam assistir ao por do sol juntos, em harmonia com a natureza.

Pablo Aluísio.

Mais Forte Que a Vingança

Um western bem peculiar que foca muito mais em momentos reflexivos (principalmente nas cenas passadas no alto das montanhas, em gélida desolação, praticamente sem diálogos ou script) do que em cenas de ação e violência. Essa é a grande impressão que fica no espectador após assistir a esse diferente "Jeremiah Johnson", filme que procurou trazer uma nova perspectiva para os filmes de faroeste. A trama é das mais interessantes. Um veterano de guerra resolve partir para viver nas regiões mais inóspitas e geladas do distante território americano de Utah. Lá começa uma nova vida, completamente sozinho e afastado da civilização. Vivendo basicamente do que consegue caçar, seu isolamento é quebrado quando finalmente entra em contato com nativos americanos que ousam atravessar a região. Toma contato com uma indígena e acaba se tornando responsável por seu pequeno filho, bem no meio entre novos conflitos entre brancos e indígenas. A trama foi baseada em fatos reais, na vida de um montanhês desconhecido que viveu na mesma região no século XIX.

Uma excelente produção, com direção inspirada e corajosa de Sydney Pollack que encarou uma filmagem muito complicada, com equipe técnica e elenco trabalhando sob condições climáticas adversas. Inicialmente o projeto foi desenvolvido para ser estrelado por Clint Eastwood e dirigido pelo mestre Sam Peckinpah. Com a saída deles assumiu Pollack que procurou trazer a maior veracidade possível ao filme, indo para as locações distantes e desoladas. O curioso é que o ator Robert Redford acabou se apaixonando pelo local, chegando ao ponto de comprar uma vasta propriedade na região, onde mantém a natureza praticamente intacta, como forma de preservação ambiental. O argumento do roteiro é bem simples de entender pois mostra um homem branco inserido dentro do vasto território do oeste onde os próprios índios tentam também sobreviver, mostrando que tantos brancos como indígenas não deveriam lutar entre si mas sim unir forças para construir aquela nova nação que nascia naquele momento. Nesse aspecto foi um dos primeiros filmes de western socialmente conscientes do cinema americano, mostrando a insanidade da guerra e as consequências negativas da intolerância entre as raças.

Mais Forte Que a Vingança (Jeremiah Johnson, EUA, 1972) Direção: Sydney Pollack / Roteiro: Raymond W. Thorp, baseado no livro escrito por Vardis Fisher / Elenco: Robert Redford, Will Geer, Delle Bolton / Sinopse: Homem branco, Jeremiah Johnson (Robert Redford), decide ir para o alto das montanhas para viver isolado da civilização e lá entra em contato com povos nativos americanos. Filme indicado no Cannes Festival na categoria de Melhor Direção (Sydney Pollack).

Pablo Aluísio.

domingo, 24 de novembro de 2019

Sangue & Vinho

Título no Brasil: Sangue & Vinho
Título Original: Blood and Wine
Ano de Produção: 1996
País: Estados Unidos
Estúdio: Fox Searchlight Pictures
Direção: Bob Rafelson
Roteiro: Nick Villiers, Bob Rafelson
Elenco: Jack Nicholson, Michael Caine, Stephen Dorff, Judy Davis, Harold Perrineau, Mike Starr

Sinopse:
Alex (Jack Nicholson) tem um casamento horrível. Sua vida profissional também acabou. Ele vende vinhos, alguns de péssima qualidade. Nesse momento crucial de sua vida ele decide radicalizar. Se une a um amigo e a sua amante cubana para roubar um colar de diamantes que custa uma verdadeira fortuna.

Comentários:
Eu sempre gostei muito do Jack Nicholson. Ele é seguramente um dos meus atores preferidos de todos os tempos. Porém é fato que conforme sua carreira ia chegando ao fim ele meio que deixou de se importar com os filmes que fazia. Simplesmente ligou o controle remoto. Não se importou mais. Jack se aposentou há quase 10 anos. Antes disso ele faz alguns filmes bem mais ou menos. Esse "Blood and Wine" foi um deles. Não causou nenhuma repercussão dentro da mídia e de certa maneira passou em brancas nuvens. Não chegou sequer a ser lançado nos cinemas brasileiros, indo direto para o mercado de vídeo. Perguntado por um jornalista porque havia trabalhado nesse filme, o bom e irônico Jack simplesmente respondeu: "Eu queria dar um trabalho para meu velho amigo Bob Rafelson". Pois é, Jack entrou no projeto apenas para que o diretor finalmente conseguisse financiamento para esse roteiro que estava há anos engavetado. Eu considero um filme sem brilho, apagado. Custou pouco e rendeu muito menos nas bilheterias. Jack Nicholson deu de ombros, acendeu o cigarro e se foi. Ele sabe que já fez praticamente tudo o que um grande ator como ele poderia ter feito. Por que se importar ainda? Tudo bem, é um ponto de vista. O problema é alguém no público também se importar em ver o filme. Por que alguém iria assistir ao filme? Aí é o grande X da questão.

Pablo Aluísio.

Acerto Final

Título no Brasil: Acerto Final
Título Original: The Crossing Guard
Ano de Produção: 1995
País: Estados Unidos
Estúdio: Miramax
Direção: Sean Penn
Roteiro: Sean Penn
Elenco: Jack Nicholson, David Morse, Anjelica Huston, Robin Wright, Piper Laurie, Richard Bradford 

Sinopse:
Freddy Gale (Jack Nicholson) descobre que após seis anos na prisão seu antigo desafeto John Booth (David Morse) ganhou a liberdade. Gale tem contas a acertar com ele e não esconde o que fará, dando 72 horas até seu encontro fatal com John. E o tempo começa a correr para ambos, criando tensão e suspense.

Comentários:
Existem casos em que o elenco não está à altura do diretor de um filme. E há situações em que o elenco é que supera em muito os talentos do diretor. Esse "Acerto Final" se enquadra nessa última hipótese. Sean Penn ainda era muito inexperiente para lidar com um ator do porte de Jack Nicholson. Dirigir Nicholson é algo complexo e apenas grandes cineastas conseguiram tirar dele todo o potencial de seu enorme talento. Sean Penn fez um filme meramente mediano tendo em mãos um gênio da arte de atuar como Nicholson. Nesse tipo de situação a coisa se torna mesmo imperdoável para qualquer cinéfilo. A outra coisa que chama atenção em termos de elenco é que pela primeira vez em anos Jack contracenou com Anjelica Huston. No passado tiveram um longo e conturbado caso amoroso. Ficaram sem se falar por anos. Até que Jack a convidou para participar dessa produção. Foi uma espécie de reaproximação pacífica, uma maneira de se fazer as pazes. Pelo menos para isso esse thriller mediano serviu. Além disso Anjelica Huston conseguiu ser indicada ao Globo de Ouro naquele ano, justamente por esse seu trabalho. Foi um bem-vindo reconhecimento para ela, que estava mesmo precisando de algo assim. Em termos cinematográficos porém o resultado do filme de uma maneira em geral veio bem abaixo do que era esperado.

Pablo Aluísio.

sábado, 23 de novembro de 2019

O Ano que Vivemos em Perigo

Título no Brasil: O Ano que Vivemos em Perigo
Título Original: The Year of Living Dangerously
Ano de Produção: 1982
País: Estados Unidos, Austrália
Estúdio: Metro-Goldwyn-Mayer (MGM)
Direção: Peter Weir
Roteiro: David Williamson, Peter Weir
Elenco: Mel Gibson, Sigourney Weaver, Linda Hunt, Michael Murphy, Paul Sonkkila, Bill Kerr

Sinopse:

Durante uma revolução na Indonésia, na década de 1960, um jornalista acaba se apaixonando por uma mulher americana. No meio do caos e da guerra eles tentam construir uma história de amor. Filme vencedor do Oscar na categoria de Melhor Atriz Coadjuvante (Linda Hunt).

Comentários:
Esse filme é puro anos 80! Imagine unir em um mesmo elenco dois ícones cinematográficos daquela época (Mel Gibson e Sigourney Weaver) e com eles ainda bem jovens, no auge do sex appeal. A temperatura só poderia ficar alta mesmo. Palmas para o cineasta Peter Weir, um diretor que sempre admirei. Ele foi seguramente um dos diretores mais subestimados dos anos 80, pois fez excelentes filmes, com lindas fotografias, mas nunca conseguiu o reconhecimento que lhe era devido. O roteiro desse filme (também de autoria de Weir) tinha um subtexto político bem elaborado, ético e muito interessante, porém o que se sobressaía mesmo era o casal principal, soltando faíscas em cada cena. Dizem que Gibson e Weaver tiveram um caso durante as filmagens porém tudo foi devidamente abafado porque eles eram comprometidos. Que pena, deveriam ter assumido tudo publicamente, as revistas de fofoca iriam se divertir bastante. Deixando tudo isso de lado é bom reconhecer os méritos do filme como cinema. Um dos destaques mais lembrados veio da marcante atuação da atriz Linda Hunt, aqui interpretando um personagem masculino chamado Billy Kwan. Ela estava plenamente convincente como um homem em cena. Chega a impressionar. Não é a toa que levou o Oscar para casa!. Enfim, um filme bem indicado, com excelentes cenas e bela direção de fotografia. É sem favor algum  uma das produções mais marcantes daquela década. Coisa fina.

Pablo Aluísio.

sexta-feira, 22 de novembro de 2019

MI-5

O que significa MI-5? Essa é a sigla que designa o serviço de inteligência britânico. Sim, é o equivalente a CIA, só que no Reino Unido. O interessante é que inicialmente esse filme ganhou o péssimo título nacional de "Spooks: O Mestre Espião", sendo que depois a distribuidora nacional voltou atrás. Atualmente o filme é exibido nos canais Telecine apenas como "MI-5". Em minha opinião é bem melhor assim. Bom, com um título desses o tema do filme não poderia ser outro. Sim, é mais um filme de espionagem.

A trama começa quando um terrorista internacional é libertado em plena ponte de Londres. Claro, o MI-5 fica completamente desmoralizado perante a opinião pública. Como poderia algo assim acontecer? A solução então passa a ser montar uma intrigada e complexa operação para se chegar nos culpados. Há suspeitas que agentes de dentro da própria agência se corromperam e libertaram o criminoso.

O veterano agente inglês Harry Pearce (Peter Firth) forja sua própria morte. Ele quer que todos pensem que ele pulou de uma ponte londrina para a morte. Pura cortina de fumaça. Uma vez dado como morto ele recruta um ex-agente chamado Will Holloway (Kit Harington). Ele havia sido expulso do MI-5 pelo próprio Harry! A partir daí eles começam a trabalhar juntos para descobrir todos os podres da agência de espionagem, ao mesmo tempo em que armam uma armadilha para o terrorista que foi solto. Como se pode ver o filme traz até um roteiro interessante. Com boa fotografia e um roteiro cheio de reviravoltas é uma produção que no final das contas não decepciona, principalmente para os que gostam desse tipo de filme. Uma renovada, modernização dos antigos filmes de James Bond, só que numa levada bem mais realista.

MI-5 / Spooks: O Mestre Espião (Spooks: The Greater Good, Inglaterra, 2015) Direção: Bharat Nalluri / Roteiro: Jonathan Brackley, Sam Vincent / Elenco: Kit Harington, Peter Firth, Jennifer Ehle, David Harewood / Sinopse: Um veterano agente do serviço secreto inglês chamado Harry Pearce (Peter Firth) se une a um ex-agente, Will Holloway (Kit Harington), para desbaratar uma rede de corrupção dentro da agência que ajudou a libertar um perigoso terrorista internacional. Filme indicado ao Golden Trailer Awards.

Pablo Aluísio.

007 Marcado para a Morte

Título no Brasil: 007 Marcado para a Morte
Título Original: The Living Daylights
Ano de Produção: 1987
País: Inglaterra
Estúdio: Eon Productions, MGM
Direção: John Glen
Roteiro: Richard Maibaum, Michael G. Wilson
Elenco: Timothy Dalton, Maryam d'Abo, Jeroen Krabbé, Joe Don Baker, John Rhys-Davies, Andreas Wisniewski

Sinopse:
James Bond (Timothy Dalton) ajuda um militar russo a deserdar para o Ocidente. Nesse meio tempo acaba descobrindo também um complexo plano de uma organização criminosa envolvida com traficantes internacionais da União Soviética, do bloco comunista. no Leste europeu.

Comentários:
Com a aposentadoria de Roger Moore os produtores foram atrás de um novo ator para a franquia de James Bond nos cinemas. O escolhido acabou sendo Timothy Dalton. Ele não era muito conhecido, poucas pessoas conseguiam se lembrar dele. Infelizmente Dalton acabou fazendo apenas dois filmes como o agente secreto 007. Esse seu primeiro filme até teve uma bilheteria razoável, mas os números do segundo filme não convenceram e ele acabou sendo demitido. Apenas George Lazenby, que havia feito apenas um filme como Bond durante os anos 60, conseguiu superar Dalton no quesito brevidade. Uma pena pois Dalton, em minha opinião, não deixava a desejar como Bond. Ele era bom ator. O que deu errado então? Acredito que Timothy Dalton não tenha agradado ao público que estava acostumado com Roger Moore. Sempre que havia uma troca de um ator que havia ficado por anos interpretando Bond acontecia esse tipo de coisa. Com Sean Connery aconteceu exatamente isso. É uma pena porque esse filme dos anos 80 tinha todos os elementos para agradar aos fãs do agente secreto. Até uma ótima trilha sonora (com o A-ha) encaixava bem com o espírito da época. Tive a oportunidade de assistir no cinema e não me decepcionei. Estava esperando pelo menos uns cinco filmes de Bond com Dalton, mas realmente não deu. Ele acabou sendo substituído por Pierce Brosnan em pouco tempo.

Pablo Aluísio.

O Esporte Favorito dos Homens

Na década de 1960 Rock Hudson descobriu um novo filão de sucesso: as comédias românticas. Para um ator que foi descoberto nos dramas de Douglas Sirk era uma mudança e tanto estrelar tantas produções cômicas como essa. A fórmula se mostrou muito bem sucedida nos três filmes que rodou ao lado de Doris Day e em alguns outros filmes esporádicos como por exemplo “Quando Setembro Vier”. O fato porém é que com o tempo as coisas foram se repetindo e o público lentamente foi perdendo o interesse. O desgaste foi natural. Esse “O Esporte Favorito dos Homens” é um exemplo disso. Dirigido pelo grande Howard Hawks o filme simplesmente não emplaca. As situações não são particularmente engraçadas e até mesmo Rock Hudson aparece apático, em um personagem completamente desinteressante. Para piorar sua atuação também deixa a desejar pois ele surge travado em cena, o que contrasta e muito com seus trabalhos ao lado da maravilhosas Doris Day. Aqui ele sequer consegue apresentar seu tão conhecido timing para humor. Talvez a culpa seja de sua parceira em cena, Paul Prentiss, que certamente não tem o talento de Doris e nem sua simpatia pessoal. Para falar a verdade ela sequer parece estar interessada em disponibilizar uma boa atuação. Não me admira em nada que não tenha conseguido fazer longa carreira em Hollywood, desaparecendo tão rapidamente como surgiu.

Esse é o tipo de filme que o cinéfilo acaba criando uma certa expectativa, até mesmo pelo pelos nomes envolvidos. Howard Hawks marcou a história do cinema americano, sendo um dos cineastas mais ecléticos que já passaram pelos grandes estúdios. Basta consultar sua filmografia para ver como ele conseguia realizar filmes de ótimo nível, seja nos gêneros aventura, western ou comédia. Aqui porém a magia não funcionou. A culpa muito provavelmente seja do roteiro que procura tirar humor em cima de um esporte muito popular nos EUA, a pesca com anzol. Algumas cenas são simples gags em cima dessa modalidade esportiva. O problema é que assim como o beisebol isso é algo muito americano, que não desperta o menor interesse do público de outros países.

Desse modo cenas com Rock pescando, pisando em baldes de iscas e outras coisas semelhantes não consegue criar muita afinidade. Sem identificação com as situações a coisa simplesmente não funciona. Outro problema bem visível é que o  filme foi totalmente rodado dentro dos estúdios e isso é um erro em se tratando de um tema como esse que certamente exigiam tomadas externas, de muitos rios e natureza em geral. As florestas falsas recriadas que surgem nas cenas simplesmente não convencem. A Universal parece ter previsto que o filme não seria bem sucedido pois o arquivou por longos dois anos antes de lança-lo nos cinemas americanos. No final a fita não conseguiu agradar nem à crítica e nem ao público se revelando apenas um grande desperdício de talento e dinheiro.

O Esporte Favorito dos Homens (Man's Favorite Sport? EUA, 1964) Direção: Howard Hawks / Roteiro: John Fenton Murray, Steve McNeil baseados no conto "The Girl Who Almost Got Away" de Pat Frank /  Elenco: Rock Hudson, Paula Prentiss, Maria Perschy, John McGiver / Sinopse: Roger Willoughby (Rock Hudson) é considerado um dos principais especialistas em pesca esportiva do mundo. Ele escreveu vários livros sobre o assunto e é amado por seus clientes no departamento de artigos esportivos em Abercrombie e Fitch, onde ele trabalha. Há apenas um problema que poucos conhecem: ele nunca foi a uma pesca em sua vida! Tudo o que sabe vem apenas de teoria pois sua prática no assunto é zero. Quando o dono da loja o inscreve em um concurso de pesca, o caos começa.

Pablo Aluísio.