O texto contém spoiler. Assim se você ainda não assistiu ao filme aconselho que não siga lendo as linhas a seguir. Pois bem, o filme já começa no velho estilo tradicional da saga, com os letreiros explicativos e a trilha sonora de John Williams que qualquer cinéfilo reconhece já nos primeiros acordes. O último cavaleiro Jedi vivo, Luke Skywalker (Mark Hamill), está desaparecido. Seu paradeiro é desconhecido. A localização exata de onde se encontra passa a ser uma questão crucial para a resistência e a Primeira Ordem (uma espécie de herdeira do Império, a representação concreta e atual do lado negro da força). Um mapa mostrando onde ele estaria é colocado em um pequeno droide em uma nave rebelde. Quando essa cai em um planeta deserto tudo parece perdido. O robozinho denominado BB-8 porém consegue escapar e sai a esmo pelo meio do deserto, encontrando casualmente a jovem Rey (interpretada pela bonita atriz inglesa Daisy Ridley).
A partir daí sua vida mudará para sempre pois ela acaba se tornando alvo das tropas imperiais, ao mesmo tempo em que tenta entender tudo o que começa a acontecer em sua nova vida. Esse é o sétimo filme da série "Star Wars" e de maneira em geral tem sido muito bem recebido por público e crítica. Já no seu primeiro fim de semana o filme alcançou uma bilheteria histórica chegando perto de bater o meio bilhão de dólares arrecadados (isso em praticamente apenas três dias de exibição!). Pelo visto a franquia continua tão cultuada e popular mesmo após a fraca trilogia anteriormente lançada. O segredo do diretor e roteirista J.J. Abrams foi usar a trilogia original como referência, tanto em termos de roteiro como em efeitos especiais, direção de arte, figurinos, cenários, etc. Isso acabou agradando em cheio aos fãs mais antigos ao mesmo tempo em que abre portas para conquistar uma nova geração de seguidores da saga. Além disso não podemos ignorar o fato de que os personagens originais como Han Solo, Luke Skywalker, a Princesa Leia e tantos outros estão de volta, completando o ciclo de nostalgia dos espectadores mais veteranos. Claro que o tempo impôs sua marca em cada um dos atores, mas isso não chega a ser um problema, pelo contrário, acaba sendo algo muito charmoso até, mostrando as marcas do tempo também em relação aos personagens que nos primeiros filmes eram em sua maioria apenas jovens em busca de aventuras.
Dito isso devo dizer que também existem problemas em "Star Wars: O Despertar da Força". A impressão que tive em todo o desenrolar da trama foi que J.J. Abrams ficou tão obcecado com a trilogia original que esqueceu de trazer coisas novas para esse novo episódio. Na verdade se formos prestar bem a atenção veremos que esse roteiro não passa de um genérico dos roteiros de "Guerra Nas Estrelas" de 1977 e "O Império Contra-Ataca" de 1980. As semelhanças chegam a incomodar. Além do vilão ser uma espécie de imitação barata de Darth Vader, a própria personagem central, Rey, é na verdade uma versão moderna e feminina do Luke dos primeiros filmes. Até nos figurinos isso fica bem claro. Ela tem uma origem humilde (vive de retirar peças velhas de naves destruídas no meio do deserto) e não parece ter um destino promissor pela frente. Tudo muda quando encontra por acaso um pequeno droide que muda sua vida para sempre (em linhas gerais isso é basicamente o que acontece com Luke Skywalker no primeiro filme). Além disso embora o roteiro não deixe muito claro, fica meio óbvio que ela provavelmente seja a filha do próprio Luke. A força se faz presente nela da mesma maneira que fazia em seu pai. Ou seja, a estrutura do roteiro é praticamente a mesma do primeiro filme da franquia, quase sem mudanças.
Voltando ao vilão Kylo Ren (Adam Driver), ele não conseguiu me empolgar em nenhum momento. Fraco, indeciso e nada assustador, ele usa uma máscara genérica que nos remete ao velho Vader, esse sim um personagem que marcou para sempre. Ele é filho de Leia e Han Solo ou seja neto de Anakin Skywalker, mas não pense que tem a força de seu avô. Passa bem longe disso. Nem na cena crucial do filme, quando mata o próprio pai Han Solo, isso parece fazer alguma diferença. Outro fato que prova que o roteiro é muito derivativo de "Guerra nas Estrelas" de 77 é a própria existência de um planeta artificial com poderes de destruição de outros planetas (uma versão turbinada da Estrela da Morte). Será que os roteiristas não tinham mais nada de original para criar? Ficou uma sensação no ar de falta de novas ideias. O sentimento de Déjà vu se tornou inevitável. Mesmo assim, sendo excessivamente derivativo dos primeiros filmes, não podemos negar que o filme é muito divertido, referencial no bom sentido também (nos fazendo trazer uma sensação boa de nostalgia) e sem situações embaraçosas ou constrangedoras (como a presença de um Jar Jar Binks pelo meio do caminho para nos deixar com vergonha alheia). J.J. Abrams fez um belo trabalho e se pecou foi por ser fiel demais às origens de "Star Wars", algo que ele facilmente poderá superar nos futuros filmes. Em termos de comparação poderia dizer que o filme no final das contas fica em um plano intermediário dentro da saga. Consegue ser superior a todos os filmes da segunda trilogia (que não deixou saudades em ninguém), porém não consegue superar nenhum da trilogia original (nem mesmo "O Retorno de Jedi"). Mesmo assim é daqueles filmes que você não pode deixar de assistir no cinema. É um bom retorno de "Star Wars", acima de tudo.
Star Wars: O Despertar da Força (Star Wars: The Force Awakens, EUA, 2015) Direção: J.J. Abrams / Roteiro: Lawrence Kasdan, J.J. Abrams / Elenco: Daisy Ridley, Harrison Ford, Mark Hamill, Carrie Fisher, Adam Driver, Andy Serkis, Anthony Daniels, Max von Sydow, John Boyega, Oscar Isaac / Sinopse: A Primeira Ordem e a Resistência Rebelde disputam um importante mapa que mostraria a exata localização onde estaria o último cavaleiro Jedi vivo, o lendário Luke Skywalker (Mark Hamill). Ele teria desaparecido após tentar treinar um novo cavaleiro Jedi, seu próprio sobrinho, e falhado em seus objetivos pois o rapaz teria sido seduzido pelo lado negro da força tal como seu avô, Anakin Skywalker. Sua localização é colocada como arquivo em um pequeno dróide que vai parar em um distante, isolado e deserto planeta onde acaba indo parar nas mãos da jovem Rey (Daisy Ridley) dando origem a uma grande aventura espacial.
Pablo Aluísio.