William Holden foi um dos mais populares atores da chamada Era de Ouro de Hollywood. Elegante, charmoso, ele se enquadrava muito bem no tipo galã de filmes românticos da época. Era o sonho de muitas mulheres que suspiravam ao vê-lo nas telas dos cinemas mundo afora! Mesmo sendo um dos astros mais famosos dos grandes romances em celuloide ele conseguiu atuar nos mais diversos gêneros, sempre sendo muito bem sucedido. O auge de sua carreira aconteceu com o clássico eterno “Crepúsculo dos Deuses” onde interpretou um roteirista desempregado que casualmente iria parar numa mansão decadente de uma diva do cinema mudo. Vivendo de glórias passadas ela ainda se imaginava uma estrela no céu de Hollywood.
O curioso é que muitas vezes a vida imita a arte. A ironia do destino viria na própria vida de William Holden, que estrelou esse grande filme. Ele era considerado um bom profissional, amigo e correto em suas relações com diretores, colegas atores e produtores. Porém até os mitos eternos de Hollywood passam por grandes problemas em suas vidas pessoais, tais como os meros mortais que vão ao trabalho todos os dias. O grande drama de Holden veio com o álcool. Nas festas nos tempos áureos do cinema americano não havia limites para as bebidas. Tudo do bom e do melhor era colocado à disposição dos convidados. Holden não foi sempre um alcoólatra. Inicialmente bebia socialmente, dentro do padrão dos demais profissionais da indústria do cinema. Aliás participar de grandes festas era um pré-requisito para conhecer donos de estúdios e produtores importantes e assim ser escalado para o elenco de alguma produção em andamento. Para isso o aspirante a ator tinha que se mostrar social e agradável e beber fazia parte desse jogo.
Foi durante um desses eventos festivos que Holden se tornou amigo da estrela Barbara Stanwyck. Ela simpatizou muito com o jeito daquele jovem de Illinois e o escalou para o filme “Conflito de Duas Almas” de 1939. Seu estilo viril e masculino logo chamou a atenção do público feminino e Holden começou a ser escalado para grandes papéis de galãs em filmes no mesmo estilo. A partir de dado momento sua popularidade estourou e ele se tornou um verdadeiro astro. Na década de 40 ele estrelou filmes dos mais diversos estilos, que iam dos dramas, romances, filmes de guerra, até os faroestes da MGM. Seu nome era chamariz de público e nessa ótima fase de sua carreira não estrelou nenhum filme que não fosse um belo sucesso de bilheteria. Em todos eles se destacava pela bela voz e excelente presença de cena. Em 1950 realizou seu grande filme, “Crepúsculo dos Deuses” e três anos depois venceu o Oscar de Melhor Ator por Inferno 17. Era o seu auge definitivo. William Holden estava no topo do mundo!
Depois da consagração da Academia o ator continuou a participar de uma sucessão de sucessos românticos como “Férias do Amor”, onde bailava graciosamente com Kim Novak, e “Suplício de uma Saudade”, um dos filmes de amor mais famosos da história do cinema americano. O problema é que galãs geralmente possuem prazo de validade e no começo da década de 1960 a carreira de William Holden começou a declinar, como era natural acontecer.
Foi justamente nessa época que começou a beber de forma descontrolada. Passava semanas embriagado, muitas vezes caído pelo chão em sua fina e elegante mansão em Beverly Hills. Para manter o alto padrão de vida começou a aceitar qualquer papel que lhe oferecessem. Isso acabou abalando seu prestígio. Já amanhecia bebendo, geralmente um grande copo de whisky sem gelo e não parava mais durante todo o dia. Sua vida sentimental também se tornou caótica. Ele se casou várias vezes, e se apaixonou perdidamente por uma exótica atriz francesa que não parecia gostar verdadeiramente dele. A desilusão amorosa agravava ainda mais seu alcoolismo pois para esquecer as decepções no campo sentimental bebia cada vez mais. Para piorar começou a ser esquecido para as grandes festas justamente por causa de seu alcoolismo. Afinal ninguém queria expulsar um astro de Hollywood decadente por ele estar completamente bêbado. Sem ir nas festas certas começou a ser esquecido por produtores e diretores de elenco.
Seu último grande filme foi “Rede de Intrigas”, um oásis no meio das produções medíocres que vinha estrelando. Suas bebedeiras em Hollywood se tornaram homéricas e por causa delas sua aparência começou a alarmar seus amigos mais próximos – geralmente surgia envelhecido demais, em péssimo estado aparentando ter mais idade do que realmente tinha. O velho galã que arrancava suspiros das moças das décadas de 40 e 50, surgia abatido, cansado, sem energia.
A fonte de todos os seus problemas era o alcoolismo sem controle. Parecia que Holden havia incorporado de forma definitiva seu personagem playboy e irresponsável do clássico “Sabrina” da década de 50. Comprou uma grande propriedade na África e passava meses por lá, caçando e se embriagando em eventos decadentes e espalhafatosos.
Um dia a festa tinha realmente que acabar e acabou para William Holden de uma forma nada condizente com seu passado glorioso. Ele havia comprado um apartamento em Santa Mônica, onde geralmente tomava seus porres de forma solitária e isolada. Hostilizado sempre que ficava bêbado demais ele começou a beber sozinho e às escondidas das pessoas mais próximas. Havia se cansado das lições de moral e dos conselhos para parar de beber. Ele queria beber até não agüentar mais, em paz, sem ninguém por perto lhe perturbando ou lhe chamando a atenção pelo seu estado lamentável. Ele costumava brincar dizendo que era um bebum convicto!
Foi justamente nesse apartamento, até modesto para um grande astro do cinema como ele, que aconteceu a fatalidade. Holden passou dias em bebedeira descontrolada. Após mais um dia de muitos abusos ele foi caminhar da sala para a cozinha mas embriagado demais se desequilibrou e bateu com a cabeça de forma violenta numa grande e dura mesa de mármore da sala de jantar! A pancada foi tão forte que teve morte instantânea. O pior é que Holden havia se afastado de todas as pessoas próximas a ele e por isso ninguém mais sentia sua falta em suas longas ausências etílicas. Ele só foi encontrado mesmo porque os vizinhos alarmados com o mau cheiro vindo de seu apartamento, chamaram a polícia. Quando os policiais entraram finalmente no imóvel encontraram Holden caído no chão já em avançado estado de decomposição. Era novembro de 1981 e William Holden, um dos grandes atores da era clássica de Hollywood estava morto. Havia perdido a luta contra a bebida. Tinha apenas 63 anos, uma idade bem abaixo da expectativa de vida média do homem americano. Terminava assim um drama da vida real, algo tão triste e melancólico quanto o fim de seu personagem que interpretou no inesquecível “Crepúsculo dos Deuses”. Infelizmente até as estrelas caem do céu um dia.
Pablo Aluísio.