segunda-feira, 19 de novembro de 2012

O Império Contra Ataca

Considerado até hoje o melhor filme da franquia Star Wars, O Império Contra Ataca segue sendo reverenciado como a melhor aventura desse universo. Qual foi o segredo de seu sucesso de público e crítica? De fato são vários fatores que fizeram o filme ter esse status especial. Primeiro de tudo temos aqui o melhor roteiro já escrito, onde os personagens da primeira produção são desenvolvidos com profundidade, mostrando aspectos de suas vidas e personalidades que ficaram ausentes do filme anterior, que obviamente priorizava mais a ação e a aventura. Além disso os efeitos especiais são bem mais trabalhados, fruto do avanço técnico alcançado pelos especialistas da empresa de George Lucas. Some-se a isso ainda a bela direção de Irvin Kershner, um veterano que trouxe toda a sua experiência para a saga. Aliás é bom que se diga que apesar de ser um dos grandes criadores do cinema no século XX, George Lucas nunca foi um bom diretor. O problema é que ele definitivamente nunca aprendeu a dirigir bem seu elenco em cena, assim foi muito inteligente de sua parte ficar nos bastidores, na produção, entregando essa função para Irvin Kershner. A diferença se nota em cada cena, em cada atuação. Os atores estão mais focados, mais coesos. Uma pena que Lucas não tenha aprendido a lição, repetindo todos os seus erros nos três filmes mais recentes de Star Wars (todos medonhos nesse aspecto).

A Fox, depois do sucesso espetacular do primeiro Star Wars, também investiu tudo o que tinha de melhor na realização de O Império Contra Ataca. Se nas filmagens do original tudo soava como descrédito e sobras de produção, aqui tudo do bom e do melhor foi colocado à disposição de Lucas e seus atores. Alguns dos personagens mais cativantes da série, como o Mestre Jedi Yoda também surgiram pela primeira vez aqui. A linha narrativa segue em várias frentes, evoluindo em estórias de certo modo independentes ao longo do filme, o que deixou o espectador praticamente sem fôlego. No final tudo se une em um dos momentos mais climáticos de todos os filmes envolvendo o herói Luke Skywalker (Mark Hamil) e o vilão Darth Vader (David Prowse). Obviamente que passados tantos anos todos já sabem do que estou falando mas evitarei dar esse spoiler para quem ainda não viu a saga original. Por fim quero registrar que preferi usar o nome do filme em que assisti na época sem essa bobagem de classificação que Lucas inventou após o lançamento da nova trilogia. Nunca vi esse filme como Episodio V e nunca irei me acostumar com esse tipo de coisa. A obra de arte tem que ser respeitada tal como foi lançada. Modificar tudo após tantos anos é equivocado. Outro absurdo foi o fato de Lucas ter inserido várias cenas digitais na produção após tantos anos. Além de tirar o charme dos efeitos especiais originais, ainda o desfigura como obra cinematográfica pronta e acabada. Dito isso aconselho aos novatos que procurem pelo filme tal como foi lançado no começo da década de 80 e esqueçam as várias "edições especiais" lançadas por Lucas pois são verdadeiros retalhos em celulóide desprovidos de alma e carisma.

O Império Contra Ataca (The Empire Strikes Back, Estados Unidos, 1980) Direção: Irvin Kershner / Roteiro: Leigh Brackett, Lawrence Kasdan, George Lucas / Elenco: Mark Hamill, Harrison Ford, Carrie Fisher, David Prowse, Billy Dee Williams, Anthony Daniels, Frank Oz. / Sinopse: A luta entre as forças rebeldes e o Império continua. Para se tornar um cavaleiro Jedi, Luke Skywalker (Mark Hamil) vai até o distante planeta Dagobah conhecer o mestre Jedi Yoda (Frank Oz). Enquanto isso Darth Vader (David Prowse) consegue infringir duros golpes entre a resistência rebelde, aprisionando Han Solo (Harrison Ford) e Chewbacca (Peter Mayhew). Já a Princesa Léia (Carrie Fisher) acaba caindo nas garras de Jabba, The Hutt.

Pablo Aluísio.

Os Embalos de Sábado à Noite

Existem alguns filmes que acabam virando símbolo de toda uma década. Os Embalos de Sábado à Noite é um desses filmes. O período histórico retratado é a década de 70, no auge da discoteca. Para quem não se recorda ou não viveu, a Discoteca foi aquele período musical em que as músicas deixaram de ter qualquer conotação política ou social para virarem simples diversão, embalo, dança! Obviamente que tudo vai soar datado hoje em dia: as roupas, as danças e as músicas mas isso é apenas um charme a mais para quem for assistir ao filme atualmente. Duas características são bem marcantes aqui: a trilha sonora do Bee Gees, que fez um sucesso estrondoso jamais repetido pelo grupo em qualquer um de seus trabalhos futuros e o carisma de John Travolta, muito jovem, cheio de maneirismos típicos dos jovens daquela época. De fato esse foi o filme de sua virada na carreira. Ele já tinha aparecido em outros sucessos como Carrie A Estranha e até mesmo em um telefilme famoso chamado O Menino da Bolha de Plástico, mas estava longe de ser um astro. Foi justamente Os Embalos de Sábado à Noite que o transformou em um ator do primeiro time em Hollywood.

O roteiro procura criar uma crônica sobre a vida de um jovem tentando se divertir na metrópole nesses anos do Disco. De dia ele intercala uma série de subempregos para sobreviver, nenhum deles promissor. Sua vida é dura e cheia de dificuldades. Durante a semana  Tony Manero (John Travolta) dá um duro danado na vida mas quando vai chegando o fim de semana ele vai renascendo pois sabe que poderá arrasar nas pistas de dança da cidade. O dinheiro que ganha de forma suada nos dias de trabalho são investidos em roupas maneiras para impressionar no sábado á noite. É curioso que o roteiro do filme tenha sido escrito a partir de um artigo publicado na revista Time intitulado "Tribal Rites of the New Saturday Night" que tentava entender a geração jovem que amava a Discoteca. Eles não tinham qualquer ideologia ou inclinação política ou social, nada disso os interessavam, estavam bem longe da geração consciente da década de 60. Os jovens dos anos 70 só queriam mesmo se divertir, dançar, namorar e aproveitar a vida até o dia raiar.  E é justamente isso que o filme se propõe. Os Embalos de Sábado à Noite é assim um belo retrato daqueles dias dançantes. Definitivamente um musical que marcou época.

Os Embalos de Sábado à Noite (Saturday Night Fever, Estados Unidos, 1977) Direção: John Badham / Roteiro:  Norman Wexler baseado no artigo "Tribal Rites of the New Saturday Night" de Nik Cohn / Elenco: John Travolta, Karen Lynn Gorney, Barry Miller,  Joseph Cali / Sinopse: A vida de Tony Manero (John Travolta) não é nada fácil. Durante a semana se vira como pode em subempregos para ajudar sua família. No fim de semana porém se diverte como nunca nas pistas de discoteca por toda a cidade. Um dançarino talentoso que logo chama a atenção de todos.

Pablo Aluísio.

domingo, 18 de novembro de 2012

Ed Wood

Alguns filmes soam como maravilhosas declarações de amor ao cinema. Um dos mais famosos nesse sentido é Ed Wood, uma homenagem a todos que amam a sétima arte. Ao contar a história do diretor Ed Wood (1924 - 1978) o cineasta Tim Burton realizou sua mais sincera ode à arte que todos adoramos. Ed Wood era realmente um sujeito sem o menor talento para dirigir qualquer coisa mas sua paixão pelo cinema, seu entusiasmo absoluto pelos filmes que realizava e sua visão pessoal de que era um grande filmmaker fez toda a diferença do mundo no final das contas. Atualmente considerado o "pior diretor de todos os tempos" (um título mais carinhoso do que aparenta ser) Wood acabou criando com sua filmografia uma legião de fãs que o idolatram justamente por isso, por ser ruim demais, ruim a um ponto de acabar se tornando bom, por mais absurdo que isso possa parecer. Tim Burton nesse que é um de seus momentos mais felizes na carreira acertou em cheio ao resolver contar a curiosa história de Ed e o resultado é realmente excelente. Além de ter dirigido verdadeiras pérolas, Wood ainda chamava atenção por sua personalidade um tanto diferente. Só para citar um exemplo ele adorava se vestir de mulher, fato que deu origem a uma de suas "obras primas", o estranho, para dizer o mínimo, "Glen or Glenda". De fato o sujeito não era nada comum.

Outro aspecto que chama atenção no filme é a presença do ator Bela Lugosi na trama. De fato no final da vida, pobre, abandonado e viciado em drogas, o grande ator do passado estava arruinado completamente, tanto na vida como na carreira. Foi nesse momento que Ed Wood resolveu lhe ajudar, o escalando para uma série de fitas de terror trash que trouxe ao velho Lugosi um mínimo de dignidade que ainda lhe restava. Esse ponto do enredo é dos mais humanos que já vi em filmes recentes. Burton lida com carinho seu personagem, dando a Martin Landau (que interpreta Lugosi no filme) o papel de sua vida, tanto que foi vencedor do Oscar de Melhor Ator Coadjuvante. Um reconhecimento que em minha opinião premiou não apenas Landau mas também Lugosi pois foi uma forma encontrada pela Academia de homenagear esse grande nome do passado que morreu esquecido e abandonado, infelizmente. Outra sábia decisão de Burton foi filmar tudo em uma linda fotografia preto e branco. O clima  de algo antigo nos remete de forma imediata aos grandes anos do cinema clássico quando Lugosi era ídolo dos fãs de filmes de suspense e terror. Em suma, Ed Wood é um belo poema de amor ao cinema. Um filme muito lírico que soube como poucos resgatar a "genialidade" de Ed Wood, que sendo o pior diretor de todos os tempos ou não, conseguiu entrar na história do cinema de  uma forma muito especial.

Ed Wood (Ed Wood, Estados Unidos, 1994) Direção: Tim Burton / Roteiro: Scott Alexander, Larry Karaszewski / Elenco: Johnny Depp, Martin Landau, Sarah Jessica Parker, Patricia Arquette, Jeffrey Jones, Vincent D'Onofrio / Sinopse: Ed Wood (Johnny Depp), um diretor obtuso, resolve reunir um grupo de estranhos atores e um veterano consagrado mas decadente para filmar uma nova obra prima que em sua opinião vai revolucionar para sempre a sétima arte!

Pablo Aluísio.

Batman: Ano Um

Já tive a oportunidade de chamar a atenção dos leitores sobre uma série de animações que a DC Comics e a Warner tem lançado ultimamente no mercado de venda direta ao consumidor. Esse Batman: Ano Um é outro exemplo de bom produto, com excelente nível técnico aliado a uma boa estória que prende a atenção. Como sugere o título, aqui acompanhamos o primeiro ano de atividades do novo herói, chamado pela imprensa de Gotham City de Batman, o Homem-Morcego. Na verdade se trata do milionário Bruce Wayne (Ben McKenzie) que traumatizado pela morte de suas pais resolve ganhar as ruas, varrendo a criminalidade dos becos mais escuros da cidade. Em outra linha narrativa vemos a chegada de um novo policial na cidade, um promissor tenente chamado Jim Gordon (Bryan Cranston). Ético e honesto, recém-casado, ele logo enfrentará muitos problemas pelo nível de corrupção que está mergulhada a polícia de Gotham. Os caminhos desses dois personagens não tardarão a se cruzarem.

A animação segue o estilo tradicional, procurando de certo modo recriar a direção de arte dos primeiros quadrinhos de Batman (o uniforme do herói, por exemplo, é bem fiel ao que conhecemos dos primeiros gibis do personagem nos EUA). Foi essa inclusive a intenção da Graphic Novel de Frank Miller e David Mazzucchelli, que deu origem a essa animação. Curiosamenmte o roteiro trabalha bastante a figura de Jim Gordon (futuro comissário Gordon). Sua vida pessoal é mostrada em detalhes, os problemas com a esposa, seu filho recém nascido e até uma pequena falha de caráter do personagem, que apesar de toda a ética profissional acaba se envolvendo em um caso extraconjugal com uma colega de trabalho. O clima é soturno, pessimista e dentro das possibilidades também realista. O vilão é materializado na rede de corrupção da própria polícia. A Mulher-Gato também surge mas sem grande atuação dentro da trama. Coringa também é citado, mas não chega a surgir na aventura. Enfim, Batman: Ano Um é um ótimo programa para os fãs do herói que o conhecem mais pelos filmes de cinema. Que tal ver Batman na forma da qual foi concebido? Você não irá se arrepender.

Batman: Ano Um  (Batman: Year One. Estados Unidos, 2011) Direção: Sam Liu, Lauren Montgomery / Roteiro: Tab Murphy, Frank Miller, David Mazzucchelli, baseados na obra de Bob Kane / Elenco: Bryan Cranston, Ben McKenzie, Eliza Dushku / Sinopse: Após ter seus pais mortos por um criminoso, o herdeiro milionário Bruce Wayne resolve assumir  uma nova identidade, Batman. Ao mesmo tempo um jovem policial chamado Jim Gordon chega para trabalhar na polícia de Gotham City, uma corporação completamente corroída pela corrupção e pelo crime.

Pablo Aluísio.

sábado, 17 de novembro de 2012

Gladiador

Em 1994 Steven Spielberg se uniu a David Geffen e Jeffrey Katzenberg para fundar um novo estúdio em Hollywood chamado Dreamworks. Era o sonho do diretor em ter seu próprio estúdio de cinema. Depois de muitos fracassos e erros a Dreamworks, praticamente falida, foi vendida para a Paramount. Olhando para trás o grande momento dessa empresa aconteceu mesmo com esse Gladiador que foi sucesso de público e crítica, tendo sido premiado com os Oscars de Melhor Ator (Russel Crowe), Figurino, Efeitos Visuais, Melhor Filme, Som e foi indicado aos de Ator Coadjuvante (Joaquin Phoenix), Direção de Arte, Fotografia, Direção (Ridley Scott), Edição, Trilha Sonora e Roteiro Original. Como se vê a Academia se rendeu mesmo à produção. Na realidade Gladiador representou mesmo uma tentativa de se voltar aos anos de ouro do cinema americano onde os filmes não eram apenas peças de marketing, mas cinema espetáculo, produções milionárias que tinham como objetivo causar comoção no público, disponibilizar uma experiência única ao espectador que se sentia na própria antiguidade, revivendo os grandes momentos da história. O filme referência desse Gladiador é obviamente Ben-Hur, o épico recordista de Oscars que até hoje em dia é sinônimo de grandeza nas telas. Outro filme no qual Ridley Scott procurou se inspirar foi em "A Queda do Império Romano", que inclusive se passa na mesma época da história Romana que esse Gladiador.

Como não poderia deixar de ser a produção do filme é de encher os olhos. Muito do que se vê nas telas foi recriado digitalmente, perdendo de certa forma o impacto que os antigos filmes tinham pois todos os cenários eram realmente construídos. Mesmo assim tudo é de certa forma tão bem feito, tão bem realizado, que não podemos ignorar o impacto do filme ao se assistir. A trilha sonora também soa evocativa aos grandes épicos do passado. Ridley Scott deixa certos maneirismos irritantes de sua filmografia e se concentra em contar da melhor forma possível a estória do general romano Maximus (Russell Crowe) que após a morte do Imperador Marcus Aurelius (Richard Harris) cai em desgraça pois o novo Imperador, Commodus (Joaquin Phoenix), o vê como um inimigo na sua sucessão. Após muitas reviravoltas ele acaba indo parar nas grandes arenas de gladiadores. A sua luta agora se trava nessas areias onde tentará sobreviver a cada combate mortal. O filme havia sido escrito especialmente para Mel Gibson que declinou do convite por se achar fora da idade ideal para interpretar um gladiador. Melhor para Russell Crowe que a partir dessa produção virou astro de primeira grandeza. Uma pena que o sucesso de Gladiador não tenha salvado a Dreamworks da falência anos depois. De qualquer modo ficou como símbolo do que de melhor o estúdio de Spielberg conseguiu realizar. Uma volta corajosa aos grandes épicos do passado.

Gladiador (Gladiator, Estados Unidos, 2000) Direção: Ridley Scott / Roteiro: David H. Franzoni, John Logal, William Nicholson / Elenco: Russell Crowe, Joaquin Phoenix, Oliver Reed, Richard Harris, Derek Jacobi, Connie Nielsen./ Sinopse: Gladiador conta a estória do general romano Maximus (Russell Crowe) que após a morte do Imperador Marcus Aurelius (Richard Harris) cai em desgraça pois o novo Imperador, Commodus (Joaquin Phoenix), o vê como um inimigo na sua sucessão.Após muitas reviravoltas ele se vê nas areias das grandes arenas de gladiadores. A sua luta agora se trava nesse espaço, onde tentará sobreviver a cada combate mortal.

Pablo Aluísio.

sexta-feira, 16 de novembro de 2012

Pulp Fiction

O termo "Pulp Fiction" era usado para designar um tipo de publicação que se tornou muito popular nos EUA nas décadas de 50 e 60. Era uma linha de livros de bolsos com estórias cheias de violência, sexo e ação que logo caiu no gosto do grande público, principalmente entre jovens. E foi um desses garotos chamado Quentin Tarantino que resolveu homenagear esse tipo de literatura na década de 90 com esse filme, que muito provavelmente é o seu melhor momento no cinema. Unindo as características daquele tipo de texto com uma linha narrativa ousada e inovadora no cinema, Tarantino começou uma nova era dos filmes de ação de Hollywood. Obviamente que a violência extrema e irracional está lá em doses generosas, assim como as cenas absurdas, uma atrás da outra, mas pontuando tudo isso o espectador é bombardeado com uma sequência de diálogos espertos e bem escritos com referências mil à cultura pop, fruto obviamente da cultura nerd que Tarantino acumulou durante anos e anos. O resultado é realmente de impacto, pois o filme soa completamente original, diferente de tudo o que já havia sido lançado antes. De certo modo foi o filme certo, na hora exata, para o público ideal. A Academia, tão conservadora, se rendeu a esse texto extremamente criativo e inovador e premiou Tarantino com o Oscar de Melhor Roteiro Original. Um feito e tanto para alguém que naquele momento não passava de um cineasta em começo de carreira.

A trama é básica: dois assassinos profissionais, Vincent Vega (John Travolta) e Jules Winnfield (Samuel L. Jackson), são contratados para realizar cobranças para um grande criminoso do submundo. Durante seus "serviços" enfrentam todos os tipos de imprevistos e problemas. Enquanto tentam executar as ordens que lhes foram dadas vão discutindo sobre a vida e o mundo. O pior acontece quando são designados para cuidar da esposa de seu chefe, a piradinha Mia Wallace (Uma Thurman), que parece mais interessada em se divertir até o fim. Numa segunda linha narrativa acompanhamos um momento decisivo da vida do lutador  Butch Coolidge (Bruce Willis) que procura por redenção em sua carreira e em sua vida. Além da ótima direção de Tarantino o filme tem um excelente timing - com destaque para as cenas entre John Travolta e Samul L. Jackson, que aqui consolida o tipo de personagem que iria repetir durante toda a sua carreira. Para Travolta foi um renascimento pois sua carreira foi marcada por altos e baixos, sendo que Pulp Fiction lhe deu uma enorme sobrevida em Hollywood. Outro aspecto do filme digno de nota é sua trilha sonora inspirada, cheia de canções obscuras que foram resgatadas por Tarantino, dando uma personalidade sonora ao filme que até hoje lhe soa como verdadeira marca registrada. Em suma, Pulp Fiction é uma obra prima Tarantinesca, com tudo de bom e ruim que isso significa. Não deixe de assistir. 

Pulp Fiction (Pulp Fiction, Estados Unidos, 1994) Direção: Quentin Tarantino / Roteiro: Quentin Tarantino, Roger Avary / Elenco: John Travolta, Samuel L. Jackson, Uma Thurman, Bruce Willis, Tim Roth, Harvey Keitel, Amanda Plummer, Ving Rhames, Eric Stoltz, Maria de Medeiros, Christopher Walken, Rosanna Arquette. / Sinopse: Dois assassinos profissionais passam por maus bocados enquanto tentam executar suas últimas ordens. Enquanto isso um lutador fracassado procura por algum tipo de redenção em sua carreira e em sua vida.

Pablo Aluísio.

quarta-feira, 14 de novembro de 2012

A Paixão de Cristo

Jesus Cristo viveu em uma época brutal. Sua nação era dominada por um Império que punia com ferro e fogo qualquer mínimo sinal de rebelião. As penas eram duras e desumanas e os castigos aos que desobedeciam a lei romana eram simplesmente esmagadores. Mesmo vivendo em uma época tão sangrenta e monstruosa esse homem simples e humilde de Nazaré ousou pregar uma mensagem de paz e esperança para a humanidade. O que mais admiro em Jesus é justamente a base de sua filosofia de vida, tão simples e tão poderosa ao mesmo tempo, fundada no amor ao próximo e no respeito pela dignidade humana. Fundador da maior religião do planeta Jesus segue sendo tema de livros, teses e filmes que tentam captar um pouco de sua extraordinária personalidade. Desde a era do cinema mudo Jesus tem sido enfocado em inúmeras produções. Algumas se tornaram ícones, outras são superficiais. "A Paixão de Cristo" de Mel Gibson tentou ser a mais realista de todas. Algumas opções do diretor para alcançar esse objetivo são bem louváveis, como o uso do idioma que Jesus falava, o Aramaico, uma língua morta em nossos dias. Já outras opções artísticas soaram mais polêmicas como o uso sem pudores da violência que foi usada em Jesus pelos soldados de Roma.

Algumas pessoas inclusive passaram mal quando o filme foi lançado. As torturas e os atos violentos são mostrados nos menores detalhes, sem medo. Segundo Gibson a opção por mostrar Jesus sendo martirizado foi justamente para valorar ainda mais o sacrifício dele para salvar a humanidade. Outro ponto que foi muito discutido (e segue sendo discutido até hoje) é o grau de culpa que se pode atribuir aos líderes religiosos judeus na morte de Cristo. Teriam sido eles os verdadeiros responsáveis pela morte do Messias? Para muitos Gibson jogou a culpa pela condenação do Cristo nos ombros dos sacerdotes do Templo de Jerusalém, que não admitiram o que Jesus fez quando expulsou os mercadores do solo sagrado. Gibson rebateu as acusações afirmando que simplesmente seguiu o que está escrito no novo testamento cristão. Depois da troca de farpas entre Gibson e a comunidade judaica americana ele foi praticamente banido dos grandes estúdios (o capital judeu controla de certa forma a indústria cultural americana, inclusive os grandes estúdios de cinema em Hollywood). Não vou entrar no mérito dessa questão. Tudo o que posso dizer é que "A Paixão de Cristo" é certamente um filme muito marcante, muito emocional. Deixando de lado o aspecto mais religioso o que podemos dizer é que Jesus Cristo, por sua grandeza, por sua importância na história da humanidade, segue sendo um dos maiores mistérios de todos os tempos. "A Paixão de Cristo" certamente não desvenda esse mistério, seria simplesmente impossível uma obra cinematográfica fazer isso, mas pelo menos consegue jogar um pouco de luz sobre esse homem que viveu há dois séculos mas que ainda consegue despertar paixão e fé como se ainda vivesse fisicamente entre nós.

A Paixão de Cristo (The Passion Of The Christ, Estados Unidos, 2004) Direção: Mel Gibson / Roteiro: Benedict Fitzgerald, Mel Gibson / Elenco: Jim Caviezel, Maia Morgenstern, Monica Bellucci, Francesco Cabras, Rosalinda Celentano / Sinopse: O filme narra os últimos momentos de vida de Jesus de Nazaré, líder religioso do século I que é preso após expulsar os mercadores do Templo de Jerusalém. Condenado, ele é crucificado no calvário, não sem antes sofrer todos os tipos de violência possíveis.

Pablo Aluísio.

Damages

Damages é a melhor série jurídica nos últimos anos. Com roteiros extremamente bem escritos e linhas narrativas ousadas considero esse um dos melhores momentos da TV americana, talvez sofisticado até demais para o público daquele país. "Damages" surgiu em 2007 e até agora já conta com cinco temporadas totalizando 59 episódios. A proposta é ousada: mostrar o dia a dia da bem sucedida advogada de Nova Iorque Patty Hewes (Glenn Close). Dona de um dos grandes escritórios da cidade ela contrata a jovem Ellen Parsons (Rose Byrne) como sua assistente. Recém saída da faculdade Ellen terá grandes surpresas na vida prática do mundo do direito e das leis. Damages é recomendada para todos os públicos mas para quem atua na área jurídica é particularmente saborosa. Como advogado me identifiquei completamente com os dramas, anseios e conflitos mostrados nas temporadas. Quem já se envolveu em um processo judicial sabe muito bem como essa pode ser uma experiência de vida inigualável em nossas vidas. Nos tribunais desfilam dramas de vida que modificam o modo de ser e de pensar de todos os envolvidos, sejam leigos ou profissionais como advogados, juízes e promotores.

Damages é particularmente inspirada nesse aspecto pois mostra sem receios que no mundo das leis podemos encontrar tanto enorme satisfação ao ver a justiça sendo realizada como também a frustração ao presenciar a mais absoluta injustiça sendo implantada. A melhor temporada sem dúvida foi a primeira, ousada e intrigante, mostrou de forma clara o enorme talento de Glenn Close. Sua carreira vinha em controle remoto no cinema e sua transposição para a televisão foi um achado pois ela é simplesmente brilhante e não deve ser limitada por filmes de segunda categoria. Rose Byrne, que conheci primeiramente aqui em Damages, também é excepcional. Sua Ellen Parsons é o contraponto ideal à personagem de Close. Um grande duelo de grandes atuações. Como já afirmei sempre achei Damages extremamente sofisticada e por essa razão a série sofreu problemas de audiência nos EUA, saindo de seu canal de origem para ser produzida pelo sistema DirectTV daquele país. Por essa razão não é tão fácil acompanhá-la mas o esforço certamente valerá a pena. Damages é visceral, impactante e marcante. Simplesmente não há como deixar de assistir.

Damages (Damages, Estados Unidos, 2007 - 2012) Criada por Glenn Kessler, Todd A. Kessler, Daniel Zelman / Direção: Glenn Kessler, Todd A. Kessler, entre outros / Roteiro: Glenn Kessler, Todd A. Kessler, Daniel Zelman entre outros / Elenco: Glenn Close, Rose Byrne, Tate Donovan, Ted Danson, Timothy Olyphant, William Hurt, John Goodman, Ryan Phillippe, Lily Tomlin / Sinopse: Damages mostra a vida da advogada Patty Hewes (Glenn Close), especializada em enfrentar grandes corporações e empresas nos Tribunais de Nova Iorque.

Pablo Aluísio.

Possessão

"Possessão" é a nova produção de Sam Raimi. Depois que deixou a franquia Homem-Aranha ele tem produzido alguns filmes interessantes. A premissa desse aqui lembra um pouco antigos episódios da série "Além da  Imaginação". Tudo gira em torno de uma antiga caixa. Ela é comprada por uma garotinha chamada Emily (Natasha Calis) e levada para casa. O que ela nem desconfia é que o objeto é um instrumento religioso judeu usado no passado para aprisionar espíritos malignos conhecidos como Dybbuks. Depois que abre a caixa começa a desenvolver um estranho comportamento que lembra e muito o que vimos no famoso "O Exorcista". Desesperado seu pai procura ajuda na sinagoga local onde conhece um jovem rabino, conhecido como Tzado (interpretado pelo cantor de reggae Matisyahu). Depois de um começo até promissor o filme cai na vala comum desse tipo de produção: cenas de exorcismos e muita luta para expulsar o ser maligno do corpo da garotinha. Os produtores informam que tudo é baseado em fatos reais, coisa bem complicada de se acreditar.

Há pouco tempo comentei que filmes sobre exorcismos estavam rendendo boas bilheterias e que por isso teríamos uma nova safra desse sub-gênero. "Possessão" segue essa linha. O filme até que não é de todo mal. Há uma clara intenção dos realizadores em fazer algo mais realista, apesar do tema. A garotinha possuída, por exemplo, não faz nada de muito absurdo em cena - nada de subir em paredes ou algo do tipo. A única coisa mais fora do normal em cena seriam os momentos em que o Dybbuk começa a se materializar dentro da menina, como que querendo sair de dentro dela (algo que é explorado pelo cartaz da produção). Mas mesmo isso é mais utilizado como uma metáfora da luta pela posse do corpo da jovem. "Possessão" teve uma bilheteria morna em seu lançamento nos EUA e por isso quase não encontra espaço para ser lançado nos cinemas brasileiros. O que o salvou foi o bom desempenho no mercado internacional o que fez a distribuidora finalmente decidir por lançar o filme em nossos cinemas. No saldo geral não é o melhor e nem o pior dessa nova safra de filmes sobre possessões demoníacas. Dá para assistir numa boa, sem aborrecimentos mas também sem maiores surpresas. Se já viu algum filme de possessão em sua vida certamente não encontrará nada de novo aqui.

Possessão (The Possession, Estados Unidos, 2012) Direção: Ole Bornedal / Roteiro: Juliet Snowden, Stiles White / Elenco: Natasha Calis, Jeffrey Dean Morgan, Kyra Sedgwick, Matisyahu / Sinopse: Garotinha é possuída por um antigo espírito maligno da religião judaica. Para recuperar sua filha um pai recorre aos serviços de um jovem rabino que resolve enfrentar o Dybbuk em uma cerimônia de exorcismo.

Pablo Aluísio.

terça-feira, 13 de novembro de 2012

Os Mercenários 2

Com certo atraso finalmente conferi esse "Os Mercenários 2". A premissa é praticamente a mesma do primeiro filme: reunir o maior número possível de ícones do cinema de ação para juntos participarem de uma espécie de celebração ao gênero. Tudo soa como uma grande diversão descompromissada onde detalhes que são importantes para outros filmes (como um roteiro bem escrito, por exemplo) são deixados de lado. Novamente o time é liderado por Sylvester Stallone. Aqui ao lado de seu braço direito (Jason Statham) e demais mercenários (Dolph Lundgren, Jet Li, Liam Hemsworth, etc) ele parte em busca de um dispositivo que contém a localização de uma mina com várias cargas de plutônio. Esse como se sabe é vital para a construção de armas nucleares e caso caia em mãos erradas pode colocar a segurança mundial em risco. O enredo é mera desculpa para uma sucessão de cenas de ação que primam pela pirotecnia e exagero (tal como ocorria nos filmes da década de 80). A boa notícia é que "Os Mercenários 2" flui melhor do que o primeiro filme. Já não existe aquela preocupação em se levar muito à sério. A trama é simplória mas funciona bem dentro de seus modestos propósitos.

O que vale mesmo a pena é rever todos os brucutus símbolos de uma era que já não existe mais. Nesse quesito três participações chamam mais a atenção. A mais divertida é a de Chuck Norris. A cena em que surge no filme é realmente hilariante. Além de uma sátira é também uma homenagem a esse ator que representou como ninguém os exageros dos filmes da década de 80. A própria cena em que aparece é bem bolada nesse sentido uma vez que Norris ficou mesmo conhecido por interpretar personagens que liquidavam sem muito esforço um exército inimigo inteiro praticamente sozinho. Como já fazia um bom tempo que tinha visto algo com ele o achei terrivelmente envelhecido - meio que escondido sob um figurino que tenta disfarçar o fato de ter mais de 70 anos de idade. Outras duas participações interessantes são as de Arnold Schwarzenegger e Bruce Willis. O bordão "I´ll Be Back" volta na boca do austríaco mas ele já o usou tantas vezes ao longo dos anos que já encheu a paciência. Willis segue com seus biquinhos, aqui tentando parecer menos canastrão do que o habitual. O vilão é feito por Jean Claude Van Damme. Achei injusto colocar apenas ele para enfrentar todos aqueles valentões da década de 80 - pareceu um jogo bem desigual! Pior é acreditar que ele apanharia tão feio de Stallone. Enfim, chega de maiores especulações. "Os Mercenários 2" é pipoca pura, diversão sem maiores pretensões. Talvez seja o último da franquia uma vez que não rendeu o esperado. Se for já está de bom tamanho até porque a aposentadoria já soa como uma ótima idéia para todos esses atores veteranos.

Os Mercenários 2 (The Expendables 2, Estados Unidos, 2012) Direção: Simon West / Roteiro: David Agosto, Ken Kaufman / Elenco: Jason Statham, Bruce Willis, Liam Hemsworth, Sylvester Stallone, Arnold Schwarzenegger, Jean-Claude Van Damme, Jet Li, Chuck Norris, Dolph Lundgren, Scott Adkins / Sinopse: Grupo de mercenários tenta recuperar carregamento de plutônio que está prestes a ser vendido para criminosos internacionais. O minério é matéria prima para a construção de armas nucleares.

Pablo Aluísio.

Histeria

Histeria foi uma denominação genérica usada nos séculos XIX e começo do XX que designava o estado em que certas mulheres ficavam por estarem insatisfeitas sexualmente. Nessas condições as mulheres apresentavam certos desvios de comportamento que a ciência médica sem uma definição melhor do que seria simplesmente qualificava como Histeria. Esse é justamente o ponto de partida dessa curiosa produção que tem feito bom desempenho nas bilheterias. Na história (que foi baseada em fatos reais) acompanhamos dois médicos, Robert (Jonathan Pryce) e Mortimer (Hugh Dancy), que tentam encontrar  uma solução ou uma cura para a histeria das mulheres dentro da rígida sociedade britânica. Após vários estudos chegam a um equipamento movido a energia elétrica que promete ser a solução da histeria entre as mulheres. Esse acessório hoje é conhecido popularmente como "vibrador" e é vendido em qualquer sex shop da esquina. O interessante de Histeria é que apesar do tema inusitado (o enredo nada mais é do que a história da invenção do vibrador feminino) consegue mostrar tudo isso com fina discrição e elegância. 

A produção é de classe, os figurinos da época, os costumes da sociedade, os padrões morais reinantes, fruto da era Vitoriana, tudo passeia na tela com o que há de melhor em termos de reconstituição histórica. Talvez toda essa sutileza do filme seja decorrência do fato de ter sido dirigido por uma mulher. A cineasta Tanya Wexler não deixa nunca o filme cair no lugar comum ou na vulgaridade. Até nas cenas mais fortes isso nunca acontece. Apesar do tema ser tão inglês a diretora Tanya é americana, jovem e com poucos filmes no currículo. Mesmo assim em momento algum sentimos qualquer sinal de inexperiência ou falta de rumo na condução da história, pelo contrário, tudo flui com rara sensibilidade. O elenco, pouco conhecido do grande público brasileiro, também não fará diferença. No final o público será presenteado com uma história intrigante, curiosa e até mesmo romântica. O filme está em cartaz em todo o Brasil por isso não perca a chance de conhecer "Histeria", um belo programa que mescla história, curiosidade e romance. 

Histeria (Hysteria, Estados Unidos, Inglaterra, 2012) Direção: Tanya Wexler / Roteiro: Jonah Lisa Dyer, Stephen Dyer / Elenco: Maggie Gyllenhaal, Hugh Dancy, Jonathan Price, Felicity Jones, Rupert Everett, Ashley Jensen, Sheridan Smith / Sinopse: Dois médicos ingleses em busca da cura da chamada Histeria entre as mulheres resolvem criar um aparelho elétrico para combater esse mal e nesse processo acabam inventando o vibrador feminino.

Pablo Aluísio.

segunda-feira, 12 de novembro de 2012

007 Contra GoldenEye

Pierce Brosnan foi um dos melhores atores a interpretar James Bond. Isso ainda não está muito claro na mente das pessoas porque seu reinado na pele do famoso personagem foi bem recente e geralmente só após muitos anos é que o trabalho de um ator que faz Bond é finalmente reconhecido. Mesmo assim, talvez sendo cedo demais, não tenho medo de fazer essa afirmação. Pierce foi um dos que mais se aproximaram do Bond dos livros. De uma forma ou outra todos os demais atores que fizeram Bond apresentavam algum tipo de problema em cena. Sean Connery foi quase perfeito mas não tinha o perfil ideal para o Bond bonitão das páginas de Ian Fleming. Ele sempre estava lutando com problemas de calvície e Bond definitivamente não poderia ser careca. Roger Moore que o sucedeu, era muito fanfarrão, seus filmes quase viraram chanchadas cômicas ao longo dos anos. Timothy Dalton não tinha o carisma suficiente e George Lazenby teve seu tapete puxado cedo demais. Hoje temos Daniel Graig que também não considero o ideal - é carrancudo e sem charme. Não tem finesse e por essa razão seus filmes precisam de ação constante para o público não perceber essa falha. Já Brosnan era elegante, fino, boa pinta e tinha um toque de ironia ideal (sem os exageros de Roger Moore). Por isso não hesito em dizer que ele foi ótimo como James Bond.

Seu primeiro filme foi esse  "007 Contra GoldenEye", uma produção muito equilibrada que tentava revitalizar o famoso espião para o novo público jovem que frequentava as salas de cinema. A franquia vinha com problemas sérios, havia processos para todos os lados - fruto da briga pelos direitos autorais - e uma sensação de que o espião poderia até nunca mais voltar às telas de cinema. Após chegarem a uma conciliação finalmente deram o pontapé inicial para trazer James Bond de volta. Pierce Brosnan era o nome mais natural já que ele deveria ter assumido o posto após a aposentadoria de Roger Moore e só não o fez porque tinha obrigações contratuais com outros projetos que o impediram de fazer "007 Marcado Para a Morte" que foi realizado com Dalton. Na metade da década de 90 finalmente surgiu uma nova oportunidade e dessa vez ele a agarrou com unhas e dentes. O enredo girava em torno de um projeto de satélites chamado GoldenEye que poderia desestabilizar o Reino Unido caso seu controle caísse em mãos erradas. Era um bom argumento, divertido, que agradou ao grande público. O filme teve ótima bilheteria superando os 300 milhões de dólares, provando que Bond ainda era um produto de apelo popular. Brosnan recebeu uma boa cota de elogios e garantiu seu lugar para uma sequência. Nada mal para uma franquia que havia sido declarada morta para a sétima arte.

007 Contra GoldenEye (GoldenEye, Estados Unidos, Inglaterra, 1995) Direção: Martin Campbell / Roteiro: Michael France baseado na obra de Ian Fleming / Elenco: Pierce Brosnan, Sean Bean, Izabella Scorupco, Famke Janssen, Gottfried John, Alan Cumming, Judi Dench / Sinopse: O agente James Bond (Pierce Brosnan) tenta evitar que a rede de satélites GoldenEye seja utilizada para desestabilizar a paz e a ordem nos países ocidentais.

Pablo Aluísio.

O Fim da Escuridão

Mel Gibson é sem sombra de dúvidas um dos ícones do cinema de ação das décadas de 80 e 90. Colecionando um sucesso atrás do outro ele até mesmo conseguiu transpor a complicada barreira que separa as profissões de ator e diretor. Hoje é reconhecido nos dois segmentos. Gibson porém estava longe dos cinemas desde 2003 e só retornou mesmo em 2010 com esse "O Fim da Escuridão". Para quem sempre foi sinônimo de ótimas bilheterias esses sete anos afastado pareceram uma eternidade. Mas afinal o que aconteceu? Bem, aconteceu de tudo na vida de Gibson. Ele se divorciou da esposa que estava junto a ele por décadas e com quem teve vários filhos, brigou com a imprensa, voltou a beber de forma descontrolada, se envolveu em acidentes, ofensas raciais, ameaças de morte e o diabo a quatro. Não me admira em nada que no meio do caos que virou sua vida tenha sido tão complicado voltar ao cinema. O pior é que após tanto tempo fora dos holofotes sua volta gerou grande expectativa. Uma pena que tudo tenha terminado em frustração.

"O Fim da Escuridão" é um filme fraco, cheio de clichês e que a despeito de ser classificado como filme de ação, nesse campo não convence, pelo contrário, faz mesmo é aborrecer o espectador. A produção tem ritmo pesado, pouco fluido e cai muitas vezes no tédio. Gibson também não colabora, está preguiçoso, com má vontade e em nenhum momento parece estar muito interessado. Talvez tenha sido pelo fato de ter sido dirigido por Martin Campbell de 007 Cassino Royale. Dizem que ator e diretor se desentenderam no set e Gibson jurou nunca mais trabalhar sob as ordens de ninguém - o que talvez justifique o fato de ter dominado seu filme posterior, esse sim muito bom, "Plano de Fuga". O clima ruim e pesadão das filmagens parece ter passado para o resultado final. Gibson parece entediado e sem garra. O roteiro fraco é a pá de cal em um filme bem decepcionante. Seu único mérito talvez tenha sido trazer o antigo astro de volta das sombras em que andava vivendo. Fora isso nada de muito digno de nota acontece.

O Fim da Escuridão  (Edge of Darkness, Estados Unidos, 2010) Direção: Martin Campbell / Roteiro: William Monahan / Elenco: Mel Gibson, Danny Huston, Shawn Roberts, Bojana Novakovic / Sinopse: Thomas Craven (Mel Gibson) é um detetive do departamento de homicídios da cidade de Boston cuja filha ativista é morta bem em frente à sua residência. Inconformado pelo crime bárbaro ele resolve ir a fundo para descobrir quem cometeu esse ato cruel e desumano.

Pablo Aluísio. 

domingo, 11 de novembro de 2012

Frankenweenie

Tim Burton é um diretor sem meio termo. A maioria dos cinéfilos ou o adoram às raias da insanidade ou o odeiam com força total. Eu sou da minoria, nunca fui fã a ponto de amar tudo o que o diretor fez durante esses anos e nem odiei seus trabalhos menos inspirados. Mesmo assim confesso que andava muito decepcionado com ele. Achei sinceramente "Alice" e principalmente "A Fantástica Fábrica de Chocolates" duas enormes bobagens, no mau sentido da palavra mesmo. Filmes sem alma, sem propósitos claros. Mas ei que surge esse pequeno conto, quase uma fábula chamada  Frankenweenie. Para quem estava sentindo falta do lado mais autoral do cineasta essa animação é certamente um prato cheio. É o que chamo de obra com coração. Longe dos interesses comerciais de um "Alice", Burton finalmente reencontra o caminho do bom cinema. Impossível realmente não se encantar com o lirismo de Frankenweenie. Cada cena é caprichosamente preparada, cada diálogo está muito bem escrito, cada nuance fica em seu lugar adequado. Sem favor nenhum digo que é desde já um dos melhores trabalhos do diretor que estava realmente devendo nesse aspecto. A cereja do bolo é a técnica em stop motion que nos remete imediatamente aos filmes da infância. Se fosse digital perderia certamente parte de seu encanto.

Na verdade Frankenweenie é um velho projeto, realizado quando Burton ainda era um aspirante à cineasta. O curta original foi rodado em 1984 mas recusado pelo estúdio que o qualificou como "sombrio demais" e com "tintas que lembram em demasia produções trash". É até fácil compreender esse tipo de coisa pois na época ninguém ainda conhecia o estilo de Tim Burton, estilo esse que em poucos anos cairia no gosto popular e renderia excelentes bilheterias mundo afora. Agora, consagrado e podendo ter o controle criativo, Burton resolveu resgatar essa velha idéia que realmente não envelheceu, ainda cativando quem a assiste, mesmo agora nessa releitura tardia. A trama é simples mas comovente até. Victor Frankenstien (Charlie Tahan) é um garotinho que se vê sozinho após a morte de seu grande amigo e companheiro, o cãozinho Sparky. Como é um pequeno gênio consegue através de uma técnica toda especial trazer seu animal de estimação de volta à vida. O problema é que seu feito se espalha na sua comunidade, o que lhe trará muitas confusões. É óbvio que após ler esse pequeno resumo o leitor vai se lembrar da trama do clássico de terror. Frankenstein de Mary Shelley.. É isso mesmo, Tim Burton fez uma alegoria da famosa estória e uma homenagem ao cinema da década de 30. O resultado é charmoso, comovente e cativante. Uma pequena obra prima da filmografia do diretor. Não deixe de conferir.

Frankenweenie (Frankenweenie, Estados Unidos, 2012) Direção: Tim Burton / Roteiro: John August / Elenco (vozes): Winona Ryder, Catherine O'Hara, Martin Short, Conchata Ferrell, Tom Kenny, Martin Landau, Atticus Shaffer, Charlie Tahan, Robert Capron, James Hiroyuki Liao, Christopher Lee / Sinopse: Após perder seu cachorrinho de estimação um garoto resolve lhe trazer de volta á vida, o que lhe trará sérios problemas depois. 

Pablo Aluísio.

Poder Paranormal

A premissa de "Poder Paranormal" é das melhores. O roteiro discute, até com certa inteligência, o eterno duelo entre ciência e religião, racionalidade e misticismo. Essa luta é travada em cena por dois personagens centrais. Do lado da razão e do ceticismo temos a doutora  Margaret Matheson ( Sigourney Weaver). Há anos ela vem desmascarando médiuns, curandeiros e charlatões em geral. Usando de métodos científicos ela vai derrubando um a um os picaretas que usam a fé alheia como forma de enriquecimento ilícito. Do outro lado, defendendo o lado do misticismo e dos poderes paranormais se encontra Simon Silver (Robert De Niro). Ele alega ter poderes sobrenaturais, de curas espirituais e de mediunidade. Além de entortar colheres com o puro uso da mente ainda consegue atingir os que lhe desafiam apenas com a força do pensamento. Um antigo jornalista que o perseguia sofreu uma parada cardíaca enquanto discutia com Silver durante uma de suas apresentações. Teria o grande espiritualista parado o coração de seu opositor apenas para mostrar o poder de sua mente privilegiada? Afinal ele é um charlatão ou realmente um médium com poderes paranormais além da compreensão da ciência humana? A luta se trava justamente entre essas duas formas de pensar.

Obviamente que um roteiro desses teria que tomar uma posição. Ou abraçaria a linha mais racional ou então optaria por uma abordagem mais paranormal. O curioso é que ao longo do filme a trama ora pende para um lado, ora para o outro, sem definição precisa, levando o espectador de um lado ao outro da balança. A chave de toda a trama também se desvia para um personagem secundário que mantém em si todo o segredo do que acontece ao longo do filme. "Poder Paranormal" no final das contas é um bom filme, não é excepcional, mas pelo menos procura ter uma postura menos fantasiosa sobre tudo. O tema vai interessar a muitos e acredito que levantará bom debate, muito embora pessoalmente tenha ficado um pouco decepcionado com o clímax da produção. Mesmo assim se destacam as atuações corretas de todo o elenco, inclusive de Robert De Niro (se afastando um pouco das bobagens que andou participando) e Sigourney Weaver (sempre surgindo com boas atuações). Já  Cillian Murphy não fica nas sombras e consegue atuar de igual para igual com esses dois grandes intérpretes. Assim fica a recomendação, o filme tem um lado mais pé no chão mas mesmo assim não deixa o suspense de lado. No final das contas merece certamente ser conhecido.

Poder Paranormal (Red Lights, Estados Unidos, 2012) Direção: Rodrigo Cortés / Roteiro: Rodrigo Cortés / Elenco: Sigourney Weaver, Robert De Niro, Cillian Murphy, Elizabeth Olsen, Toby Jones / Sinopse: Uma renomada professora e seu assistente desvendam e desmascaram médiuns e charlatões em geral. Agora terão que enfrentar um famoso curandeiro que afirma que provará que a ciência está errada.

Pablo Aluísio.