quinta-feira, 13 de dezembro de 2012

Marcados Para Morrer

O filme acompanha a rotina do dia a dia de dois policiais pelas ruas de Los Angeles. A câmera é nervosa, subjetiva em certos momentos e a produção segue o estilo Mockumentary (ou "falso documentário", que anda muito em voga em produções de terror mas que agora invade outros gêneros como esse policial). Com a desculpa de que está filmando sua rotina o tira Brian Taylor (Jake Gyllenhaal) sai registrando tudo, desde ocorrências das mais banais até operações de combate ao tráfico de drogas. São policiais de patrulha que atendem às chamadas mais urgentes da população em geral. Assim em um mesmo dia eles atendem de tudo, das situações mais rotineiras até as mais terríveis. As ruas de Los Angeles demonstram bem o retrato dos Estados Unidos hoje: muita miséria, muita pobreza e ruas infestadas de gangues rivais. Aqui no caso temos a luta de dois grupos, o primeiro formado por negros que se ressentem do avanço de grupos formados por latinos, mexicanos em especial. A luta pelo controle das ruas é a parte mais visível pela briga entre cartéis de drogas pelo controle do comércio de drogas. Esse é o melhor aspecto de "Marcados Para Morrer", sua visão mais realista, mostrando sem receios o caos em que vivem as pessoas nas grandes cidades daquele país. 

Agora, tirando isso o filme também tem problemas. O principal deles é o comportamento pouco adequado dos dois policiais. Eles são desbocados, falam um palavrão atrás do outro e se envolvem em brigas mano a mano com negros do gueto apenas por diversão pessoal. Também são retratados de forma nada usual, como adolescentes tardios, contando piadas pejorativas e aplicando "pegadinhas" em colegas de farda. Além dos tiras os vilões também são extremamente cartunescos. A gangue dos latinos é o maior exemplo. As mulheres são retratadas como vagabundas absolutas e o homens como loucos homicidas que saem atirando a esmo com armas possantes. Essa falta de seriedade causa admiração, uma vez que o filme foi dirigido pelo bom David Ayer (de "Dia de Treinamento"). Por essas razões recomendo mais a ótima série "Southland" que tem temática muito parecida mas com um ponto de vista mais equilibrado e adulto. De qualquer modo "Marcados Para Morrer" não chega a ser ruim. De fato posso até dizer que é um bom thriller policial, meio bobo às vezes, é verdade, mas eficiente. Muitos dos diálogos que vemos em cena são improvisações dos atores Jake Gyllenhaal e Michael Peña, mostrando que ambos estavam bem entrosados em seus personagens. Em suma, um policial mockumentary com altos e baixos que consegue ser um bom passatempo, apesar de tudo.

Marcados Para Morrer  (End of Watch, Estados Unidos, 2012) Direção: David Ayer / Roteiro: David Ayer / Elenco:  Jake Gyllenhaal, Michael Peña, Cody Horn, America Ferrera, Frank Grillo / Sinopse: Dois tiras de rua de Los Angeles vivem situaações aflitivas em sua rotina de trabalho. Quando não estão atendendo chamadas rotineiras estão combatendo o tráfico de drogas na cidade. Disputando o poder na região duas gangues fortemente armadas lutam entre si, uma formada por imigrantes latinos e outro por negros americanos. Nesse cenário as ruas viram campos de batalha.

Pablo Aluísio.

quarta-feira, 12 de dezembro de 2012

W.

Nessa minha longa caminhada como cinéfilo algumas situações realmente me incomodam. Uma das piores coisas acontece quando algum diretor decide transformar o cinema, essa arte tão nobre, em mero palanque eleitoral. Não que o cinema deva se afastar da política, absolutamente não, a política é algo inerente a todos os seres humanos mas fazer de um filme um grande horário eleitoral é lamentável. Um dos maiores exemplos que já vi em minha vida foi esse "W." que supostamente deveria ser um retrato de um dos Presidentes americanos mais controversos:da história, George W. Bush. Desde a primeira cena descobrimos que tudo não passa de um veículo de ridicularização do biografado. Na tela ele surge como um perfeito idiota, quase um inepto, um debiloide. O roteiro vira uma arma contra Bush e o coloca em situações ridículas, absurdas. Eu não gosto de George W. Bush e nem da linha de seu Partido, o Republicano, mas nem por isso acho honesto transformar um filme inteiro numa campanha de ridicularização em plena campanha eleitoral para a Casa Branca. Soa desonesto, fora de propósito. Se fosse resumir o que penso diria que "W." é um produto mal intencionado, desonesto. Há cenas de pura ficção que jamais aconteceram na vida real. Além disso criaram um complicado relacionamento entre pai e filho que destoa dos fatos reais.

Achei tudo muito exagerado e muito parcial também. O presidente George W Bush é retratado como um perfeito idiota, coisa que ele não deve ser uma vez que conseguiu ser presidente dos EUA duas vezes! É a tal coisa, o filme todo soa como propaganda política - é como se um petista dirigisse um filme sobre o FHC! Espero que um dia esse presidente seja retratado no cinema com mais imparcialidade e isso certamente só acontecerá daqui algumas décadas. Não existe nada mais equivocado do que realizar um cinebiografia sobre um político ainda no calor dos acontecimentos. E o roteiro também esquece de analisar tudo sob um contexto histórico. As invasões promovidas por Bush são um exemplo. Bush aqui surge como o vilão absoluto disso no filme mas os roteiristas esqueceram de deixar claro ao espectador que tudo aconteceu com enorme apoio popular. Bush certamente não era Hitler e os EUA são uma democracia e não o Terceiro Reich. Se ocorreram guerras foi porque elas foram apoiadas pelo povo americano. Simples assim.

Bush é bastante condenado pelas invasões do Iraque e Afeganistão mas eu penso que qualquer outro presidente (mesmo que fosse democrata) faria a mesma coisa. Nunca é demais lembrar que as duas invasões foram apoiadas em peso pela opinião pública americana na época! O que acontece é que o povo americano é sempre assim. Na hora do ataque eles querem a guerra mas depois conforme a guerra vai acontecendo eles mudam de idéia (principalmente quando os militares voltam para casa em caixões). Foi assim na Guerra do Vietnã e será assim em todas as guerras que esse povo se envolver.  Isso mesmo. Se o Obama fosse presidente naquele período histórico ele também teria invadido esses países. O 11 de setembro mexeu muito com a cabeça dos americanos - não foi apenas o Bush que quis invadir aqueles países, foi o povo americano que quis. Há um Congresso e uma democracia no contexto desses eventos históricos. Fazia parte do sentimento da nação revidar os terríveis atentados de 11 de Setembro. Fazer de George W. Bush o único vilão é absurdo. Aliás nem há vilões aqui mas sim decisões de política internacional, nada mais. Agora, os efeitos que isso causou (crise na economia, estagnação e endividamento), aí já é outra história. Então Oliver Stone deveria ter sido mais honesto com seu público e não sair tentando manipular eventos históricos tão claros como fez. Quando for fazer seu próximo filme político, Sr. Stone, mostre a verdade, apenas a verdade dos fatos. Enfim, por essas razões não recomendo "W." a não ser que você queira assistir a um "Horário Eleitoral Gratuito" ao estilo ianque.

W. (W., Estados Unidos, 2008) Direção: Oliver Stone / Roteiro: Stanley Weiser / Elenco: Josh Brolin, Elizabeth Banks, Ioan Gruffuddd, Thandie Newton, Ellen Burstyn, Jeffrey Wright, Richard Dreyfuss, James Cromwell, Scott Glenn, Jesse Bradford, Noah Wyle, Jason Ritter / Sinopse: O filme mostra, sempre em tom pejorativo, aspectos da biografia de George W. Bush, 43º presidente dos Estados Unidos

Pablo Aluísio.

Na Natureza Selvagem

Eu achei esse filme genial e não foi tanto por questões técnicas ou da direção de Sean Penn. Achei genial por causa de seu argumento baseado numa história real incrível de um jovem que resolveu sair pelos EUA afora, conhecendo outros lugares, cidades, pessoas, tudo por livre e espontânea vontade. Quem nunca quis jogar tudo para o alto e sair em uma aventura dessas na vida? Acho que todos nós. O filme é basicamente sobre isso, sobre liberdade, sobre se libertar das coisas que nos aprisionam como dinheiro, bens materiais, responsabilidades, pressões, para simplesmente viver, sair por aí, sem planos, só a vontade de ser feliz e livre. Talvez um dos poucos filmes que realmente daria nota máxima nos últimos anos pois a maioria do que se produz atualmente é bem comercial e medíocre e não nos faz refletir sobre nada na vida. Esse faz. É o tipo de filme que fica conosco por muito tempo após o assistir.

Como eu já citei o filme é baseado numa história real. O jovem  Chris McCandless (Emile Hirsch) resolve, após se formar no High School, tomar uma decisão crucial em sua vida. Enquanto seus amigos pensam em ir para a faculdade para se formarem e depois arranjarem um belo emprego, Chris não almeja nada disso. O que ele realmente deseja no fundo de sua alma é viver sua liberdade em plenitude, ganhar o mundo, sair por aí em busca de aventuras, conhecer novos lugares, novas pessoas. Indo de um lugar ao outro de carona, vivendo de pequenos empregos por onde passa, Chris sai atravessando os EUA praticamente de costa a costa. Aos que vai conhecendo pelo meio do caminho diz que seu objetivo final é ir para o Alaska, viver nas montanhas, isolado do mundo e de todos, voltando ao estado natural do ser humano. Afinal ele era jovem, desimpedido, descompromissado e dono de seu próprio destino. O filme é lindamente conduzido. Como Chris está sempre em movimento vamos conhecendo a América ao seu lado. Uma rica fotografia tenta capturar a essência daquele país continental. Sua ousadia e audácia fizeram de Chris um ídolo para muitos jovens que até hoje cultuam sua memória pela net. Infelizmente não temos aqui um final feliz. Não ousaria contar nada mas os momentos finais são realmente marcantes. Muitos vão de forma hipócrita afirmar que ele foi apenas um sonhador ingênuo. Bom, isso não é bem uma ofensa já que as maiores conquistas da humanidade nasceram de pessoas como Chris, que tiveram a coragem de serem diferentes, de fugir do convencional. Eu acredito que sua vida é uma bela lição para todos nós. Uma produção que marca realmente. Uma Obra prima.

Na Natureza Selvagem (Into the wild, Estados Unidos, 2007) Direção: Sean Penn / Roteiro: Sean Penn baseado no livro de  Jon Krakauer / Elenco: Emile Hirsch, Vince Vaughn, Catherine Keener,  William Hurt,  Kristen Stewart / Sinopse: Jovem recém formado no colegial decide jogar tudo para o alto para cair na estrada. Ele deseja partir em uma aventura inesquecível, atravessando os EUA de carona, almejando ir para o distante e isolado Alaska onde deseja começar uma nova vida, baseada na simplicidade e longe do materialismo da sociedade atual. Vencedor do prêmio Globo de Ouro na categoria "Melhor Canção" (Guaranteed).

Pablo Aluísio.

O Corvo

No final da década de 80 o escritor e artista americano James O'Barr - inspirado na trágica morte de sua namorada na vida real - criou a fábula neogótica, "O Corvo". No início da década de 90, mais precisamente em 1993, o sonho dos produtores e escritores, David J.Schow e John Shirley, virava realidade e o longa, homônimo da obra de O'Barr, começava a ser filmado. A direção foi entregue ao egípcio naturalizado australiano, Alex Proyas (Eu Robô - 2004). Para o papel do acinzentado e mórbido Eric Draven foi escolhido o filho do mítico Bruce Lee, Brandon Lee. O filme, lançado nos cinemas em 1994, e com uma insuspeitada textura baudelairiana, conta a história do brutal assassinato do roqueiro "dark", Eric Draven e de sua namorada Shelly, na chamada "Noite do Demônio" (Devil's Night), a famosa noite que precede o dia do Halloween. Passado um ano, Eric ressuscita de sua catacumba guiado por um corvo sinistro.

No início o roqueiro só lembra do apartamento onde morava, e mais nada. Porém, de dentro do seu quarto, Eric, aos poucos vai lembrando de tudo o que aconteceu. As dores da lembrança, da tragédia e da morte de seu grande amor corroem as entranhas de um corpo sem alma, fantasmagórico e perturbado. Passadas algumas horas dos insights dantescos daquela noite, Eric dá o primeiro passo para uma vingança terrível contra os assassinos; e para começar, pinta a boca de palhaço com um sorriso triste. Mas o roqueiro corre perigo, pois o segredo de sua imortalidade está ligado diretamente à vida e ao bem estar do corvo e pode cair nas mãos do chefão dos bandidos de nome Top Dollar. O filme é passado numa paisagem apocalíptica, escurecida e acarcomida pelo submundo da bandidagem e dos grafiteiros. Eric com sua roupa de couro preta e coberta por um sobretudo, é uma espécie de arauto do pós-túmulo, uma entidade que vaga esgueirando-se pelas esquinas chuvosas como uma sombra negra, vingativa e endemoniada. Seu rosto pálido e mortificado é o contraponto de seus olhos amarelos que fagulham ódio e vingança por todos os lados e para toda a bandidagem. É uma missa negra a céu aberto. Pena que a vida imitou a arte, e, Eric Draven, ou melhor, Brandon Lee - em sua melhor performance no cinema - teve uma morte trágica durante as filmagens vitimado por uma bala que deveria ser de festim, mas não era. Sua morte se deu, exatos vinte anos após a morte de seu famoso pai, Bruce Lee. Nota 8

O Corvo (The Crow, Estados Unidos, 1994) Direção: Alex Proyas / Roteiro: David J. Schow, John Shirley baseados na obra de James O'Barr / Elenco: Brandon Lee, Rochelle Davis, Sofia Shinas, Ernie Hudson / Sinopse: O filme conta a história do brutal assassinato do roqueiro "dark", Eric Draven e de sua namorada Shelly, na chamada "Noite do Demônio" (Devil's Night), a famosa noite que precede o dia do Halloween. Passado um ano, Eric ressuscita de sua catacumba guiado por um corvo sinistro.

Telmo Vilela Jr.

Zumbis Na Neve

Acredite, eu assisti Dead Snow! É um filme pequeno, de baixo orçamento e roteiro trash mas mesmo assim serve para assistir em um dia chuvoso. Claro que ninguém vai levar à sério uma coisa dessas mas pelo pouco dinheiro investido na produção posso afirmar que os produtores realizaram um feito e tanto.  Eu li uma entrevista do diretor. A idéia do filme nasceu porque em algumas regiões da Rússia e do norte da Europa os jovens locais (geralmente desempregados) desenterram os soldados alemães mortos na II Guerra Mundial para roubar souvenirs como capacetes, medalhas, cruzes de ferro, armas, etc. Depois que pegam esse material colocam para vender na Internet. Daí o diretor pensou: "E se esses nazistas voltassem à vida para dar um chute na bunda desses jovens que os estão roubando?" Nasceu assim a idéia inicial de Dead Snow. Mas é bom deixar claro que a história do roubos de souvenirs dos soldados mortos serviu apenas de inspiração - a estória do filme é um pouco diferente disso.  Eu também não sou fã de Zumbis. Zumbis são tão unidimensionais, só querem comer miolos e nada mais (nem falas possuem nos filmes). Nesse ponto vampiros são personagens de terror cem milhões de vezes mais interessante. De qualquer modo aqui eles até que estão mais interessantes do que o habitual.

Embora o argumento que une Zumbis e Nazistas não seja grande novidade o ambiente gelado e hostil onde se passa o filme acaba criando interesse. O elenco é formado basicamente por uma moçada jovem e bem disposta. São todos Noruegueses o que aniquila para o espectador brasileiro qualquer identificação. Na realidade são praticamente amadores. As garotas são bonitas como aliás é comum naqueles países nórdicos. Os rapazes estão ali só esperando a hora de serem devorados pelos Zumbis do Reich. O clima dominante oscila entre o suspense e o quase cômico pois é complicado levar à sério uma tropa nazista congelada de Zumbis andando por aí atrás de miolos frescos. A produção até faz bom uso das belas paisagens naturais do lugar mas erra ao se tornar muito repetitiva. Em pouco mais de 30 minutos o espectador começa a ficar entediado pois as situações começam a se repetir em demasia. Como os personagens não aparentam possuir qualquer personalidade mais trabalhada pelo roteiro logo nos desinteressamos por eles. Algumas cenas do mais puro gore ainda conseguem criar alguma distração mas no final ficamos com aquela sensação de tempo perdido. Mesmo assim, com todas essas limitações vale o esforço. Assista, junte uma galera e façam a festa. É aquele tipo de filme para assistir e zuar um pouquinho. Só assim você entrará no espírito da coisa.

Zumbis na Neve (Død snø, Noruega, 2009) Direção: Tommy Wirkola / Roteiro: Tommy Wirkola, Stig Frode Henriksen / Elenco: Jeppe Laursen, Charlotte Frogner, Jenny Skavlan / Sinopse: Soldados nazistas do fim da II Guerra Mundial voltam à vida como Zumbis. Um grupo de jovens que passam férias próximo às suas covas serão o prato principal do Menu.

Pablo Aluísio.

Código do Silêncio

Depois do sucesso de "Braddock II - O Início da Missão" Chuck Norris estrelou esse filme policial de ação. Sai a selva do Vietnã e entre outra selva em cena, a selva de pedra da cidade de Chicago. Aqui Norris interpreta o tira Eddie Cusack em uma cidade dividida por gangues criminosas. Duas facções lutam pelo poder das ruas e Norris acaba ficando no meio delas. Embora seja extremamente arriscado lidar com esse tipo de criminoso ele resolve ir em frente mesmo não contando com o resto de seu departamento. Ele é um policial marcado pois quebrou o chamado "Código do Silêncio" que impera em seu distrito. Esse código determina que nenhum policial deve depor contra um colega de farda. Para condenar um tira corrupto, acusado de matar um adolescente desarmado, Cusack (Norris) resolve quebrar essa regra de conduta não escrita e com isso ganha a antipatia coletiva de seus colegas de trabalho. Sozinho ele tentará conter a onda de violência que explode nas ruas por causa da guerra entre grupos rivais pelo controle do tráfico e contrabando.

"Código de Silêncio" foi lançado no Brasil na mesma semana em que "Ases Indomáveis" chegava nas telas. Isso dá uma ideia da popularidade de Norris por aqui. Apenas um ator com muito respaldo de bilheteria teria cacife para bater de frente com um blockbuster daquela envergadura. Assim "Top Gun" e "Código do Silêncio" duelaram naquele distante fim de semana em nossos cinemas. Claro que Norris não sai de seu estilo, ele repete seu personagem padrão - o do sujeito que sozinho tenta ganhar uma guerra! Aqui o campo de batalha são as ruas da grande Chicago. Para piorar a polícia está corrompida, o que torna Norris basicamente um dos poucos policiais éticos de sua corporação. O filme traz um curioso robozinho usado para operações especiais. Hoje em dia, com o avanço da tecnologia, aquilo pode soar completamente ultrapassado mas na época fez sucesso entre o público. No saldo final "Código do Silêncio" tem um roteiro bem mais caprichado do que outros filmes de ação de Norris nessa fase de sua carreira. O filme obviamente sentiu o pesar dos anos mas ainda pode ser considerado eficiente dentro daquilo que se propõe.

Código do Silêncio (Code of Silence, Estados Unidos, 1985) Direção: Andrew Davis / Roteiro: Michael Butler, Dennis Shryack / Elenco: Chuck Norris, Henry Silva, Bert Remsen / Sinopse: Policial de Chicago tenta desbaratinar duas gangues rivais e acaba sendo envolvido dentro da guerra entre elas. Sem apoio de sua corporação tenta resolver o caos usando apenas de seu treinamento e perícia em operações especiais.

Pablo Aluísio.

terça-feira, 11 de dezembro de 2012

Pânico na Neve

Esse "Pânico na Neve" traz um grupo de atores jovens desconhecidos em um roteiro que se não é tão original assim pelo menos tenta manter a situação de tensão e suspense. A premissa básica (e única) do filme é manter três jovens presos em um teleférico de uma montanha de prática de esqui. Eles foram abandonados lá por engano e agora estão sem saída, no meio do frio, sem comida e abandonados à própria sorte. O que fazer? Como estão em uma altura considerável pular seria um desastre. Além disso estão cercados por lobos selvagens à espera de uma boa refeição. É um thriller de situação, ou seja, o filme se resume em torcer para que o grupo de jovens escape daquela armadilha.

O filme seria mais verossímil se fosse passado em outra época. Isso porque é praticamente impossível nos dias de hoje um grupo de 3 jovens sem celular. Pois bastava ter um celular para que toda a situação fosse resolvida. Eles chamariam por socorro e alguém os tiraria de lá. A questão dos lobos também é controversa. Em uma estação de esqui com grande movimento jamais haveria tantos lobos assim pelas redondezas, além disso não seriam bestas assassinas como mostradas no filme. De qualquer forma tirando isso o filme até que é eficiente e dentro de sua proposta cumpre bem seu papel. Só acho que dez minutos a menos ajudaria bastante, o filme não é longo, mas como se trata de uma única situação isso serviria para dar mais agilidade ao enredo em si.

Pânico na Neve (Frozen, Estados Unidos, 2010) Direção: Adam Green / Roteiro: Adam Green / Elenco: Shawn Ashmore, Emma Bell, Kevin Zegers / Sinopse: Três jovens ficam presos por engano em um periférico no alto de uma montanha. Sem possibilidade de serem socorridos antes de serem congelados pelo tempo hostil eles tentam de todas as formas escapar da terrível situação.

Pablo Aluísio.

Cheri

Eu sempre fui grande fã do cinema de Stephen Frears, por isso fui com boas expectativas assistir esse Cheri. Pensei que seria pelo menos um bom filme de sua rica filmografia. Ledo engano. Cheri é um filme muito abaixo do que eu esperava. Mal conduzido, enfadonho, lento, inverossímil e o pior de tudo com um sério erro na escalação da dupla central. O texto e o roteiro certamente são bons mas para que o filme funcionasse seria necessário ter um casal realmente entrosado em cena e o mais importante, com talento. O problema aqui não é com Michelle Pfeiffer. Apesar da idade aparente ela ainda continua bonita, charmosa e talentosa. Suas cenas são boas e ela conseguiu pelo menos me manter acordado. O problema de todo o filme tem nome: Rupert Friend. Eu realmente fiquei me perguntando onde o diretor conseguiu achar um ator tão ruim como esse. O sujeito é uma nulidade em cena. Fazendo o par romântico com Pfeiffer tudo o que ele consegue passar ao espectador é tédio. Não sabe atuar, não sabe passar calor humano e nem tem química nas cenas a dois com a ex mulher gato. Assim o filme simplesmente naufraga pois se o foco dele é um romance ardente e esse não consegue ser convincente então é o fim mesmo de tudo.

Chei se passa na chamada Belle Époque em Paris. O capitalismo está em franca expansão e há um clima de otimismo no ar. É nesse ambiente que vive a fina cortesã Lea de Lonval (Michelle Pfeiffer). Embora seja muito experiente com relacionamentos com o sexo oposto ela acaba traindo seus próprios ideais ao se apaixonar por um imaturo e mimado jovem, Chéri (Rupert Friend). Para piorar ainda mais sua situação ele é filho de uma antiga rival na profissão, a exuberante Madame Peloux (Kathy Bates), que não vê com bons olhos o romance, preferindo que seu filho se casasse com Edmée (Felicity Jones). O roteiro é curioso porque lida com emoções sentimentais entre pessoas que comercializam justamente esse tipo de sentimento. A produção é de requinte, com excelente reconstituição de época. Seu maior defeito porém é de ritmo que logo se torna lento e arrastado. Apesar de ser excelente cineasta Frears surge preguiçoso na condução da trama, confundindo contemplação com chatice. Assim sendo logo o filme se torna bastante enfadonho. Como o casal central não convence ficamos com aquela sensação de perplexidade ao ver uma dama tão bonita e sofisticada como Lea fazendo loucuras em prol do amor de um jovem tão sem expressão como aquele. Só recomendo Cheri para os fãs mais ardorosos de Michelle Pfeiffer. Fora ela em cena a produção realmente não traz nenhum outro grande atrativo.

Cheri (Cheri, Estados Unidos, 2009) Direção: Stephen Frears / Roteiro: Christopher Hampton / Elenco: Michelle Pfeiffer, Kathy Bates, Rupert Friend, Bette Bourne, Iben Hjejle, Frances Tomelty, Joe Heridan./ Sinopse: Cortesã com muita experiência de vida acaba se apaixonando por jovem, filho de uma antiga rival. Ambientado na Paris da Belle Époque, Cheri traz novamente para as telas Michelle Pfeiffer no papel de Lea de Lonval.

Pablo Aluísio.

Rolling Stones - Out of Our Heads

Nem adianta negar. Na década de 1960 os Rolling Stones andaram lada a lado com os Beatles. Sonoridade, letras, arranjos, os Stones realmente seguiam o modelo padrão das bandas de rock daquela época e quem determinava esse padrão era justamente o quarteto de Liverpool. Veja o caso desse Out of Our Heads, terceiro disco dos Stones. O álbum segue os passos dos Beatles, mesmo que alguns centímetros atrás. Enquanto os Beatles começavam a mudar ainda que discretamente seu som, os Stones também procuravam trazer inovações para o grupo. Esqueça os Stones de hoje em dia. Aquilo ali é uma empresa multinacional, uma corporação S.A. e não mais um conjunto de Rock mas em 1965 eles ainda eram de fato um grupo de rock. Hoje em dia Jagger e Keith Richards se odeiam tanto que mal se falam mas na época do lançamento desse trabalho eles eram realmente amigos e trabalhavam em harmonia. Por falar em amizade aqui os Stones surgem com sua formação clássica completa, a saber: Mick Jagger (vocal, harmónica, percussão), Brian Jones (guitarra eléctrica e acústica, harmónica, orgão), Keith Richards (guitarra), Charlie Watts (Bateria e percussão) e Bill Wyman (baixo). Essa aliás é a formação perfeita dos Stones, sem tirar nem colocar mais ninguém. Curiosamente é que para melhorar ainda mais a qualidade musical do disco eles ainda chamaram outros craques: Ian Stewart no piano e o produtor maluco beleza Phil Spector para dar algumas canjas de baixo.

O resultado é dos melhores. Considero o álbum um dos mais pertinentes do grupo em termos de melodia e arranjos. Os primeiros discos dos Stones deixavam muito a desejar nesses aspectos mas aqui a sonoridade melhora muito. Um exemplo perfeito do que digo surge logo na primeira canção, "She Said Yeah" com suas linhas de guitarras furiosas. Apesar de ser um cover é uma das melhores gravações dos Stones. No quesito garra e pique poucas vezes eles fizeram algo melhor do que isso. É interessante perceber que nessa fase inicial eles ainda não estavam muito seguros como compositores, preferindo se apoiar em material escrito por outros compositores. Assim temos apenas três canções escritas pela dupla Mick Jagger e Keith Richards: "Gotta Get Away", "Heart of Stone" e "I'm Free". Note que a versão do disco britânica que estamos comentando aqui foi bastante diferenciada da americana pois nos EUA a gravadora ianque incluiu o megasucesso "(I Can't Get No) Satisfaction", que não fez parte da seleção musical inglesa. Era como se o Help dos Beatles saísse com "Yesterday" em sua versão americana mas não na inglesa. Deu para sentir o drama? É óbvio que por essa razão a edição USA é bem superior à britânica mas como sou tradicionalista ainda prefiro a discografia original do grupo para ouvir (e na minha opinião a discografia original é exatamente a de seu país de origem, ou seja, Made in England). Assim lhe deixamos a dica. Esqueça esses Stones que estão aí celebrando 50 anos de carreira ou mais. Isso tudo é puro marketing. Prefira os caras em seus primórdios, quando eram apenas cinco amigos tentando dar o melhor de si para vencer no mundo da música. Isso aconteceu antes da morte de Brian Jones e da saída de Bill Wyman. "Out of Our Heads" é perfeito nesse sentido.

Rolling Stones - Out of Our Heads (1965)
She Said Yeah
Mercy, Mercy
Hitch Hike
That's How Strong My Love Is
Good Times
Gotta Get Away
Talkin' 'Bout You
Cry to Me
Oh Baby (We Got a Good Thing Goin'
Heart of Stone
The Under Assistant West Coast Promotion Man
I'm Free

Pablo Aluísio.

segunda-feira, 10 de dezembro de 2012

A Proposta

A Proposta é mais uma comédia romântica estrelada pela atriz Sandra Bullock. Aqui ela interpreta Margareth Tate, uma executiva bem sucedida de uma grande editora de Nova Iorque. Linha dura, fria e autoritária ela definitivamente não é bem vista no escritório onde trabalha. Nem mesmo seu assistente pessoal, Andrew Paxton (Ryan Reynolds), consegue suportar sua presença. Nada porém parece interromper a escalada de sucesso de Margareth a não ser um pequeno detalhe: ela é canadense e seu visto de trabalho perdeu o prazo de validade. Em razão disso o Departamento de Imigração do governo americano dá 24 horas para ela deixar o país definitivamente. Desesperada Margareth então resolve chantagear seu assistente para que se case com ela o mais rapidamente possível. O casamento com um americano evitaria assim sua saída dos EUA. Andrew meio sem saber o que fazer acaba aceitando. Agora só resta ao casal convencer a todos que o relacionamento é de verdade e pra valer. Caso isso não aconteça ela será deportada e Andrew será preso por fraude às leis de imigração dos Estados Unidos. O mais curioso em "A Proposta" é que ele traz à tona um fato que é cada vez mais comum nos EUA: imigrantes se casando com americanos natos para ganhar o direito de ficar e trabalhar de forma legal dentro das fronteiras americanas. As fraudes são aliás tão comuns que o Departamento de Imigração daquele país tem vários funcionários treinados apenas para desmascarar os falsos casamentos.

Claro que em se tratando de uma comédia romântica de rotina o público vai manjar tudo o que vai acontecer no filme. É meio óbvio que ambos vão se apaixonar enquanto tentam provar a todos que o romance é verdadeiro. Não há também como negar que a química aqui funcionou muito bem para o casal central. Reynolds se saí muito bem nesse argumento que  tende para o bom humor. Bullock apesar de surgir interpretando uma megera consegue trazer carisma para sua personagem que vai se revelando aos poucos, mostrando enfim sentimentos nobres e humanidade. Fora isso alie um bom elenco de apoio, com vários atores de séries populares da TV americana e você terá uma diversão despretensiosa e leve. Claro que tudo é muito previsível mas com um pouquinho de boa vontade o roteiro acaba divertindo. De quebra o espectador ganha uma linda fotografia do Alaska, com locações de beleza extrema. "A Proposta" vale uma espiada.

A Proposta (The Proposal, Estados Unidos, 2009) Direção: Anne Fletcher / Roteiro: Pete Chiarelli / Elenco: Sandra Bullock, Ryan Reynolds,  Mary Steenburgen, Craig T. Nelson, Betty White / Sinopse: Executiva bem sucedida do ramo editorial americano resolve se casar às pressas com seu assistente pessoal para evitar que seja deportada para seu país de origem, o Canadá. Para isso terá que convencer a todos (família e governo) que o romance é verdadeiro e que ambos são apaixonados um pelo outro.

Pablo Aluísio.

Robocop

"Meio Homem. Meio Máquina. Um Tira Total". Esse era o lema do filme Robocop que causou impacto no cinema quando foi lançado em 1987. A produção já previa o dia em que todos os serviços públicos seriam privatizados, inclusive a segurança e a justiça. De fato muitas coisas mostradas no filme terminaram acontecendo! Quer mais exemplos? Olhe ao seu lado, estamos vivendo em uma época em que temos que pagar para ter segurança, tal como previsto no roteiro do filme e muitas empresas públicas passaram para as mãos da iniciativa privada, inclusive no Brasil. Claro que não chegamos aos extremos apresentados no filme mas com o andar da carruagem não duvido de nada em um futuro próximo. O fato é que o chamado Estado Nacional está falido até mesmo nas grandes potências. Nesse vácuo quem toma o controle são as grandes corporações como as mostradas no filme. Nesse mundo corporativo os interesses dos grandes grupos e empresas se tornam mais importantes que o interesse público, da população em geral. Alguma diferença com o que vivemos hoje em dia? Acredito que não.

Robocop é muito bom. Seu argumento inteligente se mantém mais atual do que nunca. O diretor Paul Verhoeven estava no auge da criatividade e desenvolveu um argumento muito bem bolado, um policial perfeito, misto de máquina e homem que simplesmente não poderia cometer erros já que estava programado para agir de acordo com as leis e regulamentos da corporação. O problema central do roteiro surge quando o lado humano começa a tentar se sobrepor ao lado máquina. Essa luta interna do policial x robô é o grande achado do filme. Uma pena que um filme tão bom quanto esse tenha dado origem a uma série de continuações fracas, bobas e que desperdiçaram todo o potencial envolvido no enredo. Está para ser lançado em breve mais um remake. As primeiras imagens inclusive já vazaram na Internet. Será que terá êxito? A questão é que Robocop era futurista na década de 80 mas agora soa como realidade. O futuro chegou!

Robocop - O Policial do Futuro (Robocop, Estados Unidos, 1987) Direção: Paul Verhoeven / Roteiro: Edward Neumeier, Michael Miner / Elenco: Peter Weller, Nancy Allen, Ronny Cox, Kurtwood Smith, Miguel Ferrer / Sinopse: Policial é ferido em serviço e declarado morto. Em segredo porém uma grande corporação acaba criando um andróide policial, meio homem, meio máquina com o objetivo de combater a criminalidade das ruas.

Pablo Aluísio.

Superman II

Muita gente acha essa continuação a melhor aventura de Superman nos cinemas. Eles têm razão. Livre das amarras de contar a origem do personagem os roteiristas deram asas à imaginação e resolveram trazer o espírito dos quadrinhos para a continuação. A grande sacada foi trazer três prisioneiros do planeta de origem de Superman para a terra. Logicamente como eram de Kripton eles teriam os mesmos poderes do super heroi. E isso definitivamente significava muitas cenas de lutas pelas ruas de Metropolis. A aventura decorrente disso torna o filme a produção mais próxima à essência dos quadrinhos originais de Superman. Na outra linha do argumento vemos Superman em crise existencial, querendo se tornar mais humano para viver ao lado do amor de sua vida. Má idéia e um mal momento para isso pelas razões já expostas. Essas duas linhas narrativas seguem muito bem até o final, que é um dos melhores em personagens de HQs adaptados para o cinema. Isso definitivamente não me surpreende. O roteiro foi escrito pelo grande Mario Puzo (1920 - 1999), autor brilhante que escreveu outro clássico absoluto do cinema: O Poderoso Chefão.

Pena que esse filme acabou sendo o último grande momento da franquia com Christopher Reeve. A continuação Superman III era bem fraca e se apoiava demais no comediante Richard Pryor e a parte IV foi simplesmente péssima, um adeus melancólico de Reeve ao personagem que o imortalizou. Assim não há outra conclusão: Superman II realmente é o melhor. Livre das amarras de um roteiro que tem que explicar a origem do super herói, os roteiristas puderam ser bem fiéis aos próprios quadrinhos. Além disso o elenco surge bem mais à vontade em seus personagens. Christopher Reeve, ótimo como sempre, esbanja carisma e "bom mocismo". Em minha opinião vai ser muito complicado a Warner achar alguém tão adequado quanto Reeve para esse papel. Estamos prestes a assistir um novo filme sobre o super herói e só tenho uma certeza: tão bom quanto Reeve o novo ator a vestir a capa vermelha não será. Superman II pode ter envelhecido em alguns aspectos técnicos - como os efeitos especiais - mas como produto pop segue praticamente imbatível no quesito qualidade e diversão.

Superman II (Superman II, Estados Unidos, 1980) Direção: Richard Lester / Roteiro: Mario Puzo, David Newman, Leslie Newman / Elenco: Christopher Reeve, Gene Hackman, Margot Kidder, Sarah Douglas, Terence Stamp / Sinopse: Após longos anos vagando no espaço, três renegados do planeta Kripton que estão confinados na chamada Zona Fantasma conseguem se libertar e rumar em direção ao planeta Terra. Liderados pelo psicótico General Zod (Terence Stamp) eles querem o controle sobre tudo mas para isso terão que enfrentar Superman (Christopher Reeve).

Pablo Aluísio.

domingo, 9 de dezembro de 2012

A Dama e o Vagabundo

Walt Disney (1901 - 1966) era um perfeccionista. Todos os anos, geralmente na época do natal, ele fazia questão de lançar nos cinemas um longa de animação de seu estúdio. Durante o ano inteiro ele supervisionava os menores detalhes de sua equipe para que tudo saísse com um nível de qualidade que não era superado por nenhum outro estúdio na época. Visionário, sonhador e sempre zelando por uma postura de extremo respeito ao seu público, Disney acabou criando  um império. Esse "A Dama e o Vagabundo" mostra bem a filosofia do grande criador. Se trata de mais uma de suas amadas animações onde ele conseguiu reunir com rara beleza todo o romantismo da estória com um nível técnico espetacular. Aqui ele de forma muito lírica faz uma espécie de homenagem ao melhor amigo do homem, o cão. Na singela estorinha da paixão de uma cadela fina e elegante por um vira-latas de rua, Disney mostrou mais uma vez porque foi um dos grandes gênios criadores do século XX.

Apesar de não assinar a direção, o dedo de Disney  (aqui creditado apenas como produtor) aparece em cada cena, em cada sequência. Os humanos são vistos sob o ponto de vista dos caninos, onde seus rostos praticamente não aparecem. A diferença de classes entre Lady e o Vagabundo é um dos aspectos mais curiosos do filme. Baseado no conto de Ward Greene, Disney até criou um certo receio em fazer o filme pois a paranóia da caça às bruxas poderia pensar que se tratava de um argumento comunista. Felizmente o bom senso prevaleceu e o lado mais lírico e doce da produção se sobressaiu de forma maravilhosa. A crítica especializada até esperava por algo mais arrebatador pois a animação anterior de Disney, "Peter Pan", tinha sido recebido como uma obra prima. "A Dama e o Vagabundo" foi bem mais modesto em suas intenções. Apesar disso hoje é considerado um dos clássicos da carreira de Walt Disney e realmente não há como discordar dessa visão. O clima romântico desse enredo parece ter inspirado ainda mais Disney já que no ano seguinte ele lançaria aquele que seguramente foi seu trabalho mais romântico: "A Bela Adormecida". Mas isso é uma outra história que vamos contar aqui em uma próxima ocasião. Por enquanto fica a recomendação de "A Dama e o Vagabundo" uma bela animação com muito romance no ar.

A Dama e o Vagabundo (Lady and the Tramp, Estados Unidos, 1955) Direção: Clyde Geronimi, Wilfred Jackson, Hamilton Luske / Roteiro: Joe Grant, Erdman Penner, Joe Rinaldi, Ralph Wright, Don DaGradi / Elenco (Vozes): Peggy Lee, Barbara Luddy, Larry Roberts, Bill Thompson, Bill Baucom / Sinopse: Lady é uma fina cadela da raça Cocker Spaniel que acaba se apaixonando pelo esperto vira-latas Vagabundo. Juntos vivem grandes aventuras.

Pablo Aluísio.

O Escritor Fantasma

A primeira constatação sobre "Escritor Fantasma" é a de que Polanski definitivamente não perdeu a mão. Ainda continua um cineasta muito competente e com pleno domínio da arte de se dirigir um filme. "Escritor Fantasma" realmente me envolveu da primeira à última cena (coisa que anda cada vez mais rara). Embora seja uma ficção todos sabem que é baseado quase que inteiramente no ex-primeiro ministro inglês Tony Blair, que em sua gestão foi tão submisso aos interesses de George W Bush que ficou conhecido como "O Poodle de Bush". Realmente, para quem é tão cioso de suas tradições o povo inglês deve ter realmente ficado assustado com esse político totalmente medíocre que enviou tropas britânicas para o Oriente Médio sem motivo justificado.

O elenco está ótimo mas destaco duas presenças magníficas. A primeira é a de Tom Wilkinson. Ele tem duas cenas no filme mas rouba todas as atenções. Seu personagem é um poço de simpatia e cortesia mas no fundo é a chave central de toda a trama. Sua cena com McGregor em sua casa é uma pintura de interpretação de alto nível. Outra presença marcante é a de Eli Wallach. Pouca gente vai reparar no velhinho que mora no litoral e que dá valiosas informações ao personagem de McGregor. Pois saibam que aquele velhinho é um dos atores mais consagrados da história de Hollywood, com uma lista enorme de filmes importantes no currículo. O único senão que tenho a fazer ao filme é a morte do primeiro ministro. Achei desnecessária e de certa forma sensacionalista em um roteiro que vinha se desenvolvendo de forma tão sutil. Mas isso é o de menos - "O Escritor Fantasma" é sem dúvida um excelente filme. Valeu velho Polanski.

O Escritor Fantasma (The Ghost Writer, Estados Unidos, Inglaterra, 2010) Direção: Roman Polanski / Roteiro: Robert Harris, Roman Polanski, baseados no livro homônimo de Robert Harris./ Elenco: Ewan McGregor, Pierce Brosnan, Eli Wallach, Kim Cattrall, Olivia Williams, Tom Wilkinson, James Belushii, Timothy Hutton, Jon Bernthal, Robert Pugh, Daphne Alexander, Jaymes Butler./ Sinopse: Adam Lang (Pierce Brosnan), primeiro-ministro da Inglaterra. resolve contratar os serviços de um ghostwriter (autor que escreve em nome de outra pessoa uma obra literária, omitindo seu nome dos créditos) interpretado por Ewan McGregor. O problema é que existe toda uma conspiração mundial em andamento o que poderá colocar inclusive sua própria segurança em risco.

Pablo Aluísio

Calafrios

Basicamente se trata de uma espécie de "Jogos Mortais" argentino. Explico. Dois velhos torturadores do antigo regime militar daquele país resolvem alugar uma velha casa para continuar sua série de torturas pois são sádicos e adoram infringir sofrimento alheio. O alvo escolhido são jovens argentinos que respondem a pedidos de encontros em fóruns de bate papo na Internet. Assim as garotas são atraídas até o local e lá sofrem todos os tipos de torturas promovidas pela dupla sinistra. Há de tudo, choques elétricos, mutilação e um método que eles acreditam ser muito eficiente: passam Nitroglicerina (um líquido altamente explosivo) pelos corpos das jovens que assim ficam completamente imobilizadas pois se ousarem se mexer acabam explodindo. Lá pela segunda metade do filme ainda aparecem um grupo de jovens que vivem acorrentadas no porão da velha casa soturna. Elas mais parecem Zumbis sedentos por carne humana, tal sua fome e estado precário.

Calafrios não chega a empolgar. O filme é bem curtinho e vai direto no ponto. As cenas de gore são exploradas mas não até suas últimas consequências. Há uma decapitação e vários ataques com ácido mas a falta de intimidade do cinema argentino com o gênero terror não deixa a coisa ficar mais explícita. De certa forma a produção evita mostrar em detalhes o resultado das torturas, provavelmente porque não dominam as técnica mais avançadas de efeitos e maquiagem. No saldo geral é apenas um filme curioso por ser argentino e por ter a coragem de realizar algo assim tão "americanizado". Como eu já disse "Jogos Mortais" é uma referência, embora aqui os torturadores não tenham a sofisticação de Jigsaw. No saldo geral até dá para assistir - e quem sabe até se divertir, mas não é algo que vá fazer falta em sua coleção de filmes de terror. Arrisque se tiver curiosidade em ver um filme desse gênero criado por nossos hermanos.

Calafrios (Sudor Frio, Argentina, 2011) Direção: Adrián García Bogliano / Roteiro: Adrián García Bogliano, Ramiro García Bogliano / Elenco: Facundo Espinosa, Marina Glezer, Camila Velasco / Sinopse: Dois torturadores do antigo regime militar argentino resolvem voltar aos bons tempos e montam uma central de torturas numa velha casa abandonada. Para atrair jovens ao local se fazem passar por garotos bonitos na Internet e marcam encontros com elas no local. Assim que chegam são presas e começam a sofrer todos os tipos de torturas possíveis.

Pablo Aluísio.

sábado, 8 de dezembro de 2012

Ironias do Amor

Jordan (Elisha Cuthbert) é uma linda jovem que espanta a todos com seu comportamento fora do comum. Ela sempre surge com atitudes nada comuns. Casualmente conhece Charlie (Jesse Bradford), um sujeito que é exatamente o extremo oposto dela. Muito equilibrado, racional, sempre ponderando cada passo que dá. Não demora para que Jordan acabe colocando o rapaz em uma situação que ele jamais imaginaria. Nesse encontro de duas pessoas tão diferentes começa a surgir uma inegável atração entre eles, por mais improvável que isso fosse acontecer, provando de uma vez por todas que em relacionamentos amorosos realmente os opostos se atraem. "Ironias do Amor" é mais uma comédia romântica daquelas que as mulheres mais sonhadoras e meigas adoram. Há uma situação chave evocando muito romantismo e um casal de atores simpáticos e carismáticos. O curioso é que o filme é na realidade um remake de uma produção estrangeira. Hollywood em sua eterna crise de criatividade anda mesmo extrapolando. Antes eles só faziam remakes de filmes orientais de terror. O sucesso de "O Chamado" e "O Grito" acabaram causando uma avalanche de remakes de filmes orientais, com todas aquelas garotinhas fantasmas com cabelo molhado e escorrendo. Como se não bastasse agora eles começaram a importam também comédias românticas do outro lado do mundo. Esse "Ironias do Amor" é o maior exemplo disso.

O original foi dirigido pelo coreano Jae-young Kwak e foi lançado no mercado oriental em 2001. Como os produtores americanos viram potencial no roteiro resolveram importar tudo, escalando dessa vez a linda atriz Elisha Cuthbert (mais conhecida do grande público por seu papel na série 24 horas). Aliás devo confessar que a presença dela é a grande (e única) razão de se assistir essa comédia romântica de rotina. Realmente ela tem uma beleza clássica, de fechar quarteirão. Pena que o ator Jesse Bradford que atua ao lado dela deixe a desejar. Mas Elisha compensa tudo. É o tipo de filme que você sabe que não é nenhuma grande obra cinematográfica mas vai até o fim sem reclamar pois a atriz é linda demais. Afinal que homem vai reclamar de ficar vendo a beldade
Elisha Cuthbert por duas horas seguidas? Eu certamente não! Desse modo se você for um esteta como eu, vai logo perdoar esses e outros deslizes do filme e assistir tudo com um belo sorriso no rosto.

Ironias do Amor (My Sassy Girl, Estados Unidos, 2008) Direção:  Yann Samuell / Roteiro: Victor Levin / Elenco: Elisha Cuthbert, Jesse Bradford, Austin Basis, Chris Sarandon, Jay Patterson, Tom Aldredge, Louis Mustillo, Brian Reddy, Stark Sands, Joanna Gleason, Cherene Snow, Kimberly Youngblood, Don Sparks / Sinopse: Garota nada comum se apaixona por um cara quadradinho, que não consegue fugir da linha. O improvável romance porém passará por muitos problemas ao longo do tempo.

Pablo Aluísio.

Um Olhar do Paraíso

Achei um bom filme, não é uma maravilha mas é bom entretenimento. Como estamos em um tipo de moda do espiritismo no cinema o filme certamente irá agradar a quem segue essa doutrina religiosa. O roteiro nunca se assume como tal mas os dogmas do Kardecismo estão praticamente todos lá. É uma produção que se revela apenas boa mas não excepcional. O problema é que muitos foram com expectativas altas, por se tratar de Peter Jackson. A direção dele não é excelente mas é correta. Visualmente o filme é bem feito e tem ótimas soluções visuais nas cenas ambientadas no "lado de lá" (o mundo espiritual é retratado com requinte e bom gosto). Não parece mas no fundo estamos na presença de um filme sobre um Serial Killer com mensagem espiritualista! Além disso o argumento inova ao ser contado sob o ponto de vista das vitimas. Isso não deixa de ser uma boa inovação já que estamos acostumados a assistir filmes de assassinos em série em que quase sempre as vitimas são ignoradas ou então transformadas em mero objeto dos assassinos nos roteiros. Aqui ela tem voz. Narrado em primeira pessoa a garotinha assassinada vai localizando o espectador na trama. O argumento também está correto do ponto de vista técnico, já que serial killers geralmente são como retratados no filme: para a sociedade se mostram de forma cordial, acima de quaisquer suspeitas e levam uma fachada de vida pacata. São ótimos camaleões sociais. Por baixo dessa fachada são assassinos cruéis e brutais. Esses são os pontos positivos.

A parte negativa surge em determinadas atuações. O elenco é irregular. Ao lado da ótima atuação de Stanley Tucci temos que aguentar Mark Wahlberg, péssimo como sempre. A garota Saoirse Ronan é talentosa e tem futuro. Já tinha gostado dela em "Desejo e Reparação" e agora seu talento se confirma. Dona de um olhar muito marcante ela se sobressai e consegue carregar uma produção desse porte sem se intimidar. Para minha total surpresa temos uma surpreendente fraca atuação de Rachel Weisz (e olha que considero ela uma boa atriz). Aqui surge sem inspiração e envolvimento. Quem acaba salvando o filme é realmente Susan Sarandon. Com boa postura e trabalho elegante ela mostra porque é considerada uma das grandes profissionais do cinema americano. Talvez o filme soasse melhor se não tivesse uma duração tão longa. Ela me pareceu excessiva. Além disso os efeitos digitais muitas vezes perdem o foco do enredo apenas para deixar impressionado o público. Um pouco mais de inibição nesse ponto cairia bem. Apesar de todas essas observações não deixarei de recomendar essa obra. O título original, que pode ser traduzido como “ossos queridos”, se refere aos restos mortais da jovem garota que seguem desaparecidos. Assim, em conclusão digo que é aquele tipo de filme que você deve procurar assistir pelo menos uma vez na vida.

Um Olhar do Paraíso (The Lovely Bones, Estados Unidos, 2009) Direção: Peter Jackson / Roteiro: Fran Walsh, Philippa Boyens, Peter Jackson / Elenco: Saoirse Ronan, Mark Wahlberg, Rachel Weisz, Susan Sarandon, Stanley Tucci. / Sinopse: Susie Salmon (Saoirse Ronan) é uma jovem garota de apenas 14 anos que é assassinada de forma brutal por um vizinho, um serial killer que se faz passar por um pacato e simples cidadão em seu bairro. Narrado em primeira pessoa a garota acaba narrando tudo o que lhe aconteceu e os efeitos de sua morte na existência de todos que viveram e a amaram em vida. Indicado ao Oscar de Melhor Ator Coadjuvante (Stanley Tucci).

Pablo Aluísio.

A Missão

No século XVII o mercador de escravos Mendoza (Robert De Niro) entra em crise existencial após a morte de Felipe (Aidan Quinn) em um duelo. Era seu irmão. Os problemas começaram após ele se envolver amorosamente com Carlotta (Cherie Lunghi), um romance que não contava com a aprovação de Mendoza. No funfo ele sabia que a formosa jovem não era a esposa ideal pois moralmente deixava a desejar em seus atos e romances com outros homens da colônia. Para tentar superar sua dor, Mendoza resolve entrar para o clero e se torna padre. Junto ao jesuíta Gabriel (Jeremy Irons) ele começa uma nova fase em sua vida, marcada pela luta em defesa das populações nativas do novo mundo. O Índio é visto como um produto e um instrumento de trabalho pelos colonizadores. Não tarda a nascer assim um conflito envolvendo de um lado os membros da coroa e o clero religioso dos jesuítas. "A MIssão" é um filme de encher os olhos. Filmado em belas locações na Colômbia, Argentina e Brasil, o filme ainda hoje causa impacto pela beleza de suas imagens. A natureza do chamado "novo mundo" nunca esteve tão belamente fotografada como aqui.

Tudo foi filmado praticamente no meio da selva, com índios verdadeiros como figurantes. As próprias filmagens se tornaram um grande problema para a equipe de ingleses e americanos que se aprofundaram nas selvas tropicais da América do Sul. Vários membros pegaram doenças tropicas e tiveram que retornar ao seu país para tratamento. Os equipamentos também sofreram diversas panes por causa do excessivo calor e umidade da mata fechada. Mesmo com tantos problemas o filme é um dos mais belos e historicamente corretos já lançados no cinema até hoje. Mostra muito bem os diversos interesses envolvidos no período de colonização da América espanhola e portuguesa. De um lado os traficantes de escravos, do outro os missionários jesuítas em sua luta para catequizar os nativos e no meio dessa batalha entre a cruz e a espada as populações indígenas, que sofreram todos os tipos de abusos e explorações imagináveis. O roteiro é muito bem trabalhado. O bom resultado facilmente se vê na tela. A consagração veio em Cannes quando finalmente ganhou, merecidamente, a Palma de Ouro. Imperdível para amantes da história e do bom cinema.

A Missão (The Mission, Estados Unidos, Inglaterra, 1986) Direção: Roland Joffé / Roteiro: Robert Bolt / Elenco: Robert De Niro, Jeremy Irons, Ray McAnally, Aidan Quinn e Cherie Lunghi / Sinopse: Após a morte de seu irmão, Mendoza (Robert De Niro) resolve entrar para o clero onde fica sob as ordens do bem intencionado padre Gabriel (Jeremy Irons) que luta para preservar os direitos dos povos nativos da região. Lutando contra ele estão os exploradores de mão de obra escrava que tencionam vender as populações indígenas para o mercado negro da escravidão.

Pablo Aluísio.

sexta-feira, 7 de dezembro de 2012

Tiros em Columbine

Ótimo filme. Eu gosto do Michael Moore, embora ele muitas vezes coloque seu partidarismo acima de tudo (os democratas sempre são mocinhos e os republicanos sempre são vilões em sua forma de pensar). Aqui ele debate a questão das armas nos EUA, que infelizmente podem ser encontradas para venda em qualquer lugar, até mesmo no posto de gasolina mais próximo. Com mais gente armada, mais chances de acontecer uma tragédia como aconteceu no colégio em Columbine quando dois jovens alucinados se armaram até os dentes e mandaram fogo em colegiais inocentes. Em minha opinião a tese defendida por Michael Moore é válida e concordo com ele. A par disso a cena que mais lembro de Columbine é aquela em que Charlton Heston aparece defendendo o uso de armas de fogo. Velho e alquebrado o ídolo do passado não lembra em nada seus heróicos papéis no cinema. É duplamente deprimente a cena. Primeiro por ver um ídolo como aquele defendendo esse tipo de ideologia que hoje em dia não mais se sustenta. Segundo porque vemos um homem no crepúsculo de sua vida ignorando massacres como o de Columbine, que de certa forma foi um efeito cruel das idéias que defende em cena. Ele simplesmente se nega a falar sobre o assunto. Lamentável.

O calcanhar de Aquiles do filme porém é a falta de parcialidade de Michael Moore. Assim você nunca vai ver uma crítica a um democrata nos filmes dele. Nenhum parlamentar do partido que defenda a comercialização das armas aparece em cena. Michael Moore é um membro desse partido e sendo assim só sabe falar mal do partido republicano. Uma pena que ele partidarize tanto o tema. Outro aspecto a se criticar é o pouco espaço que o diretor abre para as vítimas de Columbine. Os dois estudantes que mataram seus colegas acabam ganhando mais espaço em cena, o que acho bem equivocado. Para sanar isso eu aconselho ao espectador que pesquise no Youtube pois há vários vídeos feitos por familiares e amigos sobre os jovens que foram mortos, alguns são muito tocantes, como a de uma jovem que sonhava virar uma missionária nos países pobres. É realmente lamentável que pessoas tão boas, com esse tipo de índole, tenham sido mortas de forma tão sem sentido e brutal. Por essas e outras razões também defendo, como o diretor, um rígido controle de vendas de armas pois nunca se sabe em quais mãos elas vão parar. Lamentavelmente os eventos de Columbine acabaram se multiplicando em vários outros colégios e universidades americanas nos anos seguintes. Virou uma espécie de modelo do crime. Pessoas descontentes com suas vidas acabaram cometendo atos terríveis em um espiral de insanidade sem freios. Aonde afinal tudo isso vai parar? Será que algum dia Columbine deixará de inspirar todos esses homicidas? Só nos resta esperar que sim.

Tiros em Columbine (Bowling For Columbine, Estados Unidos, 2002) Direção: Michael Moore / Roteiro: Michael Moore / Elenco: Michael Moore, Charlton Heston,  Mike Bradley, Marilyn Manson / Sinopse: Documentário em que o diretor Michael Moore tenta lançar uma luz sobre o terrível massacre ocorrido em Columbine, quando dois jovens fortemente armados atiraram em seus colegas de escola. Treze estudantes foram mortos e vinte e um feridos. "Tiros em Columbine" foi o vencedor do Oscar de Melhor Documentário e o César de Melhor Filme Estrangeiro.

Pablo Aluísio.

O Poderoso Joe

Esse personagem surgiu pela primeira vez no cinema americano na década de 40. Ele é de certa forma  um reflexo do enorme sucesso que King Kong alcançou. Seria um genérico criado por um estúdio rival para capitalizar em cima do tema que foi tão bem explorado por Kong. O filme original se chamava "Mighty Joe Young" e foi lançado em 1949. Cinquenta anos depois os estúdios Disney resolveram ressuscitar o antigo gorila e o trouxeram de volta nesse bom remake, que não chega a surpreender em nada, mas que pode ser visto como boa diversão. Bem realizado, com efeitos especiais de primeira linha (que podem soar levemente datados hoje em dia), o filme é indicado para o público mais jovem, na faixa etária que vai até os 16 anos. O enredo é simples: Gregg O´Hara (Bill Pacton) é um especialista em expedição pelo continente africano. Ele procura por um lendário gorila de tamanho desproporcional, quase gigante, que virou um tipo de lenda em sua região. Seu objetivo é encontrar o animal para levá-lo a um santuário nos Estados Unidos. Agindo assim ele o salvará de ser alvejado por caçadores ambiciosos.

Para tornar mais fácil sua localização o cientista conta com a ajuda de Jill (Charlize Theron) que conhece o grande primata desde garota. Ao longo dos anos ela conseguiu desenvolver uma espécie de linguagem que lhe permite se comunicar com Joe. A ida de Joe para a América porém não será tão fácil como se imagina. Basta ler esse argumento para perceber como ele é praticamente semelhante ao do clássico King Kong. No fundo o filme original da década de 40 nada mais era do que uma bela desculpa para trazer novamente um monstro em forma de gorila gigante destruindo a civilização. E isso "O Poderoso Joe" tem de sobra. No elenco o que se destaca mesmo é a presença da linda Charlize Theron, ainda uma desconhecida tentando alcançar um lugar ao sol. Jovem e bonita ela ofusca totalmente o grande Joe, que obviamente fica babando em sua estonteante presença. Enfim, fica aí a dica para hoje: O Poderoso Joe, um filme genérico para quem adora o velho King Kong. 

O Poderoso Joe (Mighty Joe Young, Estados Unidos,1998) Direção: Ron Underwood / Roteiro: Lawrence Konner, Mark Rosenthal, Holly Goldberg Sloan / Elenco: Charlize Theron, Bill Paxton, Rade Serbedzija, Naveen Andrews, David Paymer, Peter Firth, Regina King, John Alexander. / Sinopse: Cientista americano tenta levar um gorila gigante da África para os Estados Unidos, uma tareja que se mostrará muito complicada.

Pablo Aluísio.

quinta-feira, 6 de dezembro de 2012

O Diário de Bridget Jones

O tempo passa rápido demais. Eu me recordo que há mais de dez anos quando o nome da texana Renée Zellweger foi anunciado para fazer o papel de Bridget Jones a reclamação foi generalizada. Isso porque Jones era uma personagem tipicamente britânica que já tinha seu público formado por causa dos livros de grande sucesso editorial. E qual era a razão de todo esse sucesso? Bridget Jones era muito humana, uma mulher comum que lutava contra os estereótipos impostos pela sociedade. Ela tinha mais de 30 anos, era solteira, com peso acima da média, fumava e se comportava de forma inadequada. Se em países como Brasil mulheres com esse perfil sofrem preconceito imagine na Inglaterra onde os padrões sociais são bem mais rígidos! Mesmo com toda essa pressão Bridget Jones não deixava de sonhar, ser irônica e dentro de suas possibilidades, ser feliz. Com tanta personalidade não é de se admirar que tenha criado tanta identificação em suas leitoras. Claro que uma personagem tão querida assim se torna bem complicada de transpor para as telas mas diante do resultado final desse filme podemos ter certeza que tudo saiu a contento. Até a americana Renée Zellweger se saiu maravilhosamente bem. Contratou uma especialista em sotaques e realmente brilhou falando exatamente como uma inglesa de sua posição social.

Como se não bastasse a atriz ainda se esforçou para trazer o biótipo de Bridget Jones, engordando vários quilos em um curto espaço de tempo. Em entrevistas defendeu o direito das mulheres serem acima de tudo "normais", bem longe dos ideais de beleza impostos por revistas e agências de moda. Eu achei bem curiosas suas declarações pois logo após a conclusão do filme Renée se submeteu a um rigoroso regime com baterias de exercícios físicos para recuperar a forma, ficando mais de acordo com os mesmos padrões de magreza que criticou durante o lançamento do filme! Será que tudo o que falou foi da boca pra fora? É possível. Voltando ao filme: O Diário de Bridget Jones é uma comédia romântica muito simpática mas de certa forma menos ácida do que o livro no qual se inspirou. Isso porém não é defeito ou demérito até porque nem sempre adaptações de livros no cinema costumam ser fiéis. Agora inegavelmente o charme e o carisma de Renée Zellweger emprestaram muita força para a personagem em cena. Ela tem esse jeito pessoal de ficar bem pouco á vontade, nervosinha, chegando a se tornar atrapalhada. Isso casou muito bem com sua personagem resultando tudo em ótimos momentos de humor. O filme não foi um sucesso espetacular nas bilheterias mas se saiu bem, rendendo quase quatro vezes o seu custo inicial o que abriu as portas para uma continuação. Para quem ainda duvidava do potencial de se tornar uma estrela de Renée Zellweger a produção veio como uma confirmação do brilho próprio da atriz.

O Diário de Bridget Jones (Bridget Jones' Diary, Estados Unidos, 2001) Direção: Sharon Maguire / Roteiro: Helen Fielding, Richard Curtis, Andrew Davies / Elenco: Rénee Zellweger, Colin Firth, Hugh Grant, Gemma Jones, Jim Broadbent, Embeth Davidtz, Shirley Henderson, Sally Phillips, James Callis./ Sinopse: Bridget Jones (Renée Zellweger) é um solteirona com problemas de auto estima que encontra uma grande chance de finalmente subir em sua carreira. Além disso está prestes a encontrar o homem de seus sonhos. Porém nada disso será fácil.

Pablo Aluísio.

Quatro Amigas e Um Jeans Viajante

O cinema direcionado ao público jovem já teve dias melhores mas de vez em quando surge alguma produção que vale a pena assistir pelo menos uma vez. É o caso desse "Quatro Amigas e um Jeans Viajante" que foi baseado no livro de sucesso da escritora Anne Brashares, muito querida entre o público adolescente feminino. Seu universo obviamente se baseia na vida de garotas da idade de seu público leitor. Assim acompanhamos em sua sobras os amores, os pensamentos e anseios de jovens na faixa de 15 a 18 anos. Esse aqui conta a estória de quatro amigas que vão vivendo as experiências dessa fase de sua vida. Ligando tudo uma velha calça jeans surrada vai sendo  usada sucessivamente por todas elas. O elenco é especialmente interessante para o público mais ligado em séries americanas pois o quarteto principal do filme é todo dessa área. Lá estão Alexis Bledel de "Gilmore Girls", Blake Lively de "Gossip Girl" e Amber Tamblyn de "Joan of Arcadia". O filme é indicado, claro, para adolescentes pois certamente elas vão se identificar com as situações que as protagonistas vivem.

Como se trata de uma adaptação de um livro famoso entre o público teen e como o tom da produção é livre de baixarias e afins, "Quatro Amigas e um Jeans Viajante" acabou fazendo bastante sucesso, o que garantiu uma continuação alguns anos depois. O diretor  Ken Kwapis também veio do mundo das séries de TV americanas e esse segue, até o momento, como seu maior sucesso de bilheteria. Como não poderia deixar de ser para um filme como esse a trilha sonora também se destaca com vários sucessos que depois fizeram bonito nas principais paradas dos EUA. Enfim, é isso. "Quatro Amigas e um Jeans Viajante" é uma boa opção para a galerinha mais jovem, que ainda está naquele momento tão complicada da vida de todos, a conturbada adolescência. Para eles fica a dica.

Quatro Amigas e Um Jeans Viajante (The Sisterhood Of The Traveling Pants, Estados Unidos, 2005) Direção: Ken Kwapis / Roteiro: Delia Ephron, Elizabeth Chandler / Elenco: Amber Tamblyn, Blake Lively, Alexis Bledel, America Ferrera, Bradley Whitford, Nancy Travis, Rachel Ticotin, Jenna Boyd / Sinopse: Quatro amigas na adolescência passam por mudanças, amores e situações dramáticas em suas vidas. Baseado no best seller da literatura juvenil de mesmo nome escrito por Anne Brashares.

Pablo Aluísio.

quarta-feira, 5 de dezembro de 2012

Espelho, Espelho Meu

Depois do grande sucesso da versão cinematográfica de Alice dirigido por Tim Burton praticamente todo estúdio em Hollywood anunciou uma nova versão de algum conto de fadas. Esse "Espelho, Espelho Meu" foi apenas mais um deles. O mais curioso é que não é o único a ser feito tentando trazer de volta às telas o conto de fadas "Branca de Neve e os Sete Anões". Há um outro projeto bem mais ambicioso estrelado por Kristen Stewart. Se aquele tem cara de "Branca de Neve invade a Terra Média" por causa da semelhança absurda da produção com a franquia "O Senhor dos Anéis" esse aqui é bem mais modesto em suas pretensões. O projeto é mais um ataque de egolatria de Julia Roberts que há tempos procura reencontrar o caminho do sucesso. Não será com esse "Mirror, Mirror" que ela vai alcançar os seus objetivos. O filme foi lançado na semana em que "Jogos Vorazes" dominava as bilheterias o que fez o filme ser praticamente ignorado - embora não tenha sido o fracasso todo que algumas notícias divulgaram. A tônica aqui é realmente de filme infantil, uma produção feita para as crianças embora tome certas liberdades com o conto original (nem sempre de forma feliz). Os anões foram provavelmente os personagens mais prejudicados. Na versão de Disney - a melhor já feita até hoje - eles eram trabalhadores divertidos, pessoas do bem. Já aqui viram um bando de ladrões, salteadores, infames. Embora o roteiro tente trazer um certo humor e suavidade ao grupo eles surgem em cena mal encarados, antipáticos, nada parecidos com os anões que conhecemos em nossa infância. Também surgem com nomes diferentes, nada simpáticos, um inclusive é chamado de "Açougueiro", imagine você! As pernas de pau que usam é outra coisa totalmente fora de propósito, sem qualquer atrativo.

A atriz que faz Branca de Neve, Lily Collins, foi prejudicada por uma maquiagem muito pesada, nada sutil ou elegante. Com sobrancelhas enormes e pretas tudo soa muito deselegante. O pior é que a moça é bonita, não precisavam estragar seu bonito rosto com tudo aquilo. Será que a Julia Roberts a enfeiou propositalmente com medo dela roubar o filme? Não duvido nada. Se fez isso então ela agiu exatamente como a rainha má que interpreta o que não seria surpresa nenhuma. Ao natural Lily é bela, delicada e lembra em certos momentos Audrey Hepburn mas no filme surge praticamente "escondida" sob a maquiagem fora de tom. A produção do filme também não é melhor. A direção de arte é muito excessiva, não particularmente bonita ou de bom gosto. Tudo é muito kitsch, mesmo sendo um conto de fadas deveriam ter trilhado um caminho mais soft do que é apresentado em cena. O roteiro também não agrada. Tenta contar a velha estória de uma forma inovadora o que é um erro. Contos de fadas foram escritos e passados de gerações em gerações para ensinar valores morais e culturais para a criançada. São simples por natureza e devem permanecer assim. Qualquer tentativa de mudar sua essência é bem condenável sob qualquer ponto de vista. Provavelmente Jacob e Wilhelm Grimm estejam se revirando na tumba com o que fizeram com sua estorinha. Lamentável.

Espelho, Espelho Meu (Mirror, Mirror, Estados Unidos, 2012) Direção: Tarsem Singh / Roteiro: Jason Keller, Marc Klein, Melisa Wallack baseado no conto de fadas escrito por Jacob Grimm e Wilhelm Grimm / Elenco: Lily Collins, Julia Roberts, Armie Hammer, Nathan Lane, Sean Bean / Sinopse: Branca de Neve (Lily Collins) fica sob os cuidados da madrasta, a Rainha (Julia Roberts) após seu pai desaparecer na floresta negra.

Pablo Aluísio.

Cosmópolis

"Cosmópolis" não é um filme fácil. A estória se passa quase toda dentro de uma limousine de luxo. É de dentro dela que o excêntrico milionário Eric Packer (Robert Pattinson) vê o mundo ai seu redor. No fundo ele apenas tenciona ir até o seu barbeiro preferido, que fica do outro lado de Nova Iorque. O problema é que o caminho de seu escritório até lá não será nada fácil pois o presidente dos Estados Unidos se encontra na cidade, o que significa avenidas interditadas, muita segurança pelas ruas e manifestações generalizadas atrapalhando o já caótico trânsito da cidade. Assim, enquanto ele não consegue chegar em seu destino vai recebendo as pessoas dentro de sua carro. Executivas de sua indústria, jovens gênios da informática (retratados como nerds bobocas), prostitutas e até seu médico pessoal entram na limousine para tratar assuntos com o milionário. Ele por sua vez tem dois problemas urgentes a lidar: seu casamento com uma garota muito incomum (e milionária como ele) e a preocupação com a moeda chinesa pois sua valorização ou desvalorização nas bolsas pode significar lucros imensos ou prejuízos avassaladores para ele. 

Como se pode perceber "Cosmópolis" não é uma produção feita para agradar a todo mundo. De fato o filme acabou se tornando campeão no quesito "abandono". Muitas pessoas simplesmente não compram a idéia do filme (que se passa todo dentro do banco traseiro de um carro) e simplesmente vão embora no meio da exibição. As duas pessoas que assistiam ao meu lado não aguentaram e abandonaram a exibição com pouco mais de 30 minutos. Realmente sua narrativa pode se tornar absolutamente intragável para o grande público. A idéia pouco usual é mais um projeto do sempre surpreendente cineasta David Cronenberg. O problema é que agora nem a crítica e nem o público gostaram do resultado. O filme foi lançado em Cannes pois o diretor esperava uma reação maravilhosa ao argumento inovador. Não foi o que aconteceu. O público odiou e a crítica detestou. Assim "Cosmópolis" naufragou no grande festival, sendo acusado de ser muito enfadonho, chato e aborrecido. Para piorar o filme é estrelado pelo ídolo teen Robert Pattinson, que surge em cena apático, desmotivado, sem inspiração. De fato nem as fãs de Crepúsculo apreciarão o filme. É uma idéia que simplesmente não deu certo. Até dá para assistir sem abandonar pela metade mas isso vai exigir um esforço extra do espectador que terá que ter uma dose extra de paciência para aguentar as excentricidade de Cronenberg. Arrisque e tente chegar até o final.

Cosmópolis (Cosmópolis, Estados Unidos, 2012) Direção: David Cronenberg / Roteiro: David Cronenberg / Elenco: Robert Pattinson, Samantha Morton, Jay Baruchel, Paul Giamatti, Kevin Durand, Juliette Binoche, Sarah Gadon, Mathieu Amalric, Emily Hampshire / Sinopse: Enquanto tenta atravessar Nova Iorque para ir em seu barbeiro preferido, um milionário vai recebendo diversas pessoas no banco de trás de sua luxuosa limousine.

Pablo Aluísio.

terça-feira, 4 de dezembro de 2012

Dúvida

Meryl Streep tem uma filmografia muito rica e para minha surpresa a cada ano praticamente surge uma obra prima estrelada pela atriz. Sua capacidade de estar em excelentes produções é incomparável. No meio de tantas preciosidades é até comum que alguns desses filmes passem relativamente despercebidos. Um exemplo é esse "Dúvida". Baseado na peça teatral de John Patrick Shanley, que também assina o roteiro e a direção, a trama se passa em uma escola católica no ano de 1964. O mundo havia mudado, havia um ar de renovação e frescor nos costumes e na nova geração mas dentro dos muros daquela instituição de ensino ainda reinava a disciplina e a austeridade, tão inerentes à doutrina católica. Nesse ambiente de forte tradição chega para lecionar um padre jovem, cheio de novas idéias. O padre Flynn (Philip Seymour Hoffman, como sempre ótimo) tenta trazer um pouco de inovação dentro daquele ambiente mas bate de frente com a conservadora irmã Aloysius Beauvier (Meryl Streep), que deseja que tudo continue do jeito como está. Ela acredita na força da disciplina e do respeito e não parece nem um pouco disposta a abrir mão disso.

Assim a escola St. Nicholas vira palco de um luta interna pelo coração e mente de seus alunos. De um lado o pensamento mais inovador e liberal do padre Flynn, do outro a austeridade e autoridade da irmã Beauvier. Com o advento da política de direitos civis a escola acaba aceitando seu primeiro aluno negro, o rapaz Donald Miller (Joseph Foster). Sua entrada na instituição é vista como uma revolução pelo padre Flynn que se aproxima do novo aluno para lhe orientar em sua nova escola. Essa estreita amizade porém acaba criando boatos, alimentados pela jovem irmã James (Amy Adams). Era justamente isso que esperava a personagem de Meryl Streep pois o rumor se torna uma grande arma para ela em sua queda de braço com Flynn. "Dúvida" é um filme extremamente inteligente, bem escrito, que se baseia principalmente em atuações de alto nível e diálogos ricamente construídos. A presença de um trio de atores tão talentoso torna a experiência de assistir "Doubt" um enorme prazer. A guerra entre os dois personagens principais é sutil, psicológica, mas não menos cruel. De certa forma é um retrato do conflito interno vivido hoje pela Igreja Católica. Em suas entranhas também se trava uma guerra entre membros mais conservadores e outros mais liberais. A tensão é latente e o roteiro de "Dúvida" joga excepcionalmente bem com esse dualismo. Em suma, eis uma das melhores obras cinematográficas surgidas nos últimos anos. Não deixe de assistir.

Dúvida (Doubt, Estados Unidos, 2008) Direção: John Patrick Shanley / Roteiro: John Patrick Shanley / Elenco:  Meryl Streep, Philip Seymour Hoffman, Amy Adams, Viola Davis, Alice Drummond / Sinopse: Um jovem padre da linha mais liberal da Igreja Católica, Flynn (Philip Seymour Hoffman), entra em choque com a conservadora Aloysius Beauvier (Meryl Streep). Em jogo o modo de administrar a escola. A irmã acredita em disciplina, ordem e tradição. Já o padre acredita em liberdade, inovação e renovação. Está assim armado o conflito entre ambos. Vencedor do Screen Actors Guild Awards de melhor atriz para Meryl Streep.

Pablo Aluísio.

domingo, 2 de dezembro de 2012

O Lorax

Mais uma animação baseada na obra de Theodor Seuss Geisel (1904 - 1991), autor mais conhecido como Dr. Seuss. Suas estórias, muito líricas e singelas, procuravam ensinar valores humanos às crianças. Seu texto é muito rico e em sua singeleza conseguia passar grandes mensagens para os mais jovens. Esse "O Lorax" é uma de suas obras mais conhecidas. Publicado originalmente em 1971, esse pequeno conto ecológico demonstrava a preocupação do autor em relação ao desmatamento sem controle das grandes reservas florestais. Seu alvo é a indústria, que destrói a natureza para lucrar cada vez mais. Na estória acompanhamos um jovem garoto de 12 anos que resolve ir atrás de uma árvore de verdade pois na cidade em que mora tudo é feito de plástico e materiais industriais. Não existe mais natureza pois ela foi devastada por um poderoso industrial que agora enriquece vendendo ar puro engarrafado. Lorax é o guardião da floresta que tenta de algum modo salvar a natureza. A mensagem como se vê é muito bonita e tocante e cria consciência ecológica nas crianças, isso muito antes da ecologia virar moda mostrando que o Dr. Seuss estava bem à frente de seu próprio tempo. Era um humanista e esse humanismo ele conseguiu passar com raro brilhantismo para seus 60 livros publicados. De certa forma era um artista tão inspirado quanto Walt Disney, só que de forma mais modesta ia divulgando suas idéias através de seus vários personagens, muitos dos quais estão sendo adaptados para o cinema.

A animação é uma produção conjunta entre a Universal e a Illumination Entertainment. Como se pode perceber ao longo do filme esse é a mesma companhia que produziu o grande sucesso "Meu Malvado Favorito". Alguns personagens desse filme inclusive fazem pequenas aparições ao longo de "Lorax". A  Illumination deixou bastante a desejar com sua animação anterior, "Hop - Rebeldes sem Páscoa" mas agora voltam à boa forma e ao sucesso de bilheteria pois "Lorax" conseguiu romper a barreira dos 300 milhões de dólares em faturamento, um número realmente excepcional para uma animação como essa. No fundo esse sucesso prova apenas a imensa qualidade do material que foi criado pelo Dr. Seuss. Não basta apenas ter tecnologia para produzir uma animação bonita, tem que ter conteúdo e isso Seuss tinha de sobra. Assim fica a recomendação. "O Lorax", uma pequena parábola sobre os problemas da sociedade industrial em que vivemos.

O Lorax (The Lorax, Estados Unidos, 2012) Direção: Chris Renaud, Kyle Balda / Roteiro: Ken Daurio baseado na obra do Dr. Seuss / Elenco (Vozes):  Zac Efron, Taylor Swift,  Danny DeVito,  Taylor Swift,  Betty White / Sinopse: Um jovem ambicioso pretende vender seu novo produto, uma malha resistente e eclética feita a partir de árvores da floresta. Após conseguir industrializar sua invenção ele começa a destruir toda a floresta da região onde mora. Para defender a natureza surge Lorax.

Pablo Aluísio.

sábado, 1 de dezembro de 2012

O Aviador

Howard Hughes (1905 - 1976) não era um sujeito comum. Filho único de um dos maiores industriais dos Estados Unidos, já nasceu bilionário. Excêntrico ao extremo, cheio de manias, entrou para a história americana por causa de seus projetos ousados e inovadores. Foi o primeiro a visualizar a oportunidade de tornar comercialmente viável uma rota de aviação para transporte regular de passageiros entre Estados Unidos e Europa. Investiu em filmes na era de ouro de Hollywood, criando sob sua produção alguns clássicos imortais da sétima arte. Além disso foi figura de ponta em suas indústrias pois amava tecnologia e investiu pesadamente na área criando nesse processo uma série de invenções que até hoje fazem parte do dia a dia de milhares de pessoas mundo afora. Era aventureiro e revolucionário mas em segredo escondia vários problemas mentais que foram minando o homem ao longo dos anos. Com uma história tão rica não faltaria assunto certamente para contar sua biografia no cinema. O diretor Martin Scorsese há muitos anos queria mostrar a vida de Howard Hughes nas telas e conseguiu após receber um excelente roteiro feito sob encomenda escrito por John Logan. O texto era enxuto e se focava nos aspectos mais interessante da vida de Hughes, exatamente o que Scorsese buscava há muitos anos.

Para surpresa de muitos o diretor acabou escalando para o papel principal o ator Leonardo DiCaprio. Certamente ele não era parecido com Howard Hughes mas demonstrou ter tanta paixão pelo material e pelo roteiro que Scorsese simplesmente não conseguiu recusá-lo. Decisão acertada pois Leonardo demonstra muita sensibilidade para interpretar o famoso industrial. Fugindo de armadilhas fáceis que poderia cair por interpretar uma pessoa com problemas mentais, ele optou por uma atuação no tom correto, respeitosa e que nunca cai na caricatura. Embora excelente o ator foi completamente ignorado pelo Oscar que resolveu premiar sua partner em cena, a talentosa Cate Blanchett que aqui interpreta a grande Katherine Hepburn, um mito do cinema que era amiga pessoal de Hughes. Por falar em Oscar o filme teve várias indicações mas fora o Oscar de Melhor Atriz Coadjuvante dado a Blanchett, tudo o que conseguiu vencer foram Oscars técnicos (Edição, Direção de Arte, Figurino e Fotografia). Em minha opinião merecia mais. Uma produção que consiga captar tão bem a essência de uma pessoa tão complexa como Hughes merecia bem mais.

O Aviador (The Aviator, Estados Unidos, 2004) Direção: Martin Scorsese / Roteiro: John Logan / Elenco: Leonardo DiCaprio, Cate Blanchett, Kate Beckinsale, Jude Law / Sinopse: Cinebiografia do industrial Howard Hughes, um homem à frente de seu tempo que tinha que lidar não apenas com os desafios de sua posição mas também com um terrível problema mental que o afligia.

Pablo Aluísio.

Killer Joe - Matador de Aluguel

A primeira coisa que chama atenção nessa adaptação para o cinema da peça teatral de Tracy Letts é a direção do cineasta William Friedkin, o mesmo do clássico "O Exorcista". Afastado do cinema há seis anos ele agora retorna com essa curiosa crônica sobre uma família completamente desestruturada que resolve contratar os serviços do assassino profissional Joe Cooper (Matthew McConaughey). Chris (Emile Hirsch), o filho mais velho, está cheio de dívidas, devendo a apostadores e bandidos de todos os tipos. Para pagar e escapar vivo ele contrata "Killer" Joe para matar sua própria mãe pois essa tem uma apólice de seguros no valor de 50 mil dólares. Para convencer o assassino a realizar o serviço sem o pagamento adiantado ele coloca sua própria irmã, Dottie (Juno Temple) como "garantia"! Ela é uma garota inocente que não tem muita consciência da crueldade de toda a situação. Como se pode perceber a trama é sórdida, cruel, mas o filme tenta de alguma forma suavizar as coisas. Não chega a assumir um tom cômico mas em contrapartida não carrega nas tintas. A família enfocada pelo roteiro é formada por brancos pobres do Texas. Pessoas que vivem em trailers, sem qualquer tipo de estrutura. Os pais são divorciados, o filho vive de pequenos golpes e todos sobrevivem à margem da lei. É o que os americanos chamam de "White Trash", uma denominação pejorativa para essa camada social.

O elenco traz o bom ator Emile Hirsch, do ótimo "Na Natureza Selvagem". Embora tenha tido um começo promissor o enorme fracasso comercial de "Speed Racer" quase acabou com a carreira do rapaz. Agora ele tenta um retorno, voltando para os pequenos filmes, de linha mais independente, que alavancaram sua vida profissional em seu começo. Matthew McConaughey também se destaca como o personagem principal, Killer Joe, um típico caipira red neck do Texas que é muito eficiente em seu "trabalho". Ele é policial mas nas horas vagas aceita encomendas de assassinatos. É curioso que muito da peça teatral esteja na estrutura do filme, principalmente em sua cena final quando praticamente todos os personagens se encontram para um acerto de contas definitivo. Diálogos bem estruturados e reviravoltas na trama mantém o interesse mas confesso que esperava um pouco mais do resultado final por causa da presença de William Friedkin. Ele não brilha tanto em sua direção, mantendo-se discreto o tempo todo, sem grandes arroubos de criatividade. De certa forma peca por omissão. Apesar disso no saldo final "Killer Joe" se destaca por causa de sua trama bem construída e pelo bom desempenho de seu elenco. Por essas razões vale a indicação.

Killer Joe - Matador de Aluguel (Killer Joe, Estados Unidos, 2012) Direção: William Friedkin / Roteiro:  Tracy Letts baseada em sua própria peça, "Killer Joe" / Elenco: Matthew McConaughey, Juno Temple, Emile Hirsch,  Thomas Haden Church,  Gina Gershon / Sinopse: Para saldar suas dívidas com apostadores e bandidos da região um jovem contrata os serviços profissionais de um assassino para matar sua própria mãe pois ela tem um seguro de vida no valor de 50 mil dólares. Com o dinheiro pretende pagar a todos mas as coisas não saem exatamente como ele planejava.

Pablo Aluísio.