sexta-feira, 20 de janeiro de 2012

A Sétima Alma

Ufa, depois de muito sacrifício consegui terminar de ver esse "A Sétima Alma". Foi penoso aguentar porque sinceramente o filme é ruim demais. Aliás merece uma medalha quem aguentar os vinte minutos iniciais (uma das introduções mais bizonhas que já tive o desprazer de assistir). Depois desse começo bizarrro de ruim o filme se estabiliza e somos apresentados a sete jovens que seriam a reencarnação do tal estripador da estória (um sujeito ridículo usando uma roupa mais ridícula ainda). Pelo que eu resumi aqui já deu para sentir o absurdo do roteiro não é mesmo? Todos os clichês estão aqui. Um grupo de jovens que sabemos que vão ser trucidados? Confere. Uma floresta assustadora? Confere. Um assassino malvadão? Confere. Muita canastrice em cena? Confere. Uma direção obtusa? Confere. Na verdade é uma das produções mais derivativas que já assisti, isso porque imita todas as fórmulas dos filmes de terror com adolescentes da década de 80, só que sem brilho, talento e impacto.

O pior de tudo é saber que na direção do filme não está um medíocre mas sim um dos mais conceituados realizadores do cinema de horror americano. O que aconteceu afinal Wes Craven? O que será que aconteceu com o sujeito para filmar uma mediocridade dessas? Será que perdeu todo o dinheiro que ganhou? Será que perdeu sua casa nessa crise econômica que atinge a economia americana? Será que o Craven está com medo de virar sem teto? Sei não, só pode ser isso porque tem que ter muita coragem para assinar um lixo desses! Provavelmente algum produtor oportunista colocou o cineasta contra a parede para ele realizar um filme como aqueles que ele fez no passado. Ele tirou aquele velho roteiro empoeirado que tinha na gaveta há 30 anos e resolveu ver no que ia dar. Bom, pelo resultado podemos dizer que não deu em nada. Fraquíssimo momento de um bom diretor. Passe longe.

A Sétima Alma (My Soul to Take, Estados Unidos, 2010) Direção: Wes Craven / Roteiro: Wes Craven / Elenco: Max Thieriot, John Magaro, Denzel Whitaker / Sinopse: Um serial killer retorna para sua cidade natal para perseguir e matar sete jovens que completam aniversário na mesma data que o seu.

Pablo Aluísio.

quinta-feira, 19 de janeiro de 2012

Júlio César

Em sua autobiografia Marlon Brando tirou duas conclusões sobre o filme “Júlio César”. A primeira foi que ele era ainda muito jovem e inexperiente para assumir um papel tão complexo em um texto tão rico (e muito fiel ao original escrito por William Shakespeare). O ator ficou inseguro durante as filmagens, também pudera, rodeado de monstros da arte de interpretação, Brando teve que se esforçar muito mais do que o habitual para não só decorar o rebuscado texto como também compreender o que ele significava. A segunda conclusão que Brando chegou é a de que filmes assim não encontram muita recepção e ressonância entre a cultura americana que em essência é a cultura do chiclete e da Coca-Cola, uma cultura que nem chega perto da milenar cultura europeia do qual provém essa maravilhosa peça.

Durante a exibição do filme fiquei pensando na opinião do ator e cheguei na conclusão pessoal de que ele estava certo apenas em termos. Realmente o ator está muito jovem, até inexperiente, para recitar Shakespeare. Atores ingleses obviamente se saem melhor nesse aspecto. Porém é impossível não reconhecer seu talento em duas grandes cenas do filme. A primeira ocorre quando Marco Antônio (Brando) encontra o corpo esfaqueado de César no senado. Se nos primeiros minutos de filme ele está em segundo plano aqui nesse momento assume posição de destaque no desenrolar dos acontecimentos. A segunda grande cena do ator no filme surge depois quando ele discursa para a multidão. Levando o corpo de César nos braços ele joga com as palavras de forma maravilhosa. Essa segunda cena é seguramente um dos maiores momentos de Brando no cinema. Esqueça seus famosos resmungos, aqui ele surge com uma dicção perfeita e uma oratória ímpar (mostrando que sua passagem pelo Actors Studio não foi em vão). Com pleno domínio ele instiga o povo contra os senadores que mataram César. Brando está perfeito no discurso, em um momento realmente de arrepiar.

Sobre o segundo aspecto realmente devo dar razão à opinião do ator. O público americano provavelmente estranhou a forma do filme. A cultura americana (e a nossa, diga-se de passagem) não abre muitas brechas para um texto tão bem escrito e profundo como esse. Os diálogos são declamados com grande eloqüência, por maravilhosos atores. O texto obviamente é riquíssimo em todos os sentidos e ao final de cada grande diálogo o espectador mais atento certamente ficará impressionado pela grandeza que a palavra escrita alcançava nas mãos de Shakespeare. Por se tratar de tão culto autor o filme exige uma certa erudição do público.

O espectador deve entender principalmente o contexto histórico do que se passa na tela (o fim da República Romana e o surgimento do Império). Deve também entender que Brutus (brilhantemente interpretado por James Mason) não é um vilão em cena mas sim um cidadão romano que acreditava no sistema político de então. Aliás é bom frisar que o tempo acabaria de certa forma dando razão a ele e aos senadores que mataram César. Os ideais republicanos de Roma tiveram muito mais influência nos séculos seguintes do que o arcaico e corrupto sistema que foi implantado pelos imperadores que iriam suceder César no poder. O legado do Império acabou mas as fundações do republicanismo que tanto foram defendidas por Brutus seguem firme até os dias de hoje. Enfim, Júlio César é um excelente filme, uma aula de cultura em todos os aspectos. Brando não está menos do que magnífico, apesar de ter ficado inseguro no resultado final. Em tempos de sub-cultura que vivemos “Júlio César” é não menos do que obrigatório

Júlio César (Julius Caesar, Estados Unidos, 1953) Diretor: Joseph L. Mankiewicz / Roteiro: Joseph L. Mankiewicz baseado na obra de William Shakespeare / Elenco: Marlon Brando, James Mason, John Gielgud, Deborah Kerr, Alan Napier./ Sinopse: Júlio César (Louis Calhern) é um habilitoso político e general romano que é assassinado no senado nos idos de março. Após sua morte duas facções se formam, os que querem a morte dos assassinos liderados por Marco Antônio (Marlon Brando) e Otáviano e os que comemoram sua morte liderados por Brutus (James Mason) e Cícero (Alan Napier). O palco da guerra civil está armado.

Pablo Aluísio.

quarta-feira, 18 de janeiro de 2012

O Cálice Sagrado

Esse é o primeiro filme da carreira de Paul Newman. Isso por si só já basta para atiçar a curiosidade de qualquer cinéfilo. Além de Newman há no elenco atores e atrizes que de uma forma ou outra entraram na história do cinema como Jack Palance (como Simão, o Mago) e Pier Angeli (a namoradinha e grande amor da vida de James Dean). Pois bem, a primeira coisa que chama a atenção de quem assiste "O Cálice Sagrado" é sua estranha direção de arte. Tudo soa estilizado no filme, principalmente os cenários que são pouco realistas, parecendo até mesmo ambientações para peças de teatro. Cheguei a pensar que se tratava de uma produção pobre mesmo mas depois em uma cena de crucificação coletiva entendi finalmente a intenção do diretor. Não é que o filme seja mal feito mas se trata realmente de uma opção artística do cineasta Victor Saville (um veterano da época do cinema mudo).

O roteiro mistura ficção com realidade histórica (pelo menos para os que aceitam o conteúdo bíblico como fato histórico). Personagens que na Bíblia são secundários aqui ganham bastante atenção como José de Arimatéia e Simão, o Mago. Esse último é citado no novo testamento como um mágico que desafiou Pedro publicamente. Ofereceu dinheiro pelo poder de realizar milagres e foi repelido pelo principal apóstolo de Cristo. A cena final com Simão tentando provar ao imperador Nero que poderia voar (algo que nem Jesus conseguiu em vida) é muito divertida mesmo. Enfim, apesar de Newman ter odiado sua atuação aqui (chegou a publicar um pedido de desculpas em um jornal americano por sua fraca atuação) não posso dizer que o resultado final seja ruim. "O Cálice Sagrado" é um épico diferente, estranho até em certas passagens, mas que tenta ser inteligente e instigante. Isso já justifica sua existência.

O Cálice Sagrado (The Silver Chalice, Estados Unidos, 1954) Direção: Victor Saville / Roteiro: Thomas B. Costain, Lesser Samuels / Elenco: Paul Newman, Virginia Mayo, Pier Angeli, Jack Palance / Sinopse: Escravo de nome Basilio (Paul Newman) é designado para a confecção daquele que teria sido o último cálice usado por Jesus Cristo na última ceia.

Pablo Aluísio.

terça-feira, 17 de janeiro de 2012

Hatari!

Um grupo de aventureiros caçam animais selvagens na África para eles serem vendidos a Zoológicos ao redor do mundo. Sua rotina de trabalho finalmente muda com a chegada de uma bonita fotógrafa especializada em retratar o reino animal. Hatari é uma aventura muito interessante, com cenas de capturas de animais que prendem a atenção pois são bem reais (bem ao contrário do que se fossem feitas hoje em dia pois teríamos várias tomadas com animais digitais). John Wayne sai um pouco de seus filmes habituais de western para encarnar um personagem diferenciado, mais leve, lidando com várias situações de humor e diversão (algo que ele repetiria também em filmes como por exemplo "O Aventureiro do Pacífico). A atriz que faz seu interesse romântico, a italiana Elsa Martinelli, não me convenceu muito. Com forte sotaque, ela só serve mesmo como babá dos três elefantinhos do filme (sempre lembrados em suas cenas ao som da ótima trilha sonora de Henry Mancini). O roteiro foi baseado no livro de Harry Kurnitz um famoso jornalista da década de 30 que adorava participar de aventuras exóticas em lugares distantes. Seus textos acabariam sendo adotados pelo cinema, inclusive vários deles inspiraram filmes com Errol Flynn durante as décadas de 30 e 40.

A tônica do filme é de humor leve, soft. Bem ao estilo do cineasta que o realizou. O diretor Howard Hawks tinha um grande prestigio em Hollywood e ao longo de sua carreira realizou quase 50 filmes, com grande versatilidade, indo das comédias musicais aos filmes de aventura. Esse Hatari inclusive nem foi seu primeiro trabalho na África pois durante a época dourada do cinema americano ele já havia estado lá filmando o clássico "Uma Aventura na Martinica" com Humphrey Bogart e esposa, Lauren Bacall. Quando ele se deparou com o livro de Kurnitz ficou com a idéia fixa por anos de transpor aquela estória para as telas. Após ter o roteiro de Leigh Brackett em mãos o enviou a John Wayne para saber se ele tinha interesse no filme. Com o sinal positivo do ator finalmente conseguiu que o projeto fosse aceito. Era uma produção cara, filmada em locações africanas e apenas a participação de um grande nome como John Wayne viabilizaria a realização da produção. Aqui em Hatari encontramos todos os elementos que fizeram a fama de Hawks: Belas tomadas abertas, fotografia caprichada e cenas de aventura ao velho estilo. Quem precisa mais? Não deixe de conferir.

Hatari! (Hatari, Estados Unidos, 1962) Direção: Howard Hawks / Roteiro: Leigh Brackett baseado no livro de Harry Kurnitz / Elenco: John Wayne, Elsa Martinelli, Hardy Krüger, Red Buttons, Hardy Krüger / Sinopse: Um grupo de aventureiros caçam animais selvagens na África para eles serem vendidos a Zoológicos ao redor do mundo. Sua rotina de trabalho finalmente muda com a chegada de uma bonita fotógrafa especializada em retratar o reino animal.

Pablo Aluísio.

segunda-feira, 16 de janeiro de 2012

Ou Vai ou Racha!

Mais uma parceria da dupla Jerry Lewis / Dean Martin. Aqui eles protagonizam um verdadeiro Road Movie cômico pois boa parte do filme se passa durante a viagem que ambos fazem, atravessando os EUA de costa a costa para chegar até a Califórnia. No caminho várias cenas de pastelão bem ao estilo de Jerry Lewis. O curioso é que o humor além de físico é muito cartunesco, utilizando linguagem de desenhos animados da época. Esse filme foi o último realizado pela dupla. Dean Martin após inúmeras brigas com Jerry Lewis resolveu se afastar do colega de tantos anos (estavam juntos desde a época em que se apresentavam em clubes de segunda categoria). Martin achava que Lewis não lhe dava o devido reconhecimento e destaque, o que acho injusto pois Dean Martin nada mais era do que uma escada para Jerry brilhar em cena, esse o verdadeiro comediante da dupla. Além disso Jerry Lewis sempre encaixava alguma canção de Martin nos filmes na tentativa de promover o talento musical de Martin (como acontece aqui onde Dean Martin tem a oportunidade de apresentar várias canções). De qualquer forma por um motivo ou outro Jerry iria estrelar sozinho seus filmes daqui em diante, sendo o "Delinquente Delicado" sua primeira produção solo.

Além de ser o último filme da dupla Martin / Lewis, "Hollywood Or Bust" traz ainda duas outras curiosidades. A primeira é a presença de Anita Ekberg no elenco, tentando emplacar no cinema americano. Sua participação não é muito relevante, diria até antipática, mas até que segura bem as pontas (inclusive com poucos diálogos pois não sabia falar muito bem inglês). O segundo ponto forte desse filme é a direção de Frank Tashlin, o melhor diretor de filmes da dupla. Ele inclusive dirigiu aquele que é considerado o melhor filme de Martin / Lewis, o ótimo "Artistas e Modelos". Aqui o resultado é mais modesto. É sem dúvida uma comédia divertida e agradável, mas longe de seus melhores momentos no cinema. Enfim, "Ou Vai Ou Racha" marcou o fim de uma era. Foi a última chance de ver essa bela dupla junta.

Ou Vai Ou Racha! (Hollywood or Bust, Estados Unidos, 1956) Direção: Frank Tashlin / Roteiro: Erna Lazarus / Elenco: Jerry Lewis, Dean Martin, Pat Crowley, Anita Ekberg / Sinopse: Steve Wiley (Dean Martin) dá um golpe durante um sorteio de carro e tem que dividir o prêmio com Malcolm Smith (Jerry Lewis), o verdadeiro vencedor do concurso. Juntos resolvem viajar com o carro para Hollywood.

Pablo Aluísio.

domingo, 15 de janeiro de 2012

Zona Verde

Os atos do governo George W. Bush continuam a assombrar os americanos. Uma prova é o argumento desse filme que retrata um oficial americano envolvido na busca das chamadas ADM (Armas de Destruição em Massa). Como hoje sabemos nada foi encontrado no Iraque. Para quem não se lembra foi justamente a existência dessas armas que justificou a invasão americana ao país de Saddam Hussein. Curiosamente mesmo após tantos anos nenhum figurão foi responsabilizado pelas mortes e pela operação militar naquele país. Pelo jeito não é só em nosso país que existe impunidade para os altos cargos governamentais. Mas deixemos esse debate um pouco de lado. "Zona Verde" é um bom filme de inteligência militar. O roteiro é bem escrito, bem desenvolvido. Matt Damon surge à vontade em seu papel, com ecos de sua franquia bem sucedida Bourne. O filme também mostra um aspecto curioso envolvendo duas das maiores agências de segurança dos EUA: a CIA e o FBI. O Pentágono e o complexo industrial armamentista também são lembrados e citados. Afinal a quem interessava um conflito dessa dimensão?

Como, apesar das boas intenções, se trata de um produto comercial "Zona Verde" traz diversas concessões. Uma delas é a própria figura do personagem principal. O "mocinho" aqui é personificado pelo Oficial Miller (Matt Damon) que é ajudado por um agente da CIA inconformado pelos rumos que a guerra tomou. Já o antagonista é todo centralizado em apenas uma figura cheia de mistérios (talvez para simplificar o que acontece em cena ao grande público) interpretado pelo sempre eficiente Greg Kinnear. Nesse labirinto de intrigas, meias verdades e falsas pistas o filme vai se desenvolvendo de forma que realmente prende a atenção do espectador. As cenas de ação propriamente ditas são bem realizadas, com muita câmera na mão e correria (o que pode incomodar alguns) mas mesmo assim não chegam a comprometer o resultado final. Há uma cena em especial que achei bem conduzida, já no final, com uma queda de um helicóptero americano. Até me recordei do bom "Falcão Negro em Perigo". Em conclusão "Zona Verde" é um bom filme de ação que não se descuida de uma bem escrita trama de espionagem. Vale a sessão certamente.

Zona Verde (Green Zone, Estados Unidos, 2010) Direção de Paul Greengrass / Roteiro: Brian Helgeland baseado no livro de Rajiv Chandrasekaran / Elenco: Matt Damon, Jason Isaacs, Greg Kinnear / Sinopse: Oficial americano (Matt Damon) se envolve em complexa rede de espionagem e inteligência envolvendo a questão das chamadas Armas de Destruição em Massa.

Pablo Aluísio.

O Pecado de Todos Nós

"O Pecado de Todos Nós" definitivamente não é uma obra para todos os públicos, um filme que vá agradar a todos os setores, muito pelo contrário. O diretor John Huston não fez nenhuma concessão e entregou uma obra crua, visceral, sem nenhum tipo de amenização. Marlon Brando, como sempre, se destaca. Acho esse um de seus personagens mais corajosos. O ator joga a imagem de galã fora e encara um papel extremamente complexo e polêmico. Aqui ele interpreta um Major do exército americano com o casamento em crise, em frangalhos. Sua esposa, interpretada por Elizabeth Taylor, em mais uma de seus excelentes caracterizações, é uma fútil dona de casa que passa os dias em longas cavalgadas ao lado de seu amante, um oficial que mora vizinho ao casal na vila militar onde residem. Isso já bastaria para caracterizar esse casamento como disfuncional mas isso não é tudo.

O problema básico do Major Weldon Penderton (Marlon Brando) é que ele não tem mais nenhum desejo sexual pela esposa, pois na realidade é um homossexual enrustido que não consegue exteriorizar e vivenciar sua verdadeira orientação sexual. Após ver um soldado cavalgando nu pelo bosque, o Major acaba ficando obcecado por ele. Tudo caminha então para um clímax ao melhor estilo do diretor Huston, com muitas nuances psicológicas e tensão entre os principais personagens. A hipocrisia do núcleo familiar considerado ideal pela moralista sociedade norte-americana também é exposta sem receios. O grande número de homossexuais escondidos no armário dentro da vida militar também é explorada. O roteiro do filme acerta em cheio na hipocrisia reinante nesse meio.

O argumento soa na realidade como uma provocação por parte de John Huston para com toda a sociedade norte-americana. A família tradicional e o sistema militar são obviamente seus principais alvos. Na porta de entrada dos Estados Unidos na guerra do Vietnã, ele ousou colocar um tema tabu em cena: o homossexualismo dentro das casernas militares. Mais explosivo do que isso impossível. Além disso expõe os problemas que existiam por baixo da imagem impecável das famílias conservadoras daquele país. O marido que posa de cidadão exemplar na verdade despreza sua esposa e esconde seus desejos sexuais mais inconfessáveis. A esposa é infiel, sem conteúdo, rasa, vazia, materialista e tola. Um retrato demolidor de um modelo que nos anos 1960 vinha abaixo.

"Reflections in a Golden Eye" foi baseado na obra da escritora Carson McCullers, uma autora que não tinha receio de tocar nas feridas mais profundas da América. Aqui ao lado de Huston, Liz Taylor e Marlon Brando, ela finalmente encontrou a transposição perfeita de sua obra para as telas de cinema. Em conclusão, "O Pecado de Todos Nós" é uma produção nada confortável e nem amenizadora. No fundo é um retrato controvertido que coloca na berlinda alguns dos pilares mais prezados pelos conservadores americanos. Não deixe de assistir.

O Pecado de Todos Nós (Reflections in a Golden Eye, Estados Unidos, 1967) Direção: John Huston / Roteiro: Chapman Mortimer, Gladys Hill baseados na obra "Reflections in a Golden Eye" de Carson McCullers / Elenco: Elizabeth Taylor, Marlon Brando, Brian Keith, Julie Harris / Sinopse: O Major do exército americano Weldon Penderton (Marlon Brando) se torna obcecado por um jovem soldado da tropa que ele vê nu, cavalgando no bosque. Com fortes inclinações homossexuais, ele não consegue mais conter seus desejos ao mesmo tempo em que negligencia sua esposa Leonora (Elizabeth Taylor), uma dona de casa vazia e fútil, em um casamento de aparências, de fachada.

Pablo Aluísio.

sábado, 14 de janeiro de 2012

Dois na Gangorra

Jerry Ryan (Robert Mitchum) é um advogado de Nebraska que chega a Nova Iorque após ver seu casamento destruído. Sem emprego, procurando se adaptar na grande cidade, acaba conhecendo casualmente numa festa no bairrro boêmio de Greenwich Village a dançarina Gittel "Mosca" (Shirley MacLaine). Após se aproximarem começam um complicado relacionamento enquanto tentam reconstruir suas vidas. "Two for the Seesaw" é um delicado estudo sobre o relacionamento amoroso de duas pessoas que aparentemente nada tinham em comum mas que acabam superando tudo isso apenas pela força do afeto e do carinho mútuos. O texto é belíssimo, baseado na peça de mesmo nome do autor William Gibson. Poucas vezes vi tantos diálogos bem estruturados e de bom gosto como aqui. Talvez só sejam superados por Tennessee Williams em termos de capricho e profundidade. O casal é destrinchado psicologicamente em cena com rara sutileza. Ela, jovem e impulsiva, jamais conseguiu ter um relacionamento adulto estável enquanto ele, maduro e calejado pela vida, acaba descobrindo os pequenos detalhes que fazem um romance ser inesquecível. A cena final do filme inclusive é um momento de rara beleza, onde os personagens se desnudam de todas as amarras sociais que muitas vezes impedem que duas pessoas sejam felizes juntas.

Em termos de atuação não há absolutamente nada a criticar. Shirley MacLaine está soberba. Na flor da idade, jovem e com uma beleza que sempre achei muito atraente, ela domina completamente a cena. É emocional e divertida nos momentos certos demonstrando que sempre foi uma grande atriz - e não apenas em sua fase mais madura como muitos ainda insistem em afirmar. Já Robert Mitchum está perfeito. O ator que construiu sua carreira com personagens à margem da sociedade, cínicos e durões, aqui esbanja sofisticação na pele do advogado Jerry Ryan. Ele é sutil na dose exata e demonstra, ao declamar o rico texto, que tinha um talento nato, que infelizmente nem sempre foi aproveitado adequadamente nas telas de cinema. Curiosamente o relacionamento entre Mitchum e MacLaine ultrapassou as telas e chegou em suas vidas reais. Ambos iniciaram um caso amoroso durante as filmagens e continuaram apaixonados por longos anos conforme ela mesma confessou em uma entrevista recente. Não deixa de ser mais um bom motivo para ver o filme. Por tudo isso e muito mais recomendo "Two for the Seesaw" para pessoas sensíveis, inteligentes e sofisticadas. Um aula de cinema de bom gosto e sofisticação que vai tocar fundo na sensibilidade dos mais românticos.

Dois na Gangorra (Two For The Seesaw, Estados Unidos, 1962) Direção: Robert Wise / Roteiro: Isobel Lennart baseado na peça teatral de William Gibson / Elenco: Shirley MacLaine, Robert Mitchum, Edmon Ryan / Sinopse: Jerry Ryan (Robert Mitchum) é um advogado de Nebraska que chega a Nova Iorque após ver seu casamento destruído. Sem emprego, procurando se adaptar na grande cidade acaba conhecendo casualmente numa festa no bairrro boêmio de Greenwich Village a dançarina Gittel "Mosca" (Shirley MacLaine). Após se aproximarem começam um complicado relacionamento enquanto tentam reconstruir suas vidas.

Pablo Aluísio.

sexta-feira, 13 de janeiro de 2012

Torrentes de Paixão

"Torrentes de Paixão" é um thriller de suspense passado nas famosas cataratas do Niagara (situada na fronteira entre EUA e Canadá). Esse é um local bem popular ainda nos dias de hoje para casais em lua de mel. Após realizar "Almas Desesperadas" Marilyn Monroe foi novamente escalada pelos estúdios Fox para um papel bem parecido com o do filme anterior. Bem longe das comédias musicais que fizeram sua fama, Marilyn aqui interpreta novamente uma mulher fatal que não mede esforços para alcançar seus objetivos. Na trama acompanhamos Rose (Marilyn Monroe) e George (Joseph Cotten) um casal que passa férias em Niagara Falls. Ela é uma jovem que não consegue mais impedir seus impulsos sexuais e acaba se envolvendo com um amante local bem debaixo do nariz do marido traído. Ele é um homem com traumas de guerra que não consegue mais satisfazer sua jovem esposa pois retornou do conflito da Coreia completamente impotente, neurótico e irascível. Como não poderia deixar de ser eventos dramáticos vão marcar a passagem deles pelo local.

A Rose de Marilyn Monroe como o próprio marido descreve no filme é uma "vagabunda completa". Isso é bem curioso pois diante do desafio de interpretar a jovem esposa infiel, Marilyn Monroe não se fez de rogada e usou e abusou de sua sensualidade latente nas cenas. Aliás é um dos papéis em que a atriz mais se serviu de seu grande sex appeal. Sua exuberância aqui beira a vulgaridade. Numa das sequências mais famosas Marilyn faz aquele que parece ter sido o mais longo rebolado da história do cinema. São quase dois minutos e meio apenas mostrando Monroe caminhando de costas para a câmera. Literalmente um desbunde em plenos anos 50, um dos períodos mais moralistas da história americana. Usando de roupas sensuais e colantes o espetáculo na época foi considerado totalmente indecente. Aliás é bom frisar que Marilyn está linda no filme, inclusive podemos perceber bem sua boa forma em um enorme close up de seu rosto focalizado bem de pertinho. Simplesmente maravilhosa! Com batom exageradamente vermelho e voluptuoso Marilyn esbanja lascívia em cada cena que aparece. De certa forma o diretor Henry Hathaway sabia que tinha em mãos um dos maiores símbolos sexuais de sua era e resolveu mesmo abusar dessa situação. O filme foi realmente pensado nela e feito para ela. Todo o resto se torna secundário. Naquela altura ela já era um mito de popularidade e "Torrentes de Paixão" se aproveita a todo momento disso. Além de Marilyn ainda temos de bônus a bela Jean Peters com toda sua beleza sofisticada e refinada. No final tudo resulta em um belo espetáculo de beleza feminina a desfilar pela tela. Os estetas certamente vão se esbaldar. Assista e entenda como se constrói um sex symbol genuinamente Made in Hollywood.

Torrentes de Paixão (Niagara, Estados Unidos, 1953) Direção: Henry Hathaway / Roteiro: Charles Brackett, Walter Reisch / Elenco: Marilyn Monroe, Joseph Cotten, Jean Peters, Max Showalter / Sinopse: Jovem esposa infiel (Marilyn Monroe) tenta dar cabo de seu marido impotente (Joseph Cotten) por intermédio de um jovem amante mas os planos não saem exatamente como ela queria.

Pablo Aluísio.

quinta-feira, 12 de janeiro de 2012

Amar é Sofrer

Frank Elgin (Bing Crosby) é um ator e cantor decadente com sérios problemas de alcoolismo que tenta se reerguer na carreira. Tentando conseguir um papel em uma peça off Broadway ele acaba sendo ajudado pelo produtor Bernie Dodd (William Holden) que resolve lhe dar uma última chance. Para isso conta com o apoio da esposa de Frank, Georgie (Grace Kelly), uma mulher de forte personalidade que quer ver o marido brilhar novamente nas marquises da Broadway em Nova Iorque. "Amar é Sofrer" é um excelente drama que foca nos bastidores do meio teatral norte-americano na década de 50. O personagem de Bing Crosby é um presente a qualquer ator. Embora Crosby não fosse um intérprete brilhante aqui ele mostra muita desenvoltura e talento em um papel extremamente complexo, principalmente para ele que era mais cantor do que essencialmente um ator de profissão. Considerado ao lado de Elvis e Frank Sinatra uma das mais belas vozes do século XX, Crosby brilha como Frank Elgin, um sujeito corroído por dentro, amargurado pela vida que tenta desesperadamente por uma redenção final. Para quem é fã do Crosby cantor também não há o que reclamar. Ele interpreta várias canções ao longo do filme, até porque a peça que seu personagem estrela é na verdade um musical de vaudeville. Crosby tinha uma voz poderosa e rica mas era um artista bem modesto em relação ao seu grande talento tanto que mandou colocar em sua lápide a despretensiosa inscrição: "Era apenas um bom sujeito que sabia levar uma boa canção em frente".

Além de Bing Crosby em grande forma o elenco ainda reserva duas outras grandes surpresas. A primeira é a presença magnífica de Grace Kelly. Aqui ela foge completamente dos tipos que costumavam interpretar nas telas. Praticamente sem maquiagem sua caracterização mescla momentos de forte personalidade com ternura. Muitos duvidavam da capacidade interpretativa da atriz, principalmente na época, mas tiveram que dar o braço a torcer diante desse excelente trabalho dela. Grace Kelly acabou vencendo o Oscar de Melhor Atriz e o Globo de Ouro na mesma categoria por essa maravilhosa atuação. Completando o ótimo trio central temos aqui um William Holden dominando todas as cenas com sua imponente presença. Curiosamente em um enredo que toca tão fundo na questão do alcoolismo, Holden parece não ter aprendido muito uma vez que ele próprio sofreu desse mal por anos até ter uma morte indigna de seu nome após uma noite de bebedeiras. Uma ironia do destino? Certamente. Como se tudo isso não bastasse "Amar é Sofrer" ainda tem um dos finais mais sofisticados e elegantes que já vi no cinema. Uma aula de bom gosto em uma produção bem acima da média. Perfeito.

Amar é Sofrer (The Country Girl, Estados Unidos, 1954) Direção: George Seaton / Roteiro: George Seaton baseado na peça de Cliford Odets / Elenco: Bing Crosby, Grace Kelly, William Holden, Anthony Ross / Sinopse: Frank Elgin (Bing Crosby) é um ator e cantor decadente com sérios problemas de alcoolismo que tenta se reerguer na carreira. Tentando conseguir um papel em uma peça off Broadway ele acaba sendo ajudado pelo produtor Bernie Dodd (William Holden) que resolve lhe dar uma última chance. Para isso conta com o apoio da esposa de Frank, Georgie (Grace Kelly) , uma mulher de forte personalidade que quer ver o marido brilhar novamente nas marquises da Broadway em Nova Iorque.

Pablo Aluísio.

quarta-feira, 11 de janeiro de 2012

O Selvagem

Se James Dean representava o jovem encucado e confuso em seus filmes, Marlon Brando em "O Selvagem" representou o outro lado da moeda, a do jovem que não se intimidava e junto aos amigos formava uma gangue de motocicletas para aterrorizar as pequenas cidades do meio oeste americano. O personagem dele nesse filme acabou gerando uma repercussão tão grande entre os jovens que espantou não só Brando como os próprios produtores do filme. Embora esse tipo de grupo fosse bastante comum em poucos lugares da Califórnia, após o filme ser exibido as gangues proliferaram por todo o país em um ritmo assombroso. A influência chegou até no Brasil quando também foram formados grupos como o do filme. De repente andar de moto em couro preto virou moda da noite para o dia. Algumas alterações de última hora acabaram irritando o ator, inclusive a inserção de um tedioso aviso advertindo aos jovens dos perigos de se envolver com tais grupos. Na realidade os produtores sofreram pressão por grupos conservadores e no meio do clima paranóico que existia na década de 1950 resolveram colocar a advertência fora de propósito. Marlon achou aquilo de uma caretice sem tamanho. Ele adorava motos e desde seus primeiros dias em Nova Iorque adotou o veículo como o seu preferido, conhecia vários motoqueiros e achava o cúmulo da moralidade e estupidez associar motos imediatamente à deliquência juvenil.

Isso não adiantou muito. Assim que o filme foi lançado Brando logo foi acusado de incentivador da delinquência juvenil, de servir de mal exemplo para os jovens americanos. Em sua autobiografia o ator dedicou alguns capítulos ao filme. Na realidade ele nem mesmo achou o filme grande coisa, o considerou curto demais, violento e sem muito propósito, mas se confessava totalmente surpreso com toda a repercussão que "O Selvagem" alcançou dentro da cultura pop nos anos seguintes. O fato é que sua imagem de "motoqueiro de jaqueta negra" invadiu o inconsciente coletivo e ainda hoje é marca registrada de qualquer jovem "rebelde" que se preze. Até mesmo o jovem aspirante a ator, James Dean, apareceu na frente de Brando completamente vestido de seu personagem nesse filme. Marlon obviamente ficou espantado pois compreendeu que Dean realmente associava o personagem do motoqueiro com o próprio estilo de vida dele, o que era uma grande bobagem pois Marlon nunca fez parte de gangue nenhuma durante toda a sua vida. Dean queria encontrar uma forma de identificação com seu maior ídolo e por isso se vestiu de Johnny, o motoqueiro, ao se encontrar com Marlon. Brando não gostou muito e o dispensou discretamente. Ao longo dos anos Brando se veria perseguido por essa imagem, jamais conseguindo se livrar dela. Ele deveria ter entendido que algumas imagens ganham vida própria e sobrevivem a tudo, até mesmo ao tempo. Brando em sua moto aterrorizando uma cidadezinha qualquer perdida dos EUA é uma dessas imagens que ficaram cravadas para sempre na mente dos cinéfilos. "O Selvagem" é realmente um filme apenas mediano mas como produto pop jamais poderá ser subestimado. É um marco absoluto dos chamados "anos dourados". Simplesmente definitivo.

O Selvagem (The Wild One, Estados Unidos, 1953) Direção. Laslo Benedek / Roteiro: John Paxton, Frank Rooney / Elenco: Marlon Brando, Mary Murphy, Robert Keith / Sinopse: Johnny (Marlon Brando) chega numa pacata cidadezinha com sua gangue de motoqueiros de couro preto. Na localidade conhece a linda Kathie (Mary Murphy) com quem simpatiza ao mesmo tempo em que tem que lidar com um grupo rival de rebeldes motorizados.

Pablo Aluísio.

terça-feira, 10 de janeiro de 2012

Sangue Sobre a Terra

Extremamente interessante esse drama passado no Quênia durante um levante da população negra contra os fazendeiros colonizadores brancos. No meio da luta dois jovens que foram criados juntos (Rock Hudson e Sidney Poitier) ficam em lados opostos do conflito. A priori era de se supor que em um filme feito nos anos 50, estrelado pelo galã Hudson, o roteiro fosse tomar partido pelos brancos, colocando os negros como selvagens sanguinários com facão na mão. Felizmente e para minha surpresa isso não acontece em momento algum. O roteiro baseado em um famoso livro que tratou sobre a questão racial no Quênia não toma partido. Em cena somos apresentados aos lados positivos e negativos de ambos os lados em conflito. O racismo dos brancos não é jogado para debaixo do tapete e as atrocidades cometidas pelos negros também são expostas de maneira visceral. Os dois lados são mostrados da forma mais imparcial possível.

O impacto do filme só é quebrado para mostrar o azedo romance entre Rock e a starlet Dana Wynter mas ele não decola nunca. O ponto forte fica mesmo com as lutas e as questões raciais que são tratadas com o devido respeito e seriedade. O diretor Richard Brooks era acima da média pois já havia dirigido o cult do surgimento do rock "Sementes da Violência" e depois realizaria alguns clássicos como "Gata em Teto de Zinco Quente". "A Sangue Frio" e "Doce Pássaro da Juventude", ou seja, era realmente um craque na direção. Enfim, "Sangue Sobre a Terra" é inteligente, humano e trata a questão dos direitos das populações negras africanas com muita sensibilidade. Altamente recomendado para quem se interessa pelo tema.

Sangue Sobre a Terra (Something of Value, Estados Unidos. 1957) Direção de Richard Brooks / Roteiro de Richard Brooks baseado no livro de Robert C. Ruark / Com Rock Hudson, Sidney Poitier, Dana Wynter e Wendy Hiller / Sinopse: Dois garotos, um branco (Rock Hudson) e outro negro (Sidney Poitier) são criados juntos em uma fazenda no Quênia. Anos depois quando estoura um movimento de expulsão dos brancos ingleses ambos ficam em campos opostos no campo de batalha.

Pablo Aluísio. 

segunda-feira, 9 de janeiro de 2012

O Desafio das Águias

General americano é feito prisioneiro por tropas alemãs. O alto oficial tem conhecimento dos planos aliados para o desembarque do dia D. Temendo que sob tortura ele revele esses planos uma equipe de elite do exército inglês é enviada com a missão de resgatá-lo de uma fortaleza quase inexpugnável onde ele é mantido sob rígida vigilância. Juntar o veterano Richard Burton ao jovem Clint Eastwood em um filme que une II Guerra Mundial e contra espionagem parece, a priori, uma ótima ideia. Foi justamente isso que o diretor Brian G. Hutton fez no finalzinho dos anos 60 com esse "O Desafio das Águias". O filme é ágil (apesar da duração) e mantém um bom nível nas diversas cenas de ação. Embora haja uma interessante subtrama de espionagem envolvida no roteiro o que dá o tom aqui realmente são as cenas de batalha, sabotagem e alpinismo. O filme em nenhum momento nega seu objetivo de ser um entretenimento de bom nível apenas. Em uma época em que os efeitos visuais eram primitivos, as cenas no teleférico da base alemã nos alpes impressiona. Embora o uso de back projection seja claro se percebe também que os dublês realmente ficaram pendurados por lá em diversos momentos, o que demonstra como eram bons em suas funções.

Curioso entender que "O Desafio das Águias" faz parte da última geração de filmes de guerra aonde não se discutia ou se colocava em debate os problemas que conflitos como esse causavam. De certa forma os filmes de guerra mudariam radicalmente com o lançamento de "Apocalypse Now" alguns anos depois. Ao invés de simples filmes de ação as produções desse gênero iriam ser bem mais psicológicas, nada ufanistas ou patrióticas. Tudo iria desandar no chamado círculo do Vietnã com filmes que iriam invadir as telas na década de 80. Nesse aspecto não procurem nada parecido aqui em " Where Eagles Dare" pois o filme é pura diversão escapista apenas. Se o roteiro não inova o elenco pelo menos é de primeira linha. Richard Burton, já envelhecido e com olhos de ressaca (seu alcoolismo só aumentou ao longo dos anos) consegue dar conta do recado, apesar de estar visivelmente fora de forma. Já Clint Eastwood mostra porque iria se tornar um dos grandes astros de Hollywood. Jovial, com vasta cabeleira e pinta de durão o futuro Dirty Harry não economiza nas balas e nas porradas, ambas distribuídas fartamente ao longo do filme. Enfim, "Desafio das Águias" é indicado para apreciadores de filmes de guerra bem movimentados, com fartas doses de ação e que não se importem com um ou outro furo do roteiro. Faz parte de uma linha de produção que estava chegando ao fim. Filmes de guerra com muita ação e só. Se isso faz seu gosto pessoal procure assistir, não vai se arrepender.

O Desafio das Águias (Where Eagles Dare, Reino Unido, 1968) Direção: Brian G. Hutton / Roteiro: Alistair MacLean baseado no romance de Alistair MacLean / Elenco: Richard Burton, Clint Eastwood, Mary Ure, Patrick Wymark / Sinopse: General americano é feito prisioneiro por tropas alemãs. O alto oficial tem conhecimento dos planos aliados para o desembarque do dia D. Temendo que sob tortura ele revele esses planos uma equipe de elite do exército inglês é enviada com a missão de resgatá-lo de uma fortaleza quase inexpugnável onde ele é mantido sob rígida vigilância.

Pablo Aluísio.

domingo, 8 de janeiro de 2012

A Águia Pousou

O filme narra o planejamento e execução de um plano no mínimo ousado. Um grupo de paraquedismo alemão liderado pelo Coronel Kurt (Michael Caine) vai até a Inglaterra com o objetivo de sequestrar, ou caso isso seja impossível, matar o primeiro ministro Winston Churchill. O roteiro é detalhista, mostrando desde os bastidores do plano (onde até Himmler, o braço direito de Hitler, dá as caras) até a execução propriamente dita, onde os paraquedistas disfarçados de tropas polonesas tentam dar cabo à missão. A fita é bem produzida e mantém o interesse. Hoje em dia os mais jovens vão achar um pouco arrastado, isso porque estão acostumados a filmes de ação sem freios, onde tudo acontece em ritmo alucinante. "A Águia Pousou" foi produzido nos anos 70 e naquele tempo havia sempre um capricho nos roteiros, onde davam bastante prioridade em desenvolver melhor todos os personagens. Há um lado bom e um ruim nesse aspecto. Sub tramas desnecessárias poderiam ser removidas sem prejuízo ao filme, como por exemplo o romance entre Liam Devlin (Donald Sutherland) e uma moradora local. Já pelo lado positivo com personagens bem mais desenvolvidos o espectador acaba criando vínculo maior com eles.

O elenco está todo bem. Entre as boas interpretações duas se destacam, a de Robert Duvall no papel do Coronel Max Radl e de Donald Pleasence no papel de Heinrich Himmler. Pleasence tem poucas cenas mas todas elas são um primor, nos fazendo lembrar bem do braço direito de Hitler. Outro destaque é a presença do ator Treat Williams, novinho, interpretando um capitão aliado. Williams infelizmente não faria muito sucesso no cinema mas anos depois encontraria finalmente seu nicho na TV, participando de boas séries, como por exemplo, "Everwood". Em suma, bom filme de guerra da década de 70 que se não é tão bom quanto os grandes clássicos pelo menos em momento algum decepciona.

A Águia Pousou (The Eagle Has Landed, Estados Unidos, 1976) Direção: John Sturges / Roteiro: Tom Mankiewicz baseado no livro de Jack Higgins / Elenco: Michael Caine, Donald Sutherland, Robert Duvall / Sinopse: O filme narra o planejamento e execução de um plano no mínimo ousado. Um grupo de paraquedismo alemão liderado pelo Coronel Kurt (Michael Caine) vai até a Inglaterra com o objetivo de sequestrar, ou caso isso seja impossível, matar o primeiro ministro Winston Churchill.

Pablo Aluísio.

sábado, 7 de janeiro de 2012

O Homem de Bronze

Cinebiografia do atleta americano Jim Thorpe (Burt Lancaster) que ganhou várias medalhas de ouro durante as olimpíadas de 1912. Algumas particularidades faziam de Thorpe um esportista diferenciado. A primeira delas é que era indígena, nativo americano, o que o diferenciava e muito dos outros atletas americanos da época. Os pais de Jim fizeram todo o esforço possível para que ele continuasse seus estudos até o fim e foi justamente no meio acadêmico que Thorpe encontrou sua verdadeira vocação: os esportes. Nos EUA há grande tradição em universidades que dão bolsa integral a bons esportistas e foi assim que Jim foi subindo em sua carreira. Outro fato bem marcante na trajetória dele é que ao contrário dos demais atletas, Jim Thorpe não se limitava a apenas uma modalidade esportiva, pelo contrário, praticava todos os esportes que apareciam pela frente: atletismo, beisebol, futebol americano, saldo, hipismo, arco e flecha e mais uma série de outras categorias, se saindo bem em todas elas para surpresa geral. Não é à toa que venceu suas medalhas olimpícas no pentatlo e no decatlo. que agregam vários esportes numa só competição. Era considerado um atleta completo em sua era.

Com uma biografia tão rica assim não era de se exigir muito mais do filme. Realmente o roteiro expõe de forma bem didática toda a biografia do atleta, mostrando desde sua entrada em uma instituição de ensino do governo americano dirigido especialmente para as populações indígenas, passando pelas olimpíadas, sua bem sucedida passagem pelo time New York Giants até finalmente mostrar sua decadência pessoal e esportiva. Para quem já assistiu filmes como "Touro Indomável" fica bem fácil acompanhar a ascensão e queda de ídolos esportistas como esse. Suas biografias no fundo mostram que o esporte tanto pode redimir tais pessoas como também acentuar a queda de suas vidas pessoais. Thorpe infelizmente decaiu vítima do ostracismo e do alcoolismo. Burt Lancaster não decepciona em sua interpretação de Jim, o fazendo com garra e convicção, porém fica a sensação desagradável de ver um ator branco interpretando um personagem índio. Em plena época do Star System realmente nenhum grande estúdio de Hollywood iria investir numa produção estrelada por um nativo americano. A mentalidade da época ainda era bem atrasada e nada politicamente correta. De qualquer forma esse trabalho de Michael Curtiz (diretor de Casablanca) merece ser redescoberto. É uma obra de certa forma ufanista e que apenas toca de leve nos problemas pessoais do atleta mas que mesmo assim cumpre bem seus objetivos, imortalizando o nome de Jim Thorpe também na história do cinema.

O Homem de Bronze (Jim Thorpe, All-American, Estados Unidos, 1951) Direção: Michael Curtiz / Roteiro: Douglas Morrow, Everett Freeman / Elenco: Burt Lancaster, Charles Bickford, Steve Cochran, Phyllis Thaxter / Sinopse: Cinebiografia do atleta americano Jum Thorpe (Burt Lancaster) que ganhou várias medalhas de ouro durante as olimpíadas de 1912, se destacando também como jogador de Beisebol, Futebol Americano e mais de uma dezena de modalidades esportivas.

Pablo Aluísio.

sexta-feira, 6 de janeiro de 2012

Círculo do Medo

Max Cady (Robert Mitchum) sai da prisão e parte atrás de vingança contra as pessoas que ele considera responsáveis por sua condenação. Entre elas está o advogado Sam Bowden (Gregory Peck) que se vê ameaçado pela presença do criminoso de volta na cidade em que vive. Ele havia sido testemunha no processo que jogou Max durante longos oito anos na prisão. Agora é a hora dele promover o que entende ser o acerto de contas entre ambos. "Círculo do Medo" é um eficiente thriller de suspense dirigido pelo apenas mediano J. Lee Thompson, um diretor que ao longo da carreira alternou filmes bons com abacaxis medíocres. Esse "Círculo do Medo" (que teve o título mudado anos depois no Brasil por causa do famoso remake "Cabo do Medo" de Scorsese) tem como maior destaque e mérito a ótima caracterização do ator Robert Mitchum. Ele passa longe da caricatura feita por De Niro anos depois do mesmo personagem. Se no remake tínhamos um sujeito completamente fora de controle, violento, com ares de delírio completo, aqui Mitchum desenvolve uma caracterização bem mais sutil (e eficiente na minha opinião). A maldade está lá, porém em um nível mais interior, sem profusão de cenas violentas desnecessárias. Obviamente que muitos preferem o filme recente de Martin Scorsese porém não compartilho dessa opinião. "Círculo do Medo" é bem melhor em termos de tensão e clima psicológico.

O advogado interpretado por Gregory Peck não tem muito o que fazer já que o filme pertence mesmo a Mitchum e seu personagem. Se limitando a se defender na medida do possível, Peck se mostra competente em sua interpretação, embora pela própria estrutura do roteiro seja limitada. Claro que não podemos aqui comparar com outras atuações brilhantes do ator como a que ele apresentou em "O Sol é Para Todos", por exemplo. É um diferente tipo de atuação, mais ligeira, com propósito específico de entreter e não conscientizar como naquela produção. Mesmo assim o saldo é muito positivo embora se deva reconhecer que o filme perde um pouco de pique justamente no terceiro ato, quando todos vão para um lugar isolado nos pântanos da Flórida (o próprio lugar que dá nome ao filme, cabo do medo). Até esse momento o filme tem um ritmo muito bom, de caçada gato ao rato entre os dois personagens principais. Depois disso a tensão perde espaço para a violência e o filme decai um pouco. De qualquer forma o resultado final é muito bom (e bem melhor que seu famoso remake). Não deixe de conferir para comparar depois com o famoso filme de Martin Scorsese. Eu certamente recomendo

Círculo do Medo (Cape of Fear, Estados Unidos, 1962) Direção: J. Lee Thompson / Roteiro: James R. Webb baseado no romance de John D. MacDonald / Elenco: Gregory Peck, Robert Mitchum, Polly Bergen, Lori Martin / Sinopse: Max Cady (Robert Mitchum) sai da prisão e parte atrás de vingança contra as pessoas que ele considera responsáveis por sua condenação. Entre elas está o advogado Sam Bowden (Gregory Peck) que se vê ameaçado pela presença do criminoso na cidade em que vive. Ele havia sido testemunha no processo que jogou Max durante longos oito anos na prisão. Agora é a hora dele promover o que entende ser o acerto de contas entre ambos.

Pablo Aluísio.

quarta-feira, 4 de janeiro de 2012

O Aventureiro do Pacífico

Em 1961 Elvis Presley estourou nas bilheterias americanas com "Feitiço Havaiano". A fita seria a primeira do cantor realizada nas ilhas havaianas. Diante do sucesso o mesmo estúdio do filme de Elvis resolveu reunir praticamente a mesma equipe e o mesmo produtor, Hall Wallis, para repetir o sucesso usando da mesma fórmula: muitas paisagens bonitas, roteiro leve e divertido e música local. O curioso nesse projeto foi o fato da Paramount ter escalado a dupla John Wayne / John Ford para a empreitada. Conhecidos pelos grandes westerns, verdadeiros clássicos do cinema, foram ao Havaí para filmar "O Aventureiro do Pacífico" que em Portugal recebeu o curioso título de "A Taberna do Irlandês" (nome que também ficou conhecido no Brasil pois foi exibido na TV algumas vezes com esse mesmo título). A fita destoa de tudo o que um dia já realizaram. Era despretensiosa, tipicamente um filme de verão para ser consumido nas matinês da garotada em férias escolares. Pode-se afirmar inclusive sem medo de errar que "O Aventureiro do Pacífico" é o filme mais leve e sem pretensão de toda a carreira de John Ford.

Assim como "Feitiço Havaiano", "O Aventureiro do Pacífico" é basicamente isso mesmo, um filme de verão, muito leve, divertido, o que se pode chamar de uma aventura para toda a família. John Wayne continuava com seu carisma intacto, fazendo o dono de uma taberna para marinheiros. Já Lee Marvin faz um dos poucos personagens cômicos de sua carreira. O roteiro ainda toca timidamente na questão racial envolvendo nativos e americanos mas tudo numa sutileza planejadamente inofensiva, para não chocar ninguém. No final das contas a produção vale por sua fotografia (não poderia ser diferente uma vez que o Havaí é maravilhoso) e pelas cenas divertidas e descompromissadas. Da carreira do John Ford esse é seguramente seu filme mais inofensivo em todos os aspectos.

O Aventureiro do Pacífico (Donovan's Reef, Estados Unidos, 1963) Direção: John Ford / Roteiro: Frank S. Nugent, James Edward Grant / Elenco: John Wayne, Lee Marvin, Elizabeth Allen, Jack Warden / Sinopse: Michael Patrick 'Guns' Donovan (John Wayne) vive tranquliamente no Havaí quando é surpreendido pela chegada na ilha de Ameilia Dedham (Elizabeth Allen) que vem trazer várias surpresas para seu sossegado e tranquilo cotidiano.

Pablo Aluísio.

terça-feira, 3 de janeiro de 2012

Lunar

Astronauta operário (Sam Rockwell) se encontra em uma base lunar de mineração. No futuro grande parte da energia consumida pelo planeta terra tem origem em nosso satélite natural e por essa razão uma empresa privada mantém esse posto avançado na lua. O curioso é que apesar do grande aparato técnico existe apenas um único membro que fica in loco durante 3 longos anos sendo que após esse período ele é substituído por outro astronauta. Na base ele conta apenas com a companhia de um computador de última geração denominado Gerty (cuja voz pertence ao grande Kevin Spacey). Essa relação máquina / homem no espaço obviamente nos leva à lembrança de "2001 - Uma Odisseia no Espaço". Não é para menos, até mesmo no timbre de voz de Gerty nos lembramos imediatamente de Hal 9000 do filme de Kubrick. A única diferença é que Gerty se mostra mais amigo e companheiro do colega humano da base (mas será mesmo?)

O filme é bem escrito e se aproxima do tipo de ficção mais cerebral e intelectual (nada de monstros comendo a cabeça do tripulante). Também consegue levantar o tema da clonagem humana de forma muito inteligente e coesa. Apesar disso também não esquece o entretenimento pois o filme apesar de contar com apenas um único ator em cena consegue prender a atenção do espectador. Acredito que para não cair na monotonia o diretor Duncan Jones optou por uma produção de pequena duração justamente para evitar que tudo fique meio tedioso. Recentemente ele conseguiu desenvolver melhor suas ideias em "Source Code". Destaque para o bom trabalho dos dois atores. Sam Rockwell está muito bem em um papel muito complicado (o filme se apoia nele praticamente o tempo todo) e Kevin Spacey, mesmo não estando de corpo presente, arrasa na voz do computador (que curiosamente tem quase sempre o mesmo tom de voz, só mudando os emoticons que existem em seu painel para mostrar o que supostamente estaria sentindo). Enfim, "Lunar" vale a pena por sua concepção e por seu argumento inteligente.


Lunar (Moon, Estados Unidos, 2009) Direção de Duncan Jones / Roteiro: Duncan Jones e Nathan Parker / Elenco: Sam Rockwell, Kevin Spacey, Dominique McElligott / Sinopse: Astronauta operário (Sam Rockwell) se encontra em uma base lunar de mineração. No futuro grande parte da energia consumida pelo planeta terra tem origem em nosso satélite natural e por essa razão uma empresa privada mantém esse posto avançado na lua.

Pablo Aluísio.

Capitão Blood

O Médico Peter Blood (Errol Flynn) é confundido com rebeldes durante o reinado de Jaime II da Inglaterra. Como punição é enviado como escravo para trabalhos forçados na nova colônia britânica de Port Royal na América. Chegando lá lidera uma revolta de cativos como ele e juntos acabam tomando posse de um navio de guerra imperial. Em pouco tempo Blood e sua tripulação se transformam nos mais famosos piratas do Caribe de sua época. "Capitão Blood" foi o filme que transformou Errol Flynn em astro. Na época ele era apenas um promissor ator que a Warner apostava suas fichas. Com histórico de muitas aventuras em seu passado, Flynn havia sido marinheiro e veio da Austrália cruzando os sete mares como seu personagem. Tinha bom visual, pose de galã e sabia lutar bem de espada. Com tantos requisitos era óbvio que Blood parecia ter sido escrito especialmente para ele. Além de ser seu primeiro filme de repercussão "Capitão Blood" acabou definindo de forma definitiva a persona de Errol Flynn pelo resto de sua carreira. O pirata boa praça, sempre com um sorriso nos lábios, galante e aventureiro iria ser repetido em praticamente todas as atuações de Errol em sua filmografia dali pra frente. De fato virou sua marca registrada.

A produção foi a menina dos olhos dos estúdios Warner na época de seu lançamento. Enormes sets de filmagens foram construídos, figurinos de luxo e um dos melhores diretores do mercado, o veterano Michael Curtiz, foi especialmente contratado para levar o pirata aventureiro para as telas. Tudo foi planejado e concebido para que "Capitão Blood" fosse não apenas um filme mas um evento cinematográfico. O resultado até hoje impressiona, mesmo após tantos anos de sua conclusão. Os cenários que simulam as antigas naus do século XVII são extremamente bem feitos - em ótima reconstituição histórica. O curioso é que "Capitão Blood" foi idealizado para reviver os antigos filmes de Douglas Fairbanks Jr, mas ao mesmo tempo em que foi influenciado acabou sendo uma das obras mais influenciadores da história do cinema uma vez que até hoje seu estilo é imitado à exaustão - vide a extremamente bem sucedida franquia "Piratas do Caribe" que bebe diretamente de sua fonte. Enfim é isso, um dos marcos do cinema de ação e aventura de Hollywood que conseguiu resistir até mesmo ao mais implacável inimigo das telas, o tempo.

Capitão Blood (Captain Blood, Estados Unidos, 1935) Direção: Michael Curtiz / Roteiro: Rafael Sabatini, Casey Robinson / Elenco: Errol Flynn, Olivia de Havilland, Lionel Atwill, Basil Rathbone / Sinopse: Capitão Blood (Errol Flynn) é um pirata do Caribe que saqueia e rouba navios ingleses e franceses que ousem cruzar seu caminho em alto mar. Para capturá-lo o Rei da Inglaterra envia um navio de guerra especialmente designado com esse objetivo.

Pablo Aluísio.

Jerry Lee Lewis

Jerry Lee Lewis - Jerry Lee Lewis (1958)
Já que estamos falando nos últimos dias dos primeiros álbuns dos grandes pioneiros do rock vamos agora tratar desse “Jerry Lee Lewis” (1958). Aqui temos realmente uma raridade em mãos. O disco não foi lançado no Brasil na época, o que é bastante fácil de entender, uma vez que o álbum original era da Sun Records que não tinha nenhum representante em nosso país. Com todo o respeito ao enorme legado de Sam Phillips a verdade era que a Sun era realmente uma gravadora ao estilo “fundo de quintal”. É de se admirar inclusive que tenha bancado um álbum desses pois a especialidade da Sun era mesmo os singles, pequenos compactos com apenas duas músicas, que geralmente nem capa possuíam (pois isso era caro para a estrutura da empresa). Jerry Lee Lewis era o sonho de Sam em transformar seu selo em algo realmente grande, importante, pena que tudo tenha dado errado. Como a Sun era muito modesta a distribuição era precária e muitos exemplares do primeiro álbum de Lewis mal saíram do sul para o resto do país. No norte dos Estados Unidos, por exemplo, era quase impossível encontrar o álbum nas lojas. Mesmo em Nova Iorque havia poucas cópias à venda. Se era ruim de achar lá imagine no resto do mundo...

Curiosamente seu repertório também ignorava os maiores sucessos do artista no selo, o que não ajudou em nada em suas vendas. Apenas "High School Confidential" está presente. O disco abre com uma versão de "Don't Be Cruel" de Elvis Presley. Dizem inclusive que Elvis cedeu a faixa praticamente de graça para Sam Phillips, até porque o produtor não teria mesmo como pagar os direitos autorais de uma canção milionária como essa. Foi uma forma encontrada por Elvis em ser grato ao seu “descobridor”. Isso desmente também a velha lenda de que Elvis não gostava de Lewis e tinha medo dele ocupar seu lugar nas paradas. Outro artista da Sun que deu uma “mãozinha” para Jerry Lee Lewis em sua estréia foi Carl Perkins que cedeu sua canção “Matchbox” para o colega de gravadora. Entre os bons momentos desse álbum é interessante citar inicialmente a faixa “Crazy Arms” que considero uma das melhores versões da música já gravadas. Mostra muito bem o talento de Lewis na Country Music (gênero ao qual se dedicaria mais futuramente, com ótimos resultados). No mais vale ainda citar o clássico "When The Saints Go Marching In", uma óbvia tentativa de Sam Phillips em mostrar o ecletismo de Lewis e a sentimental e nostálgica "Jambalaya (On The Bayou)" que ganhou até versão em nosso país, virando grande sucesso nas rádios cariocas. No conjunto é um álbum gostoso de ouvir, bem gravado, com bom repertório. A lamentar apenas seu pouco impacto nas paradas uma vez que a Sun realmente não tinha boa estrutura para isso. De qualquer modo é certamente um disco histórico, trazendo um dos nomes mais influentes da primeira geração do rock americano, sem retoques, quase cru, mostrando todo o seu talento de “matador”. Jerry Lee Lewis é realmente um grande nome que infelizmente foi muito subestimado em sua vida. Não deixe de ouvir para entender bem esse ponto de vista.

Jerry Lee Lewis - Jerry Lee Lewis (1958)
Don't Be Cruel / Goodnight Irene / Put Me Down / It All Depends (On Who Will Buy The Wine) / Ubangi Stomp / Crazy Arms / Jambalaya (On The Bayou) / Fools Like Me / High School Confidential / When The Saints Go Marching In / Matchbox / It’ll Be Me.

Jerry Lee Lewis - Great Balls of Fire
Foi o maior sucesso da carreira de Jerry Lee Lewis. Chegou ao primeiro lugar da Billboard e consagrou o jovem cantor e pianista. Para muitos Lewis seria naquele momento o sucessor natural de Elvis Presley nas paradas, já que Presley estava deixando sua carreira de lado para ir servir o exército americano na Alemanha. Embora tenham tido trajetórias parecidas - Lewis despontou na mesma Sun Records que descobriu Elvis - a verdade era que ambos eram bem diferentes entre si. O maior problema de Lewis era sua impulsividade, suas decisões tomadas sem medir as consequências. No palco Lewis gostava de colocar fogo em seu piano e isso fazia parte do jogo mas na vida pessoal ele também tocou fogo em sua imagem. Casou-se com uma prima adolescente muito jovem - que para piorar parecia uma garotinha - e quando foi para a Inglaterra fazer sua turnê entrou em atrito com a imprensa britânica. Depois disso e da revelação que estava casado com uma menininha sua carreira foi ladeira abaixo.

O pico de sucesso de Jerry Lee Lewis foi muito breve. Praticamente durou apenas três singles! O primeiro com "Crazy Arms / Whole Lotta Shakin' Goin' On", seu primeiro compacto, vendeu muito bem, se destacando nas paradas. Então logo após veio esse "Great Balls of Fire" com "You Win Again" no lado B. Foi seu auge. O terceiro e último sucesso de Jerry foi a ótima Breathless" (com "Down the Line" no lado B) que chegou na sétima posição. Quando "High School Confidential" chegou nas lojas ele já estava sentindo os efeitos da maré baixa. Ninguém tira os méritos de Jerry Lee Lewis como cantor e intérprete, ele de fato foi grande mas não soube administrar os aspectos mais importantes de sua carreira. De uma forma ou outra conseguiu à duras penas sobreviver no meio country nos duros anos que viriam pela frente. Foi um sobrevivente realmente. Já em termos de "Great Balls of Fire" não há muito o que dizer pois é realmente um dos melhores rocks de todos os tempos. Gravação perfeita em ótima melodia. Na verdade foi a música que definiu toda a sua história e aquela pela qual será lembrado no futuro.

Jerry Lee Lewis - The Country Collection
Quem gosta de Jerry Lee Lewis sabe como pode ser frustrante encontrar bom material do artista aqui no Brasil. A imensa maioria dos títulos são não oficiais lançados por selos fundo de quintal, sem procedência nem nada, na maioria das vezes com as mesmíssimas músicas. Não conseguem sair das obvias "Great Balls Of Fire" e "Whole Lotta Shakin Goin' On". A verdade é que a discografia de Jerry Lee Lewis é uma grande bagunça. Como ele sempre foi um músico muito instável seus direitos autorais foram passando de mãos em mãos por todos esses anos sem muito controle e organização. No meio desse caos um ou outro título valem a pena. Um deles é justamente esse "The Country Collection". Fugindo das obviedades o título chama atenção pela boa sonoridade (recuperaram as matrizes) e pelo repertório agradável.

Como não poderia deixar de ser o CD é mais recomendado para o público que gosta de country de raiz. Não há sinais do Jerry Lee Lewis roqueiro aqui. O piano continua endiabrado mas o sentimento é de caipirice (o que não deixa de ser ótimo). Várias das faixas são essenciais mas destaco 3 delas. "Green Green Grass Of Home" surge em belíssima interpretação, muito emocional e evocativa. Seu arranjo lembra em termos o arranjo que Elvis mostra no disco "Elvis Today" mas aqui ela aparece mais simples, sem tanta produção. O que vale no final é o sentimento - e isso não falta à faixa. "I'm So Lonesome I Coul Cry", o grande clássico de Hank Williams, é outra canção forte presente na seleção. Esse tipo de música tem que ser cantada com o fundo da alma. Lewis sabe bem disso e esbanja talento. Por fim "Louisiana Man" é o tipo de country alegre, divertido que acrescenta muito a qualquer título. Enfim, não sou muito de gostar de coletâneas e nem as recomendo mas nesse caso abrirei uma exceção. Como a discografia do The Killer é uma bagunça divertida indico esse álbum para quem estiver a fim de ouvir algo diferente do artista. Para quem pensa que ele é apenas o roqueiro meio maluco será uma surpresa e tanto!

Jerry Lee Lewis - The Country Collection / 1. Heartaches By The Number 2. Green Green Grass Of Home 3. Help Me Make It Through The Night 4. Detroit City 5. King Of The Road 6. I'm So Lonesome I Coul Cry 7. Break My Mind 8. Sweet Dreams 9. Reuben James 10. Another Place Another Time 11. Before The Next Teardrop Falls 12. Pick Me Up On Your Way Home 13. What's Made Milwaukee Famous 14. Louisiana Man 15. Middle Age Crazy 16. I'm A Lonesome Fugitive 17. She Even Woke Me Up To Say Goodbye 18. Today I Started Loving You Again 19. I Forgot More Than You'll Ever Know 20. There Stands The Glass

Pablo Aluísio. 

30 Dias de Noite 2

Tudo muito fraco, tudo muito pobre, produção feia, atores ruins e roteiro banal. Eu até que gostei de "30 Dias de Noite", mas essa sua sequência é realmente indefensável. O grande charme do filme original era a ambientação em uma cidade do Alaska que ficaria 30 dias sem ver a luz do sol. Um prato cheio para o ataque de um grupo de vampiros sanguinários e vorazes. Certamente aquela situação era bem interessante. Porém, para minha decepção, tiraram esse ótimo clima soturno nessa continuação! O que resta depois de uma ideia tão equivocada como essa? Para piorar o que já era bem ruim os roteiristas resolveram escrever uma péssima estória que se desenvolve na ensolarada Califórnia!!! Existe algo mais fora do clima de vampiros do que as praias da Califórnia? Claro que não!

A razão dessa estupidez é até fácil de entender. Sem orçamento  para produzir algo melhor os produtores filmaram tudo no quintal mesmo - em Los Angeles, a pior cidade do mundo para se realizar um filme de vampiros. Para piorar o que já era bem ruim colocaram uma péssima atriz para fazer um péssimo personagem: a rainha vampira, que tem sob comando um "ninho" de seres da noite. Ela quer a todo custo transportar os vampiros de navio para o Alaska, obviamente visando com isso atacar outra cidade como vimos no primeiro filme. Pura bobagem. Não recomendo a ninguém, nem a fãs de quadrinhos, nem a fãs de vampiros e nem muito menos a admiradores de efeitos especiais (a produção é bem fraca nesse sentido, pois não se gastou muito nas cenas, resultando tudo em uma decepção). Enfim, acho que é o fim da franquia. "30 Dias de Noite 2" é ruim de doer, com ou sem caninos salientes.

30 Dias de Noite 2 (30 Days of Night: Dark Days, Estados Unidos, 2010) Direção: Ben Ketai / Roteiro: Steve Niles, Ben Ketai / Elenco: Kiele Sanchez, Rhys Coiro, Diora Baird / Sinopse: Vampiros sedentos de sangue levam o terror a Los Angeles e depois seguem rumo ao Alaska para nova carnificina.

Pablo Aluísio. 

segunda-feira, 2 de janeiro de 2012

[REC]

Jovem repórter e seu cameraman fazem uma reportagem sobre a rotina dos bombeiros quando esses são chamados a um conjunto de apartamentos onde vizinhos ouvem gritos no andar superior. Ao investigar o ocorrido descobrem algo bem mais sinistro. [REC] segue os passos da estética de "A Bruxa de Blair", ou seja, é um falso documentário ou como os americanos gostam de chamar um "Mockumentary". Para quem odiou "Bruxa de Blair" é sofrido saber mas parece que a ideia deu frutos e hoje vários filmes seguem os passos do filme pioneiro. O resultado já sabemos: câmera na mão, gritos, correria, imagens desfocadas ou balançadas e ritmo alucinante. Tudo com cheiro de amadorismo para trazer uma verniz de "realidade". De certa forma os filmes que seguem o estilo "Mockumentary" bebem diretamente da fonte dos chamados reality shows da TV - a ideia é imitar os reality shows na forma de mostrar ou contar ao espectador a estória. [REC] tem um parentesco bem próximo também dos filmes de Romero, até porque deve-se reconhecer que qualquer filme que mostre mortos vivos vai de uma forma ou outra copiar as obras do mestre de terror.

Do ponto de vista originalidade [REC] não traz grandes surpresas. O filme é curtinho - para não saturar - e se concentra basicamente em criar uma situação e explorar ela ao máximo tentando com sua suposta veracidade criar medo no espectador. Nesse aspecto achei que a criação do enredo foi bem melhor do que seu desenvolvimento. A atriz Manuela Velasco que interpreta a jornalista consegue nos passar mesmo a sensação de que é uma quase amadora na profissão. Curiosamente seu cameraman jamais aparece mesmo quando a câmera cai no chão ou ele fica sem controle dela. De resto destaco apenas duas boas cenas na produção: a primeira quando as pessoas que estão em quarentena no prédio descobrem a "velha" no andar de cima e a segunda quando finalmente chegam no apartamento que vai revelar grande parte da trama (embora muita coisa fique mesmo no ar, sem explicação). De maneira em geral [REC] procura inovar de alguma forma no velho tema mortos vivos. Consegue apenas em termos, caindo muitas vezes na banalidade. Vale assistir pelo menos uma vez para conhecer e é só.

[REC] (REC, Espanha, 2007) Direção: Jaume Balagueró, Paco Plaza / Roteiro: Jaume Balagueró, Paco Plaza, / Elenco: Manuela Velasco, Ferran Terraza, Jorge-Yamam Serrano ; Sinopse: Jovem repórter e seu cameraman fazem uma reportagem sobre a rotina dos bombeiros quando esses são chamados a um conjunto de apartamentos onde vizinhos ouvem gritos no andar superior. Ao investigar o ocorrido descobrem algo bem mais sinistro do que poderiam imaginar.

Pablo Aluísio. 

El Cid

El Cid segue sendo um grande filme épico medieval. Mais um ponto alto na carreira do ator Charlton Heston. Logo ele, um dos mais bem sucedidos atores de todos os tempos nesse estilo cinematográfico. Basta lembrar de clássicos absolutos como "Ben-Hur" e "Os Dez Mandamentos". De fato bastaria apenas esses dois filmes para colocar Heston entre os grandes nomes da era de ouro de Hollywood. Porém ele foi além, estrelando também outros grandes filmes. El Cid é certamente um dos melhores deles. É uma grande produção. O filme não economizou nos custos. Há uma infinidade de figurantes, batalhas épicas e exércitos. Na época nada disso poderia ser feito de forma digital como se faz hoje em dia, assim tudo o que se vê na tela é real e até hoje impressiona, principalmente na batalha final travada nas praias do castelo de Valença. O Produtor Samuel Bronston tinha fama de não economizar nos custos de seus filmes. Assistindo El Cid entendemos bem a razão dessa sua fama.

O filme conta a história desse personagem histórico ainda hoje muito conhecido, o guerreiro e cavaleiro El Cid, venerado em alguns países europeus como um dos grandes heróis da história. Essa visão é meio distorcida. O roteiro de El Cid segue esse erro pois é pouco correto do ponto de vista histórico. No filme o cavaleiro é visto como um homem de atitudes grandiosas, nobres. O fato porém é que El Cid era algo que hoje em dia poderia ser definido facilmente como mercenário, ou seja, após ser exilado ele colocava seu exército particular à disposição de quem lhe pagasse mais, sejam cristãos ou mouros. Outro fato que foge da realidade histórica se refere à própria morte de El Cid. No filme seu final vai de encontro ao famoso poema medieval que o enobrecia como símbolo de virtude. Na história real sua morte foi bem mais banal e comum pois faleceu em seu castelo e não em luta de forma heroica como mostrada no filme.

A direção do filme ficou em boas mãos. Anthony Mann dirigiu grandes filmes ao longo de sua carreira, inclusive "Winchester 73" (western com excelente elenco, contando com Rock Hudson e James Stewart), "A Queda do Império Romano". "Cimarron" entre outros. Definitivamente "El Cid" foi o filme mais caro que se envolveu. As filmagens ocorreram na Espanha e Itália com equipe estrangeira e não deve ter sido nada fácil organizar e dirigir uma produção desse nível. Mesmo assim o resultado grandioso ficou muito bom, embora se perceba vários "vácuos" no filme, isso apesar dele ter mais de três horas de duração. A impressão que tive foi que o diretor se perdeu um pouco no corte ideal para o filme, pois há sequências enormes e desnecessárias, como o longo romance entre os personagens do casal Heston e Loren. Já outros personagens importantes na história não mereceram a mesma atenção. Como diretor ele deveria ter feito um filme mais enxuto e focado na minha opinião.

Outros problemas podem ser encontrados ao longo do filme. O romance entre Charlton Heston e Sophia Loren, por exemplo, não decola no filme. Na minha opinião o problema é a falta de talento da bela atriz. Sophia Loren tinha exageros de caracterização, cacoetes que ela trazia do cinema italiano e isso nem sempre funcionava bem. Heston, por sua vez, repete suas atuações de personagens épicos, que são virtuosos e acima do bem e do mal. Os atores que interpretam os dois reis em conflito (na realidade eram quatro) são fracos, em especial John Fraser que interpreta o Rei Alfonso. Muito afetado, ficou mais parecendo uma versão medieval de Calígula. Mesmo assim, com esse pequenos problemas em detalhes, não há como negar as qualidades cinematográficas dessa obra.

El Cid (El Cid, Estados Unidos, Itália, 1962) Direção: Anthony Mann / Roteiro: Fredric M. Frank, Philip Yordan / Elenco: Charlton Heston, Sophia Loren, Raf Vallone / Sinopse: Épico que narra a história do guerreiro medieval El Cid que lutou contra as invasões mouras na Península Ibérica durante a alta idade média. Filme indicado ao Oscar nas categorias de Melhor Direção de Arte, Melhor Trilha Sonora Original e Melhor Música (Miklós Rózsa). Indicado no Globo de Ouro na categoria de Melhor Filme - Drama, Melhor Direção e Melhor Trilha Sonora Original (Miklós Rózsa).

Pablo Aluísio.

domingo, 1 de janeiro de 2012

Mad Max 2: A Caçada Continua

Primeira continuação da franquia "Mad Max". Antes de mais nada é bom observar um aspecto importante. Existe uma grande diferença entre esse filme e o anterior. Se o primeiro "Mad Max" era bem precário em termos de produção, quase amador, esse segundo filme da franquia já é muito melhor produzido, com figurinos mais elaborados e melhor direção de arte. Um fato curioso sobre Mad Max 2 é que esse personagem foi tão copiado, tão imitado ao longo dos anos, que o próprio produto original acabou ficando ultrapassado. É algo similar ao que aconteceu com Rambo. De tão imitado ficou datado. "Mad Max" é certamente um dos filmes mais influentes do cinema, chegando ao ponto de se criar um sub gênero próprio - o dos filmes pós apocalipse. Os carros adaptados, roupas, estilo, cenário, tudo já foi copiado à exaustão por anos e anos (aliás todo ano pelo menos um filme passado em um mundo pós apocalíptico é lançado). A saturação assim se tornou inevitável.

O que há de semelhante entre esse segundo filme e o primeiro é a simplicidade do enredo. Aqui tudo gira em torno de uma refinaria no meio do deserto. Como todos sabem o bem mais precioso no mundo de Mad Max é o combustível. Então dois grupos se enfrentam pelo domínio do petróleo, e Max acaba se envolvendo no meio do conflito. Não há diálogos bem escritos, nem situações dramáticas aprofundadas. Max é apenas um solitário que ao lado de seu cão procura sobreviver nesse mundo árido e hostil. O visual dos personagens envelheceu, é verdade (o vilão nada mais é do que uma variação de Jason de Sexta Feira 13) mas no final o que importa é o legado que o filme deixou para futuras produções que o seguem como cartilha de ABC. O filme terá um novo interesse porque afinal de contas a franquia não morreu com a trilogia original, seguiu em frente. Esse novo Mad Max inclusive é dito como o melhor de todos. Assim as cortinas vão demorar um pouco para se fecharem a esse personagem tão cativante dos cinéfilos em geral.

Mad Max 2 - A Caçada Continua (Mad Max 2, Austrália, Estados Unidos, 1982) Direção: George Miller / Roteiro: George Miller, Terry Hayes / Elenco: Mel Gibson, Vernon Wells, Bruce Spence, Michael Preston, Max Phipps / Sinopse: Mad Max (Mel Gibson) se vê envolvido numa luta pela sobrevivência em um deserto hostil pós apocalipse, onde todos lutam para colocar as mãos em uma refinaria isolada e perdida no meio do nada absoluto. Filme vencedor do prêmio da Australian Film Institute na categoria de Melhor Direção (George Miller).

Pablo Aluísio.

A Estrada

Pai e filho vagam por um mundo devastado. Não existe mais civilização e tudo o que restou da humanidade são poucos grupos, geralmente armados, lutando por água, comida e combustível. Em sua luta pela sobrevivência o pai tenta levar o filho até a costa para que ele finalmente conheça o mar. Essa sinopse até pode lembrar os famosos filmes da franquia Mad Max mas há diferença grande entre as produções. Em Mad Max tudo é desculpa para a ação sem freios, com muitas cenas de luta e fúria. Em "A Estrada" só resta a melancolia, a tristeza e a depressão de vidas sem qualquer fio de esperança. Esse clima sombrio e desesperançoso foi o que mais me incomodou no filme. Nada contra obras baixo astral mas "A Estrada" é um das mais acentuadas nesse aspecto que já conferi.

Não há qualquer sinal de que as coisas vão melhorar ou eles conseguirão superar as adversidades. Na realidade não passam de meros sobreviventes e como tal esperam chegar vivos ao final de cada jornada, um dia de cada vez, sem maiores sonhos ou objetivos. Não vivem, apenas sobrevivem. A produção segue o pessimismo do roteiro à risca. A fotografia é toda cinza e neblina, escura. Os diálogos são curtos e grossos. Os atores não passam nenhum sentimento positivo - apenas se deprimem com toda a situação, gerando ainda mais infelicidade. Apesar do final mais ameno (em termos), "A Estrada" é muito seco, muito depressivo. No saldo final provavelmente encontrará seu público mas certamente não atingirá a todos pois nem todo mundo vai comprar a ideia do argumento. Apesar de tudo ainda acredito que vale a pena conhecer - mesmo que depois da exibição você fique meio down.

A Estrada (The Road, Estados Unidos, 2009) Direção de John Hillcoat / Roteiro de Joe Penhall baseado na novela de Cormac McCarthy / Elenco: Viggo Mortensen, Charlize Theron, Kodi Smit-McPhee / Sinopse: Pai e filho vagam por um mundo devastado. Não existe mais civilização e tudo o que restou da humanidade são poucos grupos, geralmente armados, lutando por água, comida e combustível. Em sua luta pela sobrevivência o pai tenta levar o filho até a costa para que ele finalmente conheça o mar.

Pablo Aluísio.

Adeus às Armas

Frederick Henry (Rock Hudson), um jovem voluntário americano, se alista no exército italiano onde acaba ferido em combate. No hospital acaba conhecendo a enfermeira Catherine Barkley (Jennifer Jones) se tornando perdidamente apaixonado por ela. Em suas memórias Rock Hudson se lembra com pesar da adaptação do famoso livro "A Farewell to Arms" de Ernst Heningway. Na ocasião o estúdio havia lhe oferecido três projetos: o primeiro era "Ben-Hur", o segundo "Sayonara" e por fim essa adaptação que seria dirigida pelo grande diretor John Huston. Rock escolheu "Adeus às Armas" pois segundo sua opinião "não havia como dar errado, tudo se encaixava muito bem, seria um grande sucesso certamente". Pois bem, as previsões de Hudson não se confirmaram. Logo após começarem as filmagens o diretor John Huston brigou com o produtor do filme, David O. Selznick. Às pressas foi convocado o diretor Charles Vidor que não conseguiu adaptar o romance literário com sucesso. Some-se a isso as dificuldades das filmagens que foram realizadas nos alpes italianos que não tinham estrutura para receber um filme daquele porte. No final das contas tanto "Ben-Hur" como "Sayonara" se tornaram grandes sucessos de bilheteria bem ao contrário de "Adeus às Armas" que não agradou nem ao público e nem à crítica. O que deu errado?

Assistindo ao filme percebemos vários problemas na produção. O primeiro deles é que o roteiro não conseguiu encontrar um tom ideal para contar a estória. Tudo ficou excessivamente melodramático. A obra de Hemingway foi de certa forma alterada, tudo com o objetivo de explorar o lado galã de Hudson. Além disso exageraram no corte final, tornando "Adeus ás Armas" muito longo e cansativo. Embora não seja interessante apenas especular penso que se John Huston tivesse se mantido na direção teríamos um filme mais fluente, leve, com belas cenas do conflito em que o personagem principal se envolve. O próprio Rock Hudson não gostou de sua atuação no filme, achou tudo muito superficial, sem emoção. Curiosamente o ator durante as filmagens concorreu ao Oscar por "Assim Caminha a Humanidade". Impossibilitado de ir aos EUA para a cerimônia foi homenageado na pequenina cidade italiana onde o filme estava sendo feito. Os moradores locais ergueram uma imensa estátua de gelo no formato do Oscar e a colocaram na frente do hotel onde Rock estava hospedado. A intenção era fazer uma enorme festa caso o ator ganhasse o prêmio. Infelizmente como não ganhou o Oscar, Rock teve que no dia seguinte se contentar em ver a imensa obra gelada se derretendo pelo calor do sol - o que não deixou de ser uma metáfora de ver seu sonho de vencer a cobiçada estatueta da Academia indo por água abaixo. De qualquer forma o filme merece uma revisão hoje em dia. Vale a pena conhecer, mesmo que não esteja à altura da obra do grande escritor.

Adeus às Armas (A Farewell to Arms, Estados Unidos, 1957) Direção de Charles Vidor e John Huston (não creditado) / Roteiro: Ben Hecht baseado na obra de Ernest Hemingway / Elenco: Rock Hudson, Jennifer Jones, Vittorio De Sica, Alberto Sordi / Sinopse: Frederick Henry (Rock Hudson), um jovem voluntário americano, se alista no exército italiano onde acaba ferido em combate. No hospital acaba conhecendo a enfermeira Catherine Barkley (Jennifer Jones) e acaba se apaixonando por ela.

Pablo Aluísio.